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Curso de

Pós-Graduação
Lato Sensu

Teologia prática: Johrei e


ultrarreligião

TEOLOGIA
e Prática da
Espiritualidade
Pós-Graduação Lato Sensu
Teologia e Prática da Espiritualidade

Disciplina:
Teologia prática: Johrei e ultrarreligião

Autora:
Andréa Gomes Santiago Tomita
Sumário
AULA 1 - REFLEXÕES SOBRE TEOLOGIA MESSIÂNICA A PARTIR DA
“ULTRARRELIGIÃO”..........................................................................................7
Exercícios de fixação – Aula 1....................................................................9

AULA 2– A IMM E O JOHREI: PRÁTICA MISSIONÁRIA EM SEUS


PRIMÓRDIOS....................................................................................................11
Exercícios de fixação – Aula 2..................................................................15

AULA 3 – REFLEXÕES SOBRE TEOLOGIA...............................................16


Contextualizando.....................................................................................16
Perspectivas para uma Teologia Messiânica.............................................16
Contrapontos teológicos: reflexões sobre teologia prática.........................19
Exercícios de fixação – Aula 3..................................................................20

AULA 4 - BREVE ENSAIO PARA UMA TEOLOGIA DO JOHREI...............21

AULA 5 – FUNDAMENTOS PARA A EXPANSÃO DO JOHREI - REVMO


TETSUO WATANABE........................................................................................27
Sobre “considerar o seu fundador como um deus onisciente e
onipotente”....................................................................................... .....29
Sobre “restringir a liberdade do indivíduo”...............................................30
Sobre “considerar sua religião como absoluta e mais elevada atacando as
demais”.............................................................................................................30
Sobre “envaidecer-se diante dos que não possuem uma crença”..............30

AULA 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................32

FOLHA DE ORIENTAÇÃO PARA AVALIAÇÃO FINAL............................34

Referências...............................................................................................35

Anexo 1 – Johrei como meio de comunicação interpessoal, espiritual e


física.........................................................................................................36
Aula 1

Reflexões sobre teologia messiânica a partir da


“ultrarreligião”
”Há alguns anos venho me debruçando no tema da ultrarreligião em Meishu-Sama. Parale-
lamente, tenho lido alguns textos sobre teologia cristã.
Quanto mais reflito sobre o assunto, mais inclino-me a pensar a “ultrarreligião” de Meishu-
Sama não como um fim em si mesmo, mas como o próprio método que ele vislumbrou para o
alcance de uma nova cultura condizente com a era do Dia.
Permitam-me afirmar: “Meishu-Sama era dado a métodos”. Lembremos alguns deles: méto-
do para obtenção da saúde; método da agricultura natural; método para emagrecer; método para ....
Nós messiânicos, em geral, tendemos a ver Meishu-Sama como religioso. Natural. Afinal
ele fundou uma religião. Mas curiosamente ele se auto-denominou “Sou um cientista em religião”.
Isso sem dizer que fundou museus, associações entre outras iniciativas. Precisamos aprofundar
nossa compreensão sobre estas e outras facetas do nosso Messias.
Enfim, se compreendermos “método” como caminho, facilmente compreenderemos a afir-
mação acima. Um método nada mais é que um caminho entre um ponto de partida e um ponto
de chegada. Podemos pensar no termo japonês michi ou do que significa “caminho”.

O que é ultrarreligião?

Refletir sobre “ultrarreligião” é antes de mais nada refletir sobre o que significa “religião”
em Meishu-Sama.
Meishu-Sama sempre incentivou-nos à prática de uma religião universal, condizente a uma
época altamente civilizada. Uma religião de caráter liberal que não prioriza mandamentos ou leis
moderadoras pois “os homens conseguirão evoluir a ponto de compreenderem profundamente a
Vontade Divina”1
Quanto à ultrarreligião, ele escreveu alguns textos, contudo, seleciono o trecho abaixo por
considerá-lo importante para uma visão mais ampla sobre esta temática:

Se fizerem uma profunda análise da Igreja Messiânica Mundial, compreenderão


que ela não só é de caráter popular como teórico. Podemos dizer mesmo que é
uma Ultrarreligião, inédita para a humanidade. E não é só isso. O que defende-
mos não se restringe apenas à Religião. Nosso objetivo é dar a mais alta diretriz
ao campo da Medicina, da Agricultura, da Arte, da Educação, da Economia, da
Política, enfim, a tudo quanto diz respeito ao homem. Em suma: queremos colocar
a teoria em prática, de maneira que a Fé seja vivida no nosso dia-a-dia (信仰即生
活 shinko soku seikatsu)2.

O estudo sobre “ultrarreligião”, um dos fundamentos da teologia messiânica, pode ser me-
lhor compreendido à luz da própria trajetória de vida de Meishu-Sama e de consolidação da sua
religião ao longo do tempo.

1 MEISHU-SAMA, Alicerce do Paraíso. v. 2. São Paulo: FMO-MOA, 2007, p.13.


“Religião e mandamentos”.
2 MEISHU-SAMA, Op. cit. v. 2. p.41. “Benefícios materiais”.

7
Antes de fundar a religião messiânica, Meishu-Sama transitou no mundo das artes, dos
negócios, editorial, e por fim no campo religioso em seu contato com a religião Oomoto e outras
expressões religiosas que pululavam no Japão no período de entre-guerras. Tudo isso foi decisivo
para que sua visão de religião fosse diferente da dos demais fundadores de religião de sua época.
Dentre as várias características, destaco o aspecto pedagógico contido no fato de Meishu-
Sama propor um método inovador de transmissão da doutrina que evitasse as dificuldades comuns
às religiões tradicionais; um método que fosse facilmente assimilado pelas pessoas em geral.
Um outro aspecto importante da visão ultrarreligiosa de Meishu-Sama reside na proposição
de conteúdos novos ou de uma nova perspectiva religiosa que inclui Política, Economia, Educa-
ção, Arte etc.
O sentido geral do ensinamento “Ultrarreligião”, contido no livro Alicerce do Paraíso, rela-
ciona-se ao que Meishu-Sama preconiza como o surgimento de uma “força” de caráter abrangente
que, além do campo estritamente religioso, contenha outros aspectos da cultura como arte, ciên-
cia, filosofia, entre outros campos da atividade humana.
A partir dos textos de Meishu-Sama, proponho-me modestamente a ensaiar uma conceitua-
ção de “ultrarreligião” como força transcendente à religião, capaz de criar uma nova cultura através
da reforma do ser humano e do mundo.
Em termos institucionais da Igreja Messiânica no Brasil, a aplicação prática do conceito
de ultrarreligião veio ocorrendo por meio de atividades não necessariamente de cunho religioso.
Sobretudo, as ações das instituições coligadas à Igreja Messiânica – Fundação Mokiti Okada e do
grupo Korin – que intentam cumprir esta função ultrarreligiosa.
Entretanto, por vezes, as ações ultrarreligiosas podem acabar sendo utilizadas como simples
ferramentas diferenciadas de expandir a religião messiânica. Eis aqui o perigo do surgimento de um
grande problema conceitual. E mais: o perigo de reduzir o nobre ideal de ultrarreligião de Meishu-
Sama à mera forma de proselitismo religioso.
Em termos teológicos, como seria possível pensar a “ultrarreligião” proposta por Meishu-
Sama? Iniciemos pela atenção ao diálogo e busca por uma lógica transdisciplinar.
Uma das possíveis chaves desta reflexão teológica sobre ultrareligião em Meishu-Sama
seria a experiência dos encontros e dos diálogos - entre diferentes áreas da cultura humana; entre
o transcendente e o ser humano; entre o popular e o teórico; entre a religião e a arte, por exemplo.
Meishu-Sama apreciava o diálogo. Ele transmitia sua visão de criação de uma nova cultura
dialogando com seus discípulos e também com profissionais de diferentes áreas do saber.
Na fase posterior de sua trajetória na fundação da religião messiânica, em 04 de fevereiro
de 1950, Meishu-Sama propôs a instituição da Sekai Meshia kyo (tradução literal: Mundo; Messias;
ensinamentos) cristalizando sua abrangente visão de mundo que transcendia os limites do Japão e
mantinha-se em diálogo e intercâmbio criativo com o ocidente.

O autêntico diálogo interreligioso requer esse exercício positivo de envolver-se, o


quanto possível, na experiência religiosa do outro, de deixar-se habitar pelo seu
enigma e enriquecer-se com sua novidade. Não há como escapar desse intercâm-
bio criativo num tempo marcado pela mundialização.3

Gilbraz Aragão, estudioso de Ciências da Religião e Teologia, apresenta a proposta de uma


teologia pluralista das religiões, principalmente a partir da perpectiva teológica de Torres Queiruga.
Entre outros pontos, destaca que

a lógica transdisciplinar chamada do “terceiro incluído” (leia-se Basarab Nico-


lescu), calcada nas descobertas da nova física, mas com abrangência e validade

3 TEIXEIRA, F. Buscadores de diálogo. São Paulo: Editora Paulinas, 2013 p.21

8
ampla e humanística, parece capaz de ajudar as Igrejas a superarem a lógica
clássica. Pode ajudar a equacionar criativamente o contraditorial (que não se deve
buscar eliminar) entre as religiões e, portanto, favorecer o diálogo autêntico com
os outros como outros. Pode, inclusive, ajudar a esclarecer e, assim, desdobrar,
uma teologia pluralista das religiões que começa a se esboçar no cristianismo (por
um Torres Queiruga, entre outros). Nesta, o importante para o diálogo entre um
cristão e um crente (ou não-crente) diferente, não será o nível religioso propria-
mente, mas os de um “terceiro” que se deve incluir: o outro carente, no nível ético;
o Grande Outro, no nível místico.4

Sugestão de leitura complementar: ARAGÃO, G. “Teologia, transdisciplinaridade e físi-


ca: uma nova lógica para o diálogo inter-religioso”

Acesso do texto na íntegra: http://cetrans.com.br/artigos/Gilbraz_S_Aragao.pdf

Exercícios de fixação – Aula 1


Com base na visão messiânica de “ultrarreligião”, gostaria de centrar esta reflexão inicial na
seguintes perguntas e propor a redação de um breve comentário sobre o estudo da aula 1:

Independente das ações da Igreja Messiânica, como eu, seguidor de Meishu-Sama, busco
praticar a fé messiânica ultrarreligiosa no meu cotidiano? Consigo viver a “ultrarreligião” respeitan-
do a diversidade, buscando o diálogo com o “outro” diferente e harmonizando os opostos?

4 ARAGÃO,G. “Teologia, transdisciplinaridade e física: uma nova lógica para o diálogo inter-religioso”.p,1 Disponível
em: http://cetrans.com.br/artigos/Gilbraz_S_Aragao.pdf Acesso em 20/08/2013

9
10
Aula 2

A IMM e o Johrei: prática missionária em seus


primórdios 5
O objetivo da Igreja Messiânica Mundial é a construção do Paraíso Ter-
restre. Mas o que significa isso? Obviamente, o Paraíso Terrestre é o mun-
do de perfeita Verdade, Bem e Belo. O método para obtenção da saú-
de – o Johrei – que é a vida de nossa Igreja, e a Agricultura Natural, são
meios de que nos utilizamos para materializá-lo, mas o Johrei, além de promover
a renovação do corpo físico, visa também à renovação do espírito. Independente-
mente de tais métodos, é de extrema urgência elevar o espírito das pessoas através
do Belo. Esse é um novo projeto da Igreja Messiânica Mundial, que agora estamos
colocando em prática.6

Em 1 de janeiro de 1935, nascia a Dai Nipon Kannon Kai, numa sede provisória situada no
bairro de Koji, em Tóquio.
Embora a tradução oficial em português de Dai Nipon Kannon Kai seja “Igreja Kannon do
Japão”, verifica-se através da análise dos ideogramas 大日本観音会 a inexistência de uma palavra
que designe igreja (kyokai 教会) ou instituição religiosa (kyodan 教団). Portanto, é possível pensar
que a Dai Nippon Kannon Kai não fosse uma organização eclesiástica em acepção estrita. Seria
quem sabe, em seus primórdios, uma espécie de associação? Observando o estatuto da entidade,
verificamos a mescla termos tanto de cárater mais associativo (ex.: presidente, mensalidade) quanto
de caráter religioso (ex.: imagem de Kannon, culto, fiéis).
Embora a IMM normalmente seja considerada uma NRJ com raízes xintoístas, é interessante
observar que a religião messiânica é instituída inicialmente com o nome de um bodhisattva conhe-
cido por Kannon – alvo de uma fé professada no Japão por pessoas de variadas classes sociais. A
figura de Kannon aparece em muitas escrituras budistas Mahayana como encarnação da salvação
do mundo, recebendo nomes variados conforme sua atuação.
A primeira imagem entronizada na Dai Nipon Kannon Kai foi uma grande imagem de “Kan-
non de Mil Braços”, desenhada pelo Fundador Meishu-Sama7 em 1934. Poucos dias após a institui-
ção da “igreja”, ele dirigiu uma palestra aos fiéis sobre Kannon (ou Kanzeon Bosatsu), distinguindo
seu ponto de vista sobre Kannon dos demais existentes nos sutras budistas. Em sua concepção,
Kannon – alvo de fé da Dai Nipon Kannon Kai – não se limitaria à concepção budista; seria “o Ente
Absoluto, fonte de todas as divindades, Deus Salvador que deseja vivificar todos os seres”8

......................................

Pela breve exposição acima, podemos reconhecer que ao longo de sua vida missionária, Meishu-
Sama lidou com realidades religiosas diferentes mesmo na consolidação da religião por ele criada.
Vejamos a seguir como o Fundador, comparativamente a outras religiões, desenvolveu suas
atividades missionárias de forma pouco convencional. Finalmente, observaremos de forma suscinta

5 Várias partes desta aula foram adaptadas a partir de TOMITA,A.G.S. Recomposições Identitárias na integração
religiosa e cultural da Igreja Messiânica no Brasil. Tese de Doutorado em Ciências da Religião pela Universidade
Metodista de São Paulo, 2009. cap.1.
6 MEISHU-SAMA, Op. cit. v. 5. p.82. “Campanha de formação do paraíso através das flores.
7 Na época, o fundador era chamado de “Dai-sensei” ou “grão-mestre”.
8 FUNDAÇÃO MOKITI OKADA. Luz do Oriente. vol.2 2ª edição. São Paulo: 1984, p.40.

11
como o método do Johrei, que futuramente se constituiria na espinha dorsal de sua obra de salvação,
foi por ele consolidado.
Para Meishu-Sama, o período entre 1935 e 1945 (ano do término da 2ª Guerra Mundial) foi
marcado por várias pressões por parte das autoridades japonesas o que o levaria a diversificar sua
forma de consolidar e expandir sua proposta “religiosa”.
Dentre suas várias medidas, em 15/5/1936, ele instituiu a Dai Nipon Kenko Kai (Associa-
ção Japonesa de Saúde) e dissolveu a Dai Nipon Kannon Kai. Em setembro de 1936, criou uma
associação com o nome de Kannon Hyapuku Kai (Associação dos Cem Kannon) como um meio
de continuar seu trabalho missionário de forma mais discreta, através da pintura de imagens de
Kannon. Durante estes dez anos de contenção religiosa, o Fundador também se dedicou à escrita
de seus ensinamentos.
Mais tarde, em 1937, reiniciou as atividades sob o nome de “Tratamento de Digitopuntura no
Estilo Okada”, que foi uma espécie de precursor do johrei– que se tornaria a força motriz da prática
missionária da religião messiânica, sobretudo em sua fase inicial.
O método do johrei foi sendo desenvolvido gradativamente pelo Fundador e sofreu diversas
transformações tendo sido ora identificado como prática religiosa, ora como método terapêutico.
Anteriormente à denominação johrei, foram verificadas na literatura disponível em língua ja-
ponesa as seguintes denominações: Tratamento de digitopuntura [指圧shiatsu] espiritual estilo Okada
[岡田式神霊指圧法] em 1934; Tratamento de Purificação [浄化療法] e Purificação [お浄めokiyome]
em 1947. Durante explicações orais, ele usava diferentes expressões para se referir ao método: medi-
cina [医術] tratamento [治療], procedimento[施術], terapia [療法]. Em junho de 1948, o termo johrei
[浄霊] passou a ser utilizado.
Dentre os fatores que motivaram as mudanças no johrei, destaca-se a perseguição reli-
giosa da época.
Em 30/9/1953, o próprio Fundador escreveu sobre a pressão sofrida na fase inicial da re-
ligião no Japão e as medidas de adaptação das quais se utilizou até a fundação da IMM como
instituição religiosa:

Só em agosto de 1947 a nossa Igreja Messiânica Mundial9 foi fundada como enti-
dade religiosa e começou a desenvolver suas atividades abertamente. Até então,
a pressão por parte das autoridades era intensa, e por isso, como é do conheci-
mento de todos, ela vinha desenvolvendo a terapia popular sob a denominação
“terapia de purificação japonesa”. Todavia, entre as pessoas que não tinham fé,
a cura das doenças não era absoluta, e por esse motivo, dependendo da pessoa,
eu fazia com que ela orasse diante da imagem de Kannon pintada por mim. Tal
procedimento era aceito pelas autoridades, que, desde antigamente, diziam não
ser problema esse tipo de fé. A esse ponto as autoridades detestavam as religiões
novas... Felizmente, o mundo tornou-se democrático e foi permitida a liberdade
em matéria de Religião. Desde então, pudemos desenvolver livremente as nossas
atividades como organização religiosa. Na época, as pessoas que poderiam ser
consideradas como membros eram apenas de duzentas a trezentas.10

Após o término da 2ª Guerra Mundial, a realidade da IMM alterou-se completamente não


somente no Japão como no exterior. Conforme descreve o Fundador na continuação do texto aci-
ma, a religião messiânica experimentou vertiginosa expansão:

9 Embora no texto em português conste “Igreja Messiânica Mundial” , a expressão em japonês é Nipon Kannon Kyodan
(Igreja Kannon do Japão) instituída em 30 de agosto de 1947. A nomenclatura Sekai Meshiya Kyo (Igreja Messiânica
Mundial - IMM) seria usada com sua instituição oficial em 04/02/1950.
10 FUNDAÇÃO MOKITI OKADA. Pão Nosso. São Paulo: FMO, 2000. P.135.“Principal causa da expansão da nossa
Igreja”.

12
Como todos estão cientes, em agosto deste ano a Igreja estará completando seis
anos de existência11, e é surpreendente o número atual de membros, que somam
algumas dezenas de milhares. Existem 3.242 ministros; igrejas grandes, 4 unida-
des; igrejas médias, 88 unidades, e 524 filiais. A Igreja vem se expandindo dessa
maneira e promete crescer ainda mais vigorosamente, a cada dia e a cada mês.
Além disso, a partir da primavera deste ano, ela será ampliada no Havaí e, no
verão, nos Estados Unidos. No que se refere à expansão, o número dos membros
do Havaí, num período de mais ou menos meio ano, já ultrapassou a casa dos
mil. Recentemente, foi adquirido, por 50 mil dólares, um terreno com casa, que
poderá se tornar uma magnífica Sede Central; ao mesmo tempo, entre os mem-
bros nativos, pessoas fervorosas têm se tornado dirigentes das unidades filiais,
que já são inúmeras. Atualmente, estão sendo criadas outras unidades em várias
localidades. Nos Estados Unidos, também, no mês de agosto será inaugurada uma
filial, e dias atrás recebi um relatório dizendo que o número de participantes nos
cursos de iniciação tem aumentado dia a dia, tudo indicando que, no futuro, vai
ser incalculável a expansão da Igreja naquele país.12

A coleção Luz do Oriente é uma das poucas fontes acessíveis em língua portuguesa para o
conhecimento sobre a história da consolidação da Igreja Messiânica no Japão e no exterior.
Vejamos abaixo um relato de experiência mística com a prática do Johrei coletivo, ocorrido
no Havaí e descrito no livro Meishu-Sama to Sendatsu no Hitobito13 (SEKAI KYUSEI KYO, 1986) –
não traduzido e praticamente desconhecido dos messiânicos brasileiros.
O referido livro apresenta descrições das experiências missionárias de vários pioneiros mes-
siânicos e um breve capítulo sobre a difusão nos EUA, Brasil e Okinawa, que, na época, estava sob
domínio americano.
Como se sabe, a difusão da fé messiânica no Havaí e nos EUA foi a que mais contou com
a orientação e acompanhamento direto do Fundador.
Em 1951, Bunji Tatematsu, fiel da Igreja Wako, situada na Prefeitura de Saitama, viajou para
os EUA como estudante estrangeiro por um ano na Universidade Católica Notredame, participan-
do do programa de intercâmbio estudantil Fulbright. Durante sua estadia, enviou ao Fundador vá-
rios relatórios sobre a incidência de doenças entre os americanos. Em janeiro de 1953, o Fundador
escreveria o livro “Salvar os Estados Unidos” com o intuito de alertar sobre os erros da sociedade
contemporânea, sobretudo, no campo da saúde.
Em 1952, o pintor Tomoshigue Arashi, membro messiânico, fora convidado pelo prefeito
de Los Angeles para realizar exposições em várias capitais dos EUA. Pouco antes de seu embar-
que, foi chamado pelo Fundador, que lhe transmitiu as seguintes palavras: “A Obra Divina da
nossa igreja tem a grande missão de ‘salvar os EUA’. Em breve, enviarei a sra. Higuchi aos EUA
formalmente, mas por ora, gostaria que você desempenhasse o papel de ‘dissipar o nevoeiro’”
(ID, 1986, p. 436).
Designado como ministro interino, Arashi chegou ao Havaí e imediatamente realizou aulas
de iniciação messiânica e ministração de johrei coletivo. Nesta ocasião, uma senhora havaiana de
uns 50 anos de idade gritou que via sair da palma da mão de Arashi um feixe de luz ofuscante. Neste
instante, Arashi, tomado por uma onda de arrepios, teria compreendido de fato o sentido das pala-
vras do Fundador sobre “dissipar o nevoeiro”. Conseguiu formar cerca de 50 membros messiânicos
tendo preparado as bases para o trabalho futuro que seria realizado posteriormente pela ministra

11 Em conferência com o texto original em japonês, percebe-se que a tradução correta é “em agosto deste ano a igreja
completa seis anos de existência”. Como o texto é de 30/09/1953, justifica-se a revisão de tradução, pois agosto antecede
setembro.
12 Idem, p. 135
13 “Meishu-Sama e os Pioneiros” (1986) – tradução minha (trechos citados).

13
Kiyoko Higuchi e pelo ministro Haruhiko Ajiki, que chegariam ao Havaí em fevereiro de 1953.
Kiyoko Higuchi era formada em inglês e professora conferencista da Universidade Femini-
na Nipon. Tornou-se messiânica em 1944 e atuava como dirigente da Igreja Niko por ocasião da
determinação do Fundador para que iniciasse a difusão nos EUA. Após sua chegada no Havaí, o
número de fiéis aumentou e, em 1954, foi concluído um templo na cidade de Honolulu.
No ano seguinte, Higuchi tornou-se responsável da Igreja em Los Angeles e foi determinado
que Toshimi Mitsu, ministra da Igreja Shinsei, seria enviada em missão ao Havaí. Devido ao faleci-
mento do Fundador em 1955, sua partida foi adiada para fevereiro de 1956. Embora a difusão no
exterior fosse recente, já apresentava uma série de problemas administrativos e de pessoal. Houve
várias divergências entre os missionários vindos do Japão e a direção local devido à diferença de
costumes, barreiras lingüísticas, entre outros problemas14.
Em meio aos relatos de pioneiros messiânicos japoneses, há um trecho sobre o início da
difusão na Argentina, ou seja, a ida da senhora Noriko Shiramizu para aquele país em 1951.
Consta que o Fundador, durante um encontro com os missionários em setembro de 1953, dissera
o seguinte:

Em junho deste ano, chegou a mim uma correspondência vinda da Argentina. A


pessoa que me escrevera rogava ardentemente a salvação. Por isso, enviei-lhe o
omamori e os Ensinamentos. Ontem, recebi nova carta desta pessoa que está se
empenhando com fervor. A partir de agora, mesmo na longínqua Argentina, nosso
trabalho se expandirá (...)15.

É interessante ressaltar que a senhora Noriko Shiramizu tomara conhecimento da existência


de Meishu-Sama, somente na Argentina, por intermédio de um colóquio entre ele e Musei Toku-
gawa publicado no periódico Shukan Asahi (06/05/1951). Coincidentemente, foi no hospital em
que seu marido se encontrava internado devido à tuberculose, que Noriko conhecera as idéias de
Meishu-Sama16.
Segundo Yamamoto (2006), após a ascensão do Fundador, “sementes” foram espalhadas
por diversos países, dentre as quais o sr. Ueda, da Igreja Zuiko, que teria iniciado a difusão da re-
ligião messiânica na Alemanha, entre fins de 1959 e início de 1960.
............................

A imagem de sementes espalhadas pelo mundo afora - suscitada pelo saudoso reverendo
Katsumi Yamamoto - é poética e bem representa o início das “missões” da religião messiânica.
Nos tempos atuais, em que vemos uma IMM do Brasil e da Tailândia relativamente bem
integradas às respectivas sociedades locais e tendo construído grandes “Solos Sagrados”, possivel-
mente seja difícil imaginar as dificuldades vividas pelos primeiros discípulos missionários.
Penso que o estudo histórico das missões messiânicas (da IMM) ou sua “missiologia” -
tanto no Brasil como em outros países - seja fundamental para o aprofundamento da própria
“missão” da religião messiânica bem como daquilo que por ora denomino como “Teologia do
Johrei”. Afinal, seria desnecesssário dizer que tanto nos primórdios da religião como na atualida-
de, o Johrei constitui a mola propulsora dos três pilares básicos da teologia prática messiânica:
Johrei, Agricultura Natural e Belo.
Afinal, como vimos na epígrafe desta aula, “o Johrei que é a vida da nossa Igreja”...

14 Ibidem, 1986, p.439


15 Ibidem ,1986, p. 323-325
16 Chamo a atenção para o fato de que a atividade literária de Meishu-Sama relaciona-se a uma prática básica da Igreja
Messiânica: a leitura de ensinamentos paralelamente à ministração do johrei.

14
Exercícios de fixação – Aula 2
Liste abaixo cinco questões que podem contribuir para a reflexão quanto à constituição de
uma Teologia do Johrei. Escolha um tópico e discorra a respeito.

15
Aula 3

Reflexões sobre Teologia


Contextualizando....

Ao longo do curso de Pós-graduação “Teologia e prática da Espiritualidade” foi possível co-


nhecer - embora superficialmente – alguns aspectos sobre Teologia Prática no âmbito cristão, em es-
pecial nas disciplinas do módulo “Teologia Prática: Belo e Arte / Agricultura natural e meio ambiente”
No âmbito da teologia messiânica, vale relatar que a composição da primeira matriz curricu-
lar do curso de graduação em Teologia contava com três disciplinas intituladas “doutrina prática”.
O uso desta expressão estava fundamentado na explicação sobre “jissen kyogaku” (tradu-
ção literal: prática; estudo do ensinamento) recebida do conselheiro da IMMB reverendo Katsumi
Yamamoto (in memorian) sobre a “teologia” messiânica. Uma possível tradução desta expressão
seria “doutrina prática”.
Contudo, na primeira revisão da matriz efetuada em 2010, optamos pela exclusão do termo
“doutrina” por, ao menos, dois motivos:
a) a defesa de Meishu-Sama pelo caráter antidoutrinário (adoutrinário?) da religião messiânica;
b) no Japão, o que se chama de kyogaku(教学) está relacionado aos ensinos de uma religião
não cristã, como o budismo (仏教 bukkyo) ou mesmo a nossa religião messiânica que possui um
setor de doutrina messiânica (救世教学 kyusei kyogaku). Por outro lado, shingaku (神学)refere-se
á teologia cristã.
Ao longo de meus modestos estudos sobre teologia, venho buscando compreender a dis-
tinção entre teologia e doutrina. Devo confessar que a afirmação de Meishu-Sama sobre a quse
inexistência de dogmas na religião messiânica também é, para mim, fonte de inquietações. Não
pelo dogma em si. Mas, entre outros motivos, pela minha impossibilidade de compreender e
praticar completamente a teologia da era do dia de Meishu-Sama. Talvez por isso meu encanto e
busca incessante por um conceito que transcenda a religião; possivelmente, o que Meishu-Sama
nos legou sobre “ultrarreligião”.

Perspectivas para uma Teologia Messiânica

Como vimos na aula anterior, Meishu-Sama instituiu uma comunidade religiosa no Japão,
denominando-a “Daí Nipon Kannon Kai”. Esta comunidade foi o embrião da atual Igreja Messi-
ânica Mundial, conhecida em nosso país como “religião messiânica” e, a partir de 2000, também
denominada Johrei Center.
É sabido que Meishu-Sama não considerava a doutrina necessária. Quem não se lembra do
texto intitulado “Não é a doutrina que salva mas a Luz de Deus” inserido no livro Novos Tempos17?
Então porque criar uma Faculdade Messiânica justamente principiando com um curso de
Teologia, se o próprio Fundador já afirma que “doutrina” é algo desnecessário?
Se doutrina e teologia são, de fato, “coisas” distintas”, em parte o problema da possível con-
tradição estaria solucionado...

17 Estudos anteriores apontam que o livro Novos Tempos anteriormente publicado como Fragmentos de Ensinamentos de
Meishu-Sama) é uma obra redigida a partir das palestras de Meishu-Sama, possivelmente pela reverenda Kiyoko Higuchi
nos EUA e reconhecido por Nidai-Sama na década de (19)60.

16
Abro aqui um parênteses para refletir sobre uma minha própria trajetória em relação ao
campo da Teologia.
Confesso que a questão acima tem sido uma das mais intrigantes dúvidas que enfrento des-
de os idos de 2005, quando fui sendo levada a participar do projeto de implantação da Faculdade
Messiânica.
Me expresso assim pois de fato as circunstâncias foram se formando e, eu que servia no
Setor de Tradução, aos poucos fui me envolvendo com o novo projeto educacional de Meishu-
Sama no Brasil. Um típico caso do “enten katsudatsu”18, uma das fortes imagens que Meishu-Sama
usa para nos explicar sobre a Fé Messiânica19. Quem sabe ainda um dos ingredientes principais
daquilo que Meishu-Sama denomina “ultrarreligião”20...
Um alento: Meishu-Sama nos coloca diante dos problemas e ensina que as dúvidas são
importantes para o espírito progressista. Assim, mesmo diante de um desafio conceitual, venho
buscando compreender sua Vontade através do servir através do estudo da teologia.
Vejamos. Em uma de suas palestras - datada de 15 de abril de 1954 e publicada nas “Obras
Completas Mokiti Okada”, Meishu-Sama afirma:

Frequentemente ouço as pessoas comentarem: ‘A Igreja Messiânica ainda não


possui doutrina’. Isto acontece porque elas observam a nossa igreja como sendo
uma religião comum, e, por essa razão, acabam relacionando-a à doutrina. Na
realidade, a Messiânica não é uma religião e, portanto, a doutrina torna-se desne-
cessária. Em linhas gerais, o próprio termo doutrina é que não está de acordo, pois
ela não é ensinamento...21

Em que medida “doutrina” difere de “teologia”? Mas o que é Teologia?


Abaixo apresento um trecho do curso de propedêutico de Teologia, ministrado pelo atual
coordenador do nosso curso de Teologia em 2005, prof Dr. Francisco Benjamin de Souza Netto,
carinhosamente chamado por “Dom Estevão” e que vem, desde o início da Faculdade Messiânica,
compartilhando seus conhecimentos e sabedoria sobre Teologia e Filosofia.
Neste breve trecho, veremos que Dom Estevão faz referência a diferentes formas de teolo-
gia: teologia natural, teologia revelada e teologia kerigmática. Ele ainda apresenta alguns conceitos
fundamentais em Teologia: revelação e tradição.
Apresento-lhes o trecho abaixo com o intuito apenas e sensibilizá-los para duas questões:
1) a multiplicidade das formas de teologia; 2) alguns conceitos fundamentais em teologia.

18 No texto Fé Messiânica, Meishu-Sama ensina que tudo na vida humana, principalmente a fé precisa “ser versátil”
(opção tradutória da expressão “enten-katsudatsu”). Penso que o conceito acima necessite ser aprofundado, mas as opções
tradutórias em inglês “ser ágil e vivaz” ou “mudar e resolver as coisas com presteza “, de cunho mais “explicativo” podem
nos auxiliar na compreensão, conforme sugeriu-nos o responsável da divisão de Tradução, rev Manabu Yamashita, em
email datado de 27/9/13.
19 Necessito esclarecer que o título deste ensinamento em japonês é “kannon shiko”, ou seja Fé Kannon, sendo pois uma
alternativa de tradução que visa a acomodação de realidades históricas dificilmente explicáveis em uma ou duas linhas
de nota de rodapé.
20 Ultrarreligião - Em email de 27/9/13, o rev Manabu comenta que é inclinado a mudar a tradução da expressão
“ultrareligião” (choo-shuukyoo-teki) para “transreligião”, porque esse “choo” vem de “chooetsu” de “transcender” e não
de “choetsu” de “ser <mais> superior” ou “ser mais desenvolvido” .
21 Zenshu Kowa volume 12 p.243-249

17
Alguns conceitos fundamentais em Teologia
Para dar um exemplo simplesmente, dentro da teologia revelada, eu teria o estatuto da
fé e a noção de revelação. Os escritos de Mokiti Okada seriam o repertório de uma teologia
revelada num primeiro momento; num segundo momento, uma reflexão sobre ela. Aí, o autor
seria Mokiti Okada. Porém, no que concerne à revelação para o próprio Mokiti Okada, o autor
não seria ele; ele é o arauto, o keryx. Então, a teologia de Mokiti Okada é um primeiro tipo de
teologia que vamos distinguir como teologia kerigmática, quando estudarmos as formas de teo-
logia nas próximas aulas.
(...)
A revelação é a transmissão do mistério. Mistério não se refere a uma coisa ininteligível,
incompreensível, irracional, não. O que se pode pensar é que, à medida que me aproximo
mais de Deus, eu me aproximo de algo que se situa o mais longe de mim. Por mais que eu me
distancie de tudo o mais, esse mundo, essa galáxia, tudo isso é ainda muito próximo de mim.
O homem pode se sentir diante do mistério e a razão humana pode perceber que há algo da
natureza do mistério. Contudo, o mistério em si só lhe é acessível se ela tiver um subsídio da
parte do próprio Deus.
Na verdade, à medida que a Igreja Messiânica é uma igreja e que Meishu-Sama foi seu
principal portador, seu mediador, seu profeta, quase como os árabes e tal como os islamitas, é
possível dizer: “Deus é Deus e Mokiti Okada é seu profeta”. Parece brincadeira, mas é verdade.
Lendo os textos, cada vez mais me convenço disso.

Como é que a revelação se sustenta depois que o mistério é revelado?


É preciso trabalhar com outro conceito que temos de tomar de empréstimo também das
teologias cristã e judaica, como revelação, que é o conceito de tradição.
Tradição como um processo do que se passa adiante. Alguém recebe, registra na
memória; a memória pode se perder, aquele que guarda na memória pode morrer e os
outros não conseguirem memorizar ainda. Então, registra-se por escrito, como aconteceu com os
antigos profetas. Eles acreditavam firmemente que haviam recebido comunicações de Deus sobre
o destino do homem, da cidade, do povo, da humanidade e transmitiram isso a seus discípulos.
Os discípulos, não tendo sido os primeiros ouvintes da revelação, tenderam com o tempo
a registrar por escrito. Assim, o ensinamento transmite isso adiante e esse processo todo de regis-
tro, de registro por escrito, de ensinamento em cima do que foi comunicado, que foi revelado,
vai se chamar, numa linguagem que vem do grego, parádosis, tradição. Parádosis vem de paradi-
domi: dou a alguém o que recebi (didomi significa dou). Daí vem a palavra parádosis e os latinos
vêm a reboque e traduzem traditio, tradere, transmitir. Depois a coisa se estrutura: organizam-se
as igrejas, pregações, ensinamentos, ensinamentos-base, que se denominavam antigamente de
catequese, ensinamento médio, que é aquele dado aos catequizados adultos e que, ao longo da
vida, vai sendo renovado, restaurado, revisado. Há aquele ensinamento superior, que vai resultar
numa teologia reflexiva, numa teologia de fundamento, que vai passar por uma via acadêmica,
mas vai ter de retornar às suas origens, ir além das formas meramente acadêmicas para chegar
às formas que chamaríamos místicas, que são as formas de comunhão com esse Deus que co-
municou, com o que encontro n’Ele e não simplesmente formulações meramente conceituais
discursivas ou reflexivas a respeito d’Ele. (NETTO,F: 2013)

(Continua em http://www.faculdademessianica.edu.br/revista/?page_id=91)

18
Contrapontos teológicos: reflexões sobre teologia prática
Em termos teológicos, vamos conhecer parte da visão do teólogo Karl Rahner sobre Teo-
logia prática e os vários modos de sua relação com as ciências em geral e com outras ciências
teológicas, conforme VIGUEIRAS (2004, p.117-118):

a) como o todo se relaciona com suas partes: é a relação que ela tem,por exemplo, com a homi
lética, a catequética, a missiologia, a liturgia.

b) como uma ciência relaciona-se com outra que, apesar de examinar os mesmos objetos ma-
teriais, o faz em um nível distinto de atualização e concretização: é a relação existente com
as ciências que versam sobre a essência (Wesenswissenschaften) (a dogmática em geral e a
eclesiologia dogmática em particular), que examinam a auto-realização da Igreja somente a
partir de seu ser abstrato. A teologia prática, ao contrário, examina esta auto-realização na si-
tuação presente. (...)Estas disciplinas teológicas que versam sobre a essência são fundamento,
pressuposto,horizonte e padrão da teologia prática. Por sua parte, a teologia prática faz-lhes
notar que a tarefa que lhes cabe não é a-histórica ou historicista (no sentido de que não se
colocam a pergunta pelo anúncio hoje), e que suas conclusões não são uma sabedoria sem-
pre válida no tempo, mas devem antes ser realizadas em uma situação concreta do mundo e
da Igreja; devem ser atualizadas em sua globalidade.

c) como uma ciência relaciona-se com outra que tem objetos materiais e fontes de conhecimento
e normas diferentes: é a relação existente entre teologia prática e ciências profanas. Esta relação
só é negativa quando os objetos materiais são totalmente diferentes, como acontece com as
ciências profanas não antropológicas; e pode ser positiva pela comunhão de objetos materiais
e, neste caso, a relação é a de uma ciência com suas ciências auxiliares. Nesta última situação
estão, por exemplo, a psicologia, a sociologia, a ciência histórica.

d) como uma ciência relaciona-se com as outras que examinam os mesmos objetos materiais, mas
sob um ponto de vista totalmente distinto: é o caso da relação da teologia prática com a peda-
gogia cristã, por exemplo, pois nesta se trata direta e formalmente da formação dos jovens; este
processo de formação faz parte da realização do ser da Igreja e de seus membros. (...)

e) como uma ciência com as outras que examinam os mesmos objetos (materiais e formais) em
outra fase de tempo, a saber, que examinam o passado em lugar do presente e do futuro: é a
relação existente entre a teologia prática e a história da Igreja, na medida em que esta última é
a história da salvação acontecida na Igreja. A teologia prática, por sua vez, abarca o presente e
o futuro; ela deve assinalar à história da Igreja que esta não pode ser mera curiosidade histórica,
mas sim “a constituição crítica da memória do passado da Igreja”, pois “o que a Igreja carrega
atrás de si é afinal interessante somente a partir daquilo que a Igreja tem ainda por diante”.

19
Exercícios de fixação – Aula 3
Dentre os modos propostos acima por Rahner, neste momento, reflita sobre a realidade
dos estudos sobre Teologia Prática messiânica. A partir disso, escolha uma das propostas de maior
interesse e redija um comentário a respeito:

20
Aula 4

Breve ensaio para uma Teologia do Johrei

Há alguns anos, no início de meus estudos de doutoramento sobre a religião messiânica,


deparei-me com a pesquisa de Leila Albuquerque que aponta o Johrei como gesto curador e a
relação entre corporeidade e dimensões cósmicas. Segundo a autora,

Na Igreja Messiânica Mundial, as corporeidades estão presas na dualidade natural


x antinatural. Esta naturalização dos cuidados do corpo tem como referência uma
recusa às transformações trazidas pelo processo de modernização. Com isso, esta reli-
gião produz corpos com dimensões cósmicas, conferidas pelas energias dos elemen-
tos naturais terra, água e fogo. A soma destes elementos produziria a energia divina
ou a divina luz, concedida, porém, apenas ao fundador deste movimento religioso,
Meishu-Sama. Ele a outorga aos homens, pelo gesto curador – o johrei. Em suma, o
ideal de corpo, para a Messiânica, é na natureza intocada pela modernidade.22

Há ainda um outro texto intitulado “O Johrei como meio de comunicação” (Anexo 2 –


parcial), de autoria do antropólogo Shoitiro Takezawa, que apresenta reflexões interessantes e
convergentes às ideias de Albuquerque sobre corporeidade e modernidade. Após apontar quatro
possíveis fatores para o sucesso da religião messiânica na Tailândia, o autor se debruça na temá-
tica do Johrei oferecendo-nos pistas para uma reflexão mais aprofundada do Johrei no tocante à
relação entre corporeidade e comunicação:

Como afirmado por muitos membros tailandeses, a doença foi o motivo de ingres-
so na fé. Porém, se ele (ou ela) tivesse ido ao hospital, seria envolvido por diversos
médicos, enfermeiras, máquinas e remédios, exames, enfim, acabariam tendo a
sensação de que o próprio corpo havia sido alienado dentro de um dispositivo
moderno. Opostamente, com o Johrei da Igreja Messiânica Mundial não existe tal
alienação. Muito pelo contrário, ele se sentou diante de outra pessoa e levantando
a mão, ou quando alguém levantou a mão à ele, pode relacionar-se diretamente
com o corpo de seu companheiro e com o próprio corpo. Não há sombra de
dúvidas de que tal comunicação com o outro, possuir um meio de comunicação
com o corpo e o espírito, atuou positivamente em um ambiente onde o panorama
linguístico e cultural eram diferentes.23

Estimulada pelas reflexões teológicas suscitadas nos encontros de estudos propedêuticos


sobre teologia messiânica que resultaram no artigo intitulado “Johrei e os três pilares”, concordo
com a afirmativa de que

é importante para a vida da IMM e também para a compreensão do pensamento teológico de


Meishu-Sama aprofundar a relação entre Johrei e outros dois pilares da doutrina e da prática
da construção do Paraíso Terrestre ou da passagem da Era da Noite para a Era do Dia.24

22 ALBUQUERQUE,L. Reflexões sobre cultura corporal. Comunicação apresentada na mesa redonda Cultura e Educação
Física. SP: Congresso Cultura Corporal-Sesc, 2006.p.7. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/ib/efisica/def2006/
artigoleila.pdf Acesso em 31/08/2013.
23 TAKEZAWA, Shoitiro. “Johrei como Meio de comunicação”. Tradução de MENDONÇA, Vania D. In: Obras Completas
de Mokiti Okada Artigos Suplemento do volume XI – Pesquisa sobre Mokiti Okada No. 17. Japão, 1996.
24 SUNG, Jung M. “O Johrei e os três pilares”. In: Revista Saberes em Ação. São Paulo: Faculdade Messiânica, 2013.
Acesso em 05/09/2013.

21
Com este intuito, passei a pesquisar sobre o Johrei de forma mais detida publicando o mate-
rial usado no curso virtual intitulado “Johrei: princípio, história e método” realizado em 2011. Além
disso, tenho buscado aprofundar alguns aspectos descritos por Meishu-Sama em ensinamentos
pouco conhecidos, seja por falta de tradução ou de publicação em língua portuguesa.

Daqui em diante, tecerei considerações com vistas a um breve e primeiro ensaio sobre a
possibilidade de uma “Teologia do Johrei”. Para tanto, buscarei os devidos fundamentos em quatro
breves trechos de Ensinamentos de Meishu-Sama escritos em períodos distintos:

1. Trecho extraído de “Método de Terapia estilo Okada como Medicina do novo Japão”,
contido no livro Medicina do Amanhã (15/05/1936);
2. “Mudança no método do Johrei”, publicado no Jornal Eiko n. 84 (27/12/1950)
3. Resumo de Palestra – Publicação Shinwa-kai (08/09/1951)
4. Texto – “Não basta que seja de pessoa para pessoa (sem data)

Johrei & caminho do verdadeiro ser humano25


O Johrei pode ser compreendido de várias maneiras. Tanto como uma oração como um
processo terapêutico. Dependerá da experiência religiosa e da visão de mundo do ministrante
e/ou do receptor. Em termos das Escrituras, dependerá da intenção do Fundador ou dos Líderes
Espirituais nas diferentes fases da Obra Divina. Contudo, há aspectos constituintes daquilo que
chamaremos de “essência do Johrei” e que independem das mudanças ocorridas na forma de
sua ministração ou no discurso institucional das várias vertentes da religião messiânica.
Na fase inicial da instituição da Igreja Kannon do Japão, o Johrei era denominado como
uma terapia26. O trecho em japonês abaixo, redigido por Meishu-Sama em 15/05/1936, integra
o livro Asu no Ijyutsu27 e transmite alguns aspectos da essência do Johrei.
Em termos gerais, o conteúdo indica o Johrei como um projeto para purificar as impu-
rezas da humanidade; um movimento de prolongamento da vida do povo. Não visa apenas a
saúde do corpo físico. Em concordância com o princípio da unidade espírito-matéria, a parte
espiritual (mental; de natureza invisível) também se torna sadia. Com espírito sadio, naturalmente
a ação humana é correta. Isto é, o ser humano trilha, então, o “caminho de um verdadeiro ser
humano”. Torna-se, pois, um “homem completo”.

本療病術とは、汚穢に満ちた人類を、浄化する事業である。国民の延命運動であ
る。之は新日本医術の大療法を拡充する事によって、達成されるのである。そうして、人
間が汚穢を取除かれたなら、ひとり、肉体の健康ばかりではない。霊体合一の理によって
精神も健全になるのは、当然である。精神が健全になれば、其人の行為は、正しからざる
を得ない。真の人間としての、道を履む事になる。所謂、完全人間に成るのである。
Fonte - 『明日の医術 新日本医術としての岡田式療病法』,昭和十一年五月十五日,19360515
岡田茂吉全集著述篇第二巻p017

25 Texto não publicado de TOMITA, A em 12/02/2008, por ocasião dos estudos propedêuticos sobre uma possível
teologia messiânica.
26 No referido ensinamento, o termo usado é 本療病術 (honryo byojyutsu - trad. literal “nosso tratamento de doença”
27 Livro conhecido em português como “Medicina do Amanhã” ou “Medicina do Futuro”, não publicado oficialmente
em português pela IMMB.

22
Desde a fase inicial de criação do Johrei, é importante observar que Meishu-Sama não se
preocupava exclusivamente com a saúde do corpo físico. Ele via o Johrei como um “movimento
de prolongamento da vida do povo” (kokumin no enmei undo); um “projeto ou empreendimento
de purificação das impurezas da humanidade”. Sua abordagem para o Johrei não visa o indivíduo
apenas, mas antes disso, a humanidade, o povo. Por outro lado, associa-o ao princípio da unidade
espírito-matéria ao ensinar que se espírito humano for saudável, o ser humano passa a trilhar o
caminho do verdadeiro ser humano (shin no ningen toshite no michi). Ou seja, torna-se um “ser
humano completo”(kanzen ningen).
Aqui temos não apenas uma abordagem de Meishu-Sama quanto ao Johrei. Ele o relaciona
ao ser humano. O ser humano completo é espírito-matéria.
Passemos a questão da corporeidade destacada por Meishu-Sama no texto “Mudança no
método do Johrei”, datado de 27/12/1950, no qual explica sobre os motivos da sua mudança.
Conforme veremos abaixo, não se trata do uso das mãos em si, mas da concentração ou
acréscimo de força (matéria) na ocasião da ministração do Johrei. Gostaria de refletir sobre este
aspecto fazendo relações com uma prática importante entre os messiânicos: a ikebana.
Meishu-Sama praticava a vivificação de flores conhecida como ikebana. Em japonês, o ideo-
grama “ike” significa vida ou viver e “haba/bana” significa flor. Dentre os cinco princípios da Ikebana
Sanguetsu - que é uma espécie de sistematização do estilo de ikebana fundamentado na visão de
Meishu-Sama sobre natureza e arte - temos o primeiro princípio “vivificar com naturalidade” .
Desde o início de minha trajetória como praticante de ikebana, o princípio de “vivificar
com naturalidade” me parecia o mais incompreensível. De fato. Vivificar já é uma ação um tanto
quanto diferenciada, sobretudo, quando lidamos com flores. Mas efetivamente “ vivificar” como
conceito e não apenas ação é a alma do caminho da flor, ou kado, outro nome para ikebana.
Em língua portuguesa usamos “naturalidade” para descrever a qualidade do que é natural
ou o modo de ser conforme a natureza. Vivificar com naturalidade poderia ser compreendido
como “vivificar respeitando a natureza da flor ou do galho”.
Mas que ligação há com o “tirar a força” na ministração do johrei? Ministrar johrei sem
força seria como ministrar johrei respeitando a natureza do outro ser humano que está a minha
frente. Pode também significar respeito a Deus que a tudo conhece e sabe a realidade (espiritual
e material) de seu filho que ali está recebendo johrei. Costumo ouvir do diretor da Faculdade
Messiânica a seguinte frase: “Se acharmos que podemos fazer pelo o outro aquilo que Deus não
faz, é porque atingimos o auge da presunção”. Tirar a força na ministração do Johrei certamente é
muito profundo e como diz Meishu-Sama se relaciona à transformação ocorrida (em ocorrência?)
no Mundo Espiritual.
Podemos compreender “força” de forma bem ampla. Naturalmente há a força do braço
(a qual Meishu-Sama se refere abaixo) e também há a força do pensamento que pode se ligar ao
apego de querer ver o outro curado, por exemplo.
Penso que o “tirar toda a força física e irradiar todo o espírito” a que Meishu-Sama é uma
das peculiaridades do Johrei em relação a outras práticas de imposição de mãos.
Meishu-Sama nos ensinou-nos que a fé messiânica deve ser livre e desimpedida (enten
katsudatsu). O Johrei que ministramos ou recebemos também deve obedecer ao mesmo princí-
pio, sob pena de obstruirmos o trabalho de Deus, desrespeitarmos a natureza em suas múltiplas
facetas. Assim, vejo o Johrei livre de força física como o johrei com naturalidade. Ao deixar-nos
esta orientação, Meishu-Sama nos lançou um grande e constante desafio. Á medida que buscamos
evitar a força física no Johrei, proporcionalmente nos ligamos a Ele, sua messianidade se manifesta
por nosso intermédio e assim nos reconectamos com nossa alma que é fonte segura e indissociável
do Supremo Deus.

23
Ensinamento de Meishu-Sama: “Mudança no
método do Johrei”
Por orientação de Deus, o método do Johrei sofrerá uma mudança. Gostaria, portanto,
que a partir de hoje seguissem esta orientação. Sem dúvida, tal mudança deve-se à grande
transformação que está ocorrendo no Mundo Espiritual. Na verdade, até agora o método do
Johrei incluía o espírito e o corpo, porque, quando se fazia sair o espírito pela palma da mão,
acrescentava-se um pouco de força. Força significa matéria, razão pela qual a força do espírito
diminuía na mesma proporção. Assim, quanto mais a pessoa se concentrava durante a ministra-
ção do Johrei, mais fracos eram os resultados deste.
Daqui em diante, entretanto, o que acabamos de dizer vai ficar mais evidente e por esse
motivo deve-se tirar toda a força física e irradiar apenas o espírito. Analisando com maiores deta-
lhes, a Luz Divina sai de mim e, através do elo espiritual, vai para o Ohikari dos fiéis. Do Ohikari,
a Luz espiritual é irradiada, pela palma da mão, para a parte afetada do doente. Por conseguinte,
deve-se evitar colocar força, procedendo-se da maneira mais descontraída possível, para irradiar
o espírito. Procedendo-se dessa maneira, é certo que o efeito do Johrei se torna muito mais acen-
tuado, com resultados excelentes, mais de cinco vezes superiores aos que se conseguia até aqui.
Isso deverá acarretar um espantoso progresso da Obra Divina, pois o tempo está se esgotando
e a Vontade de Deus é acelerar a salvação da humanidade. Portanto, não há motivo para que
vacilem ou fiquem com medo; basta que sigam as minhas orientações.
Maiores detalhes serão dados durante a entrevista.
Alicerce do Paraíso Rokkan, Johrei volume 2
Jornal Eiko n. 84 — 27 de dezembro de 1950

A partir desta seleção de escritos do Fundador Meishu-Sama, observamos a possibilidade


da Teologia do Johrei como movimento de prolongamento da vida com vistas à completude do ser
humano e salvação da humanidade.
A seguir acrescento um outro aspecto fundamental desta teologia: a nossa aproximação de
Deus e, ao mesmo tempo, a manifestação divina por meio do Johrei.

Ao priorizar a alma, o ser humano, como criatura, encurta a distância com o Cria-
dor, aproximando-se do conhecimento da verdade de si mesmo e, consequente-
mente, do seu destino de eterna felicidade.28

Abaixo, Meishu-Sama nos ensina sobre a relação do Johrei com nossa alma. Apresenta
ainda a relação com os Ensinamentos que ele denomina “Escritos divinos” (goshinsho) e apresenta
como “Johrei através das letras” conforme ensinamento por ele legado a todos nós.

28 HETMANEK, R. O Senhor do Tempo. São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2013.

24
Johrei: purificação de fora para dentro
Na ocasião de ministrar Johrei costuma-se ministrar na testa, mas isso não é para purificar
ainda mais o Espírito Primordial, é para eliminar as nuvens espirituais que envolvem a alma.
Basta que entendam que o Johrei que se ministra é para eliminar as nuvens que inter-
rompem a luz do Sol, que vem a ser a alma. O Johrei purifica de fora para dentro e a leitura de
Ensinamento de dentro para fora.

Resumo da Palestra – Publicação Shinwa-kai e, 08 de setembro de 1951) Fonte: Okada Mokiti Zenshu Kowa-hen
vol. 5, pág. 476-477

【明主様】御浄霊の際、よく額<ひたい>をやるのは、本守護神をいっそう浄めるのでな
く、魂をつつんでるくもりをとり除くためである。
 あたかも魂である太陽の光を雲がさえぎってるようなもので、これをとり除くのが浄霊
であると解せばよい。
 浄霊をすると外から浄まり、御神書を拝読いたすと中から浄まる。

『御光話要旨』神和会発行 昭和二十六年九月、昭和二十六年九月八日 一〇時半 於日光殿、19510908、岡田茂
吉全集講話篇第五巻 p476-477

Ainda sobre a dinâmica de purificação da luz de Deus (seja pelo Johrei das mãos ou pelo
Johrei através das letras), destacamos um outro trecho em que Meishu-Sama nos ensina que

O Johrei purifica de fora para dentro e os Ensinamentos atingem a alma: com ela mesma,
não acontece nada, mas recebe influências da mácula, quando esta surge. Quando a alma
está adormecida ou recebe influência externa, através da mácula, ela, que era deste tama-
nho, fica reduzida a este. Lendo os Ensinamentos, ela desperta, repentinamente. Então,
as máculas vão sendo eliminadas do centro para fora. A alma é, no fundo, absolutamente
pura. Em determinada circunstância, até uma pessoa má desperta ou, na hora decisiva,
faz algo de bom. Existem teorias de que o caráter bom e mau é inato ao homem. O in-
terior da alma é dessa maneira. Só em sua volta é que diversifica. Por isso, ela cresce ou
encolhe. A expressão: “Mitama no fuyu” significa que a alma se multiplica.29

Finalmente, gostaria de apresentar o último ensinamento de Meishu-Sama selecionado para


estas reflexões iniciais sobre uma Teologia do Johrei.

29 Gossuiji-roku nº 2 - 08/09/1951

25
Ensinamento de Meishu-Sama: Não basta que seja
de pessoa para pessoa30
Desde a antiguidade surgiram inúmeros santos que realizaram milagres para salvar as
pessoas. Os realizados por Cristo foram de tal grandeza, que ecoam até os nossos dias e ficaram
registrados na história das religiões. Entretanto, com relação às doenças, só se manifestava ca-
pacidade de cura de pessoa para pessoa; sendo assim, não havia possibilidade de se curar um
grande número de doentes. Cristo fez com que cegos enxergassem e paralíticos andassem, ex-
pulsou o demônio de pessoas possessas, enfim, realizou milagres notáveis, mas, como eu disse,
tratava-se de cura de indivíduo para indivíduo e por isso, na época, o fato não atraiu a atenção
de multidões.
Em contrapartida, milagres como os citados acima têm sido realizados todos os dias
pelos milhares de fiéis da nossa Igreja, e daqui para frente irão aumentar cada vez mais as pes-
soas com essa capacidade de cura. Por conseguinte, um grande número de criaturas será salvo,
podendo-se prever que, no futuro, a salvação assumirá proporções mundiais.
Não há dúvida de que o Johrei da nossa Igreja é uma maravilhosa medicina, mas o
nosso objetivo final não é apenas a saúde física, e sim a construção do Paraíso Terrestre. Dessa
maneira, é necessário obter não só a saúde física, como também a saúde espiritual. Em outras
palavras, precisamos formar homens perfeitos de espírito e de corpo. Com o aumento de tais
homens, conseguir-se-á formar o Paraíso Terrestre. Pelo exposto, hão de concordar que chegou
a hora predestinada pelos Céus e que nossa Igreja surgiu como a Religião final. A prova disso é
que qualquer pessoa, ingressando nela, imediatamente adquire a capacidade de curar milagro-
samente as doenças. (Data não especificada)

Conforme JUNG

visto que o próprio Meishu-Sama contextualiza o ensinamento sobre o princípio


do Johrei dentro do processo de transição para o Mundo do Dia, é preciso sempre
articular a reflexão sobre o Johrei com a construção do Paraíso Terrestre, uma
civilização de abundância, saúde e paz.31

Neste sentido, a tônica do texto “Não basta ser de pessoa para pessoa” é a consciência de
que “nosso objetivo final não é apenas a saúde física, e sim a construção do Paraíso Terrestre”32.

Sugestão de leitura complementar:


SUNG, Jung M. O Johrei e os três pilares. In: Revista Saberes em Ação. São Paulo: Facul-
dade Messiânica, 2013
Acesso pelo link: http://www.faculdademessianica.edu.br/revista/?wpfb_dl=9

30 Texto original: 一人対一人では駄目だ(Não basta que seja de pessoa para pessoa). In: Mokichi Okada Zenshu
Chojyutsu-hen DaiJyu ni kan p. 346 , data desconhecida. (Obras Completas Mokichi Okada Ensaios volume 12 vol. 12
p-346 ).
31 SUNG, Op. Cit, 2013.
32 Obras Completas Mokichi Okada .Ensaios volume 12 vol. 12 p-346

26
Aula 5

Fundamentos para a Expansão do Johrei – revmo


Tetsuo Watanabe
A seguir, apresentamos na íntegra um artigo publicado na Revista Izunomê no 64 do Japão
de autoria do revmo. Tetsuo Watanabe. Intitulado “Considerações sobre o conceito de verdadeiro
amor”, o artigo aborda a importância do amor próprio e o fato de que conhecer significa amar.
Na sequência, envereda por assuntos sobre religião, liberdade, crença e por fim, com referências a
partir de Nidai-Sama, recomenda “a prática da leitura de Ensinamentos que apreende o verdadei-
ro desejo de Meishu-Sama e analisa se nosso aprendizado está concorde ou não com a Vontade
Divina, nossa missão e com aquilo que os outros estão buscando”33.

1. Sobre a importância do amor-próprio


“O homem vem a este mundo com um corpo físico recebido de seus pais e uma alma pro-
vinda de Deus” (Nidai-Sama)

Como diz o poema de Nidai-Sama, nós humanos, vivemos graças ao amor de Deus e das
pessoas. Somos, portanto, seres dignos de respeito e existências preciosas.
Será que temos plena consciência desta verdade? Será que amamos e valorizamos a nós
mesmos verdadeiramente? Possivelmente, pensem: “Mas isso não significa um tipo de amor egoísta?”
Meishu-Sama nos ensinou: “O exemplo mais extremo de amor Shojo é o amor próprio; em
seguida, por ordem, o amor entre familiares, os amigos, a comunidade, as classes, o amor pela
pátria e o amor pelo povo. Todos esses tipos de amor são amor Shojo. Por mais ardentes que se-
jam, acabam constituindo um mal (...) 34.” Contudo, a partir deste trecho considerar o “amor a si
próprio” como o mais extremado tipo de amor shojo, é tirar conclusões precipitadas.
Naturalmente, conforme o enfoque deste amor-próprio, ele será apenas um amor egoísta
que de fato constituirá um “mal”. Mas, o amor-próprio que eu recomendo não é um amor que
acaba sendo auto-conclusivo e sim um amor verdadeiro que se estende à humanidade.
Por outro lado, o homem moderno encontra-se num estado crítico de perda não só do
amor-próprio mas também do amor à família, à comunidade, nação e povo. Ou seja, já ultrapas-
sou a fronteira do amor tido como prejudicial e caminha para um tipo de amor completamente
pernicioso e destrutivo – o que é motivo de muita preocupação. É exatamente como uma perda
de identidade.
Ouço de professores de idiomas e de professores universitários que têm contato com japo-
neses no exterior, que mais do que a questão da língua estrangeira propriamente dita, os estudan-
tes japoneses não sabem expressar seu pensamento e lhes faltam conhecimentos básicos sobre
sua própria pátria. Por exemplo, muitos japoneses sequer conhecem sua própria cultura e tradição
que tanto interessa aos estrangeiros como é o caso do bushido (caminho do guerreiro) e do espírito
zen. Também não se interessam por questões internacionais. Mesmo que lhes perguntem sobre
sua opinião, nada têm a dizer. Isto é, tanto como indivíduos japoneses ou como seres habitantes
deste mundo, parecem ter uma identidade muito pouco marcante. Os senhores poderão achar
“qualquer um consegue amar a si mesmo”, mas nestes termos, será que as pessoas estão realmente
amando a si próprias?
33 WATANABE, T. “Fundamentos para a expansão do Johrei parte 18: considerações sobre o conceito de verdadeiro
amor.” Tradução de TOMITA, A. In:Revista Izunome nº 64, Japão: sekai Kyusei Kyo izunome Kyodan, 2005.
34 In: Pão Nosso 1a ed. P.184-185 (Título: ‘”Se você deseja corresponder à Vontade Divina...).

27
Anualmente, no Japão, mais de 30 mil pessoas suicidam-se. Elas tiram suas próprias vidas
para fugir dos sofrimentos que a realidade lhes impõe. São protótipos do homem que não con-
segue amar a si próprio. Por outro lado, pessoas que incorrem em crimes ou vivem em conflitos
entre familiares também demonstram o quanto elas não amam a si próprias. Certamente devem
sentir-se mal tanto por magoar o outro quanto por ser magoado. Contudo, não conseguem dar um
basta nestas situações.
Há também o indivíduo que se nega a progredir contentando-se com sua atual maneira de
ser. Também não considero este tipo de pessoa possuidora de amor-próprio pois falta-lhe o de-
sejo de se harmonizar com o meio em constante transformação que a cerca. O mesmo se aplica
àqueles que são desinteressados de tudo e consideram uma chatice estudar, instruir-se e vivenciar
novas experiências. Será possível considerar uma pessoa dessas – tão limitada – como alguém que
ama a si próprio?
Desejo recomendar-lhes que sejam donos de um amor-próprio autêntico. Isto porque quem
ama de fato a si, também consegue amar o seu próximo. Porém, quem não ama sequer a si, como
há de conseguir amar o outro? Quem não confia em si mesmo , também não há de confiar no outro.
Vou explicar mais uma vez. Somente ao compreendermos que recebemos uma partícula
divina graças ao amor de Deus e nascemos graças a nossos pais, é que também veremos que o
“outro” é também filho de Deus e dos seres humanos e que, portanto, deve ser respeitado e va-
lorizado. Assim, penso que o verdadeiro amor altruísta não nasce do nada; seu ponto de partida
é o verdadeiro amor-próprio.

2. Conhecer significa amar


É impossível se falar em verdadeiro amor sem tocar na questão do “conhecer”. Cada um
dos senhores conhece a si próprio? A grande maioria como não quer se anular, evita se colocar
diante de seu lado negativo e tenta escondê-lo. Por isso, quando alguém aponta seus defeitos sen-
te-se profundamente aborrecido. O lado negativo também é algo que faz parte de você, portanto,
merece sua análise imparcial. Esse é um ponto muito importante.
Por exemplo, mesmo sabendo que Meishu-Sama nos ensinou a não julgar o próximo, aca-
bamos julgando o bem e o mal das pessoas. Mesmo sabendo que não devemos, agimos assim.
Neste caso, o primeiro passo a ser dado é reconhecer seriamente que eu existo e tenho essa falha.
Mas se ficamos presos somente a isso, acabamos odiando a nós mesmos. Assim, devemos apenas
reconhecer nossa falha e, sem subterfúgios, colocarmo-nos frente a frente com ela. Quando esti-
vermos prestes a cometê-la, devemos pensar com firmeza: “Não posso agir assim”. Manter acesa
essa consciência possibilita a melhoria de nossas falhas e o esforço para ampliar nossas qualida-
des, naturalmente, proporciona a diminuição das falhas.
Se a pessoa esconde suas sombras e foca apenas em seus pontos luminosos, imperceptivel-
mente, se torna presunçosa. A esta altura, apesar de possuir suas qualidades, as pessoas ao redor
acabam se afastando dela. Perceber e reconhecer suas próprias sombras é imprescindível para a
sua própria elevação. Ou seja, sem conseguir praticar este ponto, não se consegue praticar a orien-
tação do Quarto Líder Espiritual: “Devemos nos colocar diante de Meishu-Sama e expor o nosso
eu sem falsidades e nos esforçarmos para nos aproximarmos da perfeição como seres humanos”.
Quem consegue praticá-la, ama verdadeiramente a si mesmo.

28
3. Conhecer a religião
Conhecer verdadeiramente si próprio é uma atitude muito importante que também se ade-
qua à nossa religião que desenvolve atividades da salvação. Eu, assim como todos os senhores,
penso que nossa religião é maravilhosa. Desejo, também, do fundo de minha alma que as pessoas
do mundo inteiro acreditem no verdadeiro Deus e se tornem pessoas que amam Meishu-Sama.
Contudo, as pessoas em geral longe de gostarem das religiões, sentem uma espécie de temor.
Em 1999, segundo pesquisas de uma universidade japonesa, 2/3 dos entrevistados consi-
deraram as religiões como algo perigoso. A imagem de auto-complacência e de exclusivismo por
parte das religiões e, em certos casos, até de destruição, possivelmente, seja decorrente do caso
de terrorismo provocado pela religião Aum Shinrikyo, no metrô de Tóquio. Mas, essse pensamen-
to não se restringe aos jovens; até mesmo adultos encaram as religiões desta maneira, embora o
caso já tenha ocorrido há seis anos. Isto porque desde essa época têm ocorrido diversos casos de
terrorismos ligados à religião – como os vistos no Iraque e no Oriente Médio – que apavoram o
mundo inteiro.
Nossa religião prima pelo bom senso, por isso, acho que devemos demonstrar às pessoas
através do elevado grau de nossa espiritualidade que não há motivo para pavor algum. Portanto,
devemos verificar o que são atitudes exclusivistas e auto-complacentes. Gostaria então de refletir
sobre o que a sociedade vê de perigoso nas religiões bem como também o nosso próprio conceito
de salvação. Abaixo, cito alguns fatores que induzem o pavor da sociedade:

1. considerar o seu fundador como um deus onisciente e onipotente


2. restringir a liberdade do indivíduo
3. considerar sua religião como absoluta e mais elevada atacando as demais
4. envaidecer-se diante dos que não possuem uma crença

Sobre “considerar o seu fundador como um deus


onisciente e onipotente”
Segundo o senso comum, considerar o fundador um deus onisciente e onipotente é algo
impossível já que ele tem um corpo físico que limita sua atuação. Além do mais, considerando-o
um deus, suas palavras tornam-se absolutas e em seu nome é possível cometerem assassinatos ou
provocarem guerras.
Em 15 de junho de 1950, o Supremo Deus tomou assento no ventre de Meishu-Sama - fun-
dador de nossa religião. Ele passou a viver em Estado de União com Deus. Mas, como o próprio
Meishu-Sama se referira a sua pessoa como sendo uma “criatura”, creio que chamá-lo de “Deus
supremo” propriamente dito, não seja correto.
Com o intuito de expresssar que havia se tornado verdadeiro filho do Deus Supremo, em
15 de junho de 1954, Meishu-Sama anunciou o “Nascimento do Messias”, tornando pública sua
divindade. Após sua ascensão, passamos a reverenciá-lo como “Oshiemioyanushinokami”. Acre-
ditamos, pois, que mesmo no Mundo Divino ele está encarregado da salvação da humanidade e
desenvolve sua grandiosa missão como Messias.

29
Sobre “restringir a liberdade do indivíduo”
Meishu-Sama nos ensina: “Não devemos esquecer que a verdadeira fé deve ser absolu-
tamente espontânea e sem restrições35”. Portanto, o tópico acima não se aplica à nossa religião.
Naturalmente os Ensinamentos são ordens divinas e portanto devem ser seguidos, porém sem que
se imponham pressões ou exigências.

Sobre “considerar sua religião como absoluta e mais


elevada atacando as demais”
É natural que um fiel que tenha vivenciado muitos milagres como a cura de uma grave
doença, a transformação interior ou até mesmo tenha sido salvo de um estado desesperador,
considere o nosso Fundador como uma divindade absoluta e elevada. Tal compreensão só pode
ser alcançada à medida em que se atravessa o portão da fé e se chega ao seu local mais nobre.
Decerto pessoas com tal compreensão são pessoas de convicção extremamente elevada.
Visto que os descrentes em Deus ou iniciantes na fé não têm este tipo de convicção, lhes é
difícil compreender da mesma maneira. Portanto, primeiramente, é preciso valorizar o sentimento
alheio e, sem impingir a fé, incentivar ao máximo que eles possam viver experiências desta ordem.

Sobre “envaidecer-se diante dos que não possuem


uma crença”
Nos seus Ensinamentos, Meishu-Sama diz que o homem bom é aquele que acredita no
invisível e o mau aquele que não acredita. Será que podemos então dizer - “você é mau” - para
alguém que não crê em Deus? Se assim agirmos, estaremos nos assemelhando aos religiosos fun-
damentalistas. É por este motivo que Meishu-Sama também nos ensina neste poema: “Não sendo
Deus, o homem não deve levianamente julgar o bem e o mal do próximo”. Ou seja, uma vez que
ele não é Deus, não deve julgar o bem e mal das coisas.
Assim sendo, se enfatizarmos apenas um determinado trecho dos Ensinamentos, eles se
tornarão um espécie de “faca de dois gumes”. Isto é, devemos estar cientes de que podemos es-
tar transmitindo o sentimento de Meishu-Sama de maneira deturpada. Neste sentido, gostaria de
acrescentar o seguinte: “Deus ama quem ama o próximo. Mas quem ama somente Deus, acaba
temido pelo próximo.”
Acima, discorri apenas sobre quatro dos muitos pontos que levam as pessoas a desconfia-
rem das religiões. Doravante, nós, devemos cada vez mais ampliar nossos corações com vistas ao
mundo. Assim como o ditado - “Quem conhece perfeitamente si e seu adversário, há sempre de
ganhar a disputa” - o mesmo pode ser aplicado em se tratando da salvação das pessoas. Nós pre-
cisamos entender o sentimento da pessoa e desenvolver a Obra Divina com a sabedoria alcançada
através da leitura dos Ensinamentos. Devemos estar constantemente atentos e empenhados neste
sentido. Este é o caminho que nos conduz ao verdadeiro amor à humanidade.

35 In: Material de Estudo “Universalismo”p.59

30
4. Postura correta na leitura dos Ensinamentos
Nidai-Sama nos ensinou : “Se apenas o Johrei resolvesse tudo, bastaria termos recebido o
Ohikari. Porém, ter os Ensinamentos significa que eles devem ser lidos, devemos buscar a verdade,
desenvolvendo, também, o senso comum da sociedade. Se não nos empenharmos em nos elevar
hoje, (...) seremos deixados para trás.36”
E também que a postura na leitura de Ensinamentos deve ser diferente conforme a posição
e nível daquele que os lê: : “Não devemos ser dependentes da leitura de Ensinamentos, mas sim,
compreendê-los e assimilá-los corretamente. A partir de então, é que poderemos atuar livremente.
No caso dos iniciantes, não há problema em ‘engolir’ os Ensinamentos sem ‘mastigá-los’. Mas, no
caso dos ministros, a situação é outra. Gostaria que procedessem com tal discernimento37.”
“Compreender e assimilar corretamente” significa que devemos incorporar os Ensina-
mentos completamente. Por outro lado, “desenvolver o senso comum da sociedade” é impres-
cindível para a busca da Verdade. Através disso é que nossas palavras e atos vão se tornando
cada vez melhor expressos.
Os trechos acima são fundamentais para nós - instrumentos desta obra de salvação no
Mundo Material – que amamos e conduzimos um número crescente de pessoas à felicidade. Por-
tanto, movidos pelas orientações de Nidai-Sama, gostaria de sugerir a prática da leitura de Ensina-
mentos que apreende o verdadeiro desejo de Meishu-Sama e analisa se o que viemos aprendendo
está ou não de acordo com a Vontade Divina, com nossa missão e com aquilo que os outros estão
buscando.
Finalmente, peço que os senhores pensem sobre como é importante absorver o sentimen-
to de Meishu-Sama com vistas à felicidade de todos os seres humanos. Tenho certeza de que o
conhecimento desta verdade constitui o caminho para alcançarmos o verdadeiro amor à Meishu-
Sama e à humanidade.

36 In: Fonte da Sabedoria - Ensinamentos de Nidai-Sama – Prática da Fé p.53


37 In: Fonte da Sabedoria - Ensinamentos de Nidai-Sama – Prática da Fé p.51

31
Aula 6

Considerações Finais
Histórias diversas e experiências acidentais geraram escrituras. Mas agora é que tudo co-
meça, ou melhor, agora é que elas começam a fazer história, nas explorações de suas
mensagens e dizeres, nos múltiplos impactos que em tantos cenários produzirão. Seus
teores se convertem em ponto de partida reclamando novas explorações.38

Na religião messiânica não costumamos nos referir aos Ensinamentos de Meishu-Sama


como nossos “textos sagrados”, “textos religiosos” ou “escrituras sagradas”. Contudo, por vezes,
para se fazer entender diante da comunidade não-messiânica é comum ouvir referências ao livro
ou coletânea “Alicerce do Paraíso” como sendo a bíblia dos messiânicos. A bem da verdade, ori-
ginariamente, o termo “religião” e por extensão “religioso” inexistia no Japão. O que se tem como
religião hoje era denominado como caminho, lei ou doutrina39.
Ao propor uma visão abrangente de salvação que transcende a religião, possivelmente,
Meishu-Sama estivesse voltando seu olhar ao sentido mais original da “fé”. Quiçá, em decorrência
disso, a opção pelo título de um de seus textos mais misteriosos: “Fé messiânica” (ao invés de reli-
gião messiânica)...
Sua constante proposta de “fé = cotidiano” (tradução minha de shinko soku seikatsu) apon-
ta para aquilo que, oportunamente, ele denominaria como “ultrarreligião” e defenderia que “que-
remos colocar a teoria em prática, de maneira que a Fé seja vivida no nosso dia-a-dia (shinko soku
seikatsu). Relembremos pois: ultrarreligião como método ou caminho e não como um fim para a
supremacia de uma ou outra religião sobre outras.
Neste sentido, definitivamente, não me sinto a vontade para ver a literatura de Meishu-Sama
como uma literatura religiosa ou sagrada. Os escritos Divinos (goshinsho), como ele próprio os
nomeou são revelações de Deus para a construção de um mundo dotado de completa Verdade,
Bem e Belo, o Paraíso Terrestre. São ensinamentos ultrarreligiosos e não doutrinas religiosas.
Nos estudos de Teologia Cristã, há subáreas como a Teologia Textual (bíblica); Teologia
histórica; Teologia Prática (ou pastoral) e Teologia sistemática, entre outras possíveis subdivisões.
Cada uma delas possui interesses e focos próprios de estudo. Qual subárea da Teologia Messiânica
se ocuparia do estudo dos Ensinamentos de Meishu-Sama?
A meu ver, os ensinamentos de Meishu-Sama como principal fonte da teologia messiânica
em diálogo com outros saberes são passíveis de estudo e aprofundamento em todas subáreas que
venham a ser criadas. Atentemos ao fato de que a teologia messiânica como a própria religião mes-
siânica está e (possivelmente esteja sempre) em constante construção. Isto porque a construção é
a própria alma da nossa Igreja.
No Brasil, por força de hábito, diz-se “Ensinamentos de Nidai-Sama”, embora a coletânea
de seus escritos seja nomeada como coletânea “A Fonte da Sabedoria”, ou como nos exorta o texto
de apresentação da obra, “as palavras de Nidai-Sama são fontes de eterna inspiração para transfor-
marmos nosso cotidiano em constantes bênçãos divinas”.40

38 VASCONCELLOS, P.L. “Metodologias de estudos das ‘escrituras’ no campo da Ciência da Religião”. In: PASSOS, J.D.
& USARSKI,F. (orgs.) Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas/Paulus, 2013.p. 475.
39 GONÇALVES, R. M. “Butsudo-caminho de buda”. In: Do: a essência da cultura japonesa. São Paulo: Centro de Chado
Urassenke do Brasil, 2004, p. 20.
40 NIDAI-SAMA. Coletânea A Fonte da Sabedoria. Vol.5. São Paulo: FMO-MOA, 2005, p. 03.

32
E os demais Líderes Espirituais contarão apenas com as chamadas “orientações”? Seja
qual for a nomenclatura que se fixará doravante, não podemos deixar de pensar nos múltiplos
impactos que suas mensagens, ou melhor, seus ensinamentos causam em todos nós. Afinal,
como nos alertou o presidente mundial revmo Tetsuo Watanabe, é preciso estudar os ensina-
mentos, incorporá-los em nossas atitudes bem como tê-los como a bússola da nossa fé e da
relação cuidadosa com o outro.
No caso da Teologia Messiânica, temos em nossas mãos o Johrei e a ultrarreligião que
permeia os Ensinamentos como duas rodas de uma mesma engrenagem: a obra divina. Estes são,
portanto, elementos que sempre norterão nossas reflexões teológicas.

33
Folha de orientação para avaliação final
ATIVIDADE: Escolha uma das três propostas de exercício (aulas 1 a 3) e prepare seu trabalho final
desta disciplina. (Entre 3 e 5 páginas sem contagem da capa, do sumário e da bibliografia).

TIPO: Trabalho individual

CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO:

PRAZOS: Envio até o dia ___/___/_____ para o e-mail:

Os trabalhos seguirão as seguintes normas:

CAPA: contendo nome da instituição, nome do aluno, nome da disciplina, nome do professor e
data.

SUMÁRIO: com a descrição dos pontos trabalhados: introdução, desenvolvimento, considerações


finais, bibliografia consultada.
• Papel A4 padrão (210 X 297 mm) e margens superior e esquerda com 3 cm, e inferior com 2 cm.
• Texto distribuído em uma única coluna.
• Todas as páginas numeradas sequencialmente no alto e à direita.
• Tipo da fonte deve ser Times New Roman, corpo 12 e com alinhamento justificado e espaço
1,1/2. Os títulos poderão ter o tamanho 14.

34
Referências
ALBUQUERQUE,L. Reflexões sobre cultura corporal. Comunicação apresentada na mesa redon-
da Cultura e Educação Física. SP: Congresso Cultura Corporal-Sesc, 2006. Disponível em: http://
www.rc.unesp.br/ib/efisica/def2006/artigoleila.pdf. Acesso em 31/08/2013.
ARAGÃO,G. “Teologia, transdisciplinaridade e física: uma nova lógica para o diálogo inter-religio-
so”. Disponível em: http://cetrans.com.br/artigos/Gilbraz_S_Aragao.pdf Acesso em 20/08/2013
FUNDAÇÃO MOKITI OKADA. Luz do Oriente. vol. 2 2ª edição. São Paulo: 1984.
GONÇALVES, R. M. “Butsudo-caminho de buda”. In: Do: a essência da cultura japonesa. São
Paulo: Centro de Chado Urassenke do Brasil, 2004.
HETMANEK, R. O Senhor do Tempo. São Paulo: Fundação Mokiti Okada, 2013.
MEISHU-SAMA, Coletânea Alicerce do Paraíso. São Paulo: FMO-MOA, 2005, v. 1- 5.
Mokichi Okada Zenshu Chojyutsu-hen DaiJyu ni kan p. 346 , data desconhecida. (Obras Comple-
tas Mokichi Okada Ensaios volume 12 vol. 12 p-346)
NETTO,F.B.S. “Objeto da Teologia: Deus”. In: Revista Saberes em Ação. SP: Faculdade Messiâni-
ca, 2013. Disponível em http://www.faculdademessianica.edu.br/revista/?wpfb_dl=3 Acesso em
12/08/2013.
NIDAI-SAMA. Coletânea A Fonte da Sabedoria. São Paulo: FMO-MOA, 2005, 5 vol.
SEKAI KYUSEI KYO. Meishu-Sama to Sendatsu no Hitobito (Meishu-Sama e os Pioneiros ). Japão,
1986.
SUNG, Jung M. “O Johrei e os três pilares”. In: Revista Saberes em Ação. São Paulo: Faculdade
Messiânica, 2013. Acesso em 05/09/2013.
TAKEZAWA, Shoitiro. “Johrei como Meio de comunicação”. Tradução de MENDONÇA, Vania D.
In: Obras Completas de Mokiti Okada Artigos Suplemento do volume XI – Pesquisa sobre Mokiti
Okada No. 17. Japão, 1996.
TEIXEIRA, F. Buscadores de diálogo. São Paulo: Editora Paulinas, 2013.
TOMITA,A.G.S. Recomposições Identitárias na integração religiosa e cultural da Igreja Mes-
siânica no Brasil. Tese de Doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista
de São Paulo, 2009.
VASCONCELLOS, P.L. “Metodologias de estudos das ‘escrituras’ no campo da Ciência da Reli-
gião”. In: PASSOS, J.D. & USARSKI,F. (orgs.) Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Pauli-
nas/Paulus, 2013.
VIGUERAS, Alex. “Que cabe a Igreja fazer hoje? A concepção de Teologia prática em Karl Rah-
ner”. In: Perspectiva Teológica 36, 2004, p.99-124 Disponível em: http://www.faje.edu.br/periodi-
cos/index.php/perspectiva/article/viewFile/464/887. Acesso em 10/08/2013
WATANABE, T. “Fundamentos para a expansão do Johrei parte 18: considerações sobre o concei-
to de verdadeiro amor.” Tradução de TOMITA, A. In:Revista Izunome nº 64, Japão: sekai Kyusei
Kyo izunome Kyodan, 2005.

35
Anexo 1

Johrei como meio de comunicação interpessoal,


espiritual e física41
(...) Como possíveis causas do sucesso da Igreja Messiânica Mundial na Tailândia, temos, em
primeiro lugar, em contraposição ao budismo tailandês – que privilegia somente os sacerdotes e
busca paciência em relação ao seu afastamento das pessoas em geral e à sua longa prática ascética
–, a Igreja Messiânica Mundial ensinou um caminho de auto-aperfeiçoamento e disciplina aberto
à qualquer um. Em segundo lugar, ofereceu à mulher tailandesa, que, apesar de originalmente ser
considerada como socialmente mais elevada, era vista como inferior dentro do budismo tailandês,
a oportunidade de auto-realização dentro da religião (na verdade, a grande maioria dos chefes-de-
igreja nas diversas regiões da Tailândia é do sexo feminino e a porcentagem de mulheres dentro da
diretoria também é bastante alta). Em terceiro, as novas religiões japonesas, que foram as primeiras
a vivenciar a modernização na Ásia, e sua teoria coerente e refinado idealismo, presentes desde o
período Meiji na Tenri-kyo e Omoto, foram um grande atrativo para os tailandeses, que buscavam
um conhecimento de nível mais elevado (o fomento à agricultura natural, uma das colunas de ação
da Igreja Messiânica Mundial, foi especialmente reconhecido entre a elite e pessoas que tinham
relações com o governo como a antítese ao governo tailândês, que não tomava nenhuma medida
eficaz contra a destruição do meio ambiente, cujo ritmo crescia velozmente). Em quarto lugar,
temos a existência do Johrei, uma técnica particular que possibilitou a rápida penetração em uma
sociedade que possuía um panorama cultural diferente, como a Tailândia.
Todos esses fatores colaboraram grandemente com o desenvolvimento, mas creio que o
quarto fator possuiu, em especial, um valor decisivo. Tal afirmação baseia-se no fato de que os
fatores de 1 a 3 são comuns não só a outras novas religiões de origem japonesa, mas também ao
movimento de novas religiões presentes na Tailândia nos últimos anos e, dentre estes, nenhum ex-
plica o porque da expansão da Igreja Messiânica Mundial. Sendo assim, o Johrei, técnica religiosa
particular criada pela Igreja Messiânica Mundial, foi o fator que possuiu maior mérito nesse ponto,
assumindo um papel decisivo.
Em primeiro lugar, esta é uma técnica da qual, de certa forma, podemos nos aproximar fa-
cilmente e, mesmo que o caminho seja profundo, todos podem aprendê-la sem nenhuma prática
ascética ou disciplina especial, uma técnica aberta à todos. Em seguida, mais que uma técnica para
a cura de doenças, como foi mostrado na enquete, valoriza-se mais o aspecto de ser um meio
de ajudar o próximo, ou seja, pode ser considerado um meio de comunicação interpessoal. Além
disso, conhecimento e informação circulam em abundância, o que proporciona às pessoas, na so-
ciedade contemporânea, onde tendemos a nos perder de nós mesmos, a possibilidade de, através
do Johrei, relacionar-se diretamente com o próprio físico e com o de outras pessoas e conseguir
comunicar-se com eles.
Como afirmado por muitos membros tailandeses, a doença foi o motivo de ingresso na fé.
Porém, se ele (ou ela) tivesse ido ao hospital, seria envolvido por diversos médicos, enfermeiras,
máquinas e remédios, exames, enfim, acabariam tendo a sensação de que o próprio corpo havia
sido alienado dentro de um dispositivo moderno. Opostamente, com o Johrei da Igreja Messiâni-
ca Mundial não existe tal alienação. Muito pelo contrário, ele se sentou diante de outra pessoa e
levantando a mão, ou quando alguém levantou a mão à ele, pode relacionar-se diretamente com
o corpo de seu companheiro e com o próprio corpo. Não há sombra de dúvidas de que tal comu-
nicação com o outro, possuir um meio de comunicação com o corpo e o espírito, atuou positiva-
41 (TAKEZAWA, 1996)

36
mente em um ambiente onde o panorama linguístico e cultural eram diferentes.
Até então, a maioria dos pesquisadores não relacionados com a igreja, como eu, conside-
ravam o Johrei como um método “feiticeiro” utilizado para angariar membros, não sendo bem
conceituado. Em contrapartida, dentro da igreja pregava-se o ensinamento de Mokiti Okada, “Lei
do Espírito Precede a Matéria”, obedecendo a um conceito religoso particular onde o Johrei era
posicionado como um método que possibilitava a purificação total, tanto do corpo quanto do
espírito. Porém, tal conceito religioso não era, necessariamente, aceito pelos pesquisadores não re-
lacionados com a igreja. Isto é claro. Se isso acontecesse, o pesquisador estaria na mesma posição
que um membro ou então muito próximo disso. Deixando de lado o julgamento de se tal conceito
é apropriado ou não, se considerássemos o Johrei como um meio de comunicação interpessoal,
física e espiritual, será que não chegaríamos a uma nova maneira de encará-lo? A sociedade em
que vivemos é também chamada de sociedade informatizada, ou seja, uma sociedade onde novas
informações surgem sem parar e nos são impostas através dos mais diversos meios de comunica-
ção. Além disso, grande parte de tais informações são informações visuais, como podemos com-
provar através da televisão e computador, representantes da mídia contemporânea – informações
oriundas dos locais mais distantes. Quando ativamos somente nossa visão, a distância entre eu
e o mundo continua existindo. Eu estou deste lado e o mundo, do outro. Por mais que tentemos
preencher tal distância com informações, ela não diminui, muito pelo contrário: enquanto for in-
formação visual, a distância aumenta infinitamente.
Por outro lado, segundo experimentos da psicologia do desenvolvimento, o ser humano,
para desenvolver o senso de distância e o senso de que faz parte do mundo, necessita usar a visão
e o tato combinados. Se estico a mão e consigo alcançar algo que está sob meu olhar, dentro de
meu campo de alcance, é algo que está próximo. Se é algo que está além do meu olhar, fora de
meu campo de alcance, mesmo que estique a mão, não alcanço, está longe. Relacionando, desta
forma, visão e tato, o ser humano vai desenvolvendo o senso de distância, criando o senso de
distância e proximidade entre o eu e o objeto, o senso de que faz parte do mundo. Porém, com a
chegada da sociedade informatizada, ao reduzir todas as informações à visão, acabamos perdendo
não só o senso de distância, mas também o senso do mundo que nos rodeia.
Em relação a isso, o Johrei da Igreja Messiânica Mundial faz com que fechemos os olhos,
que nos provê informação visual, e tomemos consciência do próprio corpo, exposto à mão do
outro levantada. Estabelecer a distância entre o tocar e o não tocar. Lapida o tato, mas, simultane-
amente, não reduz os cinco sentidos a este, muito pelo contrário: é um método eficaz para desen-
volver os cinco sentidos, voltando-os para o mundo externo. Ao conscientizar-me de mim mesmo
diante da mão do outro, vivencio a sua presença e compreendo a distância que existe entre mim e
ele. Ao mesmo tempo, quando sinto o cantar longínquo dos pássaros, a leve brisa que toca o meu
corpo, o cheiro que paira no ar, a variação de luminosidade, experimento a dimensão do mundo
que envolve a mim e ao outro.
Talvez, o mais importante nesse momento não seja a minha presença, nem mesmo o pen-
samento de curar a doença. A maioria dos membros se aproximou da Igreja Messiânica Mundial
por causa da doença e tanto faz se quem começou o Johrei foi a Tailândia ou o Japão. Mas se
nesse momento continuarmos a nos preocupar com o tratamento da doença, é muito certo que o
Johrei não fará efeito. Ou seja, enquanto a pessoa estiver preocupada com a doença é impossível
superá-la. O doente é quem mais sabe sobre a própria doença. Que tipo de dor ela provoca, que
tipo de angústia física e psicológica traz, o doente sabe mais que qualquer médico ou enfermeira.
Sendo assim, talvez, o que o doente mais deseja não é que lhe falem sobre sua doença: quer que
alguém o livre da preocupação que ela traz, que o liberte da doença, que o faça tornar-se parte do
mundo, que lhe de um empurrão de volta ao mundo. O Johrei é, nesse momento, uma das poucas
técnicas que tornam isso possível.

37
Ao ler as palavras de Mokiti Okada em “Luz do Oriente” e em outras obras, o que vejo é o
ensaio que o levou à “descoberta” do Johrei. O processo vivido por Mokiti Okada, que, ao apren-
der o “Tinkon Kishin-ho”, da Omoto, concretizava inúmeros milagres e curas, e posteriormente se-
parando-se desta, chegou à “descoberta” do método do Johrei, completamente original. Por volta
do ano 5 da era Showa, ele desenvolve uma forma que começava com a entoação da “Amatsu
Norito” e, após unir as mãos, pressionava a área afetada com os dedos, apalpava com a palma
da mão e soprava. Por volta do ano 7, ele já levantava a mão em direção ao paciente, mas era
necessário entoar, silenciosamente, a oração dos números sagrados 3 vezes e, utilizando o espírito
das palavras, soprava, ou após unir as mãos e orar, soprava, ou também outras técnicas. Mesmo
quanto ao nome Johrei, após beber na fonte da Omoto com “Tinkon”, passa por “operação”, “tera-
pia” e finalmente chega a “Johrei” (o Johrei chegou, finalmente, à maneira como é ministrado hoje
somente no ano 25 da era Showa). Ao revermos as mudanças ocorridas durante o passar desses
longos anos, creio que Okada, que acreditava no poder das palavras (e parece que essa crença não
diminuiu com o passar dos anos), passou por etapas de ensaio para descobrir o Johrei como meio
de comunicação, algo sem nenhuma afinidade com o poder das palavras.

O Mundo Contemporâneo e o Johrei


O Johrei, descoberto por Mokiti Okada após várias tentativas, venceu as fronteiras do Ja-
pão, que possui tradição e cultura próprias, sendo de grande eficácia no mundo contemporâneo.
Este fato mostra de maneira real o futuro desenvolvimento da Igreja Messiânica Mundial, bem
como o desenvolvimento das igrejas que seguem a mesma linha, como a Mahikari, Shinji Shumei-
kai e outras religiões. Somando o número de membros destas igrejas, hoje (1995) chega-se a alguns
milhões, e o rápido crescimento destas também no exterior é comprovado pelo veloz desenvolvi-
mento da Igreja Messiânica Mundial na Tailândia e no Brasil e pelo progresso das igrejas da linha
da Mahikari na Europa e na África.
Mokiti Okada, ao mesmo tempo que polia o Johrei, recebeu a revelação da “Transição da
Era da Noite para a Era do Dia”, no ano 6 da era Showa. Sob meu ponto de vista, esta é nada mais
nada menos que a chegada de uma época em que a coexistência com o outro se tornará mais di-
fícil, em que somente a visão crescerá desmesuradamente, a chegada de uma época em que o ser
humano será enxotado do mundo. E por ser assim é que chegamos a uma época em que o Johrei
como meio de comunicação, o Johrei como meio que posiciona o ser humano dentro do mundo
e cura possui um significado muito importante.
Tal eficácia do Johrei não deve diminuir nada, enquanto somente a visão for privilegiada, en-
quanto houver a suposição de que a comunicação com o outro passará a ser mais difícil. Mas, por
outro lado, creio que o Johrei como meio de comunicação interpessoal, espiritual e física, da mesma
forma que a língua como meio de comunicação próprio do ser humano não pertence à ninguém
e é algo comum a todos, tende a vencer os limites da igreja. Talvez as sucessivas divisões da Igreja
Messiânica Mundial sejam a própria prova disso: daqui para frente a igreja ampliará tal meio de co-
municação como um bem comum à toda humanidade ou o monopolizará, descobrindo um método
que o encerre dentro da estrutura da igreja. Creio que esta questão é a que desvenda o futuro não só
da Igreja Messiânica Mundial, mas do movimento geral das novas religiões no Japão.

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