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Belém
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Belém
2014
ANTI ANTI-DIREITOS HUMANOS
1 A advertência recorrente 3
3 Considerações finais 18
Referências 19
1 A advertência recorrente
Os textos introdutórios sobre direitos humanos trazem uma advertência recorrente que
pode ser resumida no seguinte: “Cuidado com o discurso convencional dos direitos humanos! Ele
pode ser usado para fins mais perigosos do que se pode imaginar”. Por trás desse aviso há uma
intenção louvável: alertar o iniciante no assunto para não embarcar num discurso ingênuo sobre
direitos humanos em que tudo que é relacionado à matéria é referido como algo politicamente
desejável e moralmente positivo. Esse alerta quer deixar claro que direitos humanos não são a
panaceia para os males da humanidade, mas uma espécie de rótulo que serve para variados
remédios – que por sua vez destinam-se a objetivos muitas vezes antagônicos, da emancipação
3
Essa instrumentalização do conceito de direitos humanos pode nos levar a conclusão
precipitada que, se podem significar qualquer coisa, ninguém é contra os direitos humanos; toda a
questão se centraria de defini-los segundo os nossos interesses. Parte da literatura crítica dos
adiante. O objetivo central deste artigo é indicar que este diagnóstico ignora uma parte dos
discursos sobre o tema: justamente aquele que é contra direitos humanos, a que chamarei de “anti-
direitos humanos”. Alguém poderia argumentar que, por se opor aos direitos humanos, esta
temática não mereceria ser tratada pelos estudiosos da matéria e não deveria preocupar os ativistas
no assunto. Não entendo desta forma. A análise do discurso anti-direitos humanos é relevante
porque coloca em questão um traço distintivo dos direitos humanos na atualidade, ao menos no
Tal como GEERTZ procedeu no artigo que inspirou o título deste trabalho não me
proponho a defender os direitos humanos, mas atacar o discurso anti-direitos humanos, “que me
parece estar em ampla ascensão e representar uma versão aerodinâmica de um erro antigo”
(GEERTZ, 2001, p. 47). Antes de apresentar o que chamo de discurso anti-direitos humanos, no
prática de contra-hegemônica dos direitos humanos. Concepção e prática essas que se opõem à
versão hegemônica ou convencional dos direitos humanos, que tem as seguintes características:
humana; o que conta como violação dos direitos humanos é definido pelas
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organizações não governamentais (predominantemente baseadas no Norte); o
o respeito pelos direitos humanos é muito mais problemático no Sul global do que
A essa versão hegemônica dos direitos humanos está subjacente uma concepção de
estruturas funcionais das sociedades impondo a elas um modelo analítico anacrônico e alienígena,
como se todas experiências sociais mundo afora compartilhassem dos mesmos pressupostos e
discurso anti-direitos humanos. SANTOS refere-se a uma concepção que desafia os interesses
contexto importa, construída de baixo para cima, heterárquica, atenta às peculiaridade e necessidade
específicas do Sul global (SANTOS & CHAUÍ, 2013), que tem por “premissa uma política de
reconhecimento das diferenças capaz de estabelecer ligações entre, por um lado, as incrustações
locais e a importância e capacidade organizativa das iniciativas vindas da base, e por outro lado a
Tampouco me refiro aos argumentos levantados por ZIZEK contra os direitos humanos.
ZIZEK alerta para instrumentalização dos discursos dos direitos humanos para legitimar a lógica do
poder. O grande risco está na falsa aparência de universalidade dos direitos humanos que a
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concepção hegemônica consagra. Essa ideia pretende incutir no discurso dominante um viés
asséptico, de modo a torná-lo, a primeira vista, inofensivo, e posteriormente, desejável. Esta suposta
pureza despolitizada dos direitos humanos surge como o ingrediente importante para legitimar a
Entre aqueles que intervêm em nome dos direitos humanos, que tipo de politização
colocam em movimento contra os poderes a que eles se opõem. [...] Por exemplo,
está claro que a derrubada de Saddam, liberada pelos Estados Unidos, legitimada
em termos de pôr fim ao sofrimento do povo iraquiano, não apenas foi motivada
ideia determinada acerca das condições econômicas e políticas sob as quais era
Nota-se, portanto, que despolitização declarada traz escondida sob os panos um projeto
de mundo que nada tem de apolítico. É interessante notar que a imposição dos direitos humanos
acontece com auxílio, senão são propulsadas, pelo uso de poderosos aparelhos bélicos. Mas é
enganoso achar que o aparato militar é mobilizado por discursos de guerra. Pelo contrário, esses
tipos de intervenção são justificadas pelas mais nobres intenções e se apropriam da gramática dos
direitos. Como lembra TODOROV, essas incursões militares são legitimadas pelo novel direito de
ingerência. O argumento é que “se num país acontecem violação dos direitos humanos, os outros
países do globo têm o direito de introduzir-se lá pela força, a fim de proteger as vítimas e impedir
os agressores de agir” (TODOROV, 2012, p. 56). E esse messianismo político traz consigo uma
grande contradição “metodológica”: sob a justificativa de levar o primado do direito e dos direitos
nobreza dos fins fosse capaz de anular a violência dos meios (TODOROV, 2012, p. 61 e 84).
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Esses são relevantes argumentos “contra” os direitos humanos – contra a concepção
hegemônica dos direitos humanos, Boaventura diria. Em outras palavras, a advertência recorrente
serve a um propósito relevante e precisa ser levada a sério por estudiosos e ativistas de direitos
humano. Por se tratar de um conceito cujo conteúdo está sob disputa, é aconselhável estar sempre
alerta para o uso instrumental dos direitos humanos, especialmente quando usado para legitimar
incursões militares “messiânicas”. Feito esse breve excurso, passo a apresentar o que chamo de
negação de direitos e liberdade civis à minorias e (b) o discurso de ódio e/ou intolerância à
diferença. Os direitos e liberdades civis negados geralmente são aqueles mais ligados à tradição
liberal que deu origem à gramática dos direitos humanos no século XXVI, como liberdade de
devido processo legal, direito à integridade física e à vida e liberdade contra tortura. O discurso de
ódio manifesta discriminação e também incitação à discriminação contra pessoas que partilham
uma característica de identidade comum, como gênero, religião, orientação sexual, origem, cor da
pele, condição social, entre outras característica que o emissor do discurso considera como
diminutivas da condição humana do outro (SILVA & alli, 2011, p. 448). O viés desses discursos é
de 1980, não havia espaço no debate público brasileiro para o discurso anti-direitos humanos. Não
estou dizendo que esse tipo de discurso era inexistente, mas que se situava à margem do debate
público predominante – era, portanto, marginal. Era tão periférico que podia ser ignorado, o que já
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O discurso anti-direitos humanos se encaixa com quase perfeição no tipo de conduta
que se pretende proibir no art. 20.2 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, adotado na
XXI Sessão da Assembleia Geral da ONU, de 1966, e ratificado pelo Brasil em 1992. O dispositivo
2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso
E que encontra redação quase idêntica no art. 13.5 da Convenção Americana de Direitos
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia
Esse discurso pode ser identificado tanto no seio da sociedade civil quanto entre os
redes sociais como o Facebook, que segundo dados da empresa tem cerca de 76 milhões usuários
brasileiros.1 São inúmeras as comunidades de usuários que vibram com vídeos de violência policial,
sociais como criminosos e pedem até um novo golpe militar para “moralizar” o país. O Laboratório
de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo, fez
teses mais frequentes entre os usuários. Um traço comum entre as notícias e comentários
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O repúdio a políticas e a defensores de direitos humanos também são recorrentes. Segundo Fábio
“isso aparece com inúmeros textos e imagens que satirizam qualquer política de
analisarmos a divisão das cadeiras do Congresso Nacional na legislatura iniciada em 2010, veremos
Articula-se em torno de uma agenda contra a descriminalização do aborto, a união civil entre
pessoas do mesmo sexo e igualdade racial. Um fato marcante de sua influência no Congresso foi a
Minorias da Câmara dos Deputados. Já a bancada ruralista conta 158 parlamentares, sendo 140
capaz de mobilizar seus agentes em torno de projetos de lei que pretendem institucionalizar o
Neste ponto, proponho o estudo de quatro casos que veiculam o discurso anti-direitos
humanos com maior ou menor intensidade. São três decisões judiciais e um projeto de lei. Sobre as
decisões judiciais é preciso esclarecer que não se tratam de decisões finais. Algumas foram
reformadas ou ainda seguem aguardando decisões superiores. Estou ciente que esses casos são
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isolados, ou seja, não correspondem à posição institucional dos órgãos que fazem parte. Prova disso
que é duas das três decisões judiciais analisadas foram reformadas por instancias superiores ou
mesmo retratadas pelo próprio julgador. Já o projeto legislativo foi retirado de plenário em
decorrências das pressões que exercidas pela opinião pública sobre ele. Esse reconhecimento,
entretanto, não retira a utilidade do estudo. Ao invés de tentar generalizar o que é, neste momento,
localizado, pretendo jogar luz sobre de um discurso tido por inexistente, como objetivo de alertar a
A seguir, passo apresentar os casos com comentários a respeito do seu caráter anti-
direitos humanos. São eles, (a) o do jornalista Lúcio Flávio Pinto, (b) das religiões afro-brasileiras,
Em 1999, o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto publicou artigo no Jornal Pessoal,
que o próprio edita, comentando reportagem de capa da revista Veja da semana anterior que
denunciava esquema de grilagem de terras no Estado do Pará praticado pelo empresário Cecílio do
Rego Almeida, a quem se referiu como “pirata fundiário”. À época, Rego era proprietário de cerca
jornalista, alegando a violação de sua honra pelo uso da expressão mencionada acima. É importante
ressaltar que, em 1996, o Instituto de Terras do Pará (ITERPA) moveu ação judicial contra Rego
com objetivo de anular o registro dos imóveis supostamente objeto da grilagem, na Comarca de
Altamira, sendo julgada procedente em primeiro grau, e reformada no Tribunal de Justiça do Estado
do Pará. Após o deslocamento da competência da Justiça Federal para funcionar no caso, e ação
seguiu impulsionada pelo Ministério Público Federal, e como desdobramento do caso, houve uma
titular do cartório. Em 2005, a ação de indenização foi sentenciada e Lúcio Flávio Pinto foi
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condenado a pagar R$ 8.000,00 (oito mil reais) a Cecílio de Almeida Rego. O jornalista apelou da
decisão e o recurso recebido e indeferido por maioria de votos em 2006. Sobre a questão de fundo,
o voto condutor da maioria, da Desembargadora Maria Rita Lima Xavier, fez as seguintes
considerações:
[...]
transcreve [sic] (narrar), pois pela atividade intelectiva do nobre jornalista, houve
agiu com culpa na modalidade imperícia, visto que o como qualificado jornalista,
jornalista desrespeitou o empresário, violando sua honra subjetiva, e atingiu sua reputação no meio
social em que vive, violando sua honra objetiva. E que sempre que houver abalo injustificado da
honra alheia, surge a necessidade de reparação pecuniária. Nenhum consideração é feita sobre o
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exercício da profissão de jornalista e sua intrínseca relação com a liberdade de imprensa. Em
momento algum se menciona o evidente conflito existente entre patrimônio moral do ofendido, de
fez-se consideração alguma sobre a veracidade dos fatos imputados ao empresário pelo jornalista.
Ora, se restasse provado que o empresário apropriou-se das terras valendo-se de meios ilícitos, não
que foi publicado, vale lembrar George Orwell, para quem o verdadeiro “jornalismo é publicar
aquilo que alguém não que se publique; todo o resto é publicidade”. Dito de outra forma, trazer a
público um esquema de fraude à documentação fundiária certamente incomoda os agentes que dele
Dos quatro casos colacionados, esse é o que o discurso anti-direitos humanos aparece de
forma mais sutil. O que aparece no final do voto como “falta de perícia”, pode ser lido como
raciocínio, qualquer notícia que associe nome de alguém a prática ilegal, mesmo que como suspeito,
Federal promoveu ação civil pública com pedido de liminar5 contra o Google com o objetivo de
de matriz africana e seus adeptos. Nos vídeos, os pastores proferem discurso odioso contra religiões
afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé – geralmente referidas nos vídeos como macumba
– associam suas práticas ao culto ao diabo e referem-se aos praticantes como um “legião de
demônios”.
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O pedido de liminar foi indeferido no primeiro grau sobre sob o argumento que os
vídeos eram resultado do exercício de direitos fundamentais da Igreja Universal, dentre os quais
venerado.
Não se vai entrar , neste momento, no pantanoso campo do que venha a ser
crença – são de mau gosto, mas são manifestações de livre expressão de opinião.
O caso apresenta uma combinação de discurso de ódio de duas ordens: religiosa e racial.
E aqui o ocorre o inverso do observado no caso anterior: reconhecendo o conflito existente entre
dois direitos, e sob o pretexto de privilegia-lo, o julgador faz considerações depreciativas a um dos
mas no obter dicta da mesma. Faz-se uma distinção baseada em critério estranho – afinal, de onde
foram extraídas essas características essenciais a uma religião? – com o objetivo de negar aos cultos
de origem africana a condição de religião. Tem-se, portanto, que a restrição a um direito humano (a
liberdade religiosa) decorre de uma distinção baseada na cor, raça ou na descendência ou origem
ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anula ou restringir o
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reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de condição),
O argumento de que o diferente não é possível – nesse caso, de que o candomblé não é
religião – remete ao conceito de sensibilidade jurídica e confirma a tese que o direito é um saber
local, ou seja, é uma forma específica de representar a realidade. Nas palavras de GEERTZ
o direito [...] é um saber local; local não só com respeito ao lugar, à época, à
categoria e variedade de seus temas, mas também com relação a sua nota
determinada, ou seja, depende em grande medida, da interpretação que faz do seu entorno. Mesmo
sem conhecer a religião que professa o julgador, é bastante provável que seja praticante de uma das
judaísmo. Ainda que seja ateu, essas são as religiões que mais frequência estão ao alcance do
brasileiro. Daí porque suas características comuns são apontadas na decisão como condição
necessária a uma religião: a existência de um livro sagrado e um deus a ser venerado. Isso mostra
como o sentido de justiça é relativo, na medida em que decorre da forma como as instituições
jurídicas representam os fatos e o traduzem para a linguagem normativa (GEERTZ, 1997, p. 260).
época diretor administrativo do Palmeiras, por ter insinuado em um programa televisivo que o
jogador seria homossexual. O juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, da 9ª Vara Criminal de São
Paulo, negou seguimento a queixa-crime e determinou o arquivamento do processo. Mais uma vez,
o discurso anti-direitos humanos se manifesta no obter dicta na decisão, como vemos a seguir.
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Já que foi colocado, como lastro, este Juízo responde: futebol é jogo viril, varonil,
VITÓRIAS...’
Não que homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas,
forme o seu time e inicie uma Federação. Agende jogos com quem prefira
[...]
E não se diga que essa abertura será idêntica proporção ao que se deu quando os
[...]
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O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol
Para não se falar no desconforto do torcedor, que pretende ir ao estádio, por vezes
a começar pela impossibilidade de conceber que um ídolo possa ser homossexual, como se a
orientação sexual servisse para descredenciá-lo da condição de ídolo. A isso se segue a proposta
homossexualidade fosse uma espécie de doença contagiosa. O que se corrobora com o próximo
trecho grifado. A intolerância e a hostilidade com o diferente se colocam de forma mais evidente no
trecho sobre a suposta irrazoabilidade de aceitar homossexuais no futebol brasileiro, que se mostra
Outro caso relacionado a discursos homofóbicos aparece no que ficou conhecido por
“Projeto de Cura Gay”. Trata-se do Projeto de Decreto Legislativo nº 234,de 2011, de autoria do
Deputado João Campos (PSDB/GO), que propõe a sustação da aplicação do parágrafo único do Art.
estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à orientação sexual de seus pacientes.
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O projeto ganhou notoriedade depois que chegou a ser aprovado pela Comissão de Direitos
Humanos e Minorias, quando era presidida pelo Deputado Pastor Marco Feliciano (PSC/SP), mas
foi retirado de tramitação a pedido do autor, no plenário da casa, em julho de 2013. A pretensão é
recorrente, tendo sido apresentada na legislatura de 2010 pelo Deputado Paes de Lira (PTC/SP) e
remédio para o suposto excesso. No entanto, da negação dos postulados normativos que a proposta
visa sustar, é possível fazer algumas ilações: a primeira, e mais óbvia, é que a homossexualidade
precisa ser tratada e curada, como se uma doença fosse. Isso se ancora no paradigma patológico da
segunda, e mais grave, decorre especificamente da tentativa de sustar o dispositivo contido no art.
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pretende sustar tal dispositivo, podemos concluir, por mais absurdo que pareça, que sua finalidade é
discriminação.
3 Considerações finais
Esse trabalho se propôs a um objetivo modesto mas relevante: jogar luz sobre a
fazer uma espécie de defesa incondicional dos direitos humanos, procurei identificar os principais
traços desse discurso, mapear seus potenciais espaços de desenvolvimento – seja no âmbito da
sociedade civil, seja entre agentes estatais como juízes e congressistas – e colocar em questão seus
argumentos.
consolidação democrática e expansão dos direitos humanos, em que as redes de seguridade social
estão em consolidação e em que direitos sociais e econômicos não sejam claramente percebidos
como obrigação estatal exigível em termos judiciais. Não precisamos recorrer a sensibilidades
jurídicas estrangeiras para perceber um sentido de justiça bastante diferente daquele que
costumamos chamar de “nosso”. Essa percepção talvez nos ajude a complexificar um pouco mais
representação que fazemos de nós mesmos. Enquanto estamos empenhados em traduzir “valores
asiáticos” ou teologias políticas (SANTOS, 2014) para a linguagem dos direitos humanos para
compreender gramáticas alternativas de direitos humanos, corremos o risco de não perceber que a
Isso cria um novo aos campos de estudo aos teóricos de direitos humanos e um novo
front aos ativistas. Dessa feita, desconstruir os discursos de ódio e a negação às liberdades civis
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elementares constitui-se, ao mesmo tempo, em objeto de pesquisa e de luta, a que esperamos
Notas
1
Informação disponível em http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/08/1326267-brasil-chega-a-76-milhoes-
de-usuarios-no-facebook-mais-da-metade-acessa-do-celular.shtml, acesso em 03 de agosto de 2014.
2
Informações do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP, disponível em
http://www.diap.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15500&Itemid=300 e
http://www.diap.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14637&Itemid=296 , acesso em
30 de julho de 2014.
3
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, processo nº 0003791-93.2000.814.0301, disponível a consulta em
http://wsconsultas.tjpa.jus.br/consultaprocessoportal/consulta/principal?detalhada=true
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O voto vencido da Desembargadora Sonia Maria de Macedo Parente decide pela reforma da sentença e
consequente improcedência da ação com base no argumento de que notícia publicada era fruto do legítimo
exercício da liberdade de imprensa do jornalista, como se vê no trecho a seguir:
“Entendo que, se a matéria causou desconforto ao autor/apelado, não se pode atribuir ao réu/apelante a
prática de ato ilícito, nos moldes em que a lei o define, eis que como jornalista que é, apenas exercitou o
direito de informar, acobertado pelo manto da liberdade de expressão e de imprensa.”
5
Tribunal Regional Federal da 2ª Região, processo nº 0004747-33.2014.4.02.5101, disponível a consulta em
http://www.trf2.jus.br/Paginas/paginainicial.aspx
Referências
DONNELLY, Jack. "The Relative Universality of Human Rights." In: Human Rights Quarterly 29,
GEERTZ, Clifford. "Anti anti-relativismo." In Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2001.
GEERTZ, Clifford. "O saber local: fatos e leis em uma perspectiva comparativa." In: O saber local:
2014.
19
MOITA, Gabriela. "A patologização da diversidade sexual: Homofobia no discurso de clínicos."
SANTOS, Boaventura de Sousa. "Poderá o direito ser emancipatório?" Revista crítica de ciências
SANTOS, Boaventura de Sousa. Se deus fosse um ativista de direitos humanos. São Paulo: Cortez,
2014.
SILVA, Roseane Leal, et alli. "Discursos de ódio em redes sociais: jurisprudência brasileira."
TODOROV, Tzvetan. Os inimigos íntimos da democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
ZIZEK, Slavoj. "Contra os direitos humanos." In: Mediações v.15, no. 1,2010, p.11-29.
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