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EXERCÍCIOS
DROGAS E DOCES
Semelhanças entre
compulsão por calorias
e por substâncias que
PARA MANTER A causam dependência
SAÚDE MENTAL
Atividade física afasta sintomas
de demência e depressão
carta da editora
Corpo e cérebro
em movimento
Q
ue o exercício físico é uma maneira eficiente e poderosa de manter a saúde não
é novidade para ninguém. Acessível, barato e sem contraindicação, é capaz
de trazer inúmeros benefícios ao corpo – a ponto de ser considerado bastante
eficaz para evitar mortes prematuras. Um estudo coordenado por Lennert Veerman, da
Universidade de Queensland, na Austrália, por exemplo, já revelou que seis horas de se-
dentarismo por dia – sem contar o período de sono – diminuem, em média, cinco anos
na vida de uma pessoa. O curioso é que uma das desculpas mais comuns dos sedentá-
rios é que não têm tempo para se exercitar. Mas é justamente a atividade física que pode
garantir mais tempo às pessoas... Mas não só: o exercício regular favorece o aprendizado
e a memória, melhora a capacidade de concentração e o humor.
Mais especificamente no caso de depressão, um dos quadros mais prevalentes do planeta,
estudos reconhecidos no meio científico têm comprovado que a atividade física é eficiente,
sendo capaz de potencializar os efeitos da medicação. O que várias pesquisas apresentadas
nesta edição apontam, porém, é ainda mais revolucionário. Segundo o psicólogo clínico James
Blumenthal, da Universidade Duke, muita gente se beneficia da atividade física tanto quanto de
medicamentos – ou até mais. O psiquiatra Madhukar Trivedi, pesquisador da Universidade do
Texas, que vem estudando a relação entre exercício e saúde mental por mais de 15 anos, con-
corda e vai mais longe, ao afirmar que já existe literatura científica suficiente para considerarmos
que o exercício, em especial se aliado à terapia, não só potencializa o efeito da medicação, mas
em muitos casos pode até substituí-la. Saiba mais nesta edição de Mente e Cérebro.
Boa leitura.
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sumário | novembro 2018
capa
12 Suar para fortalecer
o cérebro
Praticantes de esportes tendem a manter não
só o corpo, mas também a mente saudável por
mais tempo. A atividade física afasta sintomas de
depressão, ansiedade e Alzheimer
20 Exercício físico, um
caso de amor ou ódio?
Para uns é uma obrigação desagradável, enquanto
para outros a atividade é um prazer. O que explica
essas diferentes relações está na neuroquímica
especial
48 A delicada relação entre
memória e inteligência
Pesquisadores constataram que pessoas mais
hábeis intelectualmente têm maior capacidade
para conservar na mente as informações relevantes
53 Cada um de um jeito
O tamanho do cérebro pode não ser garantia
de capacidade mental superior, mas
as dimensões de áreas específicas podem
facilitar (ou dificultar) a de aprendizagem
8 Quero minhas
horas de sono de volta!
A maioria dos moradores das grandes cidades
vive em constante estado de sonolência,
causado pela privação crônica de descanso.
Especialistas dizem que é possível recuperar
esse déficit, mas não de uma só vez
www.mentecerebro.com.br
A fenda do horror
Filme sobre encarceramento arbitrário de José Mujica e
outros integrantes de movimento de libertação no Uruguai
convida à reflexão sobre a crueldade
Pensar sobre a crueldade de que seres humanos são capazes – não só de praticar, mas também
de compactuar – não costuma ser tarefa agradável. Para a maioria das pessoas, é mais confortável
pensar que se trata de um tema distante, presente em obras de ficção, mas jamais ao nosso. Nos
últimos meses, entretanto, com a apologia à ditadura e à tortura cada vez mais presente, fica difícil
não esbarrar em certas reflexões. No cinema, no filme Uma noite de 12 anos, o cineasta Álvaro Brech-
ner apresenta a sucessão de brutalidades físicas e emocionais praticadas pela ditadura civil-militar
do Uruguai contra três membros do Movimento Nacional de Libertação Tupamaros, um grupo
marxista-leninista que se opôs ao regime ditatorial. A selvageria institucional, que ataca a dignidade
dos presos para além de qualquer justificativa racional, se contrapõe à resiliência psíquica dos pro-
tagonistas que suportam a situação por quase 4.500 dias desesperadores.
Para quem assiste ao filme que estreou na Seleção Oficial no 75.º Festival Internacional de Cine-
ma de Veneza, e foi selecionado para representar o Uruguai na disputa de melhor filme estrangeiro
no 91.º Oscar, a pior parte talvez seja se confrontar com o fato de que não se trata de ficção. De
fato, nove dirigentes do movimento, entre os quais o presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, José
Alberto Mujica Cordano, permaneceram presos de forma arbitrária de 1973 a 1985. Na maior parte
do tempo permaneceram em celas subterrâneas minúsculas, privados de água, comida e constan-
temente ameaçados de morte.
“A tortura é um ato humano, cruel e degradante, que atinge ao mesmo tempo a humanidade
à qual o torturador também pertence”, afirma a psicanalista Maria Auxiliadora de Almeida Cunha
Arantes, autora da tese de doutorado Tortura: testemunhos de um crime demasiadamente huma-
no, realizada no programa de pós-graduação de ciências sociais da Pontifícia Universidade Católi-
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ca de São Paulo (PUC/SP), em novembro de 2011. “A prática percorre a história e sua sustentação
ao longo dos tempos; apesar do processo contínuo de desenvolvimento da cultura, faz supor que
há um empecilho intrínseco aos humanos que impede sua exclusão do campo da civilização”,
salienta a pesquisadora, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae,
em São Paulo, autora livro Tortura (Casa do Psicólogo, 2013).
Cabe lembrar que a tortura se sustenta com a presença de três protagonistas: o torturado, o tor-
turador e a sociedade que a permite. “A tortura transita no campo dos interditos, seu amálgama é o
segredo, seu locus privilegiado, a prisão ou outro lugar qualquer onde a vítima é totalmente privada
de sua liberdade. Nesse local, o torturador exerce seu poder sobre um semelhante assimetricamen-
te imobilizado, vedado, amordaçado e nu”, diz.
Arantes toma quatro textos de Freud como principal referência em seu trabalho: Totem e tabu
(1913); Reflexões para os tempos de guerra e de morte (1915); O mal-estar na cultura (1929) e Por
que a guerra? (1933). “Esses quatro ensaios apresentam uma concepção radicalmente pessimista
dos avatares do homem frente ao seu único e possível destino: a morte”, explica.
“O silêncio que se sobrepõe à tortura interessa principalmente aos torturadores e aqueles
que a autorizaram e continuam a autorizá-la, dos que sabem que a tortura ocorre e dos que se
calam porque pensam ser um assunto que não lhes diz respeito”, escreve Arantes, que também
recorre a subsídios da psicanalista francesa Nathalie Zaltzman, autora contemporânea que entre-
laça a psicanálise à figura do homo sacer sistematizada em Giorgio Agamben, uma articulação
indispensável para a compreensão do crime de tortura. Ao final, faz referência a Françoise Sironi,
etnopsiquiatra francesa do Centro Georges Devereux, pesquisadora na Universidade Paris VIII,
que formulou uma concepção sobre o silenciamento, afirmando que “a tortura faz calar”.
A psicanalista observa que “quando Freud estabeleceu a filogênese como uma contingência
da história da humanidade a partir do mito da morte do pai da horda, o mito do parricídio, talvez
ainda não pudesse supor que este ato fundador viesse a se tornar presente de forma tão avassa-
ladora, a ponto de estabelecer uma fenda no avanço da civilização e da cultura, atravessada pela
pulsão de morte”. E ressalta: é dessa fenda que emerge a tortura. Com base na teoria psicana-
lítica, Arantes mostra uma constatação triste: apesar dos esforços humanitários e civilizatórios
que reiteradamente condenam a tortura e outros comportamentos que aviltam a humanidade, a
destrutividade insiste e se mantém. Com certeza Uma noite de 12 anos não é um filme fácil, mas
se faz necessário. Uma possibilidade de repúdio da crueldade seja denunciá-la de forma criativa,
por meio da arte.
7
saúde
D
igamos que todas as noites, durante uma semana,
você durma duas horas a menos do que precisa
por causa de um trabalho que deve ser entregue
na sexta-feira. No sábado e no domingo, conse-
gue ficar na cama até mais tarde – e dormiu quatro horas a mais.
Embora talvez se levante mais animado no domingo, não se deixe
enganar: você ainda está carregando um fardo pesado do perío-
do não dormido – o que os especialistas chamam de “débito de
sono” – a diferença entre a quantidade que você precisa e aquela
que realmente consegue ter ou, no caso do nosso exemplo, algo
em torno de seis horas, ou quase uma noite inteira.
Esse déficit aumenta cada vez que perdemos alguns minu-
tos extras de nosso sono diário. “As pessoas acumulam o débito
de sono sem perceber”, explica o psiquiatra William C. Dement,
fundador da Clínica do Sono da Universidade Stanford. Estudos
demonstram que, a curto prazo, essa privação leva a um
ra na visão, problemas na hora de dirigir e dificul
lembrar das coisas. Os efeitos a longo p a
resistência à insulina e doença
grandes cidades, é cada
de sono”, afirma
Togieiro
s
saúde
vir o corpo” e
uando estiver
la manhã sem
el que, ao co-
“estranhe”, tal-
que o normal
te. No entanto,
ssando, o atra-
ente. E os be-
te o dia.
capa
Suar para
fortalecer
o cérebro
Praticantes de esportes tendem
a manter não só o corpo, mas
também a mente saudável por
mais tempo. A atividade física
afasta (e às vezes evita)
o aparecimento de sintomas
de demência e depressão
capa
Q
uando se trata de fazer atividades físicas, não é
só sentir-se bem de forma imediata que conta.
Afinal, também é muito bem-vinda a ideia de
manter-se mentalmente saudável por mais tem-
po, com o cérebro funcionando bem, para que possamos
desfrutar as alegrias da vida. É aí que a prática regular de es-
porte entra em cena. Já que estamos vivendo por mais tem-
po, parece necessário pensar em como vamos usar os anos a
mais. E um dos maiores fantasmas da velhice é a demência.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só no Brasil
mais de 1 milhão de pessoas sofrem de Alzheimer. Devido ao
envelhecimento da população e ao aumento da estimativa
do tempo de vida, esse número deve crescer muito nos pró-
ximos anos. Até 2050, a porcentagem de homens e mulheres
com mais de 60 anos na população deve dobrar – e nesse
último terço de vida, a probabilidade de uma pessoa desen-
volver demência se eleva imensamente.
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capa
V
ocê já se perguntou por que há
espelhos nas salas de ginástica e mana durante seis meses e, antes
dança da maioria das academias?
e depois desse período, tiveram o
Certamente o efeito não é apenas estético
ou técnico (uma vez que o recurso ajuda cérebro examinado no laboratório.
a corrigir os próprios erros). Um estudo Ficou demonstrado que o volume
desenvolvido na Universidade de Cambridge,
na Grã-Bretanha, reforça a ideia de que do lobo frontal, assim como o do
observar movimentos feitos por outras temporal, cresceu após os exer-
pessoas desencadeia impulsos motores em
cícios de resistência. Como isso
nós mesmos. Sob a óptica da psicologia
evolucionista isso faz sentido: se um ocorreu exatamente é difícil de
homem pré-histórico via outros correrem, estudar em seres humanos. Para
era aconselhável imitá-los sem parar para
pensar, pois provavelmente havia um perigo esclarecer a questão, os pesquisa-
em algum lugar – e fugir era a providência dores recorrem ao modelo animal.
mais urgente a ser tomada. Por outro lado,
O grupo de trabalho coordenado
não haveria praticamente nenhum prejuízo
à própria sobrevivência se a situação se por Fred Gage e Henriette van Pra-
revelasse inofensiva. Hoje, obviamente, já ag, do Instituto Salk, em La Jolla, na
não precisamos fugir de feras, mas nosso
cérebro mantém dispositivos que ainda Califórnia, forneceu informações
respondem como no passado. Isso talvez inéditas sobre a neurogênese em
ajude a explicar por que os exercícios
idade avançada. Os neurobiólogos
parecem render mais para a maioria das
pessoas quando estamos em grupo. treinaram ratos de 19 meses du-
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Exercício
amor
ou ódio?
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J
á se foi o tempo em
que esporte era re-
comendado apenas
para a melhoria da
capacidade cardiovascula ,
controle da pressão arterial,
do colesterol e de doenças
como diabetes. Hoje em di
o exercício é indicado tam-
bém para a manutenção da saúde do cérebro, melhoria da
autoestima, combate aos efeitos nocivos do estresse crônico,
depressão, ansiedade, favorecimento da memória e da cog-
nição. Mas se perguntarmos a qualquer corredor de rua ou
frequentador assíduo de academia por que ele é um adep-
to do esporte, certamente a maioria dará a mesma resposta:
sentem-se bem após a prática. Mas como algo trabalhoso, que
cansa, nos faz suar (o que pode ser irritante para muita gente)
e às vezes nos deixa doloridos pode ser tão prazeroso para
tanta gente? A resposta está no cérebro – mais precisamente
em substâncias que são ativadas quando colocamos o corpo
em movimento.
Pesquisadores do Centro de Estudos em Psicobiologia e
Exercício (Cepe), da Universidade Federal de São Paulo (Uni-
fesp), vêm realizando uma série de estudos sobre esse aspecto
do exercício físico e até mesmo a dependência que sua prática
pode causar. “Três substâncias específicas são responsáveis
pela sensação de prazer, que sentimos com a prática esporti-
va”, diz o professor de educação física Vladimir Modolo, mestre
em ciência da saúde e especialista em fisiologia do exercício. A
endorfina é a mais conhecida. O neurotransmissor liberado du-
capa
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capa
Deliciosa preguiça
Diante de tudo isso, como explicar o fato de que tanta gente
enxerga nos equipamentos de uma sala de musculação de
academia verdadeiros objetos de tortura e prefere o sedenta-
rismo ao esporte? Por que o sofá, a cama e o controle remoto
parecem tão mais prazerosos que uma caminhada pelo bair-
ro? Neste caso a explicação está nos músculos, ou melhor, no
condicionamento físico. As pesquisas científicas comprovam
que o ser humano foi feito para movimentar-se. Acontece que,
nos últimos 100 anos, desde o advento da Revolução Industrial
até os dias de hoje, em que nos acostumamos a uma avalan-
che de tecnologias e facilidades, gradativamente abandona-
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capa
“Diga-me
com quem
anda...”
As companhias que escolhemos são
importantes durante toda a vida, mas na
adolescência podem ser decisivas. Recorrer
a amigos e colegas que consideramos mais
equilibrados pode ser uma forma eficiente
para se acostumar a administrar a própria
falta de limites, um comportamento capaz
de causar muitos problemas – tanto para si
mesmo quanto para os outros
comportamento
M
eu colega de colégio Tom G. era considerado por
muita gente um garoto com um futuro nada pro-
missor. Ele costumava beber em excesso e dirigir
em alta velocidade, além de ter sido preso algu-
mas vezes por pequenos furtos. Tom era bastante indisciplina-
do em relação a esportes ou outras atividades organizadas e
sempre que podia arrumava um jeito de faltar às aulas na es-
cola. Quando conseguia um emprego logo desistia ou era rapi-
damente demitido. As pessoas o julgavam como um perdedor.
Imagine minha perplexidade quando me encontrei com Tom
(cujo nome mudei para
proteger sua identidade),
alguns anos mais tarde.
Ele estava sentado em
uma lanchonete, beben-
do café enquanto lia um
jornal. Após alguns anos,
o rapaz havia se casado
com uma de nossas mais
estudiosas colegas de
classe. Tom procurou se
cercar de amigos estáveis
e conscientes, deixando
para trás as “más companhias” do ensino médio. Ele raramen-
te bebia ou dirigia em alta velocidade. Agora, meu colega da
época de colégio era pai de família, tinha um pequeno porém
bem-sucedido negócio, e vivia com moderação.
Muitas pessoas conhecem alguém como Tom G. ou se iden-
tificam com ele, mas a maioria das histórias não costuma ter
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comportamento
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comportamento
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comportamento
TESTE DE STROOP,
clássico medidor de
força de vontade, traz
uma série de palavras;
voluntários devem dizer
rapidamente o nome
da cor, ignorando o
significado da palavra
Jogo da atração
Para aproximar a pesquisa da vida cotidiana, Grainne Fitzsimons
e sua equipe decidiram estudar relacionamentos românticos.
Eles avaliaram autocontrole em mais de cem casais, além da
dependência entre eles – nesse caso, os cientistas investiga-
ram até que ponto o parceiro seria capaz de satisfazer as ne-
cessidades do outro.
Os resultados reforçaram o que os pesquisadores haviam
descoberto em laboratório. Como descrito no artigo que será
publicado na revista Psychological Science, os voluntários
com baixo autocontrole demonstraram ser mais dependentes
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comportamento
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socialização
Com
o status
afeta a
saúde A hierarquia social,
bastante marcada nos
grupos de macacos
rhesus, causa diferenças
em sua capacidade física
de responder a invasores
bacterianos e virais.
Cientistas investigam como
esse mesmo processo ocorre
em seres humanos
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socialização
V
ocê anda preocupado em ser promovido no tra-
balho, ansioso por receber curtidas de suas posta-
gens nas redes sociais e ter opiniões respeitadas
entre seus amigos? Pois bem, a vida dos macacos
rhesus em comunidade também não é das mais fáceis. Pelo
contrário. Nos grupos com forte hierarquia social, os privile-
giados, que estão no “topo da pirâmide”, passam mais tempo
socializando, enquanto aqueles que se encontram nas cama-
das mais baixas sofrem com ataques – às vezes mais, às ve-
zes menos explícitos – de seus colegas. E aí está seu ponto
em comum com os macacos: tanto eles como você podem
estar mais vulneráveis ao adoecimento quando não são valo-
rizados por seus semelhantes.
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socialização
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socialização
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socialização
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socialização
Os cientistas encontraram fo t i
dência de que o status social,
si só, pode causar alteraçõe
imunes: a resposta orgânica
dos animais mudou, houve
uma correspondência ao seu
novo posto social. “Há real-
mente muita plasticidade no
modo como as células estão
respondendo a uma infecção
que é diretamente controlada
pelo status social”, diz o pesqui
sador Luis Barreiro, da Universid
McGill, coautor do estudo. Tung acres-
centa: “Se a condição social muda, o mesmo
acontece com a expressão genética imune, que passa a sofrer
influência do ambiente atual”, afirma.
Segundo Tung, todos os animais tiveram alguma reação in-
flamatória necessária para combater infecções bacterianas. No
entanto, ao longo do tempo, a resposta aumentada nos maca-
cos de baixo status pode levar a danos nos tecidos. A cientista
lembra que, em seres humanos, algumas das doenças mais
graves estão associadas a processos inflamatórios. A pesqui-
sadora vê as descobertas com otimismo. “Mostramos de for-
ma convincente que o estresse social crônico, por si só, pode
mudar a forma como nosso corpo funciona”, diz Tung. “Mas
acredito que a mensagem esperançosa é que sistemas imu-
nes podem responder a mudanças no ambiente, e isso acena
com a possibilidade de transformação; a pessoa não precisa
ficar aprisionada ao seu histórico social.”
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compulsão
A estreita
relação entre
drogas e doces
Exames de neuroimagem revelam
semelhanças entre o desejo
por alimentos calóricos, obesidade
e uso de substâncias que causam
dependência química
I
númeras evidências científicas demonstram que o comer
compulsivo e o consumo de drogas envolvem circuitos ce-
rebrais com funcionamento semelhante. Essa constatação
tem oferecido nova compreensão da obesidade e aberto
caminhos para possibilidades de tratamento. Mas, afinal, que
circuitos do cérebro são ativados pela adicção – seja de comi-
da ou de substâncias tóxicas? O sistema neural ativado tanto
pela ingestão compulsiva de alimentos quanto pelo consumo
de drogas é basicamente o circuito que evoluiu para recom-
pensar comportamentos essenciais à sobrevivência. Em ge-
ral, as pessoas são atraídas pelos alimentos
porque isso é recompensador e produz pra-
zer. Quando experimentamos prazer, nosso
cérebro aprende a associar essa sensação
com as condições que o predispõem a
isso. Essa memória fica mais forte à me-
dida que, nesse ciclo, a predição, a busca
e a obtenção do prazer são repetidas e
tornam-se, aos poucos, mais frequentes,
criando condicionamento. E as drogas
são eficientes nesse processo.
Estímulos naturais como comida ou sexo levam mais tem-
po para ativar o circuito da recompensa. O condicionamento,
porém, estabelece um elo entre a memória, o estímulo e o
ambiente. É exatamente isso que a natureza “pretende”: se a
ação necessária para atingir uma experiência prazerosa for dis-
parada exclusivamente pelo estímulo em questão, a resposta
condicionada será muito ineficiente. Uma vez criada a memó-
ria condicionada, a resposta torna-se um reflexo – presente no
uso abusivo de drogas e na ingestão compulsiva de alimentos.
41
compulsão
Crises de desejo
Se Pavlov pudesse analisar o funcionamento do cérebro dos
cães que utilizava em seus experimentos, provavelmente te-
ria notado um aumento na dopamina sempre que os animais
viam a luz que tinham associado à oferta de carne. A dopamina
nos informa sobre o que é importante: pequenos indícios de in-
formação inesperada a que precisamos estar atentos para po-
der sobreviver – alertas sobre sexo, alimento, prazer, perigo e
sofrimento. Ao mostrar certos alimentos a voluntários de uma
pesquisa, previamente condicionados, é possível observar um
aumento de dopamina no striatum, região do cérebro envolvida
42
compulsão
43
compulsão
Injeções de morfina
Quando se fala na associação entre uso de substâncias tóxicas
e obesidade, outra área muito promissora de estudo é o uso de
imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) em tem-
po real para ensinar as pessoas a exercitar partes específicas
do cérebro. Por esse método, o anestesiologista Sean Mackey,
professor do Laboratório de Dor da Universidade Stanford, e o
neurocientista Christopher De Charms, do centro de tecnologia
e pesquisas em neuroimagem Omneuron, em São Francisco,
treinaram pessoas saudáveis e pacientes com dores crônicas
para controlar sua atividade cerebral e modular suas experiên-
cias de desconforto. Dessa forma estamos explorando a pos-
sibilidade de que se possa usar esse
tipo de técnica para ajudar homens e
mulheres a controlar a região do cé-
rebro chamada de ínsula, associada
ao desejo compulsivo por alimentos
e drogas. Os fumantes que tiveram
uma lesão nessa área depois de um
derrame cerebral parecem perder a
vontade de fumar.
Um obstáculo para recuperar co-
compulsão
A delicada
relação entre
memória e
inteligência
Que a capacidade
reprodução/ instagram
intelectual difere de
uma pessoa para
@thecollageclub
outra não é novidade.
O desafio da ciência
tem sido descobrir
como e por que essas
variações ocorrem.
Recentemente,
pesquisadores deram
um passo importante:
constataram que
uma das chaves para
entender esse mistério
está na memória de
curto prazo
48
especial
P
essoas mais inteligentes costumam obter melhor
aproveitamento na escola, costumam ter mais chan-
ces de ocupar postos de trabalho nos quais têm au-
tonomia e recebem salários acima da média. Além
disso, são mais atentas a estratégias que favoreçam sua saúde,
tanto física quanto mental – e vivem mais tempo. É claro que
só o aspecto cognitivo não basta, mas pesquisas têm mostra-
do que os benefícios de um alto nível intelectual são numero-
sos – assim como as desvantagens de uma inteligência pouco
privilegiada. Obviamente existem exceções, mas essa é a nor-
ma vigente na sociedade ocidental atual.
Não por acaso, em vários países os programas de pesqui-
sa destinados a melhorar a inteligência se encontram entre os
que recebem mais investimento. Cada vez mais há consenso
de que melhorar a inteligência da
população é relevante, sobretudo
pelos benefícios obtidos quando
esse objetivo é alcançado.
Contudo, seguimos sem uma
resposta clara sobre como conse-
reprodução/ instagram @thecollageclub
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especial
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especial
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especial
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especial
de um jeito
O tamanho do cérebro pode não ser garantia
de habilidades intelectuais superiores, mas
as dimensões de áreas cerebrais específicas
podem influir na eficiência do fluxo de
informações e facilitar (ou dificultar) a
capacidade de aprendizagem
53
especial
N
em todos os cérebros funcionam da mesma ma-
neira. Estudos com imagens vêm desvendando
indicações de como a estrutura e as funções ce-
rebrais dão origem a diferenças individuais na in-
teligência. Até o momento, os resultados confirmam uma visão
que muitos especialistas têm há décadas: pessoas com quo-
ciente intelectual (QI) igual podem resolver um problema com
a mesma velocidade e exatidão usando diferentes combina-
ções de áreas cerebrais.
Indivíduos com características variáveis, como gênero e
idade, revelam diferenças nas avaliações com neuroimagens
– mesmo apresentando nível similar de inteligência. Estudos
recentes têm aberto possibilidades para novas definições de
O LUGAR DA LEMBRANÇA:
existe relação próxima entre memória de curto prazo e memória operativa, funcionamento executivo e
inteligência fluida. As áreas fundamentais do cérebro para o bom funcionamento dessas habilidades se
localizam no lóbulo frontal e parietal do encéfalo.
LÓBULO FRONTAL
LÓBULO
FRONTAL
LÓBULO
PARIETAL LÓBULO
PARIETAL
CEREBELO
55
reprodução/ instagram @thecollageclub
geral para a inteligência. O fator g é um poderoso indicador de
sucesso e tem sido objeto de vários estudos.
Além desse fator, os psicólogos estabeleceram outros com-
ponentes primários da inteligência, incluindo os fatores espa-
ciais, numéricos, verbais e as aptidões de raciocínio. Os me-
canismos do cérebro e as estruturas fundamentais do g e de
outros fatores, porém, não puderam ser inferidos por meio de
resultados de testes de pessoas com dano cerebral e, portan-
to, permaneceram ocultos.
Nos últimos anos, o uso da tecnologia aplicada às pesqui-
sas neurocientíficas ofereceu métodos, como a neuroimagem,
que permitem nova abordagem da definição de inteligência
baseada nas propriedades físicas do cérebro. O psicólogo Ro-
berto Colom, da Universidade Autônoma de Madri, e seus co-
especial
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livros | lançamentos
Recusa do não-lugar.
Juliano Garcia Pessanha.
Ubu Editora, 2018
192 páginas. R$ 42,00
Da exclusão à inclusão
Mestre em psicologia e doutor em filosofia, autor recorre
à poesia para discutir transições subjetivas, em uma
espécie de narrativa autobiografica filosófico-literária
A
proposta do autor de Recusa do não-lugar, Juliano Garcia Pessanha, é au-
daciosa. Logo na primeira frase da apresentação ele anuncia: “Este livro
trata da determinação existencial e do anseio de se ter um eu”. Em seguida,
formula uma questão: “Como alguém acolhe a determinação existencial e cabe no
mundo?” Ora, em tempos de colonização de afetos, em que tantos vivem obcecados
pela ideia de possuir um ego e um espaço de existência, o desafio da obra é justa-
mente transitar entre os complexos universos da ficção, da psicanálise, da filosofia
e da poesia. O autor trata da existência, em uma narrativa que pode ser entendida
como uma espécie de autobiografia filosófico-literária.
Na essência de Recusa do não-lugar estão as reflexões so-
bre transições, passagens da exclusão à inclusão, do Fora
Pessanha recorre ao
ao Dentro – assim mesmo com iniciais maiúsculas, como
conceito de esferologia,
cunhado pelo filósofo escreve Pessanha. Mestre em psicologia e doutor em filo-
alemão Peter Sloterdijk, sofia, ele mesmo não se circunscreve a um único campo:
segundo o qual alguns estudioso de Heidegger e Hegel, percorre os domínios das
nascem “para fora”, sem um artes. Para o autor de Sabedoria do nunca (1999), Ignorân-
eu, e outros “para dentro”, cia do sempre (2000), Certeza do agora (2002) e Instabilida-
constituídos por um eu de perpétua (2009), todos publicados pela Ateliê Editorial,
livros | lançamentos
a ideia de exclusão diz respeito a uma posição na qual não se atinge intimidade
com o mundo, nem consigo mesmo. “Este livro tenta guardar a passagem ente
esses dois lugares – e isso não acontece sem um doloroso atrito”, escreve. “Não
há como pensar a determinação existencial e o encontro humano do ‘eu’ sem
realizar uma crítica do self negativo e de sua mística.”
Num híbrido de ficção e não ficção, o autor define seu trabalho como “nada
mais que a narrativa de um destino” e recorre ao conceito de esferologia, do filó-
sofo alemão Peter Sloterdijk, segundo o qual há pessoas que nascem “para fora”,
sem um eu, enquanto outras nascem “para dentro”, com um eu constituído. Para
Sloterdijk, autor do maior best-seller alemão de filosofia desde a Segunda Guerra
Mundial, Crítica da razão cínica, lança-
do em 1983, com mais de mil páginas,
O escritor paulistano
o que determina essa condição de nas-
embrenha-se na busca
cido para fora ou para dentro é o pri-
de uma nova maneira
meiro agente de contato do bebê com
de olhar para o mundo,
recusando-se a ocupar o o mundo, ou seja, a figura materna – e,
não-lugar, segundo ele, a partir dela, as outras pessoas com
já experimentado por quem a criança toma contato. São as
Nietzsche e Heidegger esferas de interações que sustentam
o desenvolvimento subjetivo do bebê.
Aos poucos, à medida que a criança
cresce, essas bolhas relacionais se am-
pliam, permitindo que o sujeito ingresse, gradativamente, em outras. Aqueles
que nascem para fora, no entanto, tendem a se sentir “estrangeiros na própria
casa” e a única linguagem possível nesse contexto é a que ressoa no vazio.
Pessanha diz ter se constituído para fora. E acredita estar em boa companhia:
Nietzsche e Heidegger teriam a mesma condição. Em Recusa do não-lugar, o au-
tor paulistano embrenha-se na busca de uma nova maneira de olhar para o mun-
do. E com as bênçãos de Sloterdijk se recusa a ocupar um não-lugar. Como diz o
psicanalista Christian Dunker, professor da Universidade de São Paulo (USP), ao
comentar o lançamento, “trata-se de um livro para ler devagarzinho”.
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Coleção
LIGHT
História da Pedagogia
P i a g e t • Vi g o t s k i • Wal l o n • Fre i r e • Ro u s s e a u • D e w e y
j p
consultar, debater e aplicar no dia a dia de trabalho.
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