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wd | | INTRULULAD AU ANTIGIG 1L5 Lana! 687/6. Naturalmente, Oséias nao poderia ter seryido como profeta durante quase cem anos, assim se presume, ¢ indiretamente as indicagoes internas sustentam que ele iniciou a sua obra no final do reinado de Jeroboao ¢ a completou no comeco do reinado de Ezequias (iniciado em 715). Desse modo, o sobrescrito pode ser interpretado como um informe ao leitor de que Oséias atuou no perfodo entre c. 750 e 715 a.C. Ele foi, portanto, um dos pri- meiros (junto com Amés e Miquéias) profetas menores. Isafas completa a lista de profetas do séc. VILL. Questoes e pontos de vista alternativos Antes de apresentarmos o contexto histérico que configura a leitura do livro de Oséias, precisamos considerar algumas objegdes ao retrato biblico dado sobre sua composicao. As indicacées de uma autoria mista comecam, de acordo com alguns, com o proprio sobrescrito, Oséias, como veremos, é claramente um profeta do Norte ¢ a sua ptofecia é na maior parte dirigida ao Norte. Essa obscrvagic suscita a questao da longa lista de reis do Sul, pela qual o livro é datado, ¢ 0 fato dessa lista nao se ajustar com ado Norte em seu ponto final. Além disso, existem referéncias ocasionais 4 Judd que foram acrescentadas ao longo da redacfo final de Oséias, conforme se demonstrou. Emmerson (1984, p. 56-116) enumera e examina varias referéncias diretas a Judd (Os 1.7; 2.2; 4.15; 5.5,10,12,13,14; 6.4,11; 8.14; 10.11; 12.1,3) e uma tinica mengao ao rei davidico (3.5). Isso convence muitos criticos de que o livro teve mais tarde um redator de Juda; eg, “suas origens encontram-se no reino do Norte, sua transmissao pertence, na maior parte da sua histéria, a Juda” (Emmerson, 1984, p. 1). O foco de atengo da critica recai especialmente sobre os ordculos de salvacio ditigidos a Judd. Jé se fora us dias em que dos us uidculus de salvayau de Osdius foram considerados ilegitimos (conforme Marti, 1904) com base simplesmente no preconceito de que os profetas néo anunciavam palavras de esperanga. Porém, acredi- ta-se que, como as profecias de Oséias circularam no Sul, os seus seguidores ali come- garam a aplicar a mensagem do profeta a sua propria situagao e, desse modo, a profecia ampliou-se com © passar do tempo. Embora seja uma ctendéncia focar os estudos sobre o texto (como fazem os co- mentérios sobre o livro) para discutir tais questées no n{vel das passagens individuais, é preciso salientar que tais conclusées criticas restringem a visao futura do profeta (julgamento e esperanga) bem como a sua preocupagio com todo o povo de Deus (Norte ¢ Sul). Nos dltimos tempos, os estudus eriticuy (ém sido mais abertus a rec nhecer a autoria de Oséias em partes maiores do livro. Nas palavras de Andersen ¢ Freedman (1980, p. 59, semelhante a Wolff): “Acreditamos que o livro é essencial- mente abra de uma tinica pessoa, e que a texto é hasicamente confidvel” No entanto, nfo é impossfvel que os ultimos seguidores fidis da tradigdo do profeta vissem analogia entre a situagao no sul algumas décadas apds a sua morte ¢ fizessem a ligagdo inserindo os assuntos de interesse judaico no texto. Isso responde- ria pelos eventos de Judd algumas vezes inadequados no texto.' Tais adigées fariam EAS | | parte do processo de composigio do livro biblico, ¢ de qualquer forma nao impug- nam _a autoridade candnica dos textos (grosso modo, semelhante as atualizagdes en- contradas no Pentateuco p. 38-9). Periodo historico Desse modo, 0 ministério profético de Oséias comegou provavelmente no final dos reinados de Jeroboao II no Norte e¢ de Uzias no Sul, e terminou no inicio do reinado de Ezequias no Sul. O inicio de seu ministério ocorreu durante um perfodo de expansio ¢ prospeti- dade nos dois reinos. A Assitia estava preocupada com as suas fronteiras norte ¢ leste (os urartianos estavam pressionando as suas fronteiras) ¢ os arameus também se en- contravam numa situaco debilitada (Davies, 1992, p. 26); assim, Israel no sentia a pressio que normalmente era exercida nas suas fronteiras do norte (2Rs 14.25). Con- forme pode ser visto na profecia de Amdés que surge nesse periodo, o aumento da prosperidade da terra nao levou ao aumento da fidelidade a Javé, mas antes ao ateis- mo e abuso de poder e privilégios (Am 3—6). O foco de Oséias esté no Norte, onde, depois de Jeroboio IL, a situagao politica se desenvolvia rapidamente. Hubbard (1989, p. 24-25) resume a histéria de forma sucinta: “a instabilidade dindstica que contaminou Isracl apés a morte dos Jerobotos, assistindo-se 4 queda de seis reis em trinta anos, trés deles governando por dois anos ou menos, quatro sendo assassinados (2Rs 15; Os 7.7; 8.4; 10.3; 13.9-11), enquanto um outro ainda foi deposto (2Rs 17.4.5)”. O periodo pés-Jeroboao II vivenciou, além disso, uma Assitia renovada, poderosa e agressiva; primeiro condurida por Tiglate- Pileser III (745-727 a.C.), em seguida por Salmaneser V, que finalmente iniciou o conflito que levou 4 derrota total e 4 anexacao do norte ao Império Assirio em 722. Mas, antes dessa derrota final, aconteceu um importante contlito entre os rei- nos do Norte e do Sul, que também impactou o livro de Oséias. Conforme mencionado, nao muito depois de Jeroboao II, Tiglate-Pileser IIT comegou a fazer incursdes para o oeste. A primeira foi em 738 a.C., quando tomou Hamate. Isso perturbou a tranqiiilidade da Stria-Palestina, porque os reis de Israel € da Sitia sabiam que os inceresses imperiais da Assiria no parariam em Hamate. Po- rém, Rezim da Siria e Menaém de Israel tentaram evitar 0 ataque pagando tributo 2Rs 15.19,20). Levarla quatro anos para que Tiglate-Pileser III retornasse ao veste ¢, nesse meio tempo, Peca, aparentemente um usurpador anti-Assiria, matou Pecaias, filho de Menaém (2Rs 15.23-25). Por exemplo. a mengio a Juda em 12.2 chama a atengio pelo paralelismo com Jaco na segunda parce do versiculo, bem como pelo contexto no qual aparece. Assim, dizemos com Emmerson (1984 p. 64): ‘Com a substituigio do nome Juda no lugar de {srael, a palavea profética do julgamente oi aplicada 4/uma nova situago”. | | INTHODULAU AU ANT TRS ARIEL Ele e Rezim, da Siria, decidiram entio se livrar da vassalagem assiria. E. discuti- vel, mas muito provavel, que eles esperavam ajuda do Egito e, definitivamente, dese- javam a ajuda de Judd, entéo governada por Acaz. Quando Acaz recusou participar da coalizio antiassiria, Peca e Rezin eneraram em guerra contra ele para forgé-lo & alianga (c. 735 a.C.). Essa guerra € geralmente conhecida como a Guerra Siro-efraimista (2Rs 16.1-9; 2Cr 28.5-7; Is 7.1 —8.22; Mq 77-20). Com suas fronteiras ameagadas, Acaz apelou a Tiglate-Pileser II] para salva- lo dos vizinhos do norte. O ataque do rei assirio (ca. 733) resultou no exilio de uma parte daquela populagdo ¢ na nomeagao de Oséias, um pré-assirios, como rei do Norte. Embora de modo nao téo severo, o impacto dessa guerra também levou ao aumento da incerferéncia estrangeira nas politicas de Judd, uma vez que a ajuda de Tiglate-Pileser If ndo veio de graca (2Rs 16./,8). Muitos dos ordculos de Osdias podem ser relacionados a esses eventos histéri- cos,? mas aqui mencionaremos apenas alguns (para uma discusséo mais completa, ver Hubbard [1989, p. 25] e Davies {1992, p. 28-29]). A abertura do livro, por exemplo, contém uma profecia em que o Senhor diz: “Daqui a pouco, castigarci, pelo sangue de Jezreel, a casa de Jet” (Os 1.4). Esse ordculo pode ser datado no tempo de Jerobodo II, antecipando o fim da casa de Jet, quando Zacarias, filho de Jeroboio e tiltimo da dinastia, foi assassinado por Salum (2Rs 15.8-12). Davies (1992, p. 28) também sugere que Oscias 2.2-5, 8-13; 4.1-19; 12.2-10 pertencem a esse primeiro periodo caracterizado por sucesso econémico ¢ impiedade religiosa. Esses e muitos outros ordculos mostram que a obra de Oséias é mais bem compre- endida a luz dos eventos histéricos ocorridos na segunda metade do séc. VIT a.C. 2 Oséias, 0 homem © subrescrita profético apresemta Osdias, que ndu ¢ conhecide aléia de seu lie ‘vro, por um patronimico tipico, ele é “o filho de Beeri” (1.1). A tinica informacio pessoal que obtemos do livro vem dos primeiros trés capi- tulos, porém, sujeira a um amplo debate. Nao hd qualquer diivida acerca do tema ou da mensagem dos capitulos. Os ordculos proféticos refletem um antigo ¢ notavel uso da analogia entre 0 casamento humano ¢ a relagao de Deus com o seu povo (v. “Men sagem teoldgica”). A rebelido de Israel contra o seu cOnjuge divino reflete-se na infi- delidade da esposa de Oséias. Os filhos deste casamento conturbado sao chamados por nomes simbdlicas, indicatives do rampimento da alianga entse Javé e Israel (Os 1.5,6,9). Os problemas residem na relacao entre a analogia com a historia € os detalhes da relagéo matrimonial, conforme descritos nos caps. 1—3. Como tem sido apontado com freqiiéncia, mesmo por aqueles que optam por outra conclusio final, o texto é concebido como uma narrativa histérica tfpica. A * Deve-se observar, porém, uma disparidade entre os estudiosos que sto otimistas quanto a associar as ortculos com os eventos histéricas (v Wolff, 1974) # aqneles que nin 9 sin (Andersen ¢ Freedman 1980, p. 35).

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