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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR SEGUNDO A VISÃO DA


TEORIA CRÍTICA

Jamerson Bezerra Lucena

João Pessoa
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

INSTITUIÇÃO DE ENSINO MÉDIO, TÉCNICO E INTEGRAL

1) DESCRIÇÃO DA ESCOLA

A Escola Cidadã Integral Técnica de João Pessoa Pastor João Pereira Gomes Filho
(ECIT-JP), além de referência é também modelo de instituição de ensino para outras ECIT’s
do Estado da Paraíba. O nome dessa escola faz referência ao “Pastor João Pereira Gomes
Filh” que faleceu precocemente aos 49 anos de idade vítima de infarto. Ele exerceu uma
militância junto à juventude no combate às drogas, tanto no campo religioso na Igreja Batista
de João Pessoa, como também no seu cargo público, exercendo a função de gestor do
Programa Estadual de Políticas Sobre Drogas da Paraíba.
Portanto, o nome dessa instituição de ensino faz homenagem a esse ilustre cidadão,
realizada pelo o então governador da Paraíba Ricardo Coutinho. Vale ressaltar que existem
outras ECIT’s no Estado da Paraíba, sendo outras duas na cidade de Bayeux (ECIT Erenice
Cavalcanti Fideles) e em Mamanguape (ECIT João da Matta Cavalcanti de Albuquerque) vale
destacar que as ECIT’s em cada cidade homenageiam uma personalidade pública importante
da cidade.
No entanto, essas não são as únicas três escolas técnicas existentes na Paraíba, sendo
ao total um número de 26 escolas denominadas Escolas Cidadãs Integrais Técnicas estaduais
da Paraíba (ECIT) sendo essas três descritas, como pertencente a um novo padrão
arquitetônico, as demais são escolas de ensino médio regular que absorveram o molde integral
de educação e não necessariamente os cursos técnicos.
Em 2016, ano de inauguração da ECIT-JP utilizou prova de seleção como forma de
ingresso, já no ano de 2017 usou como critério a apresentação de nota do histórico escolar.
A escola, visitada para realizar o presente trabalho, como já foi citada anteriormente,
está localizada na Rua Hilton Solto Maior, S/N no bairro de Mangabeira VII na cidade de
João Pessoa. A área de entorno é em quase toda totalidade formada por prédios públicos,
outras escolas da rede privada e o comércio, assim como aproximação com o Shopping
Mangabeira.
A escola possui um duplo padrão de ensino, é, concomitantemente, ensino regular e
ensino técnico; para a área técnica conta com dois cursos à saber: Vendas e Cozinha. Posto
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isso, inferi que os cursos, supracitados, provavelmente foram escolhidos como necessários
para o desenvolvimento das potencialidades turísticas daquela localidade, uma vez que
também se situa nas proximidades do conjunto Quadramares que é região litorânea, bastante
valorizada com a presença de estabelecimentos turísticos, tais como o “Centro de
Convenções” e a “Estação Ciência”, assim como uma cadeia hoteleira bem diversificada.
A escola consta de 15 docentes e 14 profissionais de apoio; além de oito turmas,
quatro de cada curso que também é médio regular em que as atividades se distribuem ao
longo do dia de forma intercalada pela sua postura de ensino integral; por sala de aula existe
uma média de 40 estudantes.
A escola possui diversos espaços: 12 salas de aula, diretoria, secretaria, coordenação,
ambiente dos professores, auditório, ginásio poliesportivo, cozinha, biblioteca, laboratório (de
matemática, robótica, biologia, química, idiomas e informática), banheiros, refeitório, sala de
grêmio estudantil, anfiteatro, estacionamento e pátio.
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Introdução

O presente trabalho propõe realizar uma rápida incursão na temática da violência no


âmbito das Ciências Sociais, partindo dos teóricos Durkheim, Marx e Weber, mas também
considerando autores contemporâneos como Erwing Goffman, Howard S. Becker e Norbert
Elias, pensando em lógicas de exclusão. A intenção foi percorrer o deslocamento que a
violência teve na abordagem acadêmica, ora como instrumental e marginal, ora obtendo uma
posição central na análise da sociedade.
Após esta breve reflexão, analisaremos nesse estudo, em andamento, a violência escolar,
tendo como objeto de estudo a Escola Cidadã Integral Técnica de João Pessoa Pastor João
Pereira Gomes Filho, localizada no bairro de Mangabeira VII e como recorte histórico a partir
do ano de 2016. O objetivo é analisar suas especificidades como sintoma do mal-estar
contemporâneo, enfatizando as ações cotidianas, corriqueiras ou incivilidades que corroem os
laços sociais.
Por fim, apresentarei os resultados da pesquisa empírica realizada nesse ambiente
escolar e posteriormente complementada com outras observações e discussões através dos
dados coletados na tentativa de encontrar “brechas” que contribuem para a compreensão a
cerca da complexidade da violência e sua relação com a educação nessa escola técnica em
Mangabeira.
A violência nas Ciências Sociais é um tema recorrente e tem sofrido profundas
alterações, pontos de vista ao longo do tempo. Partindo das matrizes clássicas da Sociologia,
Durkheim, Marx e Weber, podemos afirmar que a discussão acerca da violência foi
preferencialmente analisada como instrumental e somente recentemente com autores como
Goffman, Becker e Elias numa perspectiva de “outsiders”, ou seja, numa lógica de exclusão,
desembocando, muitas vezes, em bulliyng escolar, entre outras formas de violência, é que os
estudos sobre a violência obtiveram uma centralidade analítica no âmbito educacional.
Numa primeira abordagem sociológica, Durkheim (1972) coloca as bases para pensar
sobre a educação e o papel das escolas na sociedade. Na sua perspectiva, essa seria uma
instituição social básica, com papel fundamental na reprodução da homogeneidade (a garantia
de uma base ideológica comum) e da heterogeneidade (a garantia de que as forças que
alimentarão as diferenças criadas pela divisão do trabalho serão recriadas). Sua relação com a
sociedade é a de perpetuar as formas sociais vigentes em cada época; sua relação com as
formas dominantes do trabalho é direta: preparar (no caso da nossa modernidade) para a
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divisão do trabalho, para a especialização requerida pela produção industrial (DURKHEIM,


1999).
Sob a perspectiva de Marx, quando realiza sua crítica ao capitalismo e revela o conflito
social nele implícito, coloca a violência como estrutural da sociedade burguesa. A violência
teria como protagonista a classe dominante e sua ação contra o proletariado e a contra-
violência seria realizada pelo proletariado, tal como proposta no “Manifesto Comunista”. Essa
lógica se perpetua no espaço escolar onde, muitas vezes, conflitos sociais, étnicos são
expostos chegando a agressões físicas.
No sistema capitalista o trabalho produz maravilhas, contudo favorecendo apenas os
ricos, mas produz desnudes, agruras para o trabalhador. Produz palácios, mas cavernas para o
trabalhador. Produz beleza, mas mutilação para o trabalhador. Substitui o trabalho, violência e
educação: a perspectiva dos professores sobre a violência escolar por máquinas, mas joga uma
parte dos trabalhadores de volta ao trabalho bárbaro e faz da outra parte máquinas (Marx apud
Fernandes, 1989, p. 152). Chega a um ponto de haver rompimentos das normas sociais e
conflitos socais são eclodidos na sociedade atingindo toda a população.
No entanto, apesar da análise estrutural dos conflitos de classe, e mesmo no discurso
emblemático de Marx – “a violência é a parteira da história” –, a violência a ser elaborada,
esta aparece vinculada à categoria primordial que é a análise estrutural do poder. As relações
de poder é que são fundamentais na concepção marxista, a violência ocupa um lugar auxiliar,
instrumental ou ainda a violência como meio.
Na análise da sociologia compreensiva de Weber, por outros caminhos daqueles
percorridos por Marx, a violência também está articulada com o poder. Para o autor, a
violência do Estado nacional deriva, especialmente, do monopólio do uso da força física que é
legitimada pela lei instituída.
Para ele, a característica do Estado Moderno é o fato de possuir um “quadro
administrativo (que) reivindica com êxito o monopólio legítimo da coação física para realizar
as ordens vigentes” (WEBER, 1998, pp. 33-34). O Estado seria “uma associação que pretende
o monopólio do uso legítimo da violência”, e não pode ser definido de outra forma”
(WEBER, 1999, p. 526 e 1974, pp. 98-99).
Neste sentido, Max Weber considera a violência como constitutiva do poder político
do Estado que dela se utiliza para exercer a coerção necessária para o exercício do poder. A
violência aparece na “teoria da ação” como subcategoria fundamental, mas o há nos estudos
de Weber uma alusão direta à temática em si.
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Constata-se que Durkheim, Marx e Weber, por diferentes enfoques, abordam a violência
como importante mecanismo instrumental e contendo uma eficácia simbólica, mas não sendo
campo de análise direto por estes pesquisadores.
A percepção da violência como um acontecimento exterior que perturba a ordem
social parece fortalecer o dualismo no debate nas ciências sociais no qual aparecem
polarizações opostas tais como: ordem/desordem, normalidade/desvio, centro/periferia,
sujeito/vítima. Neste sentido, privilegia-se, nos estudos da violência a sua incursão enquanto
fenômeno social isolado, casual, no qual o “outro” é percebido como uma ameaça ao
consenso e a unidade social. E a violência praticada por este sujeito pode provoca um temor
da desintegração que poderá por colocá-lo nas margens da sociedade? A instituição de ensino
juntamente com os pais e comunidade podem fazer a diferença e contorna esses tipos de
situação vivenciados no ambiente escolar?

PROBLEMA

A violência na escola é um dos grandes problemas que afligem a sociedade atual. Se


expressa, ás vezes, como comportamentos individuais agressivos e anti-social, tanto quanto,
danos ao patrimônio e atos criminosos de uma forma geral. Neste sentido, ambientes em que
proliferam atos violentos, sejam eles na escola ou fora dela, são capazes de determinar um
comportamento individual tão mais agressivo daqueles que estão sob o seu alcance.
Por que e como esse processo ocorre? Existe uma relação entre a violência interna à
escola ou ela se expressa apenas no entorno desta? Existe alguma variável que interfira neste
contexto violento? A desigualdade social seria essa variável? Enfim, são perguntas que
merecem um aprofundamento, haja vista, a possibilidade de se ter consequências negativas
capazes de interferir, decisivamente, nos resultados escolares dos educandos.
As pesquisas têm mostrado que, amiúde, o contexto escolar sofre a influência, tanto
aqui no Brasil quanto no exterior, de uma realidade que exala violência e que determina, em
última instância, o comportamento agressivo ou não dos alunos. Busca-se evidenciar, com
essas pesquisas que, supostamente, é possível confirmar que há uma relação entre o
comportamento violento dos alunos e os fatores sociais e econômicos internos e externos ao
ambiente escolar (BECKER, 2012).
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Vale destacar que as políticas públicas exercem um papel vital na política de


prevenção do crime, o que pode indicar que a responsabilidade do Estado é ativa e perene,
tanto no tocante às questões de segurança pública, quanto às políticas educacionais. A
literatura internacional mostra que há uma relação estreita entre a educação e a criminalidade.
Neste sentido observa-se que, pelo menos nos EUA, a escolaridade reduz
significativamente a atividade criminal a ponto de que um aumento de 1% nas taxas de
conclusão do ensino médio, reduziria os custos per capita, decorrentes do crime por parte das
vítimas e da sociedade em geral, em torno de U$ 1.4 bilhões (BECKER, 2008).
No Brasil, a situação também não é diferente, pois, estudos mostraram que as medidas
da educação da população estão inversamente relacionadas às taxas de crime. Disto é possível
inferir que a educação pode ser uma forma de política de prevenção à criminalidade no médio
e longo prazo em virtude de se desenvolver nos educandos os princípios da moralidade e
civilidade dos indivíduos, alem do que, a educação acumula capital cultural na forma de
capital escolar, trazendo como benefício o afastamento da atividade criminosa (BECKER,
2012).

JUSTIFICATIVA

A violencia hoje tem-se tornado um problema social que extrapola quaisquer


fronteiras téoricas e/ou metodológicas. Neste sentido tem impactado frontalmente o universo
escolar, a ponto de galvanizar as atenções dos especialistas em educação, mormente numa
quadra política que busca incluir todos aqueles mais vulneráveis do ponto de vista social.
Como a escola está inserida no contexto urbano, nem sempre tão calmo e acolhedor,
padece dessa influência desagregadora que caracteriza a violência escolar, agora não mais
numa perspectiva singular , individual, mas, numa vertente mais globalizada , que traz em sí,
conteúdos de exclusão social.
No caso da sociedade Brasileira, já não temos violência mas sim, violências , que hoje
já não estão restritas aos classícos padrões como agressões físicas, verbais e simbolicas aos
atores da comunidade social (ABRAMOVAY, 2003)
O nosso interesse em pesquisar tais questões é em virtude de uma experiência que
tivemos ao ministrar aulas a alunos de uma comunidade carente de um município da zona
metropolitana de João Pessoa. Algumas questões suscitarem esse percurso , haja vista, que as
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dificuldades destes alunos em frequentar normalmente o curso , davá-se, entre outros coisas,
por um medo quase que instintivo das violências reinantes no entorno da Escola.
Enfim, para compreender e equacionar esta problemática tão atual, nada melhor que
analisá-la no contexto de um projeto de pesquisa científico.

Hipóteses de Trabalho

H.1 ) A violência física e/ou verbal entre alunos e professores é demarcada pela reprovação e
notas baixas existente na sala de aula;

H.2) A violência na sala de aula nada tem haver com questões metodológicas e pedagógicas,
estando ligada às desigualdades sociais reinante na sociedade;

H.3) O agir ético por parte do professor anula ou coíbe a violência na sala de aula, seja ela
física ou simbolíca.

Objetivo Geral

- Compreender como se processa a violência em sala de aula, seja física ou simbólica, na


escola ECIT (Escola Cidadã Integral Técnica de João Pessoa Pastor João Pereira Gomes
Filho) em Mangabeira.

Objetivo específico

-Visualizar como as violências, físicas e simbólicas ocorrem no contexto escolar do ECIT;

-Refletir sobre a relação entre Instituição, Professor (a) e Aluno (a) e suas possíveis
implicações quanto ao fator violência escolar no ECIT-JP.

METODOLOGIA
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Trata-se de um projeto de pesquisa que irá desaguar numa intervenção pedagógica na


escola em estudo que utilizará, entre outros, os seguintes instrumentos: aplicação de
entrevistas estruturadas e/ou semi-estruturadas abordando a temática pesquisada com os
principais atores do cenário escolar (professores e alunos)
As informações necessárias no âmbito desta pesquisa são do tipo qualitativo, que se
presta a captar os aspectos intrínsecos e extrínsecos da problemática em análise, podendo,
inclusive, também serem utilizados instrumentos quantitativos que, porventura, se conformem
a iluminar aspectos específicos da pesquisa.

Essas entrevistas serão posteriormente processadas com o intuito de confirmar ou


negar as hipóteses que norteiam este projeto, direcionando, assim, as ações pedagógicas
posteriores.
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REFERENCIAL TEÓRICO

É quase notório e consensual que a violência no ambiente escolar compromete


sobremaneira a identidade escolar, lugar onde o aluno, teoricamente, teria um ambiente de
sociabilidade salutar, de aprendizagem para sua formação ética e profissional, lugar de
aprendizagem de valores de cidadania e respeito, aprendizagem para a formação crítica que
devem ser construídos a partir do reconhecimento da diversidade, pautado no diálogo
enriquecedor e do conhecimento racional civilizado. Neste ambiente a violência prejudica a
aprendizagem e a qualidade destas prerrogativas pedagógicas tanto para os alunos quanto para
os docentes. Podemos afirmar também, sem medo de errar, que a educação é o caminho
principal para obtermos resultados positivos na prevenção e no combate à violência, não
apenas no ambiente escolar, mas na vida em sociedade. Neste sentido, o que iremos analisar é
o paradoxo que se faz presente, de várias formas, desta violência nas instituições escolares.
Ou seja, um lugar propício de desnaturalização da violência e suas consequências, é palco da
naturalização desta prática, levando a sociedade no caminho de um sentimento pessimista e
desafiador ao mesmo tempo.
Ao revistar a história constatamos que a questão da violência na escola não é tão nova
e temos registro deste fato já no final do século XIX, porém a questão hoje se coloca de outra
maneira, isto é, as várias formas de violência é que são novas - levando em consideração
que há uma diferença da violência contra a escola e a violência produzida dentro da escola
– chamada por Bourdieu de violência simbólica “e que incide sobre os estudantes via
imposição curricular, modos de organização das classes, avaliação autoritária e outras
formas de controle, discriminação e humilhação.” (MATTOS & COELHO, 2008).
A definição de violência na escola não é tão fácil de fazer, sobretudo porque o seu
significado não é consensual e vai variar na perspectiva do ator, seja professor, diretor, aluno,
funcionário, etc., além do sexo e da idade. Segundo H. Arendt, a violência no século XX se
explica através da frustração da faculdade de agir em um mundo pós-moderno, em que a
vulnerabilidade dos grandes sistemas e um vida pública burocratizada contribuem para minar
as possibilidades de criação (ARENDT, 1969) e na desintegração do poder pela violência.
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, na obra “A Reprodução”, oferecem uma
contribuição importante para a compreensão da violência quando eles desenvolvem o conceito
de violência simbólica e a reprodução social e cultural, no sentido de que o poder simbólico
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“é poder subordinado, uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e


legitimada das outras formas de poder.” (MATTOS & COELHO, 2008).
Como dissemos anteriormente, a violência provoca certos efeitos negativos na vida
escolar do aluno, professores e atores que fazem parte do ambiente escolar como um todo.
Segundo a pesquisa de Miriam Abramovay e Maria das Graças Rua, que se encontra no livro
Violências nas escolas, de 2002, as autoras chegam a varias constatações, inclusive a que
mostra que quase metade dos alunos não consegue se concentrar nos estudos por causa da
violência no ambiente escolar. Segundo o mesmo estudo, 40% afirmam se sentirem
revoltados e nervosos com essa situação de violência. Nos dados coletados em várias capitais
do país, outra consequência da violência é a falta de vontade de ir à escola, causando uma
substancial evasão escolar. Os dados são preocupantes: no Rio de Janeiro e Recife este índice
dos que afirma não sentirem vontade de ir à escola chega a 27%, enquanto em Goiânia,
Cuiabá, Manaus e Fortaleza atinge a escala dos 34% (ABRAMOVAY & RUA, 2002).
Esse trabalho procura identificar os tipos de violência e suas causas, mas nosso
objetivo principal é procurar formas e mecanismos para fazermos intervenções pedagógicas
no intuito de resolver, ou, ao menos, minimizar este problema que é geral nos ambientes
escolares, alguns menos outros mais complicados.
Um objetivo a priori é saber como prevenir e buscar soluções que possam ao menos
fomentar uma reflexão e discussões acerca da violência no ambiente escolar no geral e em
particular na escola ECIT-JP (Escola Cidadã Integral Técnica de João Pessoa Pastor João
Pereira Gomes Filho). Uma pergunta que deveríamos responder para iniciar uma intervenção
pedagógica no sentido de procurar resolver o problema da violência é saber o que torna uma
escola violenta. Notamos que existem escolas com menos problemas de violência que outras,
e essas escolas não estão imunes ao problema, porém foram tomadas algumas medidas no
sentido de sanar esse incômodo social.
Retomando dados da pesquisa apresentada por Abramovay e Rua, com dados da
UNESCO, verifica-se que embora a escola esteja em uma área considerada violenta a escola
tem índices baixos de violência como, por exemplo, uma escola pública na periferia do Rio de
Janeiro (ABRAMOVAY & RUA, 2008) considerada privilegiada neste sentido, em que os
professores e alunos justificam esses dados afirmando que a escola está sempre muito bem
conservada e limpa, com professores identificados e unidos em prol do ensino.
Os alunos se sentem acolhidos neste ambiente e preservam a amizade e o respeito,
ajudando a conservar a escola. Essa identificação não foi imposta ou dada pela administração
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da escola, mas construída juntamente com o corpo docente, colaboradores e alunos. Nesta
escola há um grêmio organizado possuindo representantes de cada turma e um suplente, como
também, os professores participam como conciliadores. A escola defende um discurso
democrático que prioriza o debate e o diálogo como formas de manter a unidade e a interação
entre os alunos.
Outro exemplo trazido por este estudo é uma escola de São Paulo localizada em um
bairro operário que era chamada de “o circo dos horrores” até a chagada de um diretor que
trabalhou usando uma filosofia de equipe, respeitando as regras estabelecidas pela escola e
“valorizando os alunos, resgatando a auto estima por meio do estímulo ao diálogo. Incluiu na
sua prática a conservação da estrutura física, fez-se mais presente. Hoje, a escola é uma das
mais procuradas do bairro e tida como modelo.” (ABRAMOVAY & RUA, 2008)
Com esses exemplos, podemos refletir sobre a situação de cada escola como um
estado, um momento, uma realidade que pode ser modificada com práticas que objetivam
valorizar o espaço, mudar o perfil da escola em relação à violência, construindo valores que
não tolerem a falta de respeito às regras postas, democratizando o ambiente escolar e, muito
importante, a conservação da estrutura física que é um convite à ocupação deste espaço por
todos de forma prazerosa. A estrutura inadequada também é uma forma de violência
simbólica (BOURDIEU, 2004). Classes abarrotadas de alunos, sem ventilação e luz precária,
tetos na iminência de desabar, “sala medindo seis por seis com 40 alunos dispostos em
carteiras de grupo de quatro alunos, temperatura sufocante” (MATTOS & COELHO, 2011)
representa um estrato de violência institucional que pode ser mudada a partir de um olhar
administrativo e pedagógico dos responsáveis pela escola.
A escola ECIT-JP possui uma estrutura nova, com salas com ar condicionado e bem
cuidada.Está situada entre os bairros de mangabeira e bancários e em sua maioria os
estudantes são oriundos do bairro de mangabeira, considerado como um bairro popular e de
violência média. Segundo a coordenadora pedagógica, uma parte dos alunos são filhos de
professores e poderiam frequentar uma escola particular, porém essa escola tem atrativo para
esses alunos, levando em conta que em João Pessoa a maioria das escolas públicas são de
baixa qualidade e mal cuidadas.
Contudo, uma boa estrutura da escola não basta como prevenção à violência, pois
existe a necessidade de medidas pedagógicas e para isso é necessário, como afirma
Abramovay e Rua, “realizar diagnósticos e pesquisas para conhecer o fenômeno em sua
concretude, legitimação pelo atores/sujeitos envolvidos e fazer um monitoramento
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permanente das ações nas escolas” (ABRAMOVAY e RUA, 2002). A legitimação pelos
atores e sujeitos pressupõe uma participação da comunidade escolar de forma permanente. O
problema da violência na escola não é apenas da escola. Ela vai além dos seus muros e atinge
toda a comunidade que necessita dela como ponte, suporte para o combate às desigualdades,
as exclusões sociais e a construção do respeito aos direitos de cidadania, que serão
transmitidos aos alunos, parte desta comunidade, por profissionais com conhecimento
pedagógico – uma vez comprometidos com a escola - que levarão essa instituição ao patamar
de modelo e exemplo de espaço democrático e propício ao conhecimento.
Não se pode ter dúvidas que a escola tem capacidade de se tornar um local
privilegiado de combate à violência, onde o diálogo e o debate precisam de incentivo do
corpo docente e da administração. Em uma visita a escola ECIT-JP, descobrimos que os
alunos aproveitam um horário vago após a refeição do meio dia para se reunirem e
conversarem sobre algo que lhes interessa. Com isso, surgiram vários grupos que eles
chamam de “Clubes”, onde elegem um representante e duas vezes por semana se reúnem para
discutir um tema proposto.
Segundo a coordenadora pedagógica, existem cerca de 15 clubes sobre diversos temas
como: dança, literatura, ação social, atletismo, ecumenismo, circo e um que me chamou
atenção que é o clube “Grito à resistência” que tem como representante a aluna do terceiro
ano Elisa Celi. Ao conversar com a Elisa ela nos informou que o grupo tem um plano de ação
bem definido e que a proposta é refletir sobre a realidade do nosso país de forma crítica. O
plano de ação deste grupo tem a seguinte configuração:
Nome do Clube: Grito à resistência;
Missão: direcionar, ensinar e debater, ajudando os jovens alunos a criarem seu pensamento
crítico e ideológico, despertando seu posicionamento sobre os assuntos debatidos;
Objetivos: Criar o pensamento crítico, abrir a conscientização e posicionamento ideológico;
Valores: Responsabilidade ética, conscientização, diálogo e construção de pensamento;
Estratégias: Palestras, dinâmicas, mesa redonda e tudo o que possa ser utilizado para passar
melhor a mensagem;
Prioridades: Tirar todas as dúvidas e conscientização;
Resultados esperados: Posicionamento, empoderamento e desenvoltura de raciocínio, tendo
domínio na hora de argumentar seu ponto de vista.
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A coordenadora pedagógica informou que os próprios alunos definiram essa


configuração, embora tenham o acompanhamento dos professores de História e Sociologia
que são os padrinhos desse clube.
Observamos que os clubes têm um objetivo claro que é a convivência com reflexão e
comprometimento. No caso particular do clube Grito à resistência, pudemos notar que os
alunos sentiram a necessidade de conhecer a realidade política e social do seu país e da sua
cidade, a partir de diálogos sobre temas como, por exemplo, a xenofobia que convive
diariamente com eles, seja na escola, trabalho, casa, vizinhança etc. O medo do outro, do
estrangeiro, do imigrante, do desconhecido, do bairro vizinho, vai além do nosso universo de
relações e nos coloca diante de um problema mundial. Interessar-se pelo debate é uma porta
aberta para a escola aproveitar-se desta oportunidade e fazer debates pontuais como a
violência física e simbólica nas escolas. A escola tem que se ater para não deixar passar essa
oportunidade. Oportunidade criada pelos próprios alunos e esses clubes é uma ótima maneira
de se fazer uma intervenção pedagógica concreta.
A escola está sempre lidando com brigas, atos de agressividade que são resolvidos, em
muitos casos, de forma monocrática e por vezes com o auxílio do Conselho Escolar, que no
caso da escola em referência tem 8 membros, sendo 1 representante dos alunos, 1 dos
professores, 2 da gestão escolar, 1 especialista em pedagogia, 1 dos funcionários, 1 da
comunidade e 1 dos pais. O Conselho se reúne uma vez por mês para discutir os casos de
violência e outros casos pertinentes à escola. Não podemos negar que o Conselho é uma
forma de fazer democracia na escola e deve ser preservado e até melhorado. Porém os clubes,
que se reúnem duas vezes por semana, são oportunidades ímpares para disseminar o debate e
a reflexão sobre a escola e seus problemas, levando ao corpo discente a oportunidade de
participar de maneira mais efetiva e assim criar uma identidade com a escola ainda mais
concreta.
O nosso projeto pretende buscar entender e diagnosticar sociologicamente esses
grupos para fazermos uma intervenção pedagógica a partir da fala do aluno, objetivando
compreender seus desejos, medos, objetivos, anseios, sonhos, e descobrir se a escola, para
eles, é lugar prazeroso e se não for, como poderia ser. Os grupos – grêmios, associações – que
existem nas escolas devem ser mais estudados no sentido de buscar um diagnóstico a partir da
visão do aluno, dentro de um ambiente propício ao debate e ao diálogo. Acreditamos que esta
porta aberta pelos discentes é de extrema importância para uma intervenção pedagógica que
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vise entender, diagnosticar e buscar soluções para conter as várias formas de violência nas
escolas.

REFRÊNCIAS

ABRAMOVAY, M; RUA, M. das G. (coord.). Violências nas escolas. Brasília: UNESCO,


2002.

ARENDT, H. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1969/1994.

BECKER, Howard S. Outsiders, estudos de sociologia do desvio. Trad. Maria Luiza X. de


A. Borges, revisão técnica Karina Kuschnir, Rio de Janeiro, Zahar, 2008.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

DURKHEIM, E. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1972.

________. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FERNANDES, Florestan (Org.). O método da economia política. Marx/Engels. História.


São Paulo: Ática, 1989. pp. 409-417. (Coleção Grandes Cientistas Sociais)

MATTOS, Carmem L. G.; COELHO, Maria Inês M. Violência na escola: reconstruindo e


revisitando trajetórias e imagens de pesquisas produzidas por no Núcleo de Etnografia
em Educação entre 1992 e 2007. Campina Grande: EDUEPB, 2011. pp. 195-219.

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília:


Editora da Universidade de Brasília, Vol. I, 1998.

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