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Sede legal

A matéria relativa ao cumprimento ocupa a secção I do capítulo VII do livro II do Código Civil (art.os
762.º a 789.º, CC), ordenando-se em sete subsecções. Há que lidar também com a secção II, relativa ao
não-cumprimento (art.os 790.º a 816.º, CC), e com a secção III, que se reporta à realização coactiva da
prestação (art.os 817.º a 836.º, CC). Não obstante a inevitável separação formal, os diversos preceitos
devem ser interpretados e integrados de forma unitária.
O Código Civil contém cerca de duzentas referências a “cumprimento”, disseminadas pelos seus cinco
livros, sendo que as ligações linguísticas envolvem significativas conexões materiais, que devem ser
verificadas e ponderadas caso a caso.
Também relevante é matéria atinente ao processo de execução, constante dos artigos 712.º a 877.º do
Código de Processo Civil, avultando, aí, uma secção relativa ao pagamento (art.os 795.º a 841.º, CPC).

Dimensão funcional

A obrigação moderna reduz-se a um vínculo abstracto, que une o devedor ao credor. O Direito atribui,
a este, um valor representado por uma conduta futura do primeiro, representando só por si a expectativa
de que tal conduta tenha lugar um valor real, que circula na sociedade, traduzindo um vector de
riqueza. Nessa medida, o vínculo perde em abstracção e ganha substância. Não obstante, tudo opera
com vista a uma materialização que surgirá, apenas, no momento do cumprimento.
Nas disciplinas que, como a dos direitos reais e a dos direitos de personalidade, atribuem ao sujeito o
imediato aproveitamento de um bem, há uma certa autossuficiência. Nas obrigações, surge uma
diferença de raiz – o credor vive, nessa qualidade, em função de algo que só no futuro irá receber: a
prestação.
Aquando das codificações, a omnipresença do cumprimento levou, para efeitos de manuseabilidade
prática, ao seu acantonar na área da extinção das obrigações, sendo tal orientação adoptada por Vaz
Serra e Menezes Leitão. Menezes Cordeiro considera que tal sistematização não é inteiramente
rigorosa, sendo o cumprimento, paradoxalmente, menos e mais do que um modo de extinção de
obrigações.

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