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Pintura admirável de uma beleza Rio de neve em fogo convertido!

Vês esse sol de luzes coroado?


Em pérolas a aurora convertida? Tu, que um peito abrasas escondido,
Vês a lua de estrelas guarnecida? Tu, que em um rosto corres desatado,
Vês o céu de planetas adorado? Quando fogo em cristais aprisionado,
Quando cristal em chamas derretido.
O céu deixemos; vês naquele prado/
A rosa com razão desvanecida? Se és fogo como passas brandamente?
A açucena por alva presumida? Se és neve, como queimas com porfia?
O cravo por galã lisonjeado? Mas ai! que andou Amor em ti prudente.

Deixa o prado; vem cá, minha adorada: Pois para temperar a tirania,
Vês desse mar a esfera cristalina Como quis, que aqui fosse a neve ardente,
Em sucessivo aljôfar desatada? Permitiu, parecesse a chama fria.
****
Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isso bem? Pois tudo é nada O amor é finalmente
À vista do teu rosto, Catarina. um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
***** um breve tremor de artérias.
Entre (ó Floralva) assombros repetidos Uma confusão de bocas,
É tal a pena, com que vivo ausente, uma batalha de veias,
Que palavras a voz não me consente, um reboliço de ancas,
E só para sentir me dá sentidos. quem diz outra coisa, é besta.

Nos prantos e nos ais enternecidos,


Dizer não pode o peito o mal que sente;
Pois vai confusa a queixa na corrente, Necessidades Forçosas da Natureza
E mal articulada nos gemidos. Humana
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Se para o meu tormento conheceres Corro por um conchego todo o mapa,
Não bastar o sutil discurso vosso, O ar da feia me arrebata a capa,
A dor não me permite outros poderes. O gadanho da limpa até a garupa.

Vede nos prantos, e ais o meu destroço; Busco uma freira, que me desentupa
E entendei vós o mal como quiserdes, A via, que o desuso às vezes tapa,
Que eu só sei explicá-lo como posso. Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
*****

Quiz o poeta embarcar-se para a cidade e Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
antecipando a notícia à sua senhora, lhe E na hora de ver repleta a tripa,
vio humas derretidas mostras de Darei por quem mo vase toda Europa?
sentimento em verdadeyras lagrymas de
amor. Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ardor em coração firme nascido! Ou faz da mão sua cachopa.
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Palavras-chave: Por guardar a flor; então,
tronga = meretriz; prostituta, puta. Tão abelhudo eu andara,
capa = sobretudo; casaco. Também é usado na Que em vós logo me vingara
Bahia para designar a casca, a folha de fumo que Com vos meter o ferrão.
envolve o charuto (que anatomicamente pode
assemelhar-se ao pênis)
Na Vida Não se Deve Juntar
gadanho = unha; garra.
Heterógenos
garupa = anca; bunda.
o bolo rapa = no jogo de cartas, o ato de levar
todas as cartas (aqui o sentido é o de a freira o Homem que não é de nada
satisfaz plenamente, esvaindo-o de todo o É melhor nem chegar perto
sêmen que está acumulado em sua genitália). De mulher que só quer prazer.
com chalupa = com muita sorte; (no jogo de É como juntar a fome
cartas chalupa são as três maiores cartas: o ás de Com a vontade de não comer.
espada ou espadilha, o ás de paus ou basto, e o
sete de ouro ou manilha). [SONETO DO MEMBRO MONSTRUOSO]
repleta a tripa = (o pênis intumescido, pau duro)
(Bocage)
alimpa da carepa = limpar a caspa, a lanugem de
Esse dysforme, e rigido porraz
frutos, limpar as aparas de madeira feitas pelo
enxó (equivaleria hoje aos ditos populares Do semblante me faz perder a cor:
"afogar o ganso" ou "descabelar o palhaço", E assombrado d'espanto, e de terror
centrando no órgão sexual masculino a ênfase Dar mais de cinco passos para traz:
do desejo sexual)
muchacha que o dissipa = rapariga, meretriz, A espada do membrudo Ferrabraz
prostituta, puta que o sacie sexualmente. De certo não mettia mais horror:
faz da mão sua cachopa = usa a mão para Esse membro é capaz até de pôr
masturbar-se, transformando-a numa mulher, A amotinada Europa toda em paz.
numa rapariga, numa meretriz.

Creio que nas fodaes recreações


A UMA QUE LHE CHAMOU “PICA-FLOR”
Não te hão de a rija machina soffrer
Se Pica-flor me chamais Os mais corridos, sordidos cações:
Pica-flor aceito ser
mas resta agora saber De Venus não desfructas o prazer:
se no nome que me dais Que esse monstro, que alojas nos calções,
meteis a flor que guardais É porra de mostrar, não de foder.
no passarinho melhor.
Se me dais este favor Delírio
sendo só de mim o Pica Olavo Bilac
e o mais vosso, claro fica
que fico então Pica-flor. Nua, mas para o amor não cabe o pejo
*** Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
A Floralva, uma dama em – Mais abaixo, meu bem, quero o teu
Pernambuco beijo!
Bela Floralva, se Amor
Me fizesse abelha um dia, Na inconsciência bruta do meu desejo
Em todo tempo estaria Fremente, a minha boca obedecia,
Picando na vossa flor: E os seus seios, tão rígidos mordia,
E quando o vosso rigor Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Quisesse dar-me de mão
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito: Qual hidra furiosa, o colo alçando,
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi. co’a sanguinosa crista açoita os mares,
e sustos derramando
No seu ventre pousei a minha boca, por terras e por mares,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca, aqui e além atira mortais botes,
Moralistas, perdoai! Obedeci.... dando co’a cauda horríveis piparotes,
assim tu, ó caralho,
erguendo o teu vermelho cabeçalho,
No corpo feminino... faminto e arquejante,
Carlos Drummond de Andrade dando em vão rabanadas pelo espaço,
pedias um cabaço!
No corpo feminino, esse retiro
- a doce bunda - é ainda o que prefiro. “A pica ressuscita mulher morta”
A ela, meu mais íntimo suspiro, Francisco Moniz Barreto (1804-1868)
Pois tanto mais a apalpo quanto a miro.
A pica o instrumento é que no mundo
Que tanto mais a quero, se me firo Mais milagres tem feito e mais proezas2;
Em unhas protestantes, a respiro A pica o melhor traste e das belezas,
A brisa dos planetas, no seu giro Mal que começa a lhes coçar o sundo.
Lento, violento... Então, se ponho tiro
A pica é o cão, que avança furibundo
A mão em concha - a mão, sábio papiro, A plebeias, fidalgas, e princesas;
Iluminando o gozo, qual lampiro. A pica em chamas Troia pôs acesas,
Ou se, dessedentado, já me estiro, E a Dido fez descer do Urco ao fundo.

Me penso, me restauro, me confiro, É a pica – carnal, possante espada,


O sentimento da morte ei que adquiro: Que o mundo, perfurante, emenda,
De rola, a bunda torna-se vampiro. entorta,
E tudo vence, como bem lhe agrada.

O Elixir do Pajé A pica, ora e calmante, ora conforta;


Lasciva est nobis pagina, vita proba. Sendo em dose alopática aplicada,
A pica ressuscita a mulher morta.
Que tens, caralho, que pesar te oprime
que assim te vejo murcho e cabisbaixo,
sumido entre essa basta pentelheira,
mole, caindo pela perna abaixo?

Nessa postura merencória e triste


para trás tanto vergas o focinho,
que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,
teu sórdido vizinho!

Que é feito desses tempos gloriosos


em que erguias as guelras inflamadas,
na barriga me dando de contínuo
tremendas cabeçadas?

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