O vasto mundo da comunicação vem-se ampliando cada vez mais, com o desenvolvimento de
pesquisas sobre o assunto, a par das recentes invenções tecnológicas no âmbito dos veículos de
comunicação social e individual.
Levantar o polegar, que pode indicar no Brasil: “está tudo bem”, na Europa significa
pedido de carona, no Japão indica o número cinco, na Alemanha, o número um, na Austrália e
Nigéria é considerado um gesto obsceno e na Turquia, convite para um encontro homossexual.
Segundo o autor, uma cabelereira paulista em visita ao Japão descobriu que levantar o polegar
para um rapaz solteiro significa perguntar se ele tem namorada e o rapaz vai deduzir que a moça
deseja sair com ele. Já o músico Alberto Marsicano aprendeu, na Índia, um oitavo significado
para esse gesto. Quando certa vez foi a Calcutá, levou várias camisas da seleção brasileira para
trocar por seda. Depois de acertar a troca, quase foi tudo por água abaixo, porque ele levantou
o polegar e o comerciante ficou muito bravo, fechou a cara, pensando que era sinal de
desistência do negócio.
No que diz respeito à postura, uma observação atenta pode captar traços da
personalidade, sentimentos e emoções que o indivíduo não comunica por meio da linguagem.
O modo de sentar para ler ou para conversar pode indicar timidez, introversão ou
exibicionismos; da mesma forma, a escolha de um lugar em um auditório, a maneira de se
conduzir em público, na fila do cinema ou do banco, o modo de chamar um garçom no
restaurante ou de parar um táxi na rua, dizem, de forma sutil, o que a pessoa não diz com
palavras.
Ao comunicar-se, por meio da linguagem verbal, uma pessoa comunica também traços
de sua personalidade, revelados pelos elementos não verbais decodificáveis, ao falar de modo
claro, correto, simpático, ou confuso, aos arrancos, muito alto ou muito baixo, ou ainda
embrulhando as palavras, na boca semifechada. Pode falar também de maneira doce, suave,
sussurrante ou monótona, ou antipática.
Para Silva (1988, p.43), a distinção entre linguagem literária e não literária remonta a uma teoria
pitagórica tardia. Segundo esta teoria, há uma modalidade de expressão destituída de
ornamentação e recursos estilísticos e outra que se caracteriza pelo uso de tropos e recursos
estilísticos. Assim, a linguagem literária, através dos tempos, tem-se distanciado de um dizer
comum, sem brilho e tem sido marcada pelo estranhamento, pelo desvio em relação à
linguagem usual.
Ora, no afã de encontrar fundamentos que indiquem ser a literatura é uma modalidade
específica da linguagem verbal, Roman Jakobson estabeleceu as funções da linguagem, e foi,
pois, no meio do Formalismo Russo que se constituiu uma teoria para explicitar a literalidade do
texto artístico.
O primeiro estudioso a propor uma teoria que diferenciava um sistema de linguagem
prática e um sistema de linguagem poética foi Lev Jakubinskij, em 1916. Logo em seguida, em
1921, Roman Jakobson afirmava ser a poesia uma linguagem que se valia da função estética. A
palavra aparecia aí como um valor autônomo. Já em 1933-1934, o mesmo autor identificava na
poesia a função poética da linguagem, que se caracterizava como palavra e sintaxe que têm peso
e valor próprio. Em 1935, numa série de conferências sobre o Formalismo Russo, Jakobson volta
a afirmar ser da natureza da poesia o uso dominante da função poética da linguagem. Nesse
caso, a linguagem se apresenta orientada para o signo enquanto tal. Na obra poética, outras
funções subsidiárias aparecem, mas elas estão submetidas à função dominante.
Entende-se função como a “dependência entre duas entidades linguísticas, tal que, se se
introduz uma mudança em uma delas, provoca-se uma mudança correspondente na outra
unidade” (LOPES, 1987, P.56). “variando o fator que a mensagem focaliza, varia,
correspondentemente, o significado da mensagem”.
- Canal: meio (jornal, emissora de rádio ou televisão, carta, fax, telefone, telegrama, diálogo)
A mensagem não é neutra; ela tem um objetivo, uma finalidade: transmitir conteúdos
intelectuais, exprimir emoções e desejos, hostilizar pessoas ou persuadi-las, incentivar ações,
esconder ou publicar fatos, evitar o silêncio.
O sentido de uma mensagem advém em parte dos fatores de comunicação a que ela se
dirige. Ou seja, o sentido depende em parte do elemento focalizado: o remetente? O
destinatário? A mensagem? O código? O canal? O referente? Por isso, uma mensagem pode ter
funções diferentes conforme o fator do processo de comunicação focalizado.
Tanto a língua oral como a escrita apresentam níveis ou registros. Em situações formais,
a expressão se dá com utilização de uma língua mais gramatical, com pronúncia cuidada. Em
situações menos tensas, como a do meio familiar, a língua adquire características de
informalidade, e as preocupações com a clareza e a correção tornam-se menos rigorosas. Entre
as despreocupações gramaticais ressaltam-se: concordância verbal e nominal, regência verbal e
nominal, colocação dos termos na oração. Note-se, no entanto, que a falta de domínio da língua
escrita é estigmatizante e que no atual momento é crescente a importância da língua escrita
como meio de informação científica e tecnológica.
A língua portuguesa, como qualquer outra, configura-se como um conjunto de variantes, isto é,
não é um todo uniforme. Parafraseando Carvalho (1967, v.1, p.296), embora se fale português
em Manaus, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, todos estamos de acordo que,
ainda que sejam pequenas as divergências observadas, não se fala em Recife da mesma forma
como se fala em Sorocaba ou Piracicaba, cidades do Estado de São Paulo. As divergências
aumentam se compararmos a Língua Portuguesa fala em Portugal com a falada em qualquer
cidade brasileira. É de salientar também que, embora dentro de uma mesma cidade não falam
de forma idêntica seus moradores. Assim é que existe a diversidade “realizando-se pois o que,
na expressão de Schuchardt, constitui a unidade na variedade e a variedade na unidade”’
(CARVALHO, 1967, v.1, p.297).
Há diferenças que são devidas às diferentes camadas sociais; nesse caso, a variante
recebe o nome de diastrática. Se a variação ocorre entre diferentes gerações, chama-se
diafásica. A variação que se verifica em um mesmo indivíduo que adapta sua linguagem ao
contexto ou à situação (mais ou menos formal) chama-se registro ou idioleto. Os registros
incluem a variante culta em um extremo e no outro coloquial. Para Camara Jr. (1977a, p. 141)
idioleto é o “nome dado pelos linguistas norte-americanos à língua, tal como é observada no
uso de um indivíduo”. Já para Borba (1976, p. 63), idioleto é um “sistema linguístico individual,
sistema que existe na memória de cada falante, sendo potencial, portanto”. Finalmente, para
Jota (1981, p. 171), idioleto é um “conjunto de hábitos de fala do indivíduo considerados em
determinada época. [...] Língua individual naquilo que tem de característico”
Níveis de linguagem
Dino Preti (1982, p. 32) classifica os níveis de linguagem do ponto de vista sociolinguístico,
considerando três divisões: nível culto, comum e popular. O nível culto caracteriza-se como uma
linguagem que se utiliza da língua-padrão, desfruta de prestígio, é utilizada em situações formais
e os falantes são altamente escolarizados. É a linguagem usada pela literatura e modalidades
variadas da língua escrita; apresenta sintaxe complexa, vocabulário amplo e técnico, é
gramatical. Já o nível popular ocupa o outro extremo do eixo. São suas características:
subpadrão linguístico, ausência de prestígio, uso em situações informais, falantes pouco ou não
escolarizados, simplificação sintática, vocabulário restrito, uso de gíria e linguagem obscena;
neste caso, a linguagem distancia-se da gramática. Intermediando estas duas categorias, culto e
popular, há o nível comum, uma variante de linguagem nem tão tensa nem tão distensa,
empregada por falantes medianamente escolarizados e pelos meios de comunicação de massa.
Evidentemente, tal caracterização não pode ser rígida, pois não há muitos limites estanques
entre um nível e outro.
A linguagem formal de nível culto corresponde à variante padrão, que é utilizada por
intelectuais, diplomatas e cientista, principalmente na forma escrita. Em termos de língua oral,
esse nível raramente é utilizado, mas dele se aproximam os discursos de cerimônias ou de
situações formais, como os que ocorrem em tribunas, púlpito, júri. O vocabulário é diversificado,
rico, a sintaxe é complexa e as normas gramaticais são respeitadas.
Esta é outra modalidade de linguagem que se aproxima do nível culto. Para Carvalho (1967, v.1,
p. 335), as linguagens especiais são principalmente linguagens técnica, e estas são constituídas
pelo inventário léxico peculiar às diversas comunidades menores compreendidas naquela
comunidade extensa, cujos componentes se encontram ligados por uma forma particular de
atividade-profissional sobretudo, mas também cientifica ou lúdica (da arte, dos desportos, dos
jogos), em termos genéricos, cultural. Estas são, pois, as linguagens do médico, do jurista, do
químico, do construtor, do marinheiro.
A linguagem técnica é um tipo de registro verbal que pertence ao nível culto. Consiste
no uso de uma linguagem que se apoia também na gramaticalidade para transmitir a ideia de
precisão de rigor e neutralidade. Utiliza vocabulário específico para designar instrumentos
utilizados em determinado ofício ou ciência, ou para designar conceitos científicos, transações
comerciais, financeiras ou econômicas.
Embora esta variante procure seguir de perto a norma padrão, ela é despida de grandes
requintes literários, de conotações e figuras de linguagem esmeradas. Linguagem, porém, que
segue de perto o padrão gramatical. É notável neste tipo de linguagem a ausência de criatividade
(quer vocabular, quer sintática). A linguagem pragmática das relações comerciais é
representativa dessa variante. É uma linguagem repleta de formalidades, em que as formas
estabelecidas têm primazia sobre os fatos. Importa, particularmente, como se diz. Veja-se o caso
da redação comercial. É comum neste tipo de variante linguística o uso do vocabulário próprio:
em vez de assinatura, o usuário da língua dá preferência a firma; no lugar de você, o tratamento
é V.S.ᵃ. O jargão, o excesso de formalidade, as palavras estrangeiras, as abreviaturas contribuem
para burocratizar a linguagem e afastar o leitor comum de uma decodificação rápida. Neste
sentido, a linguagem forense é também uma forma burocrática do uso da linguagem.
NÍVEL FAMILIAR
O nível de linguagem familiar foge às formalidades e aos requintes gramaticais. É usado nas
conversas despretensiosas, principalmente por pessoas que conhecem a gramática, mas
utilizam um registro menos formal. O vocabulário empregado é limitado e pouco variado, e a
sintaxe é simples, incluindo frequentemente frases, curtas e orações coordenadas. Outra
característica desse nível são as repetições. Esse registro de linguagem tanto pode servir à
linguagem oral como à escrita, mas, evidentemente, nesta última variante não haverá
reprodução daquela, pois a linguagem escrita não é tão espontânea quanto a oral. Haverá então
policiamento, certa preocupação com a gramática e os estilos.
LINGUAGEM POPULAR.
Constitui uma variante informa de pouco prestígio se comparada com a linguagem coloquial e a
culta; é espontânea e descontraída. Seu objetivo é a comunicação clara e eficaz. Sua expressão
é subjetiva, concreta e afetiva. É funcional, sobretudo, porque se vale de outros meios de
expressão que não as palavras, como por exemplo, a entonação, na linguagem oral.
A linguagem popular falada é utilizada sobretudo por pessoas que pertencem ao mesmo
grupo social e têm baixo grau de escolaridade ou são analfabetas. Por essa razão, tal variante
linguística distancia-se da normatividade gramatical. Ela compreende: (a) vocabulário pobre ou
restrito; (b) construções que se afastam do padrão gramatical, ou simplificação sintática
(utilização de variantes não permitidas pela gramática, como: pega ele, namora com, pisa na
grama, ou mistura de pronomes pessoais, possessivos e de tratamento – tu e você, teu e seu –,
ausência de rigor quanto à concordância verbal: “eles foi”); (c) repetições frequentes; (d) uso de
gíria ou de linguagem obscenas; (e) redundâncias.
Por que alguns textos são considerados literários e outros não? Um texto literário precisa ter
versos, rimas e palavras diferentes das que usamos no dia-a-dia? Precisa falar de um mundo
imaginário, distante da realidade em que vivemos?
Não, não precisa. Para ser literário, o texto deve apresentar uma linguagem literária,
isto é, uma linguagem em que se encontram recursos expressivos que chamam a atenção para
o “modo” como ela própria está construída.
Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência[de uma das
filiais do McDonald’s] deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão,
isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos.
Dezenas deles vão revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão.
(Veja, São Paulo, 1992)
Texto 2 – O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem. (Manuel Bandeira)
2 – A diferença entre os dois textos está na “linguagem”. Qual delas apresenta uma linguagem
pessoal, carregada de sentimentos do locutor? Qual delas apresenta uma linguagem figurada,
rica em sentidos?
3 – Que texto procura informar usando uma linguagem clara e objetiva?
4 – Que efeito de sentido causa a identificação do “bicho” quando o autor faz uso de negativas
no texto 2? Qual a condição do ser humano ao ser comparado com um bicho?
5 – Os dois textos retratam uma cena mais ou menos comum na realidade em que vivemos;
contudo, apresentam diferenças quanto ao enfoque e ao tratamento dado ao assunto. O que o
texto 1 parece enfocar? E o texto 2?
Em síntese:
Denotação e Conotação
Leia este poema, de Adélia Prado, e responda às questões propostas:
- Em qual delas o verbo “atravessar” foi empregado com o sentido comum, encontrado no
dicionário, que é “transpor, passar para o outro lado”?
- Em qual delas esse verbo ganha um sentido figurado, completamente diferente do sentido
comum de dicionário?
Como você observou, as palavras nem sempre apresentam um único sentido, aquele
apresentado pelo dicionário. Empregadas em determinados contextos, elas ganham sentidos
novos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais.
Quando a palavra é utilizada com seu sentido comum, o que aparece no dicionário, dizemos que
foi empregada “denotativamente”. Quando, porém, é utilizada com seu sentido diferente
daquele que lhe é comum, dizemos que foi empregada “conotativamente”.
Neste caso, a expressão “trem de ferro”, por exemplo, ao lado do sentido comum de “veículo
ferroviário”, no poema de Adélia Prado tem também o sentido conotativo de “lembrança,
sentimento”.
Quando as pessoas conversam por telefone, há um conjunto de frases mais ou menos previstas
e que conotam polidez, educação. Por exemplo, perguntar “Quem está falando? ” é mais polido
do que “Quem é? ”; dizer “Espera, que vou chamar fulano” conota grosseria, ao contrário de
“Um momentinho, que eu vou chamar fulano”.
DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO
Palavra com significação restrita. Palavra com significação ampla, criada pelo
contexto.
Palavra com sentido comum, aquele Palavra com sentidos que carregam valores
encontrado no dicionário. sociais, afetivos, ideológicos, etc.
A seguir temos a letra de uma música gravada pelo grupo Engenheiros do Hawaii. Veja como o
significado do texto vai sendo construído a partir da conotação.
1 – Com a expressão “Um dia me disseram”, que se repete várias vezes, o texto contrapõe duas
situações vividas pelo eu lírico (a pessoa que fala no texto): uma antes e outra depois desse dia.
Como o eu lírico via o mundo “antes” desse dia? Que expressão do 1º verso, empregada
conotativamente, confirma sua resposta?
4 – Dê uma interpretação coerente a estes versos: “Somos quem podemos ser/ Sonhos que
podemos ter”.
Coesão e Coerência
Para produzir um texto com eficiência, não basta apenas ter boas ideias ou bom vocabulário. É
preciso transformá-los em enunciados que, unidos a outros enunciados, vão lentamente
construindo uma tessitura de conexões lógicas e semânticas que configuram o texto. Quando
isso ocorre dizemos que o texto possui “textualidade”, isto é, apresenta adequada “articulação
de ideias” (coerência) e “articulação gramatical” entre palavras, orações, frases e partes maiores
do texto (coesão).
A discussão sobre esse assunto perde sentido sem uma reflexão sobre seu significado.
Durante anos a sociedade brasileira buscou reinstaurar a democracia, regime em que o voto tem
papel decisivo, já que é canal privilegiado de expressão de vontade popular.
Observe que a conexão de palavras e ideias no interior das frases, no interior dos
parágrafos e de um parágrafo para outro é feita pelas palavras e expressões destacadas.
Por exemplo, a expressão “dessa revisão” retoma a ideia contida em “revendo a
Constituição”.
A expressão “já que” estabelece uma relação de causa e efeito entre duas ideias: o voto
é um canal privilegiado de expressão de vontade popular (causa) e o voto tem um papel decisivo
na democracia (efeito).
Observe ainda que a expressão “Em breve” é um marcador temporal que condiciona as
formas verbais “estará revendo, farão e estará”, que obrigatoriamente têm de ser empregadas
no futuro do presente do indicativo.
Exercícios:
Apenas quando entendermos de fato que o voto é um direito, não obrigação, poderemos
também entender o que significa direito à vida, à liberdade, à saúde e educação, à igualdade de
oportunidades e outros direitos garantidos pela Constituição, mas não pela prática social.
Por isso gostaria de, enquanto cidadã, ver-me representada por V.Exª. Conto com a lucidez que
tem demonstrado para defender em plenário a não obrigatoriedade do voto. Como eu, tenho
certeza de que muitos outros brasileiros agradecem seu apoio e decidida vontade de contribuir
para a construção de uma verdadeira democracia brasileira.
Respeitosamente
Celeste Sampaio Saião
b) O emprego dessa conjunção nesse contexto dá mais força à solicitação feita pela autora
nesse parágrafo? Por quê?
A violência em nosso país está a cada dia que passa se acentuando mais, isto devido a diversos
fatores podemos citar o fator econômico a ganância do homem pelo dinheiro, o desemprego dos
pais, a falta de moradias, alimentação e educação impedem o de criar seus filhos dignamente
daí a grande violência da sociedade o menor abandonado, que sozinho sem ter uma mão firme
que o conduza pela vida, parte para o crime e roubo na tentativa de sobreviver.
Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais
variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder. Pode-se, pois, dizer que os
gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação e controle social no dia-a-dia. Toda e
qualquer atividade discursiva se dá em algum gênero que não é decidido ad hoc, como lembrava
Bakhtin ([1953] 1979) em seu célebre ensaio sobre os gêneros do discurso. Daí também a imensa
pluralidade de gêneros e seu caráter essencialmente sócio histórico. Os gêneros são também
necessários para a interlocução humana.
Um simples exemplo pode dar a dimensão disso: tomemos a atividade discursiva na vida
acadêmica: quem controla a cientificidade em nosso trabalho investigativo diário? Em boa
medida, os gêneros por nós produzidos dão, pelo menos em uma primeira instância,
legitimidade ao nosso discurso.
Assim, podemos dizer que o controle social pelos gêneros discursivos é incontornável,
mas não determinista. Por outro lado, a romântica ideia de que somos livres e de que temos em
nossas mãos todo o sistema decisório é uma quimera, já que estamos imersos numa sociedade
que nos molda sob vários aspectos e nos conduz a determinadas ações. Por outro lado, o gênero
textual não cria relações deterministas nem perpetua relações, apenas manifesta-as em certas
condições de suas realizações. Desde que nos constituímos como seres sociais, nos achamos
envolvidos numa máquina sociodiscursiva. E um dos instrumentos mais poderosos dessa
máquina são os gêneros textuais, sendo que de seu domínio e manipulação depende boa parte
da forma de nossa inserção social e de nosso poder social.
Talvez seja possível defender que boa parte de nossas atividades discursivas servem
para atividades de controle social e cognitivo. Quando queremos exercer qualquer tipo de poder
ou influência, recorremos ao discurso. Ninguém fala só para exercitar as próprias cordas vocais
ou os tímpanos alheios. Na realidade, o meio em que o ser humano vive e no qual se acha imerso
é muito maior que seu ambiente físico e contorno imediato, já que está envolto também por
sua história e pela sociedade que (o) criou e pelos seus discursos. A vivência cultural humana
está sempre envolta em linguagem, e todos os nossos textos situam-se nessas vivências
estabilizadas sem gêneros. Nesse contexto, é central a ideia de que a língua é uma “atividade
sociointerativa” de caráter cognitivo, sistemática e instauradora de ordens diversas na
sociedade. O funcionamento de uma língua no dia-a-dia é, mais do que tudo, um processo de
integração social. Claro que não é a língua que discrimina ou que age, mas nós que com ela
agimos e produzimos sentidos (Marcuschi,2008).
No texto apresentado, Marcuschi deixa claro que a produção discursiva através dos
gêneros textuais é um sistema de controle social, pois é uma ação que vai além do simples
objetivo de comunicar e informar. Todos nós sabemos que a língua não é simplesmente um
sistema de comunicação, mas sim um complexo sistema simbólico para expressar ideias.
Os Gêneros Textuais
O contato com diferentes gêneros textuais é diário, sem que você perceba ou pare para refletir
sobre a influência que eles exercem no seu cotidiano. Veja no texto a seguir:
Diariamente, você acorda pela manhã pega o jornal para saber das primeiras notícias do dia. Ao
sair de casa, observa no portão vários folhetos de propaganda, dentre eles do supermercado e
aproveita para conferir os preços. No caminho para o trabalho, ao parar no primeiro semáforo,
entregam a você anúncios de carros novos e outro daquele apartamento dos seus sonhos.
Chegando ao trabalho, recebe um informativo da empresa e assim que liga o computador e entra
no seu e-mail, confere que sua caixa de mensagens está cheia, apaga alguns e-mails e responde
outros mais urgentes. No almoço, encontra os amigos e aquele que você nem tem tanta
afinidade, te entrega um convite de casamento. Saindo do restaurante, passa ao banco para
pagar vários boletos, inclusive o da faculdade e como a fila está grande, aproveita para ler uma
revista de fofocas das celebridades. Volta ao trabalho e finaliza o relatório que precisa entregar
ao chefe. Encerrando seu expediente, vai direto para a faculdade e antes de entrar na aula,
termina uma resenha crítica para entregar ao professor. Assiste às aulas e no intervalo vai até a
biblioteca para retirar alguns livros que precisa ler e estudar. Terminando a aula, vai para casa
e quando chega, vê um recadinho carinhoso de sua mãe “Tem uma comidinha deliciosa na
geladeira. É só esquentar! Te amo...”. Você come e finalmente vai dormir...(Deborah Costa)
Nesse texto, fica evidente o contato com diferentes gêneros textuais durante todo um
dia de uma pessoa comum que trabalha e estuda. Não é de hoje que nossa relação com os textos
é assim: são eles os responsáveis por organizar todas as situações que envolvem comunicação,
possuem finalidades e formato próprio e estão em um específico suporte textual, isto é, sem os
gêneros textuais não haveria comunicação verbal organizada.
Tema
-Assunto/conteúdo do texto
Gêneros
Textuais
Tipos relativamente
estáveis de enunciados
Estilo Construção
Composicional
- Linguagem utilizada;
- Forma padrão da
- Recursos da língua
estrutura;
(estruturas linguísticas)
- Características
- Conjunto lexical
estruturais do texto.
Esferas Comunicativas
Texto 1
Texto 2
Pela primeira vez, cientistas calcularam a absorção global de CO² pela vegetação terrestre: são
123 bilhões de toneladas do gás por ano. “É o dobro da quantidade de CO² que os oceanos
absorvem”, diz Christian Beer, do Instituto Max Planck para Bioquímica, na Alemanha. Ele é
coautor do estudo, publicado na revista “Science”.
Selvas tropicais respondem por 34% da captura. As savanas, por 26%, apesar de ocuparem o
dobro da área. [...]
O estudo usou dados de uma rede internacional, a Fluxnet, que reúne centenas de torres que
servem como postos de observação pelo mundo, analisando os fluxos de CO² na vegetação ao
redor.
No Brasil, há quase uma dezena de torres de fluxo, a maior parte delas instaladas na Amazônia
(Folha de São Paulo, 9 jul. 2010, p.14)
Texto 3
Com uma Alice adulta, o diretor lança seu olhar gótico sobre o clássico de Lewis Carol
Lembra daquela menina de olhos curiosos do clássico desenho Disney Alice no País das
maravilhas (1951)? Não espere reencontrá-la na versão que Tim Burton dirigiu para o mesmo
estúdio, com atores de carne e osso, animação e efeitos 3D. A “nova” Alice (Mia Wasikowska)
tem 19 anos. Durante uma festa pressionada a aceitar um noivado de conveniência, ela corre
atrás do Coelho Branco e vai parar no País das Maravilhas – agora chamado, apropriadamente,
de Mundo Subterrâneo. O clima do lugar combina mais com a paleta sombria de Sweeney Todd:
“O Barbeiro demoníaco da Rua Fleet” do que com o colorido psicodélico de “A Fantástica Fábrica
de Chocolate”, dois dos mais recentes sucessos de Burton. [...] (Revista Época, abril 2010, p.14)
Ninguém produz um enunciado – oral ou escrito – sem um propósito, uma intenção. Por
exemplo, quando alguém escreve uma carta, é porque outra pessoa vai recebê-la. Quando um
jornalista escreve uma notícia, é porque muitos leitores vão lê-la ou quando alguém escreve um
conto ou um romance, é porque espera emocionar ou entreter leitores. Ou seja, escrevemos
para alcançar algum propósito.
E é a partir de uma intenção comunicativa que se opta por um determinado gênero, sendo
necessário levar em conta suas condições de produção. Por exemplo, quando vamos escrever
um texto, devemos levar em conta as seguintes questões:
A sociedade moderna preconiza um estereótipo de corpo ideal que muitas pessoas tornam-se
escravas de uma beleza estética quase impossível de se alcançar, pois além da insatisfação com
o próprio corpo, pessoas comuns sofrem influência da mídia e dos milagres oferecidos pelas
cirurgias plásticas.
Sem dúvida, os avanços da medicina e da tecnologia nos tempos atuais podem, de fato, auxiliar
na busca para a perfeição, mas que devem ser utilizados como último recurso ou em casos em
que apenas a cirurgia plástica resolveria o problema. No entanto, o que tem acontecido é o
aumento de procura pelas cirurgias estéticas como um recurso rápido e milagroso para atingir o
corpo perfeito.
As pessoas estão cada vez mais escravas pela busca do corpo perfeito devido às influências da
mídia e das mágicas que as cirurgias prometem. O que as pessoas esquecem é que bisturi está
muito longe de se parecer com uma varinha de condão. É importante destacar que o corpo
perfeito deve estar associado com saúde perfeita e para isso, as pessoas devem buscar equilíbrio
entre exercícios físicos e (re) educação alimentar saudável. (Deborah Costa)
Como vimos, são as diferentes intenções comunicativas que determinam o gênero textual, mas,
em alguns casos, o que determinará o gênero será o suporte textual. O texto apresentado é
argumentativo, pois expõe e defende com argumentos uma opinião. Esse texto é típico do
gênero “dissertação escolar”, mas se este mesmo texto for publicado em um jornal assinado por
quem o escreveu, ele passa a ser um gênero “artigo de opinião”. Assim, podemos entender que,
apesar de ser o mesmo texto, não pertence ao mesmo gênero. Por isso, o importante é levarmos
em conta “todas” as condições de produção para determinar e identificar o gênero de um texto.
Tipologia textual
Enquanto os gêneros textuais correspondem a situações de uso com fins comunicativos, os tipos
dizem respeito à “materialidade linguística”. Enquanto os gêneros compõem uma lista aberta,
infinita, os tipos textuais são limitados.
Um cão atravessava um riacho com um pedaço de carne na boca. Quando viu seu reflexo na
água, pensou que fosse outro cão carregando um pedaço de carne ainda maior. Soltou então o
pedaço que carregava e se jogou na água para pegar o outro. Resultado: não ficou nem com um
nem com outro, pois o primeiro foi levado pela correnteza e o segundo não existia.
Cuidado com a cupidez.— Esopo. (Tradução de Antônio Carlos Vianna. Fábulas de Esopo, P. 171.
Porto Alegre: L&PM, 2001)
Quando lemos um romance, um conto, uma novela, sempre encontramos elementos descritivos
neles; mas a descrição também está presente em obras e trabalhos científicos, em dicionários e
enciclopédias, em manuais técnicos, em publicidades, na grande variedade de textos
consumidos diariamente.
Descrevem-se tanto objetos reais quantos objetos ficcionais; tanto personagens quanto
linguagens e conceitos. A descrição aparece, portanto, nas mais diversas modalidades e com as
mais diversas funções.
Conforme Bronckart (1999), a sequência explicativa tem por objetivo “fazer compreender” algo
que julgamos ser de difícil compreensão. Trata-se de um fenômeno incontestável que carece de
explicação, como é o caso de conceitos em artigos de divulgação científica ou em artigos
acadêmicos:
Por que muda de timbre a voz dos meninos e não a das meninas?
As sequências argumentativas se organizam de acordo com uma estrutura que lhes é particular,
na qual os conectores desempenham um importante papel, não apenas na articulação das
unidades linguísticas, mas também na orientação argumentativa dos enunciados.
Elas realizam dois movimentos: demonstrar e/ou justificar uma tese e refutar outras
teses ou argumentos adversos, partindo, nos dois casos, de dados ou fatos que, com base em
princípios que dão sustentação, conduzem a admitir determinada conclusão ou afirmação.
APOIO SUSTENTAÇÃO
Aos pés de V Exa. vai o abaixo assinado pedir a coisa mais justa do mundo. Rogo me
preste atenção por alguns instantes; não quero tomar o precioso tempo de V Exa.. Não ignora
V. Exa. que, desde que nasci, nunca me furtei ao trabalho. Nem quero saber quem me chama,
se é pessoa idônea ou não; uma vez chamado, corro ao serviço. Também não indago do serviço;
pode ser político, literário, filosófico, industrial, comercial, rural, seja o que for, uma vez que é
serviço, lá estou. Trato com ministros e amanuenses, com bispos e sacristães sem a menor
desigualdade. Cheguei até (e digo isto para mostrar atestados de tal ou qual valor que tenho),
cheguei a fazer aposentar alguns colegas, que, antes de mim, distribuíam o trabalho entre si,
distinguindo-se um, outro sobressaindo, outro pondo em relevo alguma qualidade particular.
Não digo que houvesse injustiça na aposentadoria: estavam cansados, esta é a verdade. E para
a gente de minha classe a fadiga estrompa e até mata. Ficando eu com o serviço de todos,
naturalmente tinha muito a que acudir, e repito a V. Exa. que nunca faltei ao dever. Não tenho
presunção de bonito, mas sou útil, ajusto-me às circunstâncias e sei explicar as ideias. Não é
trabalho, mas o excesso de trabalho que me tem cansado um pouco, e receio muito que me
aconteça o que se deu com os outros. Isto de se fiar uma pessoa no carinho alheio, na
generalidade dos afetos, é erro grave. Quando menos espera, lá se vai tudo; chega alguma
pessoa nova e (deixe V. Exa. lá falar o João) ambas as mãos da experiência não valem um dedinho
só da juventude. Mas vamos ao pedido. O que eu impetro da bondade de V. Exa. (se está na sua
alçada) é uma licença por dois meses, ainda que seja sem ordenado; mas com ordenado seria
melhor, porque há despesas a que acudir, a fim de ir às águas de Caxambu. Seria melhor, mas
não faço questão disso; o que me importa é a licença, só por dois meses; no fim deles verá que
volto robusto e disposto para tudo e mais alguma coisa. Peço pouco, apenas um pouco de
descanso. Deus, feito o mundo, descansou no sétimo dia. Pode ser que não fosse por fadiga,
mas para ver não era melhor converter a sua obra ao caos; em todo o caso a Escritura fala de
descanso, e é o que me serve. Se o Supremo Criador não pode trabalhar, sem repousar um dia
depois de seis, quanto mais este criado de V. Exa.? Não faltará quem conclua (mas não será o
grande espírito de V. Exa.) que, se eu algum direito tenho a uma licença, maiores e infinitos têm
outros colegas, cujo trabalho é constante, ininterrupto e secular. Há aqui um sofisma que se
destrói facilmente. Nem eu sou da classe da maior parte de tais companheiros, verdadeira plebe,
para quem uma lei de Treze de Maio seria a morte da lavoura (do pensamento); nem os da
minha categoria têm a minha idade, e, de mais a mais, revezam-se a miúdo, ao passo que eu suo
e tressuo sem respirar. Contando receber mercê, subscrevo-me, com elevada consideração, de
V. Exa. admirador e obrigado verbo Salientar. ” O despacho foi este: Conquanto o suplicante não
junte documentos do que alega, é, todavia, de notoriedade pública o seu zelo e prontidão em
bem servir a todos. A licença, porém, só lhe pode ser concedida por um mês, embora com
ordenado, porque, trabalhando as Câmaras Legislativas, mais que nunca é necessária a presença
do suplicante, cujo caráter e atividade, legítima procedência e brilhante futuro folgo em
reconhecer e fazer públicos. Se tem trabalhado muito, é preciso dizer, por outro lado, que o
trabalho é a lei da vida e que sem ele o suplicante não teria hoje a posição culminante que
alcançou e na qual espero que se conservará honrosamente por longos anos, como todos
havemos mister. Lavre-se port aria, dispensados os emolumentos. Boas noites
A sequência textual de tipo injuntivo explicita que o locutor visa a fazer agir o interlocutor de
certo modo ou em uma determinada direção. Essa sequência, conforme veremos no texto que
se segue, caracteriza-se pelo uso de formas verbais no imperativo, no infinitivo que, conforme
lembra Marcuschi (2010), podem ser substituídas por uma forma mais longa composta do verbo
“dever”.
Ingredientes:
Modo de Preparo:
UNTE uma forma refratária de vidro ou porcelana com manteiga.
Coloque as rodelas de batata. TEMPERE com sal e pimenta do reino a
gosto. COLOQUE um pouco mais de manteiga por cima de cada rodela
de batata. ESPALHE o creme de leite por cima de tudo, polvilhe com
o queijo ralado e leve ao forno médio por cerca de 30 minutos.
CONTROLE o cozimento da batata e o gratinado do queijo, para não
queimar. SIRVA quente!
O quadro a seguir nos mostra um possível agrupamento de gêneros com aproximação
de características de um mesmo nível de discurso.
Conclusão
Vimos que comunicação e linguagem são duas dimensões da natureza humana e que
possibilitam a vida em sociedade. Vimos também que elas são compostas por diversas
estruturas que precisam ser objetos de estudos e reflexões por parte dos indivíduos que
almejam comunicar-se de forma eficiente e eficaz. Por fim, como já dizia o Velho Guerreiro
(Chacrinha) “Quem não se comunica se trumbica”.
Referências:
CEREJA, Willian Roberto – Português: linguagens: volume único / Willian Roberto cereja,
Thereza Cochar Magalhães – São Paulo: Atual, 2003.
MEDEIROS, João Bosco; ANDRADE, Maria M. de. Comunicação em Língua Portuguesa. 5 ed.
São Paulo: Atlas, 2009.
SPARANO, Magali (et. al.) Gêneros textuais: construindo sentidos e planejando a escrita, São
Paulo: Terracota editora, 2012.