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• “Como o ministério está vulgarizado, qualquer um

pode tornar-se pastor”;


• “Nos dias atuais a pressão mística provoca nòs-pas-
tores o desejo por novas revelações”;
• “A fé em Deus tem sido trocada pela fé na fé”;
• “O louvor e a adoração a Deus têm sido trocados
por letras e músicas que imitam o mundo”.

Com estas e outras afirmações contundentes, o pas-


\tor Edison Queirós conclama os ministros do evange­
lho a “guardar o bom depósito da fé” e não se deixa­
rem corromper por novos ventos de doutrina. Neste
livro, ele apresenta algumas mazelas que atingem a
igreja evangélica brasileira e propõe, com voz proféti­
ca, uma volta ao ministério íntegro e transparente.

Dentro dessa perspectiva, o autor analisa aspectos


como: a chamada ministerial, a oração, a família, a
santidade, o. dinheiro e o sexo, entre outros. No seu
entender, a única maneira de a igreja preservar sua
identidade, em meio à sociedade secularizada de hoje,
é viver dentro dos padrões bíblicos.

Edison Queirós é pastor evangélico conhecido por seu


trabalho na área de incentivo às missões nas igrejas lo­
cais. Tem viajado por todo o Brasil e por vários países
do mundo, para motivar as igrejas a fazer missões mun­
diais. Fundou o ministério Atos 1:8 em A ção.

ISEN 85-7367-117-3

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Categoria: Ministério Pastoral/Liderança
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T ransparência
noministério

E d is o n Q u e ir ó s

Viíla
Prazer, e m o çã o e c o n h e c im e n to
ISBN 85-7367-117-3

Categoria: Ministério Pastoral

© 1997 por Edison Queiroz


© 1998 por Editora Vida

Todos os direitos reservados na língua portuguesa


por Editora Vida, Rua Júlio de Castilho, 280
03059-000 São Paulo, SP — Telefax: (011) 6096-6833

As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporânea da


Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida.

Preparação de textos: Antonio Tadeu Ayres


Revisão: Sérgio Pavarini e João Lira
Capa: Andréa Lyra e Douglas Peek
Editoração eletrônica: Nova Vida Comunicações

Filiada a
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Impresso no Brasil
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SUMARIO
Prefácio 5

Introdução 13

1 Transparência 19

2 A chamada para o ministério 27

3 Palavra e poder 51

4 Oração 67

5 Família 85

6 Ética ministerial 97

7 Dons ministeriais 113

8 Santidade 127

9 Dinheiro 141

1 0 Orgulho 153

11 Sexo 171

12 Não baixe o padrão 187

Conclusão 201
O termo transparência tem sido m uito usado, algumas
vezes de forma banal. Tem o que, com o passar do tempo, ele
I ique desgastado e perca o seu sentido primitivo.
O rig in a lm e n te , esta palavra nos traz a idéia de
"passagem da luz ou de determinada imagem através de”.
Por exemplo, se em uma janela há vidros transparentes,
limpos e sem qualquer obstrução, podemos ver o que está do
outro lado. Uma garrafa transparente torna visível o que está
contido em seu interior. Então a idéia de transparência é de
que posso ver o que está do outro lado ou se encontra no
interior de alguma coisa.
Transportando esse conceito para a nossa realidade
vivencial, concluímos que transparência na vida é simplesmente
autenticidade. Em outras palavras, é sermos o que realmente
somos. E a abolição de toda hipocrisia, falsidade ou fingimento.
Infelizm ente, o ser humano já nasce com a tendência
para o mal, que a Bíblia chama de “velha natureza” ou “velho
liomern”, cujas principais características são exatam ente a
lalsidade e a hipocrisia.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Isso nos rem ete ao texto bíblico em que Jesus censurou


os fariseus e os doutores da lei, por causa de sua falta de
transparência. Tratavam-se de pessoas que falavam uma coisa
e viviam outra com pletam ente diferente. Sua aparência era
a de uma religiosidade e espiritualidade verdadeiras, mas a
realidade era outra.
A palavra transparên cia não pode in cluir em seu
significado algumas atitudes presentes no com portam ento
dos fariseus, pois tinham falta dessa virtude. Algumas atitudes
dos fariseus foram claramente apontadas por Jesus, na forma
de figuras.

Hipócritas
No original grego, a palavra hupocrites era utilizada
para designar um ator quando estava representando, ou para
qualificar aquele que usava de fingim ento em suas relações.
Sem elhantem ente, muitos de nós temos a tendência
de sermos hipócritas em nossos relacionamentos com outras
pessoas, não mostrando quem realm ente somos.
Isso acontece porejue o ser humano é muito perspicaz e
sempre procura conhecer os limites da m ente do outro. Por
outro lado, é também néscio, sem nenhum temor a Deus, pois
sabe que para o Senhor nada está escondido, uma vez que Ele
vê as intenções da m ente e do coração. Transparência é ser
diante dos homens o que somos diante de Deus. E deixar que
os homens nos vejam como Deus nos vê.

Sepulcros caiados
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes
aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem
formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos,
e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente
pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios
de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23:27,28).

6
PREFÁCIO

Essa figura que Jesu s usa m ostra um a realidade


esclarecedora. Q uando vamos aos cem itérios, podemos
constatar isso de uma forma muito clara. Em alguns deles,
vem os luxo e riqu eza nos tú m u lo s dos m ais ricos, e
simplicidade e pobreza nos túmulos dos mais pobres. No
entanto, seja qual for o aspecto exterior, o que há por dentro é
a mesma coisa: corpos em putrefação ou ossos de mortos!
Jesus chamou os escribas, os fariseus e os doutores da
lei de sepulcros caiados, porque por fora a sua aparência era
bonita e agradável aos olhos. Por dentro, entretanto, estavam
repletos de rapina e podridão.

Copo sujo
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Limpais o exterior
do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de
íntemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do
copo e do prato, para que também o exterior fique limpo”
(Mt 23:25,26).

A outra figura que Jesus apresenta é a do copo, que,


muitas vezes, pode estar limpo por fora, mas por dentro, cheio
de toda espécie de imundície.
Quantas vezes pensamos que as exortações de Jesus aos
escribas e fariseus não se aplicam às nossa vidas! E possível
que, em algumas atitudes, não sejamos como aqueles líderes
religiosos, mas pode acontecer que, em outras, estejamos nos
vestindo de uma capa de hipocrisia, demostrando aos outros
o que não somos.
O ministério cristão é um trabalho que facilmente pode
ser carregado de hipocrisia. Por isso, precisamos ser transparentes.
A vida cristã apresenta padrões éticos e comportamentais bem
elevados. O líder cristão facilmente pode cair na hipocrisia de
ensinar que se deve viver e praticar determinados princípios,
mas ele mesmo não os estar vi vendando em seu dia-a-dia.

7
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Nós, que estamos no ministério, devemos sempre ser


transparentes para com os nossos liderados, mostrando quem
realm ente somos, e buscando juntos crescer em maturidade
espiritual.
Utilizei a palavra ministério porque darei a ela um
sentido mais amplo. Acredito que todo cristão deve ter o
seu ministério específico, assim como cada órgão do corpo
hum ano tem sua função. Os princípios e experiências
descritos neste livro devem ser aplicados a todos os crentes,
e não apenas aos pastores e líderes.
M u ito em bora esta obra seja destinada a todos os
cristãos, obviam ente aqueles que estão em posição de
liderança têm um destaque especial, porque devem ser um
modelo para os seus liderados. Não foram raras as oportunidades
em que ouvi pessoas dizendo:
— Pastor não pode fazer isso!
Nessas ocasiões, minha resposta sempre foi:
— Cristão não pode fazer isso!
Sou filho de pastor, nasci e fui criado num lar bem
“eclesiástico”, se é que podemos usar este termo para um lar.
Meu pai era um ministro, forjado e treinado pela doutrina,
princípios e práticas da denominação batista, e toda a sua
vida estava envolvida no ministério. Cresci nessa atmosfera
ministerial, o que trouxe ao meu coração riquezas, alegrias,
v itó rias, m as ta m b ém algum as ex p e riê n cia s d ifíce is,
frustrantes e negativas.
Desde a mais tenra idade eu participei de ensaios do
coral, reuniões de diretoria, assembléias administrativas,
programas especiais etc. Essa criação “eclesiástica” me
ajudou a ver e com preender determ inadas reações das
pessoas.
Lem bro-m e de que, em certa ocasião, um de meus
companheiros de ministério na igreja local apresentou uma
PREFÁCIO

idéia, e eu lhe disse que não iria funcionar, procurando mostrar


a ele quais seriam as reações do povo.
Ele me perguntou:
— Com o é que você sabe disso?
Respondi-lhe:
— Não sei explicar, só sei que o povo reage dessa
maneira.
Apesar disso, ele levou o projeto adiante. Quando
com eçou a perceber as reações do povo, veio me dizer:
— Você tinha razão.
O qu e q u ero m o strar com esse ex em p lo é que
experiências com o essa não se aprendem no seminário, mas
na vivência prática.
Além de ter sido criado num lar cristão, pude exercer
na igreja funções que me deram um bom treinam ento.
Participei de todas as classes da Escola D om inical. Fui
presidente dos “Embaixadores do R ei”, o departamento de
adolescentes da igreja. Presidi a juventude batista da região
do ABC paulista, trabalhei com a JU B E SP — Juventude
B atista do Estado de São Paulo — cantei no coral, no
conjunto masculino da igreja, participei dos planejamentos
da diretoria, entre outras atividades.
Ao ser chamado para o ministério, decidi aprender com
meu pai, que tinha muitos anos no pastorado e era um homem
que levava Deus a sério. Nesse discipulado pessoal, aprendí
muito, tanto doutrinariamente, como na prática eclesiástica.
Uma das lições mais importantes que assimilei durante
esse período, e continuo assimilando até hoje, é exatamente a
respeito da necessidade de sermos transparentes. De nada
adianta colocarmos máscaras, porque Deus sabe quem somos,
e o povo, que convive conosco e nos ouve todas as semanas,
tam bém acaba percebendo. E m uito im portante sermos
transparentes e mostrarmos a realidade sobre a nossa pessoa.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Isso, sem dúvida, conferirá autenticidade ao nosso ministério.


Este livro é resultado de toda essa vida de treinam ento
e experiência no ministério como pastor de uma igreja local.
Pretendo alcançar, com esta mensagem, ministros e líderes
que querem ter uma vida que demonstra o que pregam e
desejam ter vitória em suas atividades ministeriais.
Escrevo aos líderes de igrejas, como: presbíteros, diáconos,
ecônomos(pessoas que cuidam dos bens da igreja, o mesmo
que ‘administrador’) , guias leigos e outros, para que entendam
seus pastores e possam orar por eles, constituindo-se assim num
forte apoio aos seus ministérios.
Escrevo tam bém aos m em bros de igreja em geral,
porque creio que a transparência não deve ser qualidade
apenas dos que estão em posição de liderança, mas de todos
aqueles que são salvos por Cristo.
Uma das razões pelas quais decidi elaborar este trabalho
é oferecer minha parcela de contribuição para aprimorar o
ministério de todos quantos se interessem por esta atividade.
Outra razão é o amor por nossos colegas. Tenho visto tantos
pastores e líderes sofrendo, com grandes frustrações ministeriais,
outros trabalhando bastante, mas caindo em derrotas. E alguns
estão a ponto de desistir!
Nunca me atrevería a dizer que tenho todas as respostas,
mas Deus tem me usado para ajudar alguns colegas, compar­
tilhando experiências e sugerindo algumas idéias práticas.
Uma terceira razão de ter escrito este livro é porque desejo
ver o avanço do reino de Deus na terra. Se o pastor está vivendo
em derrota e frustração, a sua igreja não irá progredir.
Contudo, a partir do m om ento em que ele com eça a
viver vitoriosamente, demonstrando uma vida de santidade
sob a perspectiva correta e tendo ferramentas para executar
seu ministério, sua igreja crescerá, vidas serão salvas e o nome
de Cristo será glorificado.

10
PREFÁCIO

Finalizando, quero deixar claro que este livro foi escrito


por um hom em pecador, lavado no sangue dc Jesus Cristo.
Não pretendo dizer que tenho a última palavra, mas quero
abrir o coração e compartilhar experiências da minha vida
ministerial.
O meu desejo é que este livro possa ajudar você, cristão,
a viver uma vida mais autêntica; você, pastor, a ser modelo
para o seu rebanho e você, líder cristão, a amadurecer em
sua vida para levar tam bém outros à maturidade em Cristo.
Espero que estas páginas sejam um instrumento de Deus para
forjar o caráter do Senhor em nós.
Edison Queiroz

11
Vivemos dias em que palavras como autenticidade,
honestidade, integridade, lealdade, fidelidade e compromisso
estão perdendo seu valor e posição nas galerias da exce­
lência.
Basta abrirmos os jornais para ver que a mentira se
tornou uma banalidade nos relacionamentos entre entidades
ou pessoas. A chamada pós-modernidade introduziu o conceito
do “p o litic a m e n te c o rre to ”, que se c o n stitu iu num a
verdadeira legalização do errado.
Dentro dessa perspectiva, atos como mentir, roubar e
adulterar tornaram-se socialm ente aceitos, desde que, de
alguma forma, contribuam para o favorecimento de deter­
minada causa.
R ecentem ente li nos jornais e revistas que, numa das
famosas Comissões Parlamentares de Inquérito (C PIs), um
certo senhor jurou que diria a verdade. No entanto, poucos
dias depois, foi constatado que tudo o que havia dito perante
aquela comissão era mentira. Ele mesmo teve a desfaçatez
de reconhecer o fato.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Entretanto, isso não chega a ser novidade para ninguém.


Quantos políticos fazem suas promessas durante as campanhas
eleitorais e depois, desavergonhadamente, não cumprem
nada.
Lem bro-m e de que, na minha infância (e eu não sou
tão velho com o você pode pensar!), a palavra de um hom em
tinha peso e valor. Muitas transações comerciais eram feitas
com base na palavra, porque havia honradez nos compromissos
assumidos. Hoje em dia, contudo, a coisa é bem diferente.
Já não existe mais confiança, pois os homens permitiram que
sua honra entrasse pelo ralo de esgotos dos interesses próprios.
Infelizm ente essa situação tem influenciado muitos
ministérios da igreja de Cristo. Tenho visto pastores e líderes
que deixaram os padrões da honradez e entraram no circo
imoral da desonestidade.
Com o o ministério está vulgarizado, qualquer um pode
tornar-se pastor. Essa é a razão por que muitos, movidos por
interesses egoístas, têm buscado no ministério uma alavanca
propulsora que possa remetê-los para os mais altos níveis da
promoção do ego. Já não se exige hoje preparação teológica
para estar no ministério. Qualquer pessoa com um pouco de
poder de influência, uma boa oratória, ou m esm o uma
dem onstração de fé, pode ser recrutada para ser pastor,
mesmo não possuindo qualquer conhecim ento teológico.
C onfesso que no princípio da m inha vida cristã e
tam bém no início de meu ministério, tinha algumas idéias
que hoje já não mais fazem parte de minhas convicções.
Por ter tido uma experiência bem m arcante com o
Espírito Santo, absorvido pela idéia de urgência no serviço
missionário, dando mais valor às emoções do que à fé e à
razão, pensava que não precisava de estudos teológicos.
Minha motivação era correta, pois queria servir a Deus de
todo o meu coração e ver o avanço do evangelho na terra.

14
INTRODUÇÃO

Foi naquele período de m inha vida que a igreja à qual


servia pediu m inha ordenação ao ministério pastoral para
ajudar com o pastor auxiliar. Eu me dispus e fui examinado
por uma banca de 16 pastores em concilio de ordenação.
Após todas as perguntas e respostas, o concilio veio com
a seguinte resposta:
— E d ison , após orarm os, decidim os aprová-lo e
recomendá-lo para o ministério pastoral, com a ressalva de
que deverá com pletar os estudos teológicos e graduar-se
com o bacharel em teologia.
Aceitei o desafio, principalmente porque desejava ajudar
minha igreja. Hoje louvo a Deus por aquela exigência, pois
percebo a grande diferença que faz um pastor estar bem -
preparado teologicamente para o exercício do ministério. E
essa idéia fez tanta diferença que ainda continuo estudando
e pretendo estudar até o final de minha vida!
O bviam ente meus estudos hoje já não são formais.
Entretanto, adquiri o hábito de ler pelo menos dois livros
por mês. Procuro estar bem-informado, tanto no meio secular
com o no eclesiástico.
Nesta época em que qualquer pessoa pode tornar-se
pastor, aparecem diversas aberrações teológicas e, pasmem,
com respaldo “bíblico”. Coloquei entre aspas porque vejo
gente procurando afoitam ente na Palavra base para suas
idéias.
A situação é muito interessante. Há pregadores e líderes
que se aproximam da Bíblia apenas para apoiar suas teorias,
em vez de procurar descobrir é o pensamento de Deus sobre
determinado assunto.
A pressão mística destes tempos provoca nos pastores
e líderes o desejo de “novas revelações”. Muitos deles, sem
nenhum respaldo, chegam a dizer:
— Recebi uma revelação de Deus.

mw»
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO
/
E evidente que o Senhor se revela, fala conosco e dirige
nossas vidas, mas tudo isso em concordância com a Bíblia
Sagrada, que é a sua revelação para o homem. Qualquer idéia
que não tenha amparo bíblico não deverá ser aceita por
ninguém.
E n tr e ta n to , a p ressão do m u n d o nos fo rça a
apresentarm os coisas novas. O sistem a é m ovido por
novidades. Em todos os lugares, pesquisas estão sendo feitas
nos m ais d iferentes segm entos da ciên cia. Q uando os
resultados são apresentados, causam espanto e, às vezes,
arrancam até suspiros de admiração.
Essa síndrome tem invadido o arraial evangélico. Parece
que há uma com petição entre igrejas e ministérios, e cada
um quer se diferenciar do outro. A moda é apresentar
novidades, daí a aparição de tantas heresias que, mesmo
sendo o que são, conferem um certo ar de originalidade
àqueles que as abraçam.
Todavia, isso não chega a ser algo propriamente novo.
Nos dias da igreja primitiva essa síndrome já se manifestava,
obrigando Paulo a ser m uito dogmático e categórico:
“M as, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos
anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos,
seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo
também vo-lo digo: Se alguém vos anunciar outro evangelho
além do que já recebestes, seja anátema” (G1 1:8,9).
A palavra anátem a traduz a idéia de ser exposto
publicamente e amaldiçoado. Paulo tinha em suas veias amor
e zelo tão grandes pelo evangelho e suas doutrinas que estava
sempre disposto a apresentar sua apologia. Ele não aceitava,
sob qualquer hipótese, a entrada dc heresias na igreja.
Hoje, contudo, os grandes pilares do evangelho têm sido
atacados sorrateiramente por doutrinas estranhas que nos
in vad em . A Palavra de D eu s tem sid o tro ca d a pela
INTRODUÇÃO

experiência; a salvação pela fé em Cristo está em baixa, pois


muitos apregoam a salvação por obras; a vitória completa
da cruz do Calvário tem sido substituída por passos práticos
para alcançar libertação.
Com o se tudo isso não bastasse, também a fé em Deus
tem sido trocada pela fé na fé; a responsabilidade pessoal tem
sido transferida para os antepassados; o louvor e a adoração a
D eus têm sido trocados por grunhidos anim alescos; a
crucificação do eu tem sido trocada pela exaltação do ego,
principalmente na apologia à prosperidade. Que evangelho
diferente temos visto ser pregado!
E hora de levantarmos a bandeira da volta à Palavra de
Deus. Para alguns, isso poderá ser interpretado como um
retrocesso, mas creio que ele é fundamental para a correção
de nossa rota. Caso contrário, nosso futuro será desastroso.
Tenho percebido que esses desvios doutrinários estão
causando mais retrocessos do que avanços na propagação
do evangelho.
Temos produzido cristãos egoístas, em vez de cristãos
altruístas. Temos produzido cristãos que querem ser servidos,
em vez de servir. Temos produzido cristãos que buscam seus
próprios interesses, em vez de procurar os dos outros. Com o
resultado, nosso cristian ism o tornou -se fraco, débil e
vulnerável.
Imaginem se viesse uma perseguição aos cristãos de
hoje como aquela dos dias da igreja primitiva. Muitos iriam
abandonar as igrejas. Alguns iriam colocar toda culpa no
diabo. Outros iriam dizer que Deus os abandonou. Por outro
lado, teríam os a oportunidade de ver “quem é q u em ”.
Conheceriam os os verdadeiros cristãos, aqueles que estão
dispostos a viver e a morrer por Cristo.
P recisam os, en tão, de novas perspectivas para o
ministério, a fim de que os cristãos de nossos dias possam ter

17
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

mais fibra, caráter, e viver a verdadeira vida cristã, para a


qual foram chamados. Se tivermos esse tipo de pessoas em
nossas igrejas, o evangelho caminhará com m uito mais raízes
e o avanço, a médio e a longo prazo, será muito mais evidente.
O meu objetivo neste livro é ajudar você, leitor, a
aprimorar o seu ministério. Vamos conversar sobre algumas
de suas facetas que têm sido atacadas. Juntos, vamos levantar
os padrões dessas áreas.
C reio que posso colaborar, com parte de m in h a
experiência, obtida nos mais de vinte anos de ministério
pastoral e missionário, bem como por m eio das observações
de m inhas viagens pelo país, durante as quais sem pre
procurei ver a igreja com um olho analítico.
TRANSPARÊNCIA

O vidro foi uma das descobertas mais maravilhosas do


ser humano. Você pode imaginar um mundo sem vidros?
Quantos problemas teríamos de enfrentar? Ele é parte tão
integrante de nossa vida diária que poucas vezes paramos
para pensar nos benefícios e utilidades que ele tem .
Ele nos dá a idéia de transparência. C om o é bom
vermos vidros limpos e poder contem plar o outro lado com
clareza. Isso nos dá uma sensação de limpeza. Quando o
pára-brisas do carro está limpo podemos dirigir com mais
segurança. Se ele está sujo, é m uito difícil conduzir o
veículo.
Lem bro-m e de uma viagem que fiz com meu irmão há
muitos anos. Estávamos no sul do país, a caminho de Buenos
Aires. Havia naquela parte um trecho sem curvas. Era uma
reta extraordinária, com vários quilômetros de extensão. A
velocidade era razoável quando colidimos com uma nuvem
de insetos que se espatifaram contra o pára-brisas.
Foi uma sensação terrível. D e repente, fiquei sem
enxergar nada. Rapidamente abri o vidro lateral, reduzi a
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

velocidade e fui conduzindo o veículo olhando pelo lado de


fora até parar no acostam ento e limpar a sujeira.
Nesse episódio a transparência foi prejudicada por
objetos estranhos que colidiram com o carro. Entretanto,
m u itas vezes p erm itim o s em nossas vidas que coisas
exteriores colidam com os nossos propósitos, maculando-os.
Dessa forma, pouco a pouco perdemos a transparência e
começamos a aparentar aquilo que não somos. E por essa razão
que atualmente dá-se mais importância ao fazer do que ao ser.
Vivemos num mundo maquiado, que esconde a realidade.
O executivo e escritor Stephen Covey disse:
“Pouco depois da Primeira Guerra mundial, a visão básica
de sucesso deslocou-se da ética do caráter para o que se
poderia chamar de ética da personalidade. O sucesso
tornou-se mais uma decorrência da personalidade, da
imagem pública, atitudes e comportamentos e habilidade
técnicas que lubrificam o processo dc interação humana.
Esta ética da personalidade trilha dois caminhos básicos:
o das técnicas nas relações públicas e humanas e o da
atitude mental positiva. Parte dessa filosofia se exprime
através de máximas como: ‘sua atitude determina sua
altitude’; ‘sorrisos conquistam mais amigos do que caras
feias’; e ‘a mente humana pode conquistar qualquer coisa
que consiga conceber e acreditar’.
O utras práticas da abordagem personalista eram
claramente manipuladoras, quase enganosas, encorajando
as pessoas a utilizar técnicas que levassem os outros a
gostar delas ou a fingir interesse pelos hobbies alheios
para arrancar o que pretendiam ou a usar ‘o poder do
olhar’ ou da intimidação para abrir caminho no mundo”
(Os 7 Hábitos das Pesssoas Muito Eficazes, Best Seller).

Infelizm ente essa realidade tem penetrado sorrateira­


m ente no ministério eclesiástico. M uitos pastores e líderes
preocupam-se mais com o visual do que com o hom em
interior; mais com programas constituídos por técnicas e
TRANSPARÊNCIA

aparências do que com o conteúdo; mais com sensações


imediatas do que mudanças eternas. Em todas as esferas de
relacionamentos temos visto isso. Trata-se de uma realidade,
e o ministério não está excluído dela.
Nos meus mais de vinte anos de experiência ministerial,
muitos dos quais viajando e conhecendo igrejas de diferentes
denominações, não apenas no Brasil mas também no exterior,
c o n s ta te i que o m in is té rio te m sido e x tre m a m e n te
in flu en ciad o por essa situ ação. E isso tem m inad o a
credibilidade de muitas igrejas.
A atividade m inisterial tem sido bom bardeada por
todos os lados. Dentro das próprias igrejas convivemos com
críticas, algumas das quais com fundamento. Outras, porém,
são levianas e incompreensíveis. Fora das igrejas sofremos
ataques por todos os lados, por parte dos que querem
denegrir e vulgarizar a sua imagem.
Sempre é bom lembrarmos que a santidade ressalta o
pecado. Por essa razão, há uma tentativa de se macular a imagem
de santidade, para que não haja pressões contra o estado
pecaminoso. Jesus deixou isso bem claro, quando afirmou:
“A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas
do que a luz porque as obras deles eram más. Todo aquele
que pratica o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para
que as suas obras sejam reprovadas. Mas quem vive de acordo
com a verdade vem para a luz, a fim de que se veja claramente
que as suas obras são feitas em Deus” (Jo 3:19-21).

Veja que fantástica definição do que é a transparência.


Gosto de como Jesus apresenta as verdades sem rodeios. Os
homens preferem as trevas, porque ocultam suas obras. Para
eles, é necessário acabar com a luz e, se isso não for possível,
tentam diminuir seu poder. Assim fazendo, as trevas irão
dominar e seus feitos escusos não aparecerão, para que suas
consciências não fiquem perturbadas.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

O ditado diz: “O pior cego é aquele que não quer ver7'.


Muita gente está promovendo coisas erradas, sabendo que estão
erradas. Destaco algumas realidades que são comuns em nossa
sociedade e que têm influenciado o ministério eclesiástico.

Libertinagem, em vez de liberdade


Sob uma capa de liberdade, tenho visto uma tremenda
depravação do conceito da verdadeira liberdade. Muitos artistas
tentam pressionar nossos líderes políticos para que aprovem
uma lei de total libertinagem. Nossa Constituição diz:
“E vedada toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística”.
Isso significa que qualquer pessoa pode utilizar os meios
de com unicação para apresentar qualquer tipo de idéia ou
encenação e, sob respaldo constitucional, não ser censurada.
Por isso, especialm ente a TV, tem explorado o sexo e a
violência, nos apresentando valores que não são condizentes
com a verdade. As novelas ensinam, por exemplo, que uma
pessoa pode fazer de tudo para conquistar outra. Os autores
não se importam com as conseqüências que isso ocasiona
aos telespectadores.
Na verdade, atrás da falsa idéia de liberdade, podemos
observar uma verdadeira libertinagem, que tem escravizado
as pessoas. A verdadeira liberdade está em Cristo e na sua
Palavra, que diz: “Então conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará” (Jo 8:32).

Independência irresponsável, em vez de


interdependência proveitosa
Creio que, por influência da cultura americana, existe uma
tendência de se promover a liberdade sem se pensar no que
realmente cia significa dentro de um contexto sócio-cultural.
TRANSPARÊNCIA

A idéia de liberdade traz naturalm ente consigo o


co n ceito de independência. Jovens e adolescentes, por
exemplo, querem obter a independência de todas as maneiras
possíveis, sem se darem co n ta de qu e, na realid ade,
dependem de seus pais ou de outros para lhes prover coisas
que lhes interessam.
Contudo, o problema não acontece som ente com eles.
O conceito que impera na sociedade é mais ou menos o
seguinte: a vida é minha, por isso faço dela o que quero, pois
sou o dono de meu nariz.
A isso chamo de independência irresponsável, porque
creio que pode e deve haver uma independência responsável,
que é aquela em que a pessoa reconhece os seus limites.
Em adição a isso, parece-me que a sociedade perdeu o
conceito de interdependência proveitosa, que faz com que
os relacionam entos, em quaisquer esferas — familiares,
negócios etc. — sejam de proveito comum.

Vantagem em tudo
A expressão acima ficou conhecida há muitos anos, num
comercial de televisão que institucionalizou a famosa “Lei
de Gérson”. M esm o o jogador nada tendo que ver com isso,
a realidade é que no mundo em que vivemos todos procuram
levar vantagem em tudo, em vez de desejar justiça para todos.
Querer levar vantagem em tudo tem sido o padrão de
conduta ética para muitas pessoas. O raciocínio delas é o
seguinte: “O que importa é a minha vantagem”. Alguns se
orgulham de ter enganado outras pessoas, dizendo: “Fiz um
bom negócio, faturando sobre a ingenuidade de fulano”.
E n fim , aproveitam -se da boa fé dos outros para obter
vantagens pessoais.
Observe que na maioria dos relacionamentos essas três
realidades estão muito bem entrelaçadas, promovendo o que
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

se convencionou de “jeitinho brasileiro”. É um dos meios


mais utilizados para tirar a dignidade e rebaixar nossos
padrões.
Os livros que tratam dos aspectos culturais dos países
m encionam , como fazendo parte da cultura brasileira, um
modo de agir em sociedade que oculta os seus verdadeiros
valores e princípios, dando lugar a formas espúrias e escusas
como atalho para se chegar a um lugar comum.
Essa situação faz com que os padrões éticos desçam
pelos escuros condutores de esgoto e sejam relegados a um
segundo plano. C o n c e ito s com o o b ed iên cia, respeito,
dignidade e direito têm sido pisoteados na desenfreada busca
de vantagens pessoais.
A sociedade em que vivemos está profundam ente
corrompida e isso parece estar se refletindo nas igrejas e
m inistérios. D isciplina e caráter são palavras que foram
banidas do vocabulário de algumas pessoas.
O meu propósito ao escrever este livro é abordar esses
aspectos e estabelecer alguns princípios que nos ajudem a
ser verdadeira luz para os nossos liderados e, principalmente,
voz profética para a sociedade. O objetivo é resgatar os
padrões bíblicos e promover o reino de Deus na terra.
Paulo escreveu: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros,
filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida
e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”
(Fp2:15).
Uma das realidades que me anima a fazer isso é o fato
de que, em minha peregrinação m inisterial, tenho visto
homens e mulheres que têm mantido sua dignidade. A esses
eu chamo de luzeiros para os seus liderados e para toda a
sociedade.
Um homem com o Billy Graham, por exemplo, tem
mantido uma vida incólume e irrepreensível num mundo em
TRANSPARÊNCIA

decadência e corrompido. Há alguns anos, dois televangelistas


caíram em pecados morais, causando escândalo e prejuízo
para o m ovim ento evangélico. No entanto, em meio aos
ataques dos canhões publicitários, Billy Graham se levanta
como um obelisco de integridade.
Minha oração é que os princípios apresentados nessa
segunda parte sejam instrumentos de Deus para consertar o
que precisa ser consertado, reforçar o que está certo e
prevenir certos erros para se evitar desastres.
2
A CHAMADA PARA
O MINISTÉRIO

“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que


vos apascentem com conhecimento e com
inteligência”. Jr 3:15
Um jovem irlandês nasceu numa família dedicada à
agricultura. Por causa disso, foi orientado a ser um agricultor e
a continuar o trabalho e a tradição de sua família. Havia, porém,
em seu coração, uma forte inclinação pela mecânica. Assim, ele
decidiu abandonar as tradições e os caprichos familiares.
Sem a aprovação dos pais, fugiu de casa e foi parar numa
cidade americana chamada Detroit. Lá trabalhou duro em
diversas oficinas, desenvolveu suas habilidades na mecânica,
conseguiu levantar dinheiro suficiente para estabelecer a sua
própria fábrica e com eçou a produzir arados a vapor.
Por volta de 1888, ele ouviu notícias de uma carruagem
sem cavalos, o que despertou fortemente o seu interesse. Após
obter maiores informações sobre o assunto, decidiu que iria
fabricar a sua própria carruagem a vapor.
C o m e sfo rç o , c o n se g u iu fa b ric a r sua p rim eira
carruagem, que logo foi vendida por 200 dólares. Esse foi o
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

primeiro passo do jovem Henry Ford, que fundou a grande


fábrica de veículos autom otores, conhecida m undialm ente
pela marca que leva seu sobrenome.
Essa história nos ajuda a entender uma verdade: a
pessoa certa, no lugar certo, produzirá o resultado certo. Se
isso é verdade em relação a empresas seculares, tam bém o é
em se tratando do ministério. Por essa razão, o ministro ou o
líder eclesiástico deve ter convicção de que é a pessoa certa,
no lugar certo.
Há um hino que eu gosto muito, cantado por minha
esposa, cuja letra diz:

Deus tem um plano para cada criatura,


Aos astros ele dá o céu,
A cada rio ele dá um leito,
e um caminho para mim traçou.

C ada pessoa foi criada por D eus com um plano


específico, idealizado por Ele. Existe, portanto, um propósito
especial para a vida de cada ser humano. Considerando essa
realidade, se estiverm os no lugar certo, seremos b em -
sucedidos em nosso viver.
Com o posso saber se sou a pessoa certa no lugar certo?
Existem boas notícias para você: Deus o ama e quer lhe dar
o melhor! Ele possui um plano para a sua vida. Se você a
colocar nas mãos dele, Ele a dirigirá.
As Escrituras contêm orientações sobre o chamado
ministerial. Quando olhamos para o Antigo Testam ento,
descobrimos que Deus separava as pessoas para o ministério
de uma forma bem clara, falando-lhes diretam ente e dando
a elas instruções precisas, dirigindo-as para o trabalho que
Ele tinha em mente.
Já no Novo Testam ento, contudo, isso se torna mais
subjetivo, uma vez que, além da chamada divina específica,
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

há ainda a escolha por parte da igreja e tam bém por meio de


seus líderes.

A chamada de Moisés
O plano de Deus é usar vidas. Podemos aprender essa
lição tom ando com o exem plo a chamada m inisterial de
Moisés. Vejamos o texto de Êxodo 3:1-12:

“Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote


de Midiã, e levou o rebanho para trás do deserto e chegou a
Horebe, o monte de Deus. Apareceu-lhe o anjo do Senhor
numa chama de fogo do meio duma sarça. Moisés olhou, e
viu que a sarça ardia no fogo, mas a sarça não se consumia.
Então disse consigo mesmo: Agora me virarei para lá e verei
esta estranha visão, e por que a sarça não se queima.
Vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele
do meio da sarça: Moisés! Moisés! Respondeu ele: Eis-me
aqui. Continuou Deus: Não te chegues para cá. Tira as
sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão,
o Deus de Isaque, e o Deus de ]acó. Moisés escondeu o
rosto, porque temeu olhar para Deus.
Então disse o Senhor: De fato tenho visto a aflição do meu
povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por
causa dos seus opressores, e conheço os seus sofrimentos.
Por isso desci para livrá-lo das mãos dos egípcios, e para
fazê-lo subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa,
para uma terra que mana leite e mel — o lugar do cananeu,
do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu.
E agora o clamor dos filhos de Israel chegou a mim, e
também tenho visto a opressão com que os egípcios os
oprimem. Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que
tires do Egito o meu povo, os filhos de Israel. Então Moisés
disse a Deus: Quem sou eu, para que vá a Faraó e tire do
Egito os filhos de Israel? Respondeu-lhe Deus: Certamente
eu serei contigo. E isto te será por sinal de que eu te enviei:
Quando houveres tirado do Egito o meu povo, servireis a
Deus neste monte”.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Moisés foi chamado porque havia uma necessidade muito


forte. O povo de Israel estava sofrendo debaixo da opressão
egípcia. A discriminação, a injustiça e a exploração reinavam
no Egito. Providências urgentes deveríam ser tomadas para a
solução do problema. Portanto, o mais bonito dessa história é
que a iniciativa partiu do próprio Deus (vv. 7,8).
Gosto quando Deus diz “tenho visto” e “tenho ouvido”.
E Ele quem toma a iniciativa: “desci para livrá-lo”. Deus
tam bém conhece a situação do mundo em que vivemos. Ele
tem visto a opressão, a injustiça, a miséria, a corrupção, a
im oralidade, o sofrim ento da hum anidade e ainda está
chamando vidas para mudar essa situação.
A primeira lição que aprendemos neste episódio é que
Deus chama.Veja estas frases: “Apareceu-lhe o anjo do Senhor”
e “eu te enviarei”. Que tremendo! Deus aparece a Moisés e
diz: “eu te enviarei”. Quer prova mais clara da chamada?
Moisés era um homem que precisava de evidências muito
claras para tomar decisões. Deus teve de colocar fogo em um
arbusto, não permitir que o arbusto se queimasse e fazer com
que o fogo não se apagasse para chamar a sua atenção. Quando
ele se aproximou para ver, Deus falou-lhe diretamente do meio
da sarça e ainda, por duas vezes, o chamou pelo nome.
No princípio da minha vida cristã, sempre pensava que se
Deus aparecesse para mim, como o fez com Moisés e Paulo, eu
toparia qualquer parada pela sua causa. E muitas vezes
perguntava a Ele por que não aparecia a mim da mesma
maneira. Deus me disse: “Eu apareci a você. Foi de uma forma
um pouco diferente, mas falei com você e o separei para o
ministério”.
Na maioria dos concílios de exame para candidatos ao
ministério, o primeiro requisito é que contem suas experiências
de conversão e chamada. Tenho visto casos em que elas são
bem claras e específicas. Mas, algumas vezes, percebo que o
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

candidato não possui uma convicção nítida. Isso é um perigo,


pois podemos colocar gente errada no trabalho ministerial.
Por outro lado, há pessoas que esperam ter uma
experiência bombástica, altamente emocional, para obedecer
à chamada divina, sem considerar que Deus tem várias
formas de agir.
A mais importante é aquela que é indiscutivelmente
clara no coração.
O grande pastor do século passado, Charles H. Spurgeon,
tinha uma escola de ministério e, na sua seleção de candidatos,
não hesitava em desencorajar qualquer pessoa que não tivesse
total convicção de sua chamada. Veja o que ele disse:

“E sempre uma tarefa difícil para mim desanimar um


jovem e esperançoso irmão que solicita matrícula nesta
escola. Meu coração sempre se inclina para o lado mais
bondoso, mas o dever para com as igrejas me impele a
julgar com severa discriminação.
Depois de ouvir o candidato, após ler as recomendações
que traz, e de avaliar as suas respostas às perguntas feitas,
quando me convenço de que o Senhor não o chamou,
me sinto obrigado a dizer-lhe isso.
Alguns casos tip ificam os demais. Há jovens que
desejam com ardor entrar no ministério, mas é doloro­
sam ente p aten te que o seu m otivo principal é o
ambicioso desejo de luzir entre os homens. De um
ponto de vista com um , estes hom ens devem ser
recomendados por sua aspiração, mas, então, o púlpito
jamais deve ser a escada pela qual a ambição suba.
Se tais homens entrassem no exército, não ficariam
satisfeitos enquanto não chegassem ao mais elevado
grau, pois estão determinados a forçar caminho para o
alto — tudo muito louvável e próprio até aí; mas eles
abraçaram a idéia de que se entrassem no ministério
seriam grandemente distinguidos.
Sentiram irromper os rebentos do gênio, e se consideraram
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

maiores do que as pessoas comuns. Daí, olharam para


o ministério, vendo-o como uma plataforma em que
poderíam exibir as suas pretensas habilidades. Sempre
que isto é visível, me sinto obrigado a deixar o aspirante
‘sair por onde entrou’, como dizem os escoceses, certo
de que gente com esse espírito sempre dá em nada, se
entra no serviço do Sen h o r” (O Chamado para o
Ministério, Publicações Evangélicas Selecionadas).

A segunda lição que podemos extrair da experiência


de M oisés é que Deus cham a pessoas ocupadas. Moisés
estava trabalhando, apascentando o rebanho de seu sogro.
Aqui entra um princípio de integridade.
Muitas vezes encontro pessoas perguntando:
— Quem inventou o trabalho?
A minha resposta sempre é:
— Deus o criou.
A Bíblia é m uito clara quanto a esse ensino. Na igreja
do Novo Testam ento havia alguns que queriam explorar os
irmãos, vivendo às custas desses, sem trabalhar. Veja o que
Paulo disse a respeito:
“Pois quando ainda estávamos convosco, vos ordenamos
isto: Se alguém não quer trabalhar, também não coma.
Ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente,
não trabalhando, antes intrometendo-se na vida alheia. A
esses tais, porém, ordenamos, e exortamos por nosso Senhor
jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu
próprio p ão” { 2Ts 3:10-12).

Infelizm ente, hoje em dia acontece o mesmo. Temos


visto gente em nossas igrejas que sempre fica na dependência
dos irmãos.
Alguns não se fixam em empregos e sempre estão numa
situação de instabilidade profissional.
C erta vez um a pessoa veio falar com igo sobre o
ministério e me disse:
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

— Pastor, não consigo parar nos empregos. Já estou


tentando uma nova colocação há seis meses e não encontro.
Será que tenho uma chamada para o ministério?
Eu lhe disse:
— Com certeza, não. Deus quer para o ministério gente
ocupada e que tenha integridade no seu trabalho profissional.
A terceira lição que aprendemos com a vida de Moisés
é a necessidade de conhecermos quem chama ou a fonte do
chamado. Nos versículos 5 e 6 encontramos as credenciais
do convocador:
“Continuou Deus: Não te chegues para cá. Tira as
sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão,
o Deus de Isaque, e o Deus de ]acó. Moisés escondeu o
rosto, porque temeu olhar para Deus.”

A primeira credencial que o Senhor apresenta é a


familiar: “Eu sou o Deus de teu p a i”. Moisés era da família
de Levi (Ex 2:1), separada por Deus para ser a tribo dos que
iriam ser seus ministros. Com o um bom judeu, ele foi criado
aprendendo muito da história de Israel e do Deus Todo-
Poderoso que dirigia seu povo.
A seguir, Deus apresenta a credencial histórica: “o Deus
de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”. Era importante
que Moisés ouvisse isso de Deus porque, como conhecedor
da história do povo hebreu, ele sabia quem era esse Deus.
Não era qualquer deus criado por mãos humanas que
estava falando com ele. Por outro lado, sabedor da existência
de outros povos que serviam a outros deuses, estas credenciais
históricas traziam a Moisés segurança sobre a sua chamada.
E muito importante quando o ministro sabe quem o
chamou. No caso de Moisés, não foi a falta de emprego, o
desejo de adquirir posição, poder ou vantagens econômicas.
Foi o próprio Deus Todo-Poderoso.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Neste ponto, devemos colocar o assunto com muita


clareza. Ao contrário do que alguém pode imaginar, a
chamada específica ainda é uma realidade. Deus continua
falando a homens e mulheres, separando-os para o ministério
e colocando-os como líderes de seu povo.
Creio que o líder da igreja local deve ter convicção
dessa chamada de maneira inequívoca, para deixar tudo e
servir no ministério. Por outro lado, creio tam bém que Deus
deseja usar pessoas com o líderes de igrejas locais, mas como
resultado do reco n h ecim en to de seus dons, talen tos e
liderança por parte delas.
II. B. London Jr. e Neil B. W isem an têm uma grande
experiência em aconselhar pastores. Eles fizeram a seguinte
afirmação:
“Embora mais tarde possa ser identificado com uma
dimensão dc tempo e de lugar onde Deus encontrou-se
com o futuro pastor, o chamado é, na verdade, uma
reunião sagrada, uma aventura com a deidade, um
momento dc iluminação, uma urgência insistente, uma
ordem a entrar no serviço ativo e um convite extravagante,
tudo isso combinado” (Despertando para um Grande
Ministério, Mundo Cristão).

O pastorado é um m inistério sério que depende do


chamado de Deus para ser autêntico e pode ser manifestado
de várias formas. A seguir, apresento alguns trechos bíblicos
que poderão nos ajudar a entender melhor o assunto.

Um desejo profundo
“Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado,
excelente obra deseja” (lT m 3:1)

Há duas interpretações dos eruditos a respeito desse


texto. Uns dizem qu e, naquela época, já havia pessoas
olhando para o m inistério com o um emprego. O utros o
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

interpretam como sendo um desejo colocado por Deus no


coração de alguém, ou seja, é uma chamada.
Pessoalmente, fico com a segunda interpretação, pois
tenho a convicção de que o Senhor chama vidas para o
ministério. No original grego, a palavra usada para aspira é
orego, que pode tam bém ser traduzida como “esticar-se em
busca de algo”, ou um “desejo intenso.”
J. Oswald Sanders, ao com entar a respeito da ambição
à liderança diz:
“Ao avaliar o ‘excelente trabalho’, ou a boa ambição de
que Paulo fala, vários fatores devem ser mantidos em
mente. Acostumamo-nos a examinar a declaração de
Paulo à luz da honra e do prestígio que sobrevêm àqueles
que, cm nossos dias, ocupam posições de liderança na
igreja. Contudo, quando Paulo escreveu, as condições
eram muito diferentes. O cargo de bispo, naquela ocasião,
longe dc ser uma posição ambicionada, frcqücntemente
significava grandes perigos e pesadas responsabilidades.
M uitas vezes a recompensa era as provações, o
menosprezo e a rejeição. Nas épocas de perseguição, o
líder atraía o fogo, sendo o primeiro a sofrer.
Vista à luz destas condições, a declaração de Paulo não
parece tão cheia de perigos, como poderiamos imaginar
de início. Os charlatães e os amantes de cargos não teriam
coragem de enfrentar um compromisso tão oneroso. Em
face de circunstâncias tão desencorajadoras, Paulo achou
necessário, e certo, dar algum incentivo à liderança, e
pronunciar uma palavra de encorajamento apreciativo
àqueles que estavam dispostos a correr os riscos da
liderança. Isso explica suas palavras: se um homem deseja
ser pastor, tem uma boa ambição” (Liderança Espiritual,
Mundo Cristão).

A pessoa que tem um verdadeiro cham ado de Deus


não se conform a com quaisquer outras atividades e se
sentirá frustrada se, por alguma razão, não possa exercer o
pastorado.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Lem bro-m e de que7 após sentir o chamado de Deus, o


desejo profundo do meu coração era o de estar no ministério,
pregando e ganhando vidas para Cristo. Naquela época, tinha
meu emprego, um bom salário, boa posição etc.
Contudo, a cada manhã que chegava no escritório, sentia
que estava perdendo meu tempo, construindo coisas materiais
que se perderiam. Havia em mim um profundo desejo de estar
construindo coisas eternas para o reino de Deus.

Nomeação por Cristo


“Dou graças àquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso
Senhor, porque me considerou fiel, pondo-me no seu
ministério” (lT m 1:12).
“Para isto fui designado pregador e apóstolo (digo a verdade,
não minto), mestre dos gentios na fé e na verdade” (lTm
2 :7).
“Do qual fui constituído pregador, apóstolo, e mestre”
(2Tm 1:11).

A palavra que Paulo está usando para designar pode ser


traduzida por “nomear, constituir, reservar”. Isso deixa claro
que a iniciativa de entrar para o ministério deve ser motivada
primeiro pelo trabalho do Espírito Santo no coração, e não
por desejos pessoais ou emoções momentâneas.
O homem tem uma sede natural pelo poder e freqüen-
tem ente necessita de posições de destaque para obter auto-
afirmação. E por essa razão que o púlpito se torna uma
verdadeira tentação para alguns.
Não devemos julgar ninguém, uma vez que somente
Deus co n h ece a verdadeira m otivação do coração das
pessoas. E n tretan to, quando vejo alguns na posição de
liderança em determinadas igrejas, posso perceber que não
houve uma chamada genuína. Apenas um forte desejo de
ocupar tal posição de destaque.
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

Por outro lado, cada crente é chamado a exercitar o


seu dom e a executar sua parte como membro do corpo de
C risto. D aí a necessidade de cada um se envolver nos
ministérios de sua igreja local, a fim de descobrir, aperfeiçoar
e fazer uso de seu dom espiritual.
O apóstolo Paulo deixa claro que foi nomeado por
Cristo para estar no ministério. Não houve motivos escusos
e, sim, uma convicção pessoal de que Deus o designara para
essa missão.

Dom concedido por profecia e imposição de


mãos do presbitério
“Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por
profecia, com a im posição das mãos do p resbitério”
(lT m 4:14).

O dom a que Paulo se refere nessa passagem não faz


parte dos dons do Espírito Santo para a igreja. Foi algo
especificam ente relacionado a Tim óteo.
Deus, com sua sabedoria, pode usar duas maneiras para
confirmar a chamada ministerial de uma pessoa. A primeira
é o dom concedido mediante a profecia. Em relação a isso,
os eruditos entendem e afirmam que Paulo foi o instrumento
de Deus para profetizar a chamada de Tim óteo.
Todavia, se uma pessoa, por humildade ou por não
querer estar onde foi cham ada, não se envolve com o
ministério e fica numa posição passiva, Deus pode intervir,
usando o dom de profecia para que essa pessoa sinta
convicção e se envolva no trabalho ministerial.
A segunda forma utilizada por Deus para confirmar a
chamada de alguém é o reconhecim ento por parte da igreja,
expressado por meio da imposição de mãos do presbitério.
Assim, a pessoa que já está envolvida é motivada e, em alguns
casos, até m esm o coagida pela igreja a en trar para o
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

m inistério, uma vez que os resultados de seu trabalho


evidenciam uma chamada divina.
W ashington Gladden, pastor e teólogo inglês do século
XIX , discorrendo sobre a chamada do pastor afirmou:

“Nenhum ministro deve assumir o trabalho cristão, a


não ser que acredite em sua vocação divina; mas deve
submeter esta convicção à aprovação dos seus irmãos.
Se esta aprovação é dada pela igreja que o chama, ou
pelo presbitério, ou pela conferência, ou pelo bispado,
c problema secundário; é bom que outras mentes claras
e julgadoras confirmem sua escolha e o enviem com
sua bênção para o trabalho do m in isté rio ” ( l h e
C hristian P astor an d th e W orking Church, International
Theological Library).

O reconhecim ento do ministro, por parte da igreja, é


fu n d a m e n ta l no p ro cesso se letiv o de ca n d id a to s ao
ministério.
A Palavra de Deus nos ajuda a entender que temos três
formas pelas quais podemos entrar no exercício ministerial: a
primeira é manifestada por um profundo desejo de servir a
Deus; a segunda é por uma nomeação específica de Cristo, e a
terceira é pelo reconhecim ento por parte da igreja.
Para ser bem-sucedido, o líder necessita ter essa convicção
bem clara em seu coração. Se ele possui essa certeza, haverá
muito mais resistência aos ataques do diabo e, quando vierem
as dificuldades e as lutas, o que vai m antê-lo firme é a sua
convicção do chamado divino.

O diabo também chama vidas


para o ministério
Na minha experiência trabalhando no treinam ento de
seminaristas e pastores, cheguei à conclusão de que o diabo
tam bém chama vidas para o ministério. Seu desejo é o de
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

colocar pessoas nessa posição para envergonhar o evangelho


de Cristo. Quando vejo pastores dirigindo igrejas sem vida,
sem poder e sem frutos, igrejas mortas que, na verdade, não
lhe dão nenhum trabalho, só posso concluir que fora o próprio
diabo que os chamou.
O diabo trabalha ainda de modo especial com os
verdadeiramente chamados por Deus, tentando tirá-los do
caminho por meio de tentações e dificuldades. As oposições,
lutas e tribulações são provas evidentes de que o chamado é
rea lm en te divino. M as, se tudo está correndo às mil
maravilhas, é bom desconfiar e procurar saber se Deus
realmente está operando.
Existem tam bém no ministério pessoas que são espiãs
do inimigo. Há tempos passados foi preso nos Estados Unidos
um cid ad ão am erican o que traía seu país vendendo
informações para os russos. Isso me levou a pensar em certas
pessoas envolvidas no trabalho ministerial que estão fazendo
mais para Satanás do que para Deus.
São verdadeiras traidoras da causa de Cristo. Nada
fazem para avançar no m inistério e ficam acomodadas,
completam ente conformadas com a situação. Suas pregações
são frias, sem conteúdo bíblico, sem fogo, incapazes de
despertar o povo. E óbvio que não produzirão qualquer
resultado.
Mas, o que causa mais admiração é que os próprios
crentes não percebem isso, e tam bém se acostum am com
essa lauguidez espiritual. Acabam acreditando que é normal
uma igreja ficar sem conversões e sem batismos, e quando
essas coisas ocorrem, alcançam os filhos dos membros que
m uitas vezes não tiveram uma experiência real do novo
nascimento.
Há, ainda, uma outra face em relação a esse problema.
M uitos pastores, para mostrar relatórios e justificar seus
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

salários, en ch em a igreja de “program as”, caindo num


ativismo infrutífero. E com um a ocorrência de igrejas que
inventam todo tipo de reuniões, criam atividades, enfim ,
procuram fazer coisas para justificar a sua existência.
Creio que é hora de fazer um diagnóstico e verificar
onde estão os problemas. Precisamos descobrir a doença e
atacar o mal com todas as armas espirituais disponíveis.
Você foi chamado por Deus? Tem convicção clara de
que essa experiência foi uma obra inequívoca do Espírito
Santo em seu coração? Ou, às vezes, fica em dúvida, pensando
qu e foi apenas um a em o ção m o m en tâ n ea ? E m u ito
im portante encontrar respostas sinceras a essas perguntas.
Precisamos reconhecer que há igrejas cuja realidade
mostra que estão dim inuindo, em vez de crescer. E não
aceitam o trabalho do Espírito Santo, estão cheias dc divisões,
contendas e prioridades erradas. Seus líderes, muitas vezes,
estão caindo em adultério, aceitando o liberalismo teológico,
se envolvendo em sociedades secretas e se posicionando
contra a obra missionária.
Outros não ganham vidas para Cristo e não se importam
com o batistério seco e cheio de teias de aranha. Em algumas
igrejas não há vida espiritual e a liturgia engessada do culto pode
ser comparada aos enfeites do caixão que acomoda um defunto.
Essas são apenas algumas amostras de que o diabo tem
levantado seus agentes contra o avivamento espiritual. A
função desses agentes é tão-som ente provocar, entre alguns
líderes, confusão e desentendim ento.
Dessa forma, os pastores não conseguem discernir os
espíritos que os estão confundido. Lutam para m anter as
tradições antigas, em vez de buscar na Palavra de Deus a
direção e as estratégias para o avanço do evangelho.
Recebo os jornais de algumas denominações e vejo um
gasto tremendo de papel e material de impressão com artigos
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

que não ed ificam em nada. Já vi, por exem plo, alguns


escritores gastando laudas e mais laudas com artigos contra
“bater palmas” nas igrejas.
Outros gastam tem po e dinheiro posicionando-se
contra determinadas formas de louvor e adoração. Líderes
denominacionais criticam outras denominações, e assim por
diante. Será que não percebem que o inimigo está por trás
disso tudo, fazendo com que percamos tempo, dinheiro e
oportunidades?
Se isso fosse reconhecid o, poderiam os usar essas
páginas com artigos que enriquecessem a vida espiritual dos
crentes e os m obilizassem a ganhar almas para Cristo.
Deveriamos estar promovendo a unidade espiritual dos
cristãos para o com bate ao inimigo, e não o contrário.
Conheci uma jovem que se apresentou à sua igreja
com o chamada para a obra missionária. A igreja investiu em
sua vida, preparando-a e dando-lhe todo o treinam ento
necessário. Depois, a enviou para o campo missionário. Mas,
ao chegar lá, ela revelou quem realm ente era.
Apostatou da fé e começou a se envolver em pecados e
a profanar o nome de Cristo. Desligou-se da igreja, mas
continuou naquele local para fazer um “trabalho social”.
Logo a ig reja enviou para o m esm o lo cal um ou tro
missionário e essa jovem agora está levantando uma forte
oposição contra o trabalho dele. Quem foi o autor de sua
chamada? A julgar pelos resultados, podemos constatar que
se trata de uma espiã de Satanás, que se opõe permanen­
tem ente contra a obra de Deus.
Certa ocasião, uma senhora me disse que foi consultar
seu pastor porque estava sentindo alguns ataques de Satanás
em sua vida espiritual. Aquele pastor lhe disse que o diabo
não existe, que não há inferno e que ela não deveria se
preocupar. Eu pergunto: quem chamou esse homem para o
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

ministério? Por que ele está no pastorado de uma igreja?


C ertam ente você sabe a resposta.
Numa das conferências em que fui pregai; uma jovem
mc disse que seu pastor era nascido de novo. Fiquei abismado
e lhe perguntei se conhecia algum pastor que não era nascido
de novo. Ela m c disse:
— Na minha denominação, de 300 pastores, apenas
50 declaram que nasceram de novo.
Fiquei pensando: onde estamos? O que está acontecendo
com as igrejas que se dizem cristãs?
Precisamos jejuar e orar para que venha um grande
avivamento, pois só assim poderemos ver quem realmente
pertence ao exército do Senhor. As igrejas irão pegar fogo, as
almas virão aos pés do Senhor e os crentes se multiplicarão,
porque haverá evangelização e discipulado.
Haverá manifestações dos verdadeiros dons espirituais.
Os sinais, milagres e maravilhas estarão confirm ando a
Palavra de Deus. Toda vez que ocorre um avivamento há
uma definição, pois os limpos ficam ainda mais limpos e os
sujos tornam-se mais im puros. O fogo separa o bom do mau.
Não estou me referindo a em oções m om entâneas
apenas, mas a um verdadeiro avivamento espiritual, em que
haja confissão de pecados, consagração genuína e um
profundo com prom etim ento com Deus, seu reino e sua
Palavra.
A Bíblia afirma em Joel 2: 28,29:

“E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e


os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos
velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Até sobre
os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu
Espírito”.

Oremos, santifiquemos nossas vidas, jejuem os e nos


consagremos para apressar a chegada desse dia.
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

A visão missionária
O pastor que tem convicção de sua chamada ministerial
deve ter também convicção do propósito missionário de Deus
para a sua igreja.
Não é possível separar um chamado ministerial de um
chamado missionário, pois a igreja é colocada por Deus para
exercer sua função integralm ente. Ela existe com essa
finalidade. Por isso o pastor, que é o líder da igreja, deve
possuir uma perspectiva ampla e profunda sobre missões.
Se a nossa função pastoral é levar a igreja ao centro da
vontade de Deus, devemos conhecer profundamente qual é
a vontade dele. Se examinarmos a Bíblia verificaremos que
o plano do Senhor é espalhar sua glória por todos os países.
Se você tem chamada para o ministério não se esqueça
de que tudo o que fizer, seja louvor, oração, adoração,
edificação, libertação etc., deverá ser dirigido para o propósito
final da igreja, que é fazer discípulos de todas as nações.
Certa vez alguém me perguntou:
— Em sua igreja só existe missões?
Eu respondí:
— Claro que sim.
Então a pessoa replicou:
— Quer dizer que nela não há escola dominical, louvor,
aconselhamento e as demais atividades que as outras igrejas
têm?
Eu disse:
— Claro que tem os tudo isso, mas dirigido para o
propósito final da igreja, que é missões mundiais. A nossa
escola dominical é missionária. O nosso coral é missionário.
Temos um forte trabalho com casais, para que tenham uma
vida bonita e missionária.
A verdade é que devemos ter claro em nossos corações
que os ministérios da igreja não são um fim em si mesmos,

A lt A
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

mas constituem -se em ferramentas para que a igreja execute


a tarefa para a qual foi estabelecida: fazer discípulos de todas
as nações.

Pastores contra missões?


A pergunta acim a o surpreende? E m bora pareça
estranho, isso é uma realidade. Há pastores que são contra a
obra missionária! Eu mesmo já ouvi alguns deles dizerem:
— Sou contra missões porque devemos concentrar o
nosso trabalho aqui.
Nessas ocasiões, sempre me pergunto: “Que bíblia esses
líderes usam?”. Na m inha está muito claro que Deus nos
manda fazer discípulos em todos os lugares.
Na convenção de uma certa denom inação alguém
apresentou uma proposta para aumentar a porcentagem do
orçam ento designada para missões mundiais.
Logo um pastor se levantou e disse:
— Eu sou contra! Há tanta gente para ser salva no Brasil,
temos tanto a fazer aqui, por que vamos investir cm outros
países? Eles que se virem!
Em seguida, um pastor maduro se levantou e disse ao
primeiro:
— Irmão, agradeça a Deus porque há cem anos os
irmãos da Europa e da América do Norte não pensavam
como você!
C em anos atrás, a Europa e a América do Norte não
estavam totalm ente evangelizadas. Havia muito trabalho a
ser executado, e até hoje ainda há. Porém, os missionários
obedeceram à visão celestial, deixaram o conforto de suas
famílias e vieram para nos trazer a mensagem da salvação.
Com o devemos agradecer a Deus pelos missionários
que vieram? Através da retribuição daquilo que recebemos!
Agora é a nossa vez de enviarmos missionários. Deus está
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

despertando a sua igreja na América Latina, na Ásia, na


África, em todo o mundo. Não podemos ficar fora desse
mover do Espírito Santo. As evidências são claras de que o
Senhor está preparando sua igreja para o arrebatamento. Por
isso, precisamos levar muito a sério a obra missionária.
Por outro lado, há alguns que dizem: “Deus me colocou
neste lugar para que eu exerça o ministério aqui”. Isso não
está correto. Eles deveríam dizer: “Deus me colocou neste lugar
para que eu exerça o ministério a partir daqui”. Qual é a base
para essa afirmação? E o perfeito entendimento de Atos 1:8:
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo,
e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como
em toda a judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
Deus nos manda alcançar desde Jerusalém até os confins
da terra. Uma igreja que só pensa em ganhar sua cidade ou
seu bairro, se esquecendo de missões mundiais, está fora da
vontade de Deus. Contrariam ente, outra igreja que só pensa
nos confins da terra e se esquece de sua Jerusalém, também
está fora da vontade divina.
A igreja deve exercer influência em sua cidade, em seu
estado, em seu país e no mundo todo. Gosto m uito de uma
frase de John Wesley, o fundador da Igreja M etodista, que
disse: “A minha paróquia é o mundo”.
O conceito de paróquia, para os metodistas, é a área
de atuação e influência da igreja. Aproveito e faço uma
pergunta a você, leitor: qual tem sido a atuação e influência
de sua igreja? O que o seu m inistério tem feito para a
evangelização do mundo?
Espero que a sua resposta não tenha sido: “Bem, às vezes
oramos por alguns missionários e, anualmente, enviamos uma
oferta para o departamento de missões da nossa denominação”.
A igreja que pastoreei tinha, uma vez por ano, o dia de
missões mundiais. Ao analisar a Bíblia, entretanto, cheguei
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

à conclusão de que a função básica da igreja é glorificar a Deus


e levar sua glória a todas as nações. A partir daquele momento,
ensinei que todos os dias devem ser dedicados às missões.
Em cada igreja local, Deus tem vocações missionárias
e nós, como pastores e líderes, devemos ser instrumentos dele
para despertar e incentivar essas vocações.
Precisamos iniciar em cada comunidade um movimento
sério dc oração em favor da evangelização do mundo. Com o
corpo de Cristo, devemos contribuir mensalmente com amor,
d esp ren d im en to e sa crifício para o su sten to da obra
missionária.
Cada igreja local deveria ter um forte ministério de
missões mundiais, concentrando nesse ministério todos os
seus esforços e recursos, que deverá receber total apoio de
todas as outras atividades ministeriais internas.
Pastor e líder, peça a Deus que abra a sua visão e lhe dê
as ferram entas necessárias para fazer de sua igreja uma
comunidade verdadeiramente missionária. Diariamente oro
para que Deus abra os meus olhos e me ajude a ver o mundo
com o Ele vê. Já dediquei minha vida, família e bens ao
Senhor para que Ele, use na evangelização do mundo.

Evidências de uma verdadeira


chamada de Deus
Quando uma pessoa possui uma verdadeira chamada
divina, algumas evidências são patentes no seu trabalho:

a) Há unção do Espírito Santo


Quando Deus cham a alguém, ele o capacita para o
ministério. O poder do Espírito Santo é para todo cristão;
para aqu ele que está no m inistério, con tu d o, há uma
capacitação sobrenatural. Essa unção será reconhecida por
meio dos frutos ministeriais.
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

b) Há o reconhecimento da igreja
Os m em b ro s da ig reja re c o n h e c e m os qu e são
verdadeiramente chamados por Deus. Tenho pregado em
diversas conferências missionárias e muitas vezes converso
com jovens que dizem ter um chamado especial para missões.
Eu sempre lhes pergunto:
— O que a sua igreja pensa sobre o seu chamado?
Essa pergunta tem uma razão. A igreja sabe quem
realmente tem a chamada de Deus para o ministério, e isso é
possível por intermédio dos frutos de seu trabalho.
Havia um jovem, membro de minha igreja, que nunca
me disse que tinha um chamado, mas eu, como seu pastor,
sabia que Deus o estava separando para o trabalho ministerial.
Podia observar isso pelo seu testem unho de vida, por suas
atitudes e pelos frutos de seu ministério. Hoje ele é um pastor,
exercendo com excelência a sua missão.

c) Haverá autoridade espiritual


A igreja respeita a pessoa que tem um verdadeiro
chamado para o ministério. O líder que o possui não precisa
forçar ou impor sua posição. Ao contrário, sua liderança se
evidenciará naturalmente e as pessoas o seguirão.
E muito bom que saibamos disso, pois a autoridade
espiritual nunca deve ser imposta. Ela surge naturalmente,
com o resultado da vida e da atitude ministerial do líder.
Quando isso for evidente, o povo aceitará sua liderança.
Isso não quer dizer, contudo, que ele nunca enfrentará
oposições. Temos um inimigo que está sempre procurando
destruir nosso m inistério e poderá levantar movimentos
oposicionistas e contendas. Todavia, se houver autoridade
espiritual, ele não prevalecerá.

d) Haverá um sentido de realização e propósito


Tanto o líder com o os liderados se sentirão felizes e

* 3W»
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

realizados quando a cham ada m inisterial for verdadeira.


E xistem várias igrejas onde reina certa frustração,
porque o pastor não foi colocado por Deus. Ele próprio se
sentirá frustrado e, por conseguinte, os liderados também se
sentirão.

Cuidado com a motivação errada


Há segredos íntim os dentro do nosso coração, os quais
somente Deus conhece. Por mais que alguém seja transparente,
há, em seu interior, coisas secretas que ele levará consigo
para o túmulo.
Um desses segredos mais bem guardados é a motivação
para se fazer as coisas. Apenas Deus sabe os motivos íntimos
do coração de um hom em . Por mais que ele faça trabalhos
altruístas e filantrópicos, mesmo dizendo o porquê de os estar
fazendo, ninguém pode conhecer a verdadeira realidade de
suas motivações, a não ser o próprio Deus.
Por isso, quando entram os nesse cam po, sabem os
tam bém que som ente o Senhor, por interm édio de sua
Palavra, pode nos ajudar a discernir nossas motivações. Aí
está a razão de o autor da carta aos Hebreus ter dito:

“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do


que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto
de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há
criatura alguma encoberta diante dele. Todas as coisas estão
nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de
prestar contas” (Hebreus 4:12,13).

Pensemos um pouco. Deus tem uma palavra que é viva,


poderosa e penetrante até o mais profundo do nosso íntimo.
Ela é apta para discernir as intenções do nosso coração. A
palavra para discernir, no original grego, é kritikos, que é a
raiz da nossa palavra “crítica ” e tem o sentido de julgar.
A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO

Veja que interessante: a Palavra de Deus é poderosa para


criticar e julgar as in ten ções do nosso coração. D aí a
im portância de con tin u am en te exam inarm os as nossas
m otivações. Tendo isso em vista, alguns passos podem
facilitar a correção da nossa rota ministerial:

a) Analise sua motivação


Deus conhece sua motivação. Em Hebreus 4:13, a Bíblia
diz que tudo está claro e patente aos olhos daquele a quem
devemos prestar contas.
Tenho visto igrejas se dividirem e os grupos resultantes
da divisão começarem a trabalhar e a fazer as coisas corretas,
no intento de servir. Lá no fundo pode-se divisar, contudo,
que a idéia que os está motivando é mostrar ao outro grupo
que são mais capazes e têm a bênção de Deus.
Algumas frases mostram uma motivação errada:

— Eles vão saber quem somos nós.
— Vamos mostrar a eles do que somos capazes.
— Vamos ensinar a eles como é que se trabalha.
Nunca se esqueça de que Deus está vendo sua motivação.
Ele sabe se você está fazendo as coisas para alcançar posições
e em benefício de seus interesses pessoais, tentando mostrar
aos outros do que é capaz, ou se trabalha com humildade,
porque a Palavra assim recomenda.
Se houver motivações erradas, o Senhor não irá operar
e o ministério ficará estéril. Não haverá frutos, porque Deus
pesa na balança os motivos.

b) Peça ao Espírito Santo que o convença


A melhor forma de você conhecer suas motivações é
pedir ao Espírito Santo que abra seu coração e lhe mostre o
que está certo e o que está errado. Peça a Ele que o ajude na
resposta às seguintes perguntas:
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

— Por que estou fazendo isso?


— O que pretendo alcançar com isso?
— Quais as vantagens para o reino de Deus?
— Vale a pena o investim ento com parado com os
resultados?
— Terei vantagens pessoais?

c) Arrependa-se
Sc descobrir motivações erradas, não titubeie. Arrependa-
se, peça perdão a Deus e faça um novo propósito de vida e
ministério, dentro das motivações corretas. Faça aquilo que
a Palavra claramente determ ina, com o propósito de agradar
ao Senhor e glorificá-lo.

d) Fique alerta
Satanás é persistente e continuará tentando colocá-
lo fora das m otivações de Deus. Fique de olho aberto e,
com discernim ento espiritual, toda vez que for planejar ou
viabilizar alguma visão de Deus, cheque sua motivação.
D eus cham a e ca p a cita vidas para o m in istério .
Devem os analisar se o que tem os feito tem sido digno
dessa cham ada e dessa capacitação. Não devemos esperar
grandes e x p e riê n c ia s e m o cio n a is para e x ercer nossa
missão.
Se Deus tem colocado em seu coração amor, cuidado
e responsabilidade por algum ministério específico é porque
Ele quer usá-lo nesse setor. Por isso, dedique com pletam ente
sua vida. Viva em san tid ad e, p orqu e o pecad o é um
im p ed im en to para que D eus o use. Peça a D eus que
diariamente o encha com o poder do Espírito Santo e exerça
o seu ministério em nome do Senhor Jesus Cristo.
3

Há duas ferram entas básicas para a execução efetiva


do m inistério: a Palavra de Deus e o poder do Espírito
Santo. Se quisermos ser bem -sucedidos, devemos estudar a
Palavra e sermos revestidos de poder.
Jesus teve um encontro m uito interessante com um
grupo de homens: os saduceus (nome derivado possivelmente
de Zadoque), ricos aristocratas, poucos em número, mas
m uito poderosos e influentes.
Eles se tornaram colaboradores dos romanos, aceitando
o sumo sacerdócio por nom eação. Eram p oliticam en te
conservadores e biblicam ente liberais. Aceitavam a doutrina
que afirmava não haver ressurreição dos mortos. Eles foram
conversar com Jesus com o intuito de ridicularizá-lo diante
de todos. Vejamos o relato bíblico:
“Naquele mesmo dia vieram a ele os saduceus, que dizem
não haver ressurreição, e o interrogaram: Mestre, Moisés
disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, seu irmão casará
com a mulher dele e suscitará descendência a seu irmão.
Ora, houve entre nós sete irmãos. O primeiro casou e morreu
e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

A mesma coisa aconteceu com o segundo, e o terceiro, até


o sétimo. Por fim, morreu também a mulher. Portanto, na
ressurreição, de qual dos sete será ela mulher, visto que
todos a possuíram? Respondeu-lhes Jesus: Errais, não
con h ecen d o as E scritu ras, nem o p od er de D eu s”
(Mt 22:23-29).

Parece que eles não estavam realm ente interessados na


resposta de Jesus, mas, sim, em colocá-lo numa situação difícil
diante dos outros. A in tenção deles era desm oralizar o
ministério do Senhor.
No entanto, mal sabiam eles o teor da resposta que
receberíam. Não quero entrar aqui no aspecto da ressurreição,
mas me ater apenas no verso 29, que nos traz uma séria lição
para o ministério:

“R espon deu -lhes Jesus: Errais, não con hecen do as


Escrituras, nem o poder de Deus”.

Primeiro Jesus lhes disse: errais. A palavra, no original,


significa: “desvio, engano, sair da verdade”. Quantos de nós
estamos errando, nos desviando e sendo enganados por não
conhecerm os essas duas coisas básicas: as Escrituras e o
poder de Deus.

Quatro tipos de igrejas:


As que não conJnecem as Escrituras,
nem o poder de Deus
Há igrejas que estão nessa situação. Não sabem nada
sobre a Palavra, desconhecem os ensinos das Escrituras e os
princípios bíblicos, e tam bém estão alheias à atuação do
poder de Deus.
Elas sabem que existe um Deus, mas nunca tiveram uma
experiência pessoal com Ele. Para esse tipo de igreja, Deus
está muito longe, tão distante que se torna sempre inacessível.
PALAVRA E PODER

As que conhecem as Escrituras,


mas não conhecem o poder de Deus
Essas orgulham-se de ser as portadoras e defensoras da
“sã doutrina”. C onhecem , de fato, as doutrinas básicas e se
prendem a elas com unhas e dentes. Memorizam versículos
e conhecem as histórias da Bíblia. Doutrinariam ente são
corretas, mas têm a fraqueza de não conhecer o poder de
Deus.
Nos anos 60, em ergiu o m ovim ento de renovação
espiritual no Brasil. Naquela época, vimos o movimento
evangélico correr para dois pólos extremos. D e um lado,
vimos os líderes de igrejas históricas optarem para um
tradicionalismo extremado.
Eles criticavam os demais irmãos, dizendo que os dons
espirituais não eram para a nossa época, que ninguém
poderia ter uma experiência pessoal com o Espírito Santo e,
dessa forma, procuravam oferecer explicações psicológicas
para os fenômenos que aconteciam .
No o u tro e x tre m o , su rgiram as ig re ja s qu e se
especializaram em emoções, no uso dos dons e na busca de
milagres, apresentando fortes críticas aos grupos tradicionais.
Foi nessa ocasião que surgiram as igrejas renovadas.
L e m b ro -m e de que haviam os b a tista s e os b a tista s
renovados, os presbiterianos e os presbiterianos renovados,
os m etodistas e m etodistas renovados. Ao ler um jornal
evangélico, vi uma citação com o nom e de uma igreja
pentecostal renovada. Logo pensei: “até os pentecostais se
dividiram por causa da doutrina do Espírito San to !”.
As igrejas mais históricas ficaram tão arredias aos
ensinos sobre o Espírito Santo que imagino que, no dia de
batismo, o pastor dizia: “eu te batizo em nome do Pai, do
Filho e da terceira pessoa da trindade, am ém ”, somente para
não citar o Espírito Santo. Percebi que o diabo sempre quer
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

nos levar aos extremos. Algumas delas ainda permanecem


assim. Possuem conhecim ento das Escrituras, mas não têm
dado ênfase a uma vida cheia do Espírito Santo.
Certa vez fiz este comentário em uma conferência e um
pastor, muito conservador em suas convicções doutrinárias,
me fez a seguinte pergunta:
— Pastor Edison, é possível conhecer as Escrituras sem
conhecer o poder de Deus?
Percebi que sua pergunta era para afirmar que, se
conhecem os as Escrituras, autom aticam ente conhecem os o
poder de Deus.
Minha resposta foi dada com algumas outras perguntas:
— As testem unhas de Jeová conhecem as Escrituras?
— Os mórmons conhecem as Escrituras?
Ele se convenceu de que pode haver um conhecim ento
intelectual das Escrituras sem que haja uma experiência com
o poder do autor delas.

As que conhecem o poder de Deus,


mas não conhecem as Escrituras
Essas são as igrejas formadas por pessoas que realmcnte
tiveram experiências pessoais com Deus, conhecem seu poder,
exaltam esse poder e levam outras pessoas a experimentarem
a realidade dele. Contudo, têm um problema: não conhecem
as Escrituras, que orientam e direcionam o uso do poder.
São igrejas que vivem na base das emoções. Seus cultos
são carregados de experiências em ocionais, o povo gosta
delas, mas não cresce espiritualmente. Há muitas profecias
e manifestações dos dons espirituais, porém, pela falta de
disciplina no uso desses dons, muitos acabam se perdendo e
tendo o seu desenvolvimento espiritual prejudicado.
Um outro problema, comum nesse tipo de igreja, é que
nelas m uitos são movidos por profecias. Para qualquer
PALAVRA E PODER

decisão a ser tomada, consultam um profeta. Não vivem pela


fé, mas por vista (ou pelo ouvido).
A grande dificuldade em igrejas como essas é que elas
são inconstantes e superficiais na doutrina. Formam crentes
ousados, consagrados, mas sem propósitos e direção ministerial.
Crescem m uito em número, mas a porta de saída nos fundos
é maior do que a de entrada. C om a mesma facilidade que
as pessoas entram, elas saem. E simplesmente despropositado
o número de desviados de igrejas que não têm uma base
doutrinária sólida.
Em certa ocasião, fui pregar numa dessas igrejas e as
frases que mais saíam da boca dos pastores e líderes eram
mais ou menos assim: “estou sentindo...”, “estou tendo uma
visão...”, “Deus está me mostrando...” etc. Poucas vezes ouvi
algum deles dizer: “vamos abrir a Bíblia” ou “vamos estudar
a Palavra de D eus”.

As que conhecem as Escrituras


e também o poder de Deus
Essas igrejas con stitu em -se no m odelo ideal. São
edificantes e equilibradas, conhecem as Escrituras, possuem
sólid as b ases b íb lic a s e são d o u trin a ria m e n te b em -
estruturadas. Para completar, têm tam bém um profundo
conhecim ento do poder do Espírito Santo.
A grande vantagem dessas igrejas é que elas têm uma
base concreta onde se apoiar. São conservadoras, no sentido
de não abrir mão das doutrinas básicas. Há segurança entre
os membros, pois sabem que estão firmados e dirigidos nos
trilhos da Palavra de Deus.
Uma outra grande vantagem é que elas não são frias,
calculistas e presas à letra, e têm manifestações genuínas do
Espírito. Por isso, os seus membros amadurecem e crescem
em suas experiências com Deus.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Quando uma igreja conhece a Palavra de Deus, mas


não conhece o poder do Espírito Santo, os crentes ficam
debaixo de forte opressão, uma vez que não têm poder
espiritual para aplicar os princípios bíblicos em suas vidas.
Por sua vez, quando uma igreja conhece o poder do
E spírito, mas não co n h ece a Palavra, os crentes ficam
improdutivos, porque não sabem o que fazer com o poder
concedido, já que não possuem a direção das Escrituras.
Entretanto, quando uma igreja conhece a Palavra e o
poder, a vitória é garantida. Os crentes têm a capacitação
do Espírito Santo para seguir e obedecer à Palavra, e, ao
mesmo tempo, possuem a Palavra para direcionar o uso desse
poder.

A necessidade de igrejas equilibradas


I lá uma urgente necessidade de igrejas equilibradas,
que têm discernim ento e maturidade para não se deixarem
levar por novidades e ventos de doutrinas.
C om tantos desvios doutrinários, com tanta frieza
espiritual, com tanto legalismo e com tanta falta de milagres,
precisamos de igrejas cheias do Espírito Santo, onde o fogo
de Deus seja visto e sentido, mas onde tam bém a Palavra
seja honrada e pregada.
Vamos recorrer à Bíblia para encontrar uma igreja
equilibrada que possa servir de modelo para nós. Vejamos a
igreja de Tessalônica.

“Paulo, Sílvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em


Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam
dadas. Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo
menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem
cessar da obra da vossa fé, do vosso trabalho de amor e da
vossa firmeza de esperança em nosso Senhor Jesus Cristo,
diante de nosso Deus e Pai, reconhecendo, irmãos, amados
PALAVRA E PODER

de Deus, a vossa eleição, porque o nosso evangelho não foi


a vós somente em palavras, mas também em poder, e no
Espírito Santo, e em plena convicção, como bem sabeis
quais fomos entre vós, por amor de vós.
E vós vos tornastes nossos imitadores, e do Senhor, tendo
recebido a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito
Santo. De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis
na Macedônia e na Acaia. De vós fez-se ouvir a palavra do
Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também
em todos os lugares. A vossa fé para com Deus se espalhou,
de tal maneira que não temos necessidade de falar coisa
alguma, pois eles mesmos anunciam de nós qual a entrada
que tivemos entre vós. Dizem-nos como vos convertestes
dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro,
e aguardardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou
dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira
vindoura’’ (lTs 1:1-10).

Espero que você esteja dizendo “aleluia”, “glória a Deus”,


ou ainda um grave “amém”, após a leitura destes versos. Que
tremenda igreja! Confesso que cada vez que leio este trecho
da Palavra fico impressionado com as características da
igreja em Tessalônica. Vou destacar algumas:

Primeira característica
Em primeiro lugar, ela era uma igreja que tinha o tripé
“fé, amor e esperança” (v. 3), que Paulo tanto menciona em
suas cartas, como três faróis que a direcionavam em meio à
escuridão. Todavia, é importante ver que essa fé, esse amor e
essa esperança não eram coisas ab stratas, con h ecid as
somente na área da contemplação, mas, notem no texto, que
Paulo adjetiva cada uma delas, com firmeza.
Em outra versão, o texto se refere a uma fé operosa, ou
seja, não era uma fé abstrata, mas, sim, uma fé que produzia
fruto de trabalho. Precisamos desse tipo de fé, que nos leve a
uma prática coerente com a nossa crença.

4H »
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Da mesma forma, o amor que os tessalonicenses tinham


não era apenas de palavras, mas demonstrado em atitudes
práticas. Em sua segunda carta a essa igreja, Paulo afirma:
“E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem ” (2Ts 3:13),
como se estivesse dizendo: “Continuem tendo este amor
abnegado”.
Esperança é uma das qualidades mais atacadas pelas
ondas emocionais do ser humano, mas a esperança cristã
vence os ataques porque é embasada na fé e nas promessas
de Deus. Essa igreja tinha uma esperança firme, e não se
deixava levar pelas emoções.

Segunda característica
Em segundo lugar, os tessalonicenses constituíam uma
igreja que im itava o Senhor Jesus C risto (v. 6 ). Essa
característica é fundamental para os nossos relacionamentos
e o nosso testem unho diante do mundo. Se uma igreja imita
a Cristo, o fruto será visível na sua maturidade, trabalho e
crescimento.

Terceira ca racterística
Ela era uma igreja modelo para as outras (v. 7). I lá
igrejas que são referenciais para outras, mas precisamos
examinar que tipo de referenciais elas constituem, pois vemos
gente que está copiando métodos de outras igrejas, muitas
vezes sem passar pelo crivo da Palavra de Deus.
Quando se pergunta a alguém qual a característica de
uma igreja modelo, a primeira resposta que obtemos sempre
se relaciona com o número de m em bros, se tem ou não
programa de televisão, quantos ônibus possui etc. Precisamos
urgentem ente verificar qual o modelo bíblico de igreja que
devemos seguir. Tessalônica é uma delas.
PALAVRA E PODER

Quarta característica
Pregar a Palavra de Deus. Os tessalonicenses sabiam
que tinham de fazer isso (v. 8). Essa igreja proclamava e
divulgava sua fé em Deus, e o fazia de tal forma que deixou o
apóstolo Paulo sem trabalho. Ainda no mesmo versículo, Paulo
afirmou: “de tal maneira que não temos necessidade de falar
coisa alguma”. Tessalônica realmente era um modelo.
Qual era o motivo de sua excelência? Entre outras
coisas, ela foi fundada por homens marcados pelo fogo e
forjados pela Palavra de Deus. Segundo o livro de Atos dos
Apóstolos, Paulo e Silas fundaram aquela igreja em apenas
três sábados. E isso mesmo que você acaba de ler. Três sábados
foram suficientes para a fundação de uma igreja daquele
porte.

Vida equilibrada: o segredo


Qual o segredo destes homens de Deus para terem um
ministério tão efetivo? A resposta é que eles eram líderes
que tinham uma vida equilibrada, nos itens palavra e poder.
O versículo 5 nos ajuda a entendermos o porquê.
“Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em
palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em
plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós,
por amor de vós.”

Fico impressionado com a inspiração do Espírito Santo


para as Escrituras. O que mais chama a minha atenção neste
texto é que, em meio a esses elogios e palavras de ânimo de
Paulo, aparece o versículo 5, que poderia até estar entre
parênteses, porque não se refere à igreja em si, mas sim à
forma como ela foi fundada.
Louvo a Deus por ter inspirado Paulo a escrever esse
verso, porque ele me ajuda, como pastor e líder, a entender

59
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

que é possível termos um ministério efetivo e igrejas do


mesmo nível da de Tessalônica.
Paulo apresenta três formas pelas quais o evangelho
chegou até lá. Podemos extrair delas três características do
líder eristcão.

O evangelho pregado no poder


do Espírito Santo
O evangelho apresentado por Paulo não foi apenas em
palavras, mas também cm poder, e no Espírito Santo. Embora
a Palavra deva ser apresentada verbalmente, seus resultados
não devem ser som ente o produto de convicções humanas.
Há a necessidade de um poder sobrenatural que possa mudar
o interior do ser humano. E por essa razão que o evangelho é
o poder de Deus.
Paulo, referindo-se a seu ministério, deixou bem claro
que ele estava fundamentado na unção do Espírito Santo:
“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras
ou de sabedoria” (IC o 2:1).
'A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em
palavras persuasivas de sabedoria hum ana, mas em
demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não
se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”
(IC o 2:4,5).

Se quisermos ter ministérios que apresentem resultados


efetivos para o reino de Deus, precisamos da plenitude do
Espírito Santo. Caso contrário, nossas pregações e convicções
de nossos liderados estarão baseadas somente em palavras de
sabedoria humana. Que tremenda responsabilidade pesa sobre
nossos ombros como pastores e líderes!
O pastor Gerson Pinto, da Igreja do Nazareno em Natal,
PALAVRA E PODER

RN, me contou uma história m uito interessante sobre a


unção do Espírito Santo em sua vida:
“Quando eu estava no seminário, num dos cultos para
os alunos, todos estavam reunidos, inclusive os professores.
Um de meus colegas estava escalado para pregar naquela
manhã. Ele subiu ao púlpito, fez a leitura bíblica, olhou para
o a u d itó rio e, sem dizer q u a lq u er palavra, lágrim as
começaram a correr em sua face. De repente todo o auditório
co m eço u a chorar e, um a um , todos ajo elh a ra m -se,
confessando pecados. Elouve um tremendo quebrantamento
e um derramar do Espírito extraordinário. Naquela manhã
Deus, confirmou meu chamado para o m inistério”.
A verdade é que temos a tendência de complicar as
coisas simples de Deus. A Bíblia afirma que devemos viver
constantem ente cheios do Espírito Santo. Em Gálatas 5:16,
Paulo afirma:
“Digo, porém: Andai no Espírito, e não satisfareis à
concupíscência da carne”.

A ordem aqui é “andai”, ou seja, viver constantem ente


controlado e fortalecido pelo Espírito Santo. John Stott
explica que basta estarmos indo constantem ente à fonte que
é Jesus, e viveremos nessa plenitude, pela fé:

“ ...preste atenção na disparidade que há entre a água


que bebemos e a água que transborda. Conseguimos
beber somente pequenos goles, mas, à medida que
continuamos vindo, bebendo, crendo, pela atuação
poderosa do Espírito Santo em nós, nossos pequenos
sorvos são multiplicados em uma confluência poderosa
de correntezas caudalosas: ‘rios de água viva’ fluirão de
nós. Esse é o transbordamento espontâneo dos cristãos
cheios do Espírito, para a bênção de outras pessoas.
Todavia, não existe nenhum meio de garantir um fluxo
de entrada e saída de água constante, a não ser iria Jesus
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

e beber dele continuamente. Isso porque a plenitude do


Espírito deve ser apropriada pela fé” (Batismo e Plenitude
do Espírito Santo, Vida Nova).

O evangelho em plena convicção


Em segundo lugar, Paulo nos ensina que o evangelho
chegou a Tessalônica “em plena convicção”, o que indica que
ele conhecia e cria firmemente na mensagem que pregava.
Vivemos dias nos quais o ataque às doutrinas bíblicas
tem sido mais ferrenho do que nunca. Se estudarmos a
história da igreja, verificaremos que, no início, Satanás se
levantava abertam ente contra a pregação do evangelho,
promovendo perseguições. Na atualidade, no entanto, ele
tem usado a estratégia de infiltrar doutrinas aparentem ente
respaldadas na Bíblia, que são, na realidade, totalm ente
desviadas da verdade revelada.
Por exem plo, existem sem inários que, deixando a
ortod oxia, estão prom ovendo o lib eralism o teológ ico,
afirmando que a Bíblia contém a Palavra de Deus. Evidente­
mente não podemos concordar com essa afirmação, pois a
Bíblia é a Palavra de Deus.
Precisamos de homens e mulheres de Deus, que sejam
pessoas comprometidas com essa Palavra. Para isso, é preciso
lermos, memorizarmos, estudarmos, meditarmos na verdade
revelada e investirmos o melhor de nosso tempo para o Senhor.
Percebo que alguns pastores e líderes têm pregado um
evangelho de conveniências, usando de palavras lisonjeiras
e tendenciosas, simplesmente com o objetivo de agradar seus
ouvintes. Paulo profetizou isso quando estava instruindo seu
discípulo Tim óteo:

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina;


mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres,
segundo as suas próprias cobiças” (2Tm 4:3).
PALAVRA E PODER

Ao que parece, o apóstolo estava tendo uma visão de


nossas igrejas neste final de século. E como se ele estivesse
assistindo a alguns dos pregadores de televisão de nossa época
e antevendo a chamada “teologia da prosperidade”.
Não é preciso muito esforço para percebermos que hoje
existem igrejas que se encaixam perfeitam ente no conteúdo
desse texto. Elas não conseguem e nem querem suportar a sã
doutrina.
Onde estão os pastores e líderes que pregam sobre a
m orte do eu, o negar-se a si m esm o, a bênção que é o
sofrim en to, os propósitos de D eus nas trib u la çõ es, o
compromisso com o reino, a santidade, a obediência e tantas
outras coisas semelhantes a essas? O que vemos são pregações
anestésicas, cjue simplesmente massageiam o ego e agradam
os ouvidos. E hora de voltarmos para a Palavra de Deus e
pregarmos o evangelho verdadeiro.
Precisamos de pregadores que sejam expositores das
Escrituras, que sejam verdadeiros despenseiros e distribuam
o verdadeiro alim ento espiritual para o povo de Deus. John
Stott, ao falar sobre o perfil do pregador, afirmou:
“A pregação é uma ‘manifestação’, fanerôsis da verdade
registrada nas Escrituras. Por isso, todo sermão deveria
ser, de algum modo, expositivo. O pregador pode usar
ilustrações da área política, ética e social para tornar mais
fortes e atraentes os princípios bíblicos que ele está
desenvolvendo, mas o púlpito não é lugar para o
comentário político, exortação ética ou debate de temas
sociais por si só. Nosso dever é pregar a ‘Palavra de Deus’
(Cl 1:25); nada mais do que isto.
Além disto, somos chamados a pregar a Palavra de Deus
em toda a sua abrangência. Essa era a am bição do
apóstolo Paulo. Ele reconhecia que sua missão de
despenseiro consistia em fazer a Palavra de Deus
plenamente conhecida, isto é, pregá-la de forma infçgral
e completa. Ele pôde, realmente, dizer na presença dos
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

anciãos da igreja de Èfeso: ‘pois nunca deixei de vos


anunciar todo o conselho de Deus’ (At 20:27).
Poucos pregadores podem fazer uma afirmação dessas!
C ostum am os escolher a dedo as passagens das
Escrituras, ficando com nossas doutrinas favoritas e
deixando de lado aquelas das quais não gostamos, ou
que são difíceis para nós. Assim procedendo, nos
tornamos culpados de sonegar algumas das provisões
que o Pai, em sua riqueza e sabedoria, destinou à sua
fam ília. Alguns não apenas tiram , mas tam bém
acrescentam coisas às Escrituras, enquanto outros
ousam contradizer o que está escrito na Palavra de
Deus” (O Perfil do Pregador, Sepal).

O evangelho evidenciado por um


com portam ento condizente
Entretanto, o apóstolo não se referiu tão-som ente ao
b in ô m io palavra/poder. E le ta m b é m m e n cio n o u o
com portam ento do pregador, afirmando, em terceiro lugar:
“como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós” (v. 5).
O com portam ento do pregador deve ser condizente com a
sua pregação.
Se não houver coerência entre o que pregamos e o que
vivemos, além de estarmos mostrando uma grande hipocrisia,
estaremos depreciando a pregação do evangelho. Richard
Baxter, falando a pastores, exorta-nos a viver o que pregamos:

"Se as nossas ações se tornam uma mentira para as


nossas línguas, o que podemos edificar em uma ou duas
horas de discurso, poderemos destruir numa semana
com as nossas mãos. E desse modo que se faz com que
os homens achem que a Palavra de Deus não passa de
um conto ocioso e que a pregação não pareça melhor
do que qualquer tagarelice. Ora, aquele que de fato põe
sentido no que fala, certamente age de acordo com o
que fala” (O Pastor Aprovado, PES).
PALAVRA E PODER

A autoridade do apóstolo Paulo vinha de uma vida de


santidade. Ele tinha ousadia para dizer: “como bem sabeis
como atuamos entre vocês”. E tremendo quando um líder
pode dizer a seus liderados: “vocês podem ver minha vida”.
Vale a pena repetir as três características do líder cristão.
Ele deve apresentar:
• o evangelho pregado no poder do Espírito Santo;
• o evangelho em plena convicção;
• o evangelho evidenciado por um com portam ento
condizente.
Seria bom que você interrompesse um pouco a leitura
e fizesse um exame íntim o de seu coração. Responda às
seguintes questões:
Você está vivendo ch eio do E sp írito San to? Há
manifestações de poder em seu ministério? Vidas estão sendo
transformadas? O inimigo está furioso? Você tem pregado a
Palavra de Deus com convicção?
Seus ensinos estão apenas agradando aos ouvintes?
Você tem medo das reações ao pregar abertam ente o que
diz a Palavra de Deus? Sua vida está sendo coerente com as
Escrituras? Você tem um bom testem unho diante da igreja e
da sociedade? O que os outros dizem de você? O que Deus
diz de você?
Medite em cada resposta e decida ser um homem ou
mulher de Deus, sempre servindo e agradando a Ele.
“Senhor Deus, são tantas as pressões para nos desviar
dos propósitos que determ inaste para tua igreja, e
reconhecemos que muitas vezes caímos neste desvio. Mas,
como pastores e líderes do teu rebanho, queremos pedir
que nos ajudes a sermos coerentes em nossos ministérios.
Confessamos que precisamos da unção e do poder do
Espírito Santo, e pedimos que tomes o controle de nossas
vidas e nos dê a plenitude do Espírito. Reconhecemos que
precisamos conhecer mais profundamente tua Palavra, e
pedimos que tu nos ajudes a investir tempo nela. Como
resultado, queremos ter um bom procedimento. Dá-nos uma
vida de santidade, para a glória de teu nome. Em nome de
Jesus Cristo, amém”.
4
ORAÇÃO

“Ouanto a mim, longe de mim que eu peque contra o


Senhor, deixando de orar por vós”
ISm 12:23

A oração tem sido tema de diversos livros, palestras e


sermões. Muitas páginas são impressas com o intuito de
ensinar, revelar e ajudar os cristãos a serem mais efetivos nessa
área. /

E com u m vários au tores p recon izarem posições


extremas. Alguns, no afã de dar prioridade a tais posições,
levam seus seguidores a uma visão tão legalista que o ato de
orar acaba se tornando um peso e uma enorme fonte de culpa,
em vez de privilégio.
No outro extrem o estão os que, com o desejo de
amenizar o sentim ento de culpa, ensinam que a oração não
precisa ser perseverante nem ocupar lugar importante na
vida cristã.
Uma vez mais proponho a noção de “equilíbrio", a fim
de ajudá-lo a aprofundar-se mais em sua vida de oração sem,
contudo, permitir que ela se transforme numa fonte de culpa
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

em seu relacionamento com Deus. A seguir, veremos alguns


princípios bíblicos que nos ajudarão a entender melhor a
prática da oração:

A oração é necessária
Jesus é e sempre será o modelo de vida que devemos
imitar. A vida cristã consiste no esvaziamento do nosso eu,
do nosso velho homem, da nossa velha natureza. A vida cristã
é o preenchim ento de todas as áreas de nossa existência com
o caráter de Cristo.
O Senhor nos ensinou com palavras e ações. Sua vida
de oração não era proclamada, pois Ele nunca disse: “Vejam
com o eu o ro ”. No e n ta n to , sem pre surpreendia seus
discípulos quando orava.
Lucas, o médico amado, mostrou o lado da vida íntim a
de Jesus com o Pai e ensinou muitos princípios sobre a oração.
Em seu relato sobre a escolha dos doze, mostrou que Cristo,
antes de escolher os discípulos, passou a noite em oração:

“Naqueles dias subiu ao monte a fim de orar, e passou a


noite em oração a Deus. Quando já era dia, chamou a si
os discípulos, e escolheu doze dentre eles, a quem também
deu o nome de apóstolos” (Lc 6:12,13).

Veja como é importante nos isolarmos quando devemos


tomar decisões especiais em nossas vidas. Nesses momentos,
é necessário que saibamos claram ente qual é a vontade do
Pai, livres de quaisquer interferências.
Todavia, não se trata apenas de “retirar-se” para orar. E
de suma importância dedicar um bom tempo a Deus. O texto
diz que Jesus passou a noite toda em oração. Devem os
tam bém tomar cuidado para não nos sentir culpados por não
estarmos sempre passando noites em oração.
A Bíblia deixa bem claro que Jesus não passava todas as
ORAÇAO

noites em oração, mas fazia isso em ocasiões especiais,


quando havia uma necessidade premente. Isso nos ensina
que, de acordo com a situação, nossa oração deve ser
perseverante. Aliás, os ensinos de Jesus nos mostram que
devemos ter intim idade com Deus para que possamos
importuná-lo com as nossas orações.
“Então ele lhes disse: Oual de vós terá um amigo e se este
for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-
me três pães, porque um meu amigo chegou de viagem a
minha casa, e não tenho o que lhe apresentar. Se ele,
respondendo de dentro, disser: Não rne importunes, a porta
já está fechada, e os meus filhos estão comigo na cama.
Não posso levantar-me para lhe dar os pães. Digo-vos que,
ainda que não se levante a dar-lhe os pães, por ser seu
amigo, levan tar-se-á, todavia, por causa da sua
importunação, e lhe dará tudo o de que ele necessitar. Por
isso vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei,
e abrir-se-vos-á. Pois qualquer um que pede recebe; quem
busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á” (Lc 11:5-10).

Jesus nos mostrou que devemos importunar a Deus


com as nossas petições quando oramos. Algumas vezes o
Senhor nos dirige a fazer uma oração de entrega, para que
coloquemos nossa preocupação em suas mãos. Quando isso
acon tece, não devemos mais insistir, mas, sim aguardar
pacientem ente o que Ele quer fazer. Em outras ocasiões,
entretanto, o Espírito Santo nos leva a persistir na oração,
até que recebamos aquilo que Deus deseja nos dar.
E evidente que sempre devemos levar em consideração
o princípio de que Deus é soberano em sua vontade e não
vai nos responder afirmativamente a tudo que lhe pedirmos.
Em alguns casos, portanto, devem os persistir em
oração. Todavia, isso não deve ser um peso em nossa vida
cristã. C om base nessa perspectiva, vamos exam inar o
segundo princípio da oração.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Não deve ser uma obrigação


Jesus nunca ensinou que se você não orar estará
pecando. O que Ele realm ente ensinou é que a oração deve
ser algo natural em uma vida comprometida com Deus.
Charles Swindoll, ao escrever acerca da oração, teve a
ousadia de criticar alguns homens, líderes considerados piedosos
e reconhecidos mundialmente por fazerem da oração uma
obrigatoriedade. Após citar uma lista desses homens, afirmou:
“Todos eles grandes homens, exemplos magníficos, e,
no entanto, quase não encontramos nenhum deles que
estivesse satisfeito com sua vida de oração. É verdade
que lutaram em oração; eles acreditavam nela, e
pregavam sobre ela... mas por que tão insatisfeitos? Por
que o senso de culpa? Ou de frustração? E, para alguns,
por que o senso de vergonha? Eu lhes pergunto, por quê?
Mesmo correndo o risco de parecer herético, quero
afirmar que estou convencido de que, durante vários
séculos, os cristãos têm emprestado à oração uma
função que nunca lhe foi atribuída por Deus. Acredito
que nós mesmos a tornamos difícil, árdua e penosa.
Essa falsa imagem da oração, que se foi formando
através dos anos, devido à uma modelagem tradicional
e não bíblica, hoje é um exercício que nos deixa com
senso de culpa, c não uma prática que alivie nossas
tensões. É um fardo auto-inrposto; não algo que nos
vem de Deus” (Firme Seus Valores, Betânia).

Não há dúvidas de que a oração é importante e necessária.


Entretanto, nunca deverá ser encarada como um peso ou uma
obrigação. Em contrapartida, também não podemos concordar
com o extremo oposto: não dar a ela o seu devido lugar. Para
tornar isso mais claro, vejamos o próximo princípio.

A oração depende do Espírito Santo


Desde o início de minha vida cristã aprendi que a oração
traduz-se por uma dependência completa e exclusiva de Deus.

70
ORAÇAO

Aprendí que por minhas próprias forças não conseguirei nada.


Somente o Senhor faz a diferença em minha vida e me capacita
pelo poder de seu Espírito Santo.
Sempre ensinei que a melhor posição na vida cristã é
quando chegam os ao ponto de dizer: “Eu não posso”.
Exatam ente nesse m om ento é que percebem os a nossa
dependência de Deus e passamos então a ver claramente a
atuação do Espírito Santo em nós.
Em minhas lutas internas com tentações, dificuldades,
falta de disciplina, obediência a Deus etc., descobri que não
adquiro a vitória por minhas próprias forças. E o Espírito
Santo quem me dá poder para viver a vida cristã.
Em relação à oração não é diferente. Dependemos do
Espírito Santo, pois c Ele quem nos impulsiona e faz com
que ela se torne uma realidade. Por isso, quero alertá-lo a
não tomar decisões pessoais precipitadas, dizendo : “a partir
dc agora serei um hom em ou uma mulher de oração”.
R econheça a sua própria im possibilidade e busque ser
submisso ao Espírito Santo, para que Ele o ajude em sua vida
de comunhão com Deus.
Descobri em minha experiência de vida que existe uma
linha divisória m uito difícil de se determinar. Além dessa
dependência do Espírito Santo, é preciso que haja em nós o
desejo dc uma vida dc oração. Para que isso ocorra, devemos
tomar algumas atitudes. Isso nos leva ao princípio seguinte.

A oração depende de disciplina pessoal


O Espírito Santo nos ajudará, mas devemos dar alguns
passos em direção à vida de oração. Jesus, ao ensinar seus
discípulos sobre esse importante tema, enfatizou:
“Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando
a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto. E teu Pai,
que vê secretamente, te recompensará" (Mt 6:6).

71
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

O Senhor estava reprovando a atitude hipócrita dos


fariseus, que oravam diante dos homens para receber elogios.
Isso, entretanto, não deve eliminar o ensinam ento de que
devemos tomar algumas decisões quanto à oração.
N otem que Jesus afirma: “entra no teu aposento, e,
fechando a porta”. Isso nos mostra que devemos separar um
tempo e um lugar para a oração.
O utro ensino do Senhor nos m ostra que, quando
oramos, há uma batalha em nosso interior. E uma verdadeira
luta entre o espírito e a carne:
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Na verdade
o espírito está pronto, mas a carne é fraca'’ (Mt 26:41).

O nosso espírito sabe que devemos orar, mas muitas vezes


a carne não quer. Aqui entra a dependência do Espírito Santo
e a nossa disciplina pessoal para obedecermos ao “vigiai e orai”.
Uma disciplina séria, no poder do Espírito, fará de nós homens
e mulheres que fazem uma grande diferença no mundo em
que vivemos. Vejamos o últim o princípio:

A oração deve ser um estilo de vida


E preciso que não lim item os a com unhão com Deus a
uns poucos minutos nos quais nos colocamos de joelhos em
nosso quarto. A nossa comunhão com o Senhor deve ser
constante, por isso a oração deve ser parte integrante de nosso
estilo de vida.
Em certa ocasião, eu estava m uito desejoso de ser
ob ed ien te a Deus e, nesse propósito, ir até as últim as
conseqüências. Tomei a minha Bíblia e comecei a procurar os
seus imperativos para nós. Esse exercício foi uma experiência
marcante para a minha vida de obediência e tam bém um
grande instrum ento de Deus para m ostrar-m e a m inha
fraqueza e dependência do poder do Espírito Santo.

72
ORAÇAO

Um dos imperativos que mais me fizeram pensar e


argumentar com Deus foi o de 1 Tessalonicenses 5:17: “Orai
sem cessar ”. Por causa de minha visão tradicionalista sobre a
oração, comecei a discutir com o Senhor, dizendo: “O Senhor
quer que eu caminhe o dia todo de joelhos em oração?”. E
Deus, com sua paciência e misericórdia, com eçou a me
explicar que esse ensino era para que eu estivesse em
comunhão com Ele diariamente, em cada momento.
Essa descoberta me levou a refletir sobre algumas
implicações. Em primeiro lugar, me mostrou que a santidade
deve ser constante. Se o pecado quebra minha comunhão
com Deus, preciso constantem ente estar em santidade. Em
segundo lugar, aprendí que minhas palavras e ações devem
ser permeadas e influenciadas pelo meu caminhar com Deus.
Isto é o que Paulo ensinou:
“E tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o
em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai" (Cl 3:17).
“Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (IC o 10:31).

A com u n h ão com o Pai não deve ser apenas no


dom ingo, quando estam os no tem plo, mas em nossas
atividades cotidianas: no trabalho, na escola, nos nossos
relacionam entos etc. Isso é orar sem cessar. Saiba que, se
você vive constantem ente em santidade e com unhão com
Deus, estará orando. C onseqüentem ente, suas palavras e
ações serão diferentes. Não serão apenas as nossas atitudes
que serão m udadas, mas o nosso m inistério será uma
d em o n stração clara do tem p o em que estivem os em
com unhão com Cristo.
Dennis Kinlaw, ao falar sobre a pregação, mostra que
nossa prioridade deve ser a comunhão com Cristo, para não
exercermos o ministério na carne:

.. ( Dt-W
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

“A ten tação con stan te a que estam os su jeitos no


ministério cristão é dar prioridade a ele, em detrimento
de nossa com unhão com C risto. Estam os sempre
recebendo pressões para colocar a obra dc Deus em
primeiro lugar. E é fácil justificar essa atitude. O que
acontece na realidade, porém, é que aos poucos vamos
deixando de scrvi-lo com os recursos dele, obtidos em
comunhão com ele, e passamos a exercer um ministério
com nossas próprias forças” (Pregação no Espírito,
Bctânia).

Causas de uma vida de oração pobre


Se quisermos ter intimidade com Deus, conhecê-lo
melhor e saber qual é a sua vontade para nós, precisamos de
uma vida profunda de oração. Infelizm ente, aqui está uma
das maiores dificuldades do líder cristão. Todos sabemos que
precisamos orar e estar na presença de Deus, mas poucos de
nós têm praticado isso como deveria.
Analisando m inha própria vida e minha experiência de
comunhão com colegas, encontro algumas razões que levam
os pastores e líderes a ter uma vida de oração pobre:

1. Prioridades erradas
A primeira razão se refere ao uso do nosso tempo.
Gastamos muito tempo com um sem-número de coisas que
talvez sejam importantes e necessárias, mas muito pouco tempo
com a oração. Isso revela que nossas prioridades estão em
desordem. O que é mais importante? Gastarmos o nosso tempo
tentando atender às exigências que as pessoas nos fazem, ou
investirmos a melhor parte dele na presença de Deus? Andrew
Murray, um dos maiores avivalistas do século passado, disse:

"U m de nossos m issionários na África do Sul que


recebeu m uitas honras, apresentou a seguinte
reclam ação: ‘Às cinco da m anhã, pessoas batem à

G 74 »
ORAÇAO

minha porta esperando remédios. Às seis, chegam os


tipógrafos e tenho de ensiná-los e colocá-los no trabalho.
Às nove, me chamam da escola, e até durante à tarde e
à noite estou ocupado com numerosas cartas que tenho
de responder’. Para lhe responder, citei um provérbio
holandês: “O que é mais pesado tem de pesar mais”.
Quer dizer: o mais pesado tem de ocupar o primeiro
lugar. A lei de Deus é imutável: assim como acontece
na terra, na nossa comunicação com o céu só recebemos
o que damos. A não ser que estejamos dispostos a pagar
o preço, a sacrificar tem po, atenção e tarefas
aparentemente legítimas ou necessárias a favor dos dons
celestiais, não necessitamos dc muito poder do céu para
nossa obra” (El Ministério de la Oración Intercesora,
Betânia).

M in h a c o n v ic çã o é q u e, no m o m e n to em que
colocarmos a oração como prioridade número um em nossas
vidas, todas as demais coisas fluirão com muito mais rapidez.
Suzana Wesley, escrevendo sobre a vida de seu filho,
John Wesley, disse que ele sempre orava por uma hora, antes
de sair para outras atividades. Numa m anhã, ele fez a
seguinte afirmação: “Olhando minha agenda, descobri que
tenho tantas coisas a fazer hoje que necessito pelo menos de
duas horas de oração”.
Veja que interessante a prioridade e inteligência desse
homem. Ele sabia que, quanto mais tempo investisse na presença
de Deus em oração, tanto mais efetivo seria nas outras coisas.
Lem bro-m e de que uma vez estava orientando um
grupo musical que liderava o louvor e a adoração na igreja.
O grupo reclamava porque sentia que havia pouca unção do
Espírito Santo em suas vidas, e que não tinham tempo para
a oração. Eu lhes perguntei:
— Quanto tempo leva o ensaio do grupo?
Eles responderam:
— Duas horas.
. )
75 /
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Fiz uma sugestão:


— Por que vocês não usam parte do tempo do ensaio
para a oração?
Eles disseram:
/

— E porque o tempo não seria suficiente para ensaiar


todas as músicas.
Então fiz-lhes um desafio, dizendo:
— Façam uma experiência. Usem parte do tempo para
a oração e vocês verão com o fará diferença. Prefiro que a
música não saia tão boa, mas que vocês tenham a unção do
Espírito Santo, o que trará m uito mais resultados.
O que aconteceu depois disso foi extraordinário. Eles
ficaram 45 minutos em oração, e disseram que o ensaio foi
excelente. Havia tanta unidade e harmonia musical, a ponto
de concluírem que a oração fez com que a produtividade
fosse maior. No domingo seguinte, quando ministraram o
louvor e a adoração, podia ver-se claramente a diferença, pois
havia santidade e unção do Espírito Santo.
Há uma frase muito usada que demonstra essa realidade:
“M uita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder;
nenhuma oração, nenhum poder”.
Necessitamos urgentem ente aprender a orar correta­
m en te. D evem os pedir a C risto, com o seus discípulos
pediram: “Senhor, ensina-nos a orar”. Eu diria mais ainda:
“Senhor, faze-nos orar”. Podemos tomar o exemplo de Jesus,
que nos ajudará a entender a necessidade da oração:

“Levantando-se de manhã muito cedo, ainda escuro, saiu,


e foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1:35).

O Sen h or tin h a um horário esp ecial e um lugar


específico: alta madrugada, num local deserto.
Se Jesus, que era o próprio Deus, nesse caso dentro das
lim itações de sua humanidade, precisava orar e estar em
ORAÇAO

comunhão com o Pai, quanto mais nós, que não temos as


mesmas condições nem o mesmo poder que Ele?
Ao analisarmos o contexto do versículo abaixo, iremos
verificar que Cristo não se deixava levar pelo ativismo, nem
pelo o que era urgente. A Bíblia assim registra:
“Sendo já tarde, tendo-se posto o sol, trouxeram-lhe todos
os que se achavam enfermos, e endemoninhados. Toda a
cidade se ajuntou à porta, e fesus curou a muitos doentes
de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios,
porém não perm itia que eles falassem , porque o
conheciam” (Mc 1:32-34).

Observe que existia um grande movimento, havendo


pressões sobre Jesus para que ficasse ah curando, pregando e
expelindo demônios. Toda cidade estava à porta. Muita gente
estava esperando por Ele, mas a sua prioridade era a oração.
Se p restarm os a ten çã o à c o n tin u a ç ã o do tex to ,
verificaremos que Jesus foi para outros lugares, deixando
todos ali, porque sabia qual era a vontade do Pai. Ele não era
ativista. Ao contrário, sabia quais eram os planos do Pai, e
tinha suas prioridades na ordem correta.
E quanto a nós? Com o estão as nossas prioridades? Será
que estamos correndo pra lá e pra cá apagando incêndios e
fazendo aquilo que os homens nos têm imposto?
Creio que é hora de parar e fazer uma avaliação das
nossas atividades e, na dependência de Deus, replanejarmos
a nossa agenda, de tal form a que a oração seja um a
prioridade.

2. Carnalídade
Q uando falo de carnalídade, m e refiro a esforços
pessoais para fazer a vontade de Deus. Quantos de nós não
estão querendo viver a vida cristã mediante nossos próprios
esforços? A Bíblia cham a isso de carnalídade, porque se
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

conseguimos fazer algo por nossa própria força ou capacidade


não estaremos dependendo de Deus. A vida cristã autêntica é
aquela que depende inteiramente da graça e do poder de Deus.
Certo dia, estava conversando com um líder de igreja,
hom em de oração, m uito preocupado com o avanço do reino
dc Deus. Ele me falava de sua inquietação quanto à vida de
oração dos pastores. Ele me disse:
— Pr. Edison, estou preocupado porque os pastores
oram pouco. Com o é possível que eles dirijam o rebanho se
não têm comunhão com Deus, nem vida espiritual profunda?
Por favor, em seus seminários fale sempre aos pastores sobre
a necessidade de uma vida mais profunda de oração.
Mal sabia aquele irmão que estava profetizando para
mim porque, no m om ento em que com eçou a externar sua
preocupação, o E sp írito San to falou com igo: “Tu és o
hom em !”. Eu disse ao irmão:
— E verdade, os pastores oram pouco.
Mas o Espírito Santo dizia a mim: “E verdade, você
ora pouco!”.
Depois que me despedi desse irmão, voltei para casa e
o Espírito Santo continuou trabalhando na minha m ente,
me convencendo do meu pecado de estar orando pouco.
Quando cheguei, fui ao meu quarto, ajoelhei-m e e pedi
perdão a Deus. Roguei-lhe que me ajudasse a ter uma vida
de oração mais profunda.
Alguns dias depois, saí de viagem para pregar na
Argentina. Deus havia colocado em meu coração que deveria
comprar um livro sobre oração. Durante aquele congresso,
fui até uma das exposições de agências missionárias e meus
olhos foram direto a um livro: El Ministério de la Oración
Intercesora, de Andrew Murray. Com prei o livro e com ecei
a lê-lo. Nem é preciso dizer que foi uma nova arrancada para
minha vida de oração.
ORAÇAO

O autor m ostra que a falta de oração é pecado e


enfermidade espiritual. Ele apresenta Jesus como aquele que
cura as enfermidades. Em outras palavras, ele nos ensina que
devemos depender de Deus para orar e nos fazer orar. Jesus
nos tira esse pecado e essa enfermidade espiritual:

“Se vamos enfrentar a falta de oração de maneira eficaz,


temos de considerá-la deste ponto de vista e perguntar: A
falta de oração é pecado? Sim, é. Então, como posso
resolver? Como o homem pode descobrir, confessar, tirar
e ser limpo por Deus deste pecado? Jesus salva do pecado.
Som ente quando reconhecemos verdadeiramente o
pecado, podemos conhecer o poder que nos salva dele. A
vida que pode orar com eficácia é o ramo que foi limpo: a
vida que foi libertada do poder do eu”.

Orei e pedi a Jesus que me limpasse desse pecado e me


curasse dessa enfermidade. Foi tremendo ver como Deus
com eçou a me empurrar e a me levar a orar. Desde então, a
oração marcou uma nova etapa em minha vida cristã.
Tenho acordado mais cedo todos os dias e, antes de
fazer qualquer outra atividade em meu escritório, passo um
tempo diante de Deus e de sua Palavra. Tam bém uso o livro
Intercessão Mundial para orar diariam ente por um país
d iferen te . C reio que precisam os aprender esta lição:
depender de Deus para orar. A vida cristã é dependência total
de Deus. Para orar tam bém dependemos dele.

3. Indisciplina e preguiça
Satanás é especialista em fazer a nossa cama ficar mais
gostosa. Ele faz com que a televisão dilua nosso tempo e sabe
com o nos tirar das prioridades e nos dirigir para o ativismo
ou para a perda de tempo. Muitas vezes, porém, culpamos
Satanás, quando o problema está em nós.
A Bíblia nos ensina que uma das partes do fruto do
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Espírito é o domínio próprio. Por isso, não pode haver espaço


para o nosso fracasso e indisciplina.
Creio que devemos depender de Deus em tudo. No
entanto, é necessário também que dominemos o nosso corpo,
a nossa vontade e decidamos separar um tem po significativo
para estar diante de Deus.
Conheço pastores que são preguiçosos, levantam às dez
horas e não sabem o que devem fazer durante o dia. Ficam
até m uito tarde diante do aparelho de televisão, enchendo
suas m entes com as “bolotas” do filho pródigo.
Alguns não têm planejam ento de seu tempo diário.
Vivem correndo para apagar incêndios. Correm para visitar
alguém da igreja que ficou enfermo. Levam os filhos dos
diáconos para a escola, correm para o banco a fim de pagar
as contas e voam para o supermercado para fazer compras.
Correm para lá e para cá o tempo todo. No final do dia
estão exau stos e co m eçam a reclam ar do m in istério .
M inistério não é isso! M inistério é consagração à oração e à
Palavra, como diz Atos 6:4: “Mas nós perseveraremos na oração
e no ministério da palavra”.
Isso não quer dizer que não faremos outras coisas. Claro
que as faremos, mas elas serão muito mais efetivas se nos
dedicarmos prioritariamente à oração e à Palavra.
Tom e a decisão de planejar melhor o seu tempo e ser
mais disciplinado. Escolha qual é o melhor m om ento do dia
para separar para a oração. Em seguida, separe um tempo
para a Palavra e, finalm ente, para os demais afazeres. Deus
vai ajudá-lo a ser mais disciplinado e a colocar suas prioridades
na ordem devida.

4. Falta de companheiros
F ica m ais fácil q u and o oram os com um am igo.
Analisando a Palavra de Deus e a vida de alguns homens que
ORAÇAO

foram grandemente usados por Ele, chego à conclusão de


que os companheiros de oração são importantes.
Há três acontecimentos na vida de Jesus que nos ensinam
esse princípio. O primeiro está relatado em Lucas 9:18: “Estando
ele orando, em particular, estavam com ele os discípulos...”.
Repare que Jesus levou os discípulos para estar com
Ele quando foi orar.
O segu n d o a c o n te c im e n to foi o ep isó d io da
transfiguração, quando Jesus levou seus discípulos mais
íntimos para ter a experiência de estar juntos diante do Pai,
e ah ouvirem a sua voz.

“Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago, a


João, irmão deste, e os levou, em particular, a um alto
monte” (Mt 17:1).

O terceiro acontecim ento foi no jardim do Getsêmani,


quando novamente Jesus levou os mesmos discípulos para
um tempo de oração. Ele abriu seu coração diante do Pai, na
presença deles, e os exortou a vigiar e a orar:

“Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani,


e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou
além, orar. Levando consigo a Pedro e os dois filhos de
Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a
morte. Ficai aqui e velai comigo” (Mt 26:36-38).

Ao ler biografias de grandes homens de Deus, notei que


a maioria deles tinha um companheiro de oração. Num dos
trechos do diário do dr. Oswald Sm ith, grande estadista de
missões e pastor da Igreja dos Povos em Toronto, Canadá,
verifiquei que ele tinha um médico que era seu companheiro.
Os dois lutavam diante de Deus em oração, até terem a
convicção de que Deus lhes havia respondido.
Houve um período em minha vida, no qual sentia que
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

necessitava de prevalecer na oração, mas estava tendo


dificuldades de orar sozinho. Convidei, então, o pastor Eli
Maia, que era um de meus companheiros de ministério na
igreja, para orarmos juntos. Esse período, em que oravamos
juntos todas as manhãs, fez uma grande diferença em nossas
vidas e ministérios. Começávamos logo cedo e, ao olharmos
para o relógio, percebíamos que já estávamos orando há duas
horas. Algumas vezes passamos três horas na presença do
Senhor.
Quando temos um companheiro fica mais fácil, porque
um anima o outro. A oração fica mais ativa e variada, uma
vez que um relembra o outro de promessas, pedidos e pessoas
que necessitam da oração intercessória.
E possível que você, leitor, esteja lutando para ter um
tempo significativo de oração. Experim ente orar com um
amigo. Busque alguém que você sabe que leva Deus a sério e
o convide para ser seu companheiro. Talvez esse alguém possa
tam bém estar nas mesmas condições, tentando ter vitórias
na área de oração e você poderá ser o com plem ento que ele
está n e c e s sita n d o . Ju n to s , p od erão e x p e rim e n ta r as
profundezas de Deus, por meio da oração.
Ricardo Barbosa, em seu livro sobre espiritualidade
cristã, ressalta o pecado de não investirmos tempo diante de
Deus. Ele escreveu tam bém sobre a importância do deserto
— estar separado de tudo, e investir tem po diante de Deus
— na vida cristã:

“O pecado age em nós como um vício. Nós o tratamos


como sendo fatos isolados que acontecem e que, uma
vez confessados, são resolvidos. No entanto, ele age em
nós com o poder destruidor do vício que nos aprisiona e
consome. Nosso estilo de vida faz parte de um vício que
já se incorporou em nossa vida diária.
Para constatar isto, basta retirar a televisão da casa de

82
ORAÇAO

muitos cristãos modernos. Logo se perceberá um enorme


vazio na casa e nas relações familiares. Ou sair de férias e
passar um mês num lugar solitário, sem m ultidões,
televisão ou qualquer outro entretenimento artificial que
criamos. A sensação de vazio, solidão e abandono é muito
grande.
Antigamente, quando um cristão se encontrava triste e
deprimido, ele procurava uma igreja. No silêncio do
santuário, ele buscava na contem plação do C risto
crucificado o alívio para suas dores e feridas. Hoje, quando
esse mesmo cristão está triste ou deprimido, corre até o
shopping mais próximo e, se tem dinheiro, faz alguma
compra para aliviar seu estresse e depressão. Se não tem
dinheiro, contenta-se com as vitrines. Mas nossos vícios
não ficam apenas no estilo de vida agitado e consumista,
mas tam bém em nosso caráter, que absorve valores e
culturas que negam a vida e a liberdade dos evangelhos.
Quem já trabalhou com recuperação de viciados ou teve
a oportunidade de acompanhar a recuperação de alguém,
pode observar o processo que envolve a libertação do vício.
O reconhecimento do vício e o desejo de libertar-se dele é
o primeiro passo, mas não é suficiente. E necessário um
processo de desintoxicação e reeducação para que o viciado
seja reintegrado a uma nova vida.
Algumas clínicas especializadas recomendam até nove
meses de tratam ento intensivo para que este processo
tenha resultado positivo. Nosso problema é que não
reconhecemos a mesma gravidade em relação aos outros
vícios que igualmente nos dominam e escravizam, como a
maledicência, a glutonaria, a imoralidade, a idolatria, a
preguiça etc. M uitos cristãos desenvolveram uma
verdadeira dependência para com outras formas de vícios
não reconhecidos como tal, a ponto de nem perceberem
o quanto esta dependência afeta sua espiritualidade” (O
Caminho do Coração, Encontrão).

Talvez tenhamos a necessidade de um tratam ento de


desintoxicação de nosso ativismo. Precisamos investir tempo
no d e se rto , em m e d ita ç ã o e c o n te m p la ç ã o , ten d o

83
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

experiências profundas com Deus, para então voltarmos ao


ministério. Certam ente estaremos revestidos de poder e com
a direção divina clara em nossas vidas. Todavia, essa viagem
deserto-trabalho-deserto deve ser constante. Caso contrário,
cairemos novamente nos mesmos vícios do ativismo.
Precisamos de homens que abalem os poderes das trevas
por meio da oração. Por outro lado, precisamos tam bém de
h o m e n s q u e orem e m ovam os céu s em favor dos
necessitados.
A oração move os poderes. Satanás treme de medo
quando vê um hom em santo se ajoelh an d o para orar.
Precisamos de homens de Deus conhecidos no inferno. Sim,
conhecidos no inferno. Veja o texto de Atos 19:13-15:
“Alguns dos exorcistas judeus, am bulantes, tentavam
invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que estavam
possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos
por Jesus a quem Paulo prega. Os que faziam isso eram
sete filhos de Ceva, judeu, um dos principais sacerdotes.
Respondeu, porém, o espírito maligno: Conheço a Jesus, e
bem sei quem é Paulo, mas quem vós sois?”.

Note bem que o demônio sabia quem era Paulo. Por


quê? Porque conhecia o poder que havia na vida e na oração
desse homem de Deus. O inferno tremia quando Paulo orava
e trabalhava para Deus. Você é conhecido no inferno? A sua
oração tem o efeito de abalar os poderes das trevas?
Se q u ise rm o s ver nossas ig re ja s com um fo rte
movimento de oração, precisamos, com o líderes, com eçar
isso em nossas próprias vidas. Tome sua decisão. C om ece a
orar, e logo verá a diferença em sua vida e ministério.

84
FAMÍLIA

Nas décadas dc 60 e 70 havia um pastor que era


con h ecid o com o referencial para o m in istério em sua
denominação. Ele costumava afirmar que nunca repetia um
sermão, escrevia livros e apresentava programas de rádio e
de televisão. Segundo contava, ainda tinha tempo para visitar
todos os membros de sua igreja, pelo menos uma vez por
ano. Porém, pouca gente o ouvia falar a respeito de sua
família.
A pesar de todas essas coisas que ele propalava,
recen tem en te fui inform ado de que os seus filhos são
espíritas. Um deles chegou a constituir um centro em sua
própria casa! Com o se percebe, esse homem pode realmente
ter feito muitas coisas para Deus. No entanto, no final, não
conseguiu sequer ganhar a sua família para Cristo.
A pergunta que naturalm ente surge é: “Será que vale a
pena ter um ministério cheio de realizações e atividades,
mas, no fim das contas, perder a família?”.
H .B . L o n d o n e N eil B. W ise m a n c o m e n ta m a
importância do casam ento para o pastor e o ministério:
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

“Um ponto de partida para garantir significado é aceitar


de todo coração o fato de que nada se ganha quando se
permite que o casamento e o ministério lutem pela nossa
prioridade. Na situação ideal, o casam ento e o
m inistério se com pletam m u tu am en te. Podemos
celebrar o fato de que o casam ento e a família são
microcosmos da igreja e do reino de Deus — uma rica
fonte daquilo que realm ente satisfaz nossas vidas”
(Despertando para um Grande Ministério, Mundo
Cristão).

Não chega a ser novidade o fato de que a família do


líder tem importância fundam ental em seu ministério. A
Bíblia apresenta alguns versículos que mostram claramente
que, depois de seu relacionam ento com Deus, a prioridade
dele deve ser a sua família.
In felizm en te, durante m uito tem po, se ensinou o
contrário: primeiro Deus, depois a igreja e, finalm ente, a
família. Esse ensino, além de não ter respaldo bíblico, é
contraproducente, uma vez que todo líder necessita ter
autoridade espiritual diante da igreja. Contudo, se sua família
não estiver em ordem, essa autoridade ficará prejudicada.
D e acordo com a Palavra, as prioridades de um líder
devem seguir esta ordem: Deus, família, trabalho, ministério.

Segundo a Bíblia, Deus vem em


primeiro lugar
“Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo
o teu coração, de toda a tua alm a e de todo o teu
entendimento” (Mt 22:37).

A família deve vir em segundo, porque a Palavra afirma:


“Que governe hem a sua própria casa, tendo seus filhos
sob disciplina, com todo o respeito (pois se alguém não
sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja
de Deus?)” (lT m 3:4,5).

86 a
FAMÍLIA

Em terceiro lugar vem o trabalho, pois a Bíblia esclarece:


“Pois quando ainda estávamos convosco, vos ordenamos isto:
se alguém não quer trabalhar, também não coma. Ouvimos
que alguns entre vós andam desordenadam ente, não
trabalhando, antes intrometendo-se na vida alheia. A esses
tais, porém, ordenamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus
Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio
pão” (2Ts 3:10-12).

Finalm ente, vem o ministério, uma vez que envolve


todas as áreas anteriores. O nosso relacionamento com Deus
é a base para a nossa atividade ministerial. A nossa família
deve ser o nosso primeiro ministério. O nosso trabalho, deve
ser o local dele.
E preciso que tomemos cuidado para não separarmos
essas áreas, como se fossem compartimentos estanques, de
tal forma que não possam se comunicar entre si. Ao contrário,
de acordo com a ordem de prioridades que m encionei,
devemos fazer o possível para que haja um desenvolvimento
equilibrado em todas as áreas.
Jorge A tiencia, secretário-geral da Unidade C ristã
Universitária da Colôm bia e doutor em terapia familiar,
falando sobre o crescim ento na família, afirmou:
“Percebemos a família como um organismo, onde se
permite o crescimento integral de todos os seus membros
e não meramente o dos filhos. Este crescimento integral
implica na satisfação das necessidades fundamentais (não
somente as primárias ou secundárias), as quais colocamos
nas seguintes áreas: sexual (Gn 1:27,28), afetiva (Ef 6:1-
4), intelectual (Pv 1:4; Lc 2:52), material (Lc 2:6,7),
espiritual (Lc 2:52) e relacionai (Lc 2:21-38; 2:52). Isto
é, vemos a fam ília cumprindo funções básicas:
reprodução, nutrição (necessidades primárias e
secundárias), educação e socialização” (Família: Teologia
e Alternativas Clínicas, CPPC).
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

A seguir, desejo abordar alguns aspectos fundamentais


na vida e ministério do líder.

Relacionamento com os filhos


Assim como você, também conheço alguns pastores que
sofrem m uito com seus filhos que não seguem o caminho de
Deus. Nesses casos, creio que o ministro deveria fazer uma
análise clara diante dc si mesmo e do Senhor sobre a forma
como criou seus filhos. Sc realmente os criou na disciplina e
admoestação do Senhor, creio que não deve sentir-se culpado.
Ele precisa seguir em frente em seu ministério, pois está
convicto de que fez o melhor para os seus filhos, discipulando-
os na Palavra.
O problema é que, em alguns lares de líderes, os filhos
não têm um pai em casa, mas, sim, um pastor.
Quantos pastores têm pecado por não dedicar tempo
para seus filhos e não participar das atividades que eles gostam.
Concordo com Josh M cDow ell e Norm W akefield,
quando afirmam:
“Se você for um pai com excesso de compromissos,
o seu desafio é duplo. Primeiro, você precisa reavaliar
a sua personalidade e as suas prioridades. Talvez você
se sinta mais im p ortan te, ou até mais seguro, se
estiver ocupado. Você tem compromissos demais por
que quer? Ou você deixou de estabelecer prioridades
para determinar, de uma perspectiva cristã, o que é
mais significativo cm sua vida?
Você pode sentir-se pouco à vontade pensando nessas
coisas. Elas podem ser até am eaçadoras. Mas é
importante compreender que ignorar essas questões
pode causar dano irreparável ao relacionamento com
seus filhos” (A Diferença que o Pai Faz, C andeia).
Certa vez eu conversava com um pastor que estava
enfrentando um sério problema de relacionamento com seu
FAMÍLIA

filho, um jovem de aproximadamente 17 anos. Esse rapaz


gostava muito de futebol e jogava no time da escola. Ele
sempre chamava seu pai para jogar bola com ele. Muitas
vezes o convidava para assistir aos treinos ou a alguma
partida, e o pai sempre negava, porque era pastor de uma
igreja que ensinava que futebol é pecado.
Esse hom em me perguntou como poderia melhorar o
relacionamento com seu filho, porque sentia que o estava
perdendo, e que o jovem já não tinha prazer em ir à igreja.
Minha orientação foi a seguinte:
— Vá jogar bola com ele e, no próximo treino, sente-se
na beira do campo e seja o torcedor mais animado, incentive
seu filho e o tim e em que ele joga.
Ele me respondeu:
— Se eu fizer isso, serei expulso da igreja.
Voltei a perguntar a ele:
— O que é mais importante para você: sua família, seu
relacionamento com seu filho ou a sua igreja?
Ele pensou um pouco e me pediu que orasse por ele e
por seu filho. O rei e pedi a D eus que o ab en çoasse,
mostrando-lhe a solução bíblica para o caso.
Alguns dias depois, recebi um telefonema desse pastor.
Ele me contou que no sábado anterior havia jogado futebol
com seu filho, e fora assistir a uma partida de sua escola contra
outro time. Disse-me que torceu pelo seu filho, procurando
dedicar-lhe mais tempo e participando das coisas de interesse
dele. H oje seu filho é um missionário, ele continua no
ministério e não foi perturbado por sua denominação por
gastar tempo com seu filho num campo de futebol.
Fatos como esses somente nos dão maior convicção de
que é um assunto realmente importante que o pastor também
exorte a igreja quanto às pressões que são colocadas sobre
os filhos de pastores.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Creio que estou capacitado a falar sobre este assunto


porque, sendo filho de pastor, sofri m uito na minha infância
com as pressões na igreja. Quantas vezes ouvia frases do
tipo:
— Você é filho de pastor, por isso não pode agir assim.
— Filho de pastor não faz isso!
Ora, filho de pastor é uma criança como qualquer outra,
gosta de jogos e de diversões, faz peraltices como as demais.
Ele não tem asinhas de anjos para diferenciá-lo das outras
crianças. A igreja deve ser a primeira a compreender isso.

Relacionamento com a esposa


Aqui está outra im portante questão para o êxito do
pastor em seu ministério: o relacionam ento com a esposa. E
primordial que se entenda isso, pois o ministério só poderá
ser bem-sucedido se ambos estiverem afinados com a vontade
de Deus para as suas vidas.
Tenho visto muitos líderes sofrendo por não terem o
apoio de suas esposas. Aqui cabe uma palavra para elas: “Se
você, esposa de pastor, casou-se com um homem chamado
por Deus para o ministério, mesmo que não tenha o mesmo
chamado, saiba que, em sua posição de ajudadora idônea,
deverá apoiá-lo e estar ao seu lado'7.
E claro que devemos levar em consideração os dons
espirituais que cada cônjuge recebeu para não colocarmos
pressões e cargas que não são legítimas nos ombros do outro.
Todavia, com a graça de Deus e com o seu entendim ento, é
possível que haja harmonia e com plem en- taridade no papel
de cada um.
Com o já lhes contei, fui criado num lar cristão, batista,
em que meu pai era o pastor da igreja. M inha mãe sempre
foi uma verdadeira esposa de pastor, de acordo com o padrão
que algumas igrejas impõem. Ela toca piano, rege o coral,
FAMÍLIA

dirige a reunião das senhoras, é líder das mulheres, trabalha


na decoração, faz visitas etc.
Deus a tem usado poderosam ente com o uma fiel
companheira e ajudadora de meu pai no ministério. Eu a
respeito trem endam ente, e sei que ela fazia tudo, algumas
vezes mais do que podia, para ajudar a m anter a casa e o
ministério. Louvo a Deus por mulheres como ela.
No entanto, me casei com uma mulher que não tem as
mesmas características. Minha esposa não toca piano e não
dirige o coral. Ela tem outros dons e capacidades. E uma
excelente cantora, toca violão, tem um ministério muito forte
com a juventude e com jovens casadas. Gosta de trabalhar
com crianças e é uma excelente conselheira, além de uma
esposa e mãe exemplar.
Quando fui convidado para exercer o pastorado da
Primeira Igreja Batista em Santo André, SP, deixei claro que
a minha esposa tinha dons e talentos diferentes da minha
mãe. No dia da minha posse no ministério, diante de toda a
igreja, fiz a seguinte afirmação:
— O pastor sou eu, e não minha esposa. Por favor, não
exijam dela algo que não corresponda aos seus dons ou
ta le n to s. Ela irá trab alh ar na igreja d en tro das suas
habilidades e prioridades.
Isso foi m uito bom, porque a igreja não colocou um
fardo sobre os ombros de minha esposa, e ela sabe que seu
primeiro ministério é ser esposa e mãe7.
Em alguns casos, tenho visto esposas de pastores que
são mais habilidosas c capacitadas que os próprios maridos.
Essas senhoras devem ter muita sabedoria sobre como devem
se comportar, para não ofuscar o ministério de seus esposos.
Já vi casos que deram certo, porque o marido deu
bastante espaço para a esposa, e ambos trabalharam juntos.
Todavia, vi outros em que havia com petição entre o marido
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

e a mulher no ministério, o que causava sérios problemas no


relacionam ento familiar e na condução da igreja.
Creio que Deus usa m uito as mulheres. Não tenho
problem as em trab alh ar com elas, inclu sive em m eu
pastorado tive duas irmãs ordenadas para o ministério que
trabalharam comigo.
Precisamos entender que o Espírito Santo distribui os
dons como quer e que temos interdependência nesse assunto.
Necessitamos da sabedoria de Deus, de muito amor e de
compreensão para trabalharmos em harmonia.
Em bora isto possa surpreender a alguns, o principal
ministério da esposa de pastor é ser esposa e mãe. Para exercer
suas atividades m inisteriais, o pastor deve estar livre de
algumas preocupações. Portanto, sua esposa deve ser uma
ajudadora idônea, que facilite o m inistério do esposo.
Lembro qne a recíproca tam bém é verdadeira.
Há circunstâncias da vida em que a esposa necessita
aju d ar na c o m p le m e n ta çã o fin a n ce ira do o rça m en to
doméstico e se vê obrigada a trabalhar fora. Creio que, nesses
casos, ela som ente deverá fazê-lo quando houver extrema
necessidade. Isso porque, com o é sabido, cabe ao homem o
sustento financeiro do lar.

Tempo para a família


Em relação à sua família, todo pastor deveria cortar de
seu vocabulário a expressão “não tenho tem p o”. Quantos
ministros estão perdendo a autoridade espiritual e vivendo
debaixo de forte peso de culpa, porque não estão dando o
tempo devido à sua família?
Um pastor amigo me contou que, certa vez, estava
saindo para fazer um trabalho quando seu filho, que estava
no quintal jogando bola, o chamou e lhe disse:
— Papai, vamos jogar futebol?
FAMÍLIA

Ele respondeu:
— Agora não posso, filho, porque tenho de fazer uma
visita.
No dia seguinte, a cena se repetiu. C om o o garoto
obteve a mesma resposta do pai, perguntou:
— Papai, quando é que você vai fazer uma visita aqui
em casa?
Na mesma hora aquele homem foi tocado pelo Espírito
Santo. Ele reconheceu que precisava dar mais tempo para seu
filho e, arrependido, telefonou para a família que ia visitar,
cancelou o compromisso e foi jogar bola com o menino.
Ouvi o testem unho de um outro pastor que estava
exortando seus colegas a dar mais tempo para suas famílias.
Ele disse que toda vez que seu filho batia na porta de seu
escritório, chamando-o para brincar ou conversar, ele dizia:
— Agora eu não posso; não tenho tempo!
Seu filho cresceu e começou a se envolver com drogas.
O pai o procurou para tentar resolver o problema e, cada
vez que o chamava, ouvia dele filho a mesma frase:
— Agora eu não posso; não tenho tempo!
T im LaEIaye, um dos mais conhecidos conselheiros
cristãos de nossa época, afirma:
“Já aprendí que um homem que demonstra amor pelos
filhos, que encontra tempo para ensinar-lhes algumas
coisas, por mais ocupado que esteja, desfruta mais da
presença e do amor dos filhos, depois que estes se
tornam adultos” (Vida Familiar Controlada pelo
Espírito Santo, Betânia).

Que tempo você tem dado à sua família? Será que você
tem separado e dedicado um período para estar com a sua
esposa ou brincar com os seus filhos? Se isso não estiver
acontecendo, deve começar ainda hoje, para o seu próprio
bem , para o bem de seus queridos e para a glória de Deus.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Dia do descanso
Uma das formas mais efetivas de se ter um bom tempo
para a família é separar um dia por semana para o descanso.
Aprendi no seminário c na igreja que o pastor deve
descansar na segunda-feira. No com eço de meu ministério,
eu separava todas as segundas-feiras para descansar, mas logo
percebi que isso não era produtivo. Havia duas razões:
Primeira: o dia que tenho de estar melhor — física e
espiritualmente — é o domingo, porque tenho de pregar
diversas vezes e dirigir a igreja. Descansando na segunda-
feira, quando chegar o domingo seguinte, estarei esgotado c
isso influenciará na pregação da mensagem.
Segunda: o sermão do domingo provoca mudanças e
inquietações na vida dos crentes c alguns deles precisam de
orientação e aconselham ento. Se eu descansar na segunda-
feira, som ente poderei me encontrar com essas pessoas a
partir do dia seguinte, o que acabará esfriando o ânimo das
pessoas, diminuindo a influência da mensagem pregada.
Em razão disso, decidi descansar na sexta-feira. No
domingo sempre estou bem e uso as segundas-feiras para
atender os crentes na igreja. Essa mudança trouxe muita
bênção ao meu ministério.
No entanto, a coisa não foi tão fácil com o pode parecer.
Eu lutei com dificuldades pessoais em relação ao assunto.
Mas, como descobri depois, elas estavam apenas em minha
própria mente.
Eu pensava que era errado o pastor ter um dia de
descanso e os membros da igreja, não. Logo percebi que os
membros da comunidade também têm o seu dia de descanso
e deveríam usá-lo para estar com suas famílias.
Preguei sobre “a bênção do descanso” e os orientei a
usar o sábado para descansar e estar com os seus familiares.
Cancelei todos os compromissos aos sábados que envolviam

94
FAMÍLIA

os casais da igreja e separei o uso do templo somente para os


jovens e adolescentes.
Expliquei para a igreja as razões pelas quais o meu dia
de descanso seria a sexta-feira. Pedi aos membros que não
me telefonassem nesse dia, a não ser em casos de extrema
urgência, pois eu estaria com a minha família. A igreja
aprendeu e sempre respeitou o meu dia de descanso.
Também tive dificuldades com a minha mente. Nas
primeiras sextas-feiras, quando acordava mais tarde ou ia
jogar bola com meus filhos, começava a pensar: “os membros
da minha igreja estão todos trabalhando agora e eu estou
aqui brincando. Quantos dão o seu dízimo com dificuldade,
a igreja tira desse dinheiro o meu salário e eu agora estou
aqui, sem trabalhar. O que os vizinhos estarão pensando?”.
O inimigo estava usando esses pensamentos para me
trazer culpa e depressão. Sentia-m e como um traidor da
igreja. Parecia que todas as pessoas que passavam em frente
da minha casa estavam me recriminando por eu não estar
trabalhando.
Um dia, cansado desses ataques, fui orar. O Senhor
co lo co u bem claro no m eu co ração que E le m esm o
descansou (Gn 2:2) e que eu estava dentro de sua vontade,
cuidando de meu corpo e de m inha fam ília. Repreendí
Satanás, tom ei posse da Palavra de Deus e toda culpa e
depressão desapareceram.
Com o líderes da igreja, devemos ser modelos para o
rebanho, por isso devemos dar o tempo necessário para a
nossa esposa e filhos.

95
6
d g ÉTICA
MINISTERIAL

U m a co m p a n h ia no B rasil ch am o u to d o s os
compradores de seu produto para trocar uma peça que estava
causando problemas para os usuários. Foi um fato inusitado
porque, até essa data, ninguém havia feito isso. Na entrevista
que concedeu para a imprensa, o gerente de marketing fez a
seguinte afirmação:
— Queremos que a nossa marca tenha boa reputação,
que seja conhecida como uma marca de qualidade e que todos
confiem nela.
Isso ilustra perfeitamente a importância de se ter uma
boa reputação. Infelizmente, no meio evangélico, são poucos
os que têm se preocupado com essa questão. A maioria não se
importa em exercer o ministério de qualquer jeito, e pensa que
atitudes erradas não podem causar influência. Nem é preciso
dizer que tais pessoas estão incorrendo em sério engano.
Quando tomamos atitudes incompatíveis com o bom
proceder cristão o reflexo desse ato é imediato em nossos
ministérios. As conseqüências acontecem mais ou menos na
seguinte ordem : em prim eiro lugar, surge a inevitável
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

autocondenação. Depois, Satanás nos acusa. E, em seguida, o


povo percebe. E isso mesmo: o povo sabe se temos caráter ou
não. Ele conhece se o seu líder tem a vida limpa ou se deixa a
desejar.
E n tr e ta n to , a nossa in te g rid a d e não deve ser
impulsionada pela vigilância das pessoas, mas, sim, porque
devemos agradar a Cristo. H. B. London e Neil B. W isem an,
ao falarem sobre a credibilidade no ministério, afirmam:
“Para um pastor, comportamento excelente significa
muito mais do que viver à altura do que se requer da
dignidade da imagem pública de sua vocação. Deus
planeja para nós uma vida que agrade a Cristo, que nos
ajude a usufruir da verdade, do amor e da integridade,
o que, por si só, é uma maneira de viver fascinante e
proporciona energia revitalizante para um ministério
significativo. Tal estilo de vida transporta o pastor para
muito além de um código sufocante de conduta externa
cm direção à constante grandeza dc uma vida satisfatória
e nobre. Está escrito no código genético moral dos seres
humanos que o amor é melhor que o ódio, a honestidade
melhor que a safadeza, a honra melhor que a corrupção
e a fé melhor que o desespero. Acrescente o que quiser
à lista, mas você descobrirá que o sagrado é sempre
superior ao profano” (Despertando para um Grande
Ministério, Mundo Cristão).

Paulo, p ro fu n d o c o n h e c e d o r dos m ean d ros da


consciência do ser humano, exortou seu discípulo Tim óteo
quanto às atitudes éticas que devem ser marcas do servo de
Deus. Com o aquela companhia que chamou seus clientes
para trocar uma peça defeituosa, creio que o texto a seguir
pode ser um chamado para trocarmos algumas peças em
nossa vida cristã:
“E necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido
de uma só mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro,
apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador,
ÉTICA MINISTERIAL

mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que


governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos sob
disciplina, com todo o respeito (pois se alguém não sabe
governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de
Deus?); não neófito, para que não se ensoberbeça e caía na
condenação do diabo. Também é necessário que tenha bom
testemunho dos que estão de fora, para que não caia em
opróbrio, e no laço do diabo ”( lTm 3:2-7).

Para facilitar o diagnóstico das peças que precisam ser


trocadas em nossa máquina, vamos separá-las, de acordo com
a sua aplicação.

O caráter do ministro
No dicionário Aurélio, a definição para “caráter” é:
“qualidade inerente a uma pessoa”. Eu diria que é o conjunto
de qu alidad es que m arcam d eterm in ad a pessoa. Se
pensarmos bem , todos tem os caráter, ou marcas que se
m anifestam cm nossas atitudes. Algumas são boas e outras
são más.

Irrepreensível
Em termos de ministério, a Palavra de Deus não abre
nenhuma exceção para pessoas de mau caráter. Paulo diz que
o líder deve ser irrepreensível, ou seja, uma pessoa que
ninguém poderá apontar um dedo de acusação. Desde o seu
mais íntimo pensamento até as suas mais abertas atitudes
devem te r essa q u alid ad e: estar acim a de q u a lq u er
repreensão.

Bom testemunho dos que estão de fora


Ainda discorrendo sobre o caráter, Paulo recomenda
que o líder deve ter um bom testemunho, não só diante dos
irmãos na igreja, mas diante dos que estão fora dela. Em
outras palavras, o líder deve ser recomendado pelas pessoas
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

do mundo. Sua vida deve ser de tal forma coerente que até
os não-cristãos devem dar um bom testem unho sobre ela.
A Palavra ainda exorta que, se não houver esse bom
testem unho diante do mundo, o líder ficará exposto ao
opróbrio. A palavra usada para “op rób rio” poderia ser
traduzida como “censura”. O líder que não tem um proceder
exemplar c censurado e, em conseqüência disso, perde a sua
autoridade espiritual.
Além dessas coisas, o apóstolo ainda deixa claro que,
aqu eles que não têm um bom testem u n h o d ian te da
sociedade poderão cair no laço do diabo. Muitos líderes estão
neutralizados e enlaçados pelo inimigo por causa de seu mau
caráter, e, m uitas vezes, nem percebem que estão nessa
miséria.
Não é pelo fato de haver alguns resultados ou frutos
ministeriais que o líder possui a aprovação de Deus. Para
ilustrar isso, basta dizer que um de meus melhores professores
na Faculdade Teológica me contou que se converteu a Cristo
por meio de uma mensagem de seu pastor. Alguns anos
depois esse pastor fora desmascarado, pois estava vivendo
em adultério.
Outro caso que se tornou bastante conhecido foi o de
Jim m y Swaggart que, mesmo vivendo em pecado, levou
muitas pessoas a Cristo. Paulo não está falando de resultados
ministeriais, mas, sim, de uma vida coerente, que confere
credibilidade ao ministério.

A família do ministro
As exigências bíblicas para o líder em relação à sua família
são importantíssimas. Tenho repetido sempre que a nossa vida
deve ser coerente com a nossa crença. Se um ministro deve
ensinar sobre família, aconselhar casais em seus problemas e
pregar que Cristo dá uma nova vida, sua vida familiar deve ser
ÉTICA MINISTERIAL

um modelo, para que haja credibilidade em seu ministério. Paulo


apresenta os requisitos necessários ao ministro:

Marido de uma só mulher


Os especialistas apresentam três possibilidades de
interpretação dessa frase. A primeira, mais evidente, é que
não pode haver bigamia ou poligamia no cristianismo. Jesus
deixou isso bem claro em seus ensinamentos (M t 19:3-6).
A segunda é que o bispo não pode divorciar-se e casar-
se novam ente. A terceira apresenta o argum ento que,
mesmo que a primeira esposa vier a falecer, o líder não deve
contrair novo matrimônio. Há ainda uma quarta interpretação,
fora do entendim ento evangélico, que diz que o bispo deve
ser celibatário c que sua única esposa deve ser a igreja.
Minha opinião pessoal, levando-se em conta o contexto
geral da Bíblia e tam bém a questão da coerência e da
autoridade espiritual, é que um líder cristão nunca deveria
se divorciar e nunca se casar novamente após o divórcio, caso
venha a acontecer.
Se formos coerentes com a pregação do evangelho,
entenderemos que, ao aplicarmos os princípios bíblicos sobre
família em nosso casamento teremos as soluções de Deus.
Imagine um pastor divorciado aconselhando um casal
que tem problemas em seu relacionamento conjugal. O que
poderá acontecer? Além disso, se pregamos que Deus tem
poder para resolver todos os problemas, que não há nada
im possível para E le , com o poderiam os d em on strar o
con trário, por m eio de nossas atitu d es? Isso seria um
absurdo.
O m inistério cristão já tem sido dem asiadam ente
degradado e exposto ao ridículo por falta de disciplina e
firmeza por parte dos líderes da igreja. Creio que as ordens,
associações e conselhos de ministros deveríam ter autoridade

101
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

ética e não permitir que situações como essas continuassem


denegrindo o ministério cristão.

Que governe bem sua casa


No capítulo anterior conversamos um pouco sobre a
família do ministro e vimos alguns aspectos sob a perspectiva
da responsabilidade pessoal dele em seus relacionamentos.
Mas, nessa orientação que Paulo dá a Tim óteo, ele se refere
à liderança do marido no matrimônio. Escrevendo aos efésios,
o apóstolo deixa bem clara a posição do marido, enquanto
líder do lar:

“Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao


Senhor. Pois o marido é o cabeça da mulher, como também
Cristo é o cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do
corpo ” (Ef 5:22,23).

A maioria dos especialistas na área familiar sempre


ressalta a im portância da mulher ser submissa, mas fala
tam b ém da posição de lid erança do m arido. E x istem
mulheres que não são submissas, não por uma questão de
rebeldia, mas, sim, porque o marido não lidera o lar.
O ministro de Deus deve ser um hom em que exerce
liderança em sua casa. O interessante no texto é que Paulo
faz uma com paração entre Cristo, cabeça da igreja, e o
hom em , cabeça da mulher.
Isso tem uma significação ao m esm o tempo delicada e
profunda. Assim com o Cristo está sabiamente dirigindo sua
igreja, o homem deve liderar sua esposa e seus filhos. Ao falar
sobre o cuidado com os familiares, o apóstolo não poupa
palavras de advertência:

“Mas, se alguém não cuida dos seus, e principalmente


dos da sua família, negou a fé, e é pior que o incrédulo”
(lT m 5:8).
ÉTICA MINISTERIAL

Trata-se de uma questão de autoridade e de credibilidade.


A igreja e os de fora estão olhando a vida do líder. Se não
virem coerência entre o que ele ensina e o que vive, não irão
respeitá-lo.

Tendo seus filhos sob disciplina


Já vimos as pressões que a igreja coloca sobre os ombros
dos filhos do pastor, mas isso não significa que ele não deva
discipliná-los.
Esta disciplina deve scr baseada na Palavra. Mais uma
vez entra a responsabilidade do líder em ser obediente a Deus.
Diversos autores sobre o assunto “fam ília” mostram que
nossos filhos serão obedientes a nós, pais, à medida que
formos obedientes a Deus.

A postura do ministro
Paulo tam bém fala sobre a postura que o ministro deve
ter diante de Deus c da sociedade. Ele apresenta alguns
adjetivos que devem ser parte integrante de sua vida:

Vigilante
O líder cristão deve ser com o o escoteiro, estando
“sempre alerta”. A palavra usada por Paulo usa aqui é a
mesma usada por Pedro em sua primeira epístola, quando
avisou a igreja sobre os ataques do diabo:
“Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o diabo , anda
em derredor, rugindo como leão, buscando a quem possa
tragar” (lPe 5:8).

Satanás sabe que, ao derrubar um líder, faz um grande


estrago. Além de derrotá-lo em sua vida espiritual, as
conseqiiências são desastrosas também para sua família, para
a igreja e para a sociedade. O ministro precisa estar sempre
alerta!

103
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Sóbrio
O segundo adjetivo que Paulo usa se refere a uma vida
equilibrada ou a uma vida que tenha bom senso. Muitas vezes
o líder é chamado para opinar ou mesmo para julgar causas
com uns da igreja, c isso requer bom senso. Em outras
palavras, requer alguém que tenha os pés no chão e que não
use dois pesos e duas medidas.

Ordeiro e moderado
A Palavra, quando utiliza essa expressão, refere-se a alguém
com uma vida ordenada, honesta e controlada. Ensinamos mais
pelo que fazemos do que pelo que falamos. O líder sempre está
em evidência e é colocado por Deus como um modelo para o
rebanho. Se sua vida for desordenada, ele estará ensinando o
mesmo ao seu rebanho. Neste caso, nem é preciso dizer que o
prejuízo será enorme, em todos os sentidos.

Hospitaleiro
A palavra que o apóstolo utiliza aqui é uma composição
de duas outras: phileo, que quer dizer amor e xenos, que se
refere a estrangeiro. A idéia, então, é “amar o estrangeiro”.
Uma característica básica do cristianism o é o amor
desinteressado. Muitas vezes precisamos demonstrar com
obras esse tipo de amor, recebendo e ajudando as pessoas,
mesmo que isso não nos traga qualquer retorno.
Infelizmente, por causa do egoísmo que existe na sociedade,
temos visto o mesmo ocorrer na igreja. Precisamos aprender o
que é a verdadeira hospitalidade e colocá-la em prática.

As condições do ministro
Depois de ensinar sobre esses itens, o apóstolo passa a
falar sobre as condições requeridas do ministro para o efetivo
exercício do ministério:
ÉTICA MINISTERIAL

Apto para ensinar


A palavra, no original, é “didaktikos”, que é raiz da
palavra “d id ática”, em português. O m inistro deve ser
didático ao ensinar. Isso implica em uma comunicação clara,
para que todos possam entendê-lo e aplicar seus ensinos em
suas vidas.
Vivemos num mundo em que todas as ciências estão
num extraordinário processo de avanço e a pedagogia tem
desenvolvido didáticas revolucionárias no ensino. Nós, como
servos de Deus, precisamos nos atualizar, aprendendo a
utilizar essas novas técnicas.
Isso nos permitirá sermos mais eficazes no cumprimento
de nossa missão, a fim de que aqueles que estão sob nossa
responsabilidade sejam verdadeiros discípulos de Cristo.
Não podemos permitir que a tradição substitua os métodos
modernos de ensino, com o tem acontecido em algumas
igrejas, nas quais, segundo dizem alguns, a escola dominical
não muda há 50 anos.
Por outro lado, é também preciso que não permitamos
que os métodos substituam a efetiva atuação do Espírito Santo
em nosso ensino. Devemos utilizar os melhores métodos, mas
jamais prescindirmos da unção do Espírito Santo.

Não neófito
Em relação à questão da experiência, não podemos
colocar no ministério um rccém-convertido. No Brasil, pela
graça de Deus, tem os percebido um grande avanço no
processo de evangelização. Muitas pessoas famosas aceitaram
a Cristo como Salvador nos últimos anos.
Precisamos, no entanto, tom ar bastante cuidado em
relação a essas pessoas. Com m uita facilidade elas estão
diante de repórteres dos mais diversos segmentos da mídia,
dando seu testemunho, mesmo sem terem sido discipuladas,

105
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

o q u e pod e m o tiv a r situ a ç õ e s e m b a ra ç o sa s para o


evangelho.
Para exemplificar isso, cito o caso de um famoso jogador
de futebol que, após declarar ser cristão, foi protagonista de
um escândalo moral.
O texto de Paulo refere-se, portanto, a alguém não
apenas capaz de testemunhar, mas àqueles que desejam ser
líderes na igreja de Cristo. Neste caso, como ficou claro, não
podem ser novatos 1 1 a fé.
O treinam ento para a liderança é fundamental, pois
quem não aprende a ser liderado jamais poderá servir como
líd er. A pessoa co n sid e ra d a q u a lific a d a deverá ser
reconhecida pela igreja, para, a seguir, ser encaminhada para
um treinamento efetivo. Somente após isso pode ser colocada
num período de experiência ministerial. Caso seja aprovada,
obterá o título eclesiástico.
Nestes dias há uma busca de originalidade no meio da
liderança, cada um procurando ser mais diferente do que o
outro. Antigam ente usava-se as palavras pastor e reverendo
para o líder de uma igreja local. H oje, tem os visto que
qualquer pessoa é bispo, e alguns chegam à ousadia de se
autodenominarem apóstolos!
A igreja tem um papel muito importante na seleção
dos seus líderes, por isso deve estar sempre atenta à exortação
bíblica de não colocar novatos entre eles.

As atitudes do ministro
As nossas atitudes externas naturalm ente manifestam
o nosso homem interior, daí a preocupação de Paulo de que
o líder tenha atitudes corretas e coerentes.

Não dado ao vinho


A orientação bíblica é de equilíbrio e moderação para

106
ÉTICA MINISTERIAL

a vida de qualquer cristão. Está convencionado no nosso país


que o evangélico não bebe, por isso creio que devemos ser
sábios nessa área e não servirmos de escândalo para ninguém.
Além disso, devemos ter cuidado, pois há muitas vidas
escravizadas pelo alcoolismo e sabemos que somente o poder
de Deus pode libertá-las. Por isso, dependendo de nossa
postura, poderemos levar outros a tropeçarem.

Não espancador
No original a palavra vem dc “ferir”, ou seja, alguém que
não fere ninguém. O líder cristão não pode estar magoando
pessoas, do ponto de vista físico, psicológico ou moral. As vezes
não ferim os alguém fisicam en te, mas abrim os feridas
emocionais, que são muito mais difíceis de ser curadas.
Nossa missão é ajudar a produzir a cura das feridas abertas
e nunca sermos instrumentos do diabo para produzi-las.

Inimigo de contendas
Por mais antibíblico que isso seja, infelizmente há líderes
cristãos que são amigos de contendas. Parece que determinados
pontos dc controvérsia funcionam como despertadores do
apetite contencioso. Para alguns, as divergências, as críticas e
até mesmo as quedas morais de outros, funcionam como o
combustível que faz mover seus encontros e conversas.
Há alguns anos, escrevi um livro intitulado “Libertação
da C ulpa”, no qual procuro ajudar os cristãos a limpar suas
consciências por meio da prática de dois princípios básicos
da vida cristã: perdoar e buscar perdão.
“Se cada um de nós perdoasse sinceramente aos que
nos ofenderam e pedisse perdão àqueles a quem
ofendemos, haveria uma verdadeira libertação do
sentimento de culpa, e as brechas abertas para os
ataques do inimigo seriam fechadas e todos viveriamos

107
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

uma vida cristã au tên tica” (Libertação da Culpa,


Datos).

Não ganancioso
A expressão cjuc Paulo utiliza aqui podería ser traduzida
por alguém que não ame o dinheiro. A área de finanças é
uma das mais suscetíveis aos ataques do inimigo. O líder
deve ser um profundo conhecedor dos princípios bíblicos
sobre finanças e aplicá-los em sua vida. Voltarei a este assunto
nos próximos capítulos.

Os dez “nunca” do ministro


Com o resultado de minha experiência e observação no
ministério, chcguei a alguns “nunca” que, creio, serão de
grande utilidade para os nossos pastores c líderes.

Nunca convide membros de outras igrejas


para se filiarem à sua.
Tenho visto muitos pastores “pescando em aquário”,
convidando m em bros de outras com u nidades para se
tornarem membros de sua igreja.
Eticamente isso é um grande erro pois, além de causar
problemas de relacionamentos com seus colegas pastores,
produzirá questões de relacionamento também entre as igrejas.
Por outro lado, a Palavra de Deus nos orienta a não
abandonarm os a nossa congregação (Idebreus 1 0:25), e
quando você convida alguém para fazer isso e se filiar à sua
igreja, estará indo contra a Bíblia.
Além disso, tenho verificado que os membros que ficam
saltando de igreja em igreja, não têm um compromisso sério
com Deus, e nem com a igreja local. Normalmente só causam
problemas. Quando você os convida para ser membros de
sua igreja, eles trarão problemas para sua comunidade.

108-
ETICA MINISTERIAL

Nunca tome partido numa questão


sem ouvir os dois lados.
Esse é um problema delicado. Tenho visto pastores se
enredando em questões ministeriais porque, ao ouvirem uma
facção da igreja que apresente uma causa, já tomam logo
partido em defesa deste lado, sem ouvir o outro. E muito
importante saber como tratar as questões de relacionamentos
entre os membros da igreja sem tomar partido, julgando a
causa à luz da Bíblia.

Nunca deixe de pregar a Palavra com


medo de ofender as pessoas.
“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta,
repreende, exorta, com toda a longammidade e ensino”
(2Tm 4:2).

Alguns p astores não falam sobre d eterm in a d o s


assuntos com medo de ofender as pessoas. Isso é pecado!
Pregue a Palavra de D eus com au torid ade e deixe os
resultados nas mãos dele, sem se importar se alguém irá
gostar ou não.
Gosto m uito de ser chamado dc “mensageiro” quando
as pessoas me apresentam para pregar, é o que faço : prego
a palavra. Se alguém não gosta e reclama, eu digo: “Eu fui
som ente o mensageiro. Quem mandou a mensagem foi
Deus. Reclam e com E le”.
Há pastores que não falam sobre finanças com medo
de o povo sair da igreja. Pessoalm ente, eu prefiro que os
avarentos saiam da igreja, porque eles não são salvos,
conform e diz o texto de Efésios 5:5:

“Pois bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro,


ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de
Cristo e de Deus”.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Tam bém cheguei à conclusão de que, algumas vezes, a


saída de uma pessoa da igreja é mais lucro do que perda.
Infelizm ente há muito joio como instrum ento de Satanás
para perturbar e atrapalhar o avanço de nossa congregação.

Nunca use o púlpito para atacar pessoas ou


descarregar suas ansiedades e preocupações pessoais
O púlpito da igreja é um lugar reservado para a
pregação da Palavra de Deus e orientação espiritual dos
crentes. Há pastores que o utilizam com motivações e interesses
pessoais. Isso é pecado, pois essa não é uma tribuna destinada
a qualquer uso que não seja respaldado pela autoridade
conferida por Deus.

Nunca fale do púlpito sobre experiências de


aconselhamento sem autorização.
Se você teve uma experiência bem -sucedida num
aconselham ento, sabe que ela será um instrum ento de Deus
para aju d ar e prevenir pessoas de caírem no m esm o
problem a. Se desejar com partilhar essa experiência, no
entanto, peça em primeiro lugar permissão para a pessoa
envolvida.
No caso da aquiescência desta, com partilhe com a
comunidade, esclarecendo que foi autorizado a contar o fato.
Caso contrário, os membros da igreja terão dificuldade em
abrir o c o ra çã o para v o cê, com re c e io de qu e suas
experiências sejam tam bém abertas em público.

Nunca peça dinheiro emprestado


“O rico domina sobre os pobres, e o que toma emprestado
é servo do que empresta” (Pv 22:7).

O p astor p recisa estar com sua m e n te livre de


preocupações. E terrível pregar com ansiedade, sabendo que
ÉTICA MINISTERIAL

naquela semana há uma conta para pagar. No capítulo nove


vou com entar alguns princípios sobre finanças, que você
poderá aplicar em sua vida.

Nunca manuseie finanças da igreja


O pastor nunca deve tocar nas finanças da igreja. Deixe
que o tesoureiro cuide disso, e que a comissão de exame de
contas sempre apresente o relatório. Nesse delicado assunto,
o pastor nunca deve legislar em causa própria. Você poderá
compartilhar com a diretoria da igreja suas necessidades ou
dificuldades financeiras, mas deixe que eles tom em as
decisões sobre seu salário e benefícios.

Nunca subestime a história de sua igreja e o


ministério anterior ao seu
Existem alguns pastores que, ao assumirem a liderança
de uma igreja, têm a tendência de mudar tudo. Com essa
atitude, desrespeitam a história da igrejh e o m inistério
anterior. Esses pastores devem se lembrar de que um dia
tam bém serão substituídos e que o que estiverem fazendo
agora poderá ser melhorado pelos seus sucessores.
Isso me faz lembrar de uma piada que ouvi: no dia da
posse de um pastor em uma igreja, no final do culto, o pastor
que estava saindo deu ao novo três envelopes numerados, e
lhe disse: Quando você tiver a primeira crise no ministério,
abra o primeiro envelope e encontrará instruções para superá-
la. Quando vier outra crise, abra o segundo envelope, e assim
sucessivamente.
Chegada a primeira crise, o novo pastor lembrou-se
dos envelopes, pegou o primeiro e abriu. Estava escrito o
seguinte: “Coloque a culpa no pastor anterior”. No domingo
seguinte ele subiu ao púlpito, criticou o pastor anterior e
pôs a culpa da situação sobre ele.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Tudo melhorou, mas, depois de algum tempo, chegou


outra crise e a situação estava difícil. Logo o pastor se
lembrou do segundo envelope. Abriu-o e estava escrito o
seguinte: “Coloque a culpa no povo”. No domingo seguinte
ele criticou os membros da igreja, culpando a congregação
pela crise.
Aparentem ente a situação melhorou. O tempo passou
e a crise voltou. Então, ele lembrou-se do terceiro envelope.
Abriu-o e encontrou escritas estas palavras: “Faça três
envelopes!”.

/
Nunca se isole no ministério
E m uito im portante ter amigos para compartilhar as
lutas e tribulações. Tenho visto líderes caírem no pecado por
serem m uito independentes. A Bíblia diz:
“Levai as cargas uns dos outros" (G1 6:2).

Com o pastores e líderes precisamos de companheiros


com quem possamos abrir nossos corações, orarmos juntos,
exortarmo-nos e edificarmo-nos m utuam ente.
7
DONS|fe|
MTNTSTERTATS
JL W Mm iMt*. JL ip- « JL i JL . JÊÊtmm « J L « L 4fc> J . JL > « JL mamF

“E ele mesmo deu uns para apóstolos,


e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores
tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do ministério,
para edificação do corpo de Cristo”.
Ef 4:11,12

A m edicina moderna pode nos ajudar bastante no


entendimento dos dons espirituais. Hoje em dia cada médico
tem sua área de especialização. Quando um deles descobre
que o problem a de seu p acien te está em outra área,
recomenda-lhe que procure um especialista naquela área.
Todos os médicos têm um treinamento em clínica geral, mas
se especializam em uma área específica.
No ministério deve acontecer o mesmo. Cada pastor
possui um conhecim ento geral do funcionam ento do corpo
de Cristo, mas precisa exercer seu ministério de acordo com
o dom que Deus lhe concedeu.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Eu chamo esses dons de ministeriais , porque são dons


colocados por C risto para a liderança da igreja, visando
propósitos especiais:

Equipar os crentes
A frase “...tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos...”
podería ser traduzida como “...para equipar os crentes...” A
palavra “ap erfeiçoam en to”, no original grego, tem uma
conotação mais profunda. Significa equipar ou dar condições
aos santos. O trabalho da liderança da igreja é dar aos crentes
as ferramentas e as condições necessárias para exercerem
seus ministérios pessoais.

Para a obra do ministério


Há uma tradução que diz: “...para o desempenho do
seu serviço...”. Note bem que o crente deve ter o seu serviço
no corpo dc Cristo. Todos os membros de nossas igrejas
deveríam ter o seu ministério pessoal.
Infelizm entc, porém, temos recebido uma herança que
ensina que o pastor deve fazer tudo na igreja. Os crentes são
apenas espectadores do trabalho pastoral. O pior é que, até
em nossos sem inários teológicos ensina-se esta teoria.
Lem bro-m e de que aprendi no seminário que, como pastor,
d everia pregar, v isitar, preparar o b o le tim se m a n a l,
administrar, aconselhar etc.
Quando fui ordenado ao ministério, decidi cumprir
todas essas exigências ensinadas pelo seminário e impostas
pela igreja. C om ecei com um plano de visitar todos os
irmãos. Munido do rol de membros, comecei pela letra “a”,
e num dia da semana, à tarde, fui visitar a primeira família.
Quando cheguei na casa, toquei a campainha. Depois
de alguns instantes, saiu na porta a esposa, surpresa com a
chegada do pastor. Depois de cumprimentá-la, perguntei:

114
DONS MINISTERIAIS

— O irmão fulano está?


— Não, pastor, ele está no trabalho.
— Está bem , então eu volto amanhã.
No dia seguinte voltei à mesma casa, junto com minha
esposa. Entramos e começamos uma agradabilíssima conversa:
— Tudo bem , irmã?
— Sim, pastor, está tudo bem.
— Vocês estão passando por algum problema?
— Não, pastor, está tudo em ordem.
— T êm algum pedido de oração?
— Não, está tudo bem - a mulher parecia me dizer:
‘'Você está perdendo seu tempo aqui”.
A esta altura, eu m esm o já me sentia constrangido e
frustrado. Li um trecho da Bíblia e fiz uma oração, de acordo
com o que aprendi no seminário, tom ei o cafezinho que
sempre é oferecido, me despedi e saí, notando que o mesmo
sen tim en to de frustração estava no coração de m inha
esposa.
Fomos a outra residência e a mesma cena aconteceu.
Ao voltar para casa, com ecei a me perguntar: Será que
o ministério é isso? Será que devo investir o meu tempo indo
na casa de crentes que não estão esperando pela visita do
pastor? Decidi orar e procurar na Bíblia onde estava escrito
que o pastor deve visitar os crentes. Nada encontrei que
justificasse esse procedimento.
O único versículo que encontrei foi em Tiago 1:27:

“A religião pura e imaculada para com nosso Deus e Pai é


esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e
guardar-se incontaminado do mundo”.

C om ecei a analisar esse texto e descobri que ele não


se referia a visitar todos os crentes, mas apenas os que estão
necessitados.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Em uma outra ocasião, fui com m inha esposa ao


hospital para visitar um irmão da igreja. Chegamos ao quarto,
c quando ele me viu, foi logo dizendo:
— Ai, pastor, está doendo aqui...
— Onde está o seu problema, irmão?
— Estou com problemas nos rins, pastor.
— Nos rins, irmão? Não precisa se preocupar. Meu pai
teve tuberculose nos rins, e um deles já não funciona mais.
Ele teve uma cólica m uito forte, mas fomos ao médico,
oramos com a igreja, ele tomou os remédios e agora está
bom.
A esta altura, percebí que o irmão não estava gostando
da conversa, mas eu queria animá-lo e com ecei com outra
história:
— Um outro irmão da igreja tinha de fazer diálise duas
vezes por semana, porque o seu rim não funcionava direito.
Ele está suportando com paciência toda essa tribulação, e
estamos orando por ele.
Notei que ele se mostrava cada vez mais desconfortável
após os meus comentários. Aí, resolvi colocar em prática
outra coisa que aprendi no seminário: ler um trecho da Bíblia
para o enferm o, se possível o Salm o 41:3: “O Senhor o
sustentará no leito da enfermidade-, e o restaurará da sua cama
de d o e n ç a Acabei de ler o texto, fiz uma oração e saí, sob o
olhar frustrado daquele irmão.
No corredor do hospital, voltei-me para minha esposa
e disse:
— Querida, foi uma boa visita, não?
— Meu bem , só faltou você sepultar o irmão.
— Mas, fiz tudo que aprendi no seminário.
— Você só falou de doença o tempo todo.
— E que eu estava tentando animar o irmão com outros
exemplos.
DONS MINISTERIAIS

— Isso não funciona. Você deve falar sobre outros


assuntos.
Verifiquei que, pelo menos naquele aspecto, a minha
esposa era mais pastora do que eu. Depois de algum tempo,
esse irmão sarou e, ao dar seu testem unho na igreja, disse:
“Irmãos, se algum de vocês ficar doente, não chame o pastor
Edison para visitá-lo, porque não dá certo. Cham e outro
pastor”.
Confesso que gostei muito do que ele disse, porque me
ajudou a ensinar a igreja sobre os dons ministeriais. Depois
de um d eterm in ad o tem p o no m in istério, co m ecei a
descobrir que o meu dom ministerial é o de profeta, pelos
resultados no ministério e pelo reconhecim ento da igreja.
E m u ito im p o rta n te qu e os p astores e líd eres
reconheçam o talento ou talentos que receberam e estejam
conscientes de que Deus não lhes vai dar todos os dons.
Jesus C risto outorgou diversos dons m inisteriais à
liderança, exatam en te para que uma pessoa não fique
fazendo todas as coisas. C onheço pastores que pregam e
dirigem uma classe da Escola Dom inical aos domingos.
Durante a semana, preparam boletim, fazem visitas, dirigem
reuniões administrativas e recebem pessoas para o aconse­
lhamento, parecendo o hom em dos sete instrumentos. Isso
não é bíblico.
O rev. John Stott, um dos mais reconhecidos professores
da Bíblia em nossa época, faz a seguinte afirmação em sua
exposição do livro de Efésios:

“O conceito neotestamentário de pastor não é o de uma


pessoa que conserva a totalidade do ministério nas suas
próprias mãos, tendo ciúmes dele, e que esmaga toda a
iniciativa dos leigos, mas, sim, de uma pessoa que ajuda
e encoraja todo o povo de Deus a descobrir, desenvolver
e exercer seus dons. O ensino e o treinamento do pastor
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

se dirigem para esta finalidade, para capacitar o povo de


Deus a ser um povo que serve, ministrando ativa, porém
humildemente, num mundo de alienação e dor. Assim,
ao invés de pessoalmente monopolizar todo o ministério,
chega realmente a multiplicar os m inistérios” (A
Mensagem de Efésios, ABU).

Creio que cada igreja deveria ter pelo menos cinco pastores,
cada um dentro dc seu dom ministerial. Talvez você diga:
— Nossa igreja não tem dinheiro nem para pagar um
pastor, como poderemos ter cinco?
Cada pastor deveria descobrir em sua igreja os irmãos
que têm outros dons e pedir-lhes que o ajudem no ministério.
A igreja poderá ter esses irmãos que trabalham secularmente
servindo como ministros.
Quero oferecer-lhe uma perspectiva de como vejo os
cinco dons ministeriais:

Apóstolo
(no original - enviado)
O apóstolo é aquele que tem a visão de fazer coisas
novas. Ele está sempre preocupado em abrir novas igrejas e
desenvolver novos projetos. E aquele irmão que sempre vem
com idéias e planos para a expansão do reino de Deus.

Profeta
(no original - aquele que fala da parte de Deus)
O profeta é aquele que deseja ver a igreja obedecendo
a Palavra de Deus. Sempre está exortando o povo. Esse dom
é diferente do descrito em 1 Coríntios 12, que se refere àquele
que traz uma mensagem direta de Deus para a igreja.

Evangelista
O evangelista é aquele que desafia, motiva e ensina a
4M »
DONS MINISTERIAIS

igreja a ganhar vidas para Cristo. Ele pessoalmente ganha


vidas, mas tam bém trabalha para que a igreja faça o mesmo.
Seu interesse principal é a salvação de almas.

Pastor
Ser pastor é possuir uma habilidade especial para cuidar
do rebanho. Seu prazer é aconselhar, fazer visitas e estar em
comunhão com as pessoas. Ele sempre tem uma palavra de
conforto para os que necessitam e preocupa-se com o bem-
estar das pessoas.

Mestre
O mestre ensina a Palavra de Deus com autoridade e
profundidade de conhecim entos. Está atento aos detalhes e
princípios das Escrituras. Seu maior interesse é saber o que
a Bíblia diz e ensinar isso ao povo.
O pastor Bartimeu Vaz de Almeida Júnior apresentou
uma ilustração que nos ajuda a entender o funcionam ento
desses dons. Suponhamos que numa mesa esteja uma pessoa,
rodeada de cinco outras, cada uma com o seu respectivo dom
ministerial. De repente essa pessoa se descuida e derruba o
copo de suco. Estas seriam as respectivas reações de cada um:
O apóstolo diría:
— Vamos nos organizar para que tenhamos um suporte
para aparar o copo, a fim de que ele não caia mais.
O profeta diria:
— Você deve tomar mais cuidado com o copo! Preste
mais atenção. Não fique aí abanando as mãos e derrubando
copos!
O evangelista diria:
— Precisamos ter mais copos de reserva para casos
com o esse. Não se preocupe que vamos arrumar mais copos
e preparar outro suco.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

O pastor colocaria sua mão no ombro da pessoa e diría:


— Querido irmão, não se preocupe.... Isso acontece com
qualquer pessoa. Derramou o suco na sua roupa? Não faz
mal. Eu o ajudarei a limpar. Aqui está outro copo de suco.
Você não ficará com sede. Se acontecer de novo, não fique
preocupado que cu estarei aqui a seu lado.
Finalm ente, o mestre diria:
— Veja bem. Você deveria colocar o copo neste lugar, e
o seu braço longe, assim você não derrubaria o copo. Da
próxima vez, deixe o copo cinco centímetros adiante da borda
do prato, do lado direito, se você for destro. Se for canhoto, é
melhor colocá-lo a cinco centímetros do lado esquerdo.
Cada um desses dons é necessário ao ministério, porque
um com plem enta o outro. Se o pastor for um evangelista, a
tendência da igreja será crescer muito em número, mas ter
um crescim ento espiritual fraco. Se o pastor for um mestre,
haverá m uito ensino, a igreja terá muito conhecim ento, mas
crescerá pouco.
Se o pastor for um apóstolo, a igreja terá sempre muitas
novidades, mas não terá planos concretos. Se ele, porém, tiver
o dom de pastor, a igreja gastará a maior parte de seu tempo
tratando de problemas, cuidando de vidas, e as outras áreas
serão negligenciadas. Finalm ente, se o seu dom for o de
profeta, a igreja receberá exortações o tempo todo, e haverá
problemas em outras áreas.
Fogo que descobri o meu dom, decidi formar uma
equipe ministerial composta de irmãos com os outros dons
complementares. Com ecei a orar e Deus trouxe essa equipe.
O primeiro a fazer parte foi um pastor que possui dom
pastoral.
D escobri que aquele irmão tinha cham ada para o
ministério. Ele gostava muito de visitar e aconselhar e estava
sempre preocupado com o bem-estar dos membros. Ele foi
DONS MINISTERIAIS

um a b ên ção para a igreja, p orqu e atuava num a área


im p o rtan te. E le preferia fazer cerim ôn ias fú n ebres a
cerimônias de casamento.
Certa vez fomos juntos a um sepultamento. Quando
ele pregou, confortou toda a família com palavras de consolo.
Citou diversos versos bíblicos de encorajamento e esperança.
Quando terminou, a família estava satisfeita e confortada.
A seguir, tom ei a palavra e já com ecei dizendo:
— Olhe bem para este caixão. Aqui está o seu fim! Um
dia você tam bém estará assim. Com o está a sua vida com
Deus?
C om ecei a exortar o povo a acertar a vida com o
Senhor, enquanto há tempo.
Talvez você pergunte qual dos dois está certo? Não
tenho dúvidas cm responder que são os dois, um com ple­
m entando o dom do outro.

Como identificar o nosso dom ministerial


Não existe uma regra prática para identificar o dom
que Deus nos dá. Há, contudo, algumas evidências que
poderão nos ajudar:

A atividade ministerial que mais nos dá alegria


Deus nos dá alegria no ministério. Quando fazemos
aquilo que Deus quer, no lugar em que Ele quer, da forma
que Ele quer, nos sentimos realizados e felizes no ministério.
Veja o que diz o texto de Deuteronôm io 16:15:
“Durante sete dias celebrarás a festa ao Senhor teu Deus,
no lugar que o Senhor escolher. Pois o Senhor teu Deus há
de abençoar-te em toda a tua colheita e em toda a obra das
tuas mãos, e a tua alegria será completa”.

O ministério não pode ser exercido sob pressão, mas


voluntariamente. Tenho visto pastores e líderes murmurando,
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

reclamando e descontentes. Se há problemas, devem ser


resolvidos, mas a Bíblia nos ensina que, mesmo em meio a
tribulações, devemos ter a alegria do Espírito Santo:
“E vós vos tornastes nossos imitadores, e do Senhor,
recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do
Espírito Santo” (lTs 1:6).

A atividade ministerial na qual damos mais fruto


Fruto é resultado. Qual é a atividade ministerial em que
estamos obtendo mais resultados? Essa é uma das formas de
descobrirmos qual é o nosso dom ministerial. Muitas vezes
vejo pastores fazendo coisas fora de seu dom e percebo que é
uma perda de tempo, energia e talento, porque não têm
resultados. E como se quiséssemos que os pés tivessem a mesma
flexibilidade que as mãos, ou que os olhos conseguissem ouvir.

A atividade ministerial que a igreja


reconhece como nosso dom
O que os membros dizem a nosso respeito, em relação
ao ministério que exercemos? A igreja vê e experimenta em
que áreas o líder é mais bem-sucedido.
Um alerta é necessário. Infelizm en te, em algumas
igrejas, existe uma cobrança para que o pastor faça tudo.
No en tan to , sem pre é possível consu ltarm os algum as
pessoas maduras e aferir delas qual é a área em que mais
tem os sido usados por Deus. Isso facilitará a identificação
de nosso dom ministerial.
Será m uito útil entenderm os que o texto de Efésios
diz claram ente que C risto é quem deu os dons ministeriais
à igreja. Portanto, não podemos querer ter este ou aquele
dom e, sim, descobrirmos qual o dom que Cristo nos deu.
Isso traz paz e tranqiiilidade aos pastores e líderes, pois tira
aquele peso de que devemos fazer tudo no ministério.
DONS MINISTERIAIS

Devemos analisar, em oração, os nossos dons. Seria


bom com eçarm os a pesquisar as três áreas que evidenciam
o dom que recebem os. Em seguida, devemos ensinar a
respeito disso. Dessa forma o povo entenderá qual é o nosso
dom e não exigirá de nós aquilo que não podemos dar,
em bora sempre haja cobranças.

Princípios relacionados aos dons ministeriais


Você só possui um dom ministerial
Ao descobrir seu dom, saiba que essa deve ser a sua
área de concentração ministerial. Isso significa que você
deverá usar a maior parte de seu tem po, energia e talentos
nessa área, pois assim o seu m inistério será mais produtivo.

Pode haver manifestações de outros dons


em seu ministério
Você percebe que possui apenas um dom ministerial
mas, eventualm ente, ocorrerão no exercício do trabalho
manifestações esporádicas de outros dons. Por exemplo, em
meu caso particular, estou consciente de que o meu dom é o
de profeta, mas muitas vezes aconteceram manifestações do
dom de mestre e até mesmo de pastor.
Em certas ocasiões, as circunstâncias nos forçam a
trabalhar dentro de outras áreas, o que deve ser feito. O
princípio que estam os apresentando é que você deve se
concentrar em seu dom, mas precisa estar pronto a ser usado
por Deus em outras áreas.

Você deve concentrar seu tempo


e recursos em seu dom pessoal
Isso é m uito im portante. Em seu planejam ento, dê
prioridade ao seu dom pessoal. Isso não quer dizer que não
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

deva estar disponível para trabalhar em outras áreas, caso


seja necessário. O im portante é priorizar sua principal área
de atuação.

Procure na igreja pessoas com capacidade


de liderança e ajude-as a descobrir
seus dons ministeriais
E im portante que cada igreja tenha os cinco dons
ministeriais funcionando em harmonia. Entretanto, o mais
com um é que as igrejas não tenham condições de pagar
salário para cinco pastores. Por isso é recomendável que você
procure líderes maduros e comprometidos. Depois, ajude-
os a d e sc o b rir q u ais são os seus d on s, p ro v id e n cie
treinam ento adequado e dê-lhes autoridade ministerial para
trabalhar com você na igreja.

Se não as encontrar, peça a Deus que traga líderes


para ajudá-lo em seu ministério
Deus está mais interessado do que nós em que sua igreja
cresça equilibradamente, assim Ele trará companheiros para
auxiliá-lo em suas áreas carentes.
A igreja de C risto tem muitas facetas e uma vasta
diversidade de manifestações. Em virtude disso, dê liberdade
ao E sp írito S a n to para que d irija e tra b a lh e em sua
com unidade por meio de cada m em bro, para que todos
sejam um em Cristo.

Os propósitos dos dons ministeriais


G osto muito da forma como Paulo apresenta a m eta
que devemos alcançar:
“Até que todos cheguemos à urudade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
DONS MINISTERIAIS

medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não


sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao redor por
todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com
astúcia induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual
todo o corpo bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas
as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o
seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em
am or” (Ef 4:13-16).

Paulo diz que a finalidade dos dons ministeriais no corpo


de Cristo é equipar os santos para o desempenho do seu
serviço “até que...”. Gosto m uito deste “até que”, porque
mostra que tudo o que fazemos no ministério possui um
propósito. Não fazemos as coisas simplesmente por fazer.
Analisando os resultados, veremos que o Senhor deseja ver
as seguintes metas em nosso ministério:

Que cheguemos à unidade da fé


Que a nossa unidade espiritual seja fundamentada na
fé, para que o mundo creia (Jo 17:21).

Que cheguemos ao pleno conhecimento


do Filho de Deus
Que os cristãos conheçam a Cristo não superficialmente,
mas que tenham um conhecim ento profundo da pessoa dele.

Que cheguemos d maturidade em Cristo


Que tenhamos uma intimidade com Cristo de tal forma
que sejamos maduros na vida cristã.

Que cheguemos à firmeza doutrinária


Que não sejamos enredados pelas doutrinas estranhas
que têm invadido o meio evangélico. Que saibamos interpretar
corretamente as Escrituras e conhecer suas doutrinas básicas.

125
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Que cheguemos à unidade no ministério


Q u e tenham os unidade no ex ercício m in isterial.
Estam os numa época em que a palavra “parceria” deve ser
constante no vocabulário de nossas igrejas.

Que cheguemos d edificação do corpo de Cristo


Que o resultado final de todo o nosso esforço seja a
edificação do corpo de Cristo, até aquele dia, quando a
trom beta de Deus soará e seremos arrebatados.
8
SANTIDADE

“Sede santos, porque eu sou santo.”


lPe 1:16

“Santificai-vos, pois amanhã fará o Senhor maravilhas no


meio de vós.”
Js 3:5

Do ponto de vista bíblico, todo crente deve manter uma


vida de santidade. Evidentem ente isso deve ser m uito mais
sério em relação à vida do pastor. Primeiro, porque ele precisa
ser um modelo para o rebanho. E por isso que no meio
evangélico disseminou-se um ditado que não deixa de ser
verdadeiro: “ Tal o pastor, tal a sua igreja”.
Em segundo lugar, o pastor deve ter uma vida de
santidade para possuir autoridade espiritual. Se ele não viver
o que prega, não conseguirá ter autoridade e, por isso, o povo
não irá respeitá-lo. Seu m inistério acabará sendo uma
desgraça.
Neste capítulo não irei tratar da santidade propriamente
dita. Partindo da pressuposição de que o leitor já conhece
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

sua importância, abordarei aspectos práticos relacionados a


ela que nos ajudarão a ser transparentes.

Desça do pedestal
O governo brasileiro eriou o PR O C O N , um órgão de
defesa do consumidor. Uma das áreas em que ele se sente
mais lesado é em relação à propaganda enganosa. E comum
um com erciante dizer que tal produto tem capacidade de
fazer isto ou aquilo e, quando o consum idor o adquire,
descobre que foi enganado.
Oualqucr dia alguns membros de nossas igrejas irão
fazer uma reclamação no PR O C O N , dizendo que foram
enganados por seu pastor, que diz uma coisa e pratica outra.
Aprendi em meu treinamento ministerial que o pastor
deve ser um super-homem. Ele não pode demonstrar suas
fraquezas, nunca erra na teologia e não comete qualquer falha.
Portanto, nunca pede perdão, nunca se humilha e nunca
reconhece seus erros, se colocando no alto de um pedestal.
A ju stificativ a que alguns apresen tam para essas
atitudes é que o pastor precisa de autoridade, por isso não
deve se humilhar perante o povo. Tal argumento é uma
demonstração de ignorância e um desrespeito para com o
rebanho de Deus.
John Stott afirma que o reconhecimento da sua situação
dc pecaminosidade, responsabilidade e culpa, em vez de
degradar o homem, o dignifica.

“Um reconhecimento completo da responsabilidade


humana c, portanto, da culpa, longe de diminuir a
dignidade dos seres humanos, na realidade a aumenta.
Pressupõe que os homens, diferentemente dos animais,
são seres moralmente responsáveis, que sabem o que
são, podiam ser e deviam ser, e não se desculpam por
sua medíocre performance” (A Cruz de Cristo, Vida).

128
SANTIDADE

Na minha vivência na igreja descobri que o povo não é


tolo e percebe quando o seu pastor é autêntico e leva Deus a
sério. Muitos ministros pensam que a igreja não percebe.
Percebe sim. O que eles não fazem é falar diretam ente para
o pastor, mas o fazem nas rodinhas de fofocas.
O povo de Deus percebe quando você não prepara direito
seu sermão ou quando tem problemas pessoais, porque seu
rosto e suas atitudes revelam isso. Todos notam quando você
não está bem com sua esposa, quando está preocupado e
quando está sendo atacado por tentações malignas.
As suas palavras e atitudes revelam claram ente o que
está por trás. Q u an d o você vai ao p ú lp ito ch eio de
agressividade, sem amor pelo povo, é porque trouxe de casa
seus problemas e está tentando descarrcgá-los durante a
mensagem.
Tire a máscara. Mostre ao povo quem realm ente você
é, e verá a diferença que isto vai fazer.

Confesse o pecado
Muitas vezes ensinamos uma coisa e praticamos outra.
Vejo pastores ensinando o povo que Cristo salva do pecado,
mas suas vidas m ostram que ainda não foram salvos de
determinados pecados. Ficam guardando mágoas, ressenti­
mentos, raiva, ira e amargura no coração, enquanto o povo
está vendo que eles não estão vivendo aquilo que pregam.
Há pessoas que pensam que a confissão de pecados deve
ser um a co isa privad a, d e n tro da e sfera de seu
relacionam ento pessoal com D eus. C laro que devemos
confessar nosso pecado a Ele e receber graça e perdão, mas a
Palavra tam bém nos afirma que devemos confessar nossos
pecados uns aos outros (Tg 5:16).
A igreja de Cristo é uma reunião de pecadores. Todos
nós estamos nessa condição. Em minhas pregações costumo
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

dizer que existem dois tipos de pê-pê. O primeiro é o pecador


perdido, que ainda não conhece a graça perdoadora de Deus.
O segundo é o pecador perdoado, aquele que já recebeu o
perdão de Deus, mas que continua sendo pecador por causa
da sua velha natureza.
C o m o a igreja busca viver um padrão b íb lico de
santidade, isso pode provocar uma reação sofismática. Alguns
pensam que a igreja é uma comunidade de santos, tão santa
que ninguém pode fazer parte dela. A falta de uma confissão
pública esconde a realidade de que ainda estamos vulneráveis
ao pecado.
Concordo com Foster quando ele fala sobre a visão
distorcida que alguns têm da igreja:
‘Achamos a confissão uma disciplina tão difícil, em
parte porque vemos a comunidade dos crentes como uma
com unhão dc santos, antes de vê-la com o uma comunhão
de pecadores. C hegam os a sentir que todos os outros
progrediram tanto em santidade que nos encontram os
isolados e sozinhos em nosso pecado. Não suportaríamos
revelar nossas falhas e deficiências aos outros. Imaginamos
que somos os únicos que não puseram os pés na estrada do
céu. Portanto, escondemo-nos uns dos outros e vivemos em
mentiras veladas e em hipocrisia.
"Se, porém, sabemos que o povo de Deus é, antes de
tudo, uma comunhão de pecadores, estamos livres para
ouvir o incondicional chamado do amor de Deus e
confessar nossa necessidade abertamente diante dos
irmãos e irmãs. Sabemos que não estamos sozinhos
em nosso pecado. O medo e o orgulho que se apegam a
nós como cracas, apeganr-se aos outros também. Somos
pecadores juntos. Em atos dc confissão mútua
liberamos o poder que cura. Nossa condição humana
já não c negada, mas transformada” (Celebração da
Disciplina, Vida).

130
SANTIDADE

Quero compartilhar algumas histórias que aconteceram


comigo durante o meu ministério, e oro para que Deus use
estas experiências para falar ao seu coração, caro leitor.

Domingo de manhã
G eralm ente no domingo de manhã a casa do pastor
fica desorganizada. E o m om ento cm que todos estão se
preparando para ir à igreja, e a correría é geral.
Num desses famosos domingos de manhã, o despertador
não tocou na hora, porque havia esquecido de ligado antes
dc dormir. Levantamos atrasados e a correría foi inevitável.
Tomei meu cafc c pressionei minha esposa para se apressar,
porque estávamos m uito atrasados. Logo eu estava irritado
c com ecei a gritar com as crianças. Saímos às pressas para o
carro, com as crianças ainda sc vestindo. A essa altura, minha
esposa tam bém estava nervosa. No carro, os m eninos
começaram a discutir e cu dei um tapa nas pernas deles,
daqueles que alcança os quatro joelhos de uma só vez.
Enquanto observava os filhos chorando, o rosto da minha
esposa demonstrava tristeza e inconformismo com aquela
situação.
Logo que cheguei na igreja, subi no meu pedestal de
pastor e saudei a igreja:
— Graça e paz, irmãos, tudo bem? Com o vai a família?
(deveria ter perguntado como vai a minha família).
Lui ao púlpito e iniciei o culto aparentando m uita
alegria e fazendo aquele rosto de piedade que você conhece
muito bem. Quando olhei para minha esposa, vi que seu rosto
continuava triste, e parecia que ela olhava para m im e dizia:
“Hipócrita! Lalso!”. Não pude agüentar isso e logo tive a
convicção do Espírito Santo de que eu estava em pecado e
não poderia ter qualquer autoridade espiritual se não
confessasse isso. Enquanto a igreja cantava um hino, desci

.131
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

do púlpito e fui ao banco onde ela estava sentada e pedi


perdão. Ela me abraçou e choramos juntos, abraçados, sob
os olhares do povo. Lógico que o diabo com eçou a lançar
seus ataques na m inha m en te, dizendo que eu estava
p erdend o a au to rid ad e e que m in h a rep u tação seria
prejudicada diante da igreja. A essa altura, decidi agradar
a Deus e não aos hom ens. Voltei ao púlpito, não falei nada
sobre o ocorrido, mas o povo viu que eu estava acertando
algumas coisas com m inha esposa.
Isso é uma com unicação não-verbal. O povo viu que
eu sou fraco, falho e dependente de Deus, como qualquer
membro da igreja. N aturalmente isso faz com que eles orem
mais por mim e se tornem mais abertos a procurar ajuda,
porque vêem que têm um pastor que é um homem normal,
igual a eles.

Convicção de pecado no meio do sermão


C erta vez estava pregando sobre “O papel do marido
no casam ento”, m ostrando as responsabilidades do esposo
para com a família. Quando estava falando sobre o dever
de ensinar a Bíblia no lar, com ecei a gritar no meu sermão:
— Marido, você é o responsável pela vida espiritual
de sua esposa! Se ela anda mal espiritualm ente a culpa é
sua!
De repente, o Espírito Santo falou comigo: “Edison,
você tem ensinado a Bíblia para sua esposa? Você vive aquilo
que está pregando?”. Passei a discutir m entalm ente com o
Espírito, dizendo: “Isso não é hora de me convencer. Agora
estou pregando”. Porém, a convicção foi aumentando e eu
não resisti. Parei de pregar e disse à igreja:
— Meus irmãos, o Espírito Santo está me convencendo
agora, mostrando que sou o pior marido neste auditório,
porque não estou investindo tempo e ensinando a Bíblia para
SANTIDADE

a minha esposa com o deveria. Vou descer agora do púlpito e


pedir perdão a ela. Se você, marido, tam bém está nesta
situação, faça o mesmo agora.
Desci do púlpito e todo o povo ficou parado, atônito,
rne acompanhando com os olhos. Fui até o banco onde ela
estava sentada e disse:
— Querida, eu estou errado por não ensinar a Bíblia a
você. Você pode me perdoar?
Ela me abraçou chorando e disse:
— Você está perdoado, em nome de Jesus.
Pedi a ela que me ajudasse a ensiná-la e que passássemos
mais tempo juntos diante do Senhor. Eu me sentia aliviado
por causa do perdão dc D eus, mas pensava: “Será que
som ente eu sou o pecador neste auditório?”. Para minha
surpresa, q u and o olh ei ao redor vi diversos m aridos
abraçando e se acertando com as esposas.
Quando voltei ao púlpito, Satanás iniciou seus ataques
dizendo: “O que o povo está pensando de você? Você está
perdendo sua autoridade. O pastor não deve se humilhar.
Cuidado com sua posição. Eles vão mandar você embora e
você vai ficar sem salário. Logo repreendí o dem ônio e
terminei minha mensagem.
No final do culto, alguns irmãos me abraçaram e
disseram:
— Pastor, muito obrigado por ser autêntico. O que você
fez me encorajou a tam bém me acertar com minha esposa.

O irmão Almeida*
Numa noite de segunda-feira, me reuni com a diretoria
da igreja para avaliar os m inistérios. Quando fomos avaliar
o de m ú sica, falei mal do irm ão A lm eida, que era o
responsável pela área. Iniciei meus com entários dizendo
*o n o m e f o i t r o c a d o p a r a m a n t e r a p r iv a c id a d e d o ir m ã o .
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

que ele era m uito irresponsável, porque eu havia dado


algumas instruções e ele não as estava cumprindo. Eu estava
sendo m uito insensível, porque o irmão Almeida estava
ocupado a semana toda com seu trabalho, além de ter de
cuidar de sua família, mas eu queria que ele cumprisse com
uma série de exigências que havia determinado. Depois de
“crucificá-lo”, terminamos a reunião.
A semana se passou e no domingo era o dia da Ceia do
Senhor. Fui para o púlpito, cantamos, preguei sobre 1 Coríntios
11:17-22, e falei para a igreja que ninguém deveria participar
da Ceia com pecado não confessado, e que todos deveríam
examinar seus corações.
Sempre ensinei à igreja que, antes de orar, deveriamos
perguntar ao Espírito Santo: “Há alguma coisa que impede
a minha comunhão contigo?”. Pedi a todos que se ajoelhassem
para o m om ento de confissão de pecado.
Eu me ajoelhei diante das cadeiras do coral, atrás do
púlpito, e o irmão Almeida estava tocando o piano ao meu
lado.
Perguntei ao Espírito Santo: “Senhor, há alguma coisa
que impede a minha comunhão contigo?”. Deus imediatamente
me disse: “Está bem aí ao seu lado, tocando piano”. Discuti
com Deus, argumentando: “Ele está errado, porque não está
cumprindo as exigências do ministério de música. Ele deveria
ser mais responsável”. O Espírito Santo me disse: “Ele é
problema meu. Você pecou e deve acertar isso”.
Reconhecí que estava errado, pedi perdão a Deus e a
purificação no sangue de Jesus. O Senhor me disse: “Você
está perdoado, mas agora precisa pedir perdão a todos da
diretoria, que estão espalhados nos bancos da igreja, e ao
irmão Almeida”. Satanás principiou seus ataques, dizendo:
“Cuidado, você poderá perder sua autoridade. Os irmãos não
vão entender. Isto será um escândalo. Não faça isso”.

134
SANTIDADE

Por fim, decidi obedecer a Deus. Fui ao púlpito e disse:


— Se algum irmão pecou publicamente e precisa pedir
perdão à igreja, o microfone está liberado. Quero ser o primeiro.
Todos esbugalharam os olhos, curiosos para ver o que o
pastor iria confessar. Então falei:
— Quero pedir perdão à igreja, principalm ente aos
m em bros da diretoria, porque na segunda-feira passada
com eti o pecado da m aled icên cia, ofendendo o irmão
Almeida, falando mal dele e de seu trabalho. Os irmãos que
me perdoam digam apném.
Todos disseram amém e eu deixei o púlpito, fui até o
piano e disse ao irmão Almeida:
— Irmão, pequei contra você, o criticando diante dc
toda a diretoria. Eu estou errado. Você pode me perdoar?
Ele parou de tocar o piano, me abraçou e disse que me
perdoava.
Q u an d o v oltei para o p ú lp ito havia um grande
q u eb ra n ta m en to . M u itos irm ãos estavam chorando e
pedindo perdão uns aos outros. Tivemos naquela manhã uma
presença especial do Espírito Santo na igreja. Houve um
avivamento, um novo Pentecoste, porque havia um espírito
de perdão.

Só Deus sabia
Nessa última experiência, havia muitas pessoas que
sabiam da minha atitude errada diante de um irmão da igreja.
Contudo, quero compartilhar outra em que som ente Deus
sabia. Eu poderia ter ficado quieto e esconder dos homens,
mas de Deus nunca poderia esconder.
Em um retiro espiritual, um pastor me pediu para falar
com o pastor Mário sobre um seminário que estava sendo
realizado em sua igreja. Eu lhe disse que falaria, mas acabei
esquecendo.

135
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Numa tarde de sábado, quando me preparava para ir à


igreja para realizar uma cerimônia de casamento, o telefone
tocou. Quando atendi, era um membro da igreja que era
sobrinho daquele pastor que me pediu para conversar com o
pastor Mário:
— Pastor Edison, o meu tio está aqui e perguntou se
você falou com o pastor Mário.
E impressionante o meu orgulho, pois somente para
não a d m itir que falh ei e m e livrar daquela situ ação
constrangedora, m enti para aquele irmão:
— Sim , já falei com ele.
Ele replicou:
— O que o pastor Mário disse?
Com o um abismo chama outro abismo, mais uma vez
m enti, agora inventando o que o pastor havia “dito”:
— Ele disse isto, aquilo e aquilo outro.
— O meu tio está aqui, fale diretam ente com ele.
Ele passou o telefone para o seu tio.
— Que bom que você falou com o pastor Mário...
M enti novamente.
— Sim, falei.
— E o que ele disse?
Confirm ei o que havia dito ao sobrinho daquele pastor.
Ele agradeceu e desligou o telefone.
Fui para a igreja, realizei o casamento e depois tive um
encontro com um casal de missionários. Compartilhamos,
oramos etc.
A noite, antes de dormir, fiz uma revisão das mensagens
que iria pregar no dia seguinte, me deitei e dormi em paz.
Mais ou menos às quatro horas da manhã o Espírito Santo
me acordou, me convencendo do meu pecado.
A experiência que tive naquele mom ento é indescritível.
T ive vontade de sumir e me esconder de Deus. Estava
SANTIDADE

com pletam ente envergonhado. Eu me sentia nu diante do


Senhor, sem qualquer argumento ou desculpa.
Logicam ente estava chorando e suando. Pedi perdão a
D eus, me apropriando da prom essa de 1 João 1:9: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça” e também
do versículo sete: “O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos
purifica de todo pecado
Essa luta durou mais, ou menos umas três horas. Deus
me disse que deveria pedir perdão ao membro da minha
igreja e ao pastor a quem havia m entido e que, nesse pedido
de perdão eu deveria dizer a eles que o meu coração é mau.
Peguei o telefone, liguei para aquele irmão e lhe pedi perdão,
dizendo:
— Bom dia, irmão fulano. Aqui é o pastor Edison. Estou
telefonando para lhe pedir perdão, pois Deus me convenceu
do meu pecado. O ntem m enti ao irmão e ao seu tio, pois
não havia falado nada com o pastor Mário, e inventei toda
aquela história. Deus mostrou que o meu coração é mau,
mas quero acertar isto. O irmão pode me perdoar?
Ele respondeu:
— Claro, pastor. Você está perdoado.
— O seu tio está aí?
— Não, ele foi dormir na casa de uma irmã dele.
— Você tem o telefone do lugar em que ele está?
— Sim.
Liguei para o pastor e fiz o mesmo.
Não existem palavras que possam explicar a paz que
invadiu meu coração. Foi como se Deus tivesse arrancado
todos aqueles pensamentos de culpa com sua própria mão.
Aleluia!
Todavia, fica aqui uma advertência: é possível exercer
o ministério, mesmo com pecado oculto. Deus permitiu essa
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

ex p eriên cia para que eu aprendesse que dependo da


convicção do Espírito Santo para m anter minha vida limpa.
N aquela época, estava fazendo a exposição b íb lica de
Efcsios. No domingo seguinte iria falar sobre o versículo 25
do capítulo 4:

“Pelo c/ue deixai a mentira, e falai a verdade cada um com


o seu próximo, pois somos membros uns dos outros”.

Agora eu já tinha a ilustração para o meu sermão, e


compartilhei com a igreja essa experiência.

O que acontece quando um pastor pede


perdão publicamente:
Há mais autenticidade
A igreja percebe que o seu pastor é um homem normal,
que precisa da graça e misericórdia de Deus como qualquer
outro. Isto torna os crentes mais autênticos e vigilantes em
seus relacionamentos.

Há mais autoridade espiritual


O diabo c mentiroso e pai da mentira. Ele diz que você
p erde sua a u to rid a d e q u an d o c o n fe ssa um p ecad o
publicam ente. Isso é mentira. O que acontece é exatam ente
o contrário. O povo percebe que você está levando Deus a
sério, e o respeitará m uito mais.
G osto m uito de uma afirm ação de John S to tt, se
referindo ao nosso auditório:

“Portanto a pergunta é: que espectadores nos são mais


importantes, os terrestres ou o celeste, os homens ou
Deus? O hipócrita realiza seus rituais com o fim de ser
visto pelos homens. O verho grego é theathenaí. Isto é,
estão cm um teatro, representando. Sua religião é um
espetáculo público. O verdadeiro cristão também está

138
SANTIDADE

consciente de que está sendo observado, mas, para ele,


o auditório é Deus” (o destaque é meu; Contracultura
Cristã, ABU).

Os irmãos oram mais pelo pastor


Quando os crentes têm consciência de que o pastor é
um homem que sofre as mesmas tentações, eles intercedem
m u ito mais pela vida dele, pois sabem que é um alvo
permanente dos ataques dè Satanás.

Os membros da igreja ficam mais transparentes e


abertos para acertos
Além de acertarem problemas pessoais com os outros,
os crentes sentem muito mais liberdade dc abrir o coração e
contar suas dificuldades e problemas, o que traz muita vitória
no aconselhamento.

Satanás é derrotado
O diabo não gosta de crente com vida limpa, porque
sabe que há m uito mais poder dc Deus na vida do crente
santo. Isso logicam ente é derrota para ele, porque não vê
brecha para entrar com seus dardos inflamados.

O avivamento vem
Todo avivamento é resultado de santidade e confissão
de pecados. O Espírito Santo é derramado, convencendo o
povo de suas iniqüidades, ajudando na confissão e fortalecendo
com poder para que os crentes tenham uma vida de vitória.
Aprendi com o missionário e conselheiro Jaim e Kenrp
três frases que salvam um casamento:
• Querida, cu estou errado.
• Querida, você pode me perdoar?
• Ouerída, eu amo você.

139
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Creio que cada crente deve usar isso no casamento,


mas os pastores tam bém devem usá-las diante de sua igreja,
bem com o todos os cristãos em seus relacionamentos.
Um alerta importante: você não deve ficar confessando
todo tipo de pecado no púlpito de sua igreja. Você só deverá
confessar publicam ente o pecado que caiu no conhecim ento
público, ou aquele que trará edificação ao povo de Deus. Se
precisar confessar algo que envolva a vida moral e sexual,
não entre em detalhes, apenas diga que ofendeu a Deus e às
pessoas, e peça perdão.
9
Diiíheiro

“Mas veja cada um como edifica"


IC o 3:10

Imagine se fosse possível retirar todo o dinheiro do


mundo. Muita coisa mudaria. Isso atingiría o relacionamento
entre os seres hum anos e tudo seria afetado, inclusive
instituições religiosas, como as igrejas.
Não é novidade para ninguém que existem muitas
igrejas e ministérios que giram em torno do dinheiro. O
planejamento, a motivação e os resultados de tais ministérios
e igrejas estão centralizados nas questões financeiras. Esse
fato provoca uma distorção teológica de tal ordem que a
idéia prevalecente fica sendo a seguinte: “Siga a Cristo e
torne-se rico!”. A contrapartida negativa desse modo de
pensar só podería ser: “A pobreza é do diabo!”.
E preciso que estejam os conscientes de que a Bíblia
não é om issa em relação a esse assunto. En con tram os
passagens que falam sobre dinheiro, tanto no Velho quanto
no Novo Testam ento. O próprio Jesus falou sobre dinheiro e
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

riquezas em diversas ocasiões. Nosso dever, como cristãos, é


aprender com Ele, pois, de fato, essa é uma questão muito
delicada.
Na verdade, a Bíblia apresenta as duas faces da moeda.
A face negativa é aquela cm que o dinheiro é apresentado
como uma armadilha. Não são raros os textos bíblicos que
nos exortam que o dinheiro é algo perigoso. Jesus disse, por
exemplo, que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de
uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (M t
19:24). Em outra ocasião, o Senhor chegou a dizer: “...ai de
vós, os ricos!” (Ec 6:24).
A faec positiva é a que mostra o dinheiro como sendo
uma benção para o nosso próprio viver e para o viver dos
outros. Jesus se relacionava com pessoas ricas. Em Lucas 8:1-
3, lem os sobre algumas m ulheres que apoiavam o seu
m inistério, servindo-o com os bens que possuíam. Ele
participou das bodas em Caná da Galiléia (Jo 2:1). Lídia,
uma vendedora de púrpura, abriu sua casa para a igreja se
reunir (At 16:14,15).
Precisamos aprender a lidar com o dinheiro de tal forma
que a parte negativa seja um alerta para não cairmos, e a
parte positiva seja um instrum ento de Deus para nossa vida
pessoal e o avanço de seu reino na terra. A própria Bíblia
ensina que o dinheiro, em si mesmo, não é mau. O que ela
condena, isto sim, é o amor a ele.
I lá três formas pelas quais Deus nos ensina a lidar com
o dinheiro. Vamos colocá-las no invólucro da graça de Deus,
porque tudo vem de suas mãos.

A graça de dar
Primeiramente, devemos entender que recebemos para
dar. Tudo pertence a Deus, e Ele, em sua bondade, nos dá
para que adm inistrem os. O problem a é a forma com o

142
DINHEIRO

administramos. Se tomamos as coisas que Deus coloca em


nossas mãos e as usamos som ente para nosso benefício
pessoal perdemos muitas bênçãos e podemos até fechar o
canal delas para as nossas vidas.
Um dos princípios básicos do cristianismo é o altruísmo,
que é o a n tô n im o do egoísm o. Se form os a ltru ísta s,
procuraremos estar sensíveis às necessidades dos outros,
p artilh an d o o que tem os com aqu eles que estão em
necessidade. Isso é muito claro nos ensinos de Jesus. Quando
Zaqueu se converteu, tomou a decisão de devolver o que
desonestam ente havia tomado de outras pessoas e também
partilhar os seus bens com os necessitados.

“Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: Senhor, olha,


eu dou aos pobres metade dos meus bens, e se nalguma
coisa de fraudei alguém, o restituo quadruplicado”
(Lc 19:8).

Logo a seguir, Jesus deu o seu veredicto: “Hoje veio a


salvação a esta casa” (v. 9). O Senhor nos mostrou que a
verdadeira conversão, em bora acon teça no in terior do
hom em , m anifesta-se mediante atos exteriores.
Até então, Zaqueu havia sido um escravo do dinheiro.
Era um dos adoradores do deus M am om , mas logo que se
converteu foi liberto e passou a adorar o Deus verdadeiro.
Ele foi abraçado e viu-se envolvido pela verdadeira graça do
ato de dar.
Na igreja primitiva a atitude de dar era parte normal e
integrante do culto:

“Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos,


segundo a necessidade de cada um” (At 2:45)-

Dar é uma graça que poucos têm tido o privilégio de


desfrutar, em virtude do materialismo e do consumismo a
que somos expostos diariamente.

143
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Em meu trabalho de mobilização de igrejas para a obra


m issionária, tenho desafiado os crentes a integrar-se de
coração na graça de ofertar. Tenho ensinado a utilização da
“oferta missionária de fé”, que é um compromisso pessoal
de cada cristão em contribu ir m ensalm en te com uma
quantia para o sustento da obra missionária.
Tenho visto verdadeiros milagres na vida financeira de
igrejas e de alguns cristãos in d iv id u alm en te, porque
com eçaram a contribuir financeiram ente para a obra de
missões.
Por outro lado, existe a falta de responsabilidade e a
tirania do poder maligno da avareza. Diversos missionários
têm passado necessidades e privações porque igrejas c seus
membros não contribuem para o trabalho missionário.
Querido leitor, desejo encorajá-lo a fazer um plano
pessoal para perceber as necessidades ao seu redor e começar
a contribuir financeiramente para ajudar pessoas, ministérios,
missionários etc. Com essa atitude, você será liberto das
am arras do deus M am om e d e sfru ta rá das b ê n çã o s
maravilhosas de Deus.

A graça de usufruir
Em segundo lugar, devemos entender que não existe
somente a graça de dar. Ao contrário, existe também a graça
de usufruirmos daquilo que Deus, por sua bondade, nos tem
dado.
Certa vez, conversava com minha esposa sobre alguns
utensílios que tem os guardados para ocasiões especiais.
Com o eles têm determinado valor, quase não os usamos. No
meio da conversa, ocorreu conosco uma súbita mudança de
mentalidade. Foi como se descobríssemos uma novidade: não
há razão para deixarmos de usufruir destes utensílios, porque
podemos morrer e deixá-los no armário, sem utilidade.
DINHEIRO

Isso ilustra uma verdade m uito importante. As coisas


foram feitas para serem utilizadas, e não para se guardar. Já
percebeu que possivelm ente existem objetos que você
guardou, não os usou e, ao decidir usá-los, viu que estavam
ultrapassados? Por isso, n{ão podemos ficar presos a essa idéia
m esquinha de guardar coisas e deixá-las para um futuro
aproveitamento, teoricam ente melhor.
Deus nos dá coisas para usufruirmos. Devemos aproveitar
bem aquilo que o Senhor nos concede. Queria saber quem foi
que inventou a história que diz que “a vida cristã é uma
caretice”. Quem trouxe para o cristianismo a idéia de que
não podemos desfrutar das coisas que Deus nos dá?
Jesus fazia determinadas coisas que comprovavam que
Ele desfrutava bem daquilo que o Pai lhe dava: descansava,
brincava com as crianças, comia bem , cochilava no barco,
oferecia o melhor vinho (Jo 2), aceitava perfume caro (Lc
7 :3 6 ), participava de festas (Lc 14:7), colhia frutas (M c
11:13), entre outras coisas.

A graça de controlar
Em terceiro lugar, desejo tecer alguns comentários sobre
a graça dc podermos controlar nosso dinheiro. Aqui reside o
equilíbrio entre o dar c o usu fruir. Jesus ensinou que ninguém
pode servir a Deus e a M amom (riquezas):

“Ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de odiar a


um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o
outro. Não podeis serrnr a Deus e às riquezas” (Mt 6:24).

A palavra traduzida aqui para riquezas é, no original,


Mamom. Na época, era um deus personificado em riquezas
e que, supostamente, possuía poder espiritual.
Richard Fostcr, em seu livro Dinheiro, Sexo e Poder,
fala do poder que há por trás do dinheiro:

145
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

“Quando a Bíblia se refere ao dinheiro como a um poder,


não está falando de algo vazio e im pessoal, nem
tampouco se refere a um poder aquisitivo como nós
entendemos quando mencionamos. Não, segundo Jesus
e todos os escritores do Novo Testam ento, atrás do
dinheiro se encontram forças espirituais bem reais que
o ativam, e lhe dão vida própria; portanto, o dinheiro é
um agente ativo, uma lei em si mesmo, c capaz de
inspirar devoção”.

Há um poder maligno que nos induz a usar mal o


dinheiro. O seu uso sensato não é errado. O incorreto é o
abuso, ou seja, a sua má utilização. Daí a necessidade de
possuirmos a graça necessária para controlá-lo, c não sermos
escravizados por ele. Quero apresentar alguns princípios que
nos ajudam a controlar as finanças.

A Bíblia nos ensina que temos poder sobre as


forças espirituais
Isso não é um sofisma, mas uma realidade concreta c
verdadeira, uma vez que Jesus nos garantiu a vitória na cruz
do Calvário (Cl 2:15). Nossa posição cm Cristo está acima
dc qualquer principado ou poder (Ef 1:19-23; 2:6).

O Espírito Santo nos dá domínio próprio


Esse domínio próprio nos é concedido para a nossa
vivência diária (Cl 5:22,23). Sc estivermos cheios do Espírito
Santo, teremos capacidade dc utilizar o dinheiro conforme a
vontade Deus. Assim, nos livraremos da tentação do abuso.

Deus nos concede sabedoria.


A Bíblia diz: “Se algum de vós tem falta de sabedoria,
peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente” (Tg 1:5). Para
controlar bem o uso das finanças, necessitamos de sabedoria,

146
DINHEIRO

principalmente na época em que vivemos, quando somos


tentados a gastar ou investir de forma errada.
Um dos alvos favoritos de Satanás para derrubar um
líder é a área financeira. A li^ão mais importante que Jesus
Cristo nos deixou ao ser tehtado foi como devemos lidar
com o inimigo.
Se verificarm os o relato de M ateus 4, descobrim os
que Jesus respondia a cada ataque com a Palavra de Deus,
dizendo: “Está escrito”. Por isso, é m uito im portante que
conheçam os o que a Palavra diz a respeito do dinheiro,
para fazermos o contra-ataque da mesm a forma: “Está
escrito“\
“Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos
levar dele; tendo, porém, sustento e com que nos vestir,
estejamos contentes. Mas os que querem ficar ricos caem
em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas
e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na
perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males;
e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram
a si mesmos com muitas dores” (lT m 6:7-10).

Paulo está orientando o seu discípulo, exortando-o a


ter cuidado em relação às finanças. O ensino é claro: devemos
estar contentes sc tivermos sustento e abrigo.
Por outro lado, há tam bém um alerta sobre a tentação
e o laço que o d in h eiro rep resen ta na vida do líder.
E n treta n to , existe ainda uma o rien tação m u ito sábia,
dizendo que o mal não está no dinheiro propriamente, mas,
sim, no amor a ele, que é a raiz de todos os males.
T en h o visto pastores derrotad os e frustrados no
ministério porque pensaram que ele seria uma boa fonte de
lucro. E claro que o pastor necessita de sustento e, se possível
for, de um bom sustento, para não cair no laço do maligno.
Porém , quando os valores co m eçam a se inverter e a

147
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

motivação passa a ser o dinheiro, e não os resultados do


ministério, algo está errado.
Há alguns textos da Palavra de Deus que con têm
princípios básicos que nos ajudarão a contra-atacar o inimigo
e obtermos a vitória.

Mantenha sua vida irrepreensível


O texto bíblico que devemos usar para contra-atacar o
inimigo tam bém está na carta de Paulo a Tim óteo:

“E necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, mando


de uma só mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro,
apto para ensinar” (lT m 3:2).

A palavra irrepreensível apresenta a idéia de uma pessoa


para a qual ninguém pode apontar o dedo em acusação. E
m uito im portante que o pastor entenda que a área de
finanças é delicada e sensível, por isso torna-se um alvo de
ataques malignos.
Em termos éticos, é necessário que o pastor seja um
hom em dc caráter. T enho visto pessoas no m in istério
desprovidas dessa qualidade. Fazem concessões, não adotam
os padrões bíblicos de santidade e aceitam determinadas
práticas que não são condizentes com a Palavra de Deus.
Alguns tom am dinheiro em prestado e não pagam,
envolvem-se em dívidas, sem qualquer consciência de pecado.
Parece que, por falta de caráter, suas consciências ficam
cauterizadas. M uitos encaram tais coisas com a m aior
naturalidade!
Há um membro de minha igreja que trabalha numa
grande loja de departam entos. Ele me contou um fato
constrangedor: pastores não têm crédito naquela loja. Foram
tantos os que, sob essa condição, compraram a crédito e não
pagaram, que a loja não aceita mais pastores em seu quadro

148
DINHEIRO

de clien tes. Q ue vergonha! Q u an to s estão su jand o o


m inistério com atitudes com o essa. Estas pessoas estão
envergonhando o nome de Cristo e do evangelho.
E tempo de nos arrependermos do pecado e começarmos
a viver uma vida de total santidade, para que Satanás, nem
qualquer outra pessoa, tenha motivos para nos acusar. Dessa
forma, teremos muito mais autoridade espiritual.

Não peça dinheiro emprestado


O segundo texto está em Provérbios 22:7:

“O rico domina sobre os pobres, e o que toma emprestado


é servo do que empresta".

O pastor não deve pedir dinheiro emprestado de forma


alguma. Alguns pegam o dinheiro da igreja, com a idéia de
que depois vão repor. Pastor, nunca faça tal coisa! Isso abre
uma brecha para ataques do inimigo, que poderá usar uma
situação como essa para destruir seu ministério.
Devem os crescer no con h ecim en to de Deus e, ao
mesmo tempo, conhecer as artimanhas do inimigo, sabendo
quais são suas estratégias e formas de atuar. Paulo disse:

“...para que não sejamos vencidos por Satanás. Pois não


ignoramos os seus ardis” (2Co 2:10,11).

Precisamos conhecer quais são as estratégias, malícias


e jogadas do inimigo. Ele sabe com o nos derrubar. Devemos
ter a prudência das serpentes e estar sempre vigiando.
O diabo pode usar uma situação de envolvim ento
financeiro, com o a que descrevemos acima, para acusar o
pastor e deixá-lo sem autoridade espiritual.
E melhor confiar num milagre de Deus. Se você estiver
numa situação difícil, entenda que é uma grande oportunidade
de experim entar a atuação miraculosa de Deus. O Senhor já
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

prometeu que iria cuidar de nós. O problema é que não


en tend em os isso. E le nos p rom eteu com ida e abrigo.
Contudo, imaginamos muitas vezes que Deus nos prometeu
luxo e conforto material.
Posso usar o mesmo texto para lembrar que o pastor
tam bém não deve emprestar dinheiro. Ele deve, sim, dá-lo
ao necessitado. Diversas vezes em meu ministério precisei
ajudar alguns membros da igreja que se encontravam em
situação difícil. Aí me deparava com um constrangimento
no meu coração: se emprestasse, colocaria o irmão numa
situação de escravidão; se não emprestasse, deixaria de ajudá-
lo em um m om ento dc necessidade.
Decidi, então, sempre analisar a motivação e o caráter
do irmão: se é uma pessoa de caráter, prefiro dar a ela o
dinheiro e dizer que foi dado, e não emprestado.
Se outra pessoa precisa crescer e aprender determinadas
lições de Deus, empresto o dinheiro, mas em meu coração
considero dado, e espero para ver a atitude da pessoa.
Ouando ela vem liquidar a dívida, digo que lhe dei e que não
precisa pagar.
Há algumas situações em que o crente pode contrair
dívidas, como, por exemplo, no caso de aluguel ou compra
de uma casa, pois são bens necessários. Sempre, porém, deve
ter o devido cuidado de não “dar o passo maior do que a
perna”.
No caso de um carro, por exemplo, pode-se comprar a
prazo, pois é um bem de fácil revenda, caso seja necessário
sair da dívida. Porém, há determinados bens que você não
deve comprar a prazo, pois são difíceis de serem vendidos.
Um exemplo típico são os eletrodomésticos que, por isso
mesmo, devem ser adquiridos a vista.
Existem tam bém aqueles pastores que se envolvem no
manuseio das finanças da igreja. Nunca faça isso, porque você

«150
DINHEIRO

estará abrindo uma grande brecha para acusações do inimigo.


Durante os meus 20 anbs de ministério nunca assinei um
cheque e nem me envolvi com qualquer situação financeira da
igreja, a não ser dando orientações quanto à boa administração
na aplicação dos recursos. Nunca me arrependí de ter agido
dessa forma.
E m u ito im p o rta n te que cada igreja ten h a uma
comissão de finanças, uma tesouraria, uma comissão de
exame de contas e que o pastor nunca toque nas finanças da
comunidade. Isto trará autoridade espiritual para ele e o
isentará de acusações.
Cabe aqui uma palavra para os presbíteros, diáconos, e
demais líderes administrativos das igrejas quanto ao sustento
pastoral. A Bíblia afirma:
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por
dignos de du plicada h on ra , p rin cip alm en te os que
trabalham na palavra e no ensino. Porque diz a Escritura:
Não atarás a boca ao boi quando debulha. E: Digno é o
obreiro do seu salário” (lT m 5:17,18).

A palavra que Paulo está usando aqui para honra seria


melhor traduzida por honorário, e o contexto deixa isso bem
claro. Em outras palavras, o pastor deveria receber o dobro
do que recebe, mas isso logicam ente seria difícil de se
determinar hoje cm dia.
Por isso, os responsáveis pela administração da igreja
d evem sem p re te r seus p a sto re s em a lta e s tim a e
consideração, dando-lhes um salário digno, para que eles não
fiquem preocupados com situações financeiras adversas.
Infelizm ente, tem os visto no Brasil igrejas pagando
salários de fome a seus pastores e aplicando o dinheiro em
contas de poupança ou em construções, mostrando que dão
mais valor às coisas do que às pessoas. Queira Deus que você,
leitor, entenda isso.
10
ORGULHO

“Deus não divide sua glória com ninguém”.

Andrae Crouch, um dos mais extraordinários compositores


contemporâneos, foi agraciado com o prêmio Grammy, uma
das mais exigentes premiações musicais dos Estados Unidos.
Ao tomar conhecim ento de sua escolha, ele compôs um hino
de gratidão a Deus, que se tornou conhecido e cantado no
mundo todo:
Como agradecer pelo bem que tens feito a mim,
Que vem demonstrar quanto amor tu tens, ó Deus, por mim
As vozes de milhões de anjos não poderíam expressar
A gratidão do meu pequeno ser que só pertence a ti
A Deus demos glória,
Por quanto Ele fez
Com seu sangue, salvou-me,
Seu poder transformou-me
A Deus demos glória,
Por quanto Ele fez

Aí está um exemplo de alguém que, em vez de orgulhar-


se pelo seu sucesso, uma vez que pelos padrões seculares tinha
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

m o tiv o s para isso, d e cid iu dar to d a g lória a D eu s.


Infelizm ente, exemplos como esse são raros.
O orgulho é uma área de ataque satânico sutil, pois é
algo que só se manifesta no exterior da pessoa depois que criou
raízes em seu interior. Sempre que alguém observa resultados
positivos em seu ministério, tem a tendência natural de achar
que foi ela quem fez o trabalho, só admitindo que foi Deus
quem o fez depois de aceitar os elogios.
Não me envergonho de dizer que diversas vezes, ao
acabar de pregar e verificar a abundante atuação de Deus,
com salvação de vidas, edificação do povo etc., m inha
tendência foi ficar contente; não com o que Deus fez, mas,
sim, com o que “eu” havia feito!
Houve vezes em quem para “am en iz a r” a m inha
consciência, me convencí de que o trabalho era conjunto, entre
o Espírito Santo e eu, mas Deus me convenceu do meu orgulho
e me exortou, me mostrando que a obra é única e exclusiva­
m ente dele. Eu sou apenas a ferramenta que Ele usa.
Em outras ocasiões, também fui quebrantado por Deus
por não ter me preparado espiritualm ente para pregar,
confiando na minha oratória ou na minha suposta “capacidade”
de fazer a obra que é dc Deus.
Em todos esses acontecim entos, senti algo real, bem
interno na minha mente e coração, e ninguém podia perceber
isso. Daí a necessidade de o pastor estar constantem ente em
estado de alerta, vigiando para não dar lugar ao inimigo ou
ao seu próprio ego, ao aceitar a glória que só pertence a
Deus.

A chave de fenda
No texto de Romanos 15:18,19, o apóstolo Paulo diz:
“Não ousaria dizer coisa alguma que Cristo por mim não
tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por
ORGULHO

obras, pelo poder dos sinais e prodígios, no poder do


Espírito Santo”.

Veja que o apóstolo não está dizendo que ele próprio


fez a obra, mas, sim, Cristo, por intermédio dele. O trabalho
é do Senhor e é Ele quem opera. Quando pregamos ou
lideramos a igreja, devemos estar conscientes de que Ele, e
não nós, é a cabeça da igreja. Portanto, Ele é quem deve estar
no comando.
O Senhor faz a sua obra se utilizando de vidas. Quero
relatar uma exp eriência que ten h o com partilh ad o em
diversas pregações sobre a forma como Deus falou ao meu
coração e nre ajudou a entender melhor seu trabalho em mim
e através de mim.
C erto dia, o Sen h or falou com igo num a oficin a
m ecânica. Deus tem diversas formas de falar conosco, mas
naquele dia Ele decidiu falar comigo dentro de uma oficina
m ecânica, onde o am biente na maioria das vezes não é
favorável para isso.
O meu carro estava com defeito e fui levá-lo à oficina.
Quando entrei, vi numa das paredes um quadro de madeira
bem grande com diversos pregos, c as ferramentas dispostas
sobre eles, nos seus devidos lugares.

Entrega!
Havia chaves de fenda de diversos tam anhos, todas
colocadas uma ao lado da outra, numa seqüência decrescente,
da maior para a menor. Ao lado, havia as chaves de boca,
dispostas da mesma forma. Havia também outras ferramentas,
todas ordenadamente arrumadas.
Deus começou a falar comigo da seguinte forma:“Edison,
eu sou o m ecânico, o carro é o mundo. Estou consertando o
mundo, e você é apenas a ferramenta que eu uso. A obra é
minha, e não sua”.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Naquela ocasião, eu estava muito contente com o meu


ministério na Primeira Igreja Batista em Santo André. Sentia
que eu é quem estava fazendo o trabalho. Tinha tudo sob
controle em minhas mãos mas, dentro daquela oficina, Deus
me disse: “Entregue a igreja para m im ”.
C om ecei a discutir com Ele, dizendo: “Mas Senhor,
tenho tantos planos para a igreja, a coisa vai indo tão bem,
acho que não preciso entregar”. Porém, o Senhor foi bem
enfático e falou novamente ao meu coração: “Entregue a
igreja para m im ”. Decidi obedecer e não discutir mais com
Deus. Entreguei a Ele a igreja, dizendo: “Está bem , Senhor.
A igreja é tua, podes fazer o que quiseres com ela”.
Foi muito interessante o que aconteceu, pois Deus não
me tirou do ministério da igreja, nem permitiu dificuldades.
Ao contrário, uma sensação de paz e alívio invadiu meu
coração. Fiquei livre das diversas ansiedades naturais do
ministério que surgem quando tentamos exercê-lo por nossos
próprios esforços.

Maior ou menor?
Deus, porém, continuou falando comigo: “Olhe bem
para o quadro na parede. Você vê que eu tenho chaves de
fenda grandes, como dr. Russell Shedd, Caio Fábio, Billy
Graham etc., e tenho tam bém chaves de fendas menores,
até a menorzinha, como Edison Queiroz”.
Fiquei muito feliz por entender que não sou uma chave
de fenda grande, mas pelo menos estou no quadro das
ferramentas de Deus. A essa altura, eu estava olhando o
serviço do mecânico. Ele foi trabalhar no carburador do carro
e, para retirar a tampa, precisava, antes, tirar uns parafusos
grandes.
Ele foi ao quadro e pegou a chave de fenda maior — o
dr. Shedd — e com eçou a tirar os parafusos grandes. Depois

156
ORGULHO

que ele tirou a tampa, dentro do carburador havia alguns


parafusos bem pequenos. Novamente ele foi ao quadro e
apanhou uma chave de fenda menor — o Edison Queiroz —
e tirou o parafuso pequeno. Foi quando Deus m c disse: “Se
eu tentasse tirar o parafuso grande com a chave dc fenda
pequena, não iria dar certo. Por outro lado, se eu tentasse
tirar o parafuso pequeno com a chave de fenda grande,
tam bém não daria certo”. Então, Ele concluiu: “Você é uma
ferramenta pequena, mas muito útil e importante para m im ”.
E possível que você se sinta uma chave de fenda tão
pequena que imagina não haver mais trabalho que lhe caiba.
Saiba, entretanto, que você é m uito importante para Deus.
Ele precisa da sua vida para executar trabalhos específicos
em seu reino.

Vontade própria?
O Senhor, no entanto, continuou falando comigo:
“Imagine se as ferramentas tivessem vontade própria”.
Im aginei, então, o m ecânico indo ao quadro para
apanhar uma ferramenta e ela lhe dizendo: “Desculpe, sr.
m ecânico, mas hoje não estou m uito disposta, use outra
ferram enta”.
Infelizm ente muitos de nós temos agido com o Senhor
dessa maneira. Se Deus o chamasse hoje para ser missionário
na África, Ásia ou em qualquer outra parte do mundo, qual
seria sua reação? Tenho visto muitos fazendo com o a chave
de fenda que tem vontade própria, dizendo: “Senhor, chame
outro”.
Creio que um dos maiores obstáculos que o Senhor
encontra para usar nossas vidas é a nossa vontade própria.
Fazemos nossos planos, estabelecemos nossos ideais para a
vida sem consultar a Deus para saber se tudo isso corresponde
à sua vontade ou não.

157
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Alguns chegam a fazer planos sem consultar o Senhor e,


quando as coisas saem erradas, têm a ousadia de dizer que
foi Deus quem os mandou realizar tal projeto. Precisamos cair
aos pés de Deus, como fez Jesus, e dizer:
“Todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22:42).

Tem de ser afiada!


Deus continuou falando comigo. Desta vez o mecânico
pegou uma chave de fenda cuja ponta tinha um defeito e ele
ligou um esmeril para afiar a ferramenta. Aquela roda áspera
com eçou a girar. O m ecânico pegou a chave de fenda e a
encostou naquela pedra dura. Logo houve um ruído forte e
algumas fagulhas começaram a cair. Então, Deus mc disse:
“Meu filho, quando eu permito lutas, dificuldades, problemas,
tribulações em sua vida, sei que dói, mas estou afiando você
e preparando-o para que seja uma ferramenta ainda mais
útil em minhas mãos”.
Naquele m om ento lembrei-me do texto de Romanos
8:28, que diz:
“Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito”.

Talvez você esteja passando por lutas, dificuldades,


muitas tribulações, e não esteja vendo uma saída. E possível
que não esteja entendendo o que Deus está fazendo em sua
vida neste mom ento. No entanto, saiba que Ele está nos
moldando, nos afiando e nos preparando para sermos melhor
usados por Ele no ministério. Veja o que a Bíblia diz:
“Palavra do Senhor, que veio a jeremias: Levanta-te, e desce
à casa do oleiro , e lá te farei ouvir as minhas palavras.
Desci à casa do oleiro, e vi que ele estava fazendo a sua
obra sobre as rodas. Mas o vaso, que ele fazia de barro, se
ORGULHO

quebrou na sua mão; pelo que p oleiro tornou a fazer dele


outro vaso, conforme hem lhe jqareceu. Então veio a mim a
palavra do Senhor: Não posso fazer de vós como fez este
oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Como o barro na mão
do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel”
(Jr 18:1-6).

E tam bém nas palavras do profeta Isaías:


“Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o
barro, tu és o nosso oleiro; somos todos obra das tuas
mãos” (Is 64:8).

Tenha a certeza de que o Senhor está forjando o caráter


de Cristo em nós, e Ele tem diversas formas de fazer isso.
Ele usa as circunstâncias, as dificuldades e as tribulações para
nos moldar, para tirar o que não presta de nossas vidas e
acrescentar aquilo que serve.
Precisamos aprender que o sofrimento é um grande
instrumento do qual Deus se utiliza para nos moldar. Ele é
Rei e está assentado no trono, controlando todas as coisas,
principalmente nossas vidas, com o filhos dele que somos.
Cuidado, pois existem pessoas ensinando que o cristão
não tem tribulações, que as dificuldades são do diabo e que
o verdadeiro crente nunca terá problemas na vida. Com o
vimos, esse ensino não tem base bíblica. Deus trabalha em
nossa vida de diversas form as, inclusive por m eio de
dificuldades e problemas, a fim de que sejamos moldados
segundo a sua vontade e, assim, a nossa fé cresça.
Por fim, o m ecânico tomou aquela chave de fenda, que
estava bem aquecida por causa do atrito e, antes de usá-la,
colocou-a num recipiente com água fria. Lem brei-m e então
do Salmo 23:2, que diz:
“Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a
águas tranqüilas, refrigera a minha alm a”.

159
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Depois da tem pestade vem a bonança. Deus nunca irá


permitir uma tentação além do que possamos suportar, mas
dará junto o escape para que a possamos suportar (IC o
1 0 :1 3 ). Em m eio às trib u la çõ e s, tem os d ificu ld ad es.
Contudo, depois de passado o problema, compreendemos
que Deus estava trabalhando em nossas vidas, e que passamos
a ser muito mais úteis depois de sermos moldados e afiados
por Ele.

Pendurada
Outra lição que Deus me ensinou, enquanto olhava para
o quadro na parede, é que, às vezes, a chave fica pendurada,
sem ser usada pelo m ecânico. O Senhor me ensinou que às
vezes Ele quer usar outra pessoa, e não a mim, para fazer
determinado trabalho.
C on fesso que fiq u ei um pouco preocupado, pois
ninguém gosta de ficar encostado e não exercer o ministério.
Porém, Deus me falou a respeito de épocas em nossas vidas
que precisam os parar um pouco para uma reciclagem ,
descanso e restauração.
Muitas vezes as circunstâncias nos levam a ficar por um
período afastados do ministério. Devemos aprender a olhar
para isso sob a p ersp ectiva de D eus. Se E le p erm ite
determinadas situações que fogem ao nosso controle, devemos
estar cientes de que nada pode fugir do controle dele.

Disponível
Finalmente Deus me fez passar os olhos em todo aquele
quadro e me disse: “Note que todas as ferramentas estão
disponíveis para o m ecânico, e é assim que Eu quero a sua
vida: totalm ente disponível em minhas mãos”.
A Bíblia nos ensina que fomos comprados por um alto
preço (IC o 6:20). Cristo nos comprou, por isso Ele é o nosso

160
ORGULHO

Senhor. Ele é o dono de nossas vidas. Nós não pertencemos


mais a nós mesmos, mas, sim, àquele que nos comprou.
Essa é a razão pela qual devemos estar disponíveis. O
Senhor espera de nós essa atitude de disponibilidade, assim
com o as ferramentas estavam disponíveis para o mecânico.
Deus tem o direito de fazer conosco aquilo que lhe aprouver.
Ele pode nos usar e, às vezes, nos deixar pendurados no
quadro. Em outras ocasiões necessita nos afiar. A obra é dele,
e não nossa.
Será que você, querido leitor, está disponível para Deus?
Ele pode usá-lo quando e onde quiser? Ou será que a sua
vontade própria tem sido um impedimento para que isso
aconteça? Faça agora mesmo uma entrega total. Coloque-se
como uma ferramenta disponível nas mãos de Deus e você
se encontrará no centro de sua vontade, descobrindo a
verdadeira razão para viver.
E ssa e x p e riê n c ia te m sido e sem p re será um
instrum ento de Deus para que eu nunca me ensoberbeça,
pois sei que a obra é dele e não m inha. O trabalho do
ministério é um trabalho executado por Deus, usando as
nossas vidas apenas como ferramentas.
Deus realizou um trabalho extraordinário em meu
ministério na Primeira Igreja Batista em Santo André. Eu
sempre pedia a Ele: “Senhor faça algo tão grande que a única
explicação seja a tua mão operando nesta igreja”. Sou
obrigado a dar toda a glória a Deus, porque Ele realizou o
trabalho.

O orgulho, princípio da queda


A queda de Satanás foi exatam ente por querer ser igual
a Deus e receber glória com o o Senhor (Ez 28:2 ,5 ,1 7 e
lT m 3:6). O diabo veio para roubar, matar e destruir. Ele
quer tirar a com unhão que temos com Deus, matar a nossa

; m
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

vida esp iritu al e destruir o nosso m in istério. Um dos


instrumentos que ele usa é o orgulho.
Jesus sempre condenou os escribas c fariseus porque
eles sc orgulhavam das suas obras e não davam glória a Deus.
E le sem pre disse que eles já haviam recebido os seus
galardões, que eram os elogios e e n a lte cim e n to s que
recebiam dos homens.
Você pode escolher: prefere receber o seu galardão aqui,
aceitando elogios de hom ens, roubando a glória que só
pertence a Deus? Ou receber o galardão no céu, onde a traça
c a ferrugem não corroem e os ladrões não m inam nem
roubam?
Todos gostam de ser reconhecidos pelo seu trabalho.
As vezes isso dá ânimo para seguirmos, mas existe um
sentim ento muito íntim o na vida das pessoas que alguns
chamam de “massagem no ego”, quando há uma reação de
prazer ao receber elogios.
Confesso que, em meu interior, há uma luta íntima com
esse sentim ento, e o que me ajuda a vencê-lo é a convicção
de que a obra é de Deus, que Ele não reparte sua glória com
ninguém. Aceitar esse tipo de sentim ento é pecar contra
Deus, entristecendo o Espírito Santo.
Devemos entender que somos pó, e nada mais além
disso. Deus é grande c é somente Ele quem realiza a obra.
Precisamos ser levados à poeira do chão para entendermos
que toda glória pertence ao Senhor. Necessitamos morrer
em Cristo para que a vida dele seja manifesta por intermédio
da nossa.

Fronteira de El Salvador com Guatemala


O u tra ex p e riê n cia que q u ero c o m p a rtilh a r é o
quebrantam ento que tive quando Deus, certa vez, me levou
ao pó. Quando a casca é muito dura, precisa de mais pancadas

162
ORGULHO

para ser quebrada. Muitas vezes criamos uma barreira de


autoproteção que impede o trabalho de Deus em nós. Então,
precisamos do quebrantam ento de Deus.
No ano de 1974, viajei para El Salvador, na América
C en tral, para receber um trein am en to com a Cruzada
Estudantil e Profissional para Cristo. Antes de me entregar
para a obra missionária, eu era gerente administrativo de
uma companhia que tinha algumas churrascarias e fazendas.
Por essa razão, comia diariamente do bom e do melhor. Além
disso, em minha casa era muito bem tratado por minha mãe,
que procurava sempre me dar o melhor.
Quando fui para esse treinamento, Deus iniciou um
trabalho muito sério na minha vida, pois eu precisava ser
qu ebrantado e m oldado para servi-lo melhor. N aquela
ocasião, tinha o conceito dc que as coisas eram minhas. Não
gostava de emprestar nada, tinha minhas coisas separadas
das de meu irmão e não gostava que as pessoas tocassem em
meus pertences.
Estava noivo da Rutinha, e cia me havia dado de presente
um barbeador elétrico que ainda não havia usado, pois o estava
reservando para a viagem de treinamento. Preparei minha
mala com todas as “minhas coisas” e parti para El Salvador.
O vôo tinha uma conexão na cidade do Panamá. Idouve
um atraso e a companhia aérea nos acomodou num hotel,
para seguirmos viagem no dia seguinte. Esse hotel era um
dos mais luxuosos da cidade do Panamá. Quando entrei no
quarto havia uma cama de casal muito confortável, televisão
e geladeira. Além disso, tinha o direito ao uso da piscina,
sauna etc. Logo pensei comigo mesmo: “Isso é que é vida!”.
Mal sabia o que Deus estava preparando para mim.
No outro dia partimos do Panamá para o nosso destino.
C hegam os bem , havia uma equipe de m issionários nos
esperando. Eles nos levaram para a casa onde iríamos viver

163
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

por cinco meses, em treinamento. A essa altura, estava tão


encantado ao ver um vulcão, que nem prestei atenção à casa
e ao lugar em que me hospedaria.
Depois de contemplar o vulcão por um bom tempo,
resolvi entrar e conhecer o meu quarto. Quando entrei, me
deparei com uma das cenas mais difíceis da minha vida, mas
que acabou sendo uma grande bênção.
Era um quarto grande, com três beliches c duas camas
de cam panha (aquelas camas dobráveis de lona). Logo
percebí que as camas dos beliches estavam arrumadas, e
deveria escolher uma das duas cam inhas. A minha mala
estava sobre uma delas, aberta. C inco jovens estavam ao
redor, mexendo nas “minhas coisas”.
D e repente, um deles veio vestindo uma de minhas
camisas e me disse:
— Que tal, hermano ?
Tive um sen tim en to m isto dc indignação, raiva e
surpresa. Em meu interior com ecei a julgar e a recriminar
aqueles jovens, por falta de educação e desrespeito para com
os bens alheios.
Enquanto pensava assim, ouvi um barulho vindo do
banheiro. Quando fui verificar, percebi que um dos jovens
estava “estreando” o barbeador que a minha noiva me deu.
Isso foi demais. Saí e fui ao portão para “ver o vulcão”, mas
havia um outro dentro de mim, prestes a explodir.
D eus com eçou a trabalhar em m in h a vida e me
perguntou: “Meu filho, a quem pertence os seus bens? Você
está disposto a entregá-los a mim? Você terá vitória sobre
essa ira e preocupação quando fizer uma entrega total dos
seus bens em minhas m ãos”.
Discuti com Deus: “Senhor, não é justo o que eles estão
fazendo. Afinal de contas, trabalhei para obtê-los, o barbeador
foi um presente da minha noiva. Sempre tive as minhas coisas
ORGULHO

e ninguém ousou tocar nelas, e agora estes rapazes estão


mexendo em tudo”.
Deus me disse: “Entregue”.
Decidi obedecê-lo, e entreguei em suas mãos todos os
meus bens e direitos. Que libertação! Aceitei os rapazes como
eram, e logo descobri que o “problema” era um fator cultural.
Para eles, era normal emprestarem roupas uns aos outros.
Decidi absorver a cultura e tam bém pedi roupas emprestadas
a eles. Descobri que sou apenas o administrador das coisas
que pertencem a Deus.
Um dia, ouvi novamente o ruído do barbeador. Ouando
com ecei a reagir por dentro, me lembrei da entrega que fiz,
e disse comigo mesmo: “Alguém está usando o barbeador de
Deus”!
Iniciamos os treinamentos e, aos poucos, fui aprendendo
mais sobre a cultura do lugar. Percebí como Deus usa as
circunstâncias para moldar e quebrantar nossas vidas. Num dos
finais de semana, toda a equipe foi para uma cidade chamada
San Miguel, que é um dos lugares mais quentes do país.
Os casais foram dc carro e os solteiros de ônibus. Como
era solteiro, fui de ônibus com os demais. A estrada era de
terra e o calor, junto com a poeira, eram insuportáveis.
Ao chegarmos no local, a primeira coisa que queria
fazer era tomar um banho, pois estava sujo e suando muito.
Logo que perguntei a alguém onde poderia tomar um banho,
fui informado de que não havia água na cidade. M inha
ten d ên cia im ed iata foi m urm urar, mas m e co n tro lei,
pensando que logo a água viria e poderia, finalm ente, tomar
meu banho.
Fomos chamados para o almoço. Quando chegamos à
mesa, não havia talheres. Ao pedi-los a uma pessoa, fui
informado de que deveriamos comer com as mãos. Nunca
tinha comido com as mãos antes, e nem sabia com o fazê-lo.

« 165 •
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Olhei como as pessoas ao meu redor faziam e as imitei. No


final, quis lavar as mãos e não havia água para isso.
A tarde, a equipe de basquete da Cruzada tinha um
jogo agendado com o tim e da cidade e o nosso líder nos
convocou para estarm os no ginásio para o trabalho dc
evangelização pessoal. O telhado do ginásio era de zinco e o
calor era terrível. Ficamos durante todo o tempo do jogo e
depois compartilhamos a mensagem do evangelho.
Por fim, já a cam inho de casa, nosso líder nos informou
de que naquela noite teríam os uma vigília de oração e que
eu deveria com partilhar o meu testem unho. C om ecei a
reclamar por dentro, pois ainda não havia água e estava
m uito cansado da viagem. Porém, sabia que devia obedecer
ao líder.
Fomos para a vigília, dei meu testem unho e, mais ou
menos às duas horas da manhã, alguém gritou:
— Chegou a água!
Com isso a vigília acabou, porque todos saíram correndo
para se lavar, pelo menos as mãos.
Tam bém saí e aguardei até que chegasse a m inha vez
de tom ar banho. O banheiro era um pequeno box de
madeira, com um tanque de água dentro e uma caneca.
Logo que entrei e fechei a porta, escutei um barulho de
inseto voando. Abri um pouco a porta para entrar a luz de
fora, porque no cubículo não havia luz. Quando a luz entrou,
percebi diversas baratas enormes, correndo pelas paredes
do banheiro. Contudo, nem me im portei m uito com elas,
porque o que realm ente me interessava era tom ar um
banho. Depois disso, já me sentia bem melhor. Fom os
dormir. As mulheres dormiram dentro da casa e os hom ens
no terraço.
Na manhã de domingo fomos participar do culto em
uma igreja e, no final, o pastor anunciou que teríamos um
ORGULHO

almoço especial com um suco típico, m uito apreciado pela


população. Fomos almoçar; eu estava com tanta sede que
tom ei um copo inteiro do tal suco, de uma só vez.
Aquilo caiu no meu estômago como uma bomba. A
reação foi instantânea. Tive um problema estomacal muito
forte e me senti mal, com m uita ânsia. I ,ogo após o almoço o
nosso líder chegou e nos informou dc que naquela tarde
iríamos sair para a evangelização pessoal, de casa em casa.
A tarde, voltam os para a capital, San Salvador. A
tem peratura havia caído m u ito e com ecei a me sentir
resfriado, com muita dor de cabeça c febre. Tomei um banho,
algumas aspirinas e me deitei.
Quando estava quase pegando no sono, o nosso líder
entrou no quarto c me disse:
— E d iso n , você irá para a G u a te m a la . Lá você
compartilhará o seu testem unho e ajudará na evangelização.
Perguntei a ele quando iríamos, c ouvi a resposta:
— Agora mesmo. Dois de nossos com panheiros de
treinam ento irão com você.
C ontestei im ediatam ente:
— Você me desculpe, mas não tenho condições de ir.
Estou com febre, resfriado e com meu estômago ruim.
Porém, ele foi muito enfático:
— Você irá agora, pois está tudo agendado e eles o estão
esperando.
Sem nenhuma vontade, me levantei, troquei de roupa,
arrumei a mala e saímos para a estação rodoviária, onde
pegaríamos o ônibus para ir à cidade de Guatemala.
Estávamos sentados, relativamente bem acomodados
no ônibus, que não estava m uito cheio, quando partimos.
Ao chegarmos na fronteira da Guatem ala com El Salvador,
estava sentindo algumas cólicas intestinais e fui procurar um
banheiro.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Quando achei um, era apenas um buraco, todo sujo,


cheio de moscas e com um cheiro insuportável. Procurei
papel higiênico e nada encontrei. Nem jornal havia. Com ecei
a lembrar de minha casa, onde tinha todo o conforto, e agora
me encontrava nessa situação humilhante.
Saí, procurando qualquer coisa que substituísse o papel
higiênico, e o que encontrei foram algumas folhas de uma
planta. Quando deixei o banheiro, me sentia pior do que um
mendigo, debilitado fisicam ente, sujo e envergonhado.
E n ca m in h e i-m e até o balcão da im igração e, ao
apresentar meus docum entos, o oficial perguntou onde
estava o visto de entrada para a Guatemala. Respondí que
não sabia que necessitava do visto. Fui informado de que
não poderia seguir na viagem sem o visto.
Com ecei a pensar onde passaria o resto da noite, porque
o ônibus já ia sair c não havia nenhuma casa, ou qualquer outro
lugar para eu ficar. Era um lugar bem deserto, e a cidade mais
próxima estava a muitos quilômetros dc distância.
Foi nesse m om ento que me senti no pó. A essa altura
de minha vida a única coisa que tinha valor era a presença
de Jesus comigo. O interessante é que, nessa situação, comecei
a ser liberto do senso dc valores errados que até então havia
dentro de mim. Eu valorizava muito determinadas coisas, que
realmente são importantes, mas que ocupavam um lugar
excessivamente alto na minha escala de valores.
Todavia, naquela altura dos acontecimentos, não estava
me importando se meu cabelo estava ou não penteado, nem
estava preocupado com o que as pessoas estavam pensando
a meu respeito. Som ente Jesus Cristo tinha valor para mim.
No meio desta situação, pude sentir o amor, o carinho e o
cuidado do Senhor. Ele falou claramente ao meu coração
que estava no controle dc tudo, moldando minha vida e
acertando minha escala dc valores.
ORGULHO

D eus m e m ostrou o m eu orgulho, o q u a n to eu


valorizava posições e honras humanas e me mostrou que nada
disso valia. Som ente a sua presença comigo era importante.
Essa foi uma das experiências mais marcantes que tive
com Deus, pois até hoje, quando sou tentado a me orgulhar
ou dar extremo valor a determinadas coisas, o Senhor me
lembra da fronteira de El Salvador com a Guatemala.
Certa ocasião, recebi em minha igreja um pastor que
foi meu colega no seminário. Quando ele viu o tamanho do
templo, do edifício de educação religiosa e soube o número
de membros, reagiu dizendo:
— Que igrejão, Edison! Você deve estar muito orgulhoso
do seu trabalho.
Aí o Senhor me disse: “Lembra-se da fronteira de El
Salvador com a Guatemala? Você não está fazendo nada. Eu
é que estou fazendo a obra. Você é apenas a ferram enta”.
O que vale mais em nossas vidas é a presença do Senhor
Jesus. Precisamos ter uma convicção profunda de quanto é
danoso o pecado do orgulho para a vida pessoal e para o
ministério. Richard Baxter mostra sua convicção neste assunto:
“Ora, se Deus pôs para fora um anjo orgulhoso,
tampouco tolerará um pregador orgulhoso. Na verdade,
o orgulho está na raiz de todos os outros pecados: a
inveja, o espírito belicoso, o descontentamento e todos
os obstáculos que impedem a renovação espiritual” (O
Pastor Aprovado, Editora P E S).

É necessário que estejam os sensíveis à voz do Espírito


Santo e aos preceitos das Escrituras, para que consertemos
essa situação em nossa vida.
A Palavra de Deus é viva e penetra profundamente no
coração, mostrando-nos o que deve ser mudado. Se dermos
ouvidos a ela, terem os convicção e nos hum ilharem os
debaixo da potente mão de Deus, dando a Ele toda a glória.
11
SEXO

“A sexualidade e a espiritualidade
são amigas, não adversárias”.
Donald Goergen

Um dos grandes problemas que o cristianismo enfrenta,


há séculos, é a dicotomia entre a sexualidade e a espiritualidade.
Alguns pensam que, anulando sua sexualidade, serão mais
espirituais. Por outro lado, outros pensam que nunca poderão
ser espirituais por reconhecerem sua sexualidade.
A Bíblia fala claram ente que fomos criados à imagem e
semelhança de Deus, e que Ele nos criou macho e fêmea
(Gênesis 1:27). O Senhor nos criou com nossa sexualidade,
portanto as descobertas dos adolescentes e os impulsos
sexuais são naturais em qualquer pessoa
No período an terio r à qu ed a, os prim eiros seres
humanos criados estavam nus e não se envergonhavam. Isso
nos ensina que, antes do pecado ter entrado no mundo, o
sexo era parte natural da vida humana, sem malícia, tabus
ou preconceitos. Foi o pecado que distorceu e perverteu a
sexualidade humana.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Satanás, que foi o agente ativo da queda, continua


ten tand o e procurando perverter a sexualidade hum ana,
u tiliz a n d o to d o o seu a rse n a l, p rin c ip a lm e n te para
derrubar os cristãos em posição de liderança. Q uantos têm
caído, trazendo vergonha c decepção para o evangelho de
C risto!
Porém, no Senhor, tem os a vitória. Pelo poder do
Espírito Santo podemos alcançar a aceitação e a santificação
de nossa sexualidade. Há diversos textos bíblicos que falam da
santidade do sexo. Em 1 Tessalonicenses 4:3-8, encontramos:

“Esta é a vontade de Deus para a vossa santificação: que


vos abstenhais da prostituição; que cada uni de vós saiba
possuir o próprio corpo em santificação e honra; não no
desejo da lascívia, como os gentios, que não conhecem a
Deus; e que, nesta matéria, ninguém oprima ou engane a
seu irmão. O Senhor é vingador de todas estas cousas,
como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Pois Deus
não nos chamou para a impureza, mas para a santificação.
Portanto, quem rejeita estas coisas não rejeita ao homem,
mas sim a Deus, que vos dá o seu Espírito Santo".

Existem muitas pessoas que pensam que estão imunes


às tentações na área sexual. Não compreendem que Satanás
é m uito sutil nessa matéria, c não nos ataca abruptamente,
mas, aos poucos, vai minando a nossa m ente com pequenas
idéias, procurando fazer com que baixemos os nossos padrões
morais.
E le usa a tele v isã o , revistas e o u tro s m eios de
com unicação para colocar coisas que são pecado dentro de
um sistema de normalidade, dizendo: “Todo mundo faz, isso
é assim mesmo, estamos vivendo em outros tem pos”.
A Bíblia nos exorta, entretanto, a não darmos lugar ao
diabo. Por isso quero sugerir algumas idéias práticas que o
ajudarão a ter vitória nesse assunto:
SEXO

Controle o seu olhar


“Fiz aliança com me\is olhos; portanto, como os fixaria
numa virgem?” (Jó 31:1).
“Não porei coisa má diante dos meus olhos” (SI 101:3).

Sabemos que o hom em é tentado pelo olhar. Por isso é


importante que aprendamos a controlá-lo. A sensualidade
está espalhada por toda parte, desde as vestes das mulheres
até as propagandas e comerciais, o que torna impossível que
não a vejamos.
Entretanto, o importante aqui não é o controle sobre a
primeira olhada, mas a partir da segunda em diante. E aí que
precisamos dc duas armas efetivas. A primeira é o poder do
Espírito Santo, que nos dá o seu fruto, e uma das partes desse
fruto é o domínio próprio. A segunda é a nossa própria mente,
tomando a decisão de não aceitar esse ataque maligno.
Em minha experiência, percebi que isso é um trabalho
do Espírito Santo e tam bém da minha decisão pessoal de
controlar onde vou colocar meu olhar. Quando vou a uma
banca comprar alguma revista ou jornal, percebo o quanto a
minha m ente tem a tendência para o pecado.
Parece que, mesmo sem querer, meus olhos recaem
sobre qualquer revista onde tenha uma mulher com pouca
roupa ou qualquer outra forma de sensualidade, e deseja
observar os detalhes ou aceitar a tentação do segundo olhar.
E aí que faço uma oração-relâmpago, pedindo a ajuda
do Espírito Santo. Mas, por outro lado, tom o a decisão de
não olhar, e comprar apenas aquilo que me propus a comprar.

Alegre-se com sua esposa


“Não vos defraudeis um ao outro, senão por consentimento
mútuo por algum tempo, para vos aplicardes à oração.
Depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos
tente por causa da incontinência” (IC o 7:5).

173
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

O que muitos cristãos não entendem ainda é que o sexo


fora do casam ento é pecado, mas dentro dele é uma bênção
de Deus. O Cântico dos Cânticos, ou Cantares de Salomão,
fala abertam ente a respeito da relação sexual legítima, ou
seja, dentro do casamento.
No trabalho de aconselhamento pré-nupcial oriento o
casal que, durante a lua de mel, leiam juntos esse livro, e
aprendam a ter momentos de grande felicidade, prazer e amor.
Richard Foster faz uma apresentação dos temas do livro
Cântico dos Cânticos, iniciando da seguinte forma:
“Que maravilhosa janela ao cros constitui o Cântico
dos Cânticos de Salomão, e c assim que deveria scr.
Nele encontram os sensualidade sem libertinagem ,
paixão sem promiscuidade sexual c amor sem luxúria”
(Dinheiro, Sexo e Poder, Betânia).

Paulo exorta os cristãos a não se absterem da prática


sexual como marido e mulher, a não ser para separar um
tempo de oração. Ele explica o motivo: para que Satanás não
vos tente. Q uanto mais tem po o casal fica sem relações
sexuais, mais Satanás se aproveita da situação para atacar
com tentações.
Aqui cabe uma palavra para as esposas, no sentido dc fazer
o melhor que puderem para a satisfação sexual dc seus maridos.
Elas não devem se negar a ter relações com seus esposos ou fazê-
lo apenas por obrigação. Devem estar conscientes de que o sexo
deve ser uma demonstração física do amor.
Nas questões sexuais, geralmente o homem é mais ativo
do que a mulher, e, com um ente, a mulher não tem tanto
apetite sexual quanto o hom em . Algumas mulheres não
entendem isso e ficam julgando os maridos, quando dizem
que eles só pensam cm sexo e nunca se satisfazem.
E por essa razão que é im portante m anter sempre
abertos os canais de com unicação entre os cônjuges. Os dois

174
SEXO

devem aprender a falar e a ouvir um ao outro quanto ao que


gostam e ao que não gostam, em relação ao sexo.
Esposa, saiba que você é m uito importante para o seu
marido. Por isso, dentro do possível, faça o máximo para ser-
lhc agradável, c satisfazê-lo sexualmente.
Quando vierem as tentações, lembre-se destas frases de
Provérbios:
“Bebe água da tua própria cisterna (...) e alegra-te com a
mulher da tua mocidade" (Pv 5:15,18).

Pessoalm ente, quando sou atacado na área sexual,


sempre levo minha mente a pensar que Deus me deu minha
esposa c que a minha relação sexual legítima e santa é única e
exclusivamente com ela.
Muitas vezes digo m entalm ente a Satanás: “Eu tenho
a mulher mais bela do mundo, porque é a mulher que Deus
m e deu. Não aceito o seu ataque. Saia, em nome de Jesus
C risto!7’.
Uma outra forma de tratar com a tentação sexual é
usar a Palavra dc Deus, tanto m ental quanto verbalmente,
falando: “Não adulterarás!”, “Santificai-vos ! ”, “Buscai a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor ”, e outros
versículos semelhantes a estes.

Um bom exemplo a seguir — Gênesis 39


A Bíblia nos apresenta o exemplo de um hom em que
foi tentado, e até m esm o atacado por uma mulher, que
procurou de todas as maneiras seduzi-lo. Entretanto, ele não
cedeu á tentação, porque amava a Deus. Refiro-me a José do
Egito. Vejamos algo sobre a sua vida:

José tinha a bênção de Deus


Por essa razão, ele prosperava em tudo em que colocasse
as mãos. Assim, passou a desfrutar da inteira confiança de

175
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

seu senhor, Potifar, que deixou todos os seus bens nas mãos
dele, para que os administrasse.

O inimigo sempre quer nos tira r a bênção e nos


afastar dos caminhos de Deus
A Bíblia diz que “José era formoso de porte e de semblante”
(Gn 39:6). Por causa disso, repetidas vezes recebeu uma
proposta imoral da mulher do seu senhor que, insistentemente,
lhe dizia: “Deita-te com igo” (39:7).
E preciso deixar claro que José não foi tentado pelo
in im ig o nas q u estõ e s de ordem a d m in istra tiv a , mas
exatam ente na área sexual. Caso ele sucumbisse à tentação,
traria a maior desgraça, tanto para si, com o para a família
de Potifar.

A integridade de José (vv. 8,9)


C om o exemplo desse jovem, vendido como escravo
aos egípcios, aprendem os uma preciosa lição: A nossa
integridade não deve ser apenas diante de Deus, mas também
diante dos homens.
As afirmações de José mostram que ele não queria trair
a confiança nele depositada, nem pecar contra Deus. Isso
lhe deu forças para recusar o convite ilícito: “Como, pois,
posso cometer este tão grande mal, e pecar contra Deus?”. Ele
era um hom em que tinha integridade, caráter e firmeza
moral.

O inimigo é perseverante em suas tentações


O diabo nunca d esiste. Ele sem pre persevera em
procurar nos tirar dos caminhos de Deus. A Bíblia nos diz
que a mulher de Potifar era insistente: “Embora ela instasse
com José dia após dia, ele, porém, não lhe dava ouvidos, para se
deitar com ela, ou estar com ela ” (Gn 39:10).
SEXO

Devemos fazer a nossa parte (v. 10)


José procurava não dar oportunidade às tentações. A
Bíblia afirma que ele não dava ouvidos à mulher, nem se
permitia estar com ela. Ao contrário, fugia das tentações.
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo, orientando Tim óteo,
nos deixou estas instruções:
“Foge também dos desejos da mocidade; e segue a justiça,
a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro,
invocam o Senhor’’ (2Tm 2:22).

A orientação é fugir das paixões. Pessoalmcnte, gosto


dessa palavra fugir, porque ela demonstra que devo tomar a
decisão dc não dar oportunidades às tentações.
Dietrich Bonhoeffer, ao falar sobre os prazeres da carne,
nos anima a fugir e a nos abrigarmos na cruz de Cristo:
“Por esta razão, a Palavra nos ensina a fugir no momento
das tentações carnais. “Fugi da prostituição’’ (IC o 6:18);
“Fugí da idolatria” (IC o 10:14); “Foge também dos desejos
da m o cid a d e” (2T m 2 :2 2 ); “H avendo escap ad o da
corrupção, que pela concupiscência há no mundo” (2Pc
1:4). Neste caso, não Irá outra resistência possível senão
a fuga. Qualquer tentativa de enfrentar a cobiça com
recursos próprios está condenada ao fracasso. Fugir: isso
só pode significar fugir para onde haveis de encontrar
proteção e ajuda; fugir para junto do Crucificado. Sua
imagem e sua presença são o único auxílio que nos resta.
Aqui, vemos o corpo crucificado e reconhecemos nele
o término de todo prazer. Aqui, desvendamos até o fim
a fraude de Satanás. Aqui, recuperamos a sensatez de
espírito e reconhecemos o inimigo. Sim, aqui tomo
consciência de total abandono e de perdição da minha
natureza carnal, bem como do juízo justo da ira de Deus
sobre toda a carne. Aqui, reconheço que nesta perdição
jamais poderia resistir a Satanás com minhas próprias
forças, mas que é a vitória de Jesus Cristo que vem em
meu favor” (Tentação, Metrópole).

177
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Em determinada ocasião, orientava os jovens de minha


igreja sobre questões sexuais e um deles me perguntou:
— Pastor, até onde posso chegar com a intimidade em
meu namoro?
Veja que a pergunta desse jovem deixava claro que ele
desejava andar na beira do abismo, no seu lim ite máximo. A
Bíblia nos ensina que não devemos dar nenhum lugar ao
diabo, pois ele sabe com o aproveitar-se das oportunidades
para nos derrubar.

Satanás prepara ciladas (vv. 11-16)


“Certo dia ele entrou na casa para atender aos seus deveres,
e ninguém dos da casa se encontrava presente”.

C om sutileza, o inimigo preparou o terreno para fazer


com que José caísse nas malhas da tentação, aproveitando a
oportunidade quando ninguém mais, além dele e da mulher,
estivessem dentro da casa. Foi aí que veio o golpe:
“Ela o pegou pela capa, dizendo: Deita-te comigo! Mas
ele deixou a sua capa nas mãos dela e fugiu, escapando
para fora. Quando ela viu que ele deixara a capa em suas
mãos e fugira para fora, chamou pelos homens de sua casa,
e lhes disse: Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu para
nos insultar! Veio a mim para se deitar comigo, mas eu
gritei em alta voz. Quando ele ouviu que eu levantava a
voz egritava, deixou a capa ao meu lado e fugiu, escapando
para fora. Ela guardou a capa consigo, até que o senhor
dele voltou para casa”.

O inimigo preparou todas as circunstâncias para essa


cilada e colocou José num a situação sem saída. C om o
resultado, o jovem foi preso, mas Deus estava com ele.

Satanás não consegue tirar a bênçáo de Deus


A mão de Deus era tão evidente sobre José que, apesar
de perder sua posição e estar no cárcere, ele tinha a sua bênção.
SEXO

Veja o versículo 21: “O Senhor era com ele; estendeu sobre ele
a sua benignidade, e lhe concedeu graça aos olhos do carcereiro

Deus faz justiça a nosso favor


quando somos íntegros
Depois de ficar por mais de dois anos na prisão, José foi
colocado num a posição m aior do que a anterior. Está
registrado em Gênesis 41:39,40:
“Depois disse Faraó a José: Visto c/ue Deus te fez saber tudo
isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás
sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu
povo. Somente no trono eu serei maior do que tu”.

Sc vivermos em integridade moral e espiritual diante


do Senhor e dos homens, sempre teremos a bênção de Deus
sobre as nossas vidas e ministérios. Ressalvo, porém, que nem
sempre essa bênção será da maneira como a imaginamos.
Deixo algumas sugestões práticas para pastores casados
e solteiros:

Orientações para o líder casado


a) Trate o sexo oposto com a devida distância. Cuidado
com beijinhos e toques de mão.
b) Evite estar sozinho com uma pessoa do sexo oposto.
c) Evite andar de carro com uma pessoa do sexo oposto
(desde que não seja sua esposa ou parente), para evitar
a aparência do mal.
d) Escolha um modelo de porta para o seu gabinete
pastoral que contenha uma parte em vidro transparente.
e) Ouça sua esposa.

D eixe-m e com partilhar com você uma experiência


interessante que tive. Em determinada ocasião, logo após o
culto, ao chegarmos em casa, minha esposa me disse:

179
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

— Querido, cuidado com aquela mulher.


A minha reação inicial foi de reprovação. Eu disse:
— Não admito ciúme. Você está errada e não pode
deixar que esse sentim ento tom e conta de seu coração.
Ela me contestou:
— Eu não estou com ciúme de você. Eu confio em você.
Eu não confio c nela.
Mas continuei discutindo, achando que minha esposa
estava errada, até que ela disse:
— Está bem , faça o que você quiser.
Já aprendi que quando minha esposa diz “está b em ” é
porque ela me entregou para Deus, e então eu deverei tratar
o assunto direto com Ele.
Naquela mesma semana, no meu aniversário, e eu recebi
um telegrama, dizendo mais ou menos o seguinte: “Querido
Edison (note bem que não cra pastor Edison), parabéns.
Felicidades por seu aniversário”. O telegrama vinha assinado
por aquela mulher.
Detalhe: ela era casada e tinha filhos. O normal seria o
telegrama estar assinado pela família ou pelo marido. A partir
daquele m om ento, notei como ela me olhava c buscava mais
aproxim ação com igo. C o m e ce i a colocar distância no
relacionam ento e passei a chamá-la de “senhora fulana”.
Alguns meses depois, ela saiu da igreja.
Agradcci à minha esposa por ter me alertado, dizendo-
lhe:
— Querida, sempre que você perceber qualquer coisa
desse tipo, por favor, me avise.
As mulheres têm um “sexto sentido” que nós, homens,
não temos. Elas percebem coisas que nós não percebemos.
Por isso é importante mantermos uma boa comunicação, que
propicie esse relacionam ento aberto entre os cônjuges,
ajudando-nos a escapar das tentações sexuais.

180
SEXO

Orientações para o líder solteiro


a) Aceite e controle sua sexualidade.
Deus nos criou seres sexuais, mas, infelizmente, muitos
têm dificuldade em aceitar essa realidade. Uma das formas
que poderá nos ajudar é considerarmos as palavras de Davi
no Salmo 139:

“Eu te louvo porque de um modo terrível e maravilhoso fui


formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma
o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos,
quando no oculto fui formado. Quando fui entretecido nas
profundezas da terra, os teus olhos viram o meu corpo
ainda informe. Todos os dias que foram ordenados para
num, no teu livro foram escritos quando nenhum deles
havia ainda” (SI 139:14-16).

Note que o salmista deixa claro que a forma como Deus


nos fez é maravilhosa, e que Ele conhece profundamente o
nosso ser. Isso im p lica que tam b ém co n h ece a nossa
sexualidade.
O problema é que, num mundo tão pervertido c cheio
de apelos sexuais, tem os a ten d ên cia de sair por duas
tangentes: tentam os anular a nossa sexualidade ou caímos
no modelo liberal, imaginando que podemos dar vazão física
aos nossos sentim entos c impulsos.
A solução é aceitarmos a nossa sexualidade como natural,
mas mantê-la em stand by, ou seja, esperando até que Deus nos
conceda a honra do matrimônio. Quem ama, espera.
Richard Foster mostra que a igreja deveria entender
m elhor esse assunto e propiciar condições para que os
solteiros pudessem manifestar suas emoções, sem cair no
pecado sexual:

‘A sexualidade do indivíduo não-casado se expressa na sua


necessidade de experimentar uma realização emocional;
a decisão de reservar a relação sexual para o casamento

AID
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

não supõe decidir ficar emocionalmente insatisfeito.


Uma forma legítima em que as pessoas solteiras podem
expressar sua sexualidade é por m eio de amizades
genuínas c gratificantes. A realização emocional é
perfeitam ente possível para os solteiros, viúvos e
divorciados, c a igreja pode ajudar neste terreno,
proporcionando um am biente adequado para a
formação de relações de amizade felizes e satisfatórias”
(Dinheiro, Sexo e Poder, Betânia).

Organizei em minha igreja um grupo de “Solteiros


adultos”, onde pessoas com idade acim a de 25 anos se
encontravam para estudar a Bíblia, passearem, jantarem ,
fazerem obras sociais etc. Os resultados foram tremendos,
porcpie eles tin h a m fa c ilid a d e em ab rir o c o ra çã o ,
compartilhando suas vitórias, frustrações c dificuldades. Por
m eio da com u n h ão, oração e dos con selh o s m ú tu os,
obtinham vitória.

Ore pedindo a Deus que lhe dê uma ajudadora


idônea, se for esta a vontade dele.
Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede
o de rubis (Pv 31:10). A Bíblia exalta a mulher virtuosa,
valorizando-a mais do que uma pedra preciosa. Deus sabe
que você precisa de uma companheira fiel para formar a sua
família. Ore para que Ele, no seu tempo, lhe conceda a sua.
Deus criou a família e tem um plano para a sua vida, o que
inclui, sem dúvida, uma esposa.
Algumas pessoas têm portanto, vocação para o celibato
e devemos entender que isso não é anormal. Infelizmente há
uma pressão da família e da sociedade sobre os jovens em
relação ao casamento. E um erro estarmos pressionando,
porque isso pode provocar p roblem as. Um deles é a
possibilidade de um casam ento fora da vontade de Deus.
Uma das missionárias mais bem -sucedidas no leste

182
SEXO

europeu é solteira e tem vocação para o celibato. Ela me


disse que Deus colocou em seu coração o desejo de ficar
solteira, a fim de que pudesse sc dedicar integralm ente ao
ministério.
Outra missionária que conheço já tem uma certa idade.
Imaginei que ela tam bém possuísse vocação sem elhante e
perguntei se ela pretendia sc casar. Ela me respondeu:
— Claro que sim. Eu tenho o desejo de formar uma
família, mas até agora não apareceu ninguém que sirva de
apoio ao meu ministério e possua a mesma visão, por isso
prefiro esperar na vontade de Deus.
Sc você é solteiro e tem vocação para o celibato, fique
firme e sirva a Deus de todo o coração. Sc você é solteiro e
pretende se casar, ore e espere que alguém apareça para estar
a seu lado, correndo a mesma carreira que você corre. Aí
não haverá jugo desigual.

Cuidado com a ten tação de querer ser um “Don Juan”


e ter um “harém” ao seu redor
Muitos jovens sentem o seu ego massageado quando
são amados por muitas moças. Essa é uma área de muita
tentação para o solteiro.
Quando jovem, cm minha igreja, eu gostava de que
muitas moças estivessem apaixonadas por mim e procurava
provocar isso, através de frases com indiretas, olhares c
demonstrações de interesse, mas não me comprometia com
nenhuma delas.
O meu objetivo era ter muitas mulheres gostando de
mim. Quando Deus mudou minha vida, uma das primeiras
coisas que precisei fazer foi pedir perdão para elas.
Após ter a convicção do Espírito Santo de que havia
defraudado essas jovens, uma vez que muitas pensavam que eu
realmente estava interessado nelas, fui procurar cada uma delas

183
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

e pedi perdão por minha falta de caráter e por minha atitude


egoísta.
Que isso lhe sirva de exemplo, jovem líder. Procure
m a n ter um a am izad e genu ína com as m oças de seu
relacionamento. Respeite os sentim entos de cada uma delas
e você terá a bênção de Deus em sua vida.

Cuidado com as campanhas


para arrum ar casamento
Ilá muitas pessoas que não respeitam a situação do
solteiro e ficam pressionando para que ele arrume um
casamento. Saiba que Deus tem a pessoa certa, na hora certa,
se esta for a sua vontade dele.

Nunca comece um namoro para


experimentar e ver se vai dar certo
Tenha primeiro um período de amizade e, depois de
ter verificado que os ideais e as vocações de ambos são as
mesmas, inicie o namoro e informe a igreja sobre sua decisão.

Nunca pense em se casar com alguém que


não tenha o mesmo chamado para o ministério.
Isso se constitui jugo desigual. Já vi muitos pastores
derrotados porque se casaram com alguém que não tinha o
mesmo chamado.
J. Allan Petersen tem uma palavra muito séria sobre as
lições que podemos aprender com o adultério do rei Davi
com Bate-Seba, que é m uito aplicável ao nosso estudo:
“O que modifica um homem de Deus, de forma que
ele se torne velhaco, sinistro, destruidor de tudo o que
cie c as outras pessoas prezam? O que transforma o
terno e sensível amor de um homem a Deus em uma
determinação dura, implacável, dc agir à sua própria
maneira? As lições da experiência de Davi são óbvias, e
SEXO

se aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua mente e


em seu coração.

1. Ninguém, embora escolhido, abençoado e usado por


Deus, está imune a ter um “caso” extraconjugal.
2. Qualquer pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha
tido, pode cair desastrosamente.
3. O ato de infidelidade é o resultado de desejos,
pensamentos e fantasias descontrolados.
4. O seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu
senhor.
5. O crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e
encobrir o pecado, como qualquer outra pessoa.
6. 0 pecado pode scr agradável, mas nunca ser oculto
dc maneira eficaz.
7. Uma noite de paixão pode desencadear anos dc dor
para a família.
8. O fracasso não é nem fatal nem final” (O Mito da
Grama Mais Verde, JUERP).

Santidade não é opção! E um m andam ento divino. Se


quisermos servir a Deus com integridade e transparência,
precisamos viver uma vida de plena santidade. Ele manda:
“Sede santos porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo”
(Lv 19:2). “Segui a paz com todos e a santificação; sem a
santificação ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).

N esta época de tanta libertinagem , im oralidade e


permissividade, precisamos de homens e mulheres que vivam
uma vida tão limpa que sejam modelos e constituam desafios
àqueles que acham que ser santo é coisa do passado. Santificai-
vos “pois o nosso Deus é um fogo consumidor" (Ilb 12:29).
12
NÃO BAIXE
O PADRÃO

A vida cristã tem padrões morais de conduta que


elevam o caráter e a própria vida em sociedade. Nessa
questão, Cristo também é o nosso maior modelo. Ele mesmo
nos ensinou que os padrões do cristianismo são m uito mais
elevados do que quaisquer outros.
Por isso, todos os eristãos, especialmente os líderes, devem
viver de acordo com os padrões apresentados na Palavra.
O apóstolo Paulo sempre colocou sua vida em cheque,
e teve a ousadia de dizer:
“O que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em
mim vistes, isso fazei” (Fp 4:9).
“Irmãos, sede meus imitadores, e observai os que andam
segundo o exemplo que tendes em nós ” (Fp 3:17).

Será que nós, líderes do povo de Deus, temos vivido


uma vida tão irrepreensível que nos possibilite dizer as
mesmas coisas aos nossos liderados?
Q uando estava dando instruções ao seu discípulo
Tim óteo, Paulo teve essa preocupação, pois sabia que sem
uma vida de acordo com os padrões elevados do cristianismo,
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

ele teria problemas e falta de autoridade espiritual para


exercer a liderança. Ele disse:
“Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê exemplo dos
fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na
pureza” (lT m 4:12).

Vamos analisar cada uma destas áreas para que, com a


ajuda de Deus, tenhamos condições de elevar o padrão de
nosso comportamento.

Sê exemplo dos fiéis na palavra


Podemos interpretar esta ordem de duas formas: em
primeiro lugar, ser o exemplo na Palavra de Deus quer dizer
que a Palavra deve ser a base para a nossa conduta, o que
traz algumas implicações:

Devemos conhecer profundamente


a Palavra de Deus
Com o poderiamos viver dentro dos padrões de conduta
apresentados pela Bíblia se não a conhecermos como a nosssa
regra de fé é prática? O líder espiritual deve ser um profundo
conhecedor das Escrituras, pois elas são Palavra de Deus viva
e eficaz. Por isso, quanto mais a conhecerm os, mais teremos
como corrigir a nossa conduta.
No começo de minha vida cristã havia coisas que eu
praticava e julgava que não eram pecaminosas. Entretanto,
conforme fui lendo e estudando a Bíblia, com ecei a perceber
c reconhecer que se tratavam de pecados. Na dependência
do Espírito Santo, deixei de praticá-las.

Devemos interpretar corretam ente


a Palavra de Deus
Uma das grandes dificuldades que existe hoje no meio
do povo de Deus é a interpretação errada da Palavra. Num
NAO BAIXE O PADRAO

extremo encontramos pessoas que são tão liberais que parece


não haver nada na Bíblia que possa ser aplicado em suas vidas.
No outro estão aqueles que, por terem um desejo tão profundo
em aplicá-la em seu viver, acabam por distorcê-la e se tornam
legalistas. Encontrar a posição de equilíbrio é tarefa difícil.
Em determinada ocasião, tive de ajudar um casal que
estava tendo problemas de relacionamento. A esposa não
queria ter relações sexuais por ter interpretado erroneamente
um texto bíblico.
E preciso que aprendamos as regras de herm enêutica,
que é a disciplina que estuda as regras de interpretação. Mais
ainda: precisamos conhecer o texto dentro de seu contexto
imediato e do contexto geral da Bíblia. Devemos também
entender que Jesus Cristo deu uma nova interpretação ao
Antigo Testam ento. Portanto, ele deve ser interpretado à luz
do Novo.
Há, ainda, um grupo de pessoas interpretando determi­
nados ensinos com portam entais de Cristo com o se esses
ensinos devessem ser aplicados apenas no céu, no milênio
ou na Nova Jerusalém. Já vi pessoas interpretando o Sermão
do M onte, por exemplo, com suas bem-aventuranças, como
uma espécie de alegoria do que vai acontecer no céu. Por
isso, acham que tais ensinos não são para serem vividos em
nossos dias.
Não posso concordar de forma alguma com esse tipo
de interpretação. Creio que o Sermão do M onte é a base
para o com portam ento cristão. Assim, deve ser praticado e
vivido hoje, a fim de que sejamos luzeiros no mundo.

Devemos aplicar a Palavra de


Deus na nossa vida
Entretanto, não basta somente conhecer e interpretar as
Escrituras se não aplicarmos seus ensinamentos em nossas vidas.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO
/

E por isso que precisamos da orientação do Espírito Santo.


Deus quer que vivamos na dependência total de seu Espírito.
A vida cristã não é vivida por nós mesmos, mediante os nossos
esforços pessoais. A verdadeira vida cristã se manifesta quando
morremos c Cristo m anifesta sua poderosa vida em nós.
Ilá mandamentos na Palavra que são impossíveis de
ser praticados. Deus nos dá estas ordens impossíveis para
que aprendamos a ser dependentes de sua graça e poder. Por
exemplo, Jesus disse:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39).

Pessoalmente eheguei à conclusão de que não sou capaz


de amar o meu próximo com o a m im mesmo. Quando
analiso o quanto m c amo e como sempre quero o melhor
para mim, chego à conclusão de que geralmente não estou
querendo o m elhor para o meu próxim o, e vejo que é
impossível para mim obedecer a este mandamento.
Um outro exemplo. Jesus disse:
“Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”
(Mt 5:44).

Veja cjue ordem difícil de ser obedecida. Com o posso


amar meu inimigo? A tendência da minha carne é odiar e
prejudicar um inimigo. Com o eu poderei amá-lo? Eu sozinho
não tenho forças para isso.
Há, ainda, a palavra de Paulo em Efésios 5:25:
“Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também
Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”.

Veja o padrão elevado de Deus. Nós, maridos, devemos


amar nossas esposas da mesma forma que Cristo amou a sua
igreja. Amo muito minha esposa, mas, quando comparo o
meu amor por ela com o amor de Cristo para com a sua
igreja vejo que é impossível alcançar o padrão bíblico.

190
NAO BAIXE O PADRAO

Quero ainda apresentar um outro exemplo:


“Secle vós, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que
está nos céus” (Mt 5:48).

Qualquer um que queira realmente viver a Palavra de


Deus, após ler este versículo, entra em parafuso. O padrão aqui
é ser perfeito, assim como Deus é perfeito. Isso é impossível!
Porém, louvo a Deus pelos impossíveis da Bíblia. Jesus
afirmou:
“Para os homens isto é impossível, mas para Deus tudo é
possível” (Mt 19:26).

A melhor posição na vida cristã é a da impossibilidade


humana, pois quando eu não posso, Deus pode. E quando
Deus faz, a glória fica para Ele.
As Escrituras afirmam que “Da mesma maneira também
o Espírito ajuda as nossas fraquezas ” (Rm 8:26). O Espírito
Santo opera quando reconhecemos nossa absoluta c completa
dependência dele. Quando enfrento o impossível, quando
descubro na Bíblia m andam entos impossíveis de serem
praticados, oro e peço a Deus que me capacite, enchendo-me
com o seu Santo Espírito. De repente, descubro que estou
amando o meu próximo como a m im mesmo, descubro que
perdoei a todos e pedi perdão, e agora não tenho mais
inimigos. Percebo tam bém que estou amando e cuidando
da minha esposa de uma forma que normalm ente não faria.
C om eço a ver que estou crescendo em minha vida
cristã, e isso tudo acontece não por minhas próprias forças
ou capacidade, mas pelo Espírito Santo que opera e faz com
que eu viva uma vida cristã genuína. Aleluia! Não preciso
m e esforçar ou fazer exercícios espirituais para obter a
vitória. Apenas coloco a minha vida nas mãos do Espírito
Santo, numa atitude de completa dependência, c Ele opera.
Toda glória seja tributada a Deus.

191
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Aconselho que você aplique a Palavra de Deus em sua


vida, pelo poder do Espírito, e passe a viver de acordo com
os mais elevados padrões do cristianismo.
Em segundo lugar, podemos interpretar que o líder
espiritual deve ser um hom em dc palavra.
A Bíblia afirma:
“Seja, porém, o vosso ‘Sim’, sim, e o vosso ‘Não’, não; o
que passar disto vem do maligno” (Mt 5:37).

Parece que o povo brasileiro possui certa dificuldade


em relação a essas palavras. Muitas vezes isso pode provocar
problemas nos relacionamentos. Em determinadas situações
queremos evitar ofender ou contrariar as pessoas e damos
voltas, em vez de falarmos a verdade em amor, como nos
ordena a Bíblia.
Temos falhado tam bém no uso do tempo. Quantas
igrejas dizem que o culto se inicia às 19h 30 c, na realidade,
com eça às 20h. Isso é pecado. Essa foi uma das áreas que
Deus com eçou a trabalhar em m inha vida, como resultado
do estudo de sua Palavra.
Antigamente, pensava que não havia nada de errado
em chegar atrasado aos compromissos, até que fui estudar o
texto de Efésios 5:15,16, que diz:
“Portanto, vede prudentemente como andais, não como
néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias
são maus”.

Deus começou a me falar sobre a importância do meu


tempo, e que eu não deveria desperdiçá-lo e nem permitir que
o dos outros também o fosse. Tive convicção de que quando
chego atrasado a um compromisso estou roubando o tempo
de outra pessoa. A partir daquele momento, pedi ao Espírito
Santo que me ajudasse a usar bem cada oportunidade,
administrando corretamente o tempo que Deus me deu.
NÃO BAIXE O PADRÃO

C erta vez vi uma reportagem na televisão que me


ajudou a entender que o processo de queda não é instantâneo.
A notícia mostrava que numa cidade do Canadá uma árvore
bem alta chamada sequóia caiu e fez um grande estrago,
quebrando fios de eletricidade e interrompendo o trânsito.
Quando os técnicos foram analisar o motivo de uma árvore
centenária ter caído, descobriram que um grande número
de cupins causou o problema.
O mesmo acontece com a nossa vida cristã. Começamos
a permitir algumas coisas, um pecado aqui, outro acolá, uma
falha aqui, outra ah, e assim vamos baixando o padrão. De
repente, vem a queda. A Bíblia nos exorta a vivermos em
vigilância constante.
Uma outra ilustração que aprendi foi quando estava a
bordo do navio Doulos. Fui visitar a cabine de comando e
perguntei ao capitão se poderia dirigir o navio. Ele me
permitiu e ensinou que a única coisa que deveria fazer era
m anter a rota, que estava registrada em um painel com
números digitais.
O mover das ondas naturalm ente tirava o navio de sua
rota, e o que eu deveria fazer era mover o lem e para mantê-
lo na direção correta. O cap itão me exp licou que, se
saíssemos da rota em apenas um grau, depois de algum tempo
estaríamos muitas milhas fora do cam inho traçado. Isso me
fez pensar na vida cristã. Quando permitimos alguns pecados,
que aos nossos olhos podem até parecer pequenos, logo
adiante teremos grandes problemas.

Exemplos de homens da Bíblia que


baixaram o padrão e caíram
Arão começou o seu ministério como porta-voz de Moisés
(Ex 7:1). Ocupando essa posição, teve um excelente discipulado.
Aprendeu com ele e viu milagres extraordinários de Deus.

193
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Teve o grande privilégio de, ao lado de M oisés, ouvir


a voz de Deus (Ex 7:8). Sustentou com Hur as mãos de
M oisés para que o povo de Israel tivesse vitória (Ex 17:12).
Era respeitado por todos com o líder espiritual. Depois da
saída do Egito, acompanhada por sinais e maravilhas de
Deus, foi ungido como o primeiro sumo sacerdote de Israel
(Êx 28:1).
N esse m o m e n to , A rão ch eg o u ao áp ice de seu
ministério. Cresceu em liderança e foi colocado em posição
de honra perante todo o povo.
Entretanto, a sua queda veio quando ele com eçou a
baixar os padrões apresentados por Deus. A seguir, relaciono
alguns passos que Arão deu e que acabaram culminando na
sua queda:

Ele olhou para as circunstâncias, e não para Deus


Está registrado em Êxodo 32:1:
“Vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte,
acercou-se de Arão, e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses
que vão adiante de nós. Quanto a esse Moisés, esse homem
que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe
sucedeu”.

Observe que Arão estava ao lado do povo, aguardando


que Moisés descesse do monte. Com o ele estava demorando,
também perdeu a paciência. Ali estava um homem que havia
ouvido a voz divina, visto m ilagres extraord in ários e
presenciado o poder de Deus ao tirar o seu povo da escravidão
do Egito. C on tu d o, estava se deixando levar por um a
circunstância.
Isso nos ensina que devemos aprender a olhar para Deus
e suas promessas, e não deixarmos que as circunstâncias nos
levem a tomar decisões erradas que poderão nos conduzir a
uma queda fatal.
NÃO BAIXE O PADRÃO

Ele decidiu agradar aos homens


e não a Deus
No versículo dois, a Bíblia afirma que Arão decidiu ser
agradável aos homens, e não a Deus. As pressões foram muito
grandes e ele aceitou a proposta de fazer deuses para o povo.
Muitas vezes acontece o mesmo em nossos dias. O líder
é pressionado pelas pessoas e, em vez de buscar a face do
Senhor e a sua Palavra para decidir, simplesmente opta por
agradar à congregação e fazer o que parece bom para ela. Arão
recolheu o ouro e fez um ídolo em forma de bezerro, levantou
um altar e levou o povo a sacrificar e a adorar esse ídolo.
Por causa de sua atitude, obteve o favor e foi aclamado
pelo povo num a grande festa. Todos se alegraram e se
divertiram, mas Deus ficou irado. Veja os versículos 7 a 10:

“Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce, porque o teu


povo, que fizeste subir do Egito, se corrompeu. Depressa
se desviou do caminho que eu lhes ordenei, e fizeram para
si um bezerro de fundição. Perante ele se inclinaram, e lhe
ofereram sacrifícios, e disseram: São estes, ó Israel, os teus
deuses, que te tiraram da terra do Egito. Disse mais o
Senhor a Moisés: Tenho visto a este povo, e é povo de dura
cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que o meu furor se
acenda contra eles, e os consuma. Então eu farei de ti uma
grande nação”.

O pecado de Arão trouxe conseqüências penosas para


si mesmo e para o povo de Israel. Ele foi excluído da terra
prometida. Que final de ministério terrível para um homem.
D epois de tan to trabalho, todos os seus anseios foram
frustrados, pois não teve o privilégio de levar o povo de Deus
a conhecer a terra prometida. Ele foi substituído por seu filho
Eleazar no ministério, conforme Deus ordenou a Moisés:

“Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao


monte Hor. Depois despirás a Arão das suas vestes, e as
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

porás em Eleazar, seu filho, pois Arão será recolhido, e


morrerá ali” (Nm 20:25,26).

Foi um final constrangedor para o sacerdote. Ele perdeu


sua posição, foi substituído e morreu sem ver seu propósito
realizado. Porém, tudo isso aconteceu porque Arão aceitou
o pecado, transigiu e baixou o padrão, permitindo o erro em
sua vida e tam bém na do povo.

Saul
Saul também teve sua ascensão e queda. A história está
registrada em 1 Samuel.

Deus estava de olho nele (ISm 9:15-17)


Sem que ele m esm o soubesse, o Senhor, em sua
soberania e sabedoria, já o havia separado para ser o líder do
povo de Israel.

Deus começou a exaltá-lo (v. 22)


Sempre tem sido assim o modo de agir do Senhor para
com aqueles que Ele ama. Ele honra seus ungidos concedendo-
lhes dando autoridade diante do povo.

Ungido para ser o rei de Israel (10:1)


Isso foi uma grande surpresa para Saul. Jamais havia
passado em sua cabeça o mais leve pensamento de que Deus
o colocaria como rei do povo de Israel. Nesse período, ele
era fiel e tem ente a Deus.

Recebia orientação de Deus (vv. 2-5)


Logo que foi ungido rei, Saul com eçou a receber as
ordens e direção de Deus por meio do ministério do profeta
Samuel.
NÃO BAIXE O PADRÃO

Ungido pelo Espírito Santo (v. 6)


Nas instruções que recebeu de Deus, foi-lhe dito que
deveria encontrar-se com um grupo de p rofetas, e ali
recebería a unção do Espírito Santo:
“O Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás
com eles, e serás transformado em outro homem”.

Tinha uma liderança forte (cap.ll)


A mão do Senhor estava sobre Saul. Ele com eçou a
liderar o povo de Deus e o levou a diversas vitórias sobre
seus inimigos. A essa altura dos acontecim entos, ele já tinha
o seu reinado estabelecido. Deus estava com ele e as vitórias
se sucediam. Porém, Saul começou a baixar os padrões e a
dar passos em direção à sua própria queda.

Foi desobediente
No versículo 8 do capítulo 10, Samuel havia dito que
Saul deveria esperá-lo em Gilgal para receber as orientações
do Senhor. Entretanto, Saul, como Arão, não teve paciência
e decidiu agir por conta própria.
Exatam ente com o o sacerdote, irmão de Moisés, ele
tam bém se deixou levar pelas circunstâncias, esquecendo-se
de que havia um Deus poderoso ao lado de Israel e que os
inimigos não prevaleceriam. Ao desobedecer as instruções
do Senhor, recebeu a sentença:
“Disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente em não
guardar o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou;
pois o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel
para sempre. Agora, porém, não subsistirá o teu reino; o
Senhor já buscou para si um homem segundo o seu
coração, e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu
povo, porque não guardaste o que o Senhor te ordenou”
(1 Sm 13:13,14).
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Perdeu a bênção por causa da desobediência


Deus deu vitória ao seu povo sobre os amalequitas.
Contudo, o Senhor havia ordenado que destruíssem tudo que
eles possuíssem. Saul simplesmente não levou cm consideração
as ordens do Senhor e decidiu m anter vivo o rei Agague e os
melhores bois e ovelhas.
Deus enviou Samuel para exortar a Saul. Ele deu a
desculpa de querer os melhores animais para apresentar em
sacrifício. R eceb eu , entretan to, a seguinte resposta do
profeta:
“Porém Samuel respondeu: Tem o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à sua
palavra? Obedecer é melhor do que sacrificar, e atender
melhor é do que a gordura de carneiros” (ISm 15:22).

Perdeu a unção do Espírito Santo


Todo pecado tem sua conseqüência. Saul desobedeceu
e recebeu a paga por ter desobedecido:
“Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o
atormentava um espírito maligno da parte do Senhor”
(1 Sm 16:14).

Perdeu a posição
Deus trocou Saul por Davi. Devemos nos lembrar de
que toda derrocada começa quando começamos a baixar o
padrão de conduta na presença de Deus. O Senhor nos coloca
num padrão elevado de conduta. E se obedecermos integral­
mente à sua Palavra teremos a sua bênção e o nosso ministério
será produtivo.
H.B. London Jr. e Neil B. W isem an, ao falarem sobre a
vida irrepreensível do pastor, afirmaram:
“Raramente pastores são forçados a deixar o ministério
por causa de incompetência, mas, sim, por causa da
NAO BAIXE O PADRAO

impureza. Um caráter santo é a pedra de alicerce do


ministério. Um caráter purificado e energizado por Deus
tem um efeito magnético de atração sobre aqueles a
quem ministramos. Isso dá ao ministro sensibilidade,
estabilidade c energia em um mundo onde tanta coisa
é incerta, alienada ou m oralm ente in su stentável”
(Despertando para um Grande M inistério, Mundo
C ristão).

Querido companheiro de lutas: não baixe o padrão de


sua vida cristã. M esmo que as circunstâncias o incitem à
desobediência, não aceite isso. E melhor obedecer tendo a
bênção de Deus do que desobedecer e ter o favor dos homens.

199
CONCLUSÃO

“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou
também presbítero com eles, e testemunha das aflições de
Cristo, e particip an te da glória que se há de revelar:
Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo
cuidado dele, não por força, mas voluntariamente, não por
torpe ganância, mas de boa vontade; não como dominadores
dos que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao
rebanho. E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a
imarcescível coroa de glória” (lPe 5:1-4).

Quero concluir este livro com uma exposição do texto


em que Pedro apresenta uma mensagem especial para todos
aqueles que Cristo colocou em uma posição de liderança.

A quem é dirigida a mensagem


Existe um intercâmbio de palavras referindo-se a posições
ministeriais. As palavras ancião, presbítero, pastor e bispo estão
inseridas nesse intercâmbio. O importante é entendermos que
a mensagem está dirigida aos líderes das igrejas, às pessoas
que têm a responsabilidade por outras vidas e pelo bom
andamento do ministério. O ensino é para os que entendem
que Deus os levantou para o exercício ministerial.
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

A autoridade do mensageiro
Quem é esse hom em que tem uma mensagem para os
líderes da igreja? Qual é a autoridade que ele tem para isso?
Vivemos numa época em que muitas mensagens têm sido
proclamadas e, m uitas vezes, não analisamos a fonte delas.
Neste caso, não era uma pessoa qualquer que estava falando.
Este ensinamento está autenticado por um homem de
qualidades extraordinárias, o que reveste sua mensagem de
grande autoridade. Pedro apresenta três qualificações especiais:

Eu, que sou presbítero com eles


Isso significa que ele possuía lastro ministerial suficiente.
Não era um aventureiro qualquer que estava falando. Era um
homem sofrido e que havia tido muitas experiências com Deus.
Pedro era o impulsivo e sanguíneo que sempre observava
— admirado e ansioso — os milagres de Cristo. Ele é o autor
de uma das mais admiráveis e profícuas pregações da história,
depois de ter recebido o poder no pentecoste. Era tam bém o
mesmo homem que viu o milagre da pesca maravilhosa, que
andou sobre o mar com Cristo, que presenciou um anjo libertá-
lo da prisão de forma extraordinária e que amadureceu ao
participar da discussão sobre a pregação do evangelho aos
gentios. Em razão de sua vida e experiências no ministério,
era um mensageiro que tinha autoridade para ensinar.

Testemunha dos sofrimentos de Cristo


Pedro foi um dos apóstolos que caminhou com o Senhor.
Ele foi testemunha dos milagres e das lutas de Jesus, desde seu
confronto com os escribas e fariseus até seu enfrentamento
das autoridades políticas da época. Ele viu todos os sofrimentos
da prisão, julgamento e crucificação do Mestre.
Tudo isso deu a ele um grande respaldo espiritual. Quem
passa pelas experiências que ele passou, sempre terá uma impres­
são na mente que influenciará todas as suas atitudes futuras.

202
CONCLUSÃO

Pedro era testem unha da humanidade e da deidade de


Cristo. Ele sabia que Deus estava em Jesus, e isso conferia-
lhe autoridade para ser o portador dessa mensagem.

Participante da glória que se há de revelar


Esse mensageiro autenticava sua mensagem por sua
posição de presbítero, e tam bém pela sua experiência
transcendental. Ele disse que já era participante da glória
que haveria de ser revelada.
A glória de Deus tem se manifestado na igreja, mas de
unjia form a ainda em panada por causa das lim itaçõ es
humanas. Paulo disse:
“Agora vemos em espelho, de maneira obscura; então veremos
face a face. Agora conheço em parte; então conhecerei como
também sou conhecido” (IC o 13:12).

Pedro já experimentava essa glória por meio de seu minis­


tério, mas sabia que também participaria da plenitude dela quando
houvesse a manifestação do Filho de Deus com poder e glória.
Isso se traduz por fé, confiança e esperança no Deus
que não pode mentir. Pedro mesmo afirmou:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que,
segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma
viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
para uma herança incorruptível, incontamínável e imarcescível,
guardada nos céus para vós” (lPe 1:3,4).

A mensagem
Esse hom em revestido de autoridade, cuja vida era
autenticada por suas profundas experiências com Deus, tem
uma mensagem especial para os líderes:

Apascentai o rebanho de Deus


Pedro sabia da responsabilidade que pesava sobre os
líderes. C om essa consciência, exortou os presbíteros que

203
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

apascentem o rebanho de Deus. Mas não de qualquer maneira.


Em primeiro lugar, ele ordenou que apascentassem, isto
é, que cuidassem do rebanho com desvelo. E importante
entendermos o alcance da palavra rebanho. Não podemos
limitar o nosso ministério somente àquelas pessoas que estão
dentro do âmbito de nosso relacionamento. A visão precisa
ser maior. Devemos apascentar essas pessoas para que elas
alcancem outras. Assim, o rebanho sempre estará crescendo.
O/nosso ministério de apascentar não é som ente no
sentido de cuidar para que os membros de nossas igrejas
tenham uma vida boa e agradável. Nosso objetivo é conduzi-
los à maturidade espiritual. E im portante que eles possuam
uma vida agradável, mas, principalmente, devem produzir
frutos para a glória de Deus.
Pedro afirma também que o rebanho é de Deus. Isso nos]
ensina que somos apenas pastores que cuidam das ovelhas que
pertencem ao grande Pastor, que é o Senhor Jesus Cristo. Nunca
podemos nos esquecer de que o rebanho não nos pertence.

Não por força, mas espontaneam ente


A segunda exortação de Pedro aos líderes é que
apascentem o rebanho de Deus não por força, mas esponta­
neamente. Isso significa que o ministério nunca deve ser uma
carga forçada sobre os ombros do ministro. Ninguém deve
entrar à força para o ministério, mas, sim, por opção consciente.
Humanamente falando, creio que nunca entraria para o
ministério. Por ser filho de pastor, vi as dificuldades inerentes
a essa missão. Entretanto, quando Deus transformou minha
vida, o Espírito Santo colocou em meu coração a alegria e o
desejo profundo de servi-lo como ministro.
Hoje não troco essa posição por nada neste mundo. E
claro que, em algumas ocasiões, as lutas trazem algum
desânimo, e aí nos sentimos como se estivéssemos sendo
forçados a exercer o ministério pastoral. Porém, basta que
204
CONCLUSÃO

olhemos para aquele que nos chamou e nos capacitou para


que esses sentim entos se esvaiam e a alegria de estarmos
servindo ao Senhor e aos irmãos volte.
O que nos ajuda a não nos sentirmos forçados a exercer
o ministério é a convicção de que Deus nos chamou, a glória
da qual estamos participando, o nosso amor por Cristo e o
nosso compromisso com o reino.

Segundo a vontade de Deus


O trabalho de apascentar o rebanho deve ser feito de acordo
com a vontade do Senhor. Pedro, por ter um temperamento
sangüíneo, sabia com o era forte a nossa ten d ên cia de
pastorear de acordo com nossas idéias e vontade própria.
Com o pastor de igreja, tremo e temo, pois descobri
que posso dirigir a igreja de acordo com minha vontade e
não com a vontade de Deus. Por isso é necessário vivermos
uma vida cheia do Espírito Santo.
E Ele quem, através de nós, dirige a igreja. Devemos estar
sendo diariamente controlados e fortalecidos por Ele, que nos
utiliza como ferramentas, pois é isso o que realmente somos.
Quando vejo igrejas fazendo coisas que Jesus nunca'
ordenou e que nem são autorizadas por sua Palavra, fico
preocupado e me pergunto se os pastores estão apascentando
seus rebanhos segundo a vontade do Pai. A Palavra nos exorta
a apascentarmos de acordo com a vontade soberana de Deus.

Nem por torpe ganância, mas de boa vontade


Não devemos estar no ministério como se ele fosse uma
profissão, em busca de lucros e vantagens pessoais. Por essa
razão, Pedro nos exorta a não apascentarmos o rebanho com
torpe ganância. A palavra que ele está usando aqui se refere a
um ganho indecente, sujo, obsceno. O ministério não é lugar
para aqueles que o vêem como uma fonte de lucros.
Obviamente precisamos de sustento para o nosso viver,
205
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

mas não podem os ter a m otivação errada de estar no


ministério, pensando somente em acumular riquezas.
Pedro foi testemunha do período da igreja primitiva em
que os crentes vendiam suas propriedades e traziam o dinheiro
aos pés dos apóstolos. Posso imaginar como havia abundância
naquela igreja. Certamente era grande a tentação de se entrar
para o ministério pensando nas vantagens financeiras.
Pedro viu Simão tentar comprar o m inistério com
dinheiro para obter mais lucro. Além disso, em sua experiência
ap ostólica, ele deve ter presenciado m u ita gen te com
motivação errada tentando entrar para o episcopado. Por
isso, ele nos deixou essa veemente exortação: não devemos
pastorear o rebanho de Deus por torpe ganância.

Nem como dominadores sobre os


que vos foram confiados
A outra exortação é que não podemos dominar sobre
aqueles que Deus nos confiou para pastorear. Tenho visto
m uitos ministros usando textos bíblicos para exercerem
domínio e submeterem o rebanho.
Alguns usam a frase de Davi, quando este tinha Saul à
mercê de sua vontade:
“O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor,
ao ungido do Senhor, que eu estenda a minha mão contra
ele; pois é o ungido do Senhor” (ISm 24:6).

Porém, se analisarmos o contexto, veremos que Davi


esperava o livramento do Senhor. Ele sabia que Deus o estava
colocando com o líder do povo de Israel. Observe que a
afirmação foi do liderado em relação ao líder, e não o contrário.
Todos nós devemos estar submissos às autoridades,
especialmente à liderança eclesiástica. Entretanto, isso não
abre nenhum precedente para que aqueles que estão em
posição de autoridade a usem para oprimir e dominar pessoas.

206
CONCLUSÃO

Tenho visto algumas interpretações distorcidas do que


significa autoridade espiritual, usadas por líderes que chegam
a tolher a liberdade de expressão de suas ovelhas, pastoreando
a igreja de forma ditatorial.
Charles Swindoll faz uma citação de um escritor e
catedrático de sociologia da Universidade W estm ont, quando
este analisa o uso do poder por parte dos líderes. Ele escreveu:
“Os estudiosos da Bíblia afirmam que o conceito de
autoridade apresentado pelo Novo Testamento, expresso
na palavra grega exousia, não possui a conotação de
jurisdição sobre a vida de outrem. Antes, é uma autoridade
que vem pela verdade, é a autoridade da sabedoria e da
experiência, e que pode ser evidenciada em um governante
que é considerado um exemplo; que pode recomendar-se
‘à consciência de todos os homens, na presença de Deus’ (2Co
4:2) (Firme seus Valores, Betânia).

C onheço igrejas em que os m em bros precisam de


autorização dos pastores e líderes para fazer determinadas
coisas. E necessário que entendamos que existe um sacerdócio
universal dos crentes e que devemos ser submissos uns aos
outros, como Paulo escreveu em sua carta aos Efésios 5:21.
Um pastor que domina e constrange os membros a uma
obediência compulsória mostra que não possui autoridade
espiritual. Q uando o líder tem autoridade espiritual os
membros o seguem e o obedecem naturalmente.
A Palavra de Deus nos diz que os cristãos devem
obedecer a seus pastores, mas isso não quer dizer que o pastor
tenha liberdade para dominar os seus membros. Por isso, cada
pastor deve estar em profunda sintonia com o Espírito Santo
para dirigir o rebanho conforme a vontade do Senhor.

Mas servindo de exemplo ao rebanho


Isso é algo m uito sério. O pastor deve ser o modelo que
os membros desejam imitar. No original grego, a palavra

207
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

utilizada pelo apóstolo é tupos, que se refere a padrão,


im ita çã o , m odelo. A p licand o-a no sen tid o esp iritu al,
percebemos que se refere a ser uma pessoa digna de imitação;
Tenho visto e ouvido sobre pastores que vivem em
constante pecado, com atitudes contrárias à Palavra de Deus,
em adultério, com dívidas financeiras, maltratando esposa e
filhos, falando mentiras, possuindo motivações erradas e
tantas outras coisas. Que Deus seja misericordioso!
Há uma afirmação de Paulo que sempre uso como lente
para examinar minhas palavras e ações:
“O que aprendestes, e recebestes, e ouvistes de mim, e em mim
vistes, isso fazei. E o Deus de paz será convosco” (Fp 4:9).

Para que o nosso ministério seja bem-sucedido, devemos


ser autênticos e servirmos como paradigmas para o rebanho.
Precisamos ter a mesma autoridade de Paulo, que pôde dizef:
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”
(IC o 11:1).

A recom pensa
“E, quando se m anifestar o sumo Pastor, recebereis a
imarcescível coroa de glória" (lPe 5:4).

Não devemos exercer o ministério com ganância. No


entanto, Deus é tão bom, que nos dará uma recompensa
maravilhosa. Pedro está dizendo aos líderes das igrejas que eles
receberão uma coroa como recompensa do seu serviço no reino.
Na época em que essa carta foi escrita a palavra coroa
era usada para os vencedores nas batalhas, e não somente ligada
aos reis, com o acontece hoje. Em algumas com petições
esportivas os organizadores tentam resgatar a tradição e
colocam uma coroa de louros ou flores sobre os vencedores.
A idéia que o apóstolo está comunicando é que somos
vencedores no ministério cristão, apesar de todas as oposições
que enfrentamos. Porém, algumas pessoas não dão o devido

208
CONCLUSÃO

valor a essa verdade, e a colocam em segundo plano, fazendo


comparações entre o ministério e outras profissões.
E preciso que aprendamos a olhar as coisas do ponto
de vista de Deus. Dessa forma, nos livraremos da inversão de
valores que constantem ente nos ameaça. A Palavra nos ensina
que as coisas espirituais têm m uito mais valor do que as
materiais, porque são eternas.
Por meio do exercício ministerial estamos construindo
coisas eternas, as quais ninguém poderá tirar de nós. Se você
está servindo a Deus no ministério e tem sofrido a tentação
de acum ular bens m ateriais, saiba que é m uito m elhor
construir coisas espirituais.
Jesus nos ensinou:
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem
destroem,e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas ajuntai
tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem
e onde os ladrões não arrombam nem roubam” (Mt 6:19,20).
Após essas considerações, quero finalizar este livro com
uma palavra de ânimo para todos nós.

Ânimo
N ão te n h a dúvidas de q u e S a ta n á s q u er vê-lo
desanimado. Se ele conseguir isso com um líder, todos os
liderados serão contaminados pelo mesmo sentim ento. Por
essa razão, conhecendo os seus ardis, quero .encorajá-lo a
nunca desanimar em seu ministério.
Aparentemente o jovem Tim óteo já estava sentindo na
própria pele as dificuldades m inisteriais e estava quase
desanimando quando Paulo lhe escreveu a sua segunda carta.
Logo no princípio, depois da saudação, o apóstolo disse:
“Por este motivo eu te exorto que despertes o dom de Deus,
que há em ti pela imposição das minhas mãos” (2Tm 1:6).

A Palavra que o apóstolo utiliza para o termo despertes

209
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

podería ser traduzida como reavivar, reacender ou reinflamar. A


idéia é que o dom que Deus nos deu deve sempre ser mantido
aceso, o que irá nos manter firmes diante de todas as pressões e
adversidades que ocorrem na vida ministerial.
Paulo escreveu a sua segunda carta a Timóteo quando
estava preso em Roma. Nessa ocasião, ele já era avançado em
idade e sofria as pressões da espera de seu julgamento e sentença.
Sabedor das dificuldades de seu m inistério, Paulo
procura animar seu discípulo a não permitir que a chama de
seu exercício ministerial se extinguisse. Ele conhecia profun­
dam ente as dificuldades que a vida ministerial acarreta e
tam bém sabia do temperamento de seu discípulo. Por esse
motivo o admoestou.
O dr. John Stott, na introdução da sua exposição da
segunda carta de Paulo a Tim óteo, faz a seguinte afirmação
sobre tem peram ento desse jovem:
“Timóteo era de temperamento tímido. Parece ter sido
de natureza arredia. Se tivesse vivido em nossa geração,
creio que o teríamos descrito como sendo um
‘introvertido’. Há evidências de que ele relutava diante de
tarefas difíceis, tanto que Paulo teve de abrir-lhe caminho
para a sua missão, escrevendo aos coríntios: E, se Timóteo
for, vede que esteja sem temor convosco, pois trabalha na obra
do Senhor, como eu também. Portanto ninguém o despreze
(ICo 16:10,11). Na segunda carta a Timóteo, várias vezes
o apóstolo o exorta a tomar a sua parte no sofrimento e a
não ter medo ou vergonha, já que Deus não nos deu um
espírito de covardia (2Tm 1:7,8; 2:1,3; 3:12; 4:5).
Evidentemente essas admoestações eram necessárias.
Paulo conhecia a fraqueza de Timóteo. Ele não podia
se esquecer de suas lágrimas, quando se separaram
(2Tm 1:4). Nas palavras de Fairbaim, Timóteo era mais
inclinado a ser comandado'do que a comandar.
‘Assim era Timóteo: jovem, de estrutura física fraca e,
mesmo assim, foi chamado a sérias responsabilidades
na igreja de Deus. Uma grande obra lhe estava sendo

210
CONCLUSÃO

confiada e7 como Moisés, Jeremias e muitos outros antes


e depois dele, Timóteo se sentia muito relutante em
aceitá-la” (Tu, Porém, ABU).

Não im porta qual é o seu tem p eram en to, nem as


dificuldades que você está enfrentando. Olhe para aquele que
o chamou e lem bre-se de que foi Deus quem o colocou no
ministério. Ele certam ente irá honrar a sua Palavra. Não
permita que as adversidades possam afastá-lo da honrosa
posição de embaixador do Rei dos reis.
L on don e W ise m a n , pastores que trabalh am no
aconselhamento e orientação para pastores, ao falarem sobre
esse ânimo que deve permear nosso ministério, afirmaram:
“Todo pastor já passou pela experiência de aconselhar
casais que pareciam mais interessados em procurar um
novo amor do que em restaurar o amor antigo. A energia
que estão dispostos a investir em uma nova relação poderia
reacender o significado da relação existente. O mesmo
tem de acontecer em seu caso para que você reencontre o
brilho e a alegria do ministério. Quando tal renovação
acontecer, você nunca mais considerará a hipótese de
desistir do ministério para vender carros usados, para
tornar-se um assistente social, para assumir-se como
carpinteiro ou para tornar-se um rei” (Despertando para
um Grande Ministério, Mundo Cristão).
Não é preciso apenas mantermos a chama ministerial
acesa. Enecessário que adicionemos mais lenha a essa fogueira.

Proteção
A seguir, apresento algumas sugestões bem práticas que,
tenho certeza, serão instrumentos de Deus para que você
m antenha sua integridade e transparência no ministério.

Peça a Deus um amigo fiel


A solidão tem sido um tremendo inimigo para muitos
que estão no exercício ministerial. Tenho percebido que

211
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

muitos líderes, alguns de renome, são pessoas solitárias, que


não têm um ombro amigo para encostar a cabeça, nem
alguém com quem possam compartilhar suas lutas íntimas
com as tentações.
O livro Despertando para um Grande Ministério nos dá
algumas orientações importantes para uma aliança entre duas
pessoas com o objetivo de prestarem contas mutuamente:
“Como todo mundo, o pastor precisa de um companheiro
de oração com quem tenha estabelecido uma aliança, a
quem ele dá liberdade de questioná-lo acerca de sua relação
com Deus, acerca de sua vida de oração, de seu casamento
e de suas responsabilidades familiares. Este relacionamento
é um aliança entre duas pessoas do mesmo sexo que estejam
buscando uma unção especial de Deus em seus ministérios
e famílias.
E importante que esta aliança seja um acordo de pelo
menos seis meses e que se baseie em confiança mútua.
Ambas as pessoas com prom etem -se a orar uma pela
outra regularmente pelo menos uma vez por dia. Tais
parceiros se encontram pelo menos uma vez a cada
quinzena para um tempo de compartilhar.
Também se mantêm em contato por meio de telefonemas
curtos ou bilhetes em que se dizem coisas assim: ‘Você
está trabalhando naquele assunto que tratamos na última
vez em que nos encontramos? Você está envolvido em
qualquer coisa que prejudique o seu ministério ou atrapalhe
o seu testemunho? Você tem sido fiel à sua família?’
Em tal relacionamento de aliança, ambas as pessoas são
fortalecidas por meio da oração intercessória, de um
prestar contas espiritual e do compromisso ativo de um
ajudar outro servo do Senhor’’.

Desenvolva um código pessoal de conduta


Não estou recomendando que você escreva de novo os
dez mandamentos, nem que entre numa escravidão legalista.
O que tenho em mente é que você observe alguns parâmetros
que o ajudarão a se autopoliciar.
212
CONCLUSÃO

João W esley desenvolveu cinco perguntas que eram


usadas por seus discípulos para prestação de contas:
1. Até onde você sabe, quais pecados com eteu desde a
nossa última reunião?
2. Quais tentações você enfrentou?
3. Com o você foi liberto?
4. O que você pensou, disse ou fez que ainda o deixa
em dúvida se foi pecado ou não?
5. Não existe nada que você queira manter em segredo?

Charles Swindoll tam bém propôs algumas perguntas


para os líderes da nossa época. Em seu excelente livro A Noiva
de Cristo, ele fala sobre a importância da prestação de contas
com o forma de m anter a integridade. Ele apresenta as
seguintes questões para auto-análise:
1. Você esteve com alguma mulher esta semana de uma
maneira que tenha sido imprópria ou que possa ter parecido
aos outros que você tivesse agido com falta de bom senso?
2. Você esteve completamente acima de qualquer censura
em todas as suas transações financeiras nesta semana?
3. Você se expôs a qualquer material pornográfico esta
semana?
4. Você passou tem po diariam ente em oração e nas
Escrituras esta semana?
5. Você cumpriu o mandato da sua vocação esta semana?
6. Você separou tempo para passar com sua família esta
semana?
7. Você acabou de mentir para mim?
“Eu chamaria isso de prestar contas! Sim, reuniões como
essas talvez sejam rigorosas e até mesmo dolorosas. Mas,
se puderem ajudar a controlar a carnalidade e manter a
vida do ministro livre de segredos que algum dia resultem
em escândalo, estou convencido de que valem a pena” (A
Noiva de Cristo, Vida).

Ao desenvolver seu código pessoal de conduta, tenha em


mente que o objetivo final é agradar a Deus, e não aos homens.
213
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

Você deve ter a motivação correta quando fizer esse código. H.


B. London Jr. e Neil B. Wiseman mostram qual é a finalidade do
código pessoal de conduta:
“Tais linhas-mestras não têm por finalidade maior proteger
a sua imagem pública, devolver a segurança a seu cônjuge,
impressionar seus filhos ou convencer sua igreja. Embora
essas coisas todas possam vir a acontecer, e até mais, o
que importa é o compromisso consigo mesmo e com Deus
de que você estará sendo o que diz ser” (Despertando
para um Grande Ministério, Mundo Cristão).

Organize uma reunião semanal de pastores


e líderes para prestação de contas
A tendência da maioria das pessoas é fugir da prestação
de contas, com a idéia de que não precisa fazer isso. O
sentim ento de rebelião e independência é inerente ao ser
hum ano. Porém, poucos descobriram que a verdadeira
liberdade está em prestar contas a outros, porque a prática
traz paz à consciência.
Filhos querem fugir da prestação de contas de suas
notas obtidas na escola. Em presários querem fugif da
fiscalização de suas obrigações legais. Namorados querem
fugir dos olhares inquiridores. Ninguém gosta de prestar
contas do que quer que seja! Nós, cristãos, porém, deveriamos
carregar uma placa bem grande, na qual poderia ser lida a
frase: “E U NÃO T E M O P R ESTA R C O N T A S”. Busque
pessoas que desejam ser íntegras e faça com elas uma aliança
mútua de fidelidade e prestação de contas.
Quando eu pastoreava em Santo André, participava de
uma reunião de pastores em nossa região, na qual havia uma
prestação de contas informal. Tínham os o nosso código de
fidelidade, que apresentava algumas regras como:
“Tudo que se falar na reunião não poderá ser comentado
de forma alguma em outro lugar”.

214
CONCLUSÃO

“Se houver qualquer exortação, advertência, conselho


e orientação, deverão ser dados dentro da reunião”.
Certa vez fiz uma viagem bem-sucedida à África do
Sul. Preguei em diversas conferências missionárias e Deus
operou de modo sobrenatural, salvando muitas vidas. Muitos
foram chamados para a obra missionária e aconteceu um
poderoso avivam ento. Fui à reunião com os colegas e
compartilhei com muita alegria o que Deus havia feito. Na
verdade, regozijei-me com eles porque, mesmo com todo o
esforço despendido, eu me sentia muito bem de saúde.
Naquela mesma semana, contudo, aflorou o estresse e
a minha pressão arterial subiu. Fui parar no médico e ele me
exortou quanto ao cuidado com o meu corpo, dizendo que
eu tinha com etido abusos naquela viagem.
Na semana seguinte, voltei à reunião muito abatido,
cansado e sob efeitos de medicamentos. Logo no início pedi
que os companheiros orassem por mim. Eles me disseram:
— Antes de orarmos por você, temos uma exortação
para lhe dar.
Um deles, tomando a palavra, me falou:
— Agora você irá som ente ouvir.
Em seguida, começaram:
— Edison, você pecou abusando de seu corpo, que é o
tem plo do Espírito Santo.
Um outro disse:
— Você pensa que vai ganhar o mundo todo sozinho?
Um outro ainda me falou com ousadia:
— Edison, você pode morrer que o reino de Deus
seguirá adiante.
Aqueles queridos irmãos estavam sendo um instrumento
de Deus para mostrar meu pecado e me ajudarem, por mais
que fosse hum ilhante e doloroso.
Em seguida, começaram a me dar orientações sobre o

215
TRANSPARÊNCIA NO MINISTÉRIO

uso correto do meu tempo. Ajudaram-me com materiais,


indicações de livros e dicas de como a secretária poderia me
ajudar a controlar a agenda. Depois disso, oraram por mim,
me confortaram e me animaram a seguir em meu ministério.
Que tremenda bênção é podermos ser pastoreados, nós que
vivemos pastoreando outras pessoas.
Prezado companheiro: ore a Deus e com ece em sua
cidade ou região uma reunião de prestação de contas com
pessoas comprometidas e fiéis.
Creio firm em ente que, por intermédio dessa prática,
poderem os resgatar a credibilidade do m inistério. Isso
ocorrerá se, num a dependência com pleta do poder do
Espírito Santo e numa abertura aos ditames da Palavra de
Deus, vivermos em integridade e transparência.
Os resultados serão visíveis em nossa vida pessoal, em
nossa família, em nosso ministério e em nossa sociedade.
Que Deus nos abençoe nesses propósitos.
Finalizando, quero encorajar a todos os que estão lendo
este livro a permanecer firmes no ministério. Não existe
vitória sem luta e, quanto maior a luta, maior será a vitória.
D eus nos cham ou para um a ex ce le n te obra. E stam os
ajudando a estabelecer o reino dele aqui na terra.
N ão há d in h eiro que possa pagar as co n q u ista s
espirituais. Quando olhamos o resultado de nosso esforço
m in is te ria l, com vidas sendo salvas, pessoas sendo
espiritualmente aperfeiçoadas, gente sendo liberta e o reino
de Deus crescendo, só podemos nos alegrar e glorificar o Senhor
por estar nos usando.
Que a exortação do apóstolo Paulo sirva para nos animar:
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes,
sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão” (lC o 15:58).

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