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No terceiro capítulo, Eagleton nos apresenta o estruturalismo tomando como

exemplo, inicialmente, a obra Anatomy of Criticism, de Northrop Frye e a partir desta,


nos demonstra que a noção de estruturalismo está ligada à estrutura do texto. O
estruturalismo ocupa-se do exame das leis gerais pelas quais essas estruturas funcionam.
Frye é apresentado a partir da crença de que o estudo da literatura deveria
valorizar a objetividade em detrimento do individualismo e que essa “estrutura verbal
autônoma” deveria ser isolada de qualquer referência de forma que nada externo
pudesse se infiltrar, prejudicando suas categorias. Para Frye o estudo da literatura deve
partir da objetividade e não do juízo de valores e não uma forma de conhecer a realidade
(abordagem cognitivista da Nova Crítica, entre outras teorias).‡ O estruturalismo
procura definir os gêneros a partir dos elementos constitutivos das respectivas estruturas
linguísticas.
"O sistema deve também expulsar qualquer história que não seja
a literária: as obras literárias são feitas de outras obras literárias,
e não de qualquer material estranho ao próprio sistema
literário.” (EAGLETON, 2006, p. 139)
De certa forma, Eagleton nos leva ao entendimento de que a visão de Frye é
dotada de um aspecto antihumanista, considerando que sua visão descentraliza o sujeito
individual humano, centralizando tudo no próprio sistema literário coletivo. Ou seja,
ainda que os fenômenos individuais sejam reduzidos a meros exemplos das leis, o
estruturalismo, por outro lado, entende que as unidades individuais de qualquer sistema
só tem significado em virtude de suas relações mútuas.
É importante que entendamos que a obra de Frye não está filiada ao
estruturalismo, ainda que esta seja contemporânea ao crescimento do estruturalismo
“clássico” na Europa, tendo em comum a ocupação do exame das estruturas e das leis
gerais pelas quais as estruturas funcionam.
Contudo, Eagleton ressalva que a literatura não poderia ser produto do
isolamento, visto que “ela nasce do sujeito coletivo da raça humana”, de maneira a
considerar a obra de Frye fruto de uma utopia, por pretender demonstrar aversão à sua
história e medo do mundo social.

Influências de Ferdnand Sausurre


Como já acessamos em outras disciplinas, para Saussure a linguagem é um
sistema de signos (significante x significado), que deve ser estudado sincronicamente,
como um sistema completo num determinado momento do tempo, e não
diacronicamente, isto é, considerando seu desenvolvimento histórico.
A teoria de Saussure nos propõe que todo signo seria formado por um
significante (som-imagem ou seu equivalente gráfico) e um significado (o conceito ou
significado), de forma que devemos observar que a razão entre o significante e o
significado é arbitrária, não havendo razão inerente para estabelecê-la, a não ser a
convenção cultural e histórica. Compreende-se que o significado não é inerente ao
signo, mas funcional, resultado de sua diferença para com outros signos. Saussure
também não tinha interesse pelo referente (objetos reais de que falam as pessoas), uma
vez que considerava que para estudar a língua com eficiência, os referentes dos signos
(outra relação arbitrária) são as coisas que na realidade eles denotam, tinham que ser
colocados entre parênteses.
“As opiniões linguísticas de Saussure influenciaram os
formalistas russos, embora em si o formalismo não seja
exatamente um estruturalismo. Ele vê os textos literários
“estruturalmente”, e transfere a atenção do referente para o
signo em si mesmo, mas não se interessa particularmente pela
significação como um elemento diferencial ou, como ocorre em
grande parte da obra formalistas, pelas leis e estruturas
‘profundas’ que subjazem aos textos literários. Foi, porém, um
dos formalistas russos – o linguista Roman Jakobson – quem
estabeleceu a ligação principal entre o formalismo e o
estruturalismo moderno[...].”(Eagleton, 2006, p.147)
Podemos apreender que a proposta o estruturalista é a aplicação dessa teoria
linguística a outros objetos e atividades que não a própria língua, de modo que a análise
incidirá em ressaltar as relações dos signos e como estes se combinam em significado,
não tomando a realidade do que os signos dizem, mas concentrando-se nas relações
internas.
Roman Jakobson, Jan Mukarovisk e Felix Vodika estabelecem a transição entre
o formalismo e o estruturalismo moderno, de modo que desenvolvem as ideias dos
formalistas, sistematizando-as dentro da perspectiva linguística saussuriana. Ele analisa
o signo deslocado de seu objeto o que permite ao signo certa relação autoconsciente da
linguagem para consigo mesma (linguagem poética).
“A função "poética' se verifica quando a comunicação focaliza a
própria mensagem - quando as próprias palavras, e não o que é
dito, por quem, para que finalidade e em que situação, são
colocadas no primeiro plano de nossa atenção.” (EAGLETON,
2006, p.148)
Em “O Cortiço”, de Aluízio de Azevedo, podemos citar o seguinte trecho:

“Eram cinco horas da manhã, e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
infinidade de portas e janelas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma
assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as
derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e
tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia”(Azevedo,
2010, p.21).

Neste trecho se analisarmos pelo aspecto formalista, poderemos observar o modo como
a linguagem literária foi utilizada para retratar o Cortiço.

Já se analisarmos pelo aspecto estruturalista, podemos notar que o Cortiço está sendo
mencionado no texto como um personagem da narrativa e, o fato de o cortiço ser o
protagonista principal dessa narrativa é o ponto ao qual os estruturalistas iriam se deter,
pois eles analisavam o personagem dentro da obra e não em um contexto maior.

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