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SÚMULAS esquematizadas

SÚMULAS 488 a 490 do STJ


Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Honorários advocatícios em acordos celebrados entre o litigante e Poder Público

SÚMULA 488
O parágrafo 2º do art. 6º da Lei 9.469/97, que obriga à repartição dos honorários advocatícios,
é inaplicável a acordos ou transações celebrados em data anterior à sua vigência.
Assunto Direito Processual Civil (honorários)
Precedentes REsp 704781/SC, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 17/02/2005.
REsp 796981/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, julgado em 14/03/2006.
Explicando o Se alguém está litigando contra a Fazenda Pública é possível que seja feito um acordo ou
§ 2º do art. transação entre as partes?
6º da Lei SIM. É possível a autocomposição envolvendo a Fazenda Pública, devendo, no entanto, ser
9.469/97 feita nos limites autorizados por lei a fim de que não se viole o princípio da
indisponibilidade do interesse público.

Em âmbito federal, a Lei n. 9.469/97 traz autorização expressa em seus arts. 1º e 2º.
O acordo ou transação pode ocorrer durante a fase (processo) de conhecimento ou mesmo
após o trânsito em julgado, durante a fase de execução.

Caso haja acordo ou transação envolvendo a Fazenda Pública, a Lei n. 9.469/97 prevê que
a Fazenda fica liberada de pagar os honorários do advogado da outra parte.
A Lei estabelece que a parte que estava litigando contra a Fazenda é quem irá pagar os
honorários do seu advogado.

Como vimos acima, o acordo ou a transação pode ocorrer depois do trânsito em julgado da
sentença condenatória da Fazenda Pública. Neste caso, a sentença já condenou a Fazenda a
pagar honorários à parte vencedora da demanda. O que acontecerá se houver acordo nesta
hipótese (ex: acordo durante a fase de execução)?
R: A Fazenda deixa de ter a obrigação de pagar os honorários da parte vencedora, mesmo
eles tendo sido estipulados na sentença transitada em julgado. Total absurdo, mas é a
previsão da lei.

Vejamos o que diz o § 2º do art. 6º da Lei n. 9.469/97:


§ 2º O acordo ou a transação celebrada diretamente pela parte ou por intermédio de
procurador para extinguir ou encerrar processo judicial, inclusive nos casos de extensão
administrativa de pagamentos postulados em juízo, implicará sempre a responsabilidade de
cada uma das partes pelo pagamento dos honorários de seus respectivos advogados,
mesmo que tenham sido objeto de condenação transitada em julgado. (Incluído pela
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Medida Provisória nº 2.226, de 4.9.2001)


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Exemplo:
Ivan ingressou com ação de cobrança contra a União. A sentença julgou procedente o
pedido de Ivan e, após diversos recursos terem sido interpostos pela União e julgados
improvidos, a decisão condenatória transitou em julgado. Vale ressaltar que a sentença
condenou também a União a pagar os honorários do advogado de Ivan.

Ocorre que Ivan, desejando agilizar o recebimento da quantia, aceita fazer uma transação
com a União, renunciando a 30% do valor que lhe era devido.

O que Ivan não sabe é que além de abrir mão desses 30% de seu crédito, terá que pagar o
valor dos honorários de sucumbência devidos ao seu advogado de acordo com a sentença e
que seriam custeados pela União.
Esse § 2º do NÃO. Trata-se de regra que vale para as demandas das quais participem as Fazendas
art. 6º vale Públicas Federal, Estaduais (DF) ou Municipais, e suas respectivas autarquias e fundações
apenas para públicas, tal como estabelece o caput do art. 6º da Lei.
a União?
O que diz a  Essa regra do § 2º do art. 6º da Lei 9.469/97,
súmula?  que obriga à repartição dos honorários advocatícios (ou seja, a Fazenda paga os
honorários de seus procuradores e a outra parte o dos seus advogados),
 é INAPLICÁVEL a acordos ou transações celebrados em data anterior à sua vigência.

Como se trata de uma regra de direito material (crédito de honorários), não pode essa lei
retroagir para prejudicar ato jurídico perfeito (transação já celebrada), sob pena de ofensa
ao art. 5º, XXXVI, da CF.

Vale ressaltar que o § 2º do art. 6º entrou em vigor no dia 04/09/2001, por força da MP 2.226/01.
Por que A MP 2.226/2001 foi objeto da ADI 2.527-9, proposta pela OAB.
entendo que Em 16/08/2007, o STF concedeu medida cautelar para suspender os efeitos desse § 2º do
essa súmula art. 6º da Lei n. 9.469/97, inserido pela MP. Confira trecho da ementa:
é de pouca (...) 5. A introdução, no art. 6º da Lei nº 9.469/97, de dispositivo que afasta, no caso de
utilidade transação ou acordo, a possibilidade do pagamento dos honorários devidos ao advogado da
prática? parte contrária, ainda que fruto de condenação transitada em julgado, choca-se,
aparentemente, com a garantia insculpida no art. 5º, XXXVI, da Constituição, por
desconsiderar a coisa julgada, além de afrontar a garantia de isonomia da parte obrigada a
negociar despida de uma parcela significativa de seu poder de barganha, correspondente à
verba honorária. 6. Pedido de medida liminar parcialmente deferido.
(ADI 2527 MC, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 16/08/2007)

A decisão do STF, por ser em medida cautelar, foi prolatada com efeitos ex nunc, de modo,
que esse § 2º do art. 6º somente teve eficácia no período de 04/09/2001 até 16/08/2007,
estando suspenso desde então.
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Competência / Ação Civil Pública

SÚMULA 489
Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas
propostas nesta e na Justiça estadual.
Assunto Direito Processual Civil (competência e ação civil pública)
Precedentes CC 40.534/RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 28/04/2004.
CC 112.137/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em 24/11/2010.
Comentários Vamos explicar a súmula com um exemplo concreto:
O Ministério Público do Estado de São Paulo ingressou com uma ação civil pública, na
Justiça estadual, contra “B”, conhecida rede de fast food, questionando o fato dessa rede
vender kits de lanches infantis acompanhados de brinquedos.
O MPE-SP formulou os seguintes pedidos:
1) “B” deve ser proibida de comercializar lanches infantis em conjunto com a entrega de
brinquedos; e também
2) “B” deve ser compelida a oferecer a venda separada dos brinquedos, para que, assim,
não obrigue as crianças a comprar o lanche para ganhar os brindes.

O MPE-SP fez, portanto, pedidos cumulativos (pedido 1 e pedido 2).

Algum tempo após essa primeira ação, o Ministério Público federal ajuizou outra ACP, na
Justiça Federal de São Paulo, contra “B” e também contra a rede de fast food “M”.
O MPF-SP fez os seguintes pedidos alternativos:
1) “B” e “M” devem ser proibidas de comercializar lanches infantis em conjunto com a
entrega de brinquedos; ou então
2) “B” e “M” devem ser compelidos a oferecer a venda separada dos brinquedos.

O MPF fez, portanto, pedidos alternativos (pedido 1 ou pedido 2).

Tanto o MPE como o MPF estão tutelando direitos difusos consumeristas.

O que acontecerá com as duas ACP’s? Deverão ser julgadas separadamente ou reunidas?
As duas ações deverão ser reunidas, uma vez que há possibilidade de os juízos proferirem
decisões conflitantes.

Qual o critério para determinar a reunião dos processos?


Apesar de o juízo estadual ser prevento, neste caso, o instituto da prevenção não pode ser
utilizado para definir a competência. Isso porque estando o MPF na lide, a causa deve
tramitar obrigatoriamente na Justiça Federal.
Para fins de competência, o MPF é considerado como órgão da União, de modo que a sua
presença atrai a competência para a Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88
(lembrando que a competência da Justiça estadual é residual).
Assim, o critério a ser adotado nesse caso é a presença do MPF (órgão da União).

Qual será então o juízo competente para julgar as ações?


Será competente a Justiça Federal, ainda que o juízo federal não seja prevento.

Dessa feita, o STJ tem entendido, de modo reiterado, que, em tramitando ações civis
públicas promovidas por integrantes do Ministério Público estadual e federal nos respetivos
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juízos e, em se mostrando consubstanciado o conflito, caberá a reunião das ações no juízo


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federal (CC 112.137/SP).

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Vejamos algumas manifestações do STJ sobre o tema e que podem ser cobradas nas provas:

A propositura de Ação Civil Pública pelo Ministério Público Federal, órgão da União, conduz
à inarredável conclusão de que somente a Justiça Federal está constitucionalmente
habilitada a proferir sentença que vincule tal órgão (CC 61.192/SP).

A relação de continência entre ação civil pública de competência da Justiça Federal, com
outra, em curso na Justiça Estadual, impõe a reunião dos feitos no Juízo Federal, em atenção
ao princípio federativo (CC 40.534/RJ).

É da natureza do federalismo a supremacia da União sobre Estados-membros, supremacia


que se manifesta inclusive pela obrigatoriedade de respeito às competências da União sobre
a dos Estados. Decorre do princípio federativo que a União não está sujeita à jurisdição de
um Estado-membro, podendo o inverso ocorrer, se for o caso (CC 90.106/ES).

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Reexame necessário

SÚMULA 490
A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido
for inferior a 60 salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas.
Assunto Direito Processual Civil (reexame necessário)
Precedentes EREsp 934642/PR, Rel. Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 30/06/2009.
REsp 1101727/PR, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Corte Especial, julgado em 04/11/2009.
Reexame O chamado “reexame necessário” ou “duplo grau de jurisdição obrigatório” é um instituto
necessário previsto no art. 475 do CPC:
Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:
I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da
Fazenda Pública (art. 585, VI).

Vamos explicar melhor:


 Se a sentença proferida pelo juiz de 1ª instância:
a) for contra a Fazenda Pública; ou
b) julgar procedentes os embargos do devedor na execução fiscal (o que também é
uma sentença contra a Fazenda Pública)

 Essa sentença deverá ser, obrigatoriamente, reexaminada pelo Tribunal de 2º grau


(Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal).

 Mesmo que a Fazenda Pública não recorra.

 E enquanto não for realizado o reexame necessário não haverá trânsito em julgado.

Obs: o reexame necessário não possui natureza jurídica de recurso. Desse modo, é
tecnicamente incorreto denominar este instituto de “recurso ex officio”, “recurso de ofício”
ou “recurso obrigatório”.
Exceções ao O CPC prevê, em dois parágrafos, situações em que, mesmo a sentença se enquadrando nos
reexame incisos do art. 475, não haverá a obrigatoriedade do reexame necessário:
necessário
§ 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como
no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo
valor.

§ 3º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em
jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente.

Sintetizando: não haverá reexame necessário:


 se o valor da condenação ou da execução for inferior a 60 salários-mínimos; ou
 se a sentença estiver baseada em jurisprudência consolidada do Plenário do STF ou em
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súmula de Tribunal Superior.


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Requisitos A exceção contemplada no § 2º do art. 475 do CPC pressupõe dois requisitos:
para aplicar a) primeiro, que a condenação ou o direito controvertido tenham valor certo; e
o § 2º b) segundo, que o respectivo montante não exceda 60 salários mínimos.

Logo, se a sentença é ilíquida (não tem valor certo), não se enquadra nesta exceção.

Mas se isso era tão claro porque houve a necessidade da súmula?


A ideia de editar a súmula enunciando expressamente essa conclusão surgiu porque alguns
julgados sustentavam que, se a sentença era ilíquida, deveria ser usado o valor da causa
atribuído pelo autor como parâmetro para saber se haveria ou não reexame necessário.

Assim, para essa tese (que não prevaleceu) se o autor havia atribuído como valor da causa a
quantia equivalente a 50 salários-mínimos e a sentença fosse ilíquida, não haveria reexame
necessário.

Ocorre que o STJ não entendeu dessa maneira e sustentou que, se a sentença for ilíquida,
não poderá ser dispensado o reexame necessário com base no § 2º do art. 475, ainda que o
valor da causa seja inferior a 60 salários-mínimos.
Sentença Concluindo o exame do tema:
ilíquida e o § Se a Fazenda Pública for condenada e a sentença for ilíquida, poderá ser dispensado o
3º do art. reexame necessário?
475
Depende:
 No caso do § 2º do art. 475 (quando o valor da condenação ou do direito controvertido
for inferior a 60 salários mínimos): NÃO será possível a dispensa, ainda que o valor da
causa seja inferior a essa montante. Trata-se do entendimento do STJ nesta súmula 490.

 No caso do § 3º do art. 475 (se a sentença estiver fundada em jurisprudência do


Plenário do STF ou em súmula de Tribunal Superior): SIM, será possível a dispensa.

Desse modo, muito cuidado: a correta leitura da súmula 490 é a seguinte:


A sentença ilíquida proferida contra a Fazenda Pública deverá ser submetida ao reexame
necessário, salvo se estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal
Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

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