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Aparentemente o Papa Francisco notou e declarou que ele não existe. A frase guarda uma
ambiguidade que vale a pena discutir.
Apesar de muitos acreditarem que a vida pôs morte, nos aguarda com um poderoso
julgamento. Poucos agem para evita-lo. Não existem pecados novos, todos são velhos e já
foram descritos. Portanto é difícil que escapemos de uma pena eterna, junto ao fogo.
Um poeta no século XIV, construiu a mais impressionante visão do Inferno até então. E de tão
poderosa entrou de imediato, fortemente, no imaginário cristão. Dispostos em três cantos a
Comédia, com o seu Inferno, Purgatório e Paraiso, traça a busca da redenção do poeta(e, por
conseguinte a da humanidade) passando por três reinos do além. O caráter imagético do
poema foi calculado metodicamente pelo poeta, Dante Alighieri, que durante 14 anos
escreveu sua odisseia pelos três reinos, acompanhado de seu guia e mentor, Virgílio. O poema
composto de 14.322 linhas de verso, combinadas em tercetos, é uma das obras primas da
literatura ocidental.
Antônio Manetti (1423 –1497) foi um intelectual de Florença, mais conhecido pela sua
biografia do mais famoso arquiteto da Renascença, Brunelleschi. Mas ele era também um
estudioso da obra de Dante, e sobre ela ele escreveu um texto, jamais publicado, sobre “A
localização, forma e tamanho do Inferno. Considerado um dos fundadores do estudo da
cosmologia Danteana2. Com base nas informações contidas na Comédia, montou uma
expressiva visualização de como seria topograficamente este local. Publicado como um
comentário do ,igualmente, um humanista florentino Cristoforo Landino(1424-1498) reportou
estes comentários e cálculos numa edição da Comédia em 1481 e 1506.
Dante nunca nominou sua Comédia, divina. É bom lembrar, que o século XIV é o prenuncio do
Renascimento, portanto a redescoberta da cultura grego romana, ira influenciar todos os
segmentos da atividade humana. No teatro grego, tudo que começa bem e termina mal, é uma
1
“o inferno desapareceu e ninguém notou” frase do historiador Marin Martin
2
https://www3.nd.edu/~italnet/dante/text/Hell.html site visitado em 06/05/2018
tragédia. Aquilo que começa mal e termina, bem uma comédia!3 Será o poeta e escritor
Boccacio que fará isso, ao dizer que esta obra, em função de sua importância, era Divina!
Quando Dante construiu sua visão de Inferno, ele criou um texto voltado a imagem. O poema
neste momento, não era lido da forma silenciosa, como lemos hoje. Ele era voltado a leitura
pública, por oradores especializados. Dante construiu seu poema em especial, o Inferno de
maneira como os roteiristas fazem com seus roteiros fazem hoje. Voltados a construção da
Imagem.
O Inferno criado pelo poeta é um cone invertido cujo centro passa por Jerusalém e seu vértice
se encontra no centro da terra. Ele foi formado a partir da queda de Lúcifer, de acordo com o
velho Testamento, abatido em sua luta contra o anjo Miguel.
O jovem que fez duas palestras era Galileu Galilei, o título completo da palestra era “ Duas
aulas lidas ante a Academia de Florença a respeito da forma, do local e do tamanho do Inferno
de Dante”4 (MANGUEL, 2016).
A participação de um dos maiores intelectuais e cientista do século XVI nos leva a uma questão
interessante: por que a ciência deveria se envolver com as questões religiosa, que são frutos
de intensos debates até hoje, e por que está deveria ser uma questão “cientifica” uma vez que
pertence mais ao campo de literatura e da ficção?
Toda vez que anuncio o tema de meu doutorando, “Uma nova topografia para o Inferno de
Dante, sempre percebo naqueles vindo das ciências puras (ditas matemáticas, física,
estatística) um certo olhar de desprezo e ironia.
A condução de uma política de coerção e controle das massas, para aquilo que ela chamava de
correta conduta cristã.
3
Prof. Dr. Paulo Franchetti, em conversa com este pesquisador.
4
Mais informações MANGUEL, Alberto. Uma História Natural da Curiosidade. São Paulo: Companhia das
Letras, 2016.
No caso específico de Galileu ele
precisou fazer cálculos sobra a
calota que recobria o inferno para
isto utilizou conhecimentos
trazidos a pouco5,para o Ocidente.
E o que é mais importante; ele
errou!
A descrição da obra de Galileu, Manetti e Vellutello, serve para mostrar que a partir de um
elemento de ficção pode advir conhecimento é ciência.
Outra forma de se ver o inferno, é a tese desenvolvida pelos historiadores Leopold von Ranke
(1795 – 1886) e Johann Gustav Droysen (1808 – 1884), que juntos são considerados os pais da
moderna historiografia, “Wie es eigentlich gewesen” (o que realmente aconteceu) .
5
Além do desenvolvimento de seus próprios cálculos ele utilizou referencias eruditas de Arquimedes e
Euclides, que ainda não eram de domínio público, poucos tinham tido acesso as traduções recentes.
6
Em 1850, o erudito Octavo Gicli localizou um manuscrito, sobre as leituras. Aparentemente Bacio Va
lori, que foi cônsul na Academia, guardou duas copias e uma, originalmente, escrita por Galileu.
(MANGUEL, 2016) e (PETERSON, 2011)
importante que o que realmente aconteceu, porque as pessoas agem sobre
o que elas acreditavam ser verdadeiro”7
Assim como eles fizeram no passado, podemos fazer hoje, o que pode provocar um grande
estranhamento, por suas imensas dimensões localização e forma.
Como foi dito o Inferno é um cone e sua origem é a queda de Lucifer8, os professores Elzo e
Maurizio da Universidade Estadual de São Paulo, fizeram exatamente isto, como se fosse
verdadeiro e calcularam a velocidade de queda do Diabo, para fazer os cálculos que dariam a
quantidade de energia suficiente para se criar um inferno na dimensões colocadas por Dante
Galileo e Manetti. O Intuito dos professores não é mostrar que o Inferno existe ou não, mas
entender o quanto de ciência é possível utilizar “se fosse verdade”. Isto nos leva ao limite
desta questão, a ciência não importa o qual veraz pode ser seu assunto, o que importa é
quanto de conhecimento podemos extrair dai.
7
RUSSEL Jeffrey Burton, “O Diabo – Percepções do mal da Antiguidade”.
8
Veja mais em DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7941.2016v33n3p1047 A gênese do Inferno e do
Purgatório na Divina Comédia de Dante: uma ponte possível entre Física e Literatura. Elso Drigo e
Maurizio Babini