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A morte é um fenômeno natural e ao analisar sua representação ao

longo da história, observa-se que houve grande mudança na maneira como é


interpretada. Na Idade Média a morte era aceita naturalmente no lar, em
companhia dos entes queridos. Até o século XIX o médico era apenas um
espectador no processo de morrer. Porém no início do século XX a medicina
iniciou uma batalha contra a morte dos pacientes, precisamente após a década
de 30, onde houve o crescimento do número de pessoas que terminavam suas
vidas dentro dos hospitais (SHIMIZU, 2007).

Segundo Kübler-Ross (1988) ao estudar os fatos históricos, percebe-se


que não houve uma mudança do homem pensar a morte, ela ainda constitui-se
um acontecimento pavoroso de caráter universal, o que mudou foi o nosso
modo de conviver e lidar com a morte e o morrer dos pacientes frente a sua
finitude.

Hoje em dia, o desenvolvimento técnico e científico promoveu a cura de


pacientes considerados anteriormente sem recuperação, mas em alguns
casos, possibilitou o prolongamento do processo de morrer ao preço de
sofrimento adicional para o paciente e seus familiares (MORITZ E NASSA,
2004).

Quando cessam todos os tratamentos, os cuidados prestados a um


paciente que não tem mais possibilidade de cura deverão estar direcionados a
uma melhor qualidade de vida (GARGIULO et al., 2007).

Para muitos familiares, estes cuidados devem ser feitos no hospital, pois
se sentem desamparados, inseguros e sem condições de acolher esse
paciente. Esses cuidados são chamados de Cuidados Paliativos. “Paliar é
confortar, aliviar sintomas, ouvir, respeitar, compartilhar, acolher, acompanhar
até o fim” (FIGUEIREDO; FIGUEIREDO, 2006, p.200).

Importante ressaltar que os cuidados paliativos melhoram a qualidade de


vida e proporcionam um suporte psicossocial e emocional ao doente terminal.
É necessário obter forças e ter amor para acompar o paciente terminal para
acompanhá-lo, a fim de que possa perceber “que tal momento não é
assustador nem doloroso, mas um cessar em paz do funcionamento do corpo”
(KLÜBER-ROSS, 1998, p.286).

Klüber-Ross (1998) provoca uma desconstrução sobre a morte e outras


perdas importantes que acontecem no decorrer da vida. Nos mostra que
precisamos aprender com as perdas e com a morte pois ela é inevitável. Para
esta autora morrer atualmente tornou-se algo desolador, triste e, sobretudo,
solitário, mecânico e desumano, pois o indivíduo, ao deixar seus familiares, seu
lar e seus pertences, se sente em uma situação de abandono. Sendo que na
tentativa de prolongar a vida, a intervenção médica em alguns casos pode
provocar o prolongamento do sofrimento do paciente e a família.
Kluber-Ross (1998) descreve cinco estágios pelos quais muitas pessoas
passam nos momentos que antecedem sua morte: a negação e o isolamento, a
raiva, a barganha, a depressão e a aceitação.

De acordo com a autora, no primeiro estágio, ocorre a negação e o


isolamento – é a fase na qual a pessoa se nega a acreditar. É uma reação
normal frente à nova realidade.

O segundo estágio é a raiva – a negação é substituída por sentimentos


de raiva, revolta, inveja e ressentimento. Na maioria das vezes o paciente
apresenta muitas queixas, exigências e reclama atenção.

O terceiro estágio é barganha – fase na qual ocorre algum tipo de


negociação que adie o final inevitável. É como receber uma recompensa ou um
prêmio por um bom comportamento. As maiorias das negociações são feitas
com Deus, através de orações e promessas.

No quarto estágio ocorre a depressão – o paciente sente a proximidade


da morte e a aceita. Apresenta um sentimento de perda dos entes queridos e
da própria vida.

O quinto estágio é a aceitação – o paciente acaba por aceitar a evolução


natural da sua doença.

Importante ressaltar que nem todas as pessoas passam por esses


estágios ou seguem sempre a mesma ordem. A progressão é individual e em
alguns pacientes terão duração variável. Klüber-Ross (1998, p.151) afirma que
“a única coisa que geralmente persiste, em todos os estágios, é a esperança”.

Referências

FIGUEIREDO, Maria da Graças Mota Cruz de Assis; FIGUEIREDO, Marco Tullio de


Assis. Cuidados Paliativos. In: INCONTRI, Dora; SANTOS, Franklin Santana (Org.). A
arte de morrer: Visões plurais. Bragança Paulista, SP: Comenius, 2007. p. 196-206.

GARGIULO, Cínthia Aquino et al. Vivenciando o cotidiano do cuidado na percepção de


enfermeiras oncológicas. Texto contexto - enferm, Florianópolis, v. 16, n.
4, dez. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072007000400014&lng=pt&nrm=iso>.

KUBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer: o que os doentes têm para


ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios parentes. 8 ed. São Paulo:
Ed. Martins Fontes, 1998.
MORITZ, Rachel Duarte. O efeito da informação sobre o comportamento dos
profissionais de saúde diante da morte. 2002. 131 f. Tese (Doutorado em
Engenharia de Produção), UFSC, Florianópolis, 2002. In: ZAIDHAFT, 1990; In:
ESCOBAR, 1990.

SHIMIZU, Helena Eri. Como os trabalhadores de enfermagem enfrentam o processo


de morrer. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 60, n. 3, jun. 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71672007000300002&lng=pt&nrm=iso>.

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