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PEDRO E PAULO, DUAS COLUNAS UM SÓ EDIFÍCIO

Neste mês de junho celebramos com muita alegria a vida de duas pessoas que
nos deixaram um grande legado, um grande ensinamento: São Pedro e São Paulo.
Evidentemente, santidade não pode ser medida, não dá para dizer que este santo é
melhor ou mais importante do que aquele outro, cada qual tem sua história, seu
testemunho, de acordo com a vocação recebida, com sua realidade histórica e
geográfica, etc. Contudo, alguns testemunhos cristãos são muito marcantes, sobretudo,
porque são muito humanos e concretos, sem aquela dose de uma visão quase romântica
sobre a vida dos santos. Algumas histórias de santos são lindas, verdadeiras obras
literárias, que tem seu valor, mas são muito fantasiosas, quase angelicais, ou pelo menos
não fazem parte da condição normal de um ser humano real, e é neste sentido de seres
humanos autênticos que os santos Pedro e Paulo têm muito a nos ensinar.

Para a maioria das pessoas ser santo é algo muito distante da realidade humana,
já que a nossa condição de seres humanos comporta toda uma situação de limites e de
pecados. E então como chegar à santidade se somos limitados e pecadores? Esta é a
grande dificuldade para muita gente que vê na pessoa dos santos uma realidade
diferente dos demais seres humanos, como se os santos tivessem nascidos com
faculdades sobre humanas, ou isentos dos limites próprios da nossa natureza. É aqui que
gostaria de valorizar a vida destes dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo.

As informações principais que temos sobre São Pedro e São Paulo são
encontradas na Bíblia, mais exatamente no Novo Testamento. Para nossa alegria as
informações que temos sobre os nossos santos são verdadeiras exortações para que
todos busquemos a santidade, uma vez que São Pedro e São Paulo (e isto vale para os
demais e verdadeiros santos) são plenamente humanos, ou seja, não nasceram com
poderes especiais ou com uma carne diferente da nossa, não eram seres celestiais, mas
homens, e como homens, cada um ao seu modo tiveram que superar vários obstáculos,
limites e pecados.

O Apóstolo Paulo, primeiro escritor do Novo Testamento, após uma profunda


mudança de vida nos deixou um dos mais belos testemunhos sobre o significado de
santidade. Santo não tem que nascer santo, santidade é graça de Deus que todos
recebemos para nossa caminhada, seja para Damasco, para Roma, ou para tantos outros
itinerários que nos levam para um único e mesmo Caminho, Cristo. Foi a caminho de
Damasco que Saulo vaidoso de suas virtudes farisaicas se tornou Paulo e encontrou o
Caminho, descobriu que sua verdadeira força consistia em admitir sua fraqueza: “Por
isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (2Cor
12,10). Não se chega à santidade escondendo ou não aceitando os nossos limites, mas
antes os confessando. São Paulo é um belo exemplo: “Porque não faço o bem que
quero, mas o mal que não quero esse faço” (Rm 7,19). Somente a caminho e num
difícil processo de conversão que Saulo se tornou São Paulo, um fariseu se tornou
cristão, a força e a dureza da lei deram lugar à graça revelando o verdadeiro projeto de
Deus com palavras verdadeiramente inspiradas e inspiradoras: “Ainda que eu falasse as
línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou
como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que
transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a
minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (1Cor 13,1-3). Somente é
capaz de pronunciar palavras como estas quem descobre o Caminho e percebe com o
coração que tudo é graça, como gostava de afirmar nosso saudoso Dom Corrêa.

São Pedro, de acordo com as informações que dispomos, também não nasceu
santo e nem mesmo possuía as virtudes intelectuais de São Paulo, nem tampouco tinha
uma fé madura (cfr. Mt 14, 29-31). No momento decisivo de enfrentar a insanidade dos
opositores Pedro negou seu mestre três vezes, afirmando não conhecê-lo (cfr. Mt 26, 70-
74). Todavia, o Evangelho de João nos mostra claramente como que Pedro foi
transformado em novo homem num longo processo de conversão até atingir a estatura
desejada por Jesus e se tornar o líder dos apóstolos (cfr. Jo 21, 15-19). De sorte que
tanto Paulo quanto Pedro não nasceram santos, nem pessoas sobrenaturais, se tornaram
santos porque foram capazes de abrir o coração à graça de Deus num processo sincero
de conversão. Noutras palavras, santo não é quem nunca pecou, mas, quem se
reconhece pecador e pede perdão desejando verdadeiramente uma volta para Deus. É
neste contexto de homens pecadores, mas abertos à conversão é que temos São Pedro, o
primeiro a ser chamado por Jesus e São Paulo o primeiro a escrever sobre Jesus. E
assim temos Pedro e Paulo, colunas distintas no mesmo templo de Deus.

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