Você está na página 1de 17

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/255992592

Anfíbios

Chapter · January 2007

CITATIONS READS

0 1,255

5 authors, including:

Marcio Borges-Martins Patrick Colombo


Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fundação Zoobotânica (FZB)
58 PUBLICATIONS   304 CITATIONS    28 PUBLICATIONS   152 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Caroline Zank Fernando Gertum Becker


Instituto Curicaca Universidade Federal do Rio Grande do Sul
22 PUBLICATIONS   126 CITATIONS    43 PUBLICATIONS   290 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Anfíbios da Savana Uruguaia View project

Communities of aquatic insects of Southern Grasslands: diversity patterns and evaluation of impacts by habitat conversion View project

All content following this page was uploaded by Fernando Gertum Becker on 20 May 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


20.
Anfíbios

Márcio Borges-Martins,
Patrick Colombo, Caroline
Zank, Fernando Gertum
Becker & Maria Tereza
Queiroz Melo

276
Introdução (ver Silvano & Segalla, 2005). Contudo, a aplicação receber esta denominação. Algumas espécies de Bufo têm
inadequada dos critérios propostos pela IUCN (IUCN, o hábito de aproximar-se à noite de habitações humanas,
Os anfíbios são um dos grupos de tetrápodos atuais mais 2001) levou a indicação de até 110 espécies pelo relatório para capturar insetos atraídos por lâmpadas, sendo assim
diversificados, sendo conhecidas cerca de 5.743 espécies do Global Amphibian Assessment (Stuart et al., 2004). facilmente observados. O termo “rã” é aplicado a uma
(IUCN et al., 2004) distribuídas em três ordens: Anura Recomendamos Silvano & Segalla (2005) para uma grande variedade de espécies que apresentam a pele
(sapos, rãs e pererecas), Urodela (salamandras) e revisão das questões de conservação de anfíbios no Brasil pouco rugosa ou lisa (algumas vezes com estrias
Gymnophiona (cobras-cegas ou cecílias). Uma grande e Pimenta et al. (2005) para uma discussão sobre as longitudinais), ausência de glândulas paratóides, focinho
variedade de formas e de histórias de vida confere a este divergências na interpretação dos níveis de ameaça aos mais acuminado, patas traseiras longas e que se
grupo uma distribuição cosmopolita, estando ausentes anfíbios brasileiros. locomovem por saltos. O termo é aplicado para as
apenas nas regiões de temperaturas muito baixas (em espécies grandes (fig. 2b), eventualmente usadas na
altitudes elevadas, zonas de grande latitude e no continente Apesar da maioria das espécies ser de pequeno porte e alimentação por populações humanas (e.g. Leptodactylus
Antártico) e em ecossistemas marinhos. O Brasil é apresentar hábitos principalmente noturnos, os anfíbios ocellatus e Rana catesbeiana, a rã-touro), bem como para
atualmente o país detentor da maior riqueza de anfíbios, são um dos grupos mais conspícuos de vertebrados, a maioria das espécies das famílias Leptodactylidae e
com 776 espécies no total (SBH, 2005), seguido pela dificilmente passando despercebidos nas áreas onde Microhylidae e para as espécies de Pseudis, da família
Colômbia (698), Equador (447) e o Peru (398) (IUCN et al., ocorrem. O que os torna tão detectáveis é a capacidade Hylidae. O termo “perereca” é aplicado aos anuros que tem
2004; Silvano & Segalla, 2005). Anura corresponde a maior de vocalização dos machos de anuros. O canto mais hábito escalador (geralmente das famílias Hylidae e
parcela, com 748 espécies. As ordens Urodela e importante neste sentido é o canto de anúncio, que é Centrolenidae) e que apresentam discos adesivos na
Gymnophiona apresentam uma riqueza bem inferior no produzido pelos machos para atrair as fêmeas durante o ponta dos dígitos (fig. 2c). Em geral têm patas traseiras
Brasil, com respectivamente uma e 27 espécies período reprodutivo (fig. 1a). Em muitas áreas do Rio compridas e delgadas, focinho achatado e pele lisa e sem
conhecidas. Grande do Sul, especialmente na planície costeira, que é glândulas. Contudo, várias espécies de Scinax, por
rica em banhados, poças e charcos temporários ou exemplo, apresentam granulações na pele e as espécies
A combinação de várias características morfológicas, permanentes, as noites são preenchidas em boa parte do do gênero Phyllomedusa podem ter glândulas paratóides.
fisiológicas, ciclo de vida com estágios aquáticos e ano pelo coro de várias espécies de anuros. O canto de Dentre as espécies que recebem esta denominação,
terrestres, capacidade de dispersão limitada e padrões de algumas espécies do gênero Physalaemus (fig. 1b), que algumas espécies de Scinax do grupo S. rubra, em
distribuição geográfica e/ou área de vida restritos, torna os se assemelha ao choro de uma criança, é talvez o mais especial S. granulatus e S. fuscovarius, podem ser
anfíbios um grupo extremamente suscetível às alterações conhecido de todos. encontradas com freqüência nas proximidades de
ambientais. Os anfíbios são assim, potenciais indicadores residências e muitas vezes refugiam-se no interior das
da qualidade de inúmeros ambientes. De fato, os anfíbios, Apesar de serem facilmente detectados pelo canto, os casas, em locais úmidos como banheiros e cozinhas. Por
especialmente os anuros, têm sido o foco das atenções de anuros em geral não são visualmente conspícuos. Os esta razão são popularmente conhecidas como pererecas-
inúmeros estudos sobre os efeitos de alterações ambientais hábitos noturnos e a relação com o ambiente aquático não de-banheiro.
provocadas pelo homem. Este interesse tem se dado em permitem um contato fácil das populações humanas com a
grande parte pela constatação de declínios populacionais maioria das espécies. Poucas vocalizam durante o dia, As cobras-cegas, ao contrário dos anuros, por
em diversas espécies e em diferentes regiões do mundo. O ficando a maioria refugiada neste período. No Rio Grande apresentarem hábitos fossoriais ou semi-aquáticos, são
declínio nas populações de anfíbios tem gerado um do Sul, como em muitas outras regiões, somente uma difíceis de observar e por isso são pouco conhecidas da
interessante debate científico sobre suas causas e novas pequena parcela das espécies é conhecida e recebe população em geral. Porém, é interessante observar que
descobertas têm recentemente agregado contribuições alguma designação vulgar. Geralmente as diferentes em algumas áreas da planície costeira, a espécie
importantes, como por exemplo os estudos sobre a ação espécies são agrupadas apenas sob os nomes “sapo”, “rã” Chthonerpeton indistinctum (fig. 2d) é usada
dos fungos quitrídeos. As razões apontadas para o declínio e “perereca”. Raras vezes se observa a aplicação de eventualmente por pescadores locais como isca, sendo
de algumas populações têm sido as mais diversas e nomes populares mais específicos e de forma consistente. conhecida vulgarmente por “minhocão” ou “moreira” (M.
incluem: aquecimento global e outras mudanças climáticas, É interessante salientar que esta divisão vulgar, da Borges-Martins, obs. pessoal).
aumento da incidência de radiação ultravioleta (através da maneira como é aplicada, não tem um significado
diminuição da camada de ozônio), introdução de espécies taxonômico ou filogenético, porém é bastante útil no O Rio Grande do Sul possui cerca de 95 espécies de
exóticas (predação, competição, transporte de patógenos), reconhecimento de uma série de características que anfíbios conhecidas até o momento, sendo 93 anuros e
modificação e fragmentação dos habitats, acidificação e distinguem alguns grupos morfo-funcionais de anuros. O duas cobras-cegas (ver referências em Garcia &
contaminação tóxica das águas (herbicidas, fungicidas, termo “sapo” é aplicado às espécies de hábitos mais Vinciprova, 2003, e listas em Kwet, 2001a, e Kwet, 2005).
inseticidas e químicos industriais), doenças, e terrícolas, que apresentam pele bastante rugosa, Destas, contudo, cerca de oito correspondem a táxons
possivelmente a interação de alguns destes fatores geralmente com glândulas paratóides presentes (ausentes novos, ainda em fase de descrição (Kwet, 2005). As 95
(Blaustein & Wake, 1995; Alford & Richards, 1999; Donelly & nos gêneros Melanophryniscus e Odontophrynus). espécies estão distribuídas em sete famílias: Bufonidae
Crump, 1998; Young et al. 2001; Weygoldt, 1989; Blaustein & Possuem o focinho achatado e as patas traseiras curtas, o (18), Centrolenidae (1), Hylidae (38), Leptodactylidae (34),
Johnson, 2003; entre outros). No Brasil, alguns exemplos que lhes confere um hábito mais “caminhador” do que Microhylidae (2), Ceciliidae (1) e Typhlonectidae (1). As
de declínios foram observados, como algumas rãs-de- “saltador”. O termo geralmente é aplicado às espécies do famílias Hylidae e Leptodactylidae são as mais
cachoeiras do gênero Hylodes da Mata Atlântica do sudeste gênero Bufo (família Bufonidae, fig. 2a), porém algumas representativas, englobando 76% de todas as espécies.
do Brasil (Weygoldt, 1989). Atualmente, 26 espécies de espécies de Leptodactylidae, como Odontophrynus Além das 95 espécies nativas, atualmente é possível
anfíbios são consideradas ameaçadas de extinção no Brasil americanus e Physalaemus biligonigerus também podem encontrar em muitas áreas, especialmente no centro e

277
metade norte do Estado (Borges-Martins et al., 2002), nossas espécies. A maior parte dos anfíbios considerados entendimento das relações e características da diversidade
populações estabelecidas da rã-touro (fig. 2e), Rana ameaçados está restrita às áreas de Mata Atlântica do biológica. A realização de inventários pode ser considerada
catesbeiana (família Ranidae), espécie exótica invasora nordeste do Estado. Dentre estas, três ocorrem ainda prioritária na pesquisa com anfíbios no Rio Grande
originária dos Estados Unidos. A riqueza observada no Rio exclusivamente na planície costeira: Ceratophrys ornata, do Sul. Infelizmente, também, ainda são poucos os estudos
Grande do Sul representa cerca de 12% das espécies Eleutherodactylus binotatus e Melanophryniscus dorsalis. publicados sobre comunidades de anfíbios no Estado, a
registradas para o Brasil (SBH, 2005). Possivelmente o exemplo dos trabalhos de Kwet & Di-Bernardo (1999), Kwet
número de espécies no Estado deva ultrapassar as 100 nos Embora o Rio Grande do Sul detenha uma riqueza (2001a), Di-Bernardo et al. (2004) e Loebmann & Vieira
próximos anos, dado o incremento considerável no número considerável de espécies de anfíbios, o número de (2005). A maior parte dos estudos realizados no Rio
de estudos e inventários que vem sendo realizados em endemismos é baixo, sendo conhecidas atualmente Grande do Sul tem caráter taxonômico e o conhecimento
muitas regiões. Esta tendência fica clara se observarmos apenas quatro espécies: Elachistocleis erythrogaster, sobre a distribuição geográfica e a história natural é
que nos últimos anos o número de espécies registradas Melanophryniscus cambaraensis, M. macrogranulosus e M. fragmentário (ver uma revisão dos principais estudos em
para o Rio Grande do Sul passou de 63 em 1980 (Braun & pachyrhynus. É esperado, contudo, que o número de Garcia & Vinciprova, 2003).
Braun, 1980), para 86 em 2004 (Di-Bernardo et al., 2004) e anfíbios endêmicos do Rio Grande do Sul seja maior. Duas
95 em 2005. Estes valores mostram um acréscimo de 36,5% espécies de anuros, atualmente em descrição, parecem Neste capítulo, são apresentados os resultados de um
em um período de 24 anos (1980 a 2004) e de 10,5% também ter distribuição restrita aos limites do Estado inventário rápido da fauna de anfíbios anuros em duas
apenas no último ano (2004 a 2005). (Kwet, 2005). Por outro lado, além das espécies áreas da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Foi dada
endêmicas, pelo menos outras dez apresentam ênfase à composição da comunidade amostrada.
É importante destacar que dentre as 81 espécies de distribuição restrita ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina Considerações sobre a estrutura da comunidade são feitas
anfíbios do Rio Grande do Sul avaliadas por Garcia & e duas ao Rio Grande do Sul e Uruguai (Garcia & de forma breve, quando os resultados obtidos pareceram
Vinciprova (2003), dez foram consideradas ameaçadas de Vinciprova, 2003). indicar padrões consistentes de abundância de algumas
extinção. Isto demonstra que uma parcela significativa dos espécies. Os aspectos mais relevantes da história natural
anfíbios do Estado se encontra ameaçada, antes mesmo A obtenção de dados comparáveis sobre composição e das espécies registradas são fornecidos, com base em
que tenhamos disponíveis estudos básicos sobre a estrutura de comunidades de anfíbios, em diferentes observações dos autores e na compilação das informações
distribuição, taxonomia e história natural da maioria de áreas, fornecem subsídios importantes para o existentes na bibliografia.

Figura 1.
(a) Macho de Dendropsophus sanborni durante canto de anúncio sobre
a b gramíneas (RS, Triunfo); (b) macho de Physalaemus gracilis durante canto
de anúncio sobre a água (RS, Triunfo).

278
Material e métodos

As regiões da Lagoa do Casamento e dos Butiazais de


Tapes estão localizadas na Planície Costeira do Estado do Rio
Grande do Sul sobre sedimentos arenosos, fruto das flutuações
no nível do mar no período Quaternário. Ambas as regiões são
compostas por diversos tipos de ambientes aquáticos e áreas
úmidas (lagoas, banhados, lagunas, poças permanentes e
temporárias) e terrestres (dunas móveis, dunas fixas, campos
arenosos, matas de restinga e matas paludosas) propícios ao
estabelecimento de comunidades de anfíbios anuros. A região da
Lagoa do Casamento se localiza na porção nordeste da Laguna
dos Patos, estando inserida nos Municípios de Palmares do Sul,
Capivari do Sul e Mostardas. A região dos Butiazais de Tapes
está situada a noroeste da laguna, incluindo parte dos Municípios
a d de Barra do Ribeiro e Tapes. As duas áreas se encontram em
margens opostas da Laguna dos Patos e estão isoladas pela
porção norte da laguna e pela abertura do lago Guaíba (ver Cap. 1,
neste volume).
Os trabalhos de campo foram realizados em quatro ocasiões
nos anos de 2003 e 2004 e englobaram duas estações: outono (LC
- Lagoa do Casamento em abril/2003; BT - Butiazais de Tapes,
em maio/2003) e verão (BT, janeiro/2004; LC, fevereiro/2004).
Cada amostragem era realizada por uma equipe de dois a quatro
coletores e tinha duração aproximada de cinco dias, totalizando
um esforço de 14 dias de campo.
As amostragens foram feitas através de procura visual ativa
e, principalmente, auditiva, por meio da localização e
identificação dos cantos de anúncio dos machos adultos nos
períodos reprodutivos. Os diferentes ambientes foram
amostrados, para a localização de espécimes em atividade, com o
auxílio de lanternas cefálicas. Adicionalmente, durante o dia,
foram feitas coletas de procura ativa, principalmente para o
b e encontro de espécimes refugiados na vegetação, serrapilheira ou
sob troncos. A maior parte dos exemplares encontrados foi
identificada no local e alguns espécimes foram fotografados e
imediatamente liberados. Uma pequena parcela dos exemplares
foi coletada para confirmação da identificação em laboratório e
realização de registro fotográfico pormenorizado. Estes
espécimes foram depositados na coleção de anfíbios do MCN/
FZBRS servindo como material testemunho. Em muitos casos,
os registros das espécies foram efetuados apenas pela gravação
em campo das vocalizações dos machos. Os cantos foram
registrados em gravador Sony TCM – 5000EV com um
microfone cardióide (Senhheiser M-66) de longo alcance e,
quando necessário, foram comparados com vocalizações
conhecidas para a confirmação da identificação. Sonogramas
foram analisados, quando necessário, com o software
Figura 2. Syntrillium Edit 96.
(a) Bufo arenarum (RS, Torres); (b) Leptodactylus ocellatus (RS, Triunfo); Para apresentação dos táxons registrados seguimos a
(c) Hypsiboas faber (RS, Triunfo); (d) Aspecto geral e detalhe da cabeça de
classificação e nomenclatura adotada na Lista de Anfíbios do
c Chthonerpeton indistinctum (RS, Terra de Areia. Foto: J. B. da Silva); (e) Rã-
touro, Rana catesbeiana (RS, São Marcos. Foto: P. Colombo). Brasil (SBH, 2005), que inclui as profundas alterações genéricas

279
propostas por Faivovich et al. (2005) para as espécies da família Resultados amostrada (P. Colombo, obs. pessoal). É notável que 25 dos 31
Hylidae. Uma lista atualizada das espécies do Estado está registros de coleção correspondiam a espécimes coletados antes de
disponível on-line em Kwet (2005). Os nomes comuns aqui Durante as expedições de campo à região da Lagoa do 1976 no Município de Tapes. Da mesma maneira que na área da
apresentados são sugestões baseadas principalmente na Casamento e os Butiazais de Tapes foram registrados 987 Lagoa do Casamento, o pequeno número de exemplares em
morfologia externa, comportamento e hábitos, entre outras espécimes de anfíbios anuros, pertencentes a 22 espécies alocadas coleções também evidencia uma carência de coletas anteriores
características. Sempre que possível foram usados nomes já em quatro famílias. Do total registrado, 152 espécimes foram nesta área.
usados na literatura, como nos trabalhos de Kwet & Di-Bernardo coletados e tombados na coleção MCN como material testemunho. Das 22 espécies amostradas (tab. I), seis foram exclusivas
(1999) e Achaval & Olmos, 2003. Uma apreciação geral da A revisão das coleções examinadas resultou na localização desta área, Physalaemus cuvieri, Scinax cf. granulatus, Hypsiboas
fauna de anfíbios do Rio Grande do Sul (com ilustrações e de apenas 65 espécimes, provenientes dos Municípios de Barra do faber, Trachycephalus mesophaeus, Leptodactylus mystacinus e
comentários sobre taxonomia e história natural das espécies) Ribeiro, Tapes e Palmares do Sul. Contudo, dos 34 espécimes Physalaemus henselii. Dentre as espécies exclusivas, chama a
pode ser encontrada em Kwet & Di-Bernardo (1999) e Achaval registrados para Palmares do Sul, 23 foram coletados em áreas de atenção, a ocorrência de duas das maiores espécies de pererecas
& Olmos (2003). Este último trabalho, apesar de tratar balneários costeiros. Nenhum espécime de Capivari do Sul foi do Rio Grande do Sul, Hypsiboas faber e Trachycephalus
especificamente da fauna uruguaia, é pertinente uma vez que a localizado. Os registros incluíam espécimes coletados na região mesophaeus, ambas associadas à presença de florestas. As famílias
maior parte das espécies ilustradas também ocorre no Rio desde a década de 50, pertencentes a 12 espécies, sendo oito para a com maior número de espécies foram Leptodactylidae, com 11, e
Grande do Sul. Informações sobre as espécies ameaçadas podem Lagoa do Casamento e 10 para os Butiazais. Dentre as espécies Hylidae, com nove. A família Bufonidae não foi observada
ser encontradas em Garcia & Vinci prova (2003). Para a com registros prévios em coleções, apenas Physalaemus henselii e durante os estudos. As espécies com maior freqüência de
caracterização dos modos reprodutivos encontrados, seguimos Bufo arenarum não foram registradas durante este estudo. observações em campo foram Dendropsophus sanborni,
Haddad & Prado (2005). Agregando os registros das coleções e de campo deste estudo foi Dendropsophus minutus, Pseudopaludicola falcipes e Scinax
Além dos dados obtidos em campo, foi realizada uma possível documentar a presença de 24 espécies para as duas regiões squalirostris, com 60% das ocorrências.
compilação das informações disponíveis sobre a fauna de anfíbios (tab. I). Nenhuma espécie ameaçada de extinção foi registrada.
da região. Neste sentido, além da revisão da bibliografia Riqueza e composição das comunidades de anuros em
científica, foi realizado um levantamento dos espécimes Lagoa do Casamento e ecossistemas associados comparação com outras regiões no Rio Grande do Sul
depositados em coleções, provenientes dos Municípios Barra do
Ribeiro, Tapes, Capivari do Sul e Palmares do Sul. Foram Durante as expedições de campo à região da Lagoa do Os dados de campo, somados ao levantamento dos
consultadas as coleções de anfíbios do Museu de Ciências Naturais Casamento e ecossistemas associados, foram registrados 301 registros em coleções científicas, indicaram a ocorrência de 24
da FZBRS (MCN) e do Laboratório de Herpetologia do Museu de espécimes de anuros, pertencentes a 17 espécies alocadas em espécies de anfíbios nas duas regiões estudadas. As riquezas
Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio quatro famílias. Um total de 64 exemplares foi coletado e observadas na Lagoa do Casamento (18) e nos Butiazais de
Grande do Sul (MCP). tombado na coleção MCN. Agregando os 34 registros Tapes (22) podem ser consideradas equivalentes, sendo apenas
A similaridade na composição de espécies entre as áreas preexistentes encontrados nas coleções examinadas, foi possível um pouco superior na última. Este padrão também foi observado
estudadas e outras sete áreas do Rio Grande do Sul foi adicionar a presença de uma espécie, Bufo arenarum. É em répteis (ver Capítulo 21). As espécies registradas na Lagoa
examinada através da análise de agrupamento pelo método de interessante destacar que a quase totalidade dos registros de do Casamento e nos Butiazais de Tapes correspondem,
UPGMA, utilizando o coeficiente de combinação simples (SSM, coleção correspondia a espécimes oriundos das áreas do litoral respectivamente a 19,4% e 23,7% das 93 espécies de anuros
Simple Matching Coefficient; Krebs, 1989). O coeficiente de marinho, evidenciando a inexistência de coletas anteriores nas registradas para o Estado. Os valores amostrados são
combinação simples considera tanto as espécies que ocorrem no áreas estudadas. equivalentes também aos registrados em algumas outras
par de amostras que está sendo comparado, como as espécies que Das 18 espécies registradas (tab. I), apenas duas foram localidades amostradas no Rio Grande do Sul, como o Parque
potencialmente ocorrem na área de estudo e estão ausentes no exclusivas desta região: Bufo fernandezae e Scinax cf. alter. As Estadual de Itapuã, o Parque Estadual do Delta do Jacuí, a
par de amostras. Os valores possíveis para o coeficiente de famílias com maior número de espécies foram Leptodactylidae, Estação Ecológica do Taim e a região de Candiota. Por outro
combinação simples variam de 0 (nenhuma similaridade) a 1 com oito, e Hylidae, com sete. As espécies com maior freqüência lado, os valores são um pouco superiores ao observado no
(similaridade total). As áreas estudadas foram comparadas entre de observações em campo foram Dendropsophus sanborni, Parque Nacional da Lagoa do Peixe, mas consideravelmente
si e com as comunidades descritas para o Parque Estadual de Hypsiboas pulchellus e Pseudis minutus, com quase 60% das menores que os registrados no Centro de Pesquisas e
Itapuã (Vinciprova & Gayer, 1993), o Parque Estadual do Delta ocorrências. Conservação da Natureza – Pró-Mata e no Parque Estadual de
do Jacuí (Melo, 2002), a Estação Ecológica do Taim (Gayer et Itapeva (fig. 3). Este padrão indica que as regiões com forte
al., 1988), as áreas de mineração de carvão do Município de Butiazais de Tapes e ecossistemas associados influência da Mata Atlântica, como o Pró-Mata e o Parque
Candiota (Di-Bernardo et al., 2004), o Parque Nacional da Estadual de Itapeva, apresentam riquezas superiores às
Lagoa do Peixe (Loebmann & Vieira, 2005), o Centro de Durante as expedições de campo à região dos Butiazais de encontradas nas regiões com predominância de áreas abertas da
Pesquisas e Conservação da Natureza – Pró-Mata (Kwet & Di- Tapes, foram registrados 686 espécimes de anuros, pertencentes a planície costeira e da campanha gaúcha. Desta forma, a riqueza
Bernardo, 1999) e o Parque Estadual de Itapeva (Colombo, 20 espécies alocadas em três famílias. Um total de 88 exemplares amostrada neste estudo foi mais semelhante com a existente na
2004). As listas de espécies publicadas foram revisadas para foi coletado e tombado na coleção MCN. Agregando os 31 região de Candiota, na campanha, do que com a do Parque de
correção e consideração de inconsistências de identificação ou registros encontrados nas coleções examinadas, foi possível Itapeva, apesar deste estar mais próximo e também se localizar
atualização de nomenclatura. As mesmas comunidades referidas adicionar a presença de Physalaemus henselii, espécie não na planície costeira. Isto é esperado, uma vez que a Mata
aqui foram usadas para a comparação entre os valores de riqueza observada nas coletas. Uma segunda espécie, Bufo arenarum, foi Atlântica é um bioma extremamente rico em espécies de anuros,
de espécies. adicionada à lista com base em um registro feito ao sul da área com cerca de 340 espécies conhecidas (MMA/SBF, 2000).

280
A riqueza total obtida em cada região foi superior aos valores Figura 3.
Comparação da riqueza de anuros da
obtidos para cada ponto de amostragem, como resultado de algum Lagoa do Casamento e dos Butiazais
nível de estruturação espacial da comunidade, mas também da de Tapes com as do Parque Estadual
influência da estratificação do esforço amostral e de flutuações nas de Itapuã, Parque Estadual do Delta
do Jacuí, Parque Estadual de Itapeva,
taxas de atividade dos anuros (em função de regime de chuvas, Estação Ecológica do Taim, Parque
umidade e temperatura). Na Lagoa do Casamento, em 15 locais Nacional da Lagoa do Peixe, Centro
amostrados, a riqueza média foi de quatro espécies, variando de de Pesquisas e Conservação da
Natureza – Pró-Mata, Município de
uma a 11. Nos Butiazais de Tapes a riqueza amostrada em 10 Candiota e o número de espécies
locais foi superior, sendo sete espécies em média, variando de uma registradas para o Rio Grande do Sul.
a 13.
A análise de similaridade mostrou uma grande semelhança
entre as faunas da Lagoa do Casamento e do Parque Nacional da
Lagoa do Peixe (SSM,=0,919) e do Parque Estadual do Delta do
Jacuí (SSM,=0,903). A similaridade entre as duas áreas
amostradas neste estudo foi um pouco mais baixa (SSM,=0,871),
porém, foi o maior valor obtido entre a região dos Butiazais e
todas as demais áreas comparadas. A área menos similar às duas
regiões amostradas foi a do Pró-Mata (SSM,=0,387 e 0,419 em
relação à Lagoa do Casamento e aos Butiazais de Tapes,
respectivamente). Este resultado era esperado, já que a fauna do
Pró-Mata apresenta uma riqueza bem superior, além de ser
composta por uma série de espécies com distribuição restrita às
regiões elevadas do nordeste do Rio Grande do Sul, no Planalto
das Araucárias. Já a fauna de anuros de Candiota apresenta uma
maior similaridade com as faunas amostradas (SSM,=0,774 e
0,774 na Lagoa do Casamento e Butiazais, respectivamente), Figura 4.
Dendrograma de similaridade entre as
apesar de estar mais distante e em uma região geomorfológica comunidades de anuros da Lagoa do
diferente. Esta similaridade se dá devido ao grande número de Casamento, Butiazais de Tapes,
espécies de formações abertas compartilhadas e que são Parque Estadual de Itapuã, Parque
Estadual do Delta do Jacuí, Parque
responsáveis pela maior parte da composição das três Estadual de Itapeva, Estação
comunidades. A análise de agrupamento (fig. 4) indicou a Ecológica do Taim, Parque Nacional
formação de grupos que corroboram o que seria esperado nas da Lagoa do Peixe, Centro de
Pesquisas e Conservação da
comunidades estudadas pela proximidade geográfica e o tipo de Natureza – Pró-Mata e o Município de
formação vegetal predominante em cada área considerada. A Candiota.
Lagoa do Casamento forma um grupo com o Parque Nacional da
Lagoa do Peixe e a Estação Ecológica do Taim. Estas áreas são
próximas e localizam-se à leste das grandes lagoas e lagunas da
planície costeira. Os Butiazais de Tapes se unem a este grupo
com uma similaridade um pouco mais baixa. Um segundo grupo,
muito similar entre si, formado pelo Parque Estadual de Itapuã e
o Parque Estadual do Delta do Jacuí, se une ao grupo anterior,
formando um grande agrupamento que engloba todas as
comunidades da porção central e sul da planície costeira. Estas
comunidades também compartilham o fato de estarem
localizadas em terrenos baixos, próximos ao nível do mar. A
relação das demais áreas com este grupo mostra uma maior
proximidade entre a fauna de Candiota. O Parque Estadual de
Itapeva apresenta uma fauna menos similar apesar de estar
localizado na planície costeira. Como esperado, por estar
localizado no Planalto das Araucárias, a mais de 600m acima do
nível do mar, o Pró-Mata apresenta uma fauna de baixa
similaridade com as demais áreas.

281
Figura 5.
(a) Desova de Elachistocleis ovalis (RS, Porto Alegre, Bairro Lami. Foto: P.
Colombo); (b) Desova de Physalaemus sp. (RS, Torres).

a b

Aspectos de história natural da comunidade 1973; Crump, 1974). A maior parte das espécies de Hylidae Leptodactylidae. O cuidado da desova ou dos girinos (da predação
(nove), além de dois Leptodactylidae e as três espécies de ou dessecação) é o modo de cuidado parental mais comum entre
Os anfíbios anuros são bons modelos para estudos de Bufonidae e Microhylidae (fig. 5a) apresentam este modo. O os anuros. Este modo é observado em Leptodactylus ocellatus,
história natural e mesmo em amostragens rápidas, como as segundo modo mais representado foi o modo 11, onde os ovos são onde a fêmea protege a desova (fig. 6c) e os girinos (fig. 6d) da
realizadas aqui, é possível obter uma série de informações sobre colocados em ninhos de espuma flutuantes em corpos d’água predação.
vários aspectos. Para anuros, em especial, os aspectos lênticos (fig. 5b) e os girinos desenvolvem-se nestes corpos Em diferentes ocasiões foram observados casais em
reprodutivos, como período e sítio de vocalização, sítio de corte, d’água. Este modo foi observado apenas em cinco espécies de amplexo. Todas espécies registradas realizam suas desovas em
tipo de amplexo, sítio de desova e sazonalidade destas atividades Leptodactylidae. Outros dois modos, registrados também águas lênticas, sendo assim, foi mais comum o encontro de casais
são em geral de fácil observação. Este estudo, contudo, priorizou exclusivamente entre espécies de Leptodacylus, foram observados. em amplexo dentro da água (fig. 6e). Contudo, foram observados
o inventariamento da fauna, não tendo como objetivo principal No modo 13 os ovos são depositados em ninhos de espuma na também amplexos em sítios de vocalização fora da água, sobre
gerar informações sobre história natural ou mesmo sobre padrões água acumulada de “bacias” construídas e, após inundações, os ramos de arbustos a mais de um metro do solo (fig. 6f), como por
de estruturação da comunidade. Todavia, alguns padrões gerais girinos desenvolvem-se em corpos d’água lênticos. Este modo foi exemplo, em Scinax cf. granulatus.
neste sentido puderam ser caracterizados e são descritos a seguir. observado apenas nas espécies Leptodactylus gracilis (fig. 6a) e L. Apesar de a maioria das espécies de anuros ser bastante
Dentre as 24 espécies registradas nas duas áreas estudadas, latinasus, ambas as espécies de pequeno porte. No modo 30, os conspícua durante o período reprodutivo, muitas delas apresentam
estão presentes cinco modos reprodutivos (segundo Haddad & ovos e estágios larvais primários desenvolvem-se em ninhos de padrão de reprodução explosiva e em geral não é possível antever
Prado, 2005). Na Lagoa do Casamento, a maioria das espécies, espuma subterrâneos construídos próximos a corpos d’água o momento adequado para amostrá-las nestas circunstâncias. Isto é
quase 67%, apresenta modo reprodutivo do tipo 1 (n=12), lênticos e após inundações os girinos saem e desenvolvem-se um fator relevante a ser considerado em levantamentos rápidos,
seguidas dos modos 11 (n=3), 13 (n=2) e 30 (n=1). Na região dos nestes corpos. Este modo foi observado em Leptodactylus fuscus onde o objetivo é realizar o registro do maior número de espécies.
Butiazais de Tapes, foi observado padrão semelhante, como a e L. mystacinus. Ambas as espécies apresentam porte médio e não De forma contrária à observada no período reprodutivo, a maioria
maioria das espécies apresentando modo reprodutivo do tipo 1 foram muito abundantes durante as amostragens. Um dos modos das espécies é difícil de ser encontrada durante o dia e quando
(n=12), seguidas dos modos 11 (n=5), 13 (n=2), 30 (n=2) e 4 observados, o modo 4, foi exclusivo de uma espécie, Hypsiboas estão refugiadas, mesmo com procura ativa (interior de bromélias,
(n=1). O modo 4, observado em Hypsiboas faber, só foi registrado faber. Neste modo os ovos e estágios larvais primários enterradas, sob troncos ou pedras, etc.). Eventualmente é possível
na área dos Butiazais. Haddad & Prado (2005) indicam a desenvolvem-se em “bacias” naturais ou construídas (fig. 6b) observar alguns indivíduos expostos durante o dia, aparentemente
existência de 39 modos reprodutivos na fauna de anuros da Mata próximas a corpos d’água lênticos ou lóticos, após inundações em repouso, geralmente em postura que reduza a perda de água,
Atlântica. A diversidade de modos observada nas comunidades estas “bacias” extravasam e os girinos saem, completando seu com o corpo comprimido contra o substrato e os membros
estudadas é baixa, mas de certa forma, esperada para a região, desenvolvimento nestes corpos. escondidos. A espécie Hypsiboas pulchellus foi observada exposta
onde encontramos uma riqueza baixa e uma maior homogeneidade Outro aspecto interessante da reprodução dos anuros é a ao sol sobre bromélias (fig. 6g). Observação semelhante foi
ambiental em comparação com as regiões e formações da Mata existência de diferentes formas de cuidado parental. De uma registrada por Kwet & Di-Bernardo (1999). É possível encontrar,
Atlântica. Em relação aos modos, todas as espécies registradas maneira geral, seis formas principais de cuidado podem ser durante o dia, alguns espécimes próximos ou dentro da água,
compartilham uma forte dependência de corpos d’água lênticos. O observadas em anuros, podendo variar desde a construção de um inativos ou forrageando. Neste caso, é comum observar
modo reprodutivo empregado pelo maior número de espécies ninho até a alimentação dos girinos (Heying, 2001). Dentre as exemplares de Leptodactylus ocellatus na margem ou borda da
(58,3%), foi o modo reprodutivo 1, que é o mais generalizado e espécies registradas observam-se duas formas diferentes de água. Quando ameaçados os indivíduos saltam ruidosamente para
filogeneticamente mais primitivo entre os membros de anura cuidado parental, que incluem a construção de um ninho de dentro da água e submergem. Algumas espécies podem se refugiar
(Basso, 1990). Neste modo, os ovos e os girinos são depositados e espuma e o cuidado da desova e/ou dos girinos. A construção de sob troncos, como Physalaemus, Elachistocleis e Leptodactylus.
se desenvolvem em corpos d’água lênticos (Salthe & Duellman, um ninho de espuma está presente em nove espécies, todas de Na serrapilheira das matas é comum encontrar indivíduos de

282
Figura 6.
(a) Desova de Leptodactylus gracilis
(RS, Torres, Parque Estadual de
Itapeva. Foto: P. Colombo); (b) Bacia
construída por Hypsiboas faber para
deposição da desova (RS, Triunfo); (c)
Leptodactylus ocellatus cuidando de
desova (RS, Porto Alegre, Bairro Lami.
Foto: A. Becker); (d) Leptodactylus
ocellatus cuidando de girinos (RS,
Triunfo); (e) Casal de Physalaemus
biligonigerus em amplexo em poça
temporária; (f)
Casal de Scinax cf. granulatus em
amplexo sob ramos de camboim, na
margem de poça temporária; (g)
Hypsiboas pulchellus sobre folhas de
bromélia durante o dia; (h)
Physalaemus gracilis escondido entre
a serrapilheira; (i) Scinax cf. alter

a d g abrigada no interior de bromélia (RS,


Arroio do Sal).

b e h

c f i

283
Physalaemus (fig. 6h), porém mesmo espécies arborícolas, como al., 2002) e é hoje uma preocupação entre cientistas e gestores de meio
Hypsiboas faber podem ser eventualmente encontradas no solo. ambiente, pois pode afetar negativamente as populações de anuros
Colombo (2004) observou três espécies de Physalaemus utilizando nativos. Estudos realizados no Rio Grande do Sul demonstraram que a
a serrapilheira no interior de um fragmento de floresta atlântica espécie tem uma dieta diversificada e que inclui várias espécies de
paludosa no norte da planície costeira do Rio Grande do Sul. anuros dentre os itens mais importantes (Boelter, 2005).
Muitas espécies de Hylidae refugiam-se entre ramos de gramíneas
ou sobre árvores e arbustos. Algumas pererecas ocupam o interior História natural e caracterização das espécies registradas
de bromélias (de solo ou epifíticas) como Scinax cf. alter (fig. 6i)
e Trachycephalus mesophaeus (fig. 7a). Espécies de pequeno Para cada espécie é apresentada uma breve descrição das
porte, como Dendropsophus sanborni, procuram abrigo junto à características morfológicas, distribuição geográfica e, sempre que
base das folhas de gravatás (Eryngium spp.), onde os espinhos possível, da história natural, incluindo dados sobre reprodução,
oferecem proteção contra predadores. Nas regiões arenosas do dieta, comportamento, período de atividade e substrato
litoral algumas espécies como Odontophrynus americanus e preferencial. Dados de tamanho são apresentados em milímetros e
Physalaemus biligonigerus podem ser encontradas enterradas a referem-se ao comprimento rostro-anal. Ao final do texto de cada
a poucos centímetros da superfície. À noite, vários exemplares espécie são apresentados dados sobre os registros obtidos durante
podem ser vistos semi-enterrados (fig. 7b), enquanto saem dos os trabalhos de campo. Fotos das espécies são apresentadas no
abrigos ou estão possivelmente em atividade de forrageio. Apêndice I, representando preferencialmente espécimes das
próprias regiões estudadas (exceções estão indicadas na legenda).
Espécies de ocorrência potencial Família Bufonidae
Bufo arenarum Hensel, 1867 (sapo-da-areia). Este sapo
O levantamento realizado, apesar de totalizar um esforço mede entre 8 a 11,5cm (Achaval & Olmos, 2003). Possui
amostral ainda baixo, parece ter detectado uma parcela glândulas paratóides atrás dos olhos e glândulas de veneno
significativa da fauna. As comparações com as demais áreas espalhadas pela pele, o que confere um caráter áspero. A
indicam que os valores de riqueza obtidos são compatíveis com o coloração varia do marrom claro até quase branco. As fêmeas
esperado para as comunidades de anuros da planície costeira, em são mais escuras e possuem o dorso pontuado por manchas
áreas de pouca altitude e sem forte influência de elementos da esbranquiçadas. Ocorre na planície costeira do sul do Brasil
Mata Atlântica. Todavia, certamente algumas espécies não (Santa Catarina e Rio Grande do Sul), no litoral do Uruguai e
observadas são esperadas para a região. Dentre os anuros, em grande parte do litoral e interior do norte da Argentina,
Melanoprhyniscus dorsalis é uma espécie com ocorrência alcançando ao norte até a Bolívia, nas províncias de
potencial para região. A distribuição de M. dorsalis é conhecida Cochabamba, Chuquisaca, Santa Cruz e Tarija (Frost, 2004). É
atualmente de registros ao longo da porção norte da planície uma espécie comum na região da planície costeira.
b costeira, desde o Município de Cidreira até o sul do litoral de Santa Peridomiciliar, pode ser encontrado freqüentemente dentro de
Catarina, no Município de Laguna (Braun, 1978; Garcia & pátios de residências, sempre próximo á iluminação artificial,
Vinciprova, 2003). Todavia, existe na coleção de anfíbios do capturando insetos. Pode ser visto também na beira da praia,
Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio muito próximo ao mar, inclusive em atividade reprodutiva nas
Grande do Sul um indivíduo coletado no Município de Arambaré, pequenas e rasas poças d´água estagnada formadas após chuvas
ao sul de Tapes, indicando a sua provável ocorrência na área fortes. A desova consiste num cordão gelatinoso com muitos
estudada. Melanoprhyniscus dorsalis é considerada ameaçada de ovos de coloração preta. Modo reprodutivo 1. Alimenta-se de
extinção (Garcia & Vinciprova, 2003). Possui comportamento insetos, minhocas, isópodos e pequenos vertebrados (Achaval &
diurno e é comum observar-se machos vocalizando em poças Olmos, 2003). O canto consiste num trinado grave. Esta espécie
temporárias logo após períodos de chuva intensa (Langone, 1994; não foi registrada em campo durante os estudos, porém sua
Achaval & Olmos, 2003; Kwet & Di-Bernardo, 1999). ocorrência é muito provável na área e há exemplares na coleção
Outra espécie de anfíbio de ocorrência provável é provenientes de Palmares do Sul. Sua ocorrência nas áreas de
Chtonerpeton indisctinctum, uma cobra-cega relativamente restingas e campos de dunas da região dos Butiazais também é
comum em algumas áreas da planície costeira. Durante os estudos, provável. Não há exemplares depositados nas coleções
contudo, não foram realizadas amostragens destinadas a capturar examinadas, porém a espécie foi observada ao sul da área por
estes animais. Esta espécie, de hábitos fossoriais e aquáticos, foi um dos autores (P. Colombo, obs. pessoal).
registrada em outras áreas da planície costeira, onde habita Bufo fernandezae (sapinho-de-jardim). Espécie pequena
ambientes arenosos ou lodosos, na borda de coleções d’água. de sapo que mede, geralmente, entre 5,6 a 8,0cm (Langone,
Figura 7.
(a) Trachycephalus mesophaeus abrigada no interior de bromélia (RS,
Nenhuma espécie exótica foi encontrada, todavia é provável que 1994). Possui a pele bastante áspera, a coloração dorsal varia
Triunfo); (b) Odontophrynus americanus semi-enterrado (Foto: G. A. a rã-touro (Rana catesbeiana) possa ocorrer na área. Esta espécie já foi do marrom claro até o cinza. Podem ocorrer manchas
Bencke). registrada em várias regiões do Rio Grande do Sul (Borges-Martins et esverdeadas e escuras no corpo e uma linha clara que vai da

284
cabeça até quase a cloaca. Possui cristas na região dos olhos e constroem um ninho de espuma para realizar a desova (Langone, Figura 8.
Cobra-nariguda, Lystrophys dorbignyi,
da cabeça, o diferenciando de outra espécie muito similar, Bufo 1994; Achaval & Olmos, 2003). A época reprodutiva vai de após ingerir anuro enterrado na areia
dorbignyi. Ocorre no Paraguai, Uruguai, Argentina e no sul do outubro até o final de março (Langone, 1994) Alimenta-se de (Foto: G. F. Pontes).
Brasil (Narvaes, 2003). Costuma viver em tocas que cava com aranhas, gafanhotos, grilos, isópodos, caramujos e miriápodos
o auxilio das patas traseiras, bastante curtas. No Uruguai a (Langone, 1994; Achaval & Olmos, 2003). A vocalização consiste
reprodução vai de outubro a março após fortes chuvas (Achaval num assobio repetido com freqüência. Um maior número de
& Olmos, 2003). Modo reprodutivo 1 (Achaval & Olmos, registros desta espécie foi obtido nos Butiazais de Tapes. Grande
2003; Di-Bernardo et al., 2004). Alimenta-se de insetos, número de indivíduos foi registrado vocalizando em áreas de
aracnídeos, crustáceos e moluscos (Achaval & Olmos, 2003). O plantio de arroz, indicando que a espécie pode ocupar áreas com
canto é muito semelhante ao cricrilar de um grilo. A espécie destinação agrícola, que cobrem grande parte da região estudada.
pode ser confundida com Bufo dorbignyi, e em áreas onde estas Leptodactylus mystacinus (rã-de-bigodes). Apresenta
ocorrem juntas é provável que produzam híbridos (Narvaes, coloração bege, bege amarelada, podendo chegar ao cinza claro.
2003). Apenas dois exemplares foram coletados durante Apesar de ser uma rã, possui o focinho levemente arredondado.
procura ativa, na região da Lagoa do Casamento. Nenhum Espécie bastante robusta, atingindo de 43,5 a 58,5cm (Langone,
espécime foi observado em atividade reprodutiva. Os dois 1994). Apresenta as patas traseiras mais curtas em relação a outras
exemplares foram identificados como B. fernandezae por rãs. Possui uma faixa escura que vai do focinho até o membro
apresentarem uma crista subocular, o que os diferencia de B. anterior e uma outra faixa escura abaixo desta e logo acima da
dorbignyi. boca (Achaval & Olmos, 2003). No dorso podem apresentar
Família Leptodactylidae faixas escuras na lateral do corpo, alguns indivíduos apresentam a
Leptodactylus fuscus (rã-assobiadora). A coloração em coloração dorsal com poucas manchas, quase lisa. Ocorre na é a repetição da silaba “um” de forma grave e espaçada por alguns
geral é cinza podendo apresentar alguns tons avermelhados. Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Brasil (Mato Grosso, segundos. Devido a sua ampla distribuição podem constituir um
Existem várias manchas escuras arredondadas no dorso, menores e Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa complexo de espécies (Eterovick & Sazima, 2004). A espécie foi
mais regulares que as de Leptodactylus ocellatus. O focinho é Catarina e São Paulo). Freqüentemente é encontrada refugiada amostrada nas duas regiões, sendo aparentemente mais abundante
acuminado. O comprimento é de aproximadamente 4,5cm. Ocorre embaixo de troncos, pedras ou em tocas no chão. Desloca-se na Lagoa do Casamento.
em todo o Brasil, Panamá, leste dos Andes até o nordeste da rapidamente quando descoberta, lembrando um roedor. Alimenta-se Odontophrynus americanus (sapo-da-enchente). O corpo é
Argentina (Eterovick & Sazima, 2004). Vive em áreas abertas, de insetos (Achaval & Olmos, 2003; Langone, 1994). A robusto e globoso, a cabeça é grande e a boca larga. Pele bastante
utiliza corpos d’ água lênticos para reprodução. Escavam tocas e vocalização é semelhante a um assobio. Langone (1994) cita que a rugosa. Apresenta manchas escuras irregulares no dorso com
envolvem seus ovos em espuma (Eterovick & Sazima, 2004). A vocalização desta espécie pode atrair cães. A espécie foi alguns pontos avermelhados e uma linha clara que vai da cloaca
vocalização desta rã lembra um assobio espaçado por alguns extremamente rara durante este estudo. Apenas um exemplar foi até o focinho achatado. O ventre é branco com diversos pontos
segundos. Eterovick & Sazima (2004) sugerem que nesta ampla observado em um pequeno banhado na região dos Butiazais de escuros. Possuem calosidades nos pés, de coloração marrom, que
distribuição existam outras espécies sob esse nome. Um maior Tapes. auxiliam na escavação de tocas. Os machos têm tubérculos
número de registros desta espécie foi obtido na Lagoa do Leptodactylus ocellatus (rã–crioula). É a maior rã do Rio (também de coloração marrom) nas mãos. Distribui-se no sul e
Casamento. Grande do Sul. Possui de 9 a 12cm de comprimento (Achaval & sudeste do Brasil, Uruguai, norte da Argentina e sul do Paraguai e
Leptodactylus gracilis (rã-listrada). Rã de médio porte de Olmos, 2003). Apresenta estrias longitudinais no dorso, o padrão da Bolívia (Kwet & Di-Bernardo, 1999). Reproduzem-se logo
3,9 a 5cm. Possui diversas listras claras e escuras dispostas de coloração varia desde o verde até o marrom claro com várias após fortes chuvas, onde diversos indivíduos saem de seus
longitudinalmente e geralmente uma listra mais espessa no meio manchas irregulares (ocelos) e uma grande mancha escura entre a refúgios para acasalar. Fora do período reprodutivo vivem
do dorso que vai do focinho, bastante pontudo, até a cloaca. As região interorbital. Ao capturá-la pode escorregar e fugir. Por esse enterrados a poucos centímetros da superfície do solo.
patas traseiras são relativamente mais curtas. Ocorre no Uruguai, motivo também é chamada de rã-manteiga. Possui uma Alimentam-se de coleópteros, dípteros, larvas de lepidópteros,
Argentina e sul do Brasil (Langone, 1994). Espécie com hábito distribuição bastante ampla na América do Sul a leste dos Andes entre outros, anelídeos, moluscos pequenos e crustáceos
fossorial. Os machos vocalizam dentro de pequenas tocas no solo (Frost, 2004). Os machos na época reprodutiva ficam com os terrestres (Langone, 1994). A vocalização consiste em um som
onde constroem um ninho de espuma. Alimenta-se de insetos e membros anteriores bastante desenvolvidos e com espinhos nas rouco e forte (Kwet & Di-Bernardo, 1999). Esta espécie,
crustáceos terrestres (Langone, 1994). A vocalização lembra o mãos. A época reprodutiva vai de setembro a março (Heyer et al., observada nas duas regiões estudadas, foi especialmente
estourar repetido de bolhas de ar. Esta espécie foi relativamente 1990). Os casais constroem um ninho de espuma na forma de um abundante na margem arenosa da Ilha Grande. Durante a noite,
rara durante as amostragens, ainda que seja uma espécie comum “pudim” onde são colocados cerca de 1.000 ovos (Achaval & vários espécimes foram observados expostos ou semi-enterrados
na planície costeira. Olmos, 2003). Quando os ovos se tornam girinos as fêmeas na areia. Este ambiente é compartilhado com a espécie
Leptodactylus latinasus (rã). Apresenta coloração dorsal passam a protegê-los. É comum serem observados em corpos Physalaemus biligonigerus. É interessante observar que estas duas
acinzentada pontuada por manchas escuras. Alguns indivíduos d’água lênticos aglomerados de vários girinos de coloração escura, espécies parecem ter, nas áreas de restinga arenosa, um predador
possuem uma mancha vermelha no dorso, que é um pouco quase preta. Se molestados, a fêmea salta em direção ao objeto especializado, a cobra nariguda (Lystrophis dorbignyi). A nariguda
verrugoso. Ventre esbranquiçado. O focinho é acuminado. Ocorre que os molestou. Em algumas populações humanas é apreciada forrageia ativamente durante o dia, cavando na areia com seu
no Uruguai, Argentina, sul da Bolívia e no Rio Grande do Sul como alimento (Izecksohn & Carvalho-e-Silva, 2001). Alimenta-se focinho achatado (fig. 8) em busca destes anuros (que estão
(Langone, 1994). Habita áreas abertas e vive geralmente em de outros anfíbios (inclusive da mesma espécie), insetos, inativos e enterrados neste período do dia), detectando-os
covas, onde os machos vocalizam e, juntamente com as fêmeas, minhocas e caramujos (Achaval & Olmos, 2003). Sua vocalização provavelmente através do olfato (ver Cap. 21 e Oliveira et al., 2001).

285
Physalaemus biligonigerus (rã-chorona). Possui o focinho formigas (Da Rosa et al., 2002). A vocalização dos machos Olmos, 2003). Esta pequena perereca vocaliza sobre a vegetação
menos acuminado e é bastante robusta, a coloração varia desde o lembra o choro de uma criança e é muito similar a de aquática emergente e sobre arbustos na borda de banhados e
cinza claro ate o cinza escuro, o dorso é bastante ornamentado Physalaemus biligonigerus. A espécie não foi particularmente pequenas lagoas. É comum ouvi-la em algumas horas do dia. O
por manchas escuras, de aspecto marmoreado. Na base das coxas abundante durante as amostragens, mas parece ser comum na período de reprodução vai de setembro a fevereiro (Kwet & Di-
existem duas grandes manchas escuras (ocelos). Ocorre no norte região. Bernardo, 1999). Alimenta-se de pequenos insetos e aranhas
da Argentina, Uruguai, sul da Bolívia, Brasil e Paraguai Physalaemus henseli (rã). Esta pequena rã (1,8 até 2,3cm) (Achaval & Olmos, 2003). Seu canto lembra a repetição da sílaba
(Langone, 1994). Durante o acasalamento, macho e fêmea tem a coloração castanha ou castanha acinzentada. Existem “ic” repetida várias vezes de forma aguda. Alguns autores (e.g.
constroem um ninho de espuma (onde a fêmea coloca os ovos) diversas bandas escuras na região dorsal. Possui uma faixa preta Di-Bernardo et al., 2004) apontam a possibilidade de, sob esse
sobre a lamina d’água de banhados e pequenas poças d’água. que vai da ponta do focinho, que é ligeiramente arredondado, até nome, haver um complexo de espécies. É interessante notar que a
Podem ocorrer amplexos interespecificos entre Physalaemus abaixo da coxa (região inguinal). O corpo desta espécie de espécie foi uma das mais abundantes nos Butiazais de Tapes, mas
biligonigerus e Physalaemus gracilis, por causa de sua vocalização Physalaemus é mais comprido em relação a largura do que as pouco abundante na Lagoa do Casamento.
muito similar (Kwet, 2002). Alimenta-se de insetos (Achaval & demais registradas na região. O ventre é amarelado ou alaranjado Dendropsophus sanborni (perereca). É uma das menores
Olmos, 2003). Talvez, juntamente com Physalaemus gracilis, seja (Langone, 1994; Achaval & Olmos, 2003). Ocorre no Uruguai, pererecas do Rio Grande do Sul, com 1,5 a 2,1cm. Possui o
uma das espécies de rãs mais conhecidas no Rio Grande do Sul Argentina e Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) corpo alongado. Sua coloração é bastante variável, desde o
devido ao canto de anúncio dos machos, que lembra o choro de (Langone, 1994). Pouco se sabe a respeito desta pequena espécie castanho-alaranjado, amarelo, até o cinza claro. Podem ocorrer
uma criança ou um miado de um gato. Vários exemplares foram de rã. Assim como as outras espécies deste gênero constrói um finas estrias pontuadas escuras no dorso. Distribui-se no Sul e
capturados após cair em armadilhas de queda para invertebrados, ninho de espuma. No Uruguai sua reprodução é registrada nos Sudeste do Brasil, Uruguai e leste da Argentina (Buenos Aires,
enterradas em áreas arenosas na região do Buraco Quente, na meses de junho e julho com temperaturas perto dos 5o, após fortes Corrientes) (Kwet & Di-Bernardo, 1999). Os machos vocalizam
Lagoa do Casamento. Este resultado, e a observação de indivíduos chuvas (Langone, 1994). Alimenta-se de insetos (Achaval & geralmente sobre vegetação aquática emergente em corpos de água
ativos, indica que a espécie desloca-se bastante sobre a areia Olmos, 2003). Sua vocalização lembra o cricrilar de um grilo, parada (banhados e pequenas lagoas). Podem acontecer confrontos
durante a noite. porém é bastante diferente de Bufo fernadezae. Esta espécie tem entre os machos na disputa por território (Langone, 1994). Sua
Physalaemus cuvieri (rã-cachorro). A coloração varia de sido pouco registrada nos últimos anos e parece ser rara. Nenhum vocalização é um estalido agudo e estridente. Pode ser confundida
cinza claro até cinza escuro. No dorso existem diversas manchas e espécime foi observado durante os estudos, mas um exemplar com Dendropsophus nanus, que possui morfologia e canto
linhas escuras, sendo que no centro aparece uma mancha que proveniente de Tapes, coletado em 1976, foi encontrado na similares, porém, apresenta número cromossômico diferente
lembra a letra grega ômega (:). O focinho é levemente achatado coleção do MCN. (Medeiros et al., 2003). As duas espécies foram confundidas na
e o corpo é ligeiramente robusto. Espécie muito comum e com Pseudopaludicola falcipes (rãzinha). É a uma das literatura, e D. sanborni foi inclusive colocada na sinonímia de D.
ampla distribuição no Brasil. Habita áreas abertas (Kwet & Di- menores rãs do Rio Grande do Sul, mede de 1,5 a 2,0cm. A nanus. A revisão de Langone & Basso (1987) demonstrou serem
Bernardo, 1999), reproduz em banhados, açudes e em corpos coloração é marrom clara ate cinza, geralmente possui um desenho ambas espécies plenas. Foi a espécie mais abundante nas duas
d’água temporários. Cardoso (1981) e Haddad & Sazima (1992) semelhante à letra grega ômega (:) no dorso e diversas manchas áreas. Muitos exemplares foram observados entre folhas de
citam esta espécie como sendo tolerante a alterações ambientais, escuras. Alguns indivíduos apresentam uma faixa clara que vai do gravatá na margem de corpos d’água.
podendo ocupar vários tipos de ambientes antropizados. A focinho até a cloaca, o ventre é branco e nos machos o saco vocal Hypsiboas faber (ferreiro). Uma das maiores pererecas do
exemplo das outras espécies do gênero Physalaemus, machos e é amarelo. Ocorre em todo o Brasil. É muito abundante em Rio Grande do Sul mede de 8,5 a 10cm. A coloração varia do
fêmeas constroem um ninho de espuma sobre a lâmina d’água. banhados, charcos, e beira de lagoas, lavouras de arroz e diversos marrom claro até o cinza, possui uma linha escura no meio da
Seu canto é similar ao latido de um cachorro ou a repetição da corpos d’água em áreas abertas onde é comum escutar diversos região dorsal que também pode apresentar manchas escuras. A
palavra “oi”. No sudeste é chamada de “foi-não-foi” (Haddad & machos em atividade de vocalização, inclusive durante o dia. Van cabeça é grande e o focinho achatado. Possui discos adesivos
Sazima, 1992). Esta espécie não foi registrada na Lagoa do Sluys & Rocha (1998) estudando uma população desta espécie no grandes e membranas interdigitais bem desenvolvidas. Na região
Casamento e tampouco no Parque Nacional da Lagoa do Peixe e Estado do Pará, sugeriram que as presas principais sejam do quarto dedo da mão os machos possuem uma espécie de
na Estação Ecológica do Taim. hemípteros (percevejos) e dípteros (moscas e mosquitos). Seu espinho. Ocorre desde o norte da Argentina até o leste do Brasil
Physalaemus gracilis (rã-chorona). É uma espécie canto lembra um estalo repetido seguidamente. Por ter uma (Martins, 1993). Pode ser encontrada em florestas fora do período
relativamente pequena (2,7 a 3,2cm). Possui o focinho pontudo. distribuição bastante ampla e por ser um anuro muito pequeno é reprodutivo (Kwet & Di-Bernardo, 1999) inclusive entre as
A coloração é muito variável, desde o castanho avermelhado até o possível que corresponda a um complexo de espécies. Esta espécie folhas, galhos e troncos caídos das árvores (serrapilheira) (Giaretta
cinza claro, podendo apresentar manchas vermelho-alaranjadas nos foi comum nas duas regiões estudadas, mas foi especialmente et al., 1999) e sobre arbustos (Colombo, 2004). Na época
flancos. As espécies deste gênero geralmente possuem uma faixa abundante nos Butiazais de Tapes. reprodutiva os machos constroem uma espécie de “piscina”, na
preta que vai da ponta do focinho até quase a base das coxas. beira de corpos d’água lênticos (fig. 6b), onde vocalizam para
Possui uma mancha arredondada na região inguinal (base da Familia Hylidae atrair as fêmeas. A fêmea deposita de 1.000 a 2.700 ovos na
coxa). Os machos possuem a região do “papo” mais escura devido Dendropsophus minutus (perereca-rajada). A coloração lâmina d’água da “piscina” (Martins & Haddad, 1988). Os machos
a presença do saco vocal. Ocorre no Uruguai, Argentina e Brasil varia do amarelo até o laranja. Possui no dorso uma série de são territoriais e podem ser agressivos uns com os outros na luta
(Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo) manchas que às vezes tem a conformação de uma moldura. por território. É comum encontrar machos com marcas no dorso
(Langone, 1994). Na época de acasalamento, nos meses de Durante o dia assume uma coloração cinza claro evidenciando o devido a disputas com outros machos (eles utilizam o espinho da
setembro a março (Achaval & Olmos, 2003), é comum encontrar, amarelo na parte interna das coxas. É relativamente pequena, de mão para os confrontos). Apresenta uma das vocalizações mais
sobre a lâmina d’água, os ninhos de espuma onde os ovos são 2,1 até 2,8cm. Ocorre no Brasil (Sudeste e Sul), Paraguai, distintas e fáceis de identificar. O som é muito forte e lembra a
depositados. Alimenta-se principalmente de colembolos, ácaros e Argentina (Kwet & Di-Bernardo, 1999) e Uruguai (Achaval & batida de um objeto duro no fundo de uma lata de ferro. A espécie

286
foi rara durante as amostragens e apenas foi registrada nos Olmos, 2003). A pele é levemente rugosa. Na parte interna das Santa Catarina e São Paulo) (Langone, 1994). Os machos
Butiazais de Tapes. coxas existe uma mancha de cor laranja com pontos escuros. É vocalizam entre juncos e gramíneas na beira e no interior de
Hypsiboas pulchellus (perereca-do-banhado). Esta encontrada no Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil (Rio Grande corpos d’água lênticos, ao contrario de S. berthae é uma espécie
espécie tem uma característica peculiar em relação à coloração do Sul e Santa Catarina) (Langone, 1994). Os machos vocalizam de fácil visualização. Alimenta-se de insetos e aracnídeos
dorsal - alguns indivíduos podem ser totalmente verdes e outros refugiados entre gramíneas, na beira e no interior de corpos (Achaval & Olmos, 1997). Sua vocalização é semelhante ao
podem variar desde o castanho claro, com ou sem manchas, até o d’água lênticos. É uma espécie de visualização bastante difícil. balido de uma cabra, porém mais fraco (Kwet & Di-Bernado,
cinza. Na parte interna das coxas possuem pontos bem escuros. As Alimenta-se de pequenos insetos (Achaval & Olmos, 2003). A 1999) e mais agudo. Espécie relativamente comum nas duas
patas traseiras são bastante compridas. Ocorre principalmente em vocalização é similar ao som de insetos. áreas estudadas.
coleções de água permanentes, em áreas abertas do Uruguai, Scinax cf. granulatus (perereca-de-banheiro). A coloração Trachycephalus mesophaeus (perereca-leiteira). A
Argentina (de Buenos Aires a Misiones) e Brasil (Rio Grande do dorsal é cinza ou marrom claro, possuindo diversas manchas coloração vai do castanho escuro até o bege, possuindo uma
Sul e Santa Catarina) (Langone, 1994; Kwet & Di-Bernardo, escuras irregulares. Possui coloração amarelada na região interna banda em cada lateral do corpo que se une entre os olhos e o
1999). Quando capturada é comum exalar um odor forte, das coxas. Ocorre no sul do Brasil, Uruguai e Argentina (região focinho. Perereca de porte grande, atingindo cerca de 7cm. Os
característico das pererecas deste grupo, e uma espécie de “urina” oriental) (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Kwet, 2001b). É uma machos possuem saco vocal duplo. Distribui-se nas regiões Sul,
cuja função parece ser de espantar eventuais predadores. No espécie peridomiciliar (Langone, 1994; Achaval & Olmos, 2003; Sudeste e parte do Nordeste do Brasil (Izecksohn & Carvalho-e-
Uruguai a reprodução ocorre o ano todo (Achaval & Olmos, Kwet & Di-Bernardo, 1999), podendo ser encontrada em Silva, 2001). Espécie com comportamento defensivo bastante
2003), porém nas áreas elevadas do Planalto das Araucárias não ambientes totalmente antropizados, como construções curioso - quando capturada secreta uma substância branca,
ocorre desova nos meses mais frios (Kwet & Di-Bernardo, 1999). abandonadas, residências e outros. Os machos vocalizam sobre a semelhante a uma “cola”, de onde vem o seu nome comum. É
Pode ser encontrada dentro de habitações humanas. Alimenta-se de vegetação emersa, sobre troncos e até mesmo no chão, sempre essencialmente arborícola, podendo refugiar-se em bromélias
moscas, mosquitos, aranhas e coleópteros (Achaval & Olmos, em corpos d’água lênticos. Sua vocalização é a repetição, de bastante altas. Pouco se sabe sobre a reprodução desta espécie.
2003). Seu canto, bastante variável, lembra o “bater de sinetas” ou maneira rouca, de um monossílabo “cré”, que lembra o som No Rio Grande do Sul algumas populações (Itati e Maquiné)
da repetição da silaba “tclic” varias vezes (Langone, 1994). Foi produzido pelo atrito de pedras sob a água (Kwet & Di- foram encontradas em atividade reprodutiva após fortes chuvas,
uma das quatro espécies mais abundantes nas duas áreas. Bernardo, 1999). Esta espécie foi recentemente revalidada por sendo que, vários machos desciam das árvores e das bromélias
Pseudis minuta (rã-boiadora). Possui os dedos das patas Kwet (2001b) e vinha sendo tratada como Scinax eringiophilus onde vocalizavam, até corpos d’água lênticos. O canto lembra o
posteriores completamente unidos por membranas e olhos (Gallardo, 1961) ou S. vauteri (Bibron in Bell, 1843). É também zurro de um asno (Izecksohn & Carvalho-e-Silva, 2001). A
dispostos na região dorsal da cabeça. Sua coloração dorsal varia muito similar a Scinax fuscovarius. Kwet (2001b) revisou este espécie foi observada na área de estudo uma única vez, na região
do verde claro ao castanho, podendo apresentar uma mancha grupo e considerou válidas para o Rio Grande do Sul três dos Butiazais. Três machos foram observados vocalizando após
dorsal de cor amarelada (Achaval & Olmos, 2003; Langone, espécies com características morfológicas e de canto muito forte chuva sobre ramos de arbustos, próximo a um charco
1994). Ocorre no Uruguai, Argentina e Brasil (Rio Grande do Sul similares (S. granulatus, S. fuscovarius e S. perereca). Estas temporário, na mata ciliar do arroio Araçá. Durante uma
e Santa Catarina) (Langone, 1994). É uma espécie aquática, espécies podem ser diagnosticadas morfologicamente pelo tentativa de fotografar um dos exemplares, este esvaziou o
comumente encontrada flutuando na superfície da água em tamanho da membrana interdigital e pela relação entre o conteúdo da bexiga, expelindo um jato de urina, aparentemente
banhados temporários ou permanentes com vegetação flutuante diâmetro do tímpano e o tamanho do disco adesivo do dedo mais como comportamento defensivo.
(Kwet & Di-Bernardo, 1999; Kwet, 2000). Alimenta-se de insetos longo da mão (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Kwet, 2001b).
aquáticos e suas larvas, crustáceos, girinos e jovens ou adultos de Aparentemente esta diagnose é suficiente para que sejam Familia Microhylidae
pequeno porte de anuros (Achaval & Olmos, 2003). Apresenta um reconhecidas estas três espécies na região do Planalto das Elachistocleis bicolor (rã-de-barriga-amarela). De
canto forte. Foi relativamente abundante nas duas áreas estudadas. Araucárias do Rio Grande do Sul. Contudo, nas áreas baixas da morfologia facilmente reconhecível em relação a dos demais
Scinax cf. alter (perereca). Apresenta coloração planície e campanha os mesmos caracteres apresentam uma anuros da região, possui o corpo ovalado e o focinho bastante
acinzentada, às vezes amarelada ou esverdeada. Pode ter o dorso variação maior, que não permite uma diagnose e correlação acuminado. A cabeça é pequena, triangular e com uma prega de
liso ou ornamentado com duas manchas laterais claras e outras inequívoca com os táxons referidos anteriormente. Na região da pele transversal atrás dos olhos que os cobrem quando introduz a
manchas mais escuras. É muito comum encontrar esta espécie Campanha Di-Bernardo et al. (2004) já indicaram a existência cabeça dentro de formigueiros (Achaval & Olmos, 2003). A
refugiada em bromélias, principalmente nas regiões de restinga, de uma forma, possivelmente nova, relacionada à S. perereca. Na coloração do dorso é castanha, podendo ser um pouco acinzentada.
como por exemplo, no Parque Estadual de Itapeva e outras regiões região de estudo, algumas características, como tamanho do Pode ter uma linha fina no dorso e nas coxas. O ventre é
da planície costeira (Colombo, 2004). Sua vocalização é corpo e proporção do tímpano/disco adesivo, aproximam este totalmente amarelo. O tamanho varia de 2 a 4cm. Ocorre na
semelhante à de Scinax squalirostris, porém ligeiramente mais táxon da descrição de Scinax granulatus, porém com uma Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e sul do Brasil (Lavilla et
grave. A identidade deste táxon é ainda confusa, podendo tratar-se variação maior, que se sobrepõe à descrita para S. fuscovarius. al., 2003). Apresenta hábito fossorial. Na Serra da Bodoquena esta
de uma ou mais espécies novas, semelhantes a S. alter. Esta forma Uma nova revisão taxonômica é necessária e é possível que espécie reproduz de novembro até março, em associação à
parece ocorrer no nordeste do Rio Grande do Sul e em Santa existam outros táxons confundidos sob estes nomes. ocorrência de grandes precipitações, acima de 50mm diários,
Catarina (Kwet & Di-Bernardo, 1999). A espécie não foi Scinax squalirostris (perereca-nariguda). Perereca de fácil utilizando-se de corpos d’água temporários para reprodução
registrada nos Butiazais de Tapes. identificação devido ao focinho bastante acuminado e por (Rodrigues et al., 2003). Os machos vocalizam na beira de corpos
Scinax berthae (perereca). Pequena perereca de 1,9 a 2,8cm. apresentar duas bandas amareladas, uma em cada lateral do d’água temporários, apoiados sobre gramíneas. Alimenta-se de
A coloração dorsal varia desde o marrom claro com manchas corpo. A coloração dorsal é amarelada, por vezes marrom. É cupins e formigas (Kwet & Di-Bernardo, 1999; Achaval &
escuras irregulares até o amarelo. Na cabeça, entre os olhos, pequena e mede de 1,9 a 2,5cm. Ocorre no Uruguai, Argentina e Olmos, 2003). O canto é um apito agudo, forte, com duração de
pode-se observar uma mancha em forma de “W” (Achaval & Brasil (Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, alguns segundos (Kwet & Di-Bernardo, 1999). Esta espécie

287
apresenta problemas taxonômicos e também vinha sendo Colombo, 2004. Anfíbios anuros do Parque Estadual de Itapeva, Heying, H. 2001. The evolutionary ecology and sexual selection
chamada de E. ovalis (Schneider, 1799). Lavilla et al. (2003) Município de Torres, RS, Brasil. Dissertação (Mestrado em of a madagascan poison frog (Mantella laevigata). Tese
apresentam comentários taxonômicos. A espécie foi mais comum Ecologia). Porto Alegre, UFRGS. (Doutorado em Biologia). Ann Arbor, University of Michigan.
na região dos Butiazais de Tapes, onde vários exemplares foram Crump, M. L. 1974. Reproductive estrategies in a tropical anuran IUCN, 2001. IUCN Red List Categories and Criteria: Version 3.1.
observados em um charco temporário após uma forte chuva de community. Misc. Publ. Mus. Nat. Hist. Univ. Kansas, 61:1- Gland e Cambridge, IUCN Species Survival Commission. The
verão. 68. World Conservation Union (IUCN). ii + 30 pp.
Da Rosa, I.; Canavero, A.; Maneyro, R.; Naya, D. & Camargo, IUCN, CI & NatureServe. 2004. Global Amphibian Assessment.
Agradecimentos A. 2002. Diet of four sympatric anuran species in a The World Conservation Union (IUCN), Conservation
temperate environment. Bol. Soc. Zool. Uruguay, 2ª. época, International & NatureServe. Disponível em:
Os autores são gratos a Maria Lúcia Machado Alves, Moema 13:12-20. <www.globalamphibians.org>. Acesso em jan/2006.
Leitão de Araújo, Tomaz V. Aguzzoli, Eduardo S. Borsato, Ana Di-Bernardo, M.; Oliveira, R. B. de; Pontes, G. M. F.; Melchiors, Izecksohn, E. & Carvalho-e-Silva, S. P. 2001. Anfíbios do
Carolina Anés, Jonatas Rossetti e Clara W. Liberato pelo auxílio J.; Solé, M. & Kwet, A. 2004. Anfíbios anuros da região de município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, UFRJ. 148p.
nas atividades de campo e laboratório. A Marcos Di-Bernardo extração e processamento de carvão de Candiota, RS, Brasil. Krebs, C. J. 1989. Ecological Methodology. New York, Harper
pelos dados da coleção de anfíbios do Museu de Ciências e In: Teixeira, E. C. & Pires, M. J. R. Org. Estudos ambientais and Row, Publishers. 654p.
Tecnologia da PUCRS. A Cariane C. Trigo pelo auxílio na em Candiota: carvão e seus impactos, Porto Alegre, FEPAM. Kwet, A. 2000. The genus Pseudis (Anura: Pseudidae) in Rio
compilação de dados dos exemplares da coleção do Museu de p.163-175. Grande do Sul, southern Brazil, with description of a new
Ciências Naturais da FZBRS. A Gláucia Pontes, Roberto B. de Donelly, M. A. & Crump, M. L. 1998. Potential effects of climate species. Amph. Rept., 21:39-55.
Oliveira, Jorge S. Bernardo e Adriano Becker pelo empréstimo de change on two neotropical amphibian assemblages, Climatic Kwet, A. 2001a. Frösche im brasilianischen Araukarienwald -
fotografias. Change, 39:541-561 Anurengemeinschaft des Araukarienwaldes von Rio Grande do
Eterovick, P. C. & Sazima, I. 2004. Anfíbios da Serra do Cipó, Sul: Diversität, Reproduktion und Ressourcenaufteilung.
Referências bibliográficas Minas Gerais - Amphibians from the Serra do Cipó, Minas Tübingen, Natur und Tier-Verlag, 192p.
Gerais. 1a. ed., Belo Horizonte, Editora PUC Minas. 152 p. Kwet, A. 2001b. Südbrasilianische Laubfrösche der Gattung
Achaval, F. & Olmos, A. 1997. Anfibios y Reptiles del Uruguay. Faivovich, J.; Haddad, C. F. B.; Garcia, P. C. A.; Frost, D. R.; Scinax mit Bemerkungen zum Geschlecht des Gattungsnamen
Serie fauna no. 1. Montevideo, Ed. Barreiro y Ramos S.A. Campbell, J. A. & Wheeler, W. C. 2005. Systematic review of und zum taxonomischen Status von Hyla granulata Peters,
128p. the frog family Hylidae, with special reference to the Hylinae: 1871. Salamandra, 37:211-238.
Achaval, F. & Olmos, A. 2003. Anfibios y reptiles del Uruguay. phylogenetic analysis and taxonomic revision. Bull. Amer. Kwet, A. 2002. Physalaemus biligonigerus and Physalaemus
2a edição. Montevideo, Graphis. 136 p. Mus. Nat. Hist., 294:1-240. gracilis. Reproductive behavior. Herp. Review 33:47.
Alford, R. A. & Richards, S. J. 1999. Global amphibian decline: Frost, D. R. 2004. Amphibian Species of the World: an Online Kwet, A. 2005. Aktuelle Artenliste der Amphibien. In: Kwet,
a problem in applied ecology. Annu. Rev. Ecol. Syst., 30:133-65. Reference. Version 3.0. New York, American Museum of A. Frösche – Frogs – Anuros. Disponível em:
Basso, N.G. 1990. Estrategias adaptativas en una comunidad Natural History. Disponível em: <http://research.amnh.org/ <www.kwet.de>. Acesso em jan/2006.
subtropical de anuros. Cuad. Herpetol., Serie Monografias. herpetology/amphibia/index.php>. Kwet, A. & Di-Bernardo, M. 1999. Pró-Mata. Anfíbios –
170 p. Garcia, P. C. A. & Vinciprova, G. 2003. Anfíbios. In: Fontana, Amphibien - Amphibians. Porto Alegre, EDIPUCRS. 107p.
Blaustein, A. R. & Johnson, P. T. J. 2003. The complexity of C. S.; Bencke, G. A. & Reis, R. E. dos. Org. Livro Vermelho Langone, J.A. 1994. Ranas y sapos del Uruguay (reconocimiento
deformed amphibians. Front. Ecol. Environ., 2(1): 87-94. da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto y aspectos biológicos). Museo Damaso Antonio Larrañaga,
Blaustein, A. R. & Wake, D. B. 1995. The puzzle of declining Alegre, EDIPUCRS. p.147-164. Sér. Divul., 5:1-123.
amphibian populations. Sci. Amer., 272:52-57. Gayer, S. M. P.; Krause, L. & Gomes, N. 1988. Lista preliminar Langone, J. & Basso, N. G. 1987. Distribución geográfica y
Boelter, R. A. 2005. Dieta de Rana catesbeiana (Ranidae) na dos anfíbios da Estacão Ecológica do Taim, Rio Grande do sinonimia de Hyla nana Boulenger, 1889 y de Hyla sanborni
região de abrangência da Usina Hidrelétrica de Dona Sul, Brasil. Revta bras. Zool., 5(3):419-425. Schmidt, 1944 (Anura: Hylidae) y observaciones sobre formas
Francisca, Rio Grande do Sul, Brasil. Dissertação (Mestrado), Giaretta, A. A.; Facure, K. G.; Sawaya, R.; Meyer, J. & Chemin, afines. Com. Zool. Mus. Hist. Nat. Montevideo, 11(164):1-
Santa Maria, UFSM. N. 1999. Diversity and abundance of litter frogs in a montane 17.
Borges-Martins, M.; Di-Bernardo, M.; Vinciprova, G. & Measey, forest of Southeastern Brasil: seasonal and altitudinal changes. Lavilla, E. O.; Vaira, M. & Ferrari, L. 2003. A new species of
J. 2002. Geographic distribution: Rana catesbeiana. Herp. Biotropica, 31(4):669-674. Elachistocleis (Anura: Microhylidae) from the Andean Yungas
Review, 33(4):319-319. Haddad, C. F. B. & Prado, C. P. A. 2005. Reproductive modes of Argentina, with comments on the Elachistocleis ovalis – E.
Braun, P. C. 1978. Ocorrência de Melanophryniscus stelzneri in frogs and their unexpected diversity in the Atlantic forest of bicolor controversy. Amph. Rept., 24: 269-284
dorsalis (Mertens, 1933) no estado de Santa Catarina, Brasil Brazil. Bioscience, 55(3):207-217. Loebmann, D. & Vieira, J. P. 2005. Amphibians list from Lagoa
(Anura, Bufonidae). Iheringia, Sér. Zool., (51):39-41. Haddad, C. F. B. & Sazima, I. 1992. Anfíbios anuros da Serra do do Peixe National Park, Rio Grande do Sul, Brazil. Revta
Braun, P.C. & Braun, C.A.S. 1980. Lista prévia dos anfíbios do Japi. In: Morellato, L.P.C. Org. História natural da Serra do bras. Zool., 22(2):339-341.
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, Sér. Zool., Japi: ecologia e preservação de uma área florestal no Sudeste Martins, M. 1993. Observations on the reproductive behaviour
(56):121-146. do Brasil. Campinas, UNICAMP/FAPESP. p.188-211 in the Smith Frog, Hyla faber. Herp. Journal, 3:31-34.
Cardoso, A. J. 1981. Biologia e sobrevivência de Physalaemus Heyer, W. R.; Rand, A. S.; Cruz, C. A. G.; Peixoto, O. L. & Martins, M. & Haddad, C. F. B. 1988. Vocalizations and
cuvieri Fitz., 1826 (Amphibia, Anura), na natureza. Ciên. Nelson, C. E. 1990. Frogs of Boracéia. Arq. Zool., 31:231- reproductive behaviour in the Smith Frog Hyla faber Wied
Cult., 33(9):1224-1228. 410. (Amphibia: Hylidae). Amph. Rept., 9:49-60.

288
Medeiros, L. R.; Rossa-Feres, D. C. & Recco-Pimentel, S. M. Weygoldt, P. 1989. Changes in the composition of moutain stream
2003. Chromosomal diferentiation of Hyla nana and Hyla frog communities in the atlantic moutains of Brazil: frogs as
sanborni (Anura, Hylidae) with a description of NOR indicators of environmental deteriorations? Stud. Neotrop.
polymorphism in H. nana. Jour. Hered., 94(2):149-154. Fauna Environm., 243(4):249-255.
Melo, M. T. Q. 2002. Rãs, sapos e pererecas. Natureza em Young, B. E.; Lips, K. R.; Reaser, J. K.; Ibañez, R.; Salas, A. W.;
Revista, (13):54-59. Cedeno, J. R.; Coloma, L. A.; Ron, S.; La Marca, E.; Meyer,
MMA/SBF. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a J. R.; Muñoz, A.; Bolanos, F.; Chaves, G. & Romo, D. 2001.
conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Population declines and priorities for amphibian conservation
Sulinos. Conservation International do Brasil, Fundação SOS in Latin America. Cons. Biol., 15(5):1213-1223.
Mata Atlântica, Fundação Biodiversitas, Instituto de Pesquisas
Ecológicas, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São
Paulo, Instituto Estadual de Florestas, MG. 40p. Disponível Transição da área de dunas e
em: <www.conservation.org.br>. banhados para matas de restinga
Narvaes, P. 2003. Revisão taxonômica das espécies de Bufo do sobre a Coxilha das Lombas, à leste
da Laguna dos Patos.
complexo granulosus (Amphibia, Anura, Bufonidae). Tese
(Doutorado). São Paulo, USP. 305p.
Oliveira, R. B.; Di-Bernardo, M.; Pontes, G. M. F.; Maciel, A. P.
& Krause, L. 2001. Dieta e comportamento alimentar da
cobra nariguda, Lystrophis dorbignyi (Duméril, Bibron &
Duméril, 1854), no Litoral Norte do Rio Grande do Sul,
Brasil. Cuad. Herpetol., 14(2):117-122.
Pimenta, B. V. S.; Haddad, C. F. B.; Nascimento, L. B.; Cruz,
C. A. G. & Pombal Jr., J. P. 2005. Comment on status and
trends of amphibian declines and extinctions worldwide.
Science, 309:1999
Rodrigues, D. J.; Lopes, F. S. & Uetanabaro, M. 2003. Padrão
reprodutivo de Elachistocleis bicolor (Anura, Microhylidae)
na Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul, Brasil.
Iheringia, Sér. Zool., 93(4):365-371.
Salthe, S. & Duellman, W. E.1973. Quantitative constraints
associated with reproductive mode in anurans. In: Vial, J. L.
edit. Evolucionary Biology of the Anurans - contemporary
research in major problems. Columbia, University of Missouri
Press. p.229-249
SBH. 2005. Lista de espécies de anfíbios do Brasil. Sociedade
Brasileira de Herpetologia (SBH). Disponível em:
<www.sbherpetologia.org.br/checklist/anfibios.htm>. Acesso
em jan/2006.
Silvano, D. L. & Segalla, M. V. 2005. Conservation of Brazilian
Amphibians. Cons. Biol., 19(3):653-658.
Stuart, S. N.; Chanson, J. S.; Cox, N. A.; Young, B. E.;
Rodrigues, A. S. L.; Fischman, D. L. & Waller, R. W. 2004.
Status and trends of amphibian declines and extinctions
worldwide. Science, 306:1783-1786.
Vinciprova, G. & Gayer, S. M. P. 1993. Anfibiofauna do Parque
Estadual de Itapuã, Rio Grande do Sul, Brasil. III Congresso
Latino Americano de Herpetologia, Campinas. Resumos…, p.
124.
Van Sluys, M. & Rocha, C. F. D. da. 1998. Feeding habits and
microhabitat utilization by two syntopic brazilian Amazonian
frogs (Hyla minuta and Pseudopaludicola sp. (gr. falcipes)).
Revta bras. Biol., 58(4):559-562.

289
Tabela I.
Espécies de anuros da Lagoa do Família/Espécie Nome comum Modo LC BT
Casamento (LC), Butiazais de Tapes reprodutivo
(BT) e ecossistemas associados
(Planície Costeira, Rio Grande do BUFONIDAE
Sul). X, espécie amostrada neste Bufo fernandezae Gallardo, 1957 sapinho-de-jardim 1 X
estudo; C, espécie apenas com
Bufo arenarum Hensel, 1867 sapo-da-areia 1 C O
testemunhos em coleções científicas;
O, Observação pessoal autores.
Modos reprodutivos segundo LEPTODACTYLIDAE
Haddad & Prado (2005).
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) rã-assobiadora 30 X X
Leptodactylus gracilis (Duméril & Bibron, 1841) rã-listrada 13 X X
Leptodactylus latinasus Giménez de la Espada, 1875 rã-assobiadora 13 X X
Leptodactylus mystacinus (Burmeister, 1861) rã-de-bigodes 30 X
Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758) rã-criola 11 X X
Odontophrynus americanus (Duméril & Bibron, 1841) sapo-da-enchente 1 X X
Physalaemus biligonigerus (Cope, 1861 [1860]) rã-chorona 11 X X
Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826 rã-cachorro 11 X
Physalaemus gracilis (Boulenger, 1883) rã-chorona 11 X X
Physalaemus henselii (Peters, 1872) rã 11 C
Pseudopaludicola falcipes (Hensel, 1867) rãzinha 1 X X

HYLIDAE
Dendropsophus minutus (Peters, 1872) perereca-rajada 1 X X
Dendropsophus sanborni (Schmidt, 1944) perereca 1 X X
Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821) ferreiro 4 X
Hypsiboas pulchellus (Duméril & Bibron, 1841) perereca-do-banhado 1 X X
Pseudis minuta Günther, 1859 [1858] rã-boiadora 1 X X
Scinax cf. alter (B. Lutz, 1973) perereca 1 X
Scinax berthae (Barrio, 1962) perereca 1 X X
Scinax cf. granulatus (Peters, 1871) perereca-de-banheiro 1 X
Scinax squalirostris (A. Lutz, 1925) perereca-nariguda 1 X X
Trachycephalus mesophaeus (Hensel, 1867) perereca-leiteira 1 X

MICROHYLIDAE
Elachistocleis bicolor (Valenciennes in Guerin-Menéville, 1838) rã-de-barriga-amarela 1 X X
TOTAL 24 05 18 22

290
Apêndice I.
Fotografias das espécies registradas
para a região da Lagoa do Casamento e
Butiazais de Tapes. As imagens
representam espécimes observados na
região estudada, exceto quando
indicada outra localidade. (a) Bufo
fernandezae; (b) Bufo arenarum, RS,
Torres, Parque Estadual de Itapeva; (c)
Leptodactylus fuscus, RS, Guaporé; (d)
a g s Leptodactylus gracilis; (e) Leptodactylus
m latinasus; (f) Leptodactylus mystacinus;
(g) Leptodactylus ocellatus; (h)
Odontophrynus americanus; (i)
Physalaemus biligonigerus; (j)
Physalaemus cuvieri; (k) Physalaemus
gracilis; (l) Physalaemus henselii, RS,
Tapes, (MCN 10921, exemplar jovem
coletado por P. C. Braun em nov/1976);
(m) Pseudopaludicola falcipes; (n)
Dendropsophus minutus; (o)
Dendropsophus sanborni; (p)
b h n t Hypsiboas faber, RS, Triunfo; (q)
Hypsiboas pulchellus, RS, Torres,
Parque Estadual de Itapeva; (r) Pseudis
minuta, RS, Triunfo; (s) Scinax cf. alter,
RS, Torres, Parque Estadual de Itapeva;
(t) Scinax berthae (foto: P. Colombo); (u)
Scinax cf. granulatus; (v) Scinax
squalirostris (foto: P. Colombo); (x)
Trachycephalus mesophaeus; (z)
Elachistocleis bicolor.
Fotos: M. Borges-Martins; P. Colombo
c i o u (c, t, v).

d j p v

e k q x

f l r z

291

View publication stats

Você também pode gostar