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Curso de Pós-Graduação

Lato – Sensu

DIMENSÕES DA NÃO APRENDIZAGEM

São Paulo
2016

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Neste módulo iremos estudar como o processo de aprendizagem
acontece por meio do aparato biológico, ou seja, iremos focar como as
conexões biológicas se estabelecem e se organizam para que o ser humano
tenha a possibilidade de aprender. Portanto, gostaríamos de iniciar com
algumas definições, para conhecermos uma parte dos processos de
aprendizagem.

DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento é um termo amplo e complexo, porém, podemos
dizer que é um processo ordenado e contínuo, que sofre influências de
variáveis do próprio organismo humano e do meio em que vive.
É importante ressaltar que o processo de desenvolvimento que envolve
os seguintes princípios:
 Processo contínuo;
 Ocorre em duas direções: céfalo-caudal e próximo distal;
 Parte da especialização do geral para o específico;
 Ocorre de forma unificada;
 E cada etapa do desenvolvimento tem seu ritmo próprio.

MATURAÇÃO

É o desenvolvimento de estruturas do organismo, influenciadas pelo


fator hereditariedade, que ocorre independentemente de influências externas.

APRENDIZAGEM

A aprendizagem é um processo que sofre influência de diversos


aspectos – emocional, ambiental, psicomotor, social, físico e outros – e que

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somente traz resultados quando a estimulação ambiental ocorre sobre um
indivíduo que já apresenta maturação.
Enfim, podemos afirmar que o processo de aprendizagem ocorre quando
o indivíduo diante de uma situação consegue apreender conhecimentos, por
meio de experiências e incorporá-los aos seus conhecimentos anteriores e
conseqüentemente há uma mudança de comportamento.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E MECÂNICA

A aprendizagem significativa é aquela que quando o novo conhecimento


adquirido pode ser aplicado no cotidiano do aprendente, ou seja, passando a
ter significado na vida do mesmo.
Já a aprendizagem mecânica, é apenas uma retenção temporária
(decora-se) do nosso conhecimento, que não será incorporado aoo
conhecimento anterior do indivíduo, portanto, sem significado que com o
passar do tempo, facilmente será esquecida.

APRENDIZAGEM FORMAL E INFORMAL

A aprendizagem formal é aquela que é sistematizada e organizada


intencionalmente para transmitir um determinado conhecimento, e geralmente,
acontece em locais determinados para está atividade, dentre elas, a escolar.
A aprendizagem informal é aquela que ocorre sem intenção prévia em
qualquer local e/ou situação.

PROBLEMAS / DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Refere-se à alteração no processo de aprendizagem, de diversas


origens ou causas, que não conseguem ser superadas “ naturalmente” , no
dia-a-dia, e que em sua maioria, para serem superadas ou amenizadas
necessitam de apoios específicos, dentre eles o pedagógico, com intervenções
específicas.

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Vale lembrar que os fatores que podem causar algum tipo de
interferência ou alteração no processo de aprendizagem podem ser de causa
orgânica, emocional e / ou ambientais.

Como havíamos comentado no início do texto, iremos conhecer um


pouco de como a aprendizagem ocorre por meio do aparato biológico, ou seja,
do sistema nervoso central.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL

O Sistema Nervoso Central (SNC) é responsável por controlar todas as


atividades em nosso organismo de forma integrada, sensação e resposta
motora, permitindo que o ser humano se adapte as condições internas e
externas, para que possa sobreviver e aprender.
A base de funcionamento do SNC são os neurônios, que são células
nervosas que em seu conjunto constituem o nosso cérebro. Os neurônios são
responsáveis pela recepção, interpretação, produção e condução de impulsos
nervosos e basicamente se subdividem em três tipos de acordo com a função
em que se especializou, a saber:
 Sensitivo periférico: capta e leve a sensação;
 Motores periféricos ou motoneurônios: efetua o ato motor
 Associação ou interneurônio: interpreta, avalia e decodifica a
informação.

A aprendizagem, no ser humano, ocorre por meio da interação com o


meio, mas principalmente por meio da ação organizada e altamente
especializada das células de nosso sistema nervosos central.

A seguir temos um texto que aborda os principais problemas de


aprendizagem:

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FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM – UM
OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

Maria de Lourdes Cysneiros de Morais

I. INTRODUÇÃO

Por fatores intervenientes no processo ensino-aprendizagem, neste texto,


queremos nos referir àqueles que, de alguma forma e em algum nível, afetam:
as possibilidades da construção e expressão dos conhecimentos; o
desenvolvimento de condutas compatíveis com as esperadas em determinados
estágios de vida; a conquista gradativa da autonomia e da criatividade; o
processo de individuação do Eu Cognoscente, segundo as possibilidades que
lhe são inerentes de captar, decodificar, interpretar, armazenar e transformar
informações e dados em conhecimentos, que possam vir a ser bases das
ações e reações ao meio ambiente.

Apesar da amplitude dessa contextualização inicial, é muito comum, na


educação escolar, que os chamados fatores intervenientes no processo de
aprendizagem estejam associados aos chamados “problemas”, “dificuldades”,
distúrbios”, “deficits ou deficiências” no ato de aprender, fatores esses
alocados no sujeito aprendente, como portador de uma “síndrome que precisa
ser tratada”, com o encaminhamento a especialistas de diferentes áreas.

Nesse sentido, são comuns as queixas de professores sobre o contingente de


crianças que, apesar dos seus esforços, não aprendem a ler, a ortografar, a
escrever, a pensar e, principalmente, não sentem o tão decantado e esperado
“prazer de aprender”. Muito se tem estudado e publicado sobre os chamados
“distúrbios da aprendizagem”, diante dos milhares de alunos identificados como
“fracassados”, sem que, nestes estudos e pesquisas, para além das hipóteses
e propostas apresentadas, tenha-se dado voz, tenha-se permitido ouvir as
crianças em suas reais condições e necessidades.

O número excessivo de pessoas que não consegue aprender, em todas as


camadas sociais, faz com que repensemos o conceito de “distúrbios de
aprendizagem”. As famílias apresentam relatos de pessoas normalmente
desenvolvidas em outras esferas e dimensões da vida, mas que não aprendem
quando colocadas em situação normal de escolaridade. Sobre isso, diz Barone
(1987): constata-se que um grande número de crianças que procuram a escola
estão impedidas de lograr sucesso. Quase não aproveitam a experiência vivida
e acumulam, ao longo dos anos, lacunas e defasagens que, aos poucos, as
afastam totalmente da vida escolar ou, quando não, terminam a escolaridade
de forma precária e com grande atraso. Este fato, além de ser penoso para o
indivíduo, reveste-se, também, em prejuízo para a sociedade, considerando a
ocupação mais demorada de vagas que poderiam ser ocupadas por novos
alunos. Além disso, reflete-se diretamente na competência do profissional que

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tem acesso ao mundo do trabalho, gerando desempenho de baixa qualidade e
estimulação ao sub-emprego (p.17-18).

Barone (1987, p.18), em suas reflexões, destaca fatores que podem vir a
contribuir para esse quadro: o aumento do contingente da população que hoje
tem acesso à escola e o relativo despreparo da escola para recebê-lo; a
complexidade cada vez maior do universo de conhecimentos que deve ser
passado à criança; a competição que a escola sofre com outros meios de
comunicação e informação, notadamente a televisão; a discrepância, muitas
vezes ressaltada e discutida, entre o conteúdo escolar e a vida; o despreparo
do professor frente a mudanças rápidas e demandas diversificadas que
caracterizam a sociedade pós-moderna; a ênfase excessiva na formação
técnica e na transmissão de um conteúdo acabado, em detrimento de uma
formação crítica e que valorize o processo do aprender; as características
individuais do aprendiz no que tange ao ritmo e peculiaridades de seu
desenvolvimento cognitivo, emocional, linguístico, psicomotor e social.

Diante das reflexões de Barone (1987), talvez fique mais fácil perceber o
primeiro parágrafo deste texto – não se podem analisar os distúrbios de
aprendizagem como fatores intervenientes no processo da construção do
conhecimento, senão levando em consideração uma perspectiva dinâmica, que
busque percebê-los e entendê-los como um sintoma, uma manifestação que
envolve a totalidade da personalidade. Os distúrbios de aprendizagem não são
entidades fixas – para compreendê-los é necessário um estudo profundo da
aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, esses
últimos considerados a partir de uma pluralidade causal.

Em termos vivenciais, quando uma criança apresenta dificuldades em seu


“processo normal” de escolarização, ou são tributadas a ela as causas do seu
fracasso, eximindo-se escola e família de um olhar inquisitivo e questionador
sobre as suas dinâmicas de funcionamento que possam estar na base dessa
questão, ou, por outro lado, mobilizam-se sentimentos de impotência e
inoperância em pais e professores, geralmente acompanhados de uma
questão: “Onde foi que eu errei ???”

Um dos primeiros passos nesse texto é diferenciar uma nomenclatura


aparentemente coincidente e usada de forma indiscriminada quando se fala
dos fatores intervenientes no processo de aprendizagem, geradores de
sintomas de diferentes ordens e níveis, que vão da diferença à dificuldade, da
deficiência (déficit) ao distúrbio (desvio), do normal ao patológico, trazendo
problemas or desconpensação no processo de aprendizagem. Apoiadas em
Sacconi (1996) podemos fazer um pequeno glossário:

APRENDIZAGEM – ação ou efeito de aprender; aprender – ficar sabendo,


reter na memória, adquirir conhecimentos ou experiências…(p.59);

DIFERENÇA – qualidade ou condição de ser desigual ou dessemelhante;


característica distintiva; distinção, discriminação… (p.249);

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DIFICULDADE – qualidade ou condição de difícil; problema, impedimento,
estorvo, obstáculo, complicação, complexidade…(p.250);

DEFICIÊNCIA (DEFICIT) – ausência de alguma coisa essencial; defeito;


insuficiência, precariedade ( a deficiência do ensino oficial – exemplo e grifo do
próprio autor…) (p.225);

DISTÚRBIO – qualquer perturbação ou interrupção da normalidade ou da paz


exterior ou interior: distúrbios nervosos, políticos… (p.256);

DESVIO – ação ou efeito de desviar-se; desviar – mudar a direção, mudar a


posição de, deslocar, afastar-se, separar-se, divergir…(p.245);

NORMAL - conforme ao que é padrão, natural; sem problemas mentais ou


emocionais; estado natural, usual, comum; pessoa normal – normalidade s.f.;
Antônimo – anormal, doente … ( p.483);

ANORMAL – o que não é normal; pessoa que sofre das faculdades mentais,
excepcional…(p.46);

PATOLOGIA – estudo das causas, características e efeitos das doenças –


patológico – adj….( p.510);

PROBLEMA – qualquer questão ou assunto que envolve dúvida, incerteza ou


dificuldade; pessoa difícil de lidar ou de conviver... (p. 546);

SINTOMA – qualquer alteração perceptível no organismo ou em suas funções


que indique doença, tipo de doença, ou fase em que ela se encontre; sinal
característico de existência de algo mais, evidência – sintomático…(p.613, grifo
nosso);
DESCOMPENSAÇÃO – descompasso; falta de acordo, desacordo…(p.235);

É possível constuirmos um “mini-texto” com o emprego das palavras


pesquisadas, e que fazem parte do vocabulário comum dos que lidam com
fatores intervenientes na aprendizagem, para efeito de maior clarificação de
suas especificidades. Poderíamos, talvez, falar assim:

Todas as vezes em que famílias ou escolas percebem em seus filhos /alunos


dificuldades com relação ao ato de aprender, que expressam diferenças na
comparação com o que deles se espera, como manifestações próprias do
pensamento infantil, em determinada faixa etária, pode-se observar uma
inquietação face a esse distúrbio, no que tange às suas causas, extensão e
formas de intervenção. Os problemas de aprendizagem podem ocorrer tanto no
início, quanto no decorrer do período escolar e expressam diferenças que
variam de aluno para aluno, solicitando uma investigação no campo em que
eles se manifestam. O desconhecimento das manifestações próprias do
comportamento infantil, em diferentes fases de seu desenvolvimento, suscitam
dúvidas a respeito dos padrões normais, considerando-se, muitas vezes, as
reações problemáticas como respostas anormais ou patológicas, quando, em
muitos casos, são sintomas ou desvios que, corretamente identificados em

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suas origens, podem ser superados à medida em que a criança evolui. Em
algumas situações, as diferenças no ato de aprender podem expressar um grito
de protesto de crianças saudáveis que se recusam ao cabresto de um estudo
alienante ou à submissão à autoridade autoritária com que são tratados (
RUBINSTEIN, 1987, p. p. 16). Em outras situações, deficiências ou déficits de
aprendizagem específicos merecem um assinalamento focalizado e a adoção
de recursos corretores de diagnóstico e intervenção. Portanto, segundo José &
Coelho (2002, p. 23), os problemas de aprendizagem referem-se a situações
difíceis enfrentadas pelas crianças normais e pelas crianças com um desvio do
quadro de normalidade, mas com expectativa de aprendizagem a longo prazo
(alunos multirepetentes).

Segundo J.Paz (apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 23), “podemos considerar o
problema de aprendizagem como um sintoma, no sentido de que o não-
aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa numa
constelação peculiar de comportamentos, nos quais se destaca como sinal de
descompensação”.

Por outro lado, alguns autores que se dedicam a esse assunto usam os termos
problema ou distúrbio de maneira indiscriminada. Portanto, dizem José &
Coelho (2002, p. 23), “estabelecer claramente os limites que separam
“problemas” de aprendizagem dos chamados “distúrbios” de aprendizagem é
uma tarefa muito complicada, que fica a critério dos especialistas das
diferentes áreas em que a deficiência se apresenta”.

E dizem mais: ao educador, cabe apenas detecter as dificuldades de


aprendizagem que aparecem em sua sala de aula, principalmente nas escolas
mais carentes, e investigar as causas de forma ampla, que abranja os aspectos
orgânicos, neurológicos, mentais, psicológicos, adicionados à problemática
ambiental em que a criança vive. Essa postura, continuam as autoras, facilita o
encaminhamento da criança a um especialista que, ao tratar da deficiência, tem
condições de orientar o professor a lidar com o aluno em salas normais ou, se
considerar necessário, de indicar a sua transferência para salas especiais.

II. OS DISTÚRBIOS DA FALA

1. MUDEZ – Incapacidade de articular palavras, geralmente decorrente de


transtornos do sistema nervoso central, atingindo a formulação e a
coordemação das idéias e impedindo a sua transmissão em forma de
comunicação verbal. Na maior parte das vezes, decorre de problemas da
audição, certos tipos de distúrbio cerebral ou, ainda, outros fatores físicos como
lábio leporino, dentição mal implantada, más formações da boca e do nariz,
além de fatores emocionais e psicológicos, autismo, dentre outros.

2. ATRASO NA LINGUAGEM – A partir dos 14 meses, as crianças tornam-se


capazes de pronunciar palavras com significado e espera-se que por volta dos
3 anos ela já apresente uma linguagem estruturada. Essa cronologia é relativa
e, muitas vezes, a criança tem sua fala “atrasada” por vários motivos, dentre
eles problemas de audição, e fatores emocionais ( traumas, carências afetivas,

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super-proteção, desejos atendidos com prontidão, falta de estimulação –
crianças em asilos, por ex. …). Em princípio, esse atraso é superado após os 4
anos. Em outros casos, o problema se transforma em distúrbio específico de
articulação durante alguns anos e é resolvido via tratamento especializado. Na
escola, essas crianças revelam deficiência de vocabulário, deficiência na
capacidade de formular idéias e desenvolvimento retardado da estruturação de
sentenças.

3. PROBLEMAS DE ARTICULAÇÃO – Durante a fase pré-escolar, é normal a


dificuldade de articular certos sons, pois só por volta dos 7 ou 8 anos é que os
órgãos da fala têm maturidade suficiente para produzir todos os sons
lingüísticos. Os problemas de articulação se subdividem em:

3.1. Dislalia – É a omissão, substituição, distorção ou acréscimo de sons na


palavra falada (exemplo de substituição – substitui o r como faz o Cabolinha…);

3.2. Disartria – É um problema articulatório que se manifesta na forma de


dificuldade para realizar alguns ou muitos dos movimentos necessários à
emissão verbal. A fala fica lenta e arrastada, apresentando quebras de
sonoridade, envolvendo ritmo e entonação, principalmente em momentos de
tensão ou fadiga, nos casos mais brandos;

3.3. Linguagem Tatibitati – É um distúrbio de articulação e também de fonação


em que se conserva voluntariamente a linguagem infantil, sendo, geralmente,
de causa emocional, podendo resultar em problemas psicológicos para a
criança, por ser incentivado pelos adultos que acham a “fala engraçadinha”.

3.4. Rinolalia – Caracteriza-se pela ressonância nasal maior ou menor do que a


do padrão correto da fala. Pode ser causada por problemas nas vias nasais,
por adenóide, lábio leporino ou fissura palatina, acarretando problemas
emocionais pois a criança é ridicularizada pelos colegas que a imitam, gerando
problemas de adaptação.

4. PROBLEMAS DE FONAÇÃO – Os problemas de fonação – ou disfonias –


dizem respeito às pequenas mudanças em suas características (cadência,
inflexão, intensidade, timbre ou tom), as quais funcionam, normalmente, como
recursos para expressão de desejos, sentimentos e necessidades. Em certas
circunstâncias, porém, esse domínio pode ser abalado, afetando todo o
mecanismo de produção de sons e impedindo, portanto, que a expressão
verbal se manifeste de forma adequada. Eles podem ser considerados
funcionais – quando impedem o controle dos sons mas envolvem somente os
órgãos periféricos; podem ser chamados de orgânicos, por outro lado, quando
envolvem o comprometimento do sistema nervoso central. São exemplos de
disfonias, a voz em falsete, a afonia ( que começa com uma rouquidão), a
pronúncia defeituosa de alguns sons, como m em vez de b, n em vez de d,
além da chamada voz monótona, de fundo orgânico, causada por doença no
sistema nervoso central , caracterizada pela incapacidade de inflexão de voz.

4.1. Distúrbios de ritmo – Os distúrbios de ritmo – ou disfluência – referem-se à


fala produzida com repetições de sílabas, palavras ou conjuntos de palavras,

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prolongamentos de sons, hesitações, bloqueios, dificuldades para prosseguir a
emissão dos sons, mantendo-se a contração muscular inicial. Mas os desvios
de assunto em uma conversa e a desorganização de relatos também podem
ser agregados à categoria das disfluências. O exemplo mais comum de
disfluência é a gagueira.

4.2. Afasia – Perda ou avaria da capacidade de se comunicar mediante a fala,


a escrita ou a mímica, em princípio devida a lesão cerebral. Com diferentes
manifestações, a pessoa ouve e vê mas não compreende a linguagem falada
ou escrita (afasia sensorial ou receptiva); é incapaz de falar ou escrever
adequadamente, mas o aparelho fonador não está paralisado ( afasia motora
ou expressiva); não consegue “encontrar” as palavras nem formular conceitos (
afasia conceitual); apresenta todas as formas de linguagem afetadas ( afasia
global ou mista); tem dificuldade para começar a fala e para produzir as
seqüências articulatórias e gramaticais ( afasia não-fluente) e articula e produz
seqüências grandes de palavras em construções gramaticais variadas, mas
tem dificuldade para encontrar vocábulos ( afasia fluente).

III. OS DISTÚRBIOS DA LEITURA


Os distúrbios de aprendizagem na área da leitura e da escrita podem ser
atribuídos às mais variáveis causas:

1. ORGÂNICAS – Cardiopatias, encefalopatias, deficiências sensoriais (visuais


e auditivas), deficiências motoras (paralisia infantil, paralisia cerebral),
deficiências intelectuais (retardamento mental ou diminuição intelectual),
disfunção cerebral ou outras enfermidades.

2. PSICOLÓGICAS – Desajustes emocionais provocados pela dificuldade que


a criança tem de aprender, o que gera ansiedade, insegurança e autoconceito
negativo.

3. PEDAGÓGICAS – Métodos inadequados de ensino, falta de estimulação na


pré-escola dos requisitos necessários à leitura e à escrita, falta de percepção
por parte da escola do nível de maturidade da criança, iniciando uma
alfabetização precoce, relacionamento deficiente professor-aluno, não domínio
do conteúdo e do método por parte do professor, atendimento precário à
criança pela superlotação da sala…

4. SÓCIO-CULTURAIS – Falta de estimulação da criança que não faz a pré-


escola e também não é estimulada no lar, desnutrição, privação cultural do
meio, marginalização das crianças com dificuldades de aprendizagem pelo
sistema de ensino comum. Nesse item, destacam-se os estudos de Soares
(2000), em seu livro –“Linguagem e Escola: Uma perspectiva social” – onde ela
faz toda uma reflexão sobre a educação nas camadas populares do Brasil.
Grande parte do conflito que se dá entre o progressivo acesso à escola e a sua
incompetência em gerar um ensino de qualidade para as camadas populares
deve-se a seu ver à ideologia que inspira as teorias e propostas pedagógicas.
Evidenciam os conflitos entre a linguagem de uma escola a serviço das classes

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dominantes, cujos padrões linguísticos usa e quer ver usados, e a linguagem
das camadas populares, que essa escola censura e estigmatiza (p.6).

5. DISLEXIA – De acordo com José & Coelho (2002), a dislexia, apesar de ser
um tipo de distúrbio da leitura, termina por ser alocado como causa específica
de diatúrbios na aprendizagem da identificação dos símbolos gráficos, embora
a criança apresente inteligência normal, integridade sensorial e receba
estimulação e ensino adequados. Devido à falta de informações dos pais e dos
professores do pré-escolar em identificar os sintomas da dislexia antes da
entrada da criança na escola, ela termina por só ser identificada por volta da 1ª
ou 2ª séries do fundamental, com os primeiros indícios surgindo na
alfabetização. Por isso, a dificuldade na leitura significa, apenas, o resultado
final de uma série de desorganizações que a criança já vinha apresentando no
seu comportamento pré-verbal, não-verbal e em todas as funções básicas
necessárias para o desenvolvimento da recepção, expressão e integração da
função simbólica. A dislexia, segundo Myklebust (apud JOSÉ & COELHO,
2002,p. 84) “representando um déficit na capacidade de simbolozar, começa a
se definir a partir da necessidade que tem a criança de lidar receptivamente ou
expressivamente com a representação da realidade, ou antes, com a
simbolização da realidade, ou poderíamos, também dizer, com a nomeação do
mundo”. Nesse sentido, ela apresenta sérias dificuldades com a identificação
dos símbolos gráficos (letras / números) no início de sua alfabetização, o que
acarreta fracasso em outras áreas que dependam da leitura e da escrita. De
acrdo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), as principais dificuldades
do disléxico são: demora a aprender a falar, a fazer laço no sapato, a
reconhecer horas, a pular corda, pegar e chutar bola; dificuldades em escrever
números e letras corretamente, ordenar as letras do alfabeto, meses do ano,
distinguir direita e esquerda; compreensão da leitura mais lenta, incomum
dificuldade em decorar tabuada, Llentidão ao fazer as quatro operações,
dificuldades em pronunciar palavras longas, planejar e redigir.

Em geral considerada relapsa, desatenta, preguiçosa, sem vontade de


aprender, o disléxico demonstra insegurança e baixa apreciação de si mesmo,
sendo comum o abandono da escola, as reações rebeldes ou de natureza
depressiva, havendo necessidade de tratamento
especializado.

Entre os fatores a serem considerados no processo de aprendizagem da leitura


e da escrita estão, em linhas gerais, os que se seguem: a prontidão para
aprender; a percepção; o esquema corporal; a lateralidade; a orientação
espacial e temporal; a coordenaçao visomotora; o ritmo; a capacidade de
análise e síntese visual e auditiva; habilidades visuais e auditivas; memória
cinestésica;linguagem oral. Entre os distúrbios apresentados no campo da
LEITURA podemos destacar os que se expressam nas seguintes áreas:

6. MEMÓRIA – A criança, quando apresenta dificuldade auditiva e visual de


reter informações, pode ser incapaz de recordas os sons das letras, de juntar
sons para formar palavras ou, ainda, memorizar seqüências , não conseguindo
lembrar a ordem das letras ou sons dentro das palavras. Esse distúrbio de

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memória resulta de disfunções do sistema nervoso central, e freqüentemente
se manifesta só no aspecto visual ou só no aspecto auditivo.

7. ORIENTAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL – A criança não é capaz de


reconhecer direita e esquerda, não compreende ordens que envolvem o uso
dessas palavras e fica confusa nas aulas de Educação Física, por não
entender as regras dos jogos. Quanto ao tempo, mostra-se incapaz de
conhecer horas, dias da semana, etc.

8. ESQUEMA CORPORAL – Geralmente as crianças com distúrbios de leitura


têm um conhecimento deficiente do seu esquema corporal. Apresentam
dificuldade para identificar as partes do corpo e não revelam boa organização
da postura corporal no espaço em que vivem.

9. MOTRICIDADE – Algumas crianças têm distúrbios secundários de


coordenação motora ampla e fina, o que atrapalha seu equilíbrio e sua
destreza manual. Caem com facilidade, são desajeitadas, não conseguem
andar de bicicleta ou mesmo manipular peças pequenas de material
pedagógico.

10. DISTÚRBIOS TOPOGRÁFICOS – É a incapacidade que algumas crianças


têm de compreender legendas de mapas, gráficos, globos, maquetes. Não
conseguem entender a escala simbólica que está sendo usada para definir o
espaço real.

11. SOLETRAÇÃO – Existem crianças que têm profunda dificuldade de


revisualizar e reorganizar auditivamente as letras - ou seja, soletrar. A limitação
na escrita será resultado da limitação na leitura.

Por outro lado, em se tratando de dificuldades de leitura oral, podemos


destacar as que se ligam à percepção visual e auditiva – dificuldade de
discriminação visual e auditiva – bem como as que se referem à leitural
silenciosa – lentidão no ler, acompanhada de dispersão; leitura subvocal
(cochichada); necessidade de apontar as palavras com lápis, régua ou dedo;
perda da linha durante a leitura; repetição da mesma frase ou palavra várias
vezes.Todo esse conjunto de sintomas vai se refletir, diretamente, nas
dificuldades de compreensão da leitura e pode ocorrer em três níveis: literal
(engloba a compreensão das idéias contidas no texto); inferencial (dificuldade
de perceber as idéias que não estão contidas no texto e dependem da
experiência do leitor); crítico (estabelecimento de comparações e julgamentos
entre o dito pelo autor e o pensado pelo leitor).

IV. OS DISTÚRBIOS DA ESCRITA E DA ARITMÉTICA


No domínio da ESCRITA encontramos, basicamente, três tipos de distúrbios:

1. DISGRAFIA – É a dificuldade em passar para a escrita o estímulo visual da


palavra impressa. Caracteriza-se pelo lento traçado das letras, que em geral
são ilegíveis. A criança disgráfica não é portadora de defeito visual ou motor,
nem apresenta qualquer comprometimento intelectual ou neurológico. No
entanto, ela não consegue idealizar no plano motor o que captou no plano

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visual. As crianças disgráficas apresentam desordem no texto, margens mal
feitas, que não são respeitadas, espaço irregular entre as palavras e linhas,
traçados de má qualidade (ou pequeno ou grande demais), movimentos
contrários aos da escrita convencional, dentre outros.

2. DISORTOGRAFIA - Caracteriza-se pela dificuldade de transcrever


corretamente a linguagem oral, havendo trocas ortográficas e confusão de
letras. São normais durante as 1ª e 2ª séries do Ensino Fundamental porque a
relação entre a palavra impressa e os sons ainda não está totalmente
dominada. A partir daí, os professores devem avaliar as dificuldades
ortográficas por seus alunos, principalmente aquelas já conhecidas e
trabalhadas em sala. Algumas trocas comuns: a) Confusão de letras - f / v; p /b;
ch / j; b) confusão de sílabas – cantaram / cantarão; c) confusão de palavras –
pato / pelo; d) uso de palavras com um mesmo som para várias letras – casa /
caza; azar / asar; exame / ezame…

3. ERROS DE FORMULAÇÃO E SINTAXE – São crianças que conseguem ler


com fluência e apresentam uma linguagem oral perfeira, compreendendo e
copiando palavras, mas não conseguem escrever cartas, histórias ou dar
respostas a perguntas escritas em provas. Na fala escrita comete erros que
não ocorrem na fala oral, não conseguindo, portanto, transmitir para a escrita
os conhecimentos adquiridos.

Dentre os distúrbios da ARITMÉTICA, devemos ressaltar o fato de que essa


área do conhecimento se expressa através de símbolos: assim sendo, cabe
abordar aqui as dificuldades dos alunos que não conseguem compreender
instruções e enunciados matemáticos, bem como as dificuldades daqueles que
não conseguem lidar com as operações aritméticas, caracterizando as
dificuldades em duas categorias que, ao pesar de distintas, se interpenetram,
uma vez que, muitas vezes, é preciso resolver a questão do não-entendimento
do enunciado, antes de se verificar as dificuldades nas operações em si.

1. DISCALCULIA – A dificuldade na matemática pode ter várias causas –


pedagógicas; capacidade intelectual limitada; disfunção do sistema nervoso –
essas desordens têm sido consideradas como discalculias, uma disfunção que
impede a criança de compreender os processos e princípios matemáticos.
Dependendo do grau em que se apresentem, podem ser assim agrupados:

1.1. Distúrbios de linguagem receptivo-auditiva e aritmética: as crianças dessa


categoria se saem bem em cálculos, mas têm dificuldades nas questões que
envolvem raciocínio aritmético, em função da limitação na decodificação dos
enunciados;

1.2. Memória auditiva e aritmética: expressam-se de duas formas – a)


dificuldades de reorganização auditiva ( reconhece o número quando ouve,
mas nem sempre consegue dizê-lo quando quer); b) incapacidade de ouvir os
enunciados apresentados oralmente e, em conseqüência, não é capaz de
guardar os fatos , o que o impede de resolver os problemas propostos;

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1.3. Distúrbios de leitura e aritmética: apresentam dificuldades para ler os
enunciados dos problemas, mas são capazes de fazer cálculos quando as
questões são lidas em vos alta;

1.4. Distúrbios de escrita e aritmética: as crianças com disgrafias não


conseguem aprender os padrões motores para escrever letras e números,
razão pela qual os conceitos matemáticos precisam ser passados para elas de
outras maneiras até que o distúrbio da escrita tenha sido superado.

V.OS DISTÚRBIOS PSICOMOTORES

Segundo José & Coelho (2002. p. 108), “podemos definir psicomotricidade


como a educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação
entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”.
Ainda segundo as autoras, como o comportamento físico da criança expressa,
uma a uma, suas dificuldades intelectuais e emocionais, pode-se dizer que a
psicomotricidade é a ciência do corpo e da mente, integrando várias técnicas
com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o
com a afetividade, o pensamento e o nível da inteligência. Enfoca a educação
dos movimentos, ao mesmo tempo em que põe em jogo as funções
intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal
são manifestações puramente motoras (JOSÉ & COELHO, 2002, p. 108, grifo
nosso).

Qualquer distúrbio psicomotor tem ligação com problemas que envolvem o


indivíduo em sua totalidade. Distúrbios psicomotores e afetivos estão,
intimamente, associados, razão porque o diagnóstico não é facil de ser feito.
Os sintomas mais comuns desse distúrbio estão associados à área do ritmo, da
atenção, do comportamento, esquema corporal, orientação espacial e
temporal, lateralidade e maruração (retardos).

Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo Grünspun


(apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 111):

1. INSTABILIDADE PSICOMOTORA – É o tipo mais complexo e causa uma


série de transtornos pelas reações que o portador apresenta, com o predomínio
de uma atividade muscular contínua e incessante. Essas crianças revelam
instabilidade emocional e intelectual; falta de atenção e concentração; atividade
muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas); falta de coordenação geral
e coordenação motora fina; hiperatividade e equilíbrio prejudicado; deficiência
na formulação de conceitos e no processo de percepção ( discriminação de
tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal); alteração da palavra e da
comunicação (atraso na linguagem e distúrbios da palavra); alterações
emocionais ( são impulsivas, explosivas, sensíveis, frustram-se com facilidade,
destruidoras); alterações do sono ( terror noturno, movimentos enquanto
dormem); alterações no processo do pensamento abstrato; dificuldades de
escolaridade ( leitura, escrita, aritmética, lentidão nas tarefas, dificuldade de
copiar da lousa, entre outras manifestações.

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2. DEBILIDADE PSICOMOTORA – Caracterizada por PARATONIA: Limitação
nas quatro extremidades do corpo (ou apenas em duas) – “deselegância” ao
correr – limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e SINCINESIA –
Participação de músculos em movimentos aos quais eles não são necessários
– descontinuidade de gestos; imprecisão nos movimentos dos braços e das
pernas; dificuldade de realizar os movimentos finos dos dedos…

3. INIBIÇÃO PSICOMOTORA – Além das características da DEBILIDADE


PSICOMOTORA, neste caso a ansiedade é presença constante – a criança
apresenta sobrancelha franzida; cabeça baixa; problemas de coordenação
motora; distúrbios de conduta, dentre outros.

4. LATERALIDADE CRUZADA – A maioria dos autores acredita que existe no


cérebro um hemisfério predominante responsável pela lateralidade do indivíduo
– desta maneira, de acordo com a ordem enviada pelo cérebro dominante,
teremos o destro ou o canhoto. No entanto, segundo José & Coelho (2002, p.
114), além da dominância da mão, existe também a do pé, do olho, do ouvido.
QUANDO ESSAS DOMINÂNCIAS NÃO SE APRESENTAM DO MESMO LADO
DIZ-SE QUE O INDIVÍDUO TEM LATERALIDADE CRUZADA – os distúrbios
psicomotores são evidentes e resultam em deformação do esquema corporal.
São algumas as formas mais comuns desse distúrbio: mão direita dominante X
olho esquerdo dominante; mão direita dominante X pé esquerdo dominante e o
inverso. Geralmente essas crianças apresentam alto índice de fadiga; quedas
freqüentes; coordenação pobre; atenção instável; problemas de linguagem
(dislalias, lingua enrolada…).

5. IMPERÍCIAS – É um distúrbio de menor gravidade, a criança apresenta


inteligência normal, apesar de uma certa frustração pela dificuldade de realizar
certas tarefas que exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades
na coordenação motora fina; quebra constante de objetos; letra irregular;
movimentos rígidos; alto índice de fadiga

VI. DISTÚRBIOS DA SAÚDE FÍSICA


Talvez, o mais conhecido dos quadros de distúrbios envolvem aspectos ligados
à visão, audição, defeito ou disfunção em qualquer parte do corpo, anemias
crônicas, verminoses, epilepsia.

1. DISTÚRBIOS DA VISÃO - Como identificar:

 pelo modo de agir da criança – esfregar os olhos, sensibilidade à luz,


piscar excessivamente, apertar os olhos…
 pela queixa da criança – não enxerga bem, visão embaralhada, tonturas,
dores de cabeça, náuseas…
 pela observação – olhos inflamados, vermelhos, lacrimejantes,
estrabismo, terçóis…
 durante a leitura e a escrita – segura o livro muito perto, perde o lugar da
página, pára depois de certos períodos de leitura…

Alguns distúrbios mais comuns: miopia, hipermetropia, astigmatismo,


estrabismo, daltonismo.

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2. DISTÚRBIOS DA AUDIÇÃO – Como identificar: defeitos de linguagem;
expressão oral pobre; pedidos para que repitam palavras e instruções; uso
excessivo de “o que?”, “como?”; andar arrastando os pés; ausência de reações
a sons pouco intensos, for a de seu campo visual; dores ou supuração de
ouvidos; ditados com muitos erros; irritabilidade…

Além da surdez congênita ou adquirida, os deficientes auditivos ou


hipoacústicos são indivíduos cuja audição, apesar de deficiente, é funcional,
podendo a criança ter as mesmas condições intelectuais e psicomotoras de
uma criança normal.

3. DISRITMIA CEREBRAL – “Disritmia Cerebral significa apenas uma


alteração do ritmo elétrico cerebral , alteração essa que pode ocorrer em
intervalos de horas, dias ou meses” (CAMPOS. Apud JOSÉ & COELHO, 2002,
p. 157). Podem ser produzidas por traumas de parto, falta de oxigênio ao
nascer, infecção no sistema nervoso, meningites, encefalites, quedas sem
causas aparentes…

4. EPILEPSIA – É um dos mais sérios problemas em sala de aula, requerendo


do professor conhecimento e habilidade para atuar, procurando esclarecer-se
sobre as características do quadro e as formas corretas de atendimento.

5. DISFUNÇÃO CEREBRAL MÍNIMA – Este tem sido um dos distúrbios mais


difundidos e analisados no campo neurológico, desde que, em 1925, Samuel T.
Orton, neurologista, reuniu, para estudo, um grupo de 65 crianças nas quais se
destacavam dificuldade de leitura, escrita, soletração, escrita em espelho, troca
da seqüência das letras das palavras, inquietude, falta de fixação da atenção,
desajeitamento e dificuldades no aprendizado escolar. De início qualificadas
como portadoras de uma “lesão cerebral mínima”, que nunca foi evidenciada
em exames neurológicos, passá-se a considerar “disfunção” em lugar de
“lesão”. Até hoje, essa disfunção ainda não foi suficientemente aclarada e tem
havido uma certa tendência em fazê-la coincidir com os Transtornos de Deficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

6. TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE - (TDAH)


– Conforme descrito acima, essas crianças apresentam sintomas que podem
ser observados a partir dos 7 anos de idade e que podem ser agrupados em
três núcleos: desatenção ( falha freqüente na atenção a detalhes, dificuldade
de focar a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, parece não escutar
quando lhe falam diretamente, não consegue seguir instruções risca ou
terminar tarefas escolares , tem dificuldade de organização, evita atividades
que solicitem esforço mental contínuo, distrai-se com estímulos externos,
esquece-se das atividades diárias…); hiperatividade ( é inquieto, fica com os
pés e as mãos mexendo constantemente quando sentado, levanta-se
constantemente de seu lugar na sala, corre ao redor, sobe nas coisas em
momentos impróprios, tem dificuldade em sentar e brincar com atividades mais
quietas, está “pronto para decolar”, ou age como se estivesse “ligado a um
motor”, fala excessivamente…); impulsividade ( responde de forma
intempestiva, antes do término da pergunta, tem dificuldade para aguardar sua
vez, intromete-se ou interrompe os outros em jogos ou conversas…). Segundo

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Araújo (2004, p. 28) “apesar de a Medicina não contar com dados conclusivos
sobre formas de tratamento, o TDA (ou TDAH, quando associado à
hiperatividade) é considerado um distúrbio psiquiátrico, portanto, uma doença”.
Na escola, os indícios de que a criança possui esse distúrbio precisa ser
analisados por uns seis meses antes de encaminhamento médico que, em
geral, é multidisciplinar, com utilização, muitas vezes, de medicação.

VII. OS DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO

Em geral, os distúrbios de comportamento são criados ou agravados por


alguns fatores, tais como: a) Conflitos provenientes de lares em que os valores
e os padrões aceitáveis de comportamento estão em contraste com os da
escola; b) Atritos entre adultos e adolescentes; c) Contradições quanto aos
padrões de comportamento do grupo de colegas e os da família ou escola; d)
Sentimentos de fracasso e desânimo a partir de insucessos na escolaridade ;
e) Pressão, competição, concorrência.

Alguns distúrbios de comportamento

1. AUTISMO – Caracteriza-se por uma interiorização intensa – um fechamento


em si mesmo – e por um pensamento desligado do real. Essa incapacidade de
relacionamento pode surgir nos primeiros anos de vida e seu maior sintoma é a
criança viver em um mundo todo particular. Nenhuma teoria orgânica ou
interpessoal, até então, foi plenamente aceita.

2. AGRESSIVIDADE – O estudo da agressividade na criança revela que o


convívio social e fatores de agressão no lar contribuem decisivamente para o
desenvolvimento da super agressividade na criança. No ambiente escolar, esse
comportamento revela-se das mais variadas formas - da reação de um ímpeto
emocional, caótico e difuso, quando a criança chora, esperneia e esbraveja, até
o ataque verbal ou físico, com murros, pontapés e mordidas.

3. MEDO – Basicamente, quando o medo chega ao nível de distúrbio, dois


fatores podem ser intervenientes: a falta de segurança ou a falta de amor e
proteção. No entanto, outros fatores coadjuvantes merecem ser lembrados:
experiências prévias que provocaram medo, atitude medrosa dos pais,
ameaças de adultos, imaturidade por super proteção, dentre outros.

4. FOBIA ESCOLAR – Caracteriza-se pela incapacidade parcial ou total de


freqüentar a escola, podendo ocorrer em todos os níveis sociais, em todos os
graus de escolaridade em todos os níveis de inteligência. Manifestam-se por
meio de ansiedade, pânico, náuseas, vômitos, diarréias, dor de cabeça, dor de
barriga, falta de apetite, palidez e, até, febre. Não se deve confundir a fobia
escolar com temor natural dos primeiros dias de aula. A fobia escolar tem como
uma das causas não tanto o medo de ir à escola, mas o de ser abandonado fo-
ra de casa. Esse temor acentua-se quando a mãe, insegura, carente

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afetivamente e que precisa da criança para realizar-se emocionalmente, tolhe
todo o processo de crescimento e de liberdade do filho, enfraquecendo-o
inconscientemente e prolongando sua dependência.

5. CIÚME – O ciúme, quando patológico, traz reações imprevisíveis e


incontroláveis que vão desde a inveja, seguida da raiva, do ódio, da pena,
autocomiseração, vingança, tristeza, mortificação, culpa, vaidade, inferioridade,
orgulho, medo, ansiedade…Reflete insegurança quanto à atenção e amor dos
pais.

6. TIMIDEZ – Do ponto de vista do temperamento, a criança já nasce com uma


série de características mais ou menos pronunciadas e, assim, umas são mais
inibidas, outras mais extrovertidas. No entanto, a timidez excessiva da criança
deve ser olhada com seriedade pelos pais. Provém, em geral, de um complexo
de inferioridade cultivado, talvez, pelas próprias mensagens parentais,
configurando a base do autoconceito e da auto-estima.

7. FANTASIA – Trata-se aqui, não da fantasia considerada “normal”, que é


uma forma de ajustamento da criança ao real. Mas da fantasia caracterizada
como problema psicológico, usada pela criança como uma espécie de fuga da
realidade, que ela não deseja aceitar por alguma razão.

8. NEGATIVISMO – Caracteriza-se, como distúrbio, por uma resistência


exagerada da criança frente às imposições que o adulto lhe faz e essa
resistência muitas vezes se manifesta sob forma de desobediência,
acompanhada de agressividade. De início, manifesta-se pela recusa em
cumprir ordens ou pedidos, fingindo não ouví-los, mostra-se vagarosa,em
excesso para comer, tomar banho e, à medida em que cresce, apresenta um
vocabulário onde “não” é a primeira forma de reação.

9. AGITAÇÃO, INQUIETUDE, INATABILIDADE –As causas dessas condutas


variam de uma situação para outra, e não se configuram distúrbios senão
quando acompanhadas de agressividade provocando descontentamento
pessoal e relacional. São reações típicas em certas situações de vida, como
diante de um mau ambiente familiar, pais que brigam em frente das crianças,
doenças mentais, lesões cerebrais… No entanto, são normais em certos
períodos de vida – crises passageiras como as dos três anos e a da
puberdade.

10. SEXUALIDADE – Refle a curiosidade natural de aprender coisas a respeito


do sexo, do próprio corpo, do corpo do sexo oposto, do corpo dos pais.
Tornam-se distúrbios a partir da maneira como os adultos recebem e lidam
com essas necessidades, apresentando ansiedades ou reações impulsivas,
deturpação da realidade, levando a criança a fantasias a respeito.

11. PROBLEMAS FAMILIARES – Uma grande parte dos distúrbios de


comportamento reflete o desequilíbrio social e emocional das relações
existentes na família, em cujo núcleo existem problemas que podem interferir
na aprendizagem, refletindo-se no desempenho escolar, dentre eles:

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Separação dos pais; Morte dos pais ou de figuras próximas; Superproteção;
Vícios infantis…

BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Paulo. Deficit de atenção – um diagnóstico que você pode fazer.
Revista Nova Escola, São Paulo: Abril, mai 2004, p. 28-29.
BARONE, Leda Maria Codeço. Considerações a respeito do estabelecimento
da ética do psicopedagogo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al.)
Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1987, cap. 2, p. 17-21.
JOSÉ, Elisabete da Assunção & COELHO, MariaTeresa. Problemas de
Aprendizagem. 12 ed. São Paulo: Ática, 2002.
RUBINSTEIN, Edith. A Psicopedagogia e a Associação Estadual de
Psicopedagogos de São Paulo. In In SCOZ, Beatriz Judith Lima (et al.)
Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1987, cap. 1, p.1316

Publicado em 12/02/2007 16:11:00

Maria de Lourdes Cysneiros de Morais - A autora é pedagoga, mestra em


Educação, especialista em Educação e Desenvolvimento de Recursos
Humanos, Psicopedagogia Institucional, Dinamização de Grupos. Professora
da Universidade Estácio de Sá, em cursos de Graduação em Pedagogia e Pós-
graduação em Psicopedagogia e Docência Superior. Exerce a Tutoria do Curso
de Especialização em EAD - SENAC / RJ, desde 2005.

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ATIVIDADES COMPLEMENTARES

1. Pesquise os principais problemas e / ou distúrbios de


aprendizagem na área da linguagem.
2. Pesquise os principais problemas e / ou distúrbios de
aprendizagem na área do raciocínio lógico-matemático.
3. Pesquise os principais problemas e / ou distúrbios de
aprendizagem na área psicomotora.

TRABALHO FINAL

Pesquise e escreva sobre a Neuropsicologia Da Aprendizagem.

Configuração do Trabalho Final de Módulo

Capa :

Nome da faculdade

O curso

A unidade estudada

O tema do trabalho

O professor

O pólo

Data

O aluno

NOTA:

TODO TRABALHO REALIZADO NA PÓS-GRADUAÇÃO É INDIVIDUAL E COM


CONCLUSÃO PESSOAL

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