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Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) e Fator Acidentário de Prevenção (FAP)

Ressarcimento à União por despesas com benefícios quando relacionados estatisticamente


com atividade laboral comum a grupos de empresas semelhantes.

Luiz Flavio Gomes de Oliveira1


Este artigo refere-se à apresentação das modificações que estão ocorrendo na abordagem das
responsabilidades previdenciárias nos acidentes e doenças ocupacionais quanto a encargos do
empregador e do INSS e as consequências de tal passivo. Aborda também, as responsabilidades civis e
criminais do empregador que negligencia as medidas de proteção e segurança do trabalhador em sua
atividade econômica. Exemplifica, através de um caso, o nexo causal da atividade com o agravo e suas
consequências nas alíquotas dos seguros de acidente no trabalho. Mostra o grande impacto que terá nas
empresas que cumprem apenas as determinações legais quanto às documentações de segurança sem
acompanhá-las e implantá-las. Faz a correlação sucinta do não pagamento do prêmio de seguro de vida
por seguradoras privadas com a recusa do INSS em cobrir acidentes e doenças do trabalho devido a
desleixo de algumas empresas na implantação de medidas exigidas nas normas regulamentadoras.
Mostra como a União vem buscando, por meio de ações regressivas, ressarcimento de indenizações já
pagas ao trabalhador quando o INSS entender serem devidas. Finaliza, sugerindo medidas a serem
implementadas para minimizar passivos trabalhistas e uma política prevencionista com resultados
significativos na produtividade das empresas verdadeiramente comprometidas com a saúde e segurança
do trabalhador.

Palavras-chave: Responsabilidades previdenciárias, NTEP, FAP, Ações regressivas.

Abstract
This article refers to the presentation of the changes that are occurring as new approach to the
occupational diseases as the employer's responsibilities and the INSS and the consequences of such
liabilities arising from these facts. It also discusses the civil liability and criminal negligence of the
employer, the security measures of protection and worker safety in their economic activity. Exemplified
by a case the causal link the activity with the disease and its consequences on the insurance rates of
work accidents. Shows the great impact on businesses that comply only with the legal documentation
about wireless security to accompany them and deploy them. Does the correlation of short non-
payment of premium life insurance with a private Social Security's refusal to cover accidents and
illnesses due to neglect of some companies to take steps required in regulatory standards, searching
through actions regressive compensation paid to the worker when due. Ends suggesting measures to be
implemented to minimize labor liabilities and a genuine policy of prevention with significant results in
productivity in companies committed with health and security at the work environment.

Keywords: Pension liabilities, NTEP, FAP, Regressive judicial case, Actions regressive compensation

1 Sociedade Educacional de Santa Catarina – SOCIESC. E-mail: lflaviog@gmail.com

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1 INTRODUÇÃO

Mensurar a realidade ambiental relativa à segurança de funcionários de cada empresa para fins
de avaliar com justiça em que nível vem trabalhando, no sentido de reduzir ao mínimo os acidentes e
doenças ocupacionais, tem sido uma constante do INSS, desde 1989, com a Lei no. 7.787, que instituiu
em seu art. 4º: “A empresa cujo índice de acidente de trabalho seja superior à média do respectivo
setor, sujeitar-se-á a uma contribuição adicional de 0,9% a 1,8%, para financiamento do respectivo
seguro.“
Através de vários estudos, leis, decretos e portarias, chegou-se a uma metodologia que foi aceita
tanto pelos empresários, sindicatos e governo sobre como o INSS iria buscar recursos para financiar os
benefícios previdenciários acidentários que, ano a ano, vinha crescendo sem que nada fosse feito para
reduzi-los. A falta de bases sólidas que pudessem ser usadas sem penalizar as empresas conscientes de
que a mão-de-obra é o seu maior patrimônio e por isto investiam em programas para aperfeiçoar a
higiene e segurança de seus trabalhadores fossem premiadas, e outras que não pensam assim e
contribuem para que esses índices não recuem, levou o Governo a pensar de maneira mais abrangente
levando até em consideração a ocultação de informações relativas à sonegação dessas informações pela
não emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT, pelas empresas mal intencionadas que
procuravam minimizar suas responsabilidades, contribuindo para que os alíquotas de determinados
setores da economia fossem elevadas, ficando assim todas as empresas niveladas em uma mesma
alíquota, as “boas” e as “más” e o custo distribuído entre todas da mesma atividade. A busca por uma
metodologia que premia as empresas conscientes e penaliza as que apenas cuidam da “burocracia” que
as normas as impõem, segundo a visão dessas, levou o Governo a estipular uma nova metodologia que
vem a ser definitivamente implantada e finalizada a partir do início de 2010, pelo Decreto 6.957 de 9 de
setembro de 2009 e a portaria interministerial 254 de 24 de setembro de 2009. São mudanças
profundas e já se vê uma queda de braço ente a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o INSS.
Até o momento não foi visto nenhum recuo do governo, mesmo porque já vinha adiando a entrada em
vigor por dois anos seguidos para aprimorá-la, a pedido dos empresários. A CNI tem recomendado a
seus filiados que entrem com recurso jurídico e tem orientado como fazê-lo, mas, por outro lado, o
governo não mostra qualquer intenção de postergar a entrada em vigor das novas regras, mesmo porque
já o fez e tem dado claras evidências de que pode aprimorar, mas não recuar. O ponto central desse
trabalho é mostrar que, a partir de todos esses procedimentos, o INSS vai buscar os benefícios já pagos
com as empresas que negligenciaram as medidas e melhorias na segurança, contribuindo para o
acidente ou doença ocupacional.

1. O CERNE DO NTEP – NEXO TECNICO EPIDEMIOLÓGICO PREVIDENCIARIO

Conforme dados estatísticos no sítio da Previdência, na rede mundial de computadores, ocorre


uma morte a cada três horas e 75 acidentes/doenças a cada hora na jornada de trabalho no Brasil
relacionadas à atividade do segurado nas empresas. Média de 41 trabalhadores/dia que não mais
retornaram ao trabalho devido a invalidez ou morte (2008). Para entendermos melhor o que é FAP e
NTEP seguem as definições:
FAP – FATOR ACIDENTÁRIO DE PREVENÇÃO: “é um multiplicador sobre a alíquota de 1%, 2%
ou 3% correspondente ao enquadramento da empresa segundo a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas – CNAE preponderante, nos termos do Anexo V do Regulamento da Previdência Social -
RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999. Esse multiplicador deve variar em um
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intervalo fechado contínuo de 0,5 a 2,0”. Definição apontada pela Resolução MPS/CNPS n. 1.308/09.
O Decreto n. 3.048/99, alterado pelos Decretos n. 6.042/07 e Decreto n. 6.957/09 estabelece as novas
regras aplicáveis ao Fator Acidentário de Prevenção e ao Nexo Técnico Epidemiológico
Previdenciário.
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO PREVIDENCIÁRIO - relação que se estabelece entre
entidade mórbida (Agrupamento- CID) e o segmento econômico (CNAE-Classe) do empregador. Em
outras palavras, é o nexo casual de doenças e acidentes com atividade da empresa devidamente
especificado através do ANEXO II do DECRETO Nº 6.957, DE 9 DE SETEMBRO DE 2009.
Exemplificando, podemos colher no Anexo que uma determinada atividade colabora para determinadas
doenças ocupacionais e, quando se manifestam nos trabalhadores, é devido ao segurado benefícios de
natureza acidentária, gerando todos os custos diretos para o empregador. A adoção do Nexo Técnico
Epidemiológico (NTEP), em abril de 2007, ajudou a combater a subnotificação do acidente de trabalho
em 2008. No ano de 2008, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou 747.663 acidentes de
trabalho, número 13,4% maior que em 2007, quando foram notificados 659.523 acidentes.
Desde a adoção do NTEP e demais nexos de doenças profissionais e do trabalho, benefícios que
antes eram registrados como não-acidentários, passaram a ser identificados como acidentários,
independentemente da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) pelo empregador.
Em relação aos acidentes de trabalho liquidados – cujo processamento se dá no ano em que é
concluído todo o processo – houve aumento de 28,6% na identificação de acidentes causadores de
incapacidade permanente (de 9.389 para 12.071). Esse aumento é também resultado do combate à
subnotificação do acidente de trabalho, desde a adoção do nexo técnico.
Muito se tem comentado nos sítios da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Sindicato da
Industria de Artefatos de Metais não Ferrosos do Estado de São Paulo – SIAMFESP; Sindicato dos
Contabilistas de São Paulo SINDCONTSP e outros sobre o aumento proporcionado pela alteração da
alíquota do Seguro de Acidente do Trabalho na adoção do Fator Acidentário de Prevenção (FAP).
Algumas empresas terão aumento significativo do valor a ser pago e outras, diminuição. As maiores
divergências ocorrem justamente na reclassificação das empresas no Código Nacional de Atividade
Econômica (CNAE) que movimentou empresas que antes tinham o risco leve 1%, para grave 3% e,
dependendo do FAP dessa empresa, a alíquota pode aumentar para 6%, significando, portanto, um
aumento no seguro a recolher de 500% sobre o total da folha de pagamento, LEI Nº 10.666, de 8 de
abril de 2003 e Dec.6.957 de 9 de setembro de 2009.
O Governo já adiou em um ano a entrada em vigor das novas regras, por pressão da indústria e
agora, mesmo com essa pressão, o governo não abre mão de alterar, em janeiro de 2010, a forma de
cálculo do Seguro Acidente de Trabalho (SAT) para premiar as empresas que investem na melhoria das
condições de trabalho e punir, com uma tributação maior, as companhias com taxas elevadas de
acidentes. Muitas ações estão sendo propostas contra a nova sistemática, que poderá ser alterada ou
não, mas o cerne de toda a questão já está consolidado, estabelecendo que a perícia médica do INSS,
quando constatar indícios de culpa ou dolo por parte do empregador, em relação à causa geradora dos
benefícios concedidos por incapacidade, deverá oficiar a Procuradoria do INSS. A perícia deve, então,
subsidiar à Procuradoria com evidências e demais meios de prova colhidos como, PPP e outros
programas de gerenciamento de riscos ocupacionais e laudos, para ajuizamento de ação regressiva
contra os responsáveis, e possibilitar o ressarcimento à Previdência Social do pagamento de benefícios.
Vamos nos ater a essa consequência, já consolidada, das novas regras cujo ônus da prova foi invertido,
cabendo agora às empresas provar que não há nexo causal do agravo com a sua atividade econômica,
evitando ações regressivas do INSS. As empresas já vêm observando com atenção as normas de
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segurança e higiene, mas isso, isoladamente, não resolve o problema. Muitas que se julgam amparadas
por cumprir apenas as determinações legais, com referência a procedimentos na produção de
documentos que cumprem as exigências legais, estão criando um passivo trabalhista previdenciário
sem ter a consciência de seus atos, o que pode inviabilizá-las em futuro próximo.
As empresas devem gerenciar e, especialmente, mapear os afastamentos, no sentido de
descobrir os seus focos e origens, que podem ser dos mais variados, como motivos ergonômicos, o
medo de perder o emprego ou até um gerente que não sabe lidar com seus subordinados. Os
afastamentos podem até ter origem por fatores externos e isso precisa ser detectado pelas empresas, o
que, na maioria das vezes, não vem ocorrendo com eficácia. O FAP de cada empresa será detectado
pelos cálculos atuariais feitos pelo INSS, com informações e dados já disponíveis, e deverá ser
comparado com o FAP de cada setor com o mesmo CNAE divulgado pelo INSS, conforme portaria
interministerial No- 254, de 24 de setembro de 2009, com um FAP ≤ 1 significa que a empresa está na
média do setor para baixo, o que é bom; caso contrário, está acima da média o que vem contribuindo
para ocorrência de acidentes e deverá ser revisto o quanto antes.
Um bom monitoramento dos afastamentos facilitará a defesa da empresa em recursos
administrativos e judiciais, especialmente nas ações regressivas do INSS. As empresas devem estar
atentas também às medidas que evidenciem e comprovem o cumprimento das normas de segurança,
para se defenderem de demandas dessa natureza sem grandes transtornos.

2 DA COLETA DE DADOS PARA CALCULOS ATUARIAIS

Atuário, segundo dicionário Houaiss é o “especialista em matemática estatística, que age no


mercado econômico-financeiro na promoção de pesquisas e estabelecimento de planos e políticas de
investimentos e amortização, no seguro social e privado, no cálculo de probabilidades de eventos, na
avaliação de riscos, fixação de prêmios, indenizações etc.” A profissão ainda é pouco reconhecida no
Brasil, mas nos Estados Unidos da América, está entre as três mais procuradas.
Os atuários são profissionais bem remunerados e têm alta empregabilidade, são responsáveis
por calcular riscos para ingresso de pessoas nas seguradoras. O Brasil entra na era das ciências
atuariais à medida que vão se coletando dados que dêem uma visão do cenário que certas situações
podem concorrer para agravo de ordem laboral e como estes custos podem ser cobertos com
pagamentos periódicos.
Definitivamente, os dados levantados pelo INSS das “razões” dos afastamentos dos segurados
dá um grande poder de comparar informações no tempo e saber se uma empresa está aplicando o que
diz ou está apenas cumprindo a lei, apresentando documentos exigidos para melhorar as condições de
trabalho de seus colaboradores, no que diz respeito à higiene e segurança do trabalho.
Segue figura que ilustra bem como estes dados são obtidos. Vemos, através dessas
informações, que há um embasamento estatístico como diz o INSS através do seu sítio na “internet”.

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Figura 1- Como é feita a variação do FAP no período de 60 meses
Fonte : Siamfesp – Sind. da Ind. de Artefatos de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo

3 CUSTOS DIRETOS DE ACIDENTE DO TRABALHO

A planilha da Figura 2 mostra que o custo direto com um operador de máquina com
remuneração mensal de R$ 1.200,00 que se acidenta em uma máquina e fica afastado quinze dias do
trabalho, é R$7.065,00, significa que, em 15 dias, a ocorrência custa 5,89 vezes o salário mensal dele.
Se esse funcionário ficar afastado por mais tempo, terá assegurada a estabilidade por 12 meses
subsequentes ao seu retorno e a empresa terá que depositar mensalmente o FGTS devido. Observe-se
que, nos custos complementares operacionais, está computada a parada de vários funcionários na
ocasião do acidente, treinamento de outro operador além dos dias em que esta máquina ficou parada
para concerto, deixando de produzir. É possível observar também que, entre as principais causas, está
registrada a falta de treinamento, consequência constatada por utilização de uma maneira reversa na
operação da mesma, ocasionando quebra, vindo a ferir o operador, retirando a falangeta do dedo
indicador.
Fica caracterizada negligência do empregador quanto ao treinamento adequado, abrindo a
possibilidade de o INSS e o funcionário virem buscar, no futuro, indenização por falta da empresa em
relação à segurança e saúde do trabalhador. Certamente, o treinamento deve constar de PPRA e deve
ser acompanhado pelos membros da CIPA, o que, se não ocorreu, aumentará muito as chances do INSS
ser ressarcido dos benefícios já pagos ao segurado e deste receber indenização da empresa.

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Figura 2 – Simulação de planilha de custo

Segundo foi divulgado, em 2007, a Previdência Social gastou R$ 10,7 bilhões com benefícios
previdenciários decorrentes de acidentes de trabalho e de atividades insalubres. No ano anterior, foram
R$ 9,94 bilhões. De acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2007, cerca de 653 mil
acidentes do trabalho foram registrados no INSS naquele ano, número 27,5% superior ao de 2006.
Para 2008, o INSS tem o percentual do total da quantidade de benefício com auxílio-acidente da ordem
de 34,32%, segundo o Boletim Estatístico da Previdência Social - Vol. 13 Nº 09, conforme mostra a
Figura 3.
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Figura 3- Boletim Estatístico da Previdência Social - Vol. 13 Nº 09
Fonte: Ministério da Previdência Social – MPS

Segundo sítio da Procuradoria-Regional Federal da 4ª Região Ações Regressivas de Acidente


de Trabalho, a culpa das empresas é presumida nas ações regressivas acidentárias do INSS.
Data da publicação: 04/09/2009
“A Procuradoria Regional Federal da 4ª Região, representando o Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, obteve a mudança da orientação jurisprudencial do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região em ações regressivas acidentárias.
No Recurso de Apelação nº 1999.71.00.006986-3, a 4ª Turma do TRF da 4ª Região
reconheceu que, nas ações de responsabilidade civil por acidentes do trabalho, há uma
presunção de culpa dos empregadores, incumbindo a estes o ônus de provar que agiram
com diligência e precaução necessárias a evitar os acidentes.
O acórdão representa um avanço jurisprudencial acerca da matéria. Até então, os
Tribunais Regionais Federais vinham imputando ao INSS o ônus de provar a culpa dos
empregadores pelos acidentes do trabalho, o que muitas vezes dificultava a procedência
das ações regressivas acidentárias. Em consequência, inviabilizava-se o ressarcimento
dos gastos previdenciários e a produção da eficácia preventiva destas ações, cujas
condenações têm servido de medida pedagógica aos empregadores, incentivando-os ao
cumprimento e fiscalização das normas de saúde e segurança dos trabalhadores.
A evolução jurisprudencial em matéria de ações regressivas acidentárias é fruto do
acompanhamento processual prioritário desenvolvido pelos órgãos de execução da
Procuradoria-Geral Federal, o que vem sendo monitorado pela Divisão de
Gerenciamento de Ações Prioritárias - DIGEAP da Coordenação-Geral de Cobrança e
Recuperação de Créditos - CGCOB.
No âmbito da PRF da 4ª Região, este acompanhamento prioritário vem sendo realizado
pelo Núcleo de Ações Regressivas Acidentárias - NAR, instituído pelo Serviço de
Cobrança e Recuperação de Créditos.”
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Para fixar a visão de seguradora do INSS, é bom lembrar que seguradoras, na iniciativa
privada, não pagam prêmios quando fica caracterizado culpa do segurado, no caso mais simples de um
veículo em que o beneficiário, ou proprietário, deixou pessoa não habilitada conduzir o veículo,
responderá civil e criminalmente em um acidente em que esse veículo estiver envolvido.
Reforçando a afirmativa de que o INSS está disposto a buscar o que julga ser seu direito, segue a
resolução Ministério da Previdência Social / Conselho Nacional da Previdência Social - MPS/CNPS nº
1.291, de 27 de junho de 2007 - DOU de 27/07/2007 e, a seguir, os passos de encaminhamento,
conforme mostra a Figura 4.
“Art. 1º Recomendar ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, por intermédio de
sua Procuradoria Federal Especializada - INSS, que adote as medidas competentes
para ampliar as proposituras de ações regressivas contra os empregadores
considerados responsáveis por acidentes do trabalho, nos termos do arts. 120 e 121 da
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, a fim de tornar efetivo o ressarcimento dos gastos
do INSS, priorizando as situações que envolvam empresas consideradas grandes
causadoras de danos e aquelas causadoras de acidentes graves, dos quais tenham
resultado a morte ou a invalidez dos segurados.
Parágrafo único. Para facilitar a instrução e o andamento dos processos, recomenda a
Procuradoria Federal Especializada - INSS que discipline a utilização de prova colhida
em autos de ações judiciais movidas pelo segurado ou herdeiros contra a empresa, bem
como que avalie a possibilidade de celebração de convênio com o Poder Judiciário
para uso de processo eletrônico.”

Figura 4 – Fluxograma do funcionário encaminhado ao INSS


Fonte : Siamfesp – Sind. da Ind. de Artefatos de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo
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4 O QUE FAZER PARA ENFRENTAR O FAP/ NTEP IMPLANTANDO UMA POLÍTICA
DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL EFICAZ

Primeiro, é preciso que alguns profissionais entendam qual sua verdadeira posição dentro do
processo prevencionista da empresa. Isso se faz necessário devido ao longo tempo e sequência de erros
nesse tipo de relação, onde tanto os empresários e mesmo os profissionais especializados jamais
souberam ao certo o que, quando, onde e como deveria atuar o SESMT.
Conscientizar o empresário dos benefícios de tal política, bem como os riscos financeiros a que
está sujeita a empresa quanto à não implantação, visando resultados de longo prazo. Quanto custaria à
empresa referenciada na figura 4, o cálculo do custo direto em treinamento e alguns cuidados extras
com um operador de máquina? Certamente, o custo direto com encargos de meia hora desse
funcionário para treinamento gira em torno de R$ 6,00, o que é bem menos que R$ 7.065,00 referente
aos custos diretos do acidente especificado, sem mencionar os outros custos que virão decorrentes de
ações judiciais. Custo para treinamento de 100 funcionários com o mesmo salário, R$ 600,00.
A empresa deve dispor dos mesmos dados que a Previdência Social e manter registros que
permitam contestar eventuais dados incorretos da Previdência, além de ter eficiente qualidade de
assistência médica ocupacional, procurar constantemente minimizar os riscos ambientais reduzindo
assim, ano a ano, o FAP, contribuindo significativamente para que nos estudos atuariais do INSS
apresente resultado positivo. Isso também dá credibilidade para uma eficiente defesa em futuras ações
indenizatórias. O empregador tem a possibilidade de fazer um acompanhamento sistemático dos dados
da empresa ao acessar informações sobre os benefícios concedidos aos seus empregados pelo INSS, se
B 91 ou B31, e este acesso pode ser efetuado via internet através do CNPJ e de senha fornecida pela
Unidade de Atendimento da Receita Previdenciária / Receita Federal. Caso não procedam assim, não
terão como saber se o benefício concedido ocorreu com a aplicação do NTEP. Se tal ocorreu, poderá
ingressar com o recurso da decisão e tendo agilidade no estabelecimento do diagnóstico e na
recuperação do trabalhador.
Estudos epidemiológicos permanentemente atualizados mostrarão a realidade de cada empresa.
Caberá à empresa, através de contraprovas consistentes, demonstrar a inexistência do suposto vínculo
entre o afastamento e o trabalho, e relatar como funciona os postos de trabalho com as tarefas
pertinentes a cada função, os riscos de cada atividade mediante o PPP, bem como poderá usar o Código
Brasileiro de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho e Emprego, para enquadramento da função,
e provar mediante o PCMSO, PPRA e o já citado PPP, a inexistência de vínculo entre o afastamento e
o trabalho realizado pelo empregado. É necessário a atuação conveniente do SESMT nos processos que
tratam de acidente de trabalho e/ou qualquer tipo de afastamento do trabalhador pelo INSS, já que
as alíquotas do SAT poderão ser reduzidas em até cinqüenta por cento ou aumentadas em até cem por
cento, em razão do desempenho da empresa em relação à sua respectiva atividade.
Deverá o empregador tomar cuidado na admissão para apurar se o trabalhador não está sendo
contratado com incapacidade adquirida anteriormente, mediante um bom exame admissional e, se o
fizer, terá que estar muito bem ancorada em exames e diagnóstico para, no exame demissional,
comprovar que não contribuiu para o agravamento através de medidas prevencionistas específicas ao
caso. Cumpre aqui lembrar que a própria resolução do Conselho Nacional de Previdência Social
(CNPS) 1.269 de 15 de fevereiro de 2006 cita:
“Testa-se a hipótese por intermédio da Razão de Chances (RC), medida de associação
estatística, que também serve como um dos requisitos de causalidade entre um fator (nesse
caso, pertencer a um determinado CNAE-classe) e um desfecho de saúde, mediante um
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agrupamento CID, como diagnostico clínico. Essa medida por si só não determina a
causalidade, até porque as doenças são eventos multicausais complexos, todavia, é
reconhecida como fundamental para a inferência causal.” (Grifo nosso)
Reconhece o Governo que o nexo causal é discutível, mas, para tanto, a empresa deverá vir para
uma futura demanda bem embasada com dados que reflitam a realidade do seu ambiente de trabalho
que procurou eliminar com eficiência os agentes causadores destes males para que tenha a chance de
descaracterizar o nexo.
A Figura 5 ilustra bem as medidas que devem ser tomadas tanto do INSS quanto da empresa para
caracterizar afastamento por doença não acidentária. O período em que se baseia seria outro já que
esse quadro foi publicado anteriormente a 2008. O período em que estarão sendo baseados os dados
no INSS é de 01/05/2004 a 31/12/2008 a partir de 2010.

Figura 5- Conceito estatístico para defesa da empresa.


Fonte : Siamfesp – Sind. da Ind. de Artefatos de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo

A empresa terá que ser e não parecer comprometida com a segurança e saúde dos trabalhadores,
porque os resultados serão constantemente sendo monitorados. Terá que ter uma visão prevencionista
indo ao encontro dos ideais dos profissionais ligados à SST, convergindo para interesse de Capital e
Trabalho.

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5 CONCLUSÕES

A necessidade de profissionalização das empresas se torna cada vez maior. Perdem espaço as
empresas que não beneficiam o conhecimento, a habilidade e a atitude privilegiando as decisões com
ênfase mais na emoção que na racionalidade, o que caracteriza empresas familiares onde os laços
emotivos são mais fortes. Ambientes onde a comunicação é só de palavras e estas não vêm carregadas
com comprometimentos, tem poucas chances de sobreviver nos dias de hoje, pois a informação chega
democraticamente a todos. Líderes são aqueles que acreditam que todos têm potencial de liderar
qualquer situação que seja, que não subestima a inteligência dos outros, que mostra o objetivo onde
todos trabalham em equipe para chegarem ao destino acordado. Essas empresas terão melhor chance
de ter sucesso na área de Segurança e Saúde no Trabalho e de enfrentar a evolução no relacionamento
entre patrões e empregados que hoje se assemelha mais a uma equipe de velejadores em regata, onde
todos dão o máximo de si em competência, habilidade e atitude para chegarem à linha final, é o
comprometimento de cada um deles que define a equipe vencedora. É o profissionalismo deles
prevalecendo. Sempre escutamos que o maior problema nas empresas é a comunicação e podemos
acrescentar que esta comunicação se torna muito difícil quando não é objetiva, é emotiva e não é
profissional, motivos que a tornam um sério problema nas empresas. Os profissionais da área de SST
devem estar conscientes e não subestimar a inteligência dos dirigentes de empresas familiares para a
necessidade de se adequar, porque a evolução faz parte do nosso destino e isto a natureza nos mostra a
todo o momento. Pensando assim, teremos mais chance de sucesso ao implantar uma Política de
Higiene e Segurança do Trabalho. A administração de hoje não é igual à de 100 anos atrás e não será
igual a dos próximos, certamente. Sempre será mais barato a prevenção que a correção.

REFERÊNCIAS

MPS – Ministério da Previdência Social - FAP - http://www2.dataprev.gov.br/fap/fap.htm.


MPS – Ministério da Previdência Social - Legislação -
http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=401
MPF – Ministério Público Federal - Procuradoria Regional Federal da 4ª Região -
http://www.prr4.mpf.gov.br/site/
CNI – Confederação Nacional da Indústria.
http://www.cni.org.br/portal/data/pages/FF808081239C151201239F3211D766CE.htm
SINDCONTSP – Sindicato dos Contabilistas de São Paulo.
http://www.sindcontsp.org.br/view/index.php
Siamfesp - Sindicato da Indústria de Artefatos de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo
http://www.siamfesp.org.br/
MTE – Ministério do Trabalho em emprego – normas -
http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentaDORAS/Default.asp
IBA – Instituto Brasileiro de Atuaria - http://www.atuarios.org.br/?page=perguntas_frequentes
CONCLA – Comissão Nacional de Classificação – CNAE - http://www.cnae.ibge.gov.br/
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