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A EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA A DEFICIENTES FÍSICOS EM ESCOLA PÚBLICA

Camilla Maringo Foianesi1,Viviane Espanhol Cortez1, Patricia Mara. Danella Zácaro1


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Universidade do Vale do Paraíba/Laboratório do Exercício e Desempenho Esportivo-LABED/IP&D, Av.
Shishima Hifume,2911, Urbanova, Cep 12 244-000, e-mails: kmillinha_bmt@hotmail.com;
viviespanhol@hotmail.com; patricia@univap.br

Resumo- O presente estudo objetiva, através de uma pesquisa bibliográfica, analisar como a literatura
discute a Educação Física adaptada para alunos com deficiência física na escola. Todas as pessoas tem o
direito de frequentar a escola, independente de suas limitações, inclusive as pessoas com deficiência.
Porém, muitas vezes os professores e as escolas não estão preparados para atendê-los da maneira que
eles necessitam, sendo necessário que os professores busquem métodos diferenciados para incluir esses
alunos nas salas de aula, onde estes devem ter um atendimento especializado, adaptado à sua condição.
Portanto, conclui-se que a Educação Física Adaptada é muito importante para o desenvolvimento dos
praticantes, e que a inclusão deve ocorrer nas escolas, sendo o professor de Educação Física é o principal
responsável para que possa ocorrer a inclusão desses alunos.

Palavras-chaves: inclusão, aulas adaptadas, deficientes.

Introdução aulas de Educação Física, mas, de acordo


Winnick (2005 apud FREITAS; MELO 2009), para
A Educação Física é um conteúdo pedagógico isso é necessário que os professores saibam
que compõe o currículo educacional e participa da adaptar exercícios para que todos possam
formação do aluno. Neste estudo optou-se por executar as atividades propostas. O professor
focar a Educação Física adaptada escolar a deve planejar sua aula para que haja integração,
deficientes físicos. sem exigir que o deficiente se adapte à aula. O
Todas as pessoas têm o direito ao acesso aos correto é exatamente ao contrário.
estudos, inclusive alunos com deficiência. Para
Maciel (1998), o processo de aprendizagem é Metodologia
importantíssimo, para que as pessoas com
deficiência física possam aprender, desde cedo, a O presente estudo trata de uma revisão
não se autolimitar. A entrada de alunos com bibliográfica de dados atualizados através de
deficiência na rede de ensino comum vem consulta eletrônica de artigos acadêmicos por
crescendo muito nos últimos tempos, mas para revistas científicas, Parâmetros Curriculares
que haja essa inclusão é necessário que os Nacionais, Leis, dentre outros, sobre o tema
professores estejam preparados para receber proposto.
esses alunos, junto aos demais, atendendo suas
necessidades. Segundo Sant’Ana (2005), os Resultados e Discussão
educadores não tem uma preparação adequada
para esse atendimento. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS),
Ainda segundo o mesmo autor, existem muitas “deficiência é o termo usado para definir a
dificuldades para que esses alunos sejam de fato ausência ou a disfunção de uma estrutura
incluídos no ambiente escolar. Sugere-se que isso psíquica, fisiológica ou anatômica, no que diz
possa ter relação com o fato dos professores não respeito à biologia da pessoa” (LIMA, 2007).
terem uma formação adequada, em muitos casos, Ao longo do tempo, a terminologia usada para
para lidar com este aluno. Daí a necessidade do denominar as pessoas que possuem deficiências,
aperfeiçoamento nessa área, capacitação dos sofreu mudanças. Estes já foram referidos como
professores, para criar condições de atendimento inválidos, incapacitados, defeituosos,
à necessidade real do aluno deficiente excepcionais, pessoas deficientes, pessoas
(SANT’ANA, 2005). portadoras de deficiências, pessoas com
Para Stainback e Stainback (1999, apud necessidades especiais, portadores de
FAUSTO et al., 2009), todos os alunos, com ou necessidades especiais, pessoas especiais,
sem deficiência, devem frequentar e participar das portadores de direitos especiais. À partir da

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década de 90 o termo mais utilizado foi pessoas O ensino público é a forma de ensino gratuito,
com deficiência (SASSAKI, 2003). em que o Estado tem o dever de oferecer. É
Quando pensamos em pessoas com direito de todos (deficientes, jovens e adultos que
deficiência, logo nos vêm à mente a inclusão, e não tiveram a oportunidade de realizar os estudos
isso deve ocorrer também nas escolas, com os na idade adequada) ter educação básica, de
cuidados especiais que cada um necessita para o acordo com a Constituição Federal de 1988.
seu aprendizado. A educação básica é dividida em três etapas
De acordo com a Politica Nacional de que são: educação Infantil (o alicerce da educação
Educação Especial (BRASILIA, 1994 apud básica); o ensino fundamental (o tronco) e o
SOLER, 2009), os alunos com necessidades ensino médio (acabamento), segundo Cury (2002).
especiais são os que possuem necessidades Portanto, é de extrema importância que todos
próprias e diferentes dos outros, e que precisam passem por todas essas fases de ensino, onde
de recursos pedagógicos e metodológicos uma depende da outra.
educacionais específicos. Pertencem a este grupo Todas as pessoas com deficiência têm a
as pessoas com: deficiência intelectual, visual, necessidade de ter um ensino diferenciado,
auditiva, física e múltipla. Portanto, as instituições adaptado de acordo com as suas necessidades,
educacionas necessitam ter condiçoes para porém existem alguns desafios a serem
atendê-los. superados. Este ensino exige tanto dos
O conceito de deficiência física, segundo o professores quanto da escola. Os professores
Decreto nº 3.298 da Legislação Brasileira (1999 devem estar preparados para a elaboração dessas
apud BERSCH, 2007), segue-se da seguinte aulas e serem capazes de analisar em quais
maneira: aspectos esses alunos são diferentes. Já as
Art. 4: Deficiência Física: alteração completa escolas devem gerar recursos para que os
ou parcial de um ou mais segmentos do corpo professores possam elaborar aulas adequadas.
humano, acarretando o comprometimento da Segundo Sant’Ana (2005), os educadores não têm
função física, apresentando-se sob a forma de uma preparação adequada para atendê-los. Os
paraplegia, paraparesia, monoplegia, professores, portanto, devem procurar se
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, aperfeiçoar nessa área, para assim atenderem as
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou necessidades desses alunos. Ainda, segundo o
ausência de membro, paralisia cerebral, membros mesmo autor, a formação desses professores não
com deformidade congênita ou adquirida, exceto deve ser somente em cursos eventuais de
as deformidades estéticas e as que não produzam pequena carga horária, mas sim, em programas
dificuldades para o desempenho de funções. de capacitação, supervisão e avaliação que
Segundo Maciel (1998), as causas de tenham duração prolongada, que mostram com
deficiência física são problemas que podem isso serem aprofundados. Para Sandalla (1997
ocorrer nos períodos: pré-natal (durante a apud SANT’ANA, 2005), ”precisa ir além da
gestação), perinatal (próximo ao nascimento) e presença de professores em cursos que visem
pós-natal (após o nascimento), podendo ocorrer mudar sua ação no processo ensino-
também nos adultos devido a uma lesão medular, aprendizagem”.
acidente vascular cerebral (AVC), entre outros Winnick (2005 apud FREITAS; MELO 2009),
problemas. coloca que para atender melhor os alunos com
De acordo com Maciel (1998), o processo de deficiência, as atividades devem ser adaptadas
aprendizagem é importantíssimo, para as pessoas conforme suas necessidades. Portanto, a aula de
com deficiência física aprenderem a não se auto- Educação Física sofre algumas alterações
limitar. Essas pessoas trazem consigo algumas passando a ser chamada de Educação Física
limitações, porém devem ter a consciência de que Adaptada.
não são doentes e que podem ter uma boa De acordo com Strapasson e Carniel (2007),
interação na sociedade. a Educação Física é muito importante para
Ainda segundo a mesma autora, todas as desenvolvimento motor, intelectual, social e afetivo
pessoas têm que aprender a ter uma boa de todos os alunos, principalmente dos que
convivência com essas pessoas, aceitando suas possuem algum tipo de deficiência.
diferenças. A equipe da escola, e não somente o Segundo os autores, quando se fala em
professor, deve ter uma boa relação com esse Educação Física Adaptada, temos que pensar em
aluno, gerando assim confiança, evitando dessa pessoas com baixo rendimento motor, ou seja,
forma situações de medo ou vergonha pelo deficientes físicos, visuais, auditivos, intelectuais e
aprendizado mais lento do que está sendo múltiplos. Através da Educação Física Adaptada é
ensinado. que estes alunos podem realizar atividades sem

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nenhuma exclusão, elevando assim sua auto- integral do aluno, unindo as capacidades físicas,
estima e sua autoconfiança. motoras, cognitivas e principalmente a social,
O objetivo das aulas de Educação Física onde ele aplica esses conhecimentos em seu dia-
Adaptada é de um atendimento específico aos a-dia.
alunos com deficiência, respeitando suas Para Stainback e Stainback (1999, apud
limitações. Essas aulas devem proporcionar o FAUSTO et al., 2009), o ensino inclusivo deve
desenvolvimento global desses alunos, além de ocorrer para todos, independente de limitações,
fazer com que descubram o que são capazes de sejam elas físicas, sociais, econômicas ou
realizar e também de se integrarem com os culturais. É preciso acreditar nas capacidades que
demais, segundo Duarte e Lima (2003, apud esses alunos possuem, pois são pessoas com
STRAPASSON; CARNIEL, 2007). potencial para realizar qualquer atividade,
As aulas de Educação Física Adaptada, não bastando apenas que seja adaptada à sua
devem significar separação do aluno com realidade.
deficiência em relação aos demais. Pelo contrário, Os alunos com deficiência têm uma relação
deve ser a mesma aula para todos, porém com as mais próxima com o professor, sendo assim o
devidas adaptações para quem delas necessita, responsável por facilitar o processo de ensino-
permitindo a este aluno participar sem nenhum aprendizagem e inclusão. Porém, todos os
problema, para que se sinta inserido normalmente professores da escola deveriam ajudar uns aos
na turma. outros, trabalhando em equipe (SAINT-LAURENT,
As atividades devem destacar também para o 1997 apud MEDEIROS; FALKENBACH, 2008).
deficiente suas capacidades na realização das Nem sempre acontece isso, seja por falta de
atividades, gerando auto-confiança. O professor recursos materiais e humanos, pela falta de
não deve subestimar a capacidade de um aluno, conhecimento do professor ou até mesmo por falta
deve buscar elevar sempre sua auto-estima, de interesse, tornando assim mais difícil o
proporcionando alegria através da prática processo da inclusão. Com tudo isso, vê-se que o
recreativa e esportiva (ROSADAS, 1989, apud professor tem dificuldade de aplicar as aulas, de
CARDOSO; BASTILHA, 2010). acordo com as diferenças individuais dos alunos.
À partir da década de 80, a inclusão social Assim, é preciso compreender as
surgiu e foi se infiltrando primeiramente, em necessidades de cada individuo e não apenas
países do chamado primeiro mundo, de acordo tratá-los da mesma forma que se tratam todos os
com Sassaki (1997, apud AGUIAR; DUARTE, demais, portanto o professor deve estar preparado
2005). Segundo Aguiar (2002; 2004, apud para atender esse público.
AGUIAR; DUARTE, 2005), somente em 1988,
durante a Constituição da República Federativa, é
que se aprofundaram estudos voltados para a Conclusão
inclusão social no Brasil. Ainda segundo o autor,
“no campo da educação eles começaram a A pesquisa evidenciou o direito do deficiente
ocorrer, de forma mais sistemática, após a Lei de físico frequentar a escola, além da necessidade de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 aulas planejadas e adaptadas, facilitando assim o
de dezembro de 1996”. Com isso, se engloba a processo de inclusão.
educação inclusiva de alunos com deficiência, Observa-se também inúmeros trabalhos que
presente no sistema de ensino. A inclusão escolar mostram o grande despreparo por parte de
é um tema muito debatido nos dias atuais. professores, e falta de incentivo para sua
Para Sassaki (2003), os profissionais, capacitação.
primeiramente, deveriam conhecer os princípios O trabalho mostrou a importância do
da inclusão: celebração das diferenças, profissional de Educação Física nesse processo,
valorização da diversidade, a solidariedade, o por ser o professor com mais contato direto com
direito de pertencer, a igualdade para as minorias os alunos, sendo isso um ponto favorável para o
e a cidadania, para que se tenha o direito de uma aprimoramento do desenvolvimento motor,
sociedade para todos. intelectual, social e afetivo do deficiente físico.
Segundo Santin (2001, apud MEDEIROS;
FALKENBACH, 2008), é bem complicada a Referências
inclusão de alunos com deficiência nas aulas de
Educação Física escolar. No século XIX e início do -AGUIAR, J. S.; DUARTE, E. Educação inclusiva:
século XX no Brasil, o objetivo da Educação Física
um estudo na área da Educação Física. São
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excluindo assim os corpos doentes. Hoje em dia, a Paulo, SP, 2005. Disponível em:
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