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VICENTE FIDELES DE ÁVILA

IZAURA MARIA MOURA CAMPOS


MARIA WILMA CASANOVA ROSA
REGINA DE FÁTIMA E C. FERRO
ROBINSON JORGE PAULITSCH

F O R M A Ç Ã O EDUCACIONAL EM
DESENVOLVIMENTO LOCAL
RELATO DE ESTUDO EM GRUPO E
ANÁLISE DE C O N C E I T O S

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Vicente Fideles de Ávila

2a edição

Campo Grande-MS
Brasil
Copyright©2000 by Os autores.
Coordenador e responsável técnico: Vicente Fideles de Ávila

Reitor: Pe. José Marinoni


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FORMAÇÃO EDUCACIONAL EM
DESENVOLVIMENTO LOCAL:
RELATO DE ESTUDO EM GRUPO E
ANÁLISE DE CONCEITOS
Formação educacional em desenvolvimento local:
relato de estudo em grupo e análise de concei-
tos / Coordenação e responsabilidade técnica
Vicente Fideles de Ávila. 2. ed. Campo Grande:
UCDB, 2001.
luOp.

1. Desenvolvimento local - Conceito - Análise

CLÉLIA TAKIE NAKAHATA BEZERRA


Bibliotecária - CRB n. 1/757
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 7

1 - FORMAÇÃO E PRIMEIROS PASSOS D O GRUPO DE ESTUDO 9

2 - COLETA DE MATERIAL BIBLIOGRÁFICO-DOCUMENTAL 10

3 - REFORMULAÇÃO DOS PROJETOS DE PESQUISA 13

4 - ANÁLISE DE CONCEITOS BÁSICOS RELACIONADOS C O M DE-


SENVOLVIMENTO LOCAL 16
4.1 - PROCURANDO ENTENDER O QUE SIGNIFICA CONCEITO 17
4.2 - PROCURANDO ENTENDER O Q U E SIGNIFICA DESEN-
VOLVIMENTO 19
4.3 - PROCURANDO ENTENDER O Q U E SIGNIFICA LOCAL 25
4.4 - PROCURANDO ENTENDER OUTROS CONCEITOS
ABRANGIDOS POR LOCAL 27
4.4.1 - ESPAÇO 27
4.4.2 - TERRITÓRIO 29
4.4.3 - COMUNIDADE 30
4.4.4 - IDENTIDADE 36
4.4.5 - SOLIDARIEDADE 34
4.4.6 - POTENCIALIDADE 44
4.4.7 - AGENTE 64

5 - TENTATIVA DE COMPREENSÃO SOBRE O QUE SIGNIFICA DE-


SENVOLVIMENTO LOCAL 66

6 - CARACTERÍSTICAS INERENTES À LÓGICA D O PROCESSO DE


DESENVOLVIMENTO LOCAL 76
6.1 - PROCESSO A O MESMO TEMPO DEMOCRÁTICO EDE-
MOCRATIZANTE 77
6.2 - PROCESSO DE C U N H O ENDÓGENO EM DUPIA ACEPÇÃO _ _ 79
6.3 - PROCESSO Q U E IMPLICA DESCENTRALIZAÇÕES E REDI-
MENSIONA CENTRALIZAÇÕES 84

6.4 - OUTRAS CARACTERÍSTICAS TAMBÉM INERENTES À N A -


TUREZA D O PROCESSO 90

7 - "SE UTOPIA U M A BOA UTOPIA" 92

BSBUOGRARA 95
APRESENTAÇÃO DO COORDENADOR DO GRUPO
DE ESTUDO

Já vinha me interessando por esta questão desde a década


de 60. Mas só a partir de 1985, quando foi lançado meu primeiro
livro sobre c tema No município a educação básica do Brasil,
reeditado em 1999 pela Editora UCDB, é que nunca mais parei
de publicar uma ou outra matéria relacionada com o assunto.

Em 1997, me comprometi a aprofundar estudos


especificamente sobre desenvolvimento local, porque assumi
uma disciplina, no Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Local da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB, intitulada
Formação Educacional para o Desenvolvimento Local, e outra,
11V
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que, denominando-se A Descentralização do Sistema Escolar,


também privilegia em sua ementa "(...) a importância da
instituição escolar como agenciadora de conhecimentos e
potencializadora da cultura de desenvolvimento endógeno e
auto-sustentável das comunidades ditas localizadas, no caso
as configuradas de perfil municipal".

Percebendo que os mestrandos da primeira turma da


disciplina Formação Educacional para o Desenvolvimento
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confusos quanto ao real significado de desenvolvimento local e
ao quê o diferencia conceitualmente de outras estratégias de
desenvolvimento categorizado como auto-sustentável,
integrado, participativo, etc, os convidei a constituirmos este
Grupo de Estudo, cujos resultados são agora postos à disposição
de quantos por eles se interessarem.

Foram dois anos de sério e intenso esforço, como vem


relatado logo nos itens introdutórios do estudo. Além de longas
sessões de trabalho de todo o Grupo, na UCDB, os quatro
mestrandos se reuniram semanalmente com as finalidades de
análise exploratória dos materiais coletados e de elaboração da
versão preliminar do relatório sobre o funcionamento do Grupo.
Essa versão de 57 laudas me foi passada para todos o reajustes
e aprofundamentos que me pareceram oportunos ou necessários,
daí resultando a presente versão definitiva, que tem tudo do
meu jeito de ser, pensar e escrever, mas sem nenhum demérito
às co-autorias de base dos outros quatro companheiros de Grupo.

Aliás, o trabalho continua com reuniões ou pequenos


seminários para a discussão de questões ou lógicas, inseridas
nesta versão, que ainda não sejam do completo domínio dos
quatro mestrandos ou de quem mais por elas demonstrem apreço.

Prof. Dr. Vicente Fideles de Ávila


9

1 - FORMAÇÃO E PRIMEIROS PASSOS DO GRUPO


DE ESTUDO

No transcorrer da disciplina "Formação Educacional para


o Desenvolvimento Local", integrante do Programa de Mestrado
em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco-
UCDB, ministrada pelo Prof. Dr. Vicente Fideles de Ávila no final
do segundo semestre de 1998, fomos -todos os mestrandos
matriculados na disciplina- convidados por ele a formarmos um
grupo de estudo direcionado à compreensão do que de fato é
desenvolvimento local.

O convite coincidiu com o crucial momento da definição de


Orientação para nossas Pesquisas/Dissertações, requeridas para a
integralização do Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Local da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB, de Campo
Grande-MS, Portanto, em decorrência dos temas contemplados
na ementa da disciplina e das respectivas discussões, nós (Izaura,
Maria Wilma, Regina e Robinson) manifestamos ao professor o
interesse de que nos aceitasse como Orientandos, evidentemente
motivados pela possibilidade do estudo, em grupo, do que fosse
básico e realmente interessasse a todos os integrantes do mesmo.
Uma vez sabatinados e informados sobre a sistemática de trabalho
e o compromisso que estaríamos assumindo, iniciamos, já em
trabalho de grupo, o planejamento de nossa caminhada de estudos.

Deparamo-nos logo no início com quatro questões de


fundamental importância para nosso trabalho em grupo: a) a da
10

coleta imediata de material bibliográfico-documental concernente a


desenvolvimento local; b) a de nossas reais dificuldades técnicas
quanto ao detalhamento efetivamente operacional dos (nossos)
projetos de pesquisa, com vista à dissertação exigida de cada
um para a conclusão do Mestrado; c) a da necessidade de nossa
familiarização com os conceitos básicos relacionados com o
processo de desenvolvimento local (razão pela qual inserimos
na metodologia dos próprios projetos um procedimento
específico que nos proporcionasse a continuidade de estudo mais
sistemático sobre tais conceitos); d) e, ainda, a do estudo
preliminar das características fundamentais do referido processo.

Essas quatro questões pautaram o funcionamento do


grupo ao longo do período de março de 1999 a junho de 2000,
e o que fizemos em relação a cada uma delas vem descrito a
partir do próximo item 2, na mesma seqüência em que se
encontram elencadas no parágrafo anterior.

2 - COLETA DE MATERIAL BIBLIOGRÁFICO- -


DOCUMENTAL

Esta questão se nos apresentou particularmente


problemática, dado que constituímos um grupo de estudo
integrado por componentes da primeira turma do Programa de
Mestrado em Desenvolvimento Local da UCDB, considerado área
11

multidisciplinar emergente, portanto em fase de explicitação inclusive


conceituai em todos os países que vêm se interessando por ela,
mormente a Espanha e, recentemente, o Brasil. Em realidade,
sentimo-nos na situação de "desbravadores" à cata de materiais
bibliográfico-documentais ainda muito esparsos e fragmentados
instituições afora, evidentemente pensando que esse nosso esforço
inicial, por mais modesto que se configurasse, seria de proveito
também ou de alguma forma para as turmas que nos sucedessem.

Portanto, a coleta de material bibliográfico-documental


seguiu o curso da Internet, das referências indicadas por
professores também de outras disciplinas do Programa, da
Biblioteca da UCDB, dos materiais particulares de cada
componente do grupo, bem como dos acervos de outras
instituições que de alguma forma pudessem ter algo a ver com
desenvolvimento local, tais como Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Instituto Brasileiro
He Arlminiçtrnrãn IVTnnirinnl fTRÀlVn Prrvoramfl PnmnnirlaHp

Solidária, Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias


(EMBRAPA), Banco do Nordeste, Organização Internacional
do Trabalho (OIT), Instituto Brasileiro de Administração para
o Desenvolvimento (IBRAD) e similares.

À medida que detectávamos algum material com


probabilidade de relevância, o examinávamos na perspectiva das
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individuais de pesquisa/dissertação), c (nossa familiarização com
conceitos básicos relacionados com desenvolvimento local), e
12

d (características fundamentais do processo de desenvolvimento


local). Vivenciamos, nesses encontros de exames e triagens,
período de busca constante e troca intensa de material
bibliográfico muito enriquecedor. A partir das discussões e
leituras realizadas, fomos descortinando, pouco a pouco,
subsídios e referenciais para cada uma das mencionadas questões.

Em relação à reelaboração de nossos projetos de pequisa/


dissertação, coletamos subsídios e referenciais, concernentes
tanto à parte intencional (delimitação de tema, problema e
objetivo) quanto à metodologia operacional (opção por
determinado tipo de pesquisa, desdobramento dos procedimentos
concernentes a cada ângulo do objetivo, e assim por diante),
que nos permitiram a reformulação individual dos mesmos,
conforme a continuidade deste relato no item 3.

Quanto à necessidade de nossa familiarização com


conceitos básicos relacionados com desenvolvimento local,
entendemos oportuno (em acordo com o material bibliográfico-
documental coletado) dirigir nossa atenção, no item 4,
prioritariamente para o que significam, conceitualmente:
desenvolvimento e local, este abrangendo também os conceitos
de espaço, território, comunidade, identidade, solidariedade,
potencialidade e agente.

No que respeita ao estudo das características


fundamentais do processo de desenvolvimento local, as principais
analisadas foram as de que: é, ao mesmo tempo, democrático e
democratizante; se apresenta de cunho endógeno em dupla
13

acepção; implica descentralizações e redimensiona


centralizações; outras praticamente evidentes são também
brevemente elencadas.

3 - REFORMULAÇÃO DOS PROJETOS DE PESQUISA

Todos os quatro mestrandos integrantes do grupo já


havíamos participado de algum tipo de programação e elaboração
de pesquisa nos órgãos em que trabalhamos, mas sem muita
preocupação com o rigor sistemático que a exercitação acadê-
mica requer no tocante à análise e apreciação técnica do mesmo.

Entretanto, pelas discussões em grupo, sempre coordena-


das por nosso Orientador, firmamos a consciência de que nossa
tarefa no Mestrado não era apenas aquela de realizar nossas
pesquisas para a aprovação das respectivas bancas examinadoras,
com vista ao tão almejado diploma. Convencemo-nos de que, a
par das aprovações em bancas e do sem dúvida aspirado diploma,
nossa principal oportunidade no Mestrado, mormente com a
chance do trabalho em equipe, consistia em realmente nos
fundamentarmos teoricamente e exercitarmos operacionalmente
no âmbito das três grandes etapas do processo de pesquisa: sua
projeção, sua execução e sua sisternatização documental.

Em vista disso, e dos subsídios e referenciais aludidos à


letra a do item 2, entendemos que a tarefa ainda para o primeiro
14

semestre de 1999 era necessariamente a do redimensionamento de


nossos reais projetos de pesquisa, com vista às pretendidas
dissertações de conclusão do Programa de Mestrado, mediante
discussões em trabalho de grupo e, naturalmente, a elaboração
individual dos respectivos itens de composição estrutural.

Nesse sentido, experimentamos a situação daquelas


pessoas adultas que, interessadas em aprenderem a nadar,
compram, discutem e decoram determinado manual de natação
mas ao caírem na água têm a dramática sensação de que vão
morrer se alguém não lhes socorrer: trata-se da velha e ao mesmo
tempo absolutamente atual discussão da relação entre teoria e
prática. Isso aconteceu, no fundo, porque estamos acostumados
a mais agir do que a projetar(ou pensar) o nosso agir para depois
de fato irmos à ação.

Embora sejamos todos portadores de diplomas de cursos


superiores, nossa cultura ainda se arraiga profundamente na
empiria guiada quase só pelo bom-senso. Temos dificuldade de
abstrair aquilo que foge ao alcance imediato de nossas
experiências já vividas ou de nossas sensações atuais, o que não
basta para projeções mais sistemáticas dado que estas implicam
necessariamente a habilidade de abstração de algo que se realizará
no futuro, com meios previsivelmente disponíveis a partir da
realidade presente, de forma que o futuro projetado se nos
apresente como realidade-lógica, da qual possamos pelo menos
sacar a configuração hoje dita virtual. Esse é um problema decorrente
de nossa formação ainda quase só orientada para o prático, o
imediato, o sensível, o capeado por alta dose de motivação externa
que nos atraia: daí nossa quase irresistível tendência à cópia ou
mera reprodução do já feito (ficamos muito à cata de modelos) e a
certo desdém pelo esforço inovador em relação àquilo que
poderíamos fazer, refazer, redimensionar ou adaptar criativamente.

Objetivamente, constatamos que temos dificuldade em


combinar idéias com meios previsíveis e de transformá-los em
mapas ou plantas de futuras ações reais para a dinamização de
processos mais complexos, principalmente os de natureza
investigatória, pois estes nos compelem ao passo-avante do-
conhecido-para-o-desconhecido, desafiando-nos a pelo menos
um pouco de abstração meta-sensorial.

Em suma, os maiores proveitos da fase de elaboração de


nossos projetos de pesquisa, ocorrida no primeiro semestre de
1999, dizem respeito mais ao processo de exercitação,
empreendida em trabalho partilhado de grupo, e à tomada de
consciência acima relatada, que aos produtos resultantes ou
projetos propriamente ditos. Aliás, estes poderão ser superados
por outros melhores em razão da própria consciência que o grupo
formou, ao longo da exercitação, no tocante inclusive à
necessidade de evolução de suas próprias mentalidades e
habilidades em matéria de teoria e prática de projeção.
16

4 - ANÁLISE DE CONCEITOS BÁSICOS


RELACIONADOS COM DESENVOLVIMENTO LOCAL

Intentando conferir uma seqüência, a mais lógica possível,


a este item 4, resolvemos desdobrá-lo nos seguintes subi tens:

4.1 - procurando entender o que significa conceito (afinal, quisemos


saber o sentido desse termo tendo em vista que j á o utilizamos
desde o início, assumindo agora a própria razão de ser de
tudo o que se segue neste relato).

4.2 - procurando entender o que significa desenvolvimento (in-


dependentemente de sua conotação específica com local).

4.3 - procurando entender o que significa local (no contexto


da expressão desenvolvimento local).

4.4 - procurando entender outros conceitos abrangidos pelo


conceito de local (especificamente: espaço, território,
comunidade, identidade, solidariedade, potencialidade
e agente).

Feitas essas observações introdutórias, passamos aos


sentidos conceituais que conseguimos captar no âmbito de cada
um dos subitens acima indicados, enfatizando tratar-se de mero
estudo exploratório de aprendizes ainda em fase de iniciação no
universo conceituai implicado pelo que ora se vem denominando
desenvolvimento local como nova e privilegiada estratégia de
desenvolvimento a partir das próprias comunidades
concretamente situadas.
17

4.1 - PROCURANDO ENTENDER O QUE SIGNIFICA


CONCEITO

Descritivamente, PIERSON (1968) assim se refere à


importância e ao papel dos conceitos no processo de pesquisa
sobretudo em ciências sociais:

- "Os conceitos constituem as 'ferramentas' do


nosso trabalho. Habilitam-nos a investigar
discriminar, comparar, classificar e relacionar. São
especialmente significativos para as ciências
sociais porque a linguagem, da qual todos eles
derivam, é ela mesma, um dos fenômenos que,
como técnicos desta ciência, estudamos e
procuramos compreender." (p. 51);

- "(...)Pode-se também, através desta investigação


'afiar' ainda mais precisa e exatamente o
significado de cada conceito com que se está
lidando, de modo que, no futuro, a pesquisa se
possa proceder com mais eficácia, empregando
estes conceitos "afiados". Assim se tornam os
conceitos com o uso, instrumentos de investigação
cada vez mais úteis." (p. 53);

- " (...) qualquer conceito é de pouco valor a não


ser que indique o método de descobrir algo mais
do fenômeno porêle representado. Por esta razão
numerosos especialistas competentes chegaram à
58

conclusão (que Bridgmam talvez melhor que


ninguém expôs) de que o que temos por conceito
é, de fato, uma série de operações, através das
quais podemos obter maior conhecimento acerca
do fenômeno em questão. O conceito é, por outras
palavras, aquilo que fazemos com êle".

Entretanto, e apesar de anunciar na última frase acima


que "O conceito é(...)", não chega a definir realmente o que
significa o termo conceito em si mesmo. Em vista disso,
recorremos ao Tópico 4 do livro "A pesquisa na vida e na
universidade", do Prof. Vicente Fideles de ÁVILA (Campo
Grande-MS : Editora UFMS/Editora UCDB, 2000b, p. 39-76),
concluindo, com a ajuda do mesmo professor, que o conceito
consiste na síntese compreensiva ou extrato de conhecimento
que a mente humana elabora a respeito de determinado objeto
ou fenômeno pela análise de suas propriedades, dele
abstraídas -sacadas e sugadas- através dos sentidos e associadas
ou cruzadas, por quem esteja buscando o conhecimento, com
outras informações já disponíveis nas memórias individual (do
próprio cognoscente) e coletiva (da humanidade como um todo
ou de povos e sociedades específicas como frações suas). Dessa
forma, o conceito nunca é estático, acabado ou perfeito.
Normalmente, mesmo que percorramos o caminho analítico
correto de elaboração conceituai sobre um objeto visado, a
respectiva síntese compreensiva ou extrato de conhecimento
obedece também às seguintes dinâmicas lógicas: de fora para
dentro; da periferia para o núcleo; do todo para os detalhes; do
19

superficial e genérico para o mais aprofundado e preciso; do


quantificável para o mais qualificavelmente dimensionado; e
assim por diante, em horizonte multidimensional de mineração
conceituai praticamente inexaurível.

Quanto à situação do grupo na mencionada cadeia das


dinâmicas lógicas sobre desenvolvimento local, a primeira
avaliação foi a de que, sistematicamente falando, os mestrandos
se encontravam ainda no elo inicial, razão pela qual o grupo se
propôs aos primeiros contatos de familiarização com os conceitos
que se seguem, inclusive começando pelo que o conhecido "Novo
dicionário da língua portuguesa" (também denominado "Novo
dicionário Aurélio") pudesse orientar em relação a cada um deles.

4.2 - PROCURANDO ENTENDER O QUE SIGNIFICA


DESENVOLVIMENTO

A) Subsídios

Começando pelo "Novo dicionário Aurélio ", o verbete


desenvolvimento tem o sentido de: "1. Ato ou efeito de desenvol-
ver(-se) (...). 2. Adiantamento, crescimento, aumento, progresso.
3. Estágio econômico, social e político de uma comunidade,
caracterizado por altos índices de rendimento dos fatores de
produção, i. e, os recursos naturais, o capital e o trabalho ".

Descendo um pouco para o detalhamento etimológico


(CUNHA, 1994), verifica-se que o termo desenvolvimento
20

provém do verbo desenvolver, formado pela junção de três outros


vocábulos: des [do prefixo latino dis-, expressando "(...) coisa
(ou ação) contrária àquela que é expressa pelo termo
primitivo(...)" ] + en [significando em grego "(...) posição
interior, movimento para dentro(...)"] + volver (virar, voltar,
dirigir). Ajuntando en + volver forma-se o termo primitivo
envolver com o sentido de virar, voltar, dirigir para dentro ou,
segundo BORBA (1991), enrolar, embrulhar, cingir. Ora, se se
adicionar des a envolver, da mesma forma que des+cobrir
significa etimologicamente tirar-o-que-cobre, a idéia que o
resultante termo desenvolver nos enseja, em se tratando de
pessoas, instituições e povos, é a do rompimento das amarras
que os prendem -enrolam, embrulham, cingem- em seus status
quo, aqueles histórica e tradicionalmente já entranhados em suas
maneiras de ser e agir, a fim de que se orientem para novas
maneiras de evolução com equilíbrio e progresso, implicando
"/ 1 tmrtvfrtryyifirnr\ nlnhnl" HcjHr» /rnnf» na rmini5n r!<=» PPPT7TT? A
| ... f ít iliM-yvn/ ^n/t/wi , Mtn.tv ^juvj 1 m v/^jiiiluv vív a -J . . I I • • >_j. a
(1985 : p. 19), o desenvolvimento

"(...) é um processo de transformação econômica,


política e social, através da qual o crescimento do
padrão de vida da população tende a tornar-se
automático e autônomo. Trata-se de um processo
social global, em que as estruturas econômicas,
políticas e sociais de um país sofrem contínuas e
profundas transformações. Não tem sentido falar-se
em desenvolvimento apenas econômico, ou apenas
político, ou apenas social. Na verdade, não existe
21

desenvolvimento dessa natureza, parcelado,


setorializado, a não ser para fins de exposição
didática. (...) O desenvolvimento, portanto, é um
processo de transformação global ".

Entretanto, para que isso aconteça, afirma NERY (1998: p. 7),

"Épreciso que seja estimulado um processo, ou seja,


é preciso criar novos espaços e oportunidades de
relacionamento para que as vivências se convertam
em aprendizagem, e as pessoas e a coletividade
progressivamente se tornem mais capazes de realizar
seus projetos, de dar respostas aos problemas, num
nível cada vez mais amplo que o local e de forma
cada vez mais permanente".

No que respeita especificamente ao Brasil, ÁVILA (1999


: p. 24-25) se manifesta convicto de que

"(...) a qualquer brasileiro consciente não resta a


menor dúvida de que o país cresceu materialmente,
e muito, nestas últimas décadas, mas de fato não se
desenvolveu humana, cultural e socialmente, (...) esse
crescimento sem desenvolvimento propriamente dito
se deve a que até o presente nossos governos,
sobretudo nas alçadas federal e estaduais,
mostraram-se desinteressados e/ou incapazes de se
interagirem com o povo, através das próprias
maneiras básicas de ele se organizar, no sentido de
criarem e dinamizarem canais de liderança,
22

mobilização e equilíbrio social, tendo em vista que,


a par e com a ajuda de insumos captados do exterior,
a população se motive e capacite -a partir de suas
micro-sociedades, de seus círculos de relações
comunitárias, bem como de seus lares, locais de
trabalho e até do âmbito educativo-cultural de suas
dimensões pessoais- a irromper o desenvolvimento
de dentro para fora (...)".

Foi SINGER (1982 : p. 25-26) quem nos ajudou a


entender a expressão "(•••) crescimento sem desenvolvimento
(...}", embora o contexto em que ela se situa, na citação de
ÁVILA acima, não se restrinja única e exclusivamente a
desenvolvimento econômico:

"O primeiro corolário da distinção entre


desenvolvimento e crescimento é que o crescimento
é visto como um processo de expansão quantitativa,
mais comumente observável nos sistemas
relativamente estáveis dos países industrializados,
ao passo que o desenvolvimento é encarado como
um processo de transformações qualitativas dos
sistemas econômicos prevalecentes nos países
subdesenvolvidos(...). O desenvolvimento é o
processo de passagem de um sistema a outro".
23

B) Comentário

O crescimento econômico, por si só, certamente não é


sinônimo de desenvolvimento, pelo menos no sentido que agora
o entendemos. A análise de abrangência nacional, estadual e
municipal do PIB (Produto Interno Bruto), da renda per capita
(ou do muito ganho por poucos, dividido pela esmagadora
maioria dos que nada ganham), bem como de outros indicadores
similares, aponta se há ou não crescimento do ponto de vista
econômico. O crescimento econômico se caracteriza por
conotações tipicamente quantitativas, enquanto que
desenvolvimento implica também, e essencialmente, dimensões
concernentes tanto à qualidade do processo de evolução
econômico-social quanto à amplitude participativo-beneficiária
de toda a população por ele abrangida.

No processo de desenvolvimento, o alvo central é o ser


humano como artesão do seu êxito ou fracasso, pois se requer
que cada um, ao se tornar responsável pelo seu próprio
progresso, de toda ordem e em todas as direções, influencie o
seu entorno como fonte irradiadora de mudanças, de evolução
cultural, de dinamização tecnológica e de equilibração meio-
ambiental. Portanto, não se obtém desenvolvimento sem que se
visualize o homem, à luz da hierarquia de valores, em sua
integridade como pessoa humana, membro construtivo de sua
comunidade e agente de equilíbrio em seu meio geofísico.

O processo de transformação requerido pelo


desenvolvimento implica necessariamente a evolução cônscia e
24

autônoma do padrão de vida interno e externo de toda a população.


Em vista disso, a regra teórica básica, que fundamenta o capitalismo
moderno, tem sido a de que todo desenvolvimento se caracterize
predominantemente como processo de transformação econômica
com resultado imediato na área social, visando, por excelência, ao
crescimento do padrão de vida externo da população no seio da
qual o mesmo ocorre. Nesse caso, a transformação social é vista
como conseqüência da transformação econômica, o que não se
comprova, do ponto de vista histórico, principalmente nos países
subdesenvolvidos e/ou em via de desenvolvimento. Pelo contrário,
o aumento de riqueza econômica não concebido, produzido e
partilhado pela base populacional desses países, dentre eles o Brasil,
ao invés de gerar e alavancar a qualidade de vida de sua gente a
tem agravado de maneira contínua e brutal, evidentemente no sentido
dos segmentos populacionais de base para os de elite: a camada
pobre ficando cada vez mais carente e a média sempre mais
compelida a arcar com os ônus de sua própria existência mas
tendo, ainda, que amenizar os sofrimentos da pobre e sustentar
o contínuo enriquecimento da alta camada em processo de
elitização sempre maior.

Então, o que nos parece lógico é que as duas frentes de


desenvolvimento -a social e a econômica- andem interativamente
juntas, a social potencializando as pessoas para se tornarem
sujeitos e agentes inclusive da econômica e a econômica
ensejando sustentação material e apoio instrumental ao
alavancamento da social no curso da cadeia processual, disso
resultando, aí sim, partilhada quantidade-com-qualidade em todas
25

as dimensões de concretude da vida humana: saúde, higiene,


salubridade, trabalho, segurança, educação, moradia, lazer, cultura,
iniciativa, criatividade, e congêneres.

4.3 - PROCURANDO ENTENDER O QUE SIGNIFICA


LOCAL

A) Subsídios

Se considerado isoladamente como verbete do "Novo


dicionário Aurélio ", as significações genéricas de local que mais
nos chamaram à atenção foram: como adjetivo, "Relativo ou
pertencente a determinado lugar (...)" ou "Circunscrito ou
limitado a uma região (...)" e, como substantivo, "Lugar, sítio
ou ponto, referido a umfato(...)".

Entretanto, o adjetivo local no contexto da expressão


desenvolvimento local assume conotações muito mais
diversificadas e abrangentes que as acima referidas, como se
pode observar nos conceitos formulados pelos três autores
abaixo, todos ressaltando praticamente os mesmos enfoques:

- Para Tereza LÓPEZ (1991 : p. 42),

"Quando falamos de local, estamos nos referindo a


um espaço, a uma superfície territorial de dimensões
razoáveis para o desenvolvimento da vida, com uma
identidade que o distingue de outros espaços e de
26

outros territórios e no qual as pessoas conduzem sua


vida cotidiana: habitam, se relacionam, trabalham,
compartilham normas, valores, costumes e
representações simbólicas ".

- Enquanto Jorge GUAJARDO (1988: p. 84) entende local como:

"Um território de identidade e de solidariedade, um


cenário de reconhecimento cultural e de
intersubjetividade e também um lugar de
representações e práticas cotidianas (...).
Necessidade de construir toda dinâmica de
desenvolvimento a partir de uma identidade cultural
fundamentada sobre um território de identificação
coletiva e de solidariedade concretas".

- LAZARTE, em texto divulgado no site da OIT (Organização


Internacional do Trabalho), em 1999, afirma que:

"(...)La revisión propuesta, tios lleva a reivindicar


el âmbito de lo LOCAL, como un espacio más
concreto de participación social en el proceso, como
una unidade de análisis, planificación y acción,
capaz de relevar y activar un conjunto de
potencialidades no apreciadas por el planificador
tradicional y de atender un igual número de
demandas insatisfechas a través de mecanismos
apropiados al contexto y escala de Ias mismas,
aportando de esta manera dentro un esfuerzo
sinérgico al desarrollo de la región y el país ".
27

B) Comentário

Apesar da idéia geral acima sobre o significado básico de


local, achamos pelo menos conveniente aprofundarmos um pouco
mais o nosso entendimento do que se vem denominando local, no
contexto da expressão desenvolvimento local, pela busca de
compreensão também dos principais conceitos imbricados nas
concepções de local dos três autores acima, sendo eles: espaço,
território, comunidade (embora não explícito, este vocábulo está
fortemente latente em todas elas), identidade, solidariedade,
potencialidade e agente, como se segue.

4.4 - PROCURANDO ENTENDER OUTROS CONCEI-


TOS ABRANGIDOS POR LOCAL

4.4.1- ESPAÇO

A) Subsídios

Iniciando pelo "Novo dicionário Aurélio", destacamos


os dois seguintes significados para espaço: "Distância entre dois
pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados (...)"
e "Lugar mais ou menos bem delimitado, cuja área pode conter
alguma coisa (...) ".

Em se tratando de espaço no contexto de desenvolvimento


local, SANTOS (1999: p. 51) enfatiza exatamente o que é contido
28

na área, como delineada acima, entendendo que

"A configuração territorial não é o espaço, já que


sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o
espaço reúne a materialidade e a vida que a anima
(...) O espaço é formado por um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como o quadro
único no qual a história se dá (...). O espaço é hoje
um sistema de objetos cada vez mais artificiais,
povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos
de artificialidade (...)".

B) Comentário

Associando o conceito genérico do "Novo dicionário


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bastante claro entender que espaço, no âmbito de nosso estudo,


pode significar apropriadamente: " Lugar mais ou menos bem
delimitado (...)", "(...) formado por um conjunto indissociável,
solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e
sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como
o quadro único no qual a história se dá (...)".

Em verdade, espaço e temtono constituem duas


dimensões de um mesmo universo ou conjunto de realidade, como
se vê logo a seguir.
29

4.4.2-TERRITÓRIO

A) Subsídios

O "Novo dicionário Aurélio" registra duas dimensões


conceituais que nos interessam mais de perto, a primeira
concernente ao vocábulo como substantivo e a segunda de
conotação jurídica:

- "1. Extensão considerável de terra; torrão. 2. A


área dum país, província, cidade, etc.".

- "4. (...) Base geográfica do Estado, sobre a qual


exerce ele a sua soberania, e que abrange o solo,
rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes,
golfos, baías e portos [ e] 5. (...) A parte
juridicamente atribuída a cada Estado sobre os rios,
lagos e mares contíguos, e bem assim o espaço aéreo
que corresponde ao território, até a altura
determinada pelas necessidades da polícia e
segurança do país, devendo-se, ainda considerar
como parte do território os navios de guerra, onde
quer que se encontrem, e os navios mercantes em
alto mar ou em águas nacionais".

Contrastando o conceito de território com o de espaço,


aludido em 4.4.1, a posição de SANTOS (1999: p. 51) é a de que

"(...) A configuração territorial é dada pelo conjunto


formado pelos sistemas naturais existentes em um
30

dado país ou numa área e pelos acréscimos que os


homens superimpuseram a esses sistemas naturais.
(...) A configuração territorial, ou configuração
geográfica, tem pois uma existência material própria,
mas sua existência social, isto é, sua existência real,
somente lhe é dada pelo fato das relações sociais".

B) Comentário

Pelo visto em 4.4.2 e 4.4.1, território e espaço se


complementam em um todo bidimensional, o primeiro como
base de sustentação e delimitação geofísica para que o segundo
emerja e flua com configurações próprias de dinamismos
fenomenológicos, inclusive vitais, nos limites do primeiro.

4.4.3 - COMUNIDADE

A) Subsídios

Pelo "Novo dicionário Aurélio", o termo comunidade


significa "Qualquer conjunto populacional considerado como
um todo, em virtude de aspectos geográficos, econômicos e/ou
culturais comuns (...)" ou, então, "Grupo de pessoas
considerado, dentro de uma formação social complexa, em suas
características específicas e individualizantes (...)".
Os dois autores, abaixo, nos oferecem descrições
31

conceituais bem mais explícitas que as mencionadas acima:

- MELVER (1968 : p. 7) diz que:

"Comunidade consiste em um círculo de pessoas que


vivem juntas, que permanecem juntas de sorte que
buscam não este ou aquele interesse particular, mas
um conjunto inteiro de interesses, suficientemente
amplo e completo de modo a abranger suas vidas ".

- E PIERSON (1968 : p. 322) vai além, enfatizando o


relacionamento primário, espontâneo e informal, como a caracte-
rística mais marcante de uma comunidade, a qual consiste na

"(...) organização espacial efuncional de seres vivos


(vegetais, animais ou humanos) biótica ou
economicamente interdependentes; ê produto de
competição e acomouaçao; a Mieraçao nela existente
é inconsciente e assim impessoal; tratam-se os
indivíduos uns aos outros como simples utilidades;
define-se a partir de simbiose, ordem econômica,
divisão de trabalho, localização no espaço
(ordenada, todas as partes tendo relações orgânicas
com as outras); função: maior eficiência na luta pela
existência (...)".

ÁVILA (2000a: p. 71-73) analisa sociologicamente as duas


frvrmoc
iv/iiiiuo Ko ri/^Of r i a o n r i m n m a i i t n
L/aoivao uv agi upuiiiwuu uv/o / Í a p oafofi
owivo liuinai /-fâorlo
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surgimento da espécie, as chamadas comunidade e sociedade. A
comunidade se configura por grupo de pessoas que se convergem,
32

articulam e interagem através de "relacionamentos primários " e


a sociedade também se constitui de grupo de pessoas que se
convergem, articulam e interagem só que, ao inverso da
comunidade, por "relacionamentossecundários", entendendo-
seque:

- [Os] "'relacionamentosprimários' (...) Consistem


naquela cadeia de contatos e vínculos que as
pessoas vão paulatina mas constantemente
formando entre elas, ao longo de suas
contidianidades de vida, de maneira fortuita,
espontânea e informal: por eles as pessoas se
conhecem, se avaliam e se controlam, assim como
conhecem, avaliam e controlam o ambiente comum
de suas existências. Esses laços de vinculações
interpessoais se iniciam, expandem e consolidam
do âmbito da vizinhança para os de bairro, de
cidade, e assim por diante, (...)".

- [E] '"Os relacionamentos secundários', ao


contrário dos 'primários', decorrem e se respaldam
em regrasformais (leis, regimentos, regulamentos,
mores e quaisquer outros tipos de normas e decisões
coletivas) de controle externo à pessoalidade de
cada um, gerando o princípio jurídico de que 'todos
são iguais perante a lei' (•••)"•

- [Em vista disso], "A comunidade stricto sensu será


33

caracterizada pelo predomínio (quantidade, diver-


sidade, relevância, etc.) dos itens de relaciona-
mentos primários sobre os secundários, até o ponto
de equilíbrio. E a comunidade lato sensu estará se
configurando a partir do ponto de desequilíbrio
em favor dos relacionamentos secundários".

-[Portanto], "A 'comunidade média ideal' para


efeito de desenvolvimento local é aquela stricto
sensu em que haja certa (não exagerada)
preponderância dos relacionamentos primários
sobre os secundários ou no máximo se constate o
equilíbrio entre essas duas categorias: a localidade
demasiadamente primarizada é muito
conservadora e fechada, tendendo a se manter no
isolamento. E a muito secundarizadajá se encontra
esfacelada em termos de seus comuns sentimentos,
interesses, objetivos, perfis de identidade e outros
laços de coesão espontânea, sem os quais o
desenvolvimento não emergirá de dentro para fora
da própria comunidade, (...)".

Na continuidade deste texto, o autor confronta a


dimensão de comunidade em nível municipal e a compara com
o perfil da acima mencionada "comunidade média ideal",
considerando os Municípios brasileiros como referenciais, em
termos de espaços-territórios, adequados e propícios à
implantação e implementação de políticas e programas de
34

desenvolvimento local, naturalmente enraizando-o nas


comunidades-localidades distritais e/ou de bairros.

B) Comentário

PIERSON e MELVER têm posições comuns quando


tratam da organização social como forma de convivência de
grupo, evidenciando a interdependência entre os seres: o primeiro
acredita na interação inconsciente das pessoas para a busca da
melhoria de oportunidades individuais de vida melhor, com
reflexo direto também na melhoria das condições de subsistência
coletiva, já que existe interação simbiótica entre o grupo,
enquanto o segundo defende que a constante busca dos objetivos
coletivos se sobrepõe aos interesses particulares de cada
indivíduo do conjunto.

Todavia, e independentemente dos enfoques de


predominância dos autores acima, ÁVILA (1996 : p. 177) nos
chama à atenção para o rumo que a vivência comunitária da
população brasileira vem tomando face principalmente aos
excessos de centralização das políticas públicas a partir da
ditadura militar iniciada em 1964:

"A cada dia que passa, a população se torna cada


vez mais dependente e cada vez menos capaz de se
organizar, administrar, solucionar ou pelo menos
participar ativamente da resolução de seus
problemas básicos de educação, saúde, habitação,
35

alimentação, lazer, cultura, desporto, locomoção e


outros ".

O que ele quis dizer com isso é que até essa época os
contigentes populacionais agrupados em horizontes geofísicos
fora dos centros urbanos de poder, sobretudo capitais e/ou pólos
empresariais, tinham de providenciar por si mesmos os meios
básicos à sua subsistência individual e coletiva, já que o Estado
brasileiro mal conseguia cuidar desses centros. Isso forçava a
que as próprias comunidades tomassem a iniciativa, mesmo que
em caráter precário, de se cotizarem para a construção de suas
usinas elétricas, escolas, estradas, sistemas de abastecimento de
água, e assim por diante. De repente, surgiram as megaempresas
responsáveis por esses serviços, simplesmente desconsiderando
os potenciais e as iniciativas comunitárias localizadas e até
proibindo o aproveitamento do que já existia. Se por um lado
essa postura centralista de desenvolvimento trouxe inegáveis
benefícios à população -como os das melhorias quantitativas e
qualitativas dos serviços de água e energia, por exemplo, onde
de fato foram implantados- por outro, decepou as condições de
iniciativa e partilha de contribuição das comunidades, barrando
sua cnativiuaue cooperativa e tornando- as reféns dos agentes
centralizados, muitos dos quais hoje simplesmente migrados da
esfera pública para a empresarial particular nacional e
internacional através de processos de brusca privatização, sem
o mínimo envolvimento das comunidades usuárias nos mesmos.
Talvez não seja exagerado afirmar que nosso modelo de
desenvolvimento tenha, senão esterilizado, pelo menos
36

pasteurizado nossas comunidades no que respeita a iniciativas


locais espontâneas de autodesenvolvimento.

Quanto a critério concernente ao dimensionamento de


comunidades-localidades para efeito de implantação e
implementação de políticas e programas de desenvolvimento
local, o Grupo de Estudo adere aos propostos por ÁVILA,
aludidos acima, no que se refere à equilibração entre
"relacionamentosprimários" e "relacionamentossecundários"
e à referência aos Municípios brasileiros como espaços-territórios
para isto adequados.

4.4.4 - IDENTIDADE

A) Subsídios

Segundo o "Novo dicionário Aurélio", a palavra


identidade procede do latim escoiástico medieval (identitas-tatis)
e os principais significados que nos interessam são: "2. Conjunto
de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa (...)" e " 5.
Mat. Relação de igualdade válida para todos os valores das
variáveis envolvidas".

Em realidade, essa palavra se compõe dos seguintes


termos latinos: id (do adjetivo idem, o mesmo ou a mesma coisa)
+ enti (do substantivo ens-tis, que significa ente, ser, coisa real)
+ -dade (como sufixo desinencial (-tas-tatis), que confere ao
termo ente (ens-tis) o sentido de entidade (entitas-tatis) ou
37

grupo de seres com as mesmas propriedades ou com


propriedades comuns, a exemplo de associações ou grupos
organizados em razão e função do que é comum -objetivo,
características étnicas, índole, hábitos, sentimentos, interesses,
problemas, etc,- aos seus integrantes.

B) Comentário

O termo identidade tem dois horizontes de significação,


um individual e outro coletivo:

- d o ponto de vista individual, identidade quer dizer a


propriedade ou o conjunto de propriedades fundamentalmente
típica(s) de cada ser -não importa de que reino, gênero ou
espécie-, pela(s) qual(ais) o mesmo se diferencia de todos os
demais seres da natureza;

- coletivamente falando, identidade se refere apropriedade(s) -


além da(s) mdividualizante(s) aludida(s) acima- igual(ais),
comum(ns) ou afim(ns) a dois ou mais seres, em razão da(s)
qual(ais) os mesmos podem se associar ou agrupar.

Relacionando o significado coletivo de identidade, acima,


com o etimológico de entidade à letra A, a conseqüência lógica
é a de que entidade tem o sentido de grupo, associação ou classe
de seres com propriedade(s) comum(ns) e identidade se refere
imediatamente à(s) propriedadc(s) igual(ais), comum(ns) ou
afim(ns) em razão e função da(s) qual(ais) determinados seres
se tornam aptos, de um lado, a se associarem ou agruparem por
38

ação própria ou interferência alheia, e, de outro, a se diferenciarem


em relação a outro(s) griipo(s), associação(ões) ou classe(s) de
seres, independentemente do reino, gênero ou espécie a que
pertencem.

4.4.5 - SOLIDARIEDADE

A) Subsídios

Pelo "Novo dicionário Aurélio", as principais nuanças de


sentido do verbete solidariedade são:

"2. Laço ou vínculo recíproco de pessoas ou coisas


independentes. 3. Adesão ou apoio à causa, empresa,
princípio, etc., de outrem. 4. Sentido moral que
vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às
responsabilidades dum grupo social, duma nação,
ou da própria humanidade. 5. Relação de
responsabilidade entre pessoas unidas por interesses
comuns, de maneira que cada elemento do grupo se
sinta na obrigação moral de apoiar o(s) outro(s)

Em PIERSON (1968:331), a solidariedade é vista como


"Condição do grupo, que resulta de compartilhar de atitudes e
sentimentos, de modo a constituir o grupo em aprêço, unidade
sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-
se ainda mais firme em face de oposição vinda de fora".
39

Se PIERSON vê, acima, solidariedade como dinamismo


cooperativo de coesão e consolidação interna de um grupo para
que o mesmo se contraponha e/ou equilibre em relação às
pressões das forças externas que continuamente lhe fazem face,
JOHNSON (1997:40,220) entende que solidariedade e coesão
têm o mesmo sentido e que "Coesão é o grau em que indivíduos
que participam de um SISTEMA SOCIAL se identificam com
ele e se sentem obrigados a apoiá-lo, especialmente no que diz
respeito a NORMAS, VALORES, CRENÇAS e estrutura". Aliás,
ao atribuir a origem do estudo sobre coesão a Durkheim,
JOHNSON diz que o mesmo

"(...) identificou duas fontes básicas da coesão: a


solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica.
A primeira é a coesão que tem por base a cultura e
estilo de vida comuns, o consenso sobre valores,
normas e crenças resultantes de socialização e
experiência também comuns, Embora ela opere em
certo grau em todos os sistemas sociais, associa-se
mais estreitamente a sociedades tribais, onde é
mínima a distinção entre indivíduos e sociedades.
Em contraste, a solidariedade orgânica baseia-se em
uma DIVISÃO DO TRABALHO complexa, na qual
pessoas dependem umas das outras porque a
especialização lhes tornou difícil sobreviver
independentemente ".

Quanto à evolução dessa questão através dos adeptos de


40

Durkheim, JOHNSON faz questão de acrescentar que as

"Versões mais recentes do enfoque da coesão social


de Durkheim, especialmente a que foi desenvolvida
por Talcot PARSONS, baseiam-se na idéia de que as
sociedades modernas, complexas, são mantidas
coesas por um consenso geral sobre valores. Este
acordo coletivo é cultivado por instituições sociali-
zantes, tais como a FAMÍLIA, escolas e a mídia".

Entretanto, o mesmo autor chama a atenção para duas


importantesressalvasa esse enfoque:

- por um lado, "(•••) um consenso aparente sobre valores pode


ocultar grande variação entre subgrupos da população";

- por outro, "(•••)medida em que os grupos dominantes na


sociedade podem controlar grandes instipuições, como as
escolas e os meios de divulgação de massa, podem também
definir e promover valores universais que, na verdade, refletem
seus próprios interesses e não os da sociedade como um todo ".

Mas, voltando à compreensão de solidariedade com senti-


do próprio, ou seja, não significando o mesmo que coesão mas como
pressuposto e alicerce para sua efetiva ocorrência, ÁVILA (2000b:
116-121) analisa as dimensões de aplicação individual e coletiva das
seguintes expressões de MARIAS (1966 : 200), enfaticamente
frisando que "(-.,) a vida me é dada, não me é dada feita mas pelo
contrário me é dada por fazer, me é dada como quefazer ou tarefa
(...) que eu tenho quefazer aqui e agora (...)". E ao sereferirà
41

vida como "quefazer" na dimensão coletiva, evidentemente


interfaciada com a individual, ÁVILA distingue solidariedade de
gregariedade, considerando que

"(•••) o ser humano é essencialmente gregário mas


apenas perifericamente solidário. A essencialidade
gregária lhe é conferida pelo instinto de preservação,
e autoconservação da espécie, ao passo que a solida-
riedade se lhe afigura comofenômeno residual, resul-
tante da intuição (em estado mais primitivo) e do
raciocínio analítico (em estágios mais avançados),
sobre a necessidade e/ou conveniência de se estender
aos 'outros' aquilo que extrapola pelo menos os
limites mínimos da autopreservação individual (p.
117). (...) se a solidariedade é objetivada por nós,
intuitiva e/ou analiticamente, ela também é um
elemento, uma faceta da vida, que nos é dada como
algo 'quefazer', inclusive coletivamente" (p. 118).

B) Comentário

Comparando os ângulos conceituais acima, entende-se que,


embora se trate de fenômenos interconexos (o primeiro enquanto
base e o segundo como resultância), solidariedade e coesão não
significam a mesma coisa, ou seja:

- A solidariedade representa o estado de ânimo (impressões,


crenças e convicções) que gera volitivos, afetivos e efetivos laços
42

de mobilização e cooperação (nos âmbitos de uma pessoa para


com outra, de um grupo para com outro, dos membros de um
grupo para com todo o grupo ou de membros para com membros
do mesmo grupo) visando solução ou equacionamento de
problemas, necessidades ou aspirações coletivas e/ou individuais
de qualquer tipo e natureza, referentes tanto a pessoas quanto ao
meio em que elas vivem ou com o qual se preocupam. Na
solidariedade, a vontade, a afetividade e a efetividade andam
sempre juntas, intrinsecamente inseparáveis, dado que a formação
do estado de ânimo supra-referido implica -além da igualdade ou
afinidade de sentimentos, interesses efinalidades-também boa
dose de ideal altruísta da parte de quem ou de quantos se
disponham a se envolver no processo de mobilização e
cooperação.

- A coesão se caracteriza pela real concretização do estado de


mobilização e cooperação de um grupo de pessoas, pequeno ou
grande, podendo configurar-se como:

- coesão gregária, a que se efetiva com base em impulsos


instintivos (ou algo bem próximo de sentimentos, interesses e
finalidades primários-comuns) de autopreservação e/ou
conservação de todo o grupo ou de parte dele, ou até de
componentes individualizados, a qual se estende de maneiras
mais ou menos complexas e sofisticadas praticamente a todas
as espécies vivas do planeta, inclusive a humana;

- e coesão solidária, resultante de volitivos, afetivos e efetivos


laços de mobilização e cooperação, como sereferiuacima, para
43

cuja formação a também mencionada boa dose de idealismo


altruísta se soma a sentimentos, interesses efinalidadescomuns,
conferindo à união do grupo significância e relevância social que
transcendem as imputadas aos esforços e dispêndios individuais
implicados. A dúvida que pode restar é se a coesão solidária
só ocorre no âmbito da espécie humana. No que respeita à
espécie humana, esta configuração de coesão não só pode
ocorrer como de fato vem e continuará sempre ocorrendo (ai,
sobretudo dos menos favorecidos se não existisse coesão
solidária!). Mas, quanto à sua presença em espécies diferentes,
atentas observações sobre a vida de vários outros grupos de
animais sempre acabam por nos convencer de que pode haver,
sim, coesão solidária também entre eles, pelo menos no que se
refere aos mais evoluídos -em termos volitivos, afetivos e efetivos,
evidentemente com menor grau de complexidade emrelaçãoà
coesão solidária que se processa em grupos humanos. Aliás,
os graus de complexidade também variam entre os próprios
grupos humanos, dependendo sempre e muito dos tipos e
estágios de vontade, afetividade e efetividade de seus
componentes.

Por último, há um outro ângulo tanto da solidariedade como


da coesão que merece muita atenção, principalmente de quantos
se interessem por desenvolvimento local, o de que as pessoas
individual e grupalmente podem se educar para o aumento e
aperfeiçoamento de aspectos qualitativos e quantitativos em ambas.
No tocante à solidariedade, o que se quer dizer é que as pessoas,
44

enquanto indivíduos que serelacioname agrupam, podem se educar


sempre mais e melhor no sentido de aprimorarem continuamente
suas impressões, crenças e convicções geradoras de laços altruístas
em prol tanto de outras pessoas quanto, e sobretudo, de objetivos
e interesses do grupo a que pertencem. E no que concerne à coesão,
a própria performance da solidariedade já lhe influenciará
sobremaneira, embasando inclusive a coesão solidária menos ou
mais complexa e qualificada, como se referiu acima, mas não é
tudo. As pessoas, ainda individual e agrupadamente, podem se
educar para tornarem também os atos de mobilização e cooperação
cada vez mais lógicos, viáveis, agradáveis, eficientes e significativos.

Em suma, a educação de pessoas e grupos comunitários


para a solidariedade e a respectiva coesão constitui, sem sombra
de dúvida, aspecto estrategicamente fundamental no contexto
de toda a dinâmica do desenvolvimento local.

4.4.6 - POTENCIALIDADE

A) Subsídios

Percorrendo a seqüência indicada pelo "Novo dicionário


Aurélio", potencialidade é "l. Qualidade ou caráter de
potencial", em que potencial quer dizer "1. Respeitante a
potência ", a qual são atribuídos dois sentidos na área filosófica:
"11. (...) Caráter do que pode ser produzido, ou produzir-se,
mas que ainda não existe" e "12. (...) Fonte original da ação".
45

Estes dois significados dão apenas a idéia básica, extremamente


genérica, de potência/potencialidade no contexto do
desenvolvimento local, razão pela qual se entende oportuno o
aprofundamento de sua compreensão, inclusive do ponto de vista
histórico.

A preocupação com o sentido de potência/


potencialidade vem de longe, pois se insere no âmbito das
discussões que ensejaram o aparecimento da própria filosofia,
por volta do século VII a. C., centradas na busca de explicações
cosmológicas, sobretudo as referentes ao movimento e
respectivas transformações observadas na natureza, assim
esquematizadas (com base em THONNARD, 1968:7-31) como
tônicas principalmente do período entre os séculos VII e V a.
C., de Thales de Mileto (cerca de 640-550) ao nascimento de
Sócrates (470):

a) A dos Jônios (sensistas), que "Ainda muito escravos da


experiência sensível e vendo que tudo se transforma em tudo
(o pão em carne, a lenha emfogo, etc.), procuram o princípio
único do mundo [água para Tales de Mileto (cerca de 640-
550), ápeiron ou coisa indetermintida para Anaximandro
(611-546), ar para Anaxímenes(588-524, todos eles da cidade
de Mileto] entre as coisas sensíveis e julgam que assim
explicam tudo" (p. 11).

b) A uo devir ou permanente vir-a-ser de Heráclito de Efeso


(entre 540 e 475), isto é, "O que existe não é o ser, mas o
devir: não há outra realidade que não seja mudanças".
46

c) A da inexistência do movimento, formulada por Parmênides (entre


530 e 444) e depois fortemente defendida por Zenão de Eléia
(cerca de 490), fundada no racionalismo de que o movimento é
apenas aparência em decorrência de que só a "A realidade é
unicamente o ser" ou, citando o próprio Parmênides, " Há que
admitir (...) o ser ou o não ser; tudo depende disto: ser ou
não ser. Ora o não ser não existe e não pode vir a existir.
Portanto, só o ser existe" (p. 17), gerando conseqüências,
segundo THONNARD, dentre as quais a de que "O ser ou a
realidade é eterna, imóvel, sem princípio nem fim".

d) A posição conciliadora (em relação às três anteriores) da escola


atomista fundada por Leucipo por volta do ano 500 em Abdera,
cidade fronteiriça entre a Trácia e a Macedônia, muito ativa na
segunda metade do século V através do discípulo Demócrito,
bem como de Empédocles oriundo de Agrigento (na Sicília) e
Anaxágoras de Clazimenes (cidade perto de Esmima), ambos
vindos a Atenas para ensinar a doutrina atômica, segundo a qual
a própria matéria é constituída de partículas infinitamente pequenas
e indivisíveis (a+tomos significa, em grego, não+divisível) mas
dotadas de garras que permitem a junção ou combinação das
mesmas para a formação dos diferentes seres que compõem a
realidade do cosmos, o que explicaria, primeiro, que os
movimentos das mutações são de fato reais e, segundo, que "(...)
a realidade éprópria do ser(...) "(p. 22), enquanto combinação
de átomos indivisíveis, portanto homogêneos, plenos, perfeitos e
imutáveis no que respeita à natureza constitutiva de cada um deles,
e não à realidade dos fenômenos resultantes de suas combinações
47

-porque é aí que se dá o movimento-, pelo que se entenderia a


permanência das configurações de identidade nas mutações de
todos os seres, inclusive no âmbito das espécies.

e) Porfim,a da polemização sofista nofinaldo século V, de Péricles


(494-429) a Protágoras (de Abdera, entre 480-410) e Górgias
(de Leontini, Sicília, entre 425 quando veio para Atenas e sua
morte em Lerissa, na Tessália, em 375). MARITAIN, citado por
THONNARD (p. 28), assim se refere aos sofistas: " A
designação de sofista, reservada primeiro aos que possuíam
saber raro e especial, é o nome que se dá, no século V, aos
que fazem profissão de ministrar a sua ciência mediante
salário. São professores ambulantes, conferencistas,
enciclopedistas ou diletantes (...)" ou, ainda, "Procuram os
proventos da ciência e não procuram a verdade". Eram, em
realidade, exímios oradores que conseguiam manipular os
raciocínios, inclusive sobre a questão efervescente do movimento/
instabilidade versus estabilidade, baseando-se em premissas de
lógica aparente, como " O homem (...) é a medida de todas as
coisas, das que existem, faz que elas existam; das que não
existem, faz que elas não existam " (dizia Protágoras a respeito
da realidade como criação da mente humana, citado por
THONNARD (p. 29) ou, agora referindo-se a Górgias (p. 30),
"(...) com efeito, há que admitir que o não-ser é o não-ser.
Ora tudo o que é, é real e existe. Portanto o não-ser é real e
existe. E visto que o ser é o contrário do não ser, sendo este
real e existente, o ser não existe".
48

Embora os sofistas não hajam acrescentado diretamente nenhu-


ma contribuição científica à discussão cosmológica que se vinha
travando desde o século VII a. C., as polêmicas por eles
provocadas acabaram colaborando no sentido de mantê-la acesa
ou, conforme conclusão de THONNARD (p. 30), "Melhor
ainda que Protágoras, Górgias, com os seus sofismas,
convidava a reflectir sobre o valor das idéias abstractas e
sobre as suas relações com os objectos concretos: também
deve reconhecer-se aos sofistas pelo menos um mérito: o de
ter atraído a atenção de seus contemporâneos sobre o homem
e sobre as coisas humanas", temas centrais dos célebres três
personagens que se seguiram: Sócrates (470-399), Platão (428
ou 429-348 ou 347) e Aristóteles (384-322).

Sócrates deixou de lado a dimensão cosmológico-funcional


do universo sensível, com que tanto se preocuparam os seus
antecessores, e abriu novafrentede discussão científica de cunho
moral -a felicidade como exercício da virtude reconhecida como
bem pela inteligência-, dando início à cadeia gestatória de Platão e
Aristóteles mas só contribuindo em sentido amplo para a questão
do significado de potência/potencialidade, isto é: "(•••) Sócrates
dá-nos uma visão nítida e profunda das condições da ciência
humana cujo domínio próprio é o universal; descobre o
verdadeiro método científico no seu duplo objecto indutivo e
dedutivo: - mas restringe-os arbitràriamente ao domínio moral"
(THONNARD :p. 45).

Entretanto, sabedor de que as pessoas têm potencialidades


49

naturais para, se exercitadas, desencadearem o próprio processo


de autoformulação do conhecimento, sem terem necessariamente
que recebê-lo pronto de outros, Sócrates criou e usou em larga
escala a rnaiêutica indutiva com seus discípulos, metodologia esta
integralmente reproduzida na "República " de Platão, a qual guarda
relação analógica com o processo de indução do parto (rnaiêutica
significa parto em grego antigo, observando-se que a mãe de
Sócrates era parteira), pelo qual o discípulo era reconhecido como
capaz de (ou potencializado para) parir o seu próprio
conhecimento com a ajuda indutiva do mestre. Portanto, Sócrates
não especulou sobre potencialidades cósmicas, em geral, mas, a
priori e pragmaticamente, asreconheceucomo evidentes, no tocante
à possibilidade humana de conhecer, e passou toda a sua vida de
mestre ajudando os seus discípulos a exercitá-las. Ajustada à
realidade atual, esta será sem dúvida a metodologi a de ação mais
apropriada ao agente de desenvolvimento local, o que vem tratado
em item específico.

Platão, sim,retomoudiretamente as questões cosmológicas


postas por seus antecessores, inclusive documentando a fase inicial
de sua trajetóriafilosóficapor Diálogos dedicados a alguns deles
(dentre os quais até os sofistas Protágoras e Górgias), só que
acrescentando aos enfoques sensíveis já tradicionais (movimento-
insíabiiidade-mutações versus estabilidade) também os de cunho
qualitativo, expressos pela convivência intrinsecamente concomitante
das manifestações de perfeição e imperfeição na natureza, ou
50

(THONNARD, t.l,p. 63):

"Ao lado do facto das mudanças, há o facto não


menos impressionante da ordem e da beleza do
cosmos. Também ele exige um princípio de explica-
ção, uma força capaz de dirigir o movimento, de
forma a assegurar as condições necessárias ao bem
de cada ser (finalidade imanente) e ao bem do univer-
so (finalidade extrínseca). Este princípio, chamado
finito porque é fonte de determinação e de harmonia,
por oposição à matéria, fonte de mudanças desorde-
nadas, é a participação no mundo das Idéias ".

O entendimento de Platão sobre essa "(...)participação


[do mundo físico] no mundo das Idéias" é assim sintetizado (p.
48): "A filosofia de Platão é dominada e unificada pela teoria
das IDÉIAS, que se pode sintetizar neste princípio. O objecto
próprio da ciência é o mundo real das Idéias de que o mundo
sensível não é mais que a sombra ou a cópia".

Por aí já se dá para notar (o que os estudiosos do assunto


vêm confirmando há séculos) que o sistema platônico, cujas sínteses
explicativas cósmico-metafísicas se estendem da página 49 à 81 de
THONNARD (1968), deu significativo passofilosóficoavante, em
relação às que lhe precederam, mas ainda não se desvencilhara
totalmente das configurações mítico-poéticas até então atribuídas
às diferentes dinâmicas cósmicas. Mesmo assim, importa destacar
que "O aspecto verdadeiro do método platônico é o seu espírito
metafísico: baseia-se na tendência forte para a unidade, na
51

necessidade de explicar o imperfeito pelo perfeito, o mutável


pelo imutável, o múltiplo pelo uno, que contém implicitamente
a expressão mais rica do princípio da causalidade" (p. 58).

Aristóteles (cuja monumental produção filosófica vem


sumariada em THONNARD (1968: p. 81-130) foi, em realidade,
quem levou a discussão sobre as dinâmicas cósmicás (ou dinâmicas
de equilibração entre estabilidade e instabilidade, identidade e
movimento/mutação, perfeição e imperfeição em relação a todos os
seres concretos que compõem o cosmos) ao seu apogeu.

Aristóteles viveu quase 20 anos como discípulo de Platão


pois matriculou-se em sua Academia em 367, com 17 anos de
idade, de lá saindo só após a morte do mestre em 348 ou 347.
Alguns anos depois, por volta de 334, fundou o seu próprio Liceu,
também na cidade de Atenas, assim denominado por situar-se nas
proximidades do templo de Apoio Lício. Pela descrição de
THONNARD, "(...) Aristóteles tinha respeito pelo mestre (...)
mas mantinha uma certa independência de pensamento (...) "(p.
82-83), em virtude de que (p. 85), por um lado, "Encarna na sua
personalidade como na sua doutrina moral, o ideal grego da
medida, do harmonioso equilíbrio das forças (...)" e, de outro,
"Não possuindo a imaginação poética e os voos audaciosos de
Platão (...) sobe passo aposso, firmando-se na ascensão no[do]
terreno firme da experiência ".

Mas, voltando à questão conceituai potência/


potencialidade -ainda a partir das mencionadas sínteses de
52

THONNARD-, importa frisar que tal enfoque ocupa espaço


privilegiado e estratégico na doutrina aristotélica, dado que as
discussões sobre mutabilidade, multiplicidade, imperfeição e finitude
do ser, em sua dimensão metafísico- universal, e dos seres
particulares -ou sensíveis/concretos- que compõem o cosmos não
haviam alcançado suporte lógico, inclusive no sistema platônico,
que satisfizesse o rigor racional de Aristóteles ou, segundo
THONNARD (p. 88):

"A investigação do ser apresentava-se aos antigos


sob a forma duma dupla antinomia a resolver. Havia
que conciliar, do lado do objecto, a realidade mutável
e múltipla com o ser uno e estável; do lado do sujeito,
o conhecimento sensível com o conhecimento
intelectual. Este duplo problema impõe-se com vigor
novo às reflexões de Aristóteles".

Essas duas questões foram equacionadas por Aristóteles


através de duas teorias, a da analogia e a do ato e potência,
assim sintetizadas por THONNARD (p. 89):

- "1°Analogia da idéia do ser. A nossa idéia de ser


não é, como pensavam Parmênides e Platão, um
conceito bem delimitado, que exprime uma
natureza absoluta, cuja inteligibilidade esgotaria
: ao contrário, leva-nos apenas ao conhecimento
das coisas em geral, inadequadamente; e é por
isso que pode realizar-se, sem perder a sua
definição [Definição no sentido lato, porque o ser,
no sentido estrito, é indefinível -segundo nota de
rodapé], em numerosos objectos e segundo modos
muito diversos; e ao mesmo tempo leva-nos
também a conhecer toda a realidade sem exepção,
numa vista de conjunto.

A precisão do lado do sujeito ou da idéia, exige


precisão exactamente correlativa do lado do
objecto ou das coisas, de sorte que as duas teorias
iluminam-se mutuamente".

- 2o Acto e potência. Com efeito, se toda a coisa


que existe realizasse perfeitamente o ser, e por
conseqüência os transcendentais que estão
indissolúvelmente ligados ao ser perfeito,
evidentemente que já não poderia haver nem
multiplicidade, nem diversidade de perfeição, nem
mudança. Portanto, os objectos sensíveis (este
homem, esta árvore, etc.) para serem o que são,
isto é múltiplos, variados, mutáveis, não realizam
o ser perfeitamente e plenamente, mas são
constituídos de dois princípios:

a) Um princípio de perfeição, que se chama Acto,


em virtude do qual os objectos participam do ser
e das perfeições em que se desdobra e
consequentemente possuem uma natureza
determinada : são o que são.
54

b) Um princípio de imperfeição, que se chama


Potência, em virtude do qual esses mesmos
objectos são limitados e assim podem dispor-se
em diversos graus de perfeição distinta; donde
procedem a multiplicidade e as mudanças, isto é a
aquisição de novas perfeições.

Para demonstrar a realidade da potência,


Aristóteles insiste sobretudo no argumento das
mudanças. Se por exemplo, uma estátua foi
esculpida no mármore, (...) o mármore tem uma
relação com a estátua que falta a outros objectos,
como seria uma massa de água ou areia : é a
capacidade de ser esculpida. Esta capacidade é
uma realidade evidente : é a potência".

Tal é a importância dessas duas teorias para o monumental


sistemafilosóficoerigido por Aristóteles que THONNARD assim
afirma, a elas se referindo: "Donde pode deduzir-se esta fórmula
mais precisa do sistema fundamental que dá unidade a todo o
aristotelismo: O objecto formal de nossa inteligência é o ser;
idéia análoga, que se realiza no acto e na potência" (p. 90).

Como toda a síntese histórica, acima exposta, sobre a


evolução das discussões filosóficas que deram origem à teoria
aristotélica denominada ato e potência foi baseada em um único
autor, F. J. TOHNNARD (1968 - versão portuguesa uo
Compêndio de história da filosofia, traduzido da 5a edição
francesa, com o Prólogo do autor à Ia edição datado de 21 de
55

novembro de 1940, entende-se oportuno o registro também das


sínteses de dois outros recentes autores-filósofos sobre a referida
teoria, no caso Jacques MARTTAIN (1882-1973), francês de
renome mundial, e Leonel FRANCA (1896-1948), brasileiro e
também muito conhecido no país pelos aficionados à filosofia:

- "O ato é o próprio ser no sentido próprio da


palavra quanto à plenitude assim significada, ou
ainda o acabado, o determinado ou o perfeito
como tal; quanto à potência, é o determinável, o
acabável ou perfectível como tal, não é um ser,
mas capacidade real de ser" (MARITAIN, 1978 :
p. 155).

- "Afim de explicar a mudança dos sêres, problema


tão discutido nas escolas anteriores, propõe
Aristóteles a sua teoria transcendente do ato e da
potência, teoria de primeira importância não só
em metafísica senão ainda emfísica, em psicologia
e até em lógica. Ato é perfeição, potência é
capacidade de perfeição. Tôda mudança é uma
passagem da potência ao ato, uma atualização de
uma potência anterior. Esta passagem chama-se
movimento, no sentido, mais amplo da palavra,
todos os seres na ordem física e na ordem
metafísica são compostos de potência e ato, exceto
um só o Ato Puro — Deus, objeto supremo da
filosofia primeira, por isso chamada também, por
56

Aristóteles, teologia" (FRANCA, 1967 : p. 56).

Agora, dois outros autores enfocam a relação do ser humano


e da educação com a dinâmica da teoria ato e potência:

- "É exatamente esta capacidade de atuar, operar,


de transformar a realidade de acordo com,
finalidades propostas pelo homem, à qual está
associada sua capacidade de refletir, que o faz ser
da práxis. Se a ação e reflexão, como constituintes
inseparáveis da práxis, são a maneira humana de
existir, isto não significa, contudo, que não estão
condicionadas, como se fossem absolutas, pela
realidade em que está o homem.

Assim, como não há homem sem mundo, nem


mundb sem homem, não pode haver reflexão e
ação fora da relação homem-realidade(...)"
(FREIRE, 1985 : p. 17).

- [A educação] "(...) éjustamente o processo melhor,


o processo mais eficiente de fazer passar as
potencialidades do homem que as possui em ato.
Por isso, a educação é a atualização das
potencialidades da pessoa humana, enquanto
pessoa" (TOBIAS, 1986: p. 83).

E quanto & potencial ou potencialidades do Brasil para o


desenvolvimento, no contexto dos países subdesenvolvidos do
mundo na década de 70, sobretudo os da África e do Oriente Médio,
57

AVILA (1987: p. 67) era, e ainda é (porque, uma vez consultado,


enfatizou que a proporcionalidade de distanciamento desses países
em relação aos ditos desenvolvidos muito pouco mudou de lá para
cá), de parecer que

"(•••) o Brasil, apesar de todos os seus problemas, é


um país privilegiado. Privilegiado porque tem
potencial, ou seja, porque conta com uma população
dotada de enorme capacidade latente para inverter
a situação de miséria, se apoiada e liderada para
isso. Privilegiado, porque, embora mergulhado a
fundo na prática do capitalismo sofisticadamente
elitista, tem um mínimo de infra-estrutura que o
interliga de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Porque
já se dá ao luxo de produzir tecnologia, em certas
áreas, que se aproxima dos respectivos padrões
internacionais (...).

O Brasil é um país privilegiado, em síntese, porque


tem uma infra-estrutura cientíjrco-tecnológica que
se situa além de qualquer parâmetro mediano do
'terceiro mundo' e porque tem um enorme potencial
de recursos humanos e naturais a ser racional e
equilibradamente estimulado, ' organizado e
aproveitado".
58

B) Comentário

Em vista do acima exposto, e seguindo a ordem inversa


da apontada logo no início pelo "Novo dicionário Aurélio ",
conclui-se que:

a) Potência é a real capacidade, porém em estado virtual, de todos


e quaisquer entes concretos, que compõem a natureza do
universo, de poderem ser -no todo, em parte ou de alguma forma-
algo que ainda não o são de fato.

b) Potencial é a idéia, mais ou menos explícita, que se tem a respeito


do cabedal dimensional de potências concernentes a elementos
concretos que compõem o universo, individualizada ou
agrupadamente de acordo com as naturezas e os tipos dos
mesmos. Segundo MICHAELIS (1998), o sufixo -al "Forma
adjetivos que exprimem idéia de pertença ou relação
(virginal), natureza (mortal), tirante a (negral) (...)".

c) Potencialidade é o termo que expressa a idéia de precisão,


mais ou menos aprimorada, de cada capacidade de ser, que
integra o dimensionamento potencial acima referido, em termos
de características, essência, qualidade, estado, situação e/ou
quantidade da mesma. Isto, em decorrência de que a significação
que o sufixo -dade (do -tas -tatis latino) ou -idade (do -itas -
itatis) confere ao adjetivo a que se acopla, no caso potencial
(daí a expressão dimensionamento potencial acima), é -na
interpretação de MICHAELIS (1998)- a de que "Forma
substantivos femininos abstratos que indicam
características, essência, qualidade (...) " e -na de ALMEIDA
59

(1999 : p. 394)- a de "(...) formar substantivo indicativo de


estado, situação, quantidade (...)".

d) Ato, como visto atrás, é o real estado no qual os seres são o que
são. Ou, em relação inversa à potência, é o resultante e real
estado da efetiva concretização da capacidade de cada ente
constituinte do universo ser o que de fato é.

Esse real estado de ser representa uma espécie de corte


na dinâmica realidade de todos os (e de cada um dos) entes ou
seres que compõem a natureza do universo, dado que a
concretizarão em ato de quaisquer capacidades de ser gera, por
vezes multiplica e até exponencia, novas potências ou
capacidades de ser, as quais potencializam os entes que as detêm
em estado de ato a se evoluírem, pela sua efetiva concretização,
também para novo(s) estado(s) de ato.

Surge, a esta altura, a necessidade da distinção conceituai


o n t r a r i / - » » y»Zi/Z/t/Z/j a T h p + o p
uniiC yuiOflL iLiiii&iA-tiÇ; w ijoiao /-In
VJU oc -t-%nl o i r f n r t â m
. ACÍL> ^ a i a v i a b iviii ÚIUU
muito freqüentemente usadas em linguagem corrente como
sinônimas, mas, no contexto aqui considerado, são fundamentalmente
diferentes. Potencialidade significa capacidade de ser de qualquer
ente, precisada de acordo com a conceituação acima, enquanto
condição é objeto ou fato, portanto ente concreto em estado de
ser em ato, mas também potencializado ou com potencialidade(s)
para interferir ativa e positivamente no sentido de que determinada(s)
pOi^ii^xauuaviu^o^ ul. uuu.u\aj ot-ivtoj uu t-iiLtv.3J >s<u<i^iii/ u a oituayavj
(te latência e deflagre(m) a evolução do(s) mesmo(s) rumo a novo(s)
estado(s) de serem ato.
60

Daí decorrem cinco conseqüências extremamente


importantes, em relação à evolução da capacidade de ser ou
potencialidade de determinado ente (qualquer um que integre
o universo) para novo(s) estado(s) de ser em ato:

a) A potencialidade é pressuposto essencial e a condição meio


ou elemento mediador-reator fundamental dessa evolução.

b) O processo de evolução de uma potencialidade para novo


estado de ser em ato, do ente a que se refere, implica
necessariamente que também a potencialidade mediadora-
reatora do ente (objeto ou fato) que estiver na posição de meio-
condição igualmente se concretize (isto é, tornando-o de fato
ente-mediador em ato), o que desde já evoca a idéia de
movimento/mudanças em cadeia.

c) O novo estado de ser resultante desse processo de movimento/


mudança por mediação-reação mantém maior ou menor grau
de identidade do estado de ser anterior do respectivo ente mas
também recebe, em maior ou menor escala, resíduos de
identidade do meio-reator constituído pela condição de
deflagração do movimento/mudança, daí decorrendo que o novo
estado de ser em ato (do respectivo ente) é de fato novo, porque
não mais se identifica integralmente nem com um e nem com
outro estados de ser anteriores; isso quer dizer, em outros termos,
que o novo estado de ser em ato, de todo e qualquer ente
integrante do universo, adquire identidade própria mas não
necessariamente perdendo os fios de sua relação de identidade
com os respectivos estados de ser anteriores, embora tais fios
61

se tornem cada vez mais tênues e sutis à medida que a cadeia de


movimento/mudanças se alonga, complexa e diversifica.

d) Mesmo os entes em novos estados de ser resultantes da dinmica


cadeia de movimento/mudanças mantendo osfiosde identidade
anteriormente mencionados, essa cadeia se expande, aprofunda,
especializa e/ou especifica em direções não linearmente positivo-
negativas (entendendo-se por direções linearmente positivas a da
imperfeição para a perfeição, a do mais imperfeito para o menos
imperfeito, a do menos perfeito para o mais perfeito; e negativas
as mesmas, porem em direções inversas). Isto, porque todos os
entes que compõem o universo são dotados de (ou adquirem)
enorme e diversificada gama de potencialidades, muitas dentre as
quais inclusive opostas (como as concernentes à saúde e à doença,
à expansão e à retração, à agregação e à desagregação, e assim
por diante), as quais se concretizam em estado de ser em ato, do
ente a que se refere, na linha da perfeição (do belo, harmonioso,
equilibrado, etc.) ou da imperfeição (do não belo, não harmonioso,
não equilibrado, etc.), dependendo: primeiro, da força de tendência
de cada potencialidade e, segundo, da eficacidade e eficiência
da(s) potencialidade(s) mediadora(s)-reatora(s) da(s)
condição(ões) que subsidiem a sua passagem da dimensão de
latência para a de ato no âmbito do ente a que pertença.

e) Todo o processo de movimento/mudanças no universo natural


se dinamiza, resulta, reconcatena, amplia e aprofunda no âmbito
e por força dessa contínua dialética de evolução dos seres que o
compõem.
62

C) Duas conclusões

A primeira se refere ao fato de que as teorias aristotélicas, a


da analogia do ser e a do ato e potência, vêm subsistindo a todos
os avanços do conhecimento no curso da história, não se
contradizendo inclusive com recentes e fundamentais teorias físicas
gerais de dinâmica cósmica, como a de que "Na natureza nada se
perde, nada se cria; tudo se transforma " do qmmico-físico francês
Antoine Laurent de LAVOISIER (1743-1794) e a da
"Relatividade " de Albert EINSTEIN (1879-1955), físico alemão
naturalizado americano durante a Segunda Guerra Mundial.

A segunda diz respeito ao trato das potencialidades no


âmbito do desenvolvimento local. Como se trata de tema que
poderia ocupar páginas e páginas de ponderações, entendeu-se
que o mais consentâneo não é discuti-las aqui, deixando-as à
discussão de pessoas ou grupos interessados sem se descuidarem,
isto sim, de alguns aspetos referenciais de fundo, como:

- I o - o autêntico conceito de desenvolvimento local implica


necessariamente a detecção e explicitação tanto das estritas
potencialidades locais de desenvolvimento quanto de
condições ou meios, endógenos e exógenos à dimensão local,
evidentemente também com potencialidades de subsidiarem
contínuo processo de evolução das aludidas potencialidades
locais de desenvolvimento do estado de latencia para o ue ser
em ato da respectiva localidade, aqui entendida como ente
coletivo, mas efetivamente constituída por entes particulares, como
63

pessoas, animais, componentes ambientais, etc., ou seja, a


localidade é uma entidade piramidal com base formada por entes
particulares e vértice por ente coletivizado em torno de
sentimentos, objetivos, problemas, características, necessidades,
conveniências e/ou aspirações comuns;

- 2 o - O autêntico desenvolvimento local só se efetivará se, no


âmbito da respectiva localidade, a evolução das potenciali-
dades-condições (concernentes a meios e recursos, naturais ou
artificiais) se posicionar estrategicamente como subsídio
mediador-reator da evolução das potencialidades de desenvol-
vimento da comunidade localizada como alvo e razão de ser
centrais, dado que transformações de potenciais naturais (ou
artificiais) em pontos turísticos, fontes de energia, etc., não
significam em si mesmos desenvolvimento locah o conceito de
local implica o de comunidade localizada, a qual, em verdade,
é que deve assumir progressivamente os rumos, as rédeas, os
compromissos e as responsabilidades concernentes ao
desenvolvimento de toda a localidade, com a ajuda de condições-
meios tanto internas quanto externas, aí incluídos os chamados
agentes de desenvolvimento.
64

4.4.7-AGENTE

A) Subsídios

Sentidos do vocábulo agente, no "Novo dicionário


Aurélio", mais relacionados ao contexto conceituai de
desenvolvimento local. " 1. Que opera, agencia, age. (...) 4.
Aquele que trata de negócios por conta alheia. (...) 9. Autor,
causador,promotor. (...) 11. Motor,propulsor, impulsor (...)".

Pelo viés etimológico, a relação mais estreita que existe entre


o termo agente com outros se restringe aos dois últimos verbos do
item "I" acima: agir e agenciar. Isto, porque agir é versão quase
literal do iníinitivo verbal latino agem, evidentemente com significação
idêntica nas duas línguas, e a palavra agente, nas formas tanto de
particípio presente quanto de substantivo, em português, é grafada
e tem o mesmo sentido -aquele que age, ou aquele que está
agindo oü, ainda, aquele que está em ação- do particípio presente
agens e também substantivo agens-tis do verbo agere. Por outra,
o parentesco etimológico de agente com agenciar não é tão extenso
e intrínseco quanto com agir, mas o é também direto e real, visto
que agenciar procede da mesma raiz agens, enquanto particípio
presente d& agere, significando, pelo "Novo dicionário Aurélio''' :
"1. Tratar de (negócios) como representante ou agente (...). 2.
Tratar ou cuidar de; lutar por; cavar (...). 3. Esforçar-se por
obter; diligenciar (...). 4. Solicitar, requerer, promover (...)".

No que respeita à função e à importância dafigurado agente


65

no contexto do desenvolvimento local, NÓVOA (1992 : p. 30)


ressalta:

para que a mobilização dos recursos e


potencialidades locais seja efectiva, levando à
promoção de actividades criadoras de empregos,
importa dotar as comunidades locais ou as regiões
com meios de apoio institucional,(público ou
privado) ao desenvolvimento. Os agentes de
desenvolvimento constituem um dos meios ao dispor
das colectividades tanto mais eficazes quanto mais
consistente e específica for a sua formação para o
desenvolvimento ".

Observa-se certa preferência em autores de língua


espanhola, ou português de Portugal, pelo uso do termo actores
em vez de agentes, ao caracterizarem a função dos mesmos no
âmbito do desenvolvimento local, naturalmente com o intuito
de acentuar a diferença entre aqueles que de fato atuam (actores)
e aqueles que apenas prestam serviços de intermediação entre
pessoas, instituições, entidades, etc., como no caso dos agentes
de viagens, seguros, transações imobiliárias, representações de todo
tipo, e congêneres.

O registro dessa diferença é extremamente oportuno. No


entanto, importa frisar que atores, em português do Brasil, e
mesmo actores, em espanhol ou português de Portugal, ambos
significando aqueles que de fato atuam ou, pelo "Novo dicionário
Aurélio", "(...) Agente(s) do ato", ainda não quer dizer
66

necessariamente aqueles que concreta e ativamente se engajam nos


reais dinamismos dos fenômenos, o do desenvolvimento local por
exemplo, dado que o seu sentido mais corrente é o daqueles que
de fato atuam, mas apenas representando situações reais ou
ficticiamente criadas, conforme o segundo sentido de ator no
mesmo dicionário: "(...) Aquele que representa em peças
teatrais, filmes e outros espetáculos; comediante, intérprete;
artista, astro (...)".

B) Comentário

Face às ponderações acima, parece mais consentâneo o


emprego do termo agente ao invés de ator, na língua portuguesa
corrente no Brasil, para designar pessoa que exerça ou pretenda
exercer função estratégica de implementação do desenvolvimen-
to local, não importando que seja de fora ou de dentro da
comunidade localizada a que se destinem os seus préstimos.
Mesmo assim, não basta entender o agente apenas como
aquele que efetivamente age, visto que, no contexto do
desenvolvimento local, o verdadeiro agente é aquele que
efetivamente age simultaneamente agenciando, ou seja, é aquele
cujo agir envolve intrinsecamente sempre algum tipo de
intermediação entre pessoas e pessoas, realidades e realidades,
problemas e problemas, oportunidades e oportunidades,
potencialidades e condições de dentro e de fora da comunidade,
que possam contribuir fundamentalmente no sentido de a
comunidade, ela mesma, se tornar processualmente agente-
67

agenciadora de seu próprio desenvolvimento.

Portanto, e diferentemente da função do agente meramente


intermediador-como no caso do corretor de seguros ou imóveis-,
o agente de desenvolvimento local de fato age (do verbo agir),
mas com finalidade, função e compromisso exclusivos de
agenciador/intermediador (do verbo agenciar) na direção
comunidade —>desenvolvimento (e não na inversa:
desenvolvimento—>comunidade), ou seja, trabalhando e
influenciando para que a comunidade mesma desabroche
capacidades, competências e habilidades de desenvolvimento, sem
a imédiatista pretensão de querer levar o desenvolvimento para a
comunidade ou de querer erigir iniciativas desenvolvimentistas na
comunidade, que não fluam de seu real estágio de cultura, condições
e política de progresso coletivo. Por essa ótica, pode-se entender,
sem exagero, que o autêntico sentido de agente-agenciador/
intermediador, aqui considerado, não é senão o de pedagogo
itnvir* n^i wi/r/^i/íiVn 7W//iifíi?/i rtri Ao voyivrtlyjirriOYitri Inml
\Jt I l-i/íl t,lrÍi\A>l tis l/tt / » IU.ÍV t*/l/ tuiy WM^M-^^fl/ l»i/ M/V >3 C" t í- V KS V Vfr»# »»\S l/iy WVC

em relação a todo o seu agir na comunidade localizada, a exemplo


da metodologia maiêutica que Sócrates aplicava em seus discípulos.
Isto quer dizer que a razão de ser de sua atuação, no todo ou em
parte do universo comunitário local, será sempre e em última análise
a da contínua e permanente formação educacional da comunidade
para o desenvolvimento e não a de tomar por si mesmo iniciativas
de desenvolvimento que brotem como cogumelos à sombra e à
deriva das peculiaridades, capacidades, competências e habilidades
da própria comunidade interessada.
68

5 - TENTATIVA DE COMPREENSÃO SOBRE O QUE


SIGNIFICA DESENVOLVIMENTO LOCAL

Considerando tudo o que foi tratado no anterior item 4, e


nos termos formulados por ÁVILA (2000a: p. 68), acrescido de
alguns complementos, inseridos e sublinhados no texto da citação
abaixo pelo próprio autor, o Grupo de Estudo adere à posição de
que:

"(...) O 'NÚCLEO CONCEITUAL' DO DESENVOL-


VIMENTO LOCAL CONSISTE NO EFETIVO
DESABROCHAMENTO -A PARTIR DO ROMPI-
MENTO DE AMARRAS QUE PRENDAM AS
PESSOAS EM SEUS STATUS OUO DE VIDA- DAS
CAPACIDADES, COMPETÊNCIAS E HABILIDA-
DES DE UMA 'COMUNIDADE DEFINIDA'
(PORTANTO COM INTERESSES COMUNS E
SITUADA EM (...) ESPAÇO TERRITORIALMENTE
DELIMITADO. COM IDENTIDADE SOCIAL E
HISTÓRICA), NO SENTIDO DE ELA MESMA
-MEDIANTE ATIVA COLABORAÇÃO DE AGENTES
EXTERNOS E INTERNOS- INCREMENTAR A
CULTURA DA SOLIDARIEDADE EM SEU MEIO E
SE TORNAR PAULATINAMENTE APTA A
AGENCIAR iDISCERNINDO E ASSUMINDO
DENTRE RUMOS ALTERNATIVOS DE
REORIENTACÃO DO SEU PRESENTE E DE SUA
69

EVOLUÇÃO PARA O FUTURO AQUELES QUE SE


LHE APRESENTEM MAIS CONSENTÂNEOS) E
GERENCIAR (DIAGNOSTICAR, TOMAR
DECISÕES, AGIR, AVALIAR, CONTROLAR, ETC.)
O APROVEITAMENTO DOS POTENCIAIS
PRÓPRIOS -OU CABEDAIS DE POTENCIALIDA-
DES PECULIARES À LOCALIDADE-. ASSIM
COMO A 'METABOLIZA ÇÃ O' COMUNITÁRIA DE
INSUMOS E INVESTIMENTOS PÚBLICOS E
PRIVADOS EXTERNOS, VISANDO À
PROCESSUAL BUSCA DE SOLUÇÕES PARA OS
PROBLEMAS, NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES,
DE TODA ORDEM E NATUREZA, QUE MAIS
DIRETA E COTIDIANAMENTE LHE DIZEM
RESPEITO".

Ao enfocar a comunidade como sujeito do desenvolvimento


de toda a localidade, a partir do e capitaneado pelo desenvolvimento
dela mesma, esse "núcleo conceituai", ao contrário de se
contrapor, essencializa e precisa outros conceitos genericamente
descritivos de desenvolvimento local, como os oito transcritos
por GONZÁLEZ (1998) e sobretudo o de CARPIO MARTÍN
(1999), abaixo, que também adota e complementa o do CES
(Consejo Econômico y Social) da União Européia (evidentemente
com a ressalva comentada em seguida à citação):

"El desarrollo local es el proceso reactivador de la


economia y dinamizador de la sociedad local,
70

mediante el aprovechamiento eficiente de los


recursos endógenos existentes en una determinada
zona, capaz de estimulary diversificar su crecimiento
econômico, crear empleo y mejorar la calidad de vida
de la comunidad local, siendo el resultado de un
compromiso por el que se entiende el espado como
lugar de solidaridad activa, lo que implica câmbios
de actitudes y comportamientos de grupos e
indivíduos", envolvendo, segundo CARPIO MARTÍN,
"(-•-) conjunto de procesos, comunidad definida, el
territorio. 'Io local' como espadopluridimensional,
con una identidad social e histórica, un espado para
la convivência y el empleo, un espacio con una
comunidad de interés para potenciar el desarrollo ".

A ressalva, aludida acima, se refere justamente ao começo


da conceituação: "El desarrollo local es el proceso reactivador
de la economia y dinamizador de la sociedad local, mediante
(...) ". Pelo referido "núcleo conceituai", formulado por ÁVILA e
apropriado pelo Grupo de Estudo, assim como pelo que se analisou
sobre o significado de desenvolvimento em 4.1, a lógica dessa
frase deveria ser considerada em sentido inverso (e com alguns
complementos essenciais), os de que o desenvolvimento local é
o processo dinamizador da comunidade local a fim de que a
mesma reative a respectiva economia e todo o seu progresso
de qualidade de vida sócio-cultural e meio-ambiental,
mediante (...)•
71

A frase original espelhafielmentea ideologia do capitalismo


moderno, ensejando a interpretação de que a reativação da
economia é pressuposto para a dinamização da sociedade, o que
de fato ocorre mas não significando necessariamente
desenvolvimento da própria sociedade, até porque as regras que
ditam os rumos e a natureza do desenvolvimento econômico são
impessoalizadas, hoje inclusive globalizadas em termos mundiais e
macro-regionais (União Européia, NAFTA, MERCOSUL, etc.).
Em realidade, tais regras se derivam do velho mas sempre renovado
princípio bicentenário de Adam Smith (1723-1799), segundo o qual
a dialética relação entre oferta (produção) e demanda (mercado/
consumo) é que constitui a essência do fundamento de base para
toda a dinâmica do desenvolvimento econômico moderno.

Pelo ângulo dessa regra de jogo, pressupõem-se, de um


lado, a possibilidade de desenvolvimento econômico sem
desenvolvimento sócio-cultural da população envolvida, dada a
impessoalização acima referida, e, de outro, que todo o progresso
sócio-cultural que decorra do desenvolvimento econômico como
pré-condição também se subordine à sua lógica de
despersonalização, mesmo em se tratando de coletividade, a
exemplo da configurada pela comunidade local em questão.

Em contrapartida, o desenvolvimento local constitui


esperançosa novidade exatamente porque talvez represente, no
momento, a única proposta (quiçáfilosofiae ideologia, em breve)
de progresso integral, em nível concretamente local, capaz de
despertar e impulsionar a própria comunidade localizada a se
72

desenvolver social, cultural, econômica e ecossistemicamente, na


condição de sujeito e não de mero objeto de seu próprio progresso,
inclusive no sentido de se relacionar equilibradamente com forças
sociais, econômicas, culturais e ambientais que lhe influenciem ou
pressionem de fora para dentro, metabolizando, rejeitando ou
sabendo administrar o que delas se possa aproveitar, se deva rejeitar
ou se constitua imperativo/desafio de sadia convivência.

Outra questão que merece especial atenção é a da simplista


ênfase que se vem dando no sentido de que desenvolvimento no
(ou para ó) local com a participação da respectiva comunidade
é, conceitualmente, o mesmo que desenvolvimento local. ÁVILA
(2000a: p. 69) não pensa assim, pois afirma sem vacilar que:

"(...) há diferença fundamental entre os significados


de 'desenvolvimento local' e 'desenvolvimento no
local', mesmo que cora a 'participação da
comunidade'. Diria até que se trata de conceitos
contrários (não contraditórios):

- desenvolvimento no local: quaisquer agentes


externos se dirigem à 'comunidade localizada'
para promover as melhorias de suas condições e
qualidade de vida, com a 'participação ativa' da
mesma;

- desenvolvimento local: a comunidade mesma


de sob rocha suas capacidades, competências e
habilidades de agenciamento e gestão das próprias
condições e qualidade de vida, 'metabolizando'
73

comunitariamente as participações efetivamente


contríbutivas de quaisquer agentes externos.

No primeiro caso, os agentes externos são os


promotores do desenvolvimento e a comunidade
apenas se envolve participando. No segundo, a
própria comunidade assume o agenciamento do seu
desenvolvimento e os agentes externos são os que se
envolvem participando (...)".

Há uma razão que até explica -mas não justifica- a


equivocada correspondência das duas maneiras de entender
desenvolvimento acima referidas. É a de se imaginar que todas
as comunidades localizadas, independentemente se de países do
hemisfério norte ou sul do planeta, se encontram no mesmo nível-
piso de experiência, vivência e amadurecimento histórico,
cultural e social. Ilustrando, por mais recôndita que seja uma
comunidade localizada nos países da Europa ocidental, esse seu
nível-piso será evidentemente muito superior se comparado com
suas homônimas da América Latina, da China, da índia, bem
como da esmagadora maioria das ex-colônias da África e do
Oriente Médio, por exemplo. Aliás, todas as comunidades
localizadas do mundo se diferenciam entre si em relação a esse
nível-piso, não importando se de um mesmo país ou região,
motivo pelo qual o próprio significado de 'participação
r*r\rrmnitcírtíj' oconmp pntintapfipc nro i/íânft^oo Aro «atv*^*trlao a
vvAiiMlUWlXM UUUWIUV WáWLUyvTK/U V/l H lUWUUVUUj V/l U 1/UI V/V 1 VlUlí V

ora completamente diversificadas de uma para outra comunidade.

Um exemplo típico de equivocada 'participação


74

comunitária' em iniciativas de desenvolvimento tipicamente de fora


para dentro de muitos locais brasileiros, sobretudo nas décadas
de 60 e 70, foi o da implantação de indústrias em vários municípios
sem nenhuma visão sobre seus efeitos de médio e longo prazos. As
populações localizadas -em municípios e/ou bairros- de modo geral
não só apoiaram como também atéfinanciaram(via cessão de áreas
físicas, criação de infra-estruturas e redução de impostos) a
implantação de parques industriais e indústrias isoladas, cujos
devastadores impactos na qualidade de vida humana e no processo
de equilíbrio ambiental só começaram a ser percebidos e avaliados
localmente pelo menos uma dezena de anos após.

Em tese, a 'participação' de uma comunidade localizada


em iniciativas de desenvolvimento que lhe advenham de fora segue
a lógica de preponderância envolvendo os seguintes fatores: I o -
seu nível-piso de experiência, vivência e amadurecimento histórico,
cultural e social; 2 o - as naturezas, os tipos e os graus das
necessidades que lhe afetam ou oprimem; 3o - os graus de seus
estados de ânimo e/ou pretensão quanto a status e dinamismo do
ou no horizonte local; 4o - o poder de persuasão das estratégias de
abordagem (marketing) de quem ou quantos levam propostas de
desenvolvimento para esse tipo de comunidade. A mencionada lógica
de preponderância resulta do equilíbrio ou desequilíbrio entre o Io
fator, de um lado, e o conjunto dos demais (2o, 3 o e 4o) do outro,
ou seja, resgatando a figura da velha balança de dois pratos:
coloquem-se num dos pratos o I o fator e no segundo os outros três
restantes e observe-se a relação de equilíbrio; a oscilação de 'peso'
75

do primeiro prato em contraposição ao segundo indicará sempre o


grau de autenticidade e relevância da 'participação comunitária'
em qualquer iniciativa de desenvolvimento que lhe seja proposta de
fora para dentro, podendo variar do grau-quase nulo ao grau-quase
máximo passível de verificação na trajetória vertical do primeiro
prato. Isso diz respeito à possibilidade de haver 'participações'
excelentes, muito-boas, boas, regulares e ruins, algumas das quais
até no sentido (figurado) de a comunidade 'participar' agora da
construção da fogueira que lhe queimará depois, como no caso da
ingênua mas real 'participação comunitária' no processo de
implantação de muitas indústrias nas décadas acima mencionadas,
como se esse aporte de 'desenvolvimento' no local de per si já
representasse algo com o autêntico sentido de desenvolvimento
local propriamente dito.

O que se conclui é que o verdadeiro desenvolvimento local


implica a formação e educação da própria comunidade em matéria
de cultura, capacidades, competências e habilidades que permitam
a ela mesma, evidentemente com a ajuda de todos os agentes e
fatores externos - e não o inverso-, agencie e gerencie todo o
processo de desenvolvimento da respectiva localidade, como se
frisou no "núcleo conceituai" situado no início deste item 5, ao
invés de apenas 'participar' de propostas ou iniciativas de
desenvolvimento que lhe venham de fora. O desenvolvimento local
só se configurará como autêntico se resultar dos dinamismos e ritmos
do progresso cultural da comunidade que cobre a localidade a que
se refere, inclusive no que respeita a saber como discernir e
implementar o sadio desenvolvimento que se compatibilize com suas
76

peculiaridades e catalise suas potencialidades.

Por fim, o Grupo de Estudo encarece a leitura também de


todo o artigo de ÁVILA intitulado "Pressupostos para formação
educacional em desenvolvimento local" (INTERAÇÕES - Revista
Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande-MS :
Editora UCDB, v. 1, n. 1, p. 63-76, set., 2000), do qual foram
extraídas três extensas citações, uma em 4.4.3 e duas neste item, e
no qual várias outras questões diretamente concernentes à
compreensão do que significa desenvolvimento local são
analisadas.

6 - CARACTERÍSTICAS INERENTES À LÓGICA DO


PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

Os dois itens anteriores foram dedicados à análise de


conceitos selecionados como relevantes para a compreensão mais
ampla e profunda possível do que se entende ou, melhor, se
deva entender por autêntico desenvolvimento local. Neste, o
intento primordial se limita a ressaltar, etentarexplicitar, algumas
das mais relevantes características implicadas pela própria lógica
(portanto a ela inerentes) do processo de desenvolvimento local,
evidentemente conceituado como no item 5 atrás. Dentre essas
características, chamam atenção as que se seguem:
77

6.1 - PROCESSO AO MESMO TEMPO DEMOCRÁTICO


E DEMOCRATIZANTE

O processo de desenvolvimento local é democrático por


natureza e sua implementação forma e exercita continuamente
a comunidade localizada para a democracia. Quando se referiu
atrás que uma dentre as propriedades essenciais desse processo
diz respeito ao fato de a comunidade local se tornar sujeito, e
não mero objeto, de seu próprio desenvolvimento, envolvendo
sua ativa e construtiva relação ecossistêmica com tudo o que
compõe a localidade, aí já se embutiram as idéias de que:

- primeiro, a comunidade se capacita -inclusive com a ajuda


de agentes externos- para a busca de sua auto-explicitação
(detectando e conhecendo de fato o que ela é em termos de
forças sociais, dinamismos ambientais, aspirações comuns,
problemas prioritários, bem como condições, dificuldades e
resistências manifestas e/ou latentes, tanto as concernentes à
localidade quanto as de fora que nela influenciem) e
formulação dos rumos e trajetórias intencionais do
desenvolvimento que de fato e mais apropriadamente lhe
convém, em conjunto ou setorializadamente;

- segundo, simultaneamente ou ato-contínuo, a comunidade


tem(terá) de investir (capacitar-se) e agir (exercitar
habilidades) nos campos da automobilização, da auto-
organização funcional e da articulada atuação de suas
lideranças, visando o integrado, somativo, cooperativo e
78

corresponsável trabalho de todos os seus membros, a fim de


que a comunidade mesma consiga paulatina mas constantemente
edificar e sempre mais aperfeiçoar a(s) ponte(s) que lhe
permitam(m) transpor-se de suas virtuais intenções às reais
conquistas do desenvolvimento local.

No que concerne ao compromisso de assumirmos, nós


mesmos, a responsabilidade pela transformação de nossa própria
realidade (o que sem dúvida alguma também se aplica a qualquer
comunidade localizada como ente coletivo) e quanto à concepção
da democracia que esse compromisso envolve, TORO (1997)
assim se expressa:

- "Não aceitar a responsabilidade pela realidade


em que vivemos é, ao mesmo tempo, nos
desobrigarmos da tarefa de transformá-la,
colocando na mão do outro a possibilidade de agir.
S

Enão assumirmos nosso destino, nao nos sentimos


responsáveis por ele, porque não nos sentimos
capazes de alterá-lo. A atitude decorrente dessas
visões é sempre defatalismo ou de subserviência,
nunca uma atitude transformadora" (p. 15).
- "A Democracia é uma ordem social que se caracte-
riza pelo fato de suas leis e suas normas serem cons-
truídas pelos mesmos que as vão cumprir e proteger.
A democracia é uma ordem auto-fundada. (...) Na
democracia, o público, o que convém e interessa a
todos, se constrói e se fortalece na sociedade civil.
79

A força do público e das instituições públicas tem


origem no fato de que eles sintetizam e representam
os interesses, contraditórios ou não, de todos os
setores da sociedade" (p. 17-18).

Conclui-se, portanto, que sem democracia sequer se poderia


falar em desenvolvimento local, dado que sua dimensão lógica
emana diretamente do lastro teórico de austera concepção
democrática e sua dinâmica operacional cria, amplia e aprofunda
maneiras de cultivo e consolidação da democracia também como
meio eficaz e eficiente para a constante melhoria tanto da vida
em comunidades localizadas quanto dos entomos ecossistêmicos
em que as mesmas se inserem.

6.2 - PROCESSO DE CUNHO ENDÓGENO EM DUPLA


ACEPÇÃO

A primeira acepção se refere ao processo simultanea-


mente como teoria e metodologia de endogeinazação,
interiorização ou capilarização, nos âmbitos e seios das próprias
comunidades localizadas, de capacidades, competências e
habilidades de concepção, agenciamento e gerenciamento do
desenvolvimento das realidades dos locais em que se situam,
começando pelo autodesenvolvimento.

A segunda diz respeito ao desenvolvimento já como efeito


ou produto oriundo desse processo. Se o processo efetivamente
funcionar como de endogeneização, os resultados dele decorrentes
80

emergirão de dentro (no interior de) para fora da respectiva


comunidade-localidade, configurando-se efetivamente como de
caráter endógeno ou "Originado no interior de ou por fatores
internos " segundo o "Novo dicionário Aurélio ".

Por outra, ambas as acepções de maneira alguma deixam


margem a se interpretar que a endogeneidade do desenvolvimento
local o dimensione como estratégia de fechamento ou isolamento
comunitário-local, como muito apropriadamente observa NÓVOA
(1992 :p. 20):

"O desenvolvimento endógeno não significa,


todavia, que as comunidades locais se isolem em
relação aos processos exteriores ou de âmbito
nacional; pelo contrário, as interacções com o meio
envolvente tenderão a reforçar-se, no quadro de uma
internalização (ou de uma localização) desses
processos. O desenvolvimento endógeno tende a
apropriar-se dos contributos dos actores e a
configurá-los no contexto local, dando-lhes uma
forma específica e adaptada às características e às
necessidades das populações".

Ao contrário de conduzir a fechamento ou isolamento


comunitário-local, a endogeneidade, no âmbito do desenvolvimento
local, se constitui das capacidades, competências e habilidades
cníranhadas no interior das comunidades-Iocalidades para que elas
mesmas captem tanto as suas próprias potencialidades e condições
quanto todos os possíveis tipos de apoio e condições à disposição
81

ou disponíveis de agências e agentes exteriores: primeiro, digerindo-


os, isto é, associando-os e neles provocando reações que liberem
seus ingredientes nutritivos de geração, manutenção ou
aperfeiçoamento de progresso; ato-contínuo, metabolizando os
ditos ingredientes nutritivos, ou seja, transformando-os em elementos
energéticos de melhoria quantitativo-qualitativa em todas as
dimensões de vida e dinâmicas de equilíbrio e harmonização quer
das comunidades quer das localidades situadas em seus domínios
de ação e responsabilidade espacial.

Portanto, quanto mais endógenas forem as capacidades,


competências e habilidades de digestão e metablolização acima
mencionadas, tanto melhor será a performance de aproveitamento
dos relacionamentos e convivências multilaterais, das próprias
comunidades-localidades entre si e das comunidades-localidades
com não importa que outras instâncias societário-espaciais que
apareçam nos radares das suas trajetórias de progresso social,
cultural, econômico e ecossistêmico. Na contramão disso, as
comunidades-localidades que não cultivam e detêm essas
propriedades endógenas são exatamente as que se condenam a
isolamento ou fatal esfacelamento: por um lado, a falta de condições
de consciente e maduro relacionamento entre grupos humanos
termina sempre em distanciamento ourivalidadeentre eles; por
outro, grupo humano que engole sem digerir e metabolizar tudo
o que outros lhe ofereçam, justo por não ter capacidade,
competência e habilidade de tirar adequado proveito do que lhe é
oferecido, acaba sendo por eles engolido (daí o provérbio "cresça
e apareça": mas por dentro e por fora, não só por fora e nem só
82

por dentro). Em outros termos, ÁVILA (1999: p. 26) se refere à


necessidade do desenvolvimento èndógeno em todo o espaço do
território brasileiro nos seguintes termos:

"No contexto do capitalismo globalizador em que


nos encontramos, ou irrompemos de dentro para fora
nossa decolagem para o desenvolvimento em todas
as suas dimensões, evidentemente incluindo-se a
econômica, para convivermos e competirmos em
nível de certa igualdade com os países atualmente
mais desenvolvidos, ou por eles seremos sugados
através dos próprios impuxos que a globalização
vem exercendo na complexa, porém universal e
extremamente ágil, cadeia de relacionamentos
interativos, uns construtivos e outros tremendamente
desagregadores e destrutivos dos elos societários
mais fracos e impotentes de nela se equilibrarem.
Para tanto, há que se somarem e necessariamente
interagirem estratégias de dinâmicas exógenas e
endógenas, visto que a primeira sem a segunda se
afiguraria a mera caiação desenvolvimentista (...) e
a segunda sem a primeira funcionaria como
mecanismo de puro isolacionismo societário ".

Se se prestar bem atenção, no fundo o caráter essencial-


mente endógeno do desenvolvimento local é que o distingue
fundamentalmente de todas as demais propostas e estratégias de
desenvolvimento voltado a comunidades-localidades até agora
83

inventadas e reinventadas. Todas são de uma ou outra forma adeptas


da ingerência intervencionista de modelos, métodos e resultados. À
exceção das propostas antigas e modernas declaradamente
colonialistas, para as quais o intervencionismo é toda a regra de
jogo, inclusive as de tendências assistencialista e promocionalista
se preocupam com o desenvolvimento da ou na comunidade-
localidade, mas a ênfase fundamental de a comunidade-local mesma
se desenvolver para de fato se desenvolver enquanto comunidade-
localidade não é colocado como ponto central de apoio de seus
eixos ideológico-operacionais, como o é no "núcleo conceituai"
(cfr. anterior item 5) do desenvolvimento local.

Portanto, distinga-se intervenção, como "1. Ato de


intervir(...)" e intervir significando "1. Tomar parte
voluntariamente; meter-se de permeio, virou colocar-se entre,
por iniciativa própria; ingerir-se (...)", de intervencionismo, cujo
sufixo "-ismo" se usa "(...), geralmente, em tom jocoso, ou
depreciativo ", estendendo a outras situações os sentidos básicos
que o "Novo dicionário Aurélio" confere a esse termo: "1.
Doutrina ou política que preconiza a intervenção dum Estado
nos negócios internos ou particulares de outro(s). 2. A prática
dessa doutrina ou política", no caso às comunidades-localidades
em questão. A razão de ser dessa distinção é a de que a própria
concepção do processo de desenvolvimento local enquanto
dinâmica àe. enrlnafnfi7»rãr\ Hp. f c n m n p . t ê n c i a s e
— r - — d — — —r » Í

habilidades (sobre o que se falou um pouco atrás) não só comporta


como na maioria das vezes até depende de intervenção (não
84

intervencionismo) de agências e agentes externos, referidos no


subitem 4.4.7. Trata-se, pois, de influência devida porque os motivo
e objetivo da intervenção não são outros que a endogeneização
mesma das capacidades, competências e habilidades enfatizadas
no "núcleo conceituai" (item 5).

6.3 - PROCESSO QUE IMPLICA DESCENTRALIZAÇÕES


E REDIMENSIONA CENTRALIZAÇÕES

Ouve-se com freqüência que o desenvolvimento local é


descentralizado. Em realidade, tal afirmação carece de coerência
lógica, se aplicada à natureza do autêntico desenvolvimento local,
de cunho essencialmente endógeno. Isto, por duas razões: primeira,
essa é a lógica do desenvolvimento no ou para o local levado por
agências e/ou agentes externos às comunidades-localidades, com
ou sem a participação das mesmas (cfr. item 5); segunda, o desenvol-
vimento local propriamente dito não se caracteriza nem como
'descentralizado' ('com autonomia' em relação ao centro a que se
vincula) e nem centralizado ('sem autonomia' emrelação ao centro
a que se vincula), mas, sim, como 'centrado', ou seja, 'localizado
no centro' das próprias comunidades-localidades (cfr. 6.2).

Entretanto, se comparado todo o arcabouço teórico do


processo d& desenvolvimento local com as maneiras vigentes de
se pensar e operacionalizar desenvolvimento no âmbito de
comunidades-localidades, sobretudo nos ou para os países que dele
85

mais necessitam, suapassagem da teoria àprática implica, sim, alguns


tipos básicos de descentralizações, concernentes -sobretudo no
caso brasileiro- tanto a capacidades e competências de
agenciamento e gestão local do desenvolvimento quanto a poder
de decisão. ÁVILA (1993 : p. 25-26) dá uma idéia panorâmica
das descentralizações implicadas:

"Inversamente ao que muitos ainda pensam, não se


centralizaram, ao longo de toda a história do Brasil,
só recursos financeiros e poder de decisão.
Centralizaram-se, também e principalmente,
capacidade e competência de gestão eprodução. (...).
Sem interiorização de capacidade, competência e
poder de gestão e produção, no âmbito de unidades
geo-humanas da base populacional, a formulação de
leis e normas desenvolvimentistas de nada valem e as
edições de planos e 'pacotes' de desenvolvimento, de
contenção de inflação, defreio da corrupção, etc, não
passam de engodos de manipulação da inteligência
descrente e do bolso já esvaziado do cidadão comum.
Bem ao contrário, povo efetivamente mobilizado,
liderado e produtivo não só encontra saídas para seus
problemas e perspectivas para suas aspirações como
também gera superavits que pagarão dívidas e
proporcionarão bem-estar. (,..)Époraíque se entende
esse tipo de municipalização [à época já considerada,
para o âmbito de comunidades municipais, na acepção
86

do que hoje se denomina desenvolvimento local]: não


como coisa restrita à educação e ao ensino e, sim,
como estratégia de desenvolvimento endógeno em
todos os setores, inclusive nos de formação da
cidadania e da consolidação da nação".

Esquematizando um pouco a questão, as descentralizações


implicadas pelo desenvolvimento local gravitam em torno de dois
eixos básicos de referência, o das capacidades e o das competências:

- O eixo das capacidades diz respeito à interiorização de saberes


no nível das comunidades-locais: saber motivar, saber liderar,
saber organizar, saber relacionar (interna e externamente), saber
diagnosticar (sobretudo potencialidades e condições internas e
externas), saber discernir, saber comparar, saber decidir, saber
priorizar, saber programar, saber agir, saber administrar, saber
avaliar, etc., etc.. Conforme a citação acima, tudo isso foi e
continua sendo centralizado pelas contínuas políticas de
concentração dás expectativas de oportunidades (emprego,
educação, infra-estrutura urbana, lazer, cultura, e assim por diante)
em centros urbanos geográfica e poffico-administrativamente
privilegiados, funcionando como "buracos negros" que sugam
vorazmente inclusive capacidades e iniciativas humanas das
regiões interioranas, mesmo que para inchá-los de favelas e
"ocupações" ou "invasões" de pessoas, grupos de famílias
inteiras, em prédios desocupados e em terrenos baldios,
principalmente públicos. Em questão de poucos meses antes de
julho/2000, formou-se na periferia de Campinas-SP, ao lado da
87

Via Anhangüera, uma "ocupação " com cerca de duzentos mil


"sem tetos ", a maior da América Latina segundo informações
da vizinhança.

- Em torno do eixo das competências gravitam duas categorias de


descentralizações, a que concerne à interiorização do saber-fazer
ou domínio técnico de operacionalização dos saberes, supra
referidos, no seio das próprias comunidades-localidades e a que
diz respeito à explicitação jurisdicional no sentido de cada
comunidade-localidade de fato poder-fazer-o-que-sabe.
evidentemente nos limites do desenvolvimento local em seus
espaço e território. No fundo, esta segunda categoria implica a
redefinição de poderes e respectivas funções no âmbito da
hierarquia pública da sociedade, no caso a brasileira, visando a
que cada nível dessa hierarquia cumpra de fato e de direito o que
lhe compete, sem que um invada e tumultue decisória e
funcionalmente as áreas dos outros. Pelo contrário, em se tratando
por exemplo.de União, Estados e Municípios (entendidos como
comunidades-localidades com dinâmicas espaciais e limites
territoriais próprios, pelo menos teoricamente sob a liderança e
coordenação dos respectivos Poderes Públicos, bem como de
comunidades-localidades distritais ou de bairros no espaço-
território de cada Município), que todos tenham suas
competências decisório-operacionais definidas, e respeitadas, de
modo que as de cima motivem, apoiem, coordenem,
supervisionem c inclusive cobrem o bom desempenho das debaixo
sem transformá-las em espécie de "empreiteiras " suas, enquanto
meras executoras do que vem definido através de vias diretas e
88

indiretas dos andares superiores da hierarquia, visto que esta tem


sido a praxe corrente no curso de toda a história brasileira.

No entanto, ao tempo em que a própria viabilização do


processo de desenvolvimento local carece de descentralizações,
como as acima mencionadas, ao se consolidar ele mesmo amaina e
redimensiona, paulatinamente, o curso das centralizações no qual
se contextue, dado que influencia o equilíbrio relacionai das
comunidades-localidades com as respectivas instâncias ou agências
centrais superiores de acordo, genérico-figurativamente, com a lei
da atração universal, do físico Isaac Newton (1642-1727),
segundo a qual todos os corpos materiais se atraem mutuamente
nas razões direta de suas massas e inversa do quadrado de suas
distâncias. Sem entrar no detalhe matemático da razão inversa
do quadrado de suas distâncias, o sentido geral é o de que quanto
mais massa tiver determinado corpo, tanto mais atrairá o que tiver
menos massa e estiver mais perto.

Aplicado ao caso das comunidades-localidades, em direção


lógica invertida, isso quer dizer -e de fato o é na realidade- que
quanto mais massa (mesmo que figurativamente, em termos de
capacidades, competências e habilidades de automobilização,
organização, definição, gerenciamento e resolução de problemas,
necessidades e aspirações locais comunitárias) tiver determinada
comunidade-localidade tanto mais se distanciará -melhor, se
emancipará- dos laços centralizadores da(s) instância(s) ou
agência(s) central(ais) que a polarizam, gerando dinâmica
reequilibração de sadio, co-responsável e cada vez mais proveitoso
89

relacionamento hierárquico entre elas: embora as comunidades-


localidades sejam partes de todos (no contexto de Município, Estado
e União Federativa, por exemplo) e, portanto, jamais se excluam
da equilibrada atração contextual dos todos que lhes são
hierarquicamente superiores e mais abrangentes, vão
progressivamente rompendo os liames do parasitismo centralizador,
por eles impostos, à medida que conquistam e realmente exercitam
suas capacidades, competências e habilidades endógenas de se
desenvolverem localmente.

Ilustrando como funcionam as coisas numa comunidade já


em bom estágio endógeno de desenvolvimento, o Secretário de
Estado da Educação de Santa Catarina, ao relatar experiências de
boa municipalização (não só na área da educação) em seu Estado
(no Encontro sobre Municipalização do Ensino promovido pela
Secretaria de Educação Básica-SEB/MEC, de 04 a 06/12/89 em
Florianópolis-SC, do qual participou o Coordenador deste Grupo
de Estudo) assim se pronunciou, referindo-se à comunidade
municipal de Blumenau: se a Ilha de Santa Catarina fosse ocupada
por Blumenau (ao invés de Florianópolis), esta seria uma verdadeira
"Ilha da Fantasia porque a comunidade de Blumenau sabe -
dizia ele- o que quer e não aceita políticas e ingerências de cima
para baixo no Município; lá se cultiva a cultura, de cunho germânico,
de que todos os componentes de uma família têm o dever de
trabalhar, ou seja, da mesma forma que os adultos trabalham em
seus afazeres diários, as crianças sabem que a dedicação à escola é
o trabalho delas; o governo estadual não chega exigindo do
90

Município isto ou aquilo, ele é que diz o quê precisa, com quê a
comunidade local participa e como o governo estadual pode-deve
participar; lá, poucos recursos disponibilizados à comunidade
municipal rendem muito e tudo funciona, frisou o Secretário, até em
momentos de extrema dificuldade, aludindo-se ao fato de os estragos
catastróficos ocasionados por demolidora enchente, cerca de dois
anos antes, já estarem sanados àquela época.

6.4-OUTRAS CARACTERÍSTICAS TAMBÉM


INERENTES À NATUREZA DO PROCESSO

Trata-se de características tão óbvias, em virtude do que


até aqui se tratou, que dispensam análises mais aprofundadas. São
as de que o desenvolvimento local se configura como processo
que:

- finca as raízes eprojeta as perspectivas da auto-sustentabilidade


do desenvolvimento no âmbito das comunidades-localidades;

- requer tratamento profissionalizado (tecnicamente concebido,


planejado e operacionalizado) tanto da parte das instâncias ou
agências e agentes externos quanto das pessoas e entidades
internas às comunidades-localidades que nele se envolvam
também como agências ou agentes não importa de que nível e
em que função;
- se planeja e implementa integradamente, ou seja, de modo
cooperativo, coparticipativo e co-responsável;
91

- consiste em investimento comunitário-local de médio e longo


prazos, tendo em vista que sua implementação pressupõe a
abertura de brechas nos diques da atual cultura imediatista do
desenvolvimento que não se infiltra no âmago das pessoas e
respectivas comunidades-localidades para de lá brotar e jorrar -
com a adequada e preciosa colaboração externa- como no caso
da criança que, ajudada pelo obstetra, rompe o seio materno
para, aos poucos e ainda pedagogicamente amparada pela família
e pela sociedade, assumir a permanente tarefa da real conquista
e edificação de sua vida.

Insinua-se, por vezes, que desenvolvimento local,


desenvolvimento sustentável e desenvolvimento integrado são
modalidades ou estratégias diferentes de desenvolvimento, a
exemplo do que ocorre com o "DLIS - Desenvolvimento Local
Integrado e Sustentável" do "Prog rama Cotnunidade Ativei
inserido no "Programa Comunidade Solidária", coordenado pela
Prof Dr3 Ruth Cardoso, esposa do Presidente Fernando Henrique
Cardoso, como se se tratasse de três-em-um. É até possível
conceituar separadamente desenvolvimento integrado e
desenvolvimento sustentável. Entretanto, esse tipo de corte
conceituai não cabe para a junção à moda do três-em-um. acima,
pela simples razão de que os caracteres integrado e sustentável
já são explícita ou implicitamente inerentes à essência conceituai do
próprio desenvolvimento local, desde que evidentemente não
confundido com desenvolvimento no ou para o local, como se
viu no item 5.
92

7 - "SE UTOPIA, UMA BOA UTOPIA"

Tomando emprestado o título acima e o texto de ÁVILA


(1996: p. 192), no tocante à hipótese de que o desenvolvimento
local seja tachado de UTOPIA,

"(...) observa-se que tal termo encerra dois sentidos


possíveis: um pejorativo (depreciativo), comumente
utilizado na linguagem corrente, e outro
extremamente positivo quando inserido em contexto
técnico de prospecção (planejamento). Ambos os
sentidos são oriundos da própria etimologia grega
da palavra utopia: OU (prefixo de negação ou
A

exclusão) + TOP (raiz do substantivo TOPOS que


significa lugar) + ÍA (sufixo nominal que designa
'qualidade' ou 'estado de coisas' ao termo que ajuda
a compor). Resulta daí, portanto, que utopia pode
se referir: a) a um estado imaginário ou fantasioso
de coisas sem condições de se situarem ou localizarem
no tempo e no espaço (sentido pejorativo-
depreciativo) e b) a um estado bom, desejado e por
vezes até necessário de coisas ainda não situadas no
tempo e no espaço, mas possíveis de se situarem tão
logo ou à medida que surjam ou se criem as
condições para tanto (sentido positivo) ".
Já se pode prever, sem mistério algum, que os dois sentidos,
às letras a e b supra, serão aplicados, também por duas categorias
93

de analistas, a todo o teor conceituai do desenvolvimento local


enfocado neste estudo.

Aplicarão o sentido b os analistas que de fato considerarem


como autêntica estratégia de desenvolvimento o próprio trabalho
planejado, portanto profissionalizado, de conscientização da
sociedade, sobretudo de suas instâncias e poderes constituídos, e
de investimento na formação e exercitação das comunidades-
localidades para que elas mesmas se capacitem e se tornem
competentes para se desenvolverem, com a colaboração de
instâncias, agências e agentes inclusive externos, mas sempre na
condição de agentes-sujeito do seu próprio processo de
desenvolvimento.

Ao contrário, adotarão o sentido a os analistas que


entenderem o referido teor como arcabouço teórico de solução
imediatista do desenvolvimento das comunidades-localidades, sob
a alegação de que faltam todas as condições infra-estruturais e
contextuais para que tal teoria se evolua para a prática, dentre as
quais se destacando a inexistência de vontade política, de cultura
de mobilização e organização comunitário-local, de agências e
agentes preparados, de recursos sobretudofinanceiros,e assim por
diante. Essa categoria de analistas normalmente interpreta estratégias
de desenvolvimento como receitas milagrosas de cura rápida dos
males culturais, sociais e materiais das clientelas-alvo a que se
destinem, no caso as comunidades-localidades.

Resguardadas as respectivas natureza e proporções, o


trabalho de desenvolvimento local se assemelha ao da preparação
94

de uma casa residencial: se a casa já estiver coberta e rebocada,


basta cuidar dos acabamentos; se estiver ainda na fase de fundação,
é necessário erguer as paredes, cobrir, rebocar e cuidar dos
acabamentos; e no caso de que a construção propriamente dita
não esteja sequer começada, então a preparação da boa casa
residencial terá que se iniciar por aí, do começo mesmo. Isso quer
dizer que (dependendo de Hemisfério, Continente, País, Estado,
Município e bairro ou equivalentes) cada comunidade-localidade
tem seu estágio próprio de performance cultural, infra-estrutural e
contextual que constitui areferênciade partida para o respectivo
desenvolvimento local, mesmo havendo a previsão de resultados
rnínimos-comuns a um grupo de comunidades-localidades em termos
de curto, médio e longo prazos.

Em verdade, os ritmos do desenvolvimento local se


diversificarão de uma comunidade-localidade para outra,
dependendo fundamentalmente da maior ou menor agilidade de
endogeneização dos saberes e respectivas competências (as de
efetivamente saber-fazer e poder fazer o que se sabe) no âmbito de
cada comunidade-localidade, como visto em 6.3.

Há, entretanto, um fator acelerador de ritmo aue oode e


deve ser continuamente aproveitado, ofenômeno-contaminação.
A experiência mostra que todo início de trabalho que envolve forma-
ção, mobilização e organização de grupos humanos é complexo,
lento e difícil; mas, logo que começa a funcionar, os efeitos positivos
gerados em um grupo contaminam outros, principalmente os mais
vizinhos, provocando consciência de diferença, esperança de
95

possibilidades semelhantes e, por vezes, até ânimo de concorrência.


Eis aí um fator que -reitera-se- pode e deve ser ampla e estrategica-
mente aproveitado nos planos e programas de desenvolvimento em
escalas espaciais-territoriais maiores (as de Município, Estado,
Macro-Região e País, por exemplo) com base ou a partir do desen-
volvimento local, este evidentemente centrado nas comunidades-
localidades com peculiaridades próprias em termos de dinâmica
espacial (cfr. 4.4.1), dimensão territorial (cfr. 4.4.2), equilíbrio entre
relacionamentos dos tipos primário e secundário (cfr. 4.4.3),
identidade social e histórica (cfr. 4.4.4), perspectivas de coesão
solidária (cfr. 4.4.5), potencialidades e condições locais (cfr. 4.4,6),
assim como de dinamismos agenciadores (cfr. 4.4.7).

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101

INFORMAÇÕES SOBRE OS COMPONENTES DO


GRUPO DE ESTUDO

- Vicente Fideles de Ávila: doutorado em Política e


Programação do Desenvolvimento pela Université de Paris V
Panthéon-Sorbonne, aposentou-se como professor (em Cursos
de Graduação e Programas de Pós-Graduação) pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS e ora integra
os corpos docentes dos Programas de Mestrado em Educação
e em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom
Bosco-UCDB.

- Izaura Maria Moura Campos, Maria Wilma Casanova


Rosa, Regina de Fátima F. C. Ferro e Robinson Jorge
Paulitsch são mestrandos do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco-
UCDB, de Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul.

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