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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A CARTOGRAFIA PARA LER E INTERPRETAR A CIDADE DE
MARINGÁ-PR
Ivania Maria da Silva¹
Marta Luzia de Souza ²

Resumo: O artigo tem como objetivo explanar sobre a prática de Cartografia em sala de aula. Foi
utilizado o método de análise qualitativa, valorizando a interpretação, o desempenho e as ações na
realização das atividades propostas. Sabemos da importância de formar sujeitos participantes na
sociedade e a necessidade de atitudes investigativas em busca de mudanças, a linguagem verbal e
não verbal que são ferramentas de auxílio para a cidadania. Constatamos com a pesquisa que o
aluno ao compreender a linguagem da Cartografia será capaz de orientar-se no meio em que atua
como sujeito, podendo utilizar o aprendizado cartográfico na transformação do espaço geográfico
local e além dele. O estudo possibilitou ao aluno a compreensão de interpretar as diferentes
representações do espaço da cidade de Maringá, com a utilização de mapas, fotografias aéreas e
imagens de satélites, além do estudo do meio real. Concluímos que o desenvolvimento gradativo das
atividades cartográficas durante os meses de fevereiro a maio e o término das mesmas no mês de
junho de 2014, foi relevante na construção do cidadão diante da compreensão da realidade.

Palavras-chave: Linguagem Cartográfica. Espaço Geográfico. Leitura visual. Aprendizagem.

1. Introdução
Ler e interpretar o espaço geográfico com a Cartografia é fundamental. Assim
como, desenvolver atividades em sala de aula relacionadas ao meio de vivência
desperta no aluno o interesse e o compromisso com a representação do espaço.
A cartografia é uma linguagem necessária desde o início do Ensino
Fundamental até o final do Ensino Médio.
O Projeto de Intervenção Pedagógica elaborado na disciplina de Geografia
para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, do Estado do Paraná, foi
pensado e direcionado ao ensino/aprendizagem escolar e implementado com alunos
do 1º ano do Ensino Médio. Com a aplicação do mesmo, foi possível desenvolver
estudos geográficos sobre conceitos e uso de documentos cartográficos do
Município de Maringá. O manuseio do material didático pelo aluno como: fotografias
aéreas, mapas e imagens, o estudo e a interpretação dos mesmos por meio de
atividades, foram objetivos alcançados na implementação. Entendemos que as
ações de comparar, analisar e interpretar possibilita a formação de sujeitos
participativos para estudar e compreender o ambiente.
Sabemos que é preciso ir além da observação, da percepção do espaço
geográfico, o processo de leitura cartográfica precisa ser vivenciado para além do
1 - Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná –ivaniageo@bol.com.br
2 – Professora Orientadora PDE, Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá- PR –UEM-mlsouza@uem.br
nível elementar de ter a informação de um ponto, deve possibilitar a leitura global
dos elementos do espaço representado e para um verdadeiro aprendizado é preciso
que o aluno faça parte do processo, conheça o espaço a ser pesquisado. A meta é a
formação daquele que investiga, que tem autonomia intelectual para construir o
conhecimento e utilizá-lo como ferramenta em suas reinvindicações.
A escola está voltada às novas realidades, atenta ao mundo econômico,
político e cultural. O professor deve preparar o aluno para viver num mundo que se
caracteriza por ações complexas e conflitos de valores, avanços tecnológicos e
interdependência global, é preciso instigar o aluno a pensar, questionar e buscar
respostas sobre sua cidade, sua região.
Diante de uma dinâmica social relacionada aos aspectos de interesse coletivo
ou individual, o estudante precisa estar atualizado e preparado para fazer sua leitura
de mundo. Toda e qualquer linguagem de domínio do mesmo, será essencial para
uma compreensão dos acontecimentos, sejam esses próximos ou distantes. É
necessário que o ensino de Cartografia seja incluído nas escolas como linguagem
de acesso ao conhecimento para aproximar as crianças, os jovens e os adultos de
imagens, figuras e mapas.

2. Linguagem Verbal e Linguagem Visual: uma integração necessária


Não se pode entender o ensino de Geografia como uma disciplina dividida em
ensino da leitura da linguagem verbal e o ensino da leitura da linguagem
cartográfica, pois, ensinar Geografia envolve a prática paralela das linguagens.
Alievi e Veiga (2010, p.41), apoiam a importância de passos metodológicos
que enfatizam uma alfabetização que permita aos alunos uma leitura das
representações gráficas consoantes à vivência de cada um como produtores de
mapas, assim como pensadores do significado que as representações cartográficas
trazem junto ao conhecimento do espaço geográfico que os mesmos adquiriram ao
longo da vivencia escolar.

O professor deve ser capaz de sensibilizar seus alunos, fazendo com que
os mesmos procurem entender as dinâmicas existentes no espaço que os
rodeia, pensando sempre na área de abrangência geográfica que faz parte
do cotidiano dos alunos, juntamente com o grau de abstração que os
mesmos possuem na sua idade atual. A ideia é procurar fazer com que o
aluno incentive seu cérebro a armazenar informações de maneira clara, o
que facilitará sua aprendizagem em períodos de ensino posteriores.
(COSTA, F. R. E LIMA, F. A. F., 2012, p. 110).
As Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio dizem que para a
relevância da linguagem cartográfica na sala de aula, o aluno deve:

Compreender a Geografia do local em que se vive significa conhecer e


apreender intelectualmente os conceitos e as categorias, tais como: o lugar,
a paisagem, o fluxo de pessoas e mercadorias, as áreas de lazer, os fenô-
menos e objetos existentes no espaço urbano ou rural. (BRASIL, 2006,p.
50).

3. Procedimentos Metodológicos
Os recursos utilizados no trabalho de implementação em sala de aula foram
textos informativos entre outros gêneros, fotografias aéreas, mapas e imagens
aéreas. Iniciamos com a organização de duplas de alunos para analisar as imagens.
Durante as aulas os alunos conheceram, analisaram e discutiram o material, fizeram
a leitura e a interpretação de imagens. (Organograma 1).

Organograma 1: A Linguagem Cartográfica na formação do cidadão

Leitura da Fotografia
)
Paisagem

observação
APRENDIZAGEM
CIDADANIA
Mudanças
Localização
Espacialidade
LER O Construção do
ESPAÇO Compromisso conhecimento
s
Identificação

Avaliação
Desenho
Compreensão

atividades
Mapa

Orientação Leitura
Escrita

Organograma 1: Organização SILVA, Ivania Maria da ( setembro de 2014)


O organograma mostra os passos dentro de um estudo de Cartografia que
leva o educando à construção do conhecimento para formar a cidadania.
Diante dos objetivos do Projeto de Intervenção Pedagógica, dos cursos e
das palestras de orientação, da elaboração da Produção Didático-Pedagógica e do
Grupo de Trabalho em Rede–GTR que constituem atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional–PDE, a implementação com o aluno possibilitou a
articulação da linguagem verbal e a linguagem visual valorizando a linguagem dos
símbolos.
A linguagem cartográfica cria uma nova fase de ensino/aprendizagem para o
aluno adulto, em que o desenvolvimento da habilidade de ler e compreender o
espaço e a sua representação, contribuí para o entendimento espacial dos fatos
sociais e ambientais com mais clareza.
Richter (2011, p.32) diz que “A Cartografia foi interpretada como uma
linguagem competente para especializar os fenômenos sociais e naturais, sendo
esta uma das principais características da representação gráfica – a questão
espacial”.
Certamente, todos os alunos, enquanto estudantes da Educação Básica, já
participaram de atividades escolares lendo mapas, imagens ou figuras, como um
recurso didático, porém às vezes, é um conhecimento superficial, faltando uma
análise aprofundada do verdadeiro objetivo desses recursos didáticos dentro da
Cartografia.
Na exposição do Projeto de Implementação percebemos o interesse e a
apreensão dos alunos quanto ao tema. É fato que, diante do entusiasmo do
professor em ensinar, se esquece que em um grupo de alunos, há possibilidades de
termos o comprometido e o interessado em aprender e ao mesmo tempo, o aluno
com pouco ou nenhum interesse no tema em discussão. No entanto, o otimismo
quanto ao desempenho do aluno diante do conteúdo, supera as hipóteses negativas
das aulas práticas, previstas na teoria.
Iniciamos com a formação dos grupos e a seguir a distribuição de fotografias
aéreas, por entender que elas auxiliam na localização em campo, permite fazer um
estudo preliminar da área a ser pesquisa.
As atividades propostas contemplaram momentos em que os alunos
interagiram mais intensamente nos grupos e momentos de trabalho individual. O
trabalho em grupo propicia a interação que favorece a aprendizagem significativa,
cooperação e solidariedade. Nesse processo, são evidenciados diferentes modos de
pensamento sobre ideias surgidas nas discussões, o que permite o desenvolvimento
de habilidades de raciocínio, como investigação, inferência, reflexão e
argumentação. O trabalho em grupo gera um ambiente que se caracteriza pela
proposição, investigação e exploração de diferentes ideias por parte dos alunos,
bem como interação entre eles, socialização de procedimentos encontrados para
solucionar uma questão e a troca de informações.
Castellar e Vilhena (2010, p. 81) dizem que o uso da fotografia aérea deve ser
o ponto de partida para um fenômeno que se quer estudar em Geografia.
Durante as aulas percebeu-se a necessidade dos conceitos da Cartografia,
muitos pareciam estar observando as imagens da cidade pela primeira vez e não
sabiam como analisar e compreender o espaço representado.
A prática de observar a cidade de Maringá na fotografia aérea permitiu a
leitura e a compreensão da realidade. A imagem foi utilizada no papel e projetada
para visualização em outra proporção.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs colocam que os desenhos, as
fotografias, as maquetes, as plantas, os mapas, as imagens de satélites, as figuras,
as tabelas, os jogos, enfim, tudo que representa a linguagem visual, pode ser
utilizado na continuidade da alfabetização cartográfica, sempre considerando o
interesse da criança e do jovem pelas imagens.
As aulas foram organizadas para que os alunos desenvolvessem a habilidade
de percepção e de interpretação, leitura das representações e ainda a capacidade
de análise de uma paisagem. É importante saber como o aluno enxerga sua cidade,
o que ele vê no trajeto diário da casa para o colégio, ou qualquer outra atividade que
realiza na cidade.
Para Callai (2009, p., 127) "Um modo interessante de estudar a cidade é fazer
a leitura que cada um tem deste espaço que nos acolhe, nos abriga, mas que nos
impõe regras".
A apresentação de imagens atuais e antigas da cidade de Maringá-PR atraiu
alunos curiosos, mas, interessados e com tentativas de leitura para reconhecer o
espaço já percorrido e conhecido. Momentos de estudo que trouxeram certezas que
o aluno jovem tem deficiência na aprendizagem quanto aos elementos da
Cartografia.
A figura 1 mostra as alunas analisando a imagem (visual) e interpretando com
a leitura verbal para realizar a atividade proposta.

Figura 1: O trabalho com as imagens da cidade de Maringá-PR

Fonte: SILVA, Ivania Maria da, (maio de 2014)

Cada fotografia fez com que surgissem os questionamentos, ruas de terra?


Vasta vegetação de floresta ao redor da cidade? Espaço da rodoviária? Casas
Pernambucanas? A admiração e a comparação foram importantes e ao mesmo
tempo o reconhecimento de lugares já percorridos.
Para Silva (2005, p. 19), ao trabalhar com representações, o investigador tem
a possibilidade de visualizar e interpretar a realidade em diferentes escalas e
contextos. Neste sentido, o ambiente pode ser observado, conhecido, cartografado,
analisado e discutido por crianças, jovens e adultos em qualquer nível de
escolaridade. Essa prática contribui para o avanço da Linguagem Cartográfica.
Santos (1988, p., 26), diz que “a produção do espaço é resultado da ação dos
homens, agindo sobre o próprio espaço, através dos objetos naturais e artificiais”.
Pensando nessas palavras questionamos, os alunos são capazes de ler a
história da cidade através das imagens, são capazes de ler na imagem a ação
contínua do homem sobre o espaço de estudo e de vivência? Entendemos que não
era possível obter respostas naquele momento, era necessário levar o trabalho à
frente, levar o aluno a discutir seu espaço, analisar diferentes atividades de
transformação, pensar e analisar com outros recursos didáticos esse espaço.

A leitura, portanto de qualquer espaço social exige que o aluno seja


colocado em contato com as diferentes “marcas” que expressam a própria
constituição daquele meio, ou seja: os arquivos, as memórias e a própria
paisagem (os objetos materiais) que, tratados cada qual pela linguagem
apropriada, encaminham o aluno a iniciação dos métodos próprios tanto ao
historiador quanto ao geógrafo.
(PONTUSCHKA, 1991, p.46)

Na sequência de atividades apresentamos aos alunos diferentes mapas do


município de Maringá (Figuras 2, 3 e 4).

Figura 2:Planta da cidade jardim de Mari

Fonte: Acervo Maringá Histórico


Figura 2:Planta da cidade jardim de Maringá -1945
http://maringahistorica.blogspot.com.br/2010/11/mapa-original-de-maringa.html

Figura 3: Carta Topográfica de Maringá


52º00' W 400 400 Km E
23º15' S

51º50' W
23º30' S
Figura 3: Carta Topográfica de Maringá - PR ( Folha -SF-22Y-D-II-3 - 1972)
Fonte: http//:mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases- Cartográficas/cartas.
Figura 4: Mapa Base Maringá – (2000)
52º00’W
23º15’S

Figura 4: Mapa Base Maringá – (2000) 51º50’W


23º30’S
Fonte: Prefeitura Municipal de Maringá - PR

Iniciamos com a planta, um projeto de cidade jardim que o Engenheiro Jorge


de Macedo Vieira fez na década de 1940 (Figura 2).
Colocamos que existem diversas formas de representação do espaço. Elas
retratam o mesmo lugar, mas de forma diferente. Os alunos localizaram elementos
naturais, fizeram comparações e identificação dos elementos cartográficos. Foi
visível no semblante de todos a emoção de conhecer Maringá de anos atrás.

Para Martinelli,(2011) cartografia temática em seu âmbito específico tem


uma função tríplice: registrar e tratar dados, bem como revelar informações
neles seladas. Seu principal propósito consiste em ressaltar as três relações
fundamentais entre conceitos previamente definidos: diversidade ≠), ordem
(O),e proporcionalidade(Q). (MARTINELLI,2011, p.30)

Passini (1994) confirma que ensinar a ler mapas ou alfabetizar para a leitura
cartográfica tem implicações mais profundas para a Educação que simplesmente ser
um processo metodológico de ensino de Geografia.
O espaço sempre foi representado e interpretado pelo homem por meio dos
desenhos, fotografias e mapas, que chamamos de Linguagem Cartográfica.
A Cartografia foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar
os espaços territoriais e organizar sua ocupação, solucionar problemas urbanos, de
segurança, saúde pública, turismo e auxiliar as navegações.
As autoras, Almeida e Passini (1998) afirmam que a compreensão do mapa
por si mesmo já traz uma mudança qualitativamente superior na capacidade do
aluno pensar o espaço. Ler mapas significa dominar esse sistema semiótico, essa
linguagem cartográfica; é um modelo de comunicação visual, o mapa é de suma
importância para que todos que se interessem por deslocamentos mais racionais,
pela compreensão da distribuição e organização dos espaços e possam se informar
e se utilizar deste modelo para ter uma visão de conjunto (ALMEIDA e PASSINI,
1998, p.,16).
As figuras levaram o aluno a sentir necessidade de compreensão, pois,
ficaram surpresos com os diferentes mapas representando a mesma região em
diferentes períodos da sociedade, foi preciso decodificar.
Para Simielli (1999, p.99) a leitura de mapas pelos alunos do ensino
fundamental e médio implica na constituição de um trabalho em três níveis:
1. Localização e analise - o aluno localiza e analisa um determinado fenômeno no
mapa.
2. Correlação- ele correlaciona duas, três ou mais ocorrências.
3. Síntese - o aluno analisa e correlaciona aquele espaço.
Foi com dificuldades que realizaram as atividades de localização e orientação
espacial, a leitura da escala foi feita com mediação (Figura 5)

Figura 5: Alunos em sala de aula trabalhando com mapas

Fonte: SILVA, Ivania Maria da – ( maio de 2014)

Fonte: SILVA, Ivania Maria da, (maio de 2014)


A figura 5 mostra o grupo de alunos observando os mapas. A atividade com
os mapas foi realizada primeiramente com as plantas no chão e depois colocada nas
carteiras. Os alunos fizeram a leitura das ruas e avenidas (comparando como era e
como está), elementos cartográficos (localizando a planta que não apresentava
elementos cartográficos) redes hidrográficas (localizando a hidrografia), mudanças
físicas (para compreender a organização do espaço) e além das informações
explicitas fizeram relações com as informações implícitas como forma de ocupação
do solo, meio ambiente e aumento ou crescimento da cidade.
O uso de tecnologia fez-se necessário na localização e definição de alguns
conceitos cartográficos como os pontos cardeais, paralelas, visão vertical e visão
oblíqua, isto contribuiu para deixar claro que o aluno na era digital confia em seus
aparelhos e a efetiva aprendizagem passa a ser secundária, uma vez que hoje
temos as informações rápidas e em qualquer lugar.
Neste sentido as imagens de satélites são de grande importância na
elaboração de estudos urbanos, rurais, ambientais, entre outros. A partir dessas
imagens é possível estabelecer comparações entre dados de uma determinada área
em um tempo passado com informações recentes, do espaço geográfico.
Foi com esta atividade que percebemos que há situações de barreiras ao
acesso à internet, o avanço tecnológico e a utilização deste recurso ainda não
atingem a todos. São razões diversas que impedem o uso da tecnologia como:
econômicas, sociais e às vezes religiosas ou culturais. Muitas vezes não se nota
que a aprendizagem depende de oportunidades que os professores ofertam.
Mesmo tendo nas escolas laboratórios de informática para o acesso de todos
os alunos é possível que por um motivo ou outro o acesso foi negado, ou deixou de
ser ofertado. Foi com a aula de informática que observamos a felicidade estampada
no rosto de alunos que estavam pela primeira vez fazendo uso do computador
(internet) e navegando por lugares da cidade que tem sua história de vida.

O avanço das tecnologias trouxe profundas reformulações quanto à


formação de educadores. Ao invés de simples transmissores, os
professores passaram a ser estimuladores dos alunos para que construam
seu conhecimento, buscando nos recursos tecnológicos uma nova forma
de aprendizagem, mais dinâmica, construtiva, mudando dessa forma o
conceito de educar.( SANTOS E PEREIRA FILHO, 2010, p.2)

No curso do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) entre os professores/alunos


foi discutido que mudar o conceito de educar significa pensar em transformações na
escola e na sociedade de modo geral, as aulas dinâmicas com uso de recursos
diferentes e atuais atraem o aluno/sujeito, este busca para si o aprendizado
sistematizado e é fundamental esta ação para o sujeito. Todos concordaram com
essa discussão e avaliaram o trabalho de Linguagem Cartográfica como um tema
positivo, necessário e viável para as escolas. Houve diferentes considerações e
sugestões, que vieram ao encontro da prática em sala de aula. As socializações
entre os professores/alunos foram ricas, dando suporte para concretizar o trabalho
de pesquisa com o aluno.
O trabalho com tecnologia propiciou estudos para além da sala de aula, com
o objetivo de desenvolver e consolidar a prática do olhar geográfico permitindo aos
alunos vivenciarem (experimento) o que foi abordado em sala de aula, a leitura
espacial (utilizando os instrumentos cartográficos e os aspectos da natureza),
questionamentos da realidade com o raciocínio geográfico.
A figura 6, compreende partes da zonas 05, 06 e 07 da cidade de Maringá. No
centro encontra-se marcado o espaço observado e analisado pelos alunos (Zona 06).

Figura 6: Imagem de satélite Maringá – PR

Fonte: Google Earth (Acesso 10/10/2013)

A aula de campo foi no entorno do Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga,
com visita ao Colégio Santa Cruz. Compreendemos que foi relevante a saída de sala
de aula, percebemos a observação do aluno de forma mais direta e concentrada, a
discussão sobre elementos da paisagem, as comparações com os objetos na
organização do espaço geográfico de alguns anos atrás e o que tem hoje na
paisagem, perceberam as transformações ocorridas no espaço.

Ao passo que adentramos o Colégio Santa Cruz, a organização e o espaço


chamou a atenção dos alunos, houve murmurinhos, questionamentos e interesse
pela história do colégio, no entanto, todos, ao saírem do espaço interno do colégio,
procuraram pelo Painel “Os Pioneiros,” obra feita em 2000 pelo artista plástico, Éder
Portalha que retrata a história de Maringá (Figura 7). Foi o momento de observação
mais detalhada com comentários, discussões e questionamentos acerca da
interpretação.

Figura 7 : Parte do Painel de Eder Portalha de 2000, parede do Colégio Santa Cruz.

Fonte: SILVA, Ivania Maria – (maio de 2014).

Neste itinerário os grupos discutiram a imagem do painel, mas, a


interpretação só pode ser realizada com o conhecimento da história da cidade, da
história do artista que foi contada no interior do colégio Santa Cruz. Esse momento
de concentração propiciou a explicação rápida sobre a formação da cidade e o
objetivo do artista com a obra. A leitura visual da direita para a esquerda do painel
confundiu alguns, a sequência das figuras fez pensar, voltar, recomeçar a
interpretação. Percebemos que o aluno reconheceu apenas a Catedral entalhada no
alto do canto direito da obra.
Bertrand (1972) diz que qualquer interferência na natureza pelo homem, deve
ser acompanhada de uma pesquisa que leve a um diagnóstico, ou seja um
conhecimento do quadro natural onde se vai atuar, como também em espaços já
utilizados pelo homem, pois avaliar o que está ocorrendo nestes ambientes é de
grande importância para o estudo de Geografia.
Ainda Bertrand:

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados.


É uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação
dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos
que, reagindo dialéticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável, em perpetua evolução (BERTRAND, 1972,
Cap. 13, p..2).

A paisagem ao redor da escola foi trabalhada através de observação direta,


um passo importante para que os elementos fossem percebidos em sua disposição:
relações espaciais topológicas (perto, longe, vizinho, não vizinho), relações
espaciais projetivas (esquerda, direita, frente, atrás) e relações espaciais euclidianas
(distância).
A aula de campo constitui-se uma prática fundamental para a compreensão e
a leitura do espaço geográfico, principalmente, após conhecer a história do lugar.
“É importante que se trabalhe no meio analisando as diferentes possibilidades
e as diferentes concepções do conjunto dos agentes sociais que compõem e
organizam aquele espaço” (PONTUSCHKA, 1991, p.4).

O espaço geográfico contém a paisagem, ou poderíamos dizer as formas


espaciais que compõem o sistema de objetos naturais e sociais. Mas o
olhar geográfico é mais abrangente, identifica também o processo ou
formação, a dimensão histórica, o passado e o presente das formas
espaciais. (AZAMBUJA 2012, p.186)

O trabalho de campo foi um estímulo ao aluno que após conhecer os


elementos da cartografia em diferentes atividades foi capaz de trabalhar com a
escala para melhor compreensão de proporcionalidade e distância.
O trabalho com a escala é importante e necessário para que o aluno
compreenda os recortes de mundo com uma análise do particular para o global ou
do global ao particular. No caso da escala geográfica, embora os números de
redução possam existir, o fato fundamental é a dimensão das relações que se
pretende obter pela escolha seletiva dos fatos que serão visualizados ou
representados.
Ler os fenômenos geográficos em diferentes escalas permite ao aluno uma
leitura mais clara do seu cotidiano. Podendo o aluno comparar os vários lugares e
notar as semelhanças e diferenças que há entre eles.
Iniciamos uma atividade com os pontos turísticos de Maringá, foi identificada
a localização, a distância real entre pontos estabelecidos no mapa e a escala.
Os grupos com o mapa em mãos escolheram os pontos turísticos da cidade a
serem medidos, definiram o local de origem e de destino com letras no próprio
mapa.
O trabalho do aluno foi desenvolvido dentro de um raciocínio geográfico,
como coloca Richter 2010, deve ser uma prática comum nas aulas de Geografia.

Muito mais importante do que apenas localizarmos um determinado


fenômeno numa representação cartográfica, é fundamental que possamos
desenvolver atividades, leituras e interpretações (raciocínios) que permitam
com que o aluno entenda a produção de um dado contexto no espaço.
Nesse sentido, ao possibilitarmos que o aluno desenvolva esse tipo de
raciocínio, que nesta tese é estabelecido como raciocínio geográfico,
devemos validar que essa prática seja um objetivo comum e pertinente a
todos os programas curriculares da Educação Básica, principalmente no
Ensino Médio. (RICHTER,, 2010, p.,115)

Observamos que todos os grupos tiveram dificuldades com a escala, ao medir


as distâncias determinadas. Uma retomada no conteúdo apresentou melhoras na
realização da atividade, mas, não foi o suficiente para um resultado positivo.
O conteúdo aplicado em sala de aula muitas vezes não satisfaz o professor
por conta da interação do aluno. O que é mediado não atrai o aluno, ou não está de
acordo com seus objetivos.
Paralelamente ao trabalho de sala de aula, discutimos a atividade no curso do
Grupo de Trabalho em Rede - GTR com os professores/alunos, estes fizeram
sugestões para o encaminhamento da atividade, uma vez que foi colocado a
dificuldade dos alunos. Alguns sugeriram que a atividade fosse in loco, outros
discordaram colocando que seria difícil andar pela cidade com os alunos, alguns
descreveram suas atividades e enviaram imagens com um parecer positivo. Tudo
contribuiu para a continuidade do trabalho em sala.
Foram momentos muito ricos e proveitosos de socialização no curso GTR, o
que possibilitou maior clareza no método de trabalho proposto na Unidade Didático-
Pedagógica com os alunos.
Passini (2012, p.,29), coloca que o aluno entendendo os objetos no espaço
com as vivências das funções de cartografia, tem possibilidades de adquirir
habilidades e o conhecimento em potencial de ler e entender o mundo. O aluno
conhece o espaço concreto onde mora, estuda e circula para viver sua rotina diária.
O conhecimento que ele tem desse espaço é empírico, o espaço sensório-motor,
perceptivo e intuitivo. Para ele entender a Geografia do espaço de sua vida, deve
tomá-lo como um objeto de estudo, desvendá-lo e sistematizá-lo.
Ao aproximarmos do término do trabalho com o aluno verificamos a
necessidade do aluno de aulas de Cartografia e de ser mediado, concluímos que a
proximidade do professor foi fundamental na realização de suas atividades.
Finalizando a atividade com a escala, foi feito uma retomada geral com uma
avaliação escrita contemplando além dos conteúdos diários, também os conteúdos
do Projeto de intervenção. Mesmo tendo conhecimento das dificuldades do aluno
com o conteúdo da Cartografia, a avaliação surpreendeu em sua totalidade.
Encontramos respostas positivas indicando que a Implementação trouxe ao aluno a
compreensão melhorada do espaço de sua vivência.
Por isso, cabe ao professor desenvolver atividades, propostas, leituras e
reflexões pertinentes que apresentem essa proximidade entre a construção dos
espaços de vivência com o conhecimento científico, como o uso de imagens, mapas,
acesso tecnológico e a observação direta da paisagem, tudo isto está integrado ao
desenvolvimento e o ensino dos conteúdos geográficos.
Por fim, de acordo com as discussões, com as análises e as interpretações
apresentadas sobre a Linguagem Cartográfica, podemos dizer que o trabalho
realizado com alunos do ensino Médio tornou-se um meio para o professor
identificar ou reconhecer o desenvolvimento e o raciocínio geográfico do aluno em
sua formação na Educação Básica.

4. Considerações Finais
O projeto de intervenção confirmou a importância de se trabalhar a
Linguagem Cartográfica com alunos do Ensino Médio. Pensamos, elaboramos e
aplicamos a proposta pedagógica com o objetivo de enriquecer o ensino de
Geografia, para uma maior compreensão e interesse por parte dos alunos,
identificando inclusive a sua importância como agente no avanço, construção e
apreensão do espaço por parte de suas vivências, do seu cotidiano, de sua
realidade e visão de mundo.
É no conjunto de atividades como as leituras, as discussões e reflexões que
justifica a significativa contribuição da Cartografia para o processo de ensino-
aprendizagem de Geografia.
Foi trabalhado o conteúdo do cotidiano do aluno, valorizando o conhecimento
prévio em todas as etapas da aplicação da proposta.
Em relação a satisfação nas aulas, observamos que o aluno gosta de aulas
curiosas, atraentes, claras e interessantes. Observamos ainda que o interesse pelo
estudo está no novo, no desafiador, a exemplo das aulas e atividades no laboratório
de informática que proporcionaram maior compromisso do aluno com o estudo.
As etapas do projeto como: a análise de imagens, comparações entre mapas,
e escala, foram as de maiores dificuldades para os alunos realizarem. Percebemos
que o trabalho de campo realizado ao entorno do colégio foi a atividade mais
prazerosa, no entanto foi preciso lembrar muitas vezes da necessidade da
observação minuciosa do espaço percorrido, falta no aluno o hábito de observar.
Nesse contexto, podemos dizer que é no momento da observação, na
identificação de elementos existentes no espaço geográfico que a leitura visual
encontra barreiras, isso significa dizer a dificuldade está na interpretação do espaço.
Assim, a etapa que envolveu o estudo do meio com análise em mapas foi
considerada difícil pela necessidade de observação detalhada e do olhar geográfico.
Mesmo havendo algumas dificuldades com o estudo, podemos considerar ter sido
uma contribuição para o ensino/aprendizagem e um caminho de equilíbrio entre o
que é ideal e o que é real no ensino.
Todavia, acreditamos que no processo de interpretação na possibilidade de
ler o mundo, o aluno precisa ter acesso a diferentes linguagens, incluindo a
linguagem cartográfica. Para isso é importante que projetos de estudos sejam
criados por professores em parceria com seus alunos, desde a seleção do tema ao
desenvolvimento dos procedimentos metodológicos.
Diante do exposto, faz-se necessário comentar que esta pesquisa de cunho
metodológico considera a possibilidade de reformulação da proposta por outros
professores e pesquisadores com novas sugestões e ideias para recriar, aplicar,
avaliar e apresentar novos caminhos para que contribuam no aprendizado da
compreensão da Cartografia no ambiente escolar.
Referências

ALIEVI, Alan Alves; VEIGA, Leia Aparecida.- Analfabetismo funcional e dificuldades de


leitura e interpretação de mapas: algumas considerações. 32 - 49. in: SANTIL, F.L.de P.;
SILVEIRA, H.; SOUZA, M. L.; SANTOS, F.R. (organizadores.) Recursos tecnológicos
aplicados à cartografia.1ª ed. Ed. Sthampa Gráfica e Editora. Maringá, 2010, 176 p.

ALMEIDA, Rosângela D. de; PASSINI, Elza Y.- O espaço geográfico: ensino e


representação: A importância da leitura de mapas o domínio espacial no contexto escolar.
6. Ed. São Paulo: Ed. contexto, 1998, 90 p.

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