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SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
Campus Universitário da UFAM, Manaus, 14 a 17 de Agosto de 2018
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma resenha critica do Livro Terras, florestas e águas de trabalho: os
camponeses amazônicos e as formas de uso de seus recursos naturais, do Professor Doutor Antonio
Carlos Witkoski, onde serão apresentadas constatações empiricas do conteúdo da obra,
compararando a pesquisa com a vida das pessoas na várzea, tendo como principal foco a
compreensão de que para o homem varzeano vida e trabalho se relacionam de forma intima e
existencial, visto que ambos não se diferem, pelo contrário: as relações de trabalho nos diversos
meios amazonicos- terra, florestas e águas são os principais construtores da cultura e das relações
sociais na qual a vida se suporta. Este artigo aborda, portando, os principais pontos apresentados pelo
professor, em seu trabalho de grande importância para a ciência na Amazônia, vista a gama
fantástica de descrições detalhadas feitas pelo mesmo, sobre vida dos diversos tipos amazônicos:
caboclos, índios, brancos, europeus e todos os demais povos que nessa região habitam com
caracteristicas diversas, relacionando a construçao material de diversos instrumentos e ferramentas,
bem como a construção do pensamento cultural e da própria construção da vida.
ABSTRACT
The present work presents a critical review of the book “Terras, florestas e águas de trabalho: os
camponeses amazônicos e as formas de uso de seus recursos naturais”, of Prof. Ph.D. Antonio Carlos
Wistkoski, where we will present empirical statements of what was presented in the content of the
work, comparing the research with the life of the people in the floodplain, having as main focus the
understanding that for the varzean man life and work are intimately related and existential, since both
do not differ, on the contrary: labor relations in the various Amazonian means - land, forests and
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Doutora em Sociologia, Professora Associada da Universidade Federal do Amazonas, Coordenadora do Núcleo de
Socioeconomia (NUSEC/FCA/UFAM), Vice Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências do ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA/CCA/UFAM), E-mail: tecafraxe@uol.com.br.
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Graduada em Design, Instituição, Mestranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, UFAM, E-
mail: laulandau@gmail.com.
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Mestre em Arquitetura e Urbanismo; Doutroranda no Programa PPGCASA, UFAM, E-mail: laelia.design@gmail.com.
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Mestre em Direito Ambiental; Doutorando em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, UFAM, E-mail:
nortefilho@gmail.com.
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Anais do Seminário Internacional em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, v. 5. Manaus: EDUA. 2018. ISSN 2178-3500
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water - are the main constructors of culture and social relations in which life is supported. This
article deals with the main points presented by the professor, in his work of great importance for
science in the Amazon, given the fantastic range of detailed descriptions he made about the life of
the various Amazon types: Caboclos, Indians, all the other peoples who in this region with different
characteristics present themselves, relating the material construction of various instruments and tools
as well as the construction of thought and culture - and the construction of life itself.
INTRODUÇÃO
Amazônia, mundo de diversas facetas onde para lidar com a dinâmica de suas aguas, de suas
terras e suas gentes, homem e ambiente se tornam um só. Essa simbiose é muito bem expressa no
livro que apresentaremos a seguir “Terras, florestas e águas de trabalho: os camponeses amazônicos
e as formas uso de seus recursos naturais” escrito pelo professor Antonio Carlos Witkoski (2. ed. São
Paulo: Annablume, 2010).
Ao longo do trabalho apresenta-se a dinâmica da vida do povo ribeirinho da várzea
amazônica na qual vida e trabalho andam lado a lado construindo a cultura e os valores por essa
população expressa em seus elementos materiais. Além disso, o ponto focal do livro é a compreensão
da dimensão da vida ribeirinha totalmente aliada às relações de trabalho pelas quais o homem
amazônico desenvolve o seu habitar, sendo estes os principais norteadores de suas relações
interpessoais e com o meio ambiente objetivo e subjetivo que o cerca.
Ao pensar a construção da vida por meio do trabalho, Witkoski faz alusão direta ao livro de
Afrânio Raul Garcia Junior, “Terra de trabalho”, na intensão de demonstrar exatamente que a vida
ribeirinha e os processos produtivos que suportam a vida não se separam.
O livro traz uma “teoria de negação do esquecimento da Amazonia”, conforme exposto pelo
Professor José Aldemir no prefácio, Witkoski aponta a força com a qual a Amazonia aparece em
diversos momentos da historia global, seja como “Paraiso desconhecido”, seja como “pulmão do
mundo”.
Abordando a vida da várzea amazônica, são percorridos os municípios de: Coari, Iranduba,
Manaquiri, Careiro da Várzea e Manaus, nos quais são feitas descrições da vida cotidiana a partir de
uma leitura de Karl Marx e Alexander Chayanov, onde a compreensão desses autores é fundamental
para a compreensão do pensamento conformado pelos autos, visto que são essas as suas principais
referências trabalhadas.
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Dessa forma serão apresentados os principais pontos apresentados pelo professor, em seu
trabalho de relevância para a Ciência na Amazônia, dada a gama fantástica de descrições detalhadas
sobre vida dos diversos tipos amazônicos: caboclos, índios, brancos, europeus e todos os demais
povos que nessa região com caracteristicas diversas se apresentam, relacionando a construçao
material de diversos instrumentos e ferramentas, bem como a construção do pensamento e cultural- e
a propria construção da vida, tendo como principal foco a compreensão de que para o homem
varzeano vida e trabalho se relacionam de forma intima e existencial, visto que ambos não se
diferem, pelo contrário: as relações de trabalho nos diversos meios amazônicos, terra, florestas e
águas são os principais construtores da cultura e das relações sociais na qual a vida se suporta.
Morán (1990, p. 18) assevera:
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O autor direciona para a sua pesquisa nas florestas de trabalho, outro subsistema do sistema
agroflorestal. Neste ambiente as horas de trabalho são menores, porém não menos necessárias. Os
produtos daqui retirados são destinados para a subsistência das famílias e eventuais transações
comerciais. As atividades podem ocorrer em dois tipos de florestas, a floresta de terra firme e a
floresta de várzea (igapó). A primeira é considerada território coletivo e não demarcado, apesar de
possuir um dono “oficial” seu uso é da comunidade, onde todos tem liberdade de usufruir dos
produtos encontrados ali. As florestas de várzea5 já são consideradas um lugar conquistado e
sedentário, pois se encontram perto das casas dos varzeanos sendo então mais fácil de determinar
seus “donos”. A prática de trabalho é o extrativismo, que pode ser vegetal ou animal, estes
considerados produtos ofertados pela natureza. O extrativismo é dependente do calendário de
produção camponesa que por sua vez é dependente do ciclo das águas. É interessante destacar que o
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A várzea é um ecossistema complexo, com imensa riqueza biológica passível de apropriação humana. Os rios
amazônicos e suas áreas inundáveis, cobrem mais de 300.000 km². Há muitas gerações essas áreas inundáveis vem sendo
utilizadas por populações tradicionais, tanto no período de seca quanto no de cheia. SURGIK, Ana Carolina Santos.
Estudo jurídico para a várzea amazônica. A questão fundiária e o manejo dos recursos naturais da várzea: análise
para a elaboração de novos modelos jurídicos. Manaus: ProVárzea, 2005, p. 15.
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produto do roçado demanda trabalho durante todo o ciclo agrícola enquanto o extrativismo se
apropria de “coisas” fornecidas pela natureza. Os produtos provenientes do extrativismo vegetal são:
diversos tipos de madeira para construções de estruturas, canoas e partes de instrumentos de
trabalho; lenha para combustível; frutos como tucumã e açaí do mato; mel; plantas medicinais e etc.
As plantas medicinais são ressaltadas aqui como produtos de grande importância e seu uso é
consequência de grande socialização do conhecimento, ou etnoconhecimento das gerações e é
atualizado constantemente.
Ao tratar de extrativismo animal observa-se a pesca como a atividade mais importante que os
ribeirinhos exercem quando buscam proteína animal. Os rios são considerados territórios aquáticos
públicos, ou seja, são de livre acesso para pessoas tanto da comunidade como de fora. Os lagos,
territórios aquáticos coletivos, onde quem tem permissão de uso são pessoas da comunidade onde o
lago está localizado. E por fim existem os lagos de procriação ou santuários que são lagos livres da
interferência do homem e servem como manutenção da biodiversidade de peixes, assim, a pesca é
proibida. Se não fosse pelo carboidrato da farinha de mandioca e a proteína dos peixes a vida na
várzea seria praticamente impossível e o camponês entende perfeitamente a importância de respeitar
e garantir que a natureza consiga trabalhar seus ciclos, assim sendo, o tempo que eles seguem é o
ecológico e não o cronológico.
O peixe é o recuso natural renovável mais abundante e utilizado, os dados da pesquisa nos
mostram que existem 1400 espécies de peixes na bacia amazônica, onde apenas 42 são consumidos.
Os peixes de escamas são os tipos que os varzeanos preferem para consumo próprio, e os de couro
ou lisos são mais direcionados ao mercado, porém, foi observado que o hábito de comer peixes lisos
está sendo incorporado aos poucos por estes pescadores.
O autor destaca os conflitos que acontecem entre os pescadores de várzea e os pescadores
citadinos. Existem grandes diferenças de cultura entre ambos, o pescador que mora na várzea segue
um tempo ecológico, enquanto o citadino o tempo cronológico das cidades, a pesca praticada pelo
primeiro grupo é extensiva e artesanal, por sua vez, a praticada pelo segundo grupo é intensiva e
predatória. O pescador citadino entra nos rios de várzea ou lagos, pratica sua atividade de forma
destrutiva e deixa o ambiente degradado para os que ali vivem e dependem dos peixes para sua
subsistência, como resultado os conflitos aumentam entre esses dois grupos.
Witkoski (2010, p. 288), assinala:
Vivendo ao longo do ano a dinâmica dos ciclos das águas- enchente, cheia, vazante e seca, o
camponês amazônico revela as múltiplas faces contidas em um único sujeito, criando e
recriando a própria existência – ora agricultor, ora criador, ora extrator. (...) apresenta a
polivalência como aspecto fundamental de sua condição humana e prova, ao mesmo tempo,
as dimensões ativas de sua adaptação às várzeas dos rios onde habita.
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tamanha identificação os próprios são donos dos meios de produção necessários para sua
sobrevivência e felicidade.
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(inobstante o mercado) e aquilo que o camponês e sua família produzem para necessariamente
vender no mercado para adquirir outras mercadorias essenciais à vida da unidade de produção.
A unidade de produção camponesa, opera a sua produção voltada tanto para a própria
subsistência quanto para o mercado.
Conforme Witkoski (2010, p. 349):
Uma primeira questão que não podemos deixar de sublinhar é que toda forma de produção
não deixa de ser uma forma de apropriação da natureza, praticada por indivíduos, no âmago
de um modo singular de organização social, visando reproduzir a própria condição de
existência.
Nesse sentido, o camponês, por meio dessa atividade, qual seja o trabalho, acaba por realizar
uma troca recíproca de energias com a natureza e essa transformação da natureza em valores de uso
para si e para outrem, modifica a natureza dele próprio (camponês) de modo a propiciar a dinâmica
recorrente das potencialidades existentes em si e em repouso na natureza, demonstrando com isso,
ser possuidor da capacidade de articular meios e fins numa perspectiva e projetos (telos).
A idiossincrasia do camponês amazônico baseia os seus gastos em face da renda real obtida
na produção, ou seja, ainda que reconheça a importância do futuro, não hesita quanto à garantia do
consumo certo.
Nesse sentido, Witkoski (2010, p. 357), assinala:
Assim, entre a garantia do consumo certo e da semeadura incerta, o camponês não vacila em
optar por sacrificar o futuro da produção ao futuro do consumo. Essa racionalidade,
conformada por modelos herdados através das gerações, sacrifica o futuro projetado, em
função da vida ordinária, como se a existência futura fosse colocada sempre no campo das
possibilidades.
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Maromba: Jirau onde se põe o gado na cheia. PROENÇA, Ivan Cavalcanti. A mata submersa, e outras histórias da
Amazônia. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967, p. 359.
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relacionar com o mercado a partir de duas opções: a compra valores de uso para satisfação e
necessidade própria/família (alimentos) e a compra valores de uso para produzir valores de uso para
a família (enxadas), iniciando-se, segundo o autor, o estabelecimento de um círculo inacabado e
trocas.
A relação dos camponeses amazônicos com agentes da comercialização pode ser entendida
como relação de poder, que por sua vez, gera uma dependência recíproca dos valores de uso,
oportunizando as possibilidades de trocas, o que impõe ao camponês a sua ida ao agente da
comercialização para vender o produto extraído da natureza para que a partir daí, possa adquirir
elementos metálicos, por exemplo, para que possa desenvolver suas atividades nos campos
amazônicos. Por outro lado, o urbanita necessita dos produtos oriundos da natureza, coletados /
retirados pelo camponês amazônico.
Segundo o autor, dentre os agentes da comercialização, é possível verificar os seguintes tipos:
1. Marreteiro – Mais significativo da rede. Proprietário de barcos com motores a combustão (diesel)
responsável pelo abastecimento da unidade de produção familiar. 2. Marreteiro-de-Feira – Vive no
mundo rural. Pode ser um camponês ou habitante da comunidade camponesa. Ocorre com
camponeses mais capitalizados. Sentimento de pertença contraditório em relação à comunidade. 3.
Regatão – Sujeito que percorre os rios de barco, parando de lugar em lugar. Vendem a dinheiro. Tipo
social que se confunde com a história da própria colonização da Amazônia. Comporta relação
ambígua com a população de várzea: servir – explorar. 4. Patrão – Figura residual da época opulenta
do extrativismo (gomífero). Ordenou o mundo rural amazônico por meio do aviamento. Fornecia
rancho ao coletor (víveres) durante o seu período de extração na floresta.
4 CONCLUSÃO
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Por outro lado, as regras instáveis impostas pelos agentes da comercialização propicia o
estabelecimento de preços incertos aos seus produtos num contexto de descontrole e risco de
prejuízos. Alia-se a esse cenário, a prestação de assistência técnica defasada do Poder Público aos
camponeses da várzea.
Portanto, os frutos das águas de trabalho, os resultados da produção nas terras de trabalho
articuladas às florestas de trabalho são fundamentais para a subsistência da vida camponesa.
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REFERÊNCIAS
MORAN, Emilio Frederico. A ecologia humana das populações da amazônia. Rio de Janeiro:
Vozes, 1990.
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. A mata submersa, e outras histórias da Amazônia. Rio de Janeiro:
Edições de Ouro, 1967.
SURGIK, Ana Carolina Santos. Estudo jurídico para a várzea amazônica. A questão fundiária e o
manejo dos recursos naturais da várzea: análise para a elaboração de novos modelos jurídicos.
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