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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Rosana Buzian

DOAR e DFC: Conflitos Conceituais

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

SÃO PAULO
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP

Rosana Buzian

DOAR e DFC: Conflitos Conceituais

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Dissertação apresentada à Banca


Examinadora como exigência parcial para a
obtenção do título de MESTRE em Ciências
Contábeis pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob a orientação do
Prof. Dr. José Carlos Marion

SÃO PAULO
2008
ERRATA

Página Onde se lê Leia-se

2 (...) mobilização ema busca (...) (...) mobilização em busca (...)

19 09/11/2007 09/11/2007
CPC CPC
Pronunciamento Técnico CPC 01 Pronunciamento Técnico CPC 02

41 (...) mostra deferentes maneiras (...) mostra diferentes maneiras de


de compreendê-lo (...) compreendê-lo (...)
Banca Examinadora

________________________________

________________________________

________________________________
Alegrai-vos na esperança,
Sede pacientes na tribulação,
Perseverai na oração.
(Romanos 12,12)
Agradecimentos

Primeiro, agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela Sua imensa misericórdia e
bondade com que tem me agraciado em todos os dias da minha vida, principalmente, no
período da minha dissertação.

À minha família, pelo apoio, incentivo e paciência. Meu pai Theodoro (in
memorian) pelo exemplo de caráter que me transmitiu no curso de sua vida ao meu
lado; minha mãe Adélia, uma mulher que, ao mesmo tempo em que transmite força,
garra, motivação, representa um porto seguro de paz, consolo, oração, uma grande
mulher e mãe. À minha irmã, pela paciência e generosidade demonstradas nesse período
de muita ansiedade e nervosismo durante a pós-graduação.

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Carlos Marion, pois, ao possuir o dom da
palavra, lhe é permitido conduzir todo o conhecimento regado com doses de
simplicidade, sensibilidade, paciência e tranqüilidade, que o permitem ultrapassar a
categoria de Professor para atingir a virtude de um Mestre, pelo qual tenho enorme
admiração e respeito.

À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da PUC-SP,


nomeadamente representada pelos Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos e Profª. Drª.
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, pela oportunidade dada para que eu pudesse
concluir o mestrado, além da demonstração de paciência e gentileza com as quais
sempre fui recebida.

Aos membros da Banca de Qualificação, Prof. Dr. Carlos Hideo Arima e Prof.
Dr. Laércio Baptista da Silva, pelas valiosas críticas e sugestões oferecidas para o
desenvolvimento e conclusão do meu trabalho.

À revisora do meu trabalho, Profª. Ms. Tânia Arbolea, pelo seu profissionalismo,
paciência no período da revisão e pela orientação e presteza que sempre foram marca
registrada de sua pessoa.

A um amigo, Fernando Tadeu Ohata (in memorian), o grande incentivador para


meu ingresso no curso de mestrado, meu respeito, admiração e muitas saudades.
Sumário

Introdução p. 1

Capítulo I

1. Contexto atual da Contabilidade p. 9


1.1. O advento da Internacionalização das Normas Contábeis p. 9
1.2. A importância da Harmonização das Normas Contábeis p. 10
Internacionais
1.3. Necessidade de Harmonização Internacional das Normas p. 11
Contábeis
1.4. A Contabilidade como Linguagem dos Negócios p. 12
1.5. Características qualitativas da Informação Contábil p. 12
1.5.1. Compreensibilidade p. 13
1.5.2. Relevância p. 13
1.5.3. Confiabilidade p. 14
1.5.4. Comparabilidade p. 14
1.6. Discussão – Padronização – Harmonização – Convergência p. 14
1.7. Processo de Padronização p. 15
1.8. Processo de Harmonização p. 15
1.9. Processo de Convergência p. 16
1.9.1. Convergência das Normas Contábeis – Contexto Mundial p. 17
1.9.2. Convergência das Normas Contábeis – Contexto Brasileiro p. 17
1.9.2.1. BCB p. 21
1.9.2.2. CVM p. 22
1.9.2.3. IBRACON p. 25
1.9.2.4. BOVESPA p. 26
1.9.2.5. CFC p. 27
1.9.2.6. CPC p. 27
1.10. Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações p. 32

Capítulo II

2. Demonstração dos Fluxos de Caixa p. 35


2.1. Diretrizes Contábeis – Âmbito Nacional p. 35
2.2. Diretrizes Contábeis – Âmbito Internacional p. 37
2.3. Objetivo p. 37
2.4. Finalidade p. 38
2.5. Estrutura da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) p. 40
2.6. Caixa e Equivalentes de Caixa p. 41
2.7. Classificação dos Fluxos de Caixa p. 43
2.8. Fluxo de Caixa por Atividades p. 44
2.8.1. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais p. 46
2.8.2. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades de Investimentos p. 46
2.8.3. Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades de Financiamentos p. 47
2.9. Transações de Investimentos e Financiamentos sem efeito no p. 47
Caixa
2.10. Método de Elaboração do Fluxo de Caixa das Atividades p. 48
Operacionais
2.10.1. Método Direto p. 48
2.10.2. Método Indireto p. 49
2.10.2.1. Ajuste de valores indicativos do registro de fatos p. 51
econômicos
2.10.2.2. Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de p. 52
giro
2.10.3. Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa p. 52
2.10.4. Fluxo de Caixa Operacional x CCL p. 55
2.10.5. EBITDA p. 56

Capítulo III

3. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração das Origens p. 58


e aplicações de Recursos: Vantagens e Desvantagens
3.1. Conceito da DOAR p. 58
3.2. Importância da DOAR p. 61
3.3. Dificuldade da DOAR p. 64
3.4. Comparação DOAR X DFC p. 65
3.5. Substituição da DOAR pela DFC – Tendência Mundial p. 69
3.6. DOAR – Vantagens e Desvantagens p. 71
3.7. DFC – Vantagens e Desvantagens p. 73

Considerações Finais p. 75

Referências Bibliográficas p. 78
Resumo

Com o advento da globalização da economia, a divulgação das informações contábeis


marca importante papel no processo de comunicação entre os seus diversos usuários. O
conjunto de normas que origina essas informações contábeis é distinto dado a diferença
de crenças, cultura, nacionalismo entre os países. Com o propósito de minimizar as
diferenças existentes entre as normas contábeis dos países participantes desse mercado
globalizado, a Harmonização das Normas Contábeis representa uma tentativa de
alinhamento das normas locais às normas contábeis de padrão internacional, cujo
compromisso de integração entre os países envolvidos caracteriza-se como
Convergência das Normas Contábeis. No Brasil, a principal medida adotada neste
contexto de Convergência foi a aprovação do Anteprojeto de Reformulação da Lei das
Sociedades por Ações que, dentre as alterações propostas e aprovadas, está a
substituição da DOAR pela DFC, ambas de caráter financeiro, porém com finalidades
diversas. A DOAR mostra a movimentação do Capital de Giro, enquanto a DFC
especifica as efetivas entradas e saídas de caixa. Cada uma das duas demonstrações
contábeis atende às necessidades de usuários distintos, conforme a sua utilidade para a
tomada de decisão, capital de giro ou movimentação de caixa. Assim, este trabalho tem
por objetivo ilustrar as finalidades e os pontos favoráveis e desfavoráveis de cada uma
das demonstrações, além de esclarecer o propósito de troca da DOAR pela DFC.
Consideramos oportuna a substituição da DOAR pela DFC dado o contexto de
Harmonização das Normas Contábeis, além de proporcionar melhor entendimento ao
usuário da informação contábil.

Palavras-chaves: Convergência das Normas Contábeis, DFC, DOAR.


Abstract

With the advent of globalization of the economy, the disclosure of accounting mark
important role in the process of communication among its various users. The set of
standards that causes such accounting information is different because the difference in
beliefs, culture, nationalism among countries. In order to minimize the differences
between the accounting standards of the participating countries of the global market, the
harmonization of Accounting Standards represents an attempt to align the standards to
local accounting standards with international standards, whose commitment to
integration among the countries involved it is characterized as Convergence of
Accounting Standards. In Brazil, the main measure adopted in this context of
convergence was the adoption of Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades
por Ações that, among the amendments proposed and approved, is replacing the DOAR
by DFC, both financial in nature, but with different purposes. The DOAR shows the
movement of working capital, while DFC specifies the effective cash receipt and output.
Each of the two financial statements meet the needs of different users, depending on
their usefulness for the decision, the capital of spin or movement of cash. Thus, this
work aims to illustrate the purposes and points favorable and unfavorable for each of the
demonstrations, besides clarifying the purpose of exchange of DOAR by DFC. We
consider opportune the replacement of DOAR by DFC given the context of
Harmonization of Accounting Standards, while providing better understanding of the
user accounting information.

Keywords: Convergence of Accounting Standards, DFC, DOAR.


Introdução

A globalização da economia, por meio do desenvolvimento do mercado de capitais


internacional, do crescimento dos investimentos diretos estrangeiros e da formação dos blocos
econômicos fez surgir uma necessidade de informações para os seus usuários. Se, de um lado,
temos aqueles usuários que necessitam de informações para a sua tomada de decisão; por
outro, existem os usuários propensos a divulgar informações que atendam à necessidade do
mercado; portanto, aparentemente, teríamos uma situação em plena harmonia, porém existe
uma grande limitação que é a forma de comunicação entre as duas extremidades dessa
relação. Cada um desses usuários, dado o ambiente globalizado no qual está inserido,
encontra-se em países diferentes, que nem sempre apresentam semelhança de leis, de
costumes, de cultura, mas a grande diferença em questão reside na existência de diferenças
entre as normas contábeis dos países neste contexto de globalização que dificulta o processo
de comunicação entre os diversos usuários da informação contábil.

A contabilidade é considerada a linguagem dos negócios, ou seja, a forma de


comunicação entre os diversos usuários das informações disponibilizadas e utilizadas pelo
mercado de capitais internacional. Essa comunicação é necessária para que, inicialmente, haja
uma leitura correta da informação contábil. Em seguida, dentre as características qualitativas
que a informação deve apresentar, duas delas são, fundamentalmente, importantes para o
processo de comunicação, a compreensibilidade e a relevância.

Entende-se por compreensibilidade o fato de a informação poder ser percebida,


entendida e utilizada pelo usuário no destino de seu objetivo. Já a relevância diz respeito ao
aspecto apresentado pela informação fazer diferença num processo de decisão, tornando-a útil
no momento de sua solicitação.

Diante desse conflito de necessidade de informação contábil e da dificuldade de


comunicação entre seus usuários, surgiu, para todos os países, um movimento voltado à
questão das diferenças existentes entre as normas contábeis. Inicialmente, estimulou-se a
Padronização das Normas Contábeis, mas este movimento não obteve sucesso, pois, além do
pressuposto da imposição de uniformização das normas contábeis, havia ainda barreiras como

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as diferenças culturais, de soberania, de nacionalismo, entre outros. Posteriormente, adotou-se
a concepção de Harmonização das Normas Contábeis que pressupõe uma disposição das
normas locais às normas contábeis de padrão internacional. Esse processo de alinhamento
sugere um compromisso de integração entre os países comprometidos com a Harmonização
das Normas Contábeis. Esse caminho a ser percorrido pelos países com o propósito de
minimizar as diferenças entre as normas contábeis é chamado de Convergência das Normas
Contábeis.

No Brasil, os órgãos reguladores do mercado de capitais juntamente com a entidade da


classe contábil iniciaram uma mobilização ema busca por alternativas que pudessem
minimizar as diferenças entre as normas contábeis brasileiras e as normas contábeis de padrão
internacional. Nesta última década, o Banco Central do Brasil (BCB) lançou comunicados,
tanto para si como para as instituições financeiras, visando à Convergência das Normas
Contábeis. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu instrução normativa,
deliberações, ofícios-circulares no sentido de orientar as sociedades anônimas de capital
aberto com procedimentos e recomendações na elaboração e divulgação das demonstrações
contábeis alinhadas às normas de padrão internacional. O Conselho Federal de Contabilidade
(CFC) também participou desta mobilização com a criação do Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC), cujo objetivo principal reside no estudo, preparo e emissão
pronunciamentos técnicos visando o alinhamento das normas contábeis brasileiras às normas
de contabilidade de padrões internacionais, além de direcionar a edição das Normas
Brasileiras de Contabilidade (NBC) nos mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados
pelas normas internacionais. Mas a medida mais importante neste contexto de Harmonização
das Normas Contábeis foi a elaboração do Anteprojeto de Reformulação da Lei das
Sociedades por Ações (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976) encaminhado ao Ministério
da Fazenda em 05/07/1999 e, posteriormente, ao Congresso Nacional na forma de Projeto de
Lei nº 3.741, no ano de 2000. Sua aprovação se deu pela edição da Lei 11.638 de 28 de
dezembro de 2007, que concretizou o anseio das classes contábeis brasileiras pela
regulamentação dessas alterações.

O Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações prevê a alteração de


algumas disposições relacionadas à matéria contábil, dentre elas está a substituição da
Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos
de Caixa (DFC). As duas demonstrações têm enfoque financeiro, sendo que a primeira está

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relacionada às movimentações do Capital Circulante Líquido (CCL), conhecido também
como Capital de Giro e, a segunda, relaciona-se com as movimentações do Caixa e
Equivalentes de Caixa, especificamente dinheiro.

Embora ambas sejam visualizadas pelos usuários da informação contábil como


demonstrações sob o ponto de vista da situação financeira da empresa, suas finalidades são
distintas. A DOAR apresenta uma abordagem mais ampla ao focar o capital de giro, resultado
entre o montante de bens e direitos, que pressupõe sua conversão em dinheiro, e o montante
de obrigações, cujo compromisso assumido representará o consumo desse valor,
respectivamente, caracterizado como Ativo Circulante e Passivo Circulante. Esses dois grupos
pertencem ao Balanço Patrimonial, outra demonstração contábil, e seus elementos
patrimoniais são enquadrados num período de curto prazo, ou seja, prazo de até 360 dias a
contar da data do Balanço Patrimonial. Além de mostrar a variação do capital de giro, na
demonstração Capital Circulante Líquido (CCL), a DOAR evidencia também a influência do
saldo gerado pela diferença entre as fontes de recursos de longo prazo e as aplicações desses
recursos também de longo prazo, ou seja, ela permite a visualização da estrutura e do
funcionamento dos recursos possuídos pela empresa na gestão empresarial, sejam eles de
curto ou longo prazo. De maneira simplificada, a DOAR apresenta as origens e aplicações de
recursos, de curto e longo prazo, interagindo entre si numa visão ampla da engrenagem
empresarial, demonstrando a alteração das estruturas de financiamento da empresa. Já a DFC
centraliza-se na efetiva entrada e saída de caixa e equivalentes de caixa, cujo montante é
representado pelo numerário à disposição da empresa, cuja característica é a imediata
liquidez. Este foco, objeto da demonstração contábil DFC, está inserido no Ativo Circulante,
ou seja, as informações da DFC estão contidas nas informações da DOAR, porém a diferença
é o detalhamento apresentado na DFC das informações que, efetivamente, movimentaram o
caixa, fato não concebido pela DOAR ao levar em conta as origens e aplicações de recursos
que, não, necessariamente, apresentaram um efeito financeiro de caixa.

No período em que esteve em vigor, a DOAR apresentava um alto grau de rejeição dos
usuários da informação contábil quanto à sua finalidade de demonstração contábil sob o ponto
de vista financeiro, pois a conotação “financeiro” está relacionada ao conceito de dinheiro e
não ao de recursos como prevê esta demonstração. Esse fato fez com que houvesse uma
grande necessidade de informações sobre o fluxo financeiro de caixa, sendo que as
informações sobre o fluxo financeiro de recursos da empresa já eram apresentadas na DOAR.

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O usuário, ao recorrer a uma demonstração contábil cuja conotação seja “financeira”, espera
encontrar dados a respeito das operações que resultem em entradas e saídas de caixa, e não
informações que representem origens e aplicações de recursos, nem sempre convertidos em
caixa naquele momento. Como conseqüência disso, a característica qualitativa da informação
“relevância” não estava sendo correspondida, ou seja, deixou de ser útil para o processo de
decisão, portanto passou a ser descartada pelo usuário da informação contábil, pois sob o
ponto de vista do usuário, a Contabilidade não estava disponibilizando informações contábeis
de caráter financeiro da empresa. Neste contexto e seguindo uma tendência internacional, a
DFC passou a ser a demonstração contábil, de caráter financeiro, que poderia atender às
necessidades dos usuários interessados em informações contábeis sob o ponto de vista
financeiro. Esse anseio resultou em um dos pontos de alteração prevista pelo Anteprojeto de
Reformulação da Lei das Sociedades por Ações, sendo sugerida a substituição da DOAR pela
DFC. Sua aprovação se deu pela edição da Lei 11.638/07, quando, finalmente, ocorreu a
substituição.

O formato de apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) contempla a


divulgação dos fluxos de caixa dividida em três importantes atividades geradoras de caixa
dentro da empresa; o fluxo de caixa gerado pelas atividades de investimentos, o fluxo de caixa
gerado pelas atividades de financiamentos e o fluxo de caixa gerado pelas atividades
operacionais, sendo que a montagem deste último pode ser de duas maneiras, pelo Método
Direto e pelo Método Indireto. Pelo Método Direto, são discriminadas as entradas e saídas
efetivas de caixa, resultantes das operações relacionadas à atividade operacional. Nele é
apresentado o montante das receitas operacionais recebidas, das despesas operacionais pagas,
do pagamento efetuado aos fornecedores envolvidos com a atividade operacional da empresa,
finalizando com o saldo líquido daquele caixa. Já pelo Método Indireto, é feita uma espécie de
conciliação, parte-se do resultado do exercício apresentado na Demonstração de Resultado do
Exercício (DRE), cujo procedimento de apuração obedece ao Regime de Competência,
ajustando, inicialmente, as receitas e despesas não conversíveis em caixa e, posteriormente, as
receitas e despesas conversíveis em caixa que, pelo fato de apresentarem um prazo de
vencimento acordado na sua contratação, aguardam pela efetiva transformação em dinheiro.
Essa espera pode ser visualizada nos grupos do Ativo Circulante e do Passivo Circulante, que
apresentam o montante das receitas operacionais a receber e despesas operacionais a pagar,
respectivamente. A finalidade dessa conciliação é mostrar a conversão do resultado do
exercício, gerado pelo regime de competência, em resultado do exercício financeiro, ou seja,

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pelo regime de caixa. Essa conversão do resultado do exercício pelo regime de competência
em resultado do exercício pelo regime de caixa assemelha-se à conciliação existente na
DOAR, tanto que, em ambos, a origem do resultado é o mesmo da DFC, ou seja, o resultado
do exercício pelo regime de competência, porém a conversão desta última será em resultado
do exercício visualizado no capital de giro. Essa conciliação apresentada pelo Método Indireto
traz a mesma problemática encontrada na DOAR quanto à dificuldade de entendimento do
raciocínio da conciliação, dificultando a percepção da utilidade da informação.

Identificação do Problema

Com a edição da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007 que aprovou o Projeto de Lei
nº 3.741 de 2000, formalização do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por
Ações (Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976), a Demonstração das Origens e Aplicações
de Recursos (DOAR), constante no art. 188 da Seção VI do Capítulo XV da Lei 6.404/76
como demonstração financeira obrigatória de elaboração e publicação para as Sociedades
Anônimas, exceto para as companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a um milhão
de reais na data do balanço, foi substituída pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC),
sendo que o esse artigo recebeu nova redação. Justifica-se tal substituição o fato de a DFC
atender, em maior proporção, às necessidades de informações da situação financeira da
empresa, pois apresenta a movimentação das efetivas entradas e saídas de caixa. Com isso, o
usuário de informações contábeis relacionadas à posição financeira da empresa tende a
maximizar a quantidade de informações financeiras da empresa disponibilizadas por esse
demonstrativo. Entretanto, os usuários que se utilizavam das informações disponibilizadas
pela DOAR, ou seja, aquelas que compõem o conjunto de todas as origens e aplicações de
recursos, tanto de curto como de longo prazo, inclusive a movimentação das entradas e saídas
de caixa, embora de forma resumida, acabaram por perder conglomerado de informações nela
inseridas.

Embora tenha ocorrido a substituição da DOAR pela DFC como forma de minimizar
as dificuldades encontradas pelos usuários no entendimento e visualização da DOAR como
uma demonstração contábil de caráter financeiro, além de representar uma tendência
internacional, a estrutura de apresentação do Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades
Operacionais pelo Método Indireto mostra um conceito similar ao da DOAR quanto à

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conversão do resultado econômico em resultado financeiro, situação passível também de gerar
dificuldade em assimilar os respectivos conceitos.

Objetivos

Nesse contexto de substituição de uma demonstração contábil por outra,


Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e Demonstração dos Fluxos de
Caixa (DFC), respectivamente, no qual o enfoque de ambas seja o caráter financeiro de seu
conteúdo, daí a justificativa para a substituição, embora suas finalidades sejam distintas, este
trabalho tem por objetivos:

 Identificar a finalidade de cada uma das demonstrações dentro da conotação de


caráter financeiro.
 Justificar a substituição das demonstrações como a melhor alternativa.
 Identificar os pontos favoráveis e desfavoráveis da DOAR.
 Identificar os pontos favoráveis e desfavoráveis da DFC.

Com o propósito de direcionar e centrar esses objetivos, ainda nos propomos:

 Mostrar a conjuntura atual da Internacionalização das Normas Contábeis e;


 Mostrar o andamento do processo de Harmonização das Normas Contábeis, desde
a Padronização até Convergência no contexto nacional.

Justificativas

Com processo de globalização da economia verificado nos últimos anos, a


Contabilidade, ciente de seu papel de linguagem dos negócios e interagindo nessa tendência
mundial, está presente nesse acelerado processo rumo à Internacionalização das Normas
Contábeis.

A Informação Contábil é uma importante ferramenta para o processo de tomada de


decisão de seus diversos usuários. Para que sua utilização seja eficiente, é necessária a
observância das suas características qualitativas. Duas delas são de extrema importância para
a acolhida da informação contábil pelo usuário no que se refere à questão da substituição da

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DOAR pela DFC. A primeira delas é a característica qualitativa Compreensibilidade cuja
função é o entendimento da transação que foi retratada pela informação contábil, e deve
mostrar a informação em sua totalidade com a indicação de todos os aspectos contábeis
daquela determinada operação. A outra característica qualitativa é a Relevância, cujo conceito
está em sua utilidade no processo de decisão, ou seja, ela teria de atender às necessidades do
usuário nesse processo.

Tanto a DOAR como a DFC são tratadas como demonstrações de caráter financeiro,
embora cada uma delas atinja um determinado aspecto da situação financeira da empresa.
Enquanto a DOAR vislumbra a figura do capital de giro, espelho da posição financeira de
curto prazo influenciada pelos recursos, originados ou aplicados, em longo prazo; a DFC
retrata a posição financeira líquida, resultado das efetivas entradas e saídas de caixa e
equivalentes de caixa, posição que é visualizada de maneira resumidamente genérica na
DOAR. As informações apresentadas pela DOAR, embora com alto teor informativo das
origens e aplicações de recursos, tanto de curto como de longo prazo, não apresentam, de
forma detalhada e específica, informações sobre recursos financeiros disponíveis de tamanha
importância no processo de tomada de decisão, além de sua pouca compreensibilidade por
parte dos usuários. Com isso, a divulgação de uma demonstração que atendesse a esse tipo de
necessidade passou a ser requerida pelos usuários da informação contábil, resultando na
proposta da DFC, pois havia como referência a experiência internacional, onde países como
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul já haviam
feito a substituição, visualizando o propósito de atender a essas necessidades de informação.
Tendo em vista que as duas demonstrações, ainda que financeiras, abordem aspectos
distintos, a escolha por substituir a DFC pela DOAR pode gerar uma perda de informações
importantes com o fim da divulgação da DOAR. Embora uma das justificativas para essa
substituição seja a dificuldade de entendimento apresentado pela DOAR, a apresentação do
Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais pelo Método Indireto demonstra uma
sistemática semelhante ao conceito de conversão do resultado econômico em resultado
financeiro presente na DOAR, que também provocava dificuldade de entendimento.

Metodologia

O desenvolvimento e a elaboração do trabalho estão baseados na revisão bibliográfica


dos conceitos fundamentais da Internacionalização das Normas Contábeis onde se enquadram

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os processos de Padronização, Harmonização e Convergência das Normas Contábeis. Segue-
se com um ponto de vista dos acontecimentos que envolvem o Processo de Convergência das
Normas Contábeis no Brasil, destacando as regulamentações dos órgãos envolvidos neste
processo. Ênfase maior é atribuída às normatizações internacionais e nacionais relacionadas à
DOAR e à DFC.

O trabalho está dividido nos seguintes capítulos:

• Capítulo I – Contexto Atual da Contabilidade: nesta primeira parte do


trabalho, estudamos o advento da Internacionalização das Normas Contábeis e
os movimentos de Padronização, Harmonização e Convergência das Normas
Contábeis, seus impactos na Contabilidade, que visualizada como a linguagem
dos negócios, se comunica por meio das informações contábeis que devem
apresentar características qualitativas importantes no processo de tomada de
decisão. Relata-se o contexto atual da Harmonização e Convergência das
Normas Contábeis no Brasil.

• Capítulo II – Demonstração dos Fluxos de Caixa: capítulo destinado a


relatar os objetivos, a finalidade e a estruturação da Demonstração dos Fluxos
de Caixa, os tipos de caixa gerados pelas principais atividades da empresa e os
métodos de elaboração do Fluxo de Caixa gerados pelas Atividades
Operacionais.
• Capítulo III – Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração das
Origens e Aplicações de Recursos: Vantagens e Desvantagens: este capítulo
concentra-se na utilidade e caracterização da DOAR como demonstração
contábil de caráter financeiro, comparando-a a DFC, cuja característica
financeira é inquestionável. Abrange aspectos positivos e negativos das duas
demonstrações.
• Para as Considerações Finais... fica o intuito de esclarecer as finalidades da
demonstrações estudadas, destacando as dificuldades da DOAR e as
facilidades da DFC que, em conjunto com a tendência internacional sustentam
ou apóiam a substituição da DOAR pela DFC prevista na aprovação do
Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações, a Lei 6.404/76.

8
Capítulo I

1. Contexto Atual da Contabilidade

A Contabilidade hoje, no Brasil, passa por um momento de transição jamais visto.


Desde a aprovação da Lei das Sociedades por Ações, a Lei 6.404, em 15 de dezembro de
1976, em nenhum momento, esperou-se tanto por reformulação. Não por se tratar de um
longo período que se compreende entre os anos de 1976 até o ano de 2007, mas sim, pelo que
essa mudança representa para a Contabilidade Brasileira, seu ingresso no Contexto
Internacional da Contabilidade.

A aprovação do Anteprojeto da Reformulação da Lei das Sociedades por Ações


representa um avanço frente aos acontecimentos mundiais na área contábil. A Contabilidade
Brasileira está integrada ao Processo de Internacionalização das Normas Contábeis, engajada,
do ponto de vista legal, no Movimento de Convergência das Normas Contábeis rumo à
Harmonização das Normas Contábeis.

1.1. O advento da Internacionalização das Normas Contábeis

Nesses últimos anos, o grande impulso para o processo de fixação de normas contábeis
no âmbito internacional foi a Globalização da Economia. Segundo Leite (2002, p. 52), essa
internacionalização dos mercados decorre de três acontecimentos que modificaram o cenário
econômico mundial:

 Desenvolvimento do mercado de capitais internacional


 Crescimento dos investimentos diretos estrangeiros
 Formação de blocos econômicos

O crescimento acelerado verificado no mercado de capitais foi um dos responsáveis


pelo grande impulso da internacionalização da contabilidade. Para os diversos participantes
do mercado de capitais, os investidores, os analistas e outros usuários, a Contabilidade
representa uma das principais ferramentas no processo de decisão, pois se trata de uma fonte

9
primordial de informações capaz de atender às suas necessidades informacionais, no decorrer
desse processo.

Outro fator propulsor da internacionalização da contabilidade é o aumento


significativo das fusões e aquisições de empresas no mundo. Nesse contexto, é imprescindível
a existência de uma linguagem universal para que haja a comunicação entre os interessados,
pois essas operações de negócios acontecem com companhias localizadas em países distintos.
As fusões e aquisições ocorrem entre empresas que podem estar localizadas no mesmo
território e com a mesma origem de nacionalidade; entre empresas que estão localizadas no
mesmo território, porém os países de origem são diferentes e; ainda, empresas estrangeiras
interessadas em empresas nacionais com o propósito de ampliar os negócios, além adentrar
em novos mercados.

A Contabilidade é considerada a linguagem universal dos negócios e, para isso, existe


a necessidade de haver uma linguagem padronizada, facilitando a comunicação entre os
diversos usuários da informação contábil que estão espalhados pelo mundo inteiro.

Como conseqüência da internacionalização da economia, os blocos econômicos que


passaram a ser formados, pela própria característica, apresentam como exigência uma abertura
da economia seguida da prática de livre comércio entre os países que os compõem. Como
pressuposto da integração entre esses países, a arte de bem informar os usuários nacionais e
internacionais da informação contábil é fundamental. Complementando essa idéia, Rosa
(1999) justifica quão importante é a informação para a gestão dos negócios nesse processo de
transformação pela qual o mundo está passando.

1.2. Importância da Harmonização das Normas Contábeis Internacionais

A divulgação das informações contábeis de uma entidade que atua tanto no mercado
nacional como no mercado internacional atinge interesses de usuários que se encontram no
país-matriz ou no país-filial da companhia, usuários do mesmo ramo empresarial e de outros
ramos empresariais. Os usuários localizados no país-matriz ou no país-filial da companhia
estão interessados nas informações sobre a evolução do patrimônio da empresa, sobre os
resultados obtidos naquele período, sobre a situação financeira, ou seja, o interesse é sobre o
desempenho da companhia; já os usuários do mesmo ramo em que a empresa opera estão

10
interessados no confronto e comparação de informações daquele ramo empresarial, qual o
comportamento verificado entre as empresas, qual a expectativa para os próximos anos,
enfim, o propósito seria a análise dos concorrentes entre si e os usuários de outros ramos
empresariais estão interessados em informações necessárias para a montagem de projeções do
mercado, para a formulação de índices econômico-financeiros.

Leite (2002) comenta que o entendimento das dimensões internacionais da


contabilidade, por meio dos reportes das informações contábeis aos diversos usuários
internacionais, controladores e investidores, é vital para qualquer usuário ambicioso a
negociar por fronteiras nacionais e internacionais, porque as informações contábeis tendem a
variar, de forma substancial, de um país para outro, conforme os princípios contábeis que os
governem.

Dada a localização pulverizada de cada um desses usuários, existe a necessidade de


um conjunto de normas contábeis padronizadas no âmbito internacional, para que possa
viabilizar o processo de comparação das inúmeras informações contábeis disponíveis,
atingindo, assim, o propósito de atender de maneira favorável às necessidades que surgem no
transcorrer do processo de tomada de decisão.

Essa variação de informações contábeis de um país para outro, conforme Rosa (1999)
representa um dos complicadores atuais para os investidores, dada a ausência de um conjunto
harmonizado de informações.

1.3. Necessidade de Harmonização Internacional das Normas Contábeis

Iudícibus (2004, p. 22) comenta ao mencionar o relatório do Grupo de Estudos sobre


os Objetivos dos Demonstrativos Financeiros denominado – Objetivos dos demonstrativos
Financeiro - publicado pelo American Institute of Certified Public Accountants (AICPA): “A
função fundamental da Contabilidade [...] tem permanecido inalterada desde seus primórdios.
Sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com informações que os
ajudarão a tomar decisões”.

O usuário da informação contábil deseja informações que auxiliem e direcionem seu


processo de tomada de decisão. Atualmente, ele tem acesso às informações que são

11
disponibilizadas no mundo inteiro mesmo ele estando no seu país de origem. O processo de
globalização, seja ele pelo desenvolvimento do mercado de capitais internacional, pelo
crescimento dos investimentos diretos estrangeiros ou pela formação de blocos econômicos
passa a exigir uma linguagem única das demonstrações contábeis para que os dados extraídos
atinjam o objetivo de bem informar tanto os usuários nacionais como internacionais.

1.4. A Contabilidade como Linguagem dos Negócios

Leite e Benedicto (2004, p. 3) estabelecem uma relação entre a Contabilidade e seus


usuários:

A contabilidade pode ser vista como a linguagem financeira universal


no mundo dos negócios e a harmonização de suas normas é um
processo de extrema necessidade e relevância para as empresas que
operam em diversos países e que precisam reportar informações às
suas controladoras ou aos seus usuários internacionais.

Segundo Haussmann et al (2003), no contexto da harmonia internacional da


metodologia contábil, a Contabilidade tem como essência o enfoque informativo, ou seja, a
comunicação é seu objetivo maior. Lima (2001, p. 24) explica que

Comunicação tem a sua origem etimológica no substantivo latino


communicationem (século XV), que significa “a ação de tornar comum”. Sua raiz é
o adjetivo communis, comum, que significa “pertence a todos ou a muitos”. E o
verbo é comunicare, comunicar, que significa “tornar comum, fazer saber”.

Portanto, podemos concluir que o processo de comunicação, num contexto de


negócios, acontece pela linguagem contábil, ou seja, segundo Carvalho (1999, p. 12), “a
Contabilidade é a linguagem universal dos negócios”.

1.5. Características Qualitativas da Informação Contábil

O surgimento da necessidade por uma informação nasce da sua utilidade no processo


de tomada de decisão. Essa vantagem está intimamente relacionada às características

12
qualitativas da informação. Portanto, a informação contábil deve apresentar como
características qualitativas a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade e a
comparabilidade. Na verdade, o mercado necessita dessas características para que a
informação seja útil no seu processo decisório, tanto que nos OFÍCIOS-
CIRCULARES/CVM/SNC/SEP nº 01 dos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007, no item “A
Qualidade da Informação Contábil” a CVM cita:

As características qualitativas são os atributos que tornam as demonstrações


contábeis úteis para os usuários. As quatro primeiras características qualitativas
são: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade.

Hendriksen e Breda (1999) fazem uma distinção entre as qualidades da informação


contábil especificando-as para os usuários ou para a tomada de decisão. A característica
qualitativa específica para os usuários é a compreensibilidade, ao passo que as características
qualitativas específicas para a tomada de decisão são a relevância, a confiabilidade e a
comparabilidade. Eles ainda ressaltam que a relevância e a confiabilidade pressupõem a
comparabilidade.

1.5.1. Compreensibilidade

Segundo Iudícibus e Marion (1999, p. 64), “a informação contábil precisa ser


compreensiva, isto é, completa, e retratar todos os aspectos contábeis de determinada
operação ou conjunto de eventos ou operações”. Sua característica principal é transmitir a
facilidade de entendimento daquela situação retratada pelas transações efetuadas pela
empresa. As informações precisam ser compreendidas para que o usuário tenha condições de
percebê-la, entendê-la e utilizá-la da melhor forma, podendo alcançar o objetivo destinado.

1.5.2. Relevância

Para que a informação contábil atinja a sua finalidade, que é a de ser útil, ela deve ser
relevante para as necessidades dos usuários no processo de tomada de decisão. A informação
passa a apresentar como qualidade a característica relevante quando dispõe de condições de
fazer diferença numa decisão, colaborando com os usuários na avaliação de eventos passados,
presentes e futuros, além de confirmar ou corrigir expectativas anteriores.

13
1.5.3. Confiabilidade

Iudícibus (2004), a qualidade confiabilidade é um atributo que proporciona a aceitação


da informação contábil pelo usuário para utilizá-la como base em sua tomada de decisão. Na
verdade, essa informação para ser confiável, pressupõe-se que sua divulgação aconteça de
forma transparente, de maneira que represente fielmente o que está destinada a representar,
deve, ainda, evidenciar de maneira clara o conteúdo da sua essência. Hendriksen e Breda
(1999, p. 99) citam a definição de confiabilidade de acordo com o SFAC1 2: “A qualidade da
informação que garante que a informação seja razoavelmente livre de erro e viés e represente
fielmente o que visa representar”

1.5.4. Comparabilidade

A comparabilidade diz respeito à possibilidade da informação contábil poder ser


relacionada ou confrontada, na tentativa de se encontrar semelhanças ou diferenças entre dois
ou mais conjuntos de fenômenos econômicos. A comparabilidade possibilita a identificação
de tendências da situação patrimonial e financeira da empresa, além de seu desempenho, tanto
no ramo empresarial como no contexto empresarial global.

As características qualitativas da informação contábil relacionam-se entre si no


contexto globalizado, e a existência de uma delas implica a existência de outra para que se
viabilize o processo de tomada de decisão. Leite (2002, p. 57) caracteriza a relação da
confiabilidade com a comparabilidade, pressupondo, implicitamente a relevância quando ele
comenta que “os investidores estrangeiros necessitam de informações confiáveis que
resguardem a comparabilidade das informações no processo de tomada de decisões”.

1.6. Discussão – Padronização – Harmonização – Convergência

Nesta última década, quando o assunto é a contextualização das Normas Contábeis no


âmbito internacional, conceitos como Padronização, Harmonização e Convergência têm sido
utilizados na tentativa de mostrar o caminho que a Contabilidade vem percorrendo para
alcançar seu objetivo que é o de prover os usuários com informações que atendam às suas

1
Statement of Financial Accounting Concepts – Conceitos de Contabilidade Financeira.

14
necessidades, independente do país onde estejam localizadas a empresa e a sua Contabilidade
propriamente dita, a empresa matriz e o usuário interessado nas informações divulgadas pela
Contabilidade da Entidade Econômica como um todo.

Esses três conceitos tendem a ser interpretados de maneira semelhante, mesmo que
não sejam. Resumidamente, de acordo com os grandes dicionários de língua portuguesa
Houaiss e Michaelis, a palavra mais apropriada para denominar padronização seria
uniformidade, já harmonização seria mais bem associada com concordância e convergência,
logo o melhor entendimento seria a tendência para um ponto comum.

1.7. Processo de Padronização

Inicialmente, foi utilizada a terminologia Padronização das Normas Contábeis que,


segundo Rech (2006), seria a exata aplicação das mesmas normas na ocorrência dos fatos em
todos os países e empresas. Porém, essa concepção não obteve êxito devido à interferência de
fatores como nacionalismo, soberania, cultura entre outros. Lisboa (1998) citado por
Amenábar (2001, p. 8) afirma “Padronização significa que deve existir um único padrão ou
regra aplicável a todas as situações. Utopia”. Niyama (2006) reforça esse conceito ao
caracterizar a Padronização como um processo de uniformização de critérios, onde não se
admite flexibilização.

Daí surge o conceito de Harmonização das Normas Contábeis entre os diversos


mercados e blocos econômicos, como alternativa na busca por algo possível de ser alcançado.

1.8. Processo de Harmonização

Castro Neto (1998, p. 58) assevera que a

[...] harmonização contábil é o processo de trazer os padrões contábeis para um


acordo tal que permita às demonstrações contábeis de diferentes países serem
preparadas de acordo com um conjunto comum de princípios e divulgação.

Pohlmann (1995) comenta a diferença dos conceitos de padronização e harmonização


classificando-os como processos, sendo o primeiro como um movimento em direção a um

15
estado de uniformidade, enquanto o segundo seria um movimento direcionado a um estado de
ausência de diversidade de práticas.

A grande diferença entre a Padronização e a Harmonização está na aplicabilidade


desses dois processos, pois o primeiro acontece de forma impositiva; enquanto o segundo
preza pela compatibilidade e conciliação. Este último remete-nos à idéia dada por Amenábar
(2001, p. 4), ao mencionar Grien (1994) “Harmonização é sinônimo de integração”.

1.9. Processo de Convergência

Essa idéia serve de embasamento para o mais novo processo, a Convergência das
Normas Contábeis. Na verdade, o objetivo principal continua sendo a Harmonização das
Normas Contábeis, porém o caminho para alcançá-la é a Convergência das Normas
Contábeis.

Haussmann et al. (2003, p. 2) bem esclarecem a relação existente entre os conceitos de


Harmonização e Convergência:

[...] primeiramente, deverá existir um momento de todos os países convergirem


para as normas estabelecidas por um organismo considerado como mundial no que
se refere às normas contábeis, para posteriormente haver harmonia entre as práticas
e normas contábeis utilizadas no contexto global. Conclui-se dessa forma que a
convergência é o caminho para a harmonização.

Soares (2005) caracteriza a harmonização como um processo gradativo de


compatibilização das práticas contábeis estabelecendo um limite no qual elas podem variar,
ou seja, progressivamente deve existir uma integração entre as partes envolvidas para se
chegar ao mesmo objetivo, ao mesmo ponto em comum. Esse processo de integração pode ser
visualizado como o processo de Convergência das Normas Contábeis, onde existe a
concentração de esforços de órgãos internacionais na tentativa de reduzir, e não de eliminar,
as diferenças existentes entre as práticas contábeis.

16
1.9.1. Convergência das Normas Contábil – Contexto Mundial

Esse processo de Convergência das Normas Contábeis é lento, mas, necessário,


inicialmente, o detalhamento de cada uma das praticas contábeis, a identificação das
diferenças existentes acompanhadas da sua justificativa. Posteriormente, faz-se a identificação
do limite aceitável para a variação desta diferença, para em seguida, providenciar sua redução
ou eliminação. Haussmann et al. (2003, p. 17) esclarecem que “organismos internacionais
estão se estruturando lentamente para criar mecanismos no intuito de convergir os sistemas e
normas contábeis a fim de estabelecer a harmonização”.

Arpan e Radebaugh (1985) apud Pohlmann (1995, p. 2) já fazem referência aos


esforços dos organismos internacionais e à questão da redução ou eliminação das diferenças
entre as normas contábeis quando caracterizam

os processos de harmonização e padronização como resultados de esforços de


organismos internacionais para eliminar ou reduzir significativamente as diferenças
nas normas contábeis. Segundo eles, em sentido estrito, a padronização procura
eliminar tais diferenças pelo desenvolvimento de normas uniformes, enquanto que a
harmonização procura reduzir as diferenças e fazê-las mais conciliáveis entre si.

A Convergência das Normas Contábeis é um processo de alinhamento gradual das


normas locais com as normas internacionais, pressupõe a preponderância do propósito de
ajustar-se às normas internacionais. O diferencial existente entre a aplicabilidade dos
processos de Padronização e de Harmonização é o Processo de Convergência, cuja função é o
encaminhamento rumo à Harmonização.

1.9.2. Convergência das Normas Contábil – Contexto Brasileiro

No Brasil, os órgãos reguladores estão engajados neste processo de Convergência das


Normas Contábeis. Eles estão, de forma gradativa, emitindo regulamentações com o intuito de
convergir às práticas contábeis brasileiras em direção à harmonização das normas contábeis
internacionais. O quadro a seguir mostra os esforços de cada órgão neste processo e a
assiduidade cada vez maior a cada ano.

17
Quadro 1 – Ordem cronológica dos acontecimentos no contexto brasileiro que retratam o
Processo de Convergência das Normas Contábeis

Documento
Data Órgão
Número Título

dez/2000 Bovespa Folheto Nível 2 Compromissos de Governança Corporativa –


Nível 2

dez/2000 Bovespa Folheto Novo Compromissos de Governança Corporativa –


Mercado Novo Mercado

19/01/2004 CVM Ofício-Circular-CVM- Encerramento do Exercício Social


SNC-SEP 01/2004

25/02/2005 CVM Ofício-Circular-CVM- Orientação sobre a elaboração de Informações


SNC-SEP 01/2005 Contábeis pelas Companhias Abertas

03/10/2005 CVM Deliberação 488 Aprova o Pronunciamento do IBRACON NPC


nº 27 sobre Demonstrações Contábeis –
Apresentação e Divulgações.

03/10/2005 CVM Deliberação 489 Aprova o Pronunciamento do IBRACON NPC


Nº 22 sobre Provisões, Passivos, Contingências
Passivas e Contingências Ativas.

07/10/2005 CFC Resolução 1.055 Cria o COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS


CONTÁBEIS – (CPC), e dá outras providências.

22/02/2006 CVM Ofício-Circular-CVM- Orientação sobre a elaboração de Informações


SNC-SEP 01/2006 Contábeis pelas Companhias Abertas

10/03/2006 BCB Comunicado 14.259 Comunica procedimentos para a convergência


das normas de contabilidade e auditoria
aplicáveis às instituições financeiras e às demais
instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central do Brasil com as normas internacionais
promulgadas pelo International Accounting
Standards Board (IASB) e pela International
Federation of Accountants (IFAC).

19/06/2006 CVM Deliberação 505 Aprova o Pronunciamento do IBRACON sobre


Eventos Subseqüentes à Data do Balanço
Patrimonial. (NPC – 10 – EVENTOS
SUBSEQÜENTES À DATA DO BALANÇO
PATRIMONIAL (CORRELAÇÃO - IAS Nº
10))

18
19/06/2006 CVM Deliberação 506 Aprova o Pronunciamento do IBRACON sobre
Práticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas
Contábeis e Correção de Erros. (NPC Nº 12 –
PRÁTICAS CONTÁBEIS, MUDANÇAS NAS
ESTIMATIVAS CONTÁBEIS E CORREÇÃO
DE ERROS (CORRELAÇÃO - IAS Nº 8))

28/07/2006 CFC Resolução 1.075 Altera o artigo 8º da Resolução CFC nº 1.055/05


que cria o COMITÊ DE
PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC) e
dá outras providências.

14/02/2007 CVM Ofício-Circular-CVM- Orientação sobre Normas Contábeis pelas


SNC-SEP 01/2007 Companhias Abertas

15/05/2007 CVM Deliberação 520 Dispõe sobre a audiência pública e a aceitação


pela CVM dos pronunciamentos técnicos
emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC).

18/05/2007 CVM Ofício-Circular-CVM- Edital sobre as demonstrações financeiras


SNC-SEP 02/2007 consolidadas com base nas normas contábeis
internacionais

13/07/2007 CVM Instrução 457 Dispõe sobre a elaboração e divulgação das


demonstrações financeiras consolidadas, com
base no padrão contábil internacional emitido
pelo International Accounting Standards Boards
(IASB).

14/09/2007 CPC Pronunciamento Dispõe sobre a Redução ao Valor Recuperável


Técnico CPC 01 de Ativos

26/10/2007 CFC Resolução 1.106 Estabelece regras para a edição das Normas
Brasileiras de Contabilidade (NBCs).

01/11/2007 CVM Deliberação 527 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 01 do


Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
sobre Redução ao Valor Recuperável de Ativos

06/11/2007 CVM Ofício-Circular-CVM- Orientação acerca do envio de Demonstrações


SEP 04/2007 Financeiras Consolidadas em IFRS

09/11/2007 CPC Pronunciamento Dispõe sobre os Efeitos nas Mudanças nas Taxas
Técnico CPC 01 de Câmbio e Conversão de Demonstrações
Contábeis.

29/11/2007 CFC Resolução 1.110 Aprova a NBC T 19.10 - Redução ao Valor


Recuperável de Ativos.

19
11/01/2008 CPC Pronunciamento Dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a
Conceitual Básico Elaboração e Apresentação para as
Demonstrações Contábeis

29/01/2008 CVM Deliberação 534 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 02 do


Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata
dos Efeitos nas Mudanças nas Taxas de Câmbio
e Conversão de Demonstrações Contábeis.

22/02/2008 CFC Resolução 1.120 Aprova a NBC T 7 – Efeitos das Mudanças nas
Taxas de Câmbio e Conversão de
Demonstrações Contábeis.

14/03/2008 CVM Deliberação 539 Aprova o Pronunciamento Conceitual Básico do


CPC que dispõe sobre a Estrutura Conceitual
para a Elaboração e Apresentação das
Demonstrações Contábeis

20/03/2008 BCB Comunicado 16.669 Comunica procedimentos para a adequação das


normas de contabilidade e auditoria aplicáveis às
instituições financeiras e demais instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do
Brasil às disposições constantes da Lei nº
11.638, de 2007

28/03/2008 CFC Resolução 1.121 Aprova a NBC T 1 – Estrutura Conceitual para a


Elaboração e Apresentação das Demonstrações
Contábeis

29/05/2008 BCB Comunicado 3.566 Dispõe sobre procedimentos aplicáveis no


reconhecimento, mensuração e divulgação de
perdas em relação ao valor recuperável de
ativos.

13/08/2008 CVM Deliberação 547 Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 03 do


Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata
da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

O OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2005 de 25 de janeiro de 2005, p. 2


retrata esta postura dos órgãos brasileiros:

O sentido principal da evolução regulatória no Brasil está na convergência com os


pronunciamentos internacionais e, para isso, o Ibracon e a CVM vêm se
empenhando na adaptação das regras emitidas pelo IASB, os International
Financial Reporting Standards (IFRS), para o ambiente contábil brasileiro. Essas
ações, entretanto, implicam ultrapassar algumas barreiras para a integração dos
mercados de capitais e a conseqüente necessidade de harmonização contábil.

20
Essa postura é reiterada no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2006 de 22
de fevereiro de 2006, p. 2 e também no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2007 de
14 de fevereiro de 2007, p. 14.

1.9.2.1. BCB

O marco dos procedimentos visando à Convergência das Normas Contábeis foi a


adoção pelo Banco Central do Brasil (BCB) das normas internacionais de contabilidade para
as suas demonstrações financeiras do exercício de 2006 (ou exercício findo em 31/12/2006).
Por meio do Voto BCB 235/2002, o Banco Central do Brasil aprovou a aderência de sua
contabilidade às melhores práticas internacionais. Ao ratificar esse entendimento por meio do
Voto CMN 53/2002, o Conselho Monetário Nacional determinou que se passasse a adotar as
normas divulgadas pelo International Accounting Standard Board (IASB), embora houvesse,
antes de se chegar a essa conclusão, a necessidade da observação das práticas de outros
bancos centrais e as considerações sobre o assunto emanadas de organismos internacionais,
por exemplo, BIS, Banco Mundial, CEMLA. Esse processo detalha-se no cronograma abaixo:

CRONOGRAMA

ATIVIDADES INÍCIO FIM

Grupo de estudos do Deafi 1/5/2002 31/12/2003

Pesquisa dos procedimentos em outros bancos centrais 4/8/2003 29/8/2003

Avaliação de todas as operações do BC e de todas as 1/3/2004 15/5/2004


normas emitidas pelo IASB, efetuando um estudo da
aplicação dessas normas às operações do BC

Adaptação dos esquemas contábeis, manuais e sistemas 1/6/2004 31/12/2004


de contabilidade e gerenciais do Banco

Início da preparação das demonstrações financeiras do 30/6/2004 -


Banco de acordo com o IASB

Publicação do primeiro conjunto completo de - 31/12/2006


demonstrações financeiras comparativas
Fonte: BCB. PROJETO: Aderência às Normas Internacionais de Contabilidade – IASB. s/d.

Posteriormente, o BCB amplia essa aderência a todas as instituições financeiras por


meio do Comunicado 14.259 de 10.03.2006 que disponibiliza procedimentos para a

21
convergência das normas de contabilidade e auditoria das instituições financeiras com as
normas internacionais da IASB e IFAC (The International Federation of Accountants), a
Federação Internacional de Contadores, ressaltando a emissão de normas alinhadas às normas
da IASB e IFAC para adoção efetiva a partir de 31.12.2010.

No site do BCB, em Informações Cadastrais e Contábeis do Sistema Financeiro


Nacional, está disponibilizada a página “Convergência das normas contábeis do SFN às
normas internacionais”, onde podemos encontrar Diagnósticos das normas do SFN em relação
às normas internacionais com comentários sobre o diagnóstico de cada uma das IAS e IFRS
frente à regulamentação brasileira; Normas sobre Convergência no âmbito do SFN onde estão
relacionados os Comunicados e Resoluções emitidos que já se encontram no processo da
Convergência das Normas Contábeis na esfera do SFN e, Histórico de atualizações, que relata
um histórico da edição de normas visando à convergência entre as normas contábeis do
COSIF e as Normas Internacionais de Contabilidade editadas pelo IASB, datados de janeiro
de 2008 e junho de 2008.

1.9.2.2. CVM

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desde o OFÍCIO-


CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2004 de 19 de janeiro de 2004, que apresenta as
orientações sobre a elaboração de Informações Contábeis pelas Companhias Abertas, já se
encontra no processo de Convergência das Normas Contábeis e explica em seu primeiro
parágrafo:

Os Ofícios-Circulares emitidos pela área técnica da CVM têm como objetivo


divulgar os principais problemas e considerações na aplicação das Normas de
Contabilidade aplicáveis às Companhias Abertas. Esses comentários têm como
objetivo mais geral o aperfeiçoamento da informação contábil para o mercado e a
conseqüente convergência com as normas internacionais de contabilidade e das
práticas contábeis relacionadas à aplicação da legislação societária. Além deste
propósito, o ofício objetiva, também, alertar as companhias abertas e seus auditores
sobre desvios observados nas informações divulgadas ao mercado em relação à
suas normas e aos princípios contábeis. e, em alguns casos, a relação com a normas
internacionais emitidas pelo IASB.

22
Destacamos o compromisso da CVM junto ao IOSCO – The International
Organization of Securities Commission, a Organização Mundial das Comissões de Valores
Mobiliários, em balizar seus trabalhos nas orientações emanadas do IASB, desde que não se
depare com alguma impossibilidade legal. Nos anos subseqüentes, de 2005, 2006 e 2007, a
CVM continua nesse processo de convergência como se verifica na divulgação dos OFÍCIOS-
CIRCULARES/CVM/SNC/SEP de 2005, de 2006 e de 2007 quando é evidenciada, de forma
idêntica, a preocupação em ressaltar o propósito da CVM quanto à sua função de
regulamentação, de seu auxílio no esclarecimento de questões voltadas às normas
internacionais de contabilidade, além de recomendar a divulgação em notas explicativas da
conciliação das diferenças entre as normas contábeis brasileiras e internacionais:

Esse ofício-circular também procura incentivar a adoção de novos procedimentos e


divulgações, bem como antecipar futura regulamentação por parte da CVM e, em
alguns casos, esclarecer questões relacionadas às normas internacionais emitidas
pelo IASB. Esses comentários têm como objetivo mais geral o aperfeiçoamento da
informação contábil para o mercado e a conseqüente convergência com as normas
internacionais de contabilidade.

Considerando a referência internacional alcançada pelo IASB (IFRS/IAS) e o


compromisso e o esforço dos órgãos reguladores e emissores de normas de buscar a
convergência com as mesmas, recomenda-se que as companhias abertas divulguem
em nota explicativa a conciliação das diferenças entre as práticas contábeis
adotadas no Brasil e as práticas contábeis internacionais.

Neste período, ano a ano, é possível verificar que o posicionamento adotado pela
CVM está direcionado com o propósito de redução das diferenças existentes, além dos
avanços significativos que intencionam o alinhamento às normas internacionais. A partir de
“convergência com as normas internacionais de contabilidade, além do balizamento com as
normas do IASB” constantes no Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP de 2004, constata-se no
mesmo tipo de documento, porém direcionado para o exercício de 2005, o acréscimo da
“observância de diferenças entre os procedimentos contábeis nacionais e os internacionais no
intuito de divulgá-las em notas explicativas com a devida conciliação”. No OFÍCIO-
CIRCULAR /CVM/SNC/SEP de 2006, a citação da Deliberação nº 488 de 03 de outubro de
2005, que reconhece e aprova o Pronunciamento nº 27 emitido pelo Instituto Brasileiro dos
Auditores Independentes (Ibracon) sobre Apresentação e Divulgação de Demonstrações

23
Contábeis, retrata um importante esforço deste órgão nesse processo de convergência, tanto
que no Ofício-Circular explicita-se:

A área técnica desta CVM entende que tal pronunciamento reflete a crescente
importância que a autarquia e o Ibracon conferem à convergência das práticas
contábeis brasileiras com as práticas contábeis internacionais, visando ao aumento
da transparência e da segurança nas nossas informações contábeis divulgadas ao
público investidor, e possibilitando, a um custo mais baixo, o acesso das empresas
nacionais às fontes de financiamento externas.

O destaque no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP de 2007 é a menção da


instalação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), importante órgão engajado no
processo de convergência das práticas contábeis brasileiras com as práticas contábeis
internacionais, além da contribuição com que a CVM colabora se dedicando ao processo de
convergência das normas contábeis:

A CVM vem, ao longo dos anos da sua atuação, buscando aperfeiçoar e manter
atualizado o seu arcabouço normativo contábil, sempre com a participação de
segmentos interessados do mercado ou da profissão contábil. Cumpre destacar a
importante colaboração recebida da Comissão Consultiva de Normas Contábeis da
CVM, que conta com representantes da ABRASCA, APIMEC, CFC, IBRACON,
FIPECAFI/USP e colaboradores especialmente nomeados pela CVM, além dos
professores Ariovaldo dos Santos (USP), José Augusto Marques (UFRJ) e Natan
Szuster (UFRJ) e, agora, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),
recentemente instalado.

A colocação em audiência pública da minuta, que depois de regulamentada deu


origem à Instrução nº 457/07 de 13 de julho de 2007, documento que dispõe sobre a
elaboração e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas, com base no padrão
contábil internacional, foi outra evidência do engajamento da CVM neste processo de
convergência no ano de 2007 que, por meio do OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP nº
02/2007 de 18 de maio de 2007, destaca a sua importância:

Essa instrução vai ao encontro do processo de convergência com essas normas


internacionais ao mesmo tempo em que permite, durante o período de 2007 a 2009,
a opção de apresentar as demonstrações consolidadas segundo as normas do
International Accounting Standard Board – IASB, e fixa o exercício findo em 2010

24
para que as companhias abertas brasileiras adotem obrigatoriamente as normas
contábeis internacionais.

Essa instrução delimita a definitiva largada/arrancada rumo ao processo de


Convergência das Normas Contábeis, pois ela formaliza/estabelece/impõe a fixação de prazos
de adequação e enquadramento das sociedades anônimas de capital aberto às normas
internacionais de contabilidade. Inicialmente, a apresentação das demonstrações financeiras
consolidadas das companhias abertas conforme o padrão contábil internacional, ou seja, de
acordo com os pronunciamentos emitidos pelo International Accounting Standards Board
(IASB), tem caráter facultativo desde o exercício social de 2007 até o exercício social de
2009, sendo que a partir do exercício social de 2010, a elaboração e a apresentação passam a
ser obrigatórias.

Finalizando a ênfase dada pela CVM ao processo de convergência das normas


contábeis, o OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SEP nº 04/2007 de 06 de novembro de 2007
direciona, numa extensão das orientações da Instrução CVM nº 457/07, o envio por parte das
companhias abertas, de forma voluntária, de informações sobre suas demonstrações
financeiras consolidadas elaboradas em conformidade com as normas internacionais de
contabilidade, já a partir do 3º trimestre de 2007, na tentativa de incentivar a intersecção das
normas internacionais aos procedimentos contábeis nacionais já existentes, neste caso, as
Informações Trimestres - 3º ITR/2007.

1.9.2.3. IBRACON

Outro órgão de forte atuação neste processo é o Instituto Brasileiro dos Auditores
Independentes (Ibracon). Recentemente, o Ibracon tem emitido novas normas contábeis
alinhadas com as normas internacionais. Intituladas Normas de Pronunciamentos Contábeis
(NPC), são aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da emissão das
deliberações CVM, como segue:

 Deliberação nº 488, de 3 de outubro de 2005 - Aprova o Pronunciamento do


IBRACON NPC nº 27 sobre Demonstrações Contábeis – Apresentação e Divulgações.

25
 Deliberação nº 489, de 3 de outubro de 2005 - Aprova o Pronunciamento do
IBRACON NPC Nº 22 sobre Provisões, Passivos, Contingências Passivas e Contingências
Ativas.

 Deliberação nº 505, de 19 de junho de 2006 - Aprova o Pronunciamento do


IBRACON sobre Eventos Subseqüentes à Data do Balanço Patrimonial.

 Deliberação nº 506, de 19 de junho de 2006 - Aprova o Pronunciamento do


IBRACON sobre Práticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas Contábeis e Correção de
Erros.

Outra regulamentação de muita importância no processo de Convergência das Normas


Contábeis é a Deliberação nº 520, de 15 de maio de 2007, que dispõe sobre a audiência
pública e a aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão criado por entidades representativas da classe
contábil e do mercado de capitais com o propósito de estudar, preparar e emitir
pronunciamentos técnicos visando o alinhamento das normas contábeis brasileiras às normas
de contabilidade de padrões internacionais. Como resultado, em 1º de novembro de 2007, a
deliberação nº 527 da CVM aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 01 do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC) que regra sobre o tema ‘Redução ao Valor Recuperável de
Ativos’, o impairment, uma norma contábil inexistente pelas normas nacionais, presente, de
forma inconsciente apenas pelas normas internacionais.

1.9.2.4. BOVESPA

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) implantou, em dezembro de 2000,


segmentos especiais de listagem de ações, o Novo Mercado e os Níveis Diferenciados de
Governança Corporativa – Nível 1 e Nível 2. As empresas listadas nos níveis ‘Novo Mercado’
e ‘Nível 2’ tem em seus regulamentos, como um dos requisitos do conjunto de Divulgação de
Informações, a exigência de elaboração, ao final do exercício, de demonstrações financeiras
ou demonstrações consolidadas, de acordo com os padrões internacionais de contabilidade,
sendo aceito tanto em IFRS como em US GAAP. Tal exigência se estende às demonstrações
financeiras trimestrais, sendo facultada sua substituição pela divulgação das Informações
Trimestrais (ITRs), desde que traduzidas para a língua inglesa.

26
1.9.2.5. CFC

Não somente órgãos reguladores do mercado de capitais estão envolvidos no processo


de Convergência das Normas Contábeis, mas também órgãos de classe da profissão contábil.
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) tem se manifestado favoravelmente com a
emissão de regulamentações. A primeira delas foi a Resolução nº 1.055 de 7 de outubro de
2005, criando o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

Seguindo a mesma tendência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho


Federal de Contabilidade (CFC) emitiu a Resolução nº 1.106 de 26 de outubro de 2007 que
estabelece regras para que a edição das futuras Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs)
deva seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais.

1.9.2.6. CPC

O CPC é um órgão formado por entidades da área privada, do mundo acadêmico e do


setor governamental que, dentro de um escopo de questões regulamentares, busca, por meio
de uma profunda e intensa atualização, a modernização das normas e preceitos contábeis, no
intuito da Harmonização das Normas Contábeis.

A criação do CPC se deu com o propósito de atender às necessidades de convergência


internacional das normas contábeis, de centralização na emissão das referidas normas e de
representação e processo democráticos na produção dessas informações.

Segundo o Art. 3º da Resolução CFC nº 1.055 de 7 de outubro de 2005, que cria o


Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a entidade tem por objetivo:

[...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre


procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para
permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à
centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em
conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

27
Ainda no Art. 4º desta Resolução são atribuídos ao CPC o estudo, a pesquisa, a
discussão, a elaboração e a deliberação sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos
Técnicos.

Além dos Pronunciamentos Técnicos, resultado do objetivo da entidade, o CPC


também tem como propósito lançar Orientações e Interpretações que poderão ser submetidas
a audiências públicas, procedimento obrigatório para os Pronunciamentos Técnicos.

A composição do CPC reúne as seguintes entidades:

• Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) – organização civil sem


fins lucrativos, que apresenta como missão a defesa das posições das companhias abertas
junto aos centros de decisão e à opinião pública. Além disso, se empenha no desenvolvimento
dos mecanismos do mercado de capitais e na disseminação de informações sobre os principais
títulos. Preza, também, pelo aprimoramento das práticas de política e de administração
empresarial, no que se refere ao mercado de capitais, base na qual devem estar inseridas as
boas práticas de governança corporativa.

• Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de


Capitais) – entidade composta por pessoas físicas, com o foco no desenvolvimento do
mercado de capitais. Suas atividades envolvem desde cursos básicos até MBAs, reuniões com
empresas, visitas a parques fabris, seminários, palestras, mesas redondas, reuniões técnicas e
participação em comitês e comissões, além de oferecer, ainda, um programa de certificação
nacional e internacional.

• Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) – instituição privada, sem fins


lucrativos, pertence às sociedades corretoras e atua sob a supervisão da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), que lhe confere o poder de auto-regulação. Tem como principais funções
a promoção do desenvolvimento do mercado de ações brasileiro, o financiamento do setor
produtivo e a oferta de uma forma de poupança de longo prazo ao investidor. Em seu
ambiente de negociação, são transacionadas ações, cotas de fundos e investimento fechados,
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e debêntures.

28
• CFC (Conselho Federal de Contabilidade) – autarquia especial de caráter
corporativo, que apresenta como finalidades a orientação, a normatização e a fiscalização do
exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade. A
entidade visualiza como sua missão a promoção do desenvolvimento da profissão contábil,
primando pela ética e qualidade na prestação dos serviços, realizando o registro e a
fiscalização de profissionais e organizações contábeis, atua como fator de proteção da
sociedade e quer ser reconhecido como um Conselho atuante e representativo da profissão
contábil.

• Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) –


órgão de apoio institucional ao Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP. Seus
principais objetivos são os de realizar pesquisas, desenvolver e promover a divulgação de
conhecimentos da área contábil, financeira e atuarial; incentivar a participação de professores
e estudantes em congressos e seminários com trabalhos científicos; produzir e incentivar a
produção de livros, artigos, papers e material científico no seu campo; financiar laboratórios
de pesquisa nas áreas de contabilidade, finanças, atuária, logística, tecnologia da informação e
outros correlatos; programar bolsas de estudo para a formação de docentes dessas áreas nos
níveis de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado; promover a internacionalização da Pós-
Graduação em Contabilidade da Universidade de São Paulo; promover cursos e consultorias.

• Ibracon (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) – órgão que congrega


profissionais da área contábil. O Instituto atua com ênfase em três propósitos específicos:
- Discussão, desenvolvimento e aprimoramento de questões éticas e técnicas da
profissão de auditor e de contador e, ao mesmo tempo, na atuação como porta-voz dessas
categorias diante de organismos públicos e privados e da sociedade em geral;
- Auxílio na difusão e na correta interpretação das normas que regem a profissão,
possibilitando aos profissionais conhecê-la e aplicá-la de forma apropriada, contribuindo para
a criação e a manutenção de um mercado sadio, regido pela ética profissional;
- Desempenho, também, no conjunto das entidades de ensino colaborando para o
aprimoramento da formação profissional, por meio da divulgação das atribuições, do campo
de atuação e da importância do trabalho do auditor independente em nossa sociedade.

29
Além dos órgãos participantes, representantes de órgãos como Banco Central do
Brasil, Comissão de Valores Mobiliários, Secretaria da Receita Federal e Superintendência de
Seguros Privados sempre serão convidados.

A estrutura funcional do CPC está dividida em quatro coordenadorias, a saber:

 Coordenadoria de Operações – responsável por todo o relacionamento com o


Conselho Federal de Contabilidade visando ao bom funcionamento do CPC no que tange a
convênios com órgãos reguladores, a audiências públicas; à divulgação dos atos do CPC, à
estrutura física, recursos humanos, biblioteca, tecnologia, etc; e à divulgação do CPC e do seu
trabalho.

 Coordenadoria de Relações Institucionais – sua atribuição diz respeito à gestão


para a adoção dos Pronunciamentos Técnicos pelos órgãos reguladores e à representação, em
matéria não-técnica, do CPC junto ao Governo Federal, organizações não-governamentais,
imprensa e sociedade em geral.

 Coordenadoria de Relações Internacionais – tem como foco a representação do


CPC junto a organismos internacionais governamentais e organizações internacionais
privadas e o acompanhamento e relato dos assuntos em andamento nas principais entidades
internacionais ligadas às regras contábeis.

 Coordenadoria Técnica – ênfase na elaboração da pauta do CPC, na convocação e


coordenação das reuniões do CPC e na representação do CPC nas matérias técnicas.

O CPC já possui os seguintes pronunciamentos:

 Pronunciamento Conceitual Básico - Estrutura Conceitual, que trata da Estrutura


Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis;
 CPC-01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos;
 CPC-02 - Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de
demonstrações contábeis

30
A intensidade com que acontece a integração entre os órgãos no processo de
Convergência das Normas Contábeis é verificada pelas normatizações emitidas. A
Deliberação CVM nº 520, de 15 de maio de 2007 dispõe sobre a audiência pública e a
aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis – CPC e a Resolução CFC nº 1.106 de 26 de outubro de 2007 que estabelece regras
para a edição das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). Como conseqüência, o
quadro seguinte demonstra os órgãos envolvidos no processo de convergência das normas
contábeis, conforme se verificam no site do CPC, os pronunciamentos técnicos já emitidos e
as regulamentações de outros órgãos endossando (referendando/aprovando) o
pronunciamento.

Quadro 2- Endosso de outros órgãos regulamentadores com os Pronunciamentos


Técnicos do CPC

CPC CVM CFC

Pronunciamento Conceitual Básico - Deliberação nº 539/08 NBC T 1


Estrutura Conceitual Resolução nº 1.121/08

CPC-01 Deliberação nº 527/07 NBC T 19.10


Redução ao Valor Recuperável de Ativos Resolução nº 1.110/07

CPC-02 Deliberação nº 534/08 NBC T 7


Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio Resolução nº 1.120/08
e conversão de demonstrações contábeis

CPC-03 Deliberação nº 547/08


Demonstração dos Fluxos de Caixa

Além da aprovação pela CVM e pelo CFC, o Pronunciamento Técnico CPC 01 –


Redução ao Valor Recuperável de Ativos também foi referendado pelo CMN Conselho
Monetário Nacional por meio da Resolução 3.566 de 29 de maio de 2008 do BCB (Banco
Central do Brasil).

Segundo o Regimento Administrativo da Coordenadoria Técnica do CPC, os


procedimentos de elaboração dos Pronunciamentos Técnicos, das Interpretações e das
Orientações serão desenvolvidos no contexto de uma rotina de, no máximo, 7 fases:

31
 1ª Fase – Elaboração da minuta inicial (M1)
 2ª Fase – Análise da minuta M1 pelo Grupo de Trabalho
 3ª Fase – Análise da minuta M2 pelo CPC
 4ª Fase – Análise da minuta M3 por Órgão Regulador Específico
 5ª Fase – Audiência Pública
 6ª Fase – Revisão final da minuta M4
 7ª Fase – Apreciação final pelo CPC

A fase da audiência pública diz respeito à disponibilização da minuta para apreciação


da comunidade nos sites do próprio CPC, de seus membros e, se possível, no site das
entidades permanentes ou temporariamente convidadas a participar da discussão do
documento. No 1º semestre do ano de 2008, os assuntos foram colocados em Audiência
Pública, Ativos Intangíveis e Demonstração de Fluxos de Caixa. No período de 2006 e 2007,
as Audiências Públicas realizadas resultaram nos três primeiros Pronunciamentos Técnicos
emitidos: Pronunciamento CPC-01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos, de 14 de
setembro de 2007; Pronunciamento CPC-02 - Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e
conversão de demonstrações contábeis, de 09 de novembro de 2007; e o Pronunciamento
Conceitual Básico – Estrutura Conceitual, que trata da Estrutura Conceitual para a Elaboração
e Apresentação das Demonstrações Contábeis, de 11 de janeiro de 2008;

A concepção e a instalação do CPC retratam o ponto de partida para a efetiva


integração no processo de Convergência das Normas Contábeis.

1.10. Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações

Na verdade, verifica-se uma mobilização de órgãos formando o mercado de capitais


em conjunto com outros da profissão contábil na tentativa de minimizar as diferenças
existentes das normas contábeis com o padrão internacional, mas o principal e primeiro
movimento foi o Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações.

Em julho de 1999, foi entregue ao Ministro da Fazenda, Dr. Pedro Malan, o


Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404 de 15 de
dezembro de 1976). Essa reformulação previa a modificação de algumas disposições
constantes dos capítulos XV, XVI, XVIII e XX, todas elas voltadas à matéria contábil. Em

32
2000, o texto desse anteprojeto foi encaminhado ao Congresso Nacional na forma de Projeto
de Lei nº 3.741 e, por fim, em 28 de dezembro de 2007, ocorreu sua aprovação pela edição da
Lei 11.638.

O Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações foi elaborado por
uma comissão integrada por representantes de entidades do mercado, principalmente da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de órgãos profissionais e de ensino.
Posteriormente, foi submetido a processo formal de audiência pública e, ainda, foi objeto de
análise e discussão prévias entre os órgãos de governo, subordinados ao Ministério da
Fazenda, interessados no assunto.

O processo de revisão da Lei 6.404/76 surgiu devido à percepção de uma nova


realidade econômica no Brasil, bem diferente daquela percebida dez anos antes do seu
anteprojeto e, mais ainda do período em que a própria Lei das Sociedades por Ações foi
editada. Aliado a essa nova realidade econômica brasileira, o processo de globalização das
economias, de abertura dos mercados, com expressivos fluxos de capitais ingressando no país,
além da captação de recursos no exterior, por parte das empresas brasileiras, formam o
conjunto de fatores que justificam esse processo de revisão da lei.

Dado o novo cenário da economia brasileira, o Anteprojeto tinha por alvo, com as
mudanças previstas na elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, atingir os
seguintes objetivos:

a) Adequação do conteúdo contábil da lei de maneira a atender a necessidade de


maior transparência e qualidade das informações contábeis;
b) Criação de condições para harmonização da lei com as melhores práticas contábeis
internacionais;
c) Busca pela eliminação ou diminuição das dificuldades existentes na interpretação e
na aceitação das informações contábeis brasileiras, principalmente quando existem
informações divergentes para usuários internos e externos, com valores substancialmente
diferentes;
d) Redução do custo (taxa de risco) provocado por essas dificuldades de interpretação
e de aceitação;

33
e) Redução do custo de elaboração, de divulgação e da auditoria dessas
demonstrações contábeis.

O propósito do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações é


estabelecer condições para harmonizar as práticas contábeis adotadas no País e respectivas
demonstrações contábeis com as práticas e demonstrações exigidas nos principais mercados
financeiros do mundo, tendo como arcabouço teórico básico as recomendações do
International Accounting Standards Committee (IASC), hoje International Accounting
Standards Board (IASB).

34
Capítulo II

2. Demonstração dos Fluxos de Caixa

Atualmente, as diretrizes contábeis relacionadas à Demonstração dos Fluxos de Caixa


– DFC são:

 SFAS nº 95
 IAS nº 7
 Lei 6.404/76
 NPC nº 20
 Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2007

As diretrizes contidas no SFAS nº 95 e no IAS nº 7 são de âmbito internacional,


enquanto a Lei 6.404/76, a NPC nº 20 e o Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2007 estão
em vigor nacionalmente.

2.1. Diretrizes Contábeis – Âmbito Nacional

A Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, conhecida como a Lei das Sociedades por
Ações, teve a alteração e a revogação de alguns de seus dispositivos por meio de um
Anteprojeto de Reformulação, o Projeto de Lei n° 3.741 de 2000, atualizado pelo PLC nº
121/07, aprovado pelo Plenário do Senado Federal em 18/12/2007 e sancionado pela Lei
11.638 de 28 de dezembro de 2007.

O inciso IV do art. 176 desta lei, que diz respeito às demonstrações contábeis que a
Diretoria da companhia deverá elaborar ao final de cada exercício social. O inciso foi alterado
de Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR para Demonstração dos
Fluxos de Caixa – DFC. As duas demonstrações têm caráter financeiro, porém com enfoques
distintos. A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR tem como ponto
central o capital de giro da empresa e; a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC enfoca
apenas um dos componentes do capital de giro, o caixa e equivalentes de caixa. Embora seja

35
apenas um dos componentes do capital de giro, é de extrema importância, pois é representado
pelo dinheiro, componente responsável pelos recebimentos e pagamentos da empresa, ou seja,
aqueles que efetivamente aumentaram ou diminuíram o saldo líquido de caixa, impingindo na
liquidez da companhia. Na composição do capital de giro, além do caixa e equivalentes de
caixa, estão os direitos a receber que a empresa possui, onde existe a expectativa de
recebimento daquele crédito, não sendo, efetivamente, o dinheiro propriamente dito no
montante do capital de giro. Também estão as provisões para pagamentos que, para a
empresa, representam uma responsabilidade assumida perante um devedor, portanto a efetiva
saída está muito próxima da realidade. Na verdade, a informação capital de giro serve de base
para uma análise de probabilidades de ocorrências, enquanto o caixa e equivalentes de caixa
representam exatamente os fatos ocorridos, recebimentos e pagamentos e sua utilidade está
relacionada à projeção financeira da empresa.

A aprovação do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações, a Lei


6.404/76, cuja alteração é a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), data de um período muito
recente e, até então, não existia um embasamento legal sobre o assunto para ser caracterizado
como uma norma contábil no âmbito nacional. Dado esse contexto, órgãos reguladores como
a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão responsável pelas sociedades anônimas de
capital aberto; e órgãos de classe, como o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
(IBRACON) disponibilizam pronunciamentos baseados em normas internacionais, com o
intuito de minimizar a ausência de uma legislação societária face às necessidades dos
profissionais da área em atender às exigências do mercado, tanto nacional como
internacionalmente.

A CVM - Comissão de Valores Mobiliários, por meio do Ofício-


Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2007 item 4, disponibiliza orientações e comentários sobre a
Demonstração dos Fluxos de Caixa. Neste Ofício-Circular, é referendada a norma
internacional International Accounting Standard (IAS) nº 7. O documento da CVM, cujo
título-assunto é Orientação sobre Normas Contábeis pelas Companhias Abertas, é direcionado
a um grupo reduzido de empresas, às companhias abertas. A divulgação de orientações e
comentários sobre a Demonstração dos Fluxos de Caixa ocorre desde o Ofício-
Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2005. Nesse sentido, a referência é a norma internacional
International Accounting Standard (IAS) nº 7.

36
O IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil aprovou em abril de
1999 a Norma e Procedimento Contábil (NPC) nº 20 - Demonstração dos Fluxos de Caixa.
Embora não seja citado explicitamente, a Norma e Procedimento Contábil (NPC) nº 20 segue
os moldes do conteúdo da norma internacional International Accounting Standard (IAS) nº 7.
A norma do IBRACON objetiva auxiliar o trabalho dos profissionais a ele associados, os
auditores externos.

2.2. Diretrizes Contábeis – Âmbito Internacional

Nos dias de hoje, internacionalmente, existem duas normas contábeis relacionadas à


Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC. A primeira é o Statement of Financial Accounting
Standards (SFAS) n° 95 – Statement of Cash Flows, um Pronunciamento de Padrão de
Contabilidade Financeira, emitido em novembro de 1987, obrigatório a partir de 1988, pelo
Financial Accounting Standards Boards (FASB), órgão normatizador das práticas contábeis
norte-americanas. A outra norma é o International Accounting Standard (IAS) nº 7 – Cash
Flow Statements, caracterizado como Padrão de Contabilidade Internacional, emitido em
dezembro de 1992, obrigatório a partir de janeiro de 1994, pelo International Accounting
Standards Boards (IASB), órgão emissor de Normas Internacionais de Contabilidade.

O objetivo desse trabalho é discutir as diretrizes contábeis das duas normas acima
citadas, SFAS nº 95 e IAS nº 7, dado o Processo de Convergência das Normas Contábeis no
qual o Brasil tem demonstrado enorme interesse, além dos esforços despendidos nesse
processo. O trabalho será complementado pelas diretrizes contábeis nacionais, dado o nosso
contexto e do qual surgem as dúvidas acerca dos procedimentos a serem utilizados em função
das diferenças existentes entre as duas normas contábeis internacionais.

2.3. Objetivo

A Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC tem o objetivo de prover os usuários das
Demonstrações Contábeis com informações de caráter financeiro que estejam relacionadas
com as entradas e as saídas e equivalentes de caixa.

37
Enquanto isso, a International Accounting Standard (IAS) nº 7 coloca como objetivo
da Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC a apresentação de informações sobre mudanças
ocorridas no caixa e equivalentes de caixa.

Segundo Iudícibus et al. (2003), caracteriza-se como objetivo primordial da


Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) o fornecimento de informações relevantes
relacionados aos pagamentos e recebimentos, em dinheiro, ocorridos na entidade em um
determinado período. O objetivo da norma norte-americana Statement of Financial
Accounting Standards (SFAS) n° 95 é apresentado de forma semelhante.

Uma vez que a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), pela Lei 11.638 de 28 de
dezembro de 2007, que alterou o inciso IV do Art. 176 da Lei nº 6.404/76, passou a substituir
a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), Marion (2003, p. 426)
estabelece um paralelo entre as duas demonstrações, ambas com propósitos financeiros, no
que tange à sua utilidade:

[...] a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC indica a origem de todo o dinheiro
que entrou no Caixa, bem como a aplicação de todo o dinheiro que saiu do Caixa
em determinado período, e ainda, o Resultado do Fluxo Financeiro.

2.4. Finalidade

Como finalidade principal, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) deve prover
os usuários das Demonstrações Contábeis de informações úteis para a avaliação:

a) Da capacidade da empresa em gerar caixa e equivalentes de caixa;


b) Da postura da empresa na utilização do caixa e equivalentes de caixa gerados
frente às suas necessidades financeiras.
O Ofício Circular nº 01/2007 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) esclarece
que as informações constantes da Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC fornecem base
de avaliação da capacidade de geração e utilização dos respectivos fluxos de forma
estruturada por natureza de atividades, sejam eles de origem operacional, de investimentos ou
de financiamentos. Portanto, a finalidade da Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC

38
estende-se a informações úteis sobre pagamentos e recebimentos de caráter operacional, de
investimento e de financiamento.

Com as informações disponibilizadas pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC),


o usuário é capaz de identificar como foram gerados os recursos de caixa e onde e como
ocorreu o consumo desses mesmos recursos na operacionalidade da empresa, resultando no
líquido que caracteriza a variação ocorrida no caixa e equivalentes de caixa. Com essas
informações é possível identificar quais operações representam maior ou menor geração de
caixa. Também é possível verificar onde se encontram as necessidades de caixa, em maior ou
menor intensidade. A DFC apresenta onde ocorreu a aplicação dos recursos e qual foi sua
origem, as fontes de financiamentos. Caracteriza-se como uma fonte segura, para os analistas
financeiros, na elaboração de planejamentos. Ela propicia a elaboração de uma projeção
financeira com o intuito de antecipar sobras de caixa, para aplicar, e falta de caixa, para
financiar.

A análise da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) em conjunto com as demais


demonstrações contábeis amplia o horizonte da utilidade dessas informações para a tomada de
decisões, dada sua dimensão informacional. Santos (2006, p. 87) justifica tal magnitude:

[...] proporciona informação que facilita aos usuários avaliar as alterações nos
ativos líquidos de uma empresa, a sua estrutura financeira (incluindo a sua liquidez
e solvência) e a sua capacidade de gerar os valores e a tempestividade dos fluxos de
caixa com a finalidade de se adequar às necessidades diante das mais variadas
circunstâncias e oportunidades em face da dinâmica inerente aos negócios.

O parágrafo 5 do Statement of Financial Accounting Standards (SFAS) n° 95 enfatiza


que a informação fornecida pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) ao ser utilizada
com divulgações e informações relacionadas a outras demonstrações contábeis serve para
auxiliar investidores, credores, dentre outros na avaliação:

a) Da capacidade do negócio em gerar fluxos de caixa líquidos futuros positivos;


b) Da capacidade do negócio em cumprir suas obrigações, sua capacidade em
pagar dividendos, e suas necessidades por financiamento externo;

39
c) Das razões para as diferenças entre o resultado líquido e os recebimentos e
pagamentos de caixa associados; e
d) Dos efeitos sobre a posição financeira do negócio de suas transações de
financiamento e investimento de caixa e as que não afetam o caixa durante o período.

2.5. Estrutura da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é composta por duas partes. A primeira
parte exemplifica os fluxos de caixa gerados durante o período que devem ser classificados de
acordo com a atividade de origem da operação, que são:

 Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais


 Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades de Investimentos
 Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades de Financiamentos

Essa classificação está de acordo com a nova redação dada pela Lei 11.638 de 28 de
dezembro de 2007, ao inciso I do art. 188 da Lei 6.404 de 1976 no qual está a indicação das
características mínimas da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), a saber:

[...] as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de caixa e


equivalentes de caixa, segregando-se essas alterações em, no mínimo,
3 (três) fluxos:
a) das operações;
b) dos financiamentos; e
c) dos investimentos.

A segunda parte da demonstração traz uma conciliação ilustrativa dos saldos iniciais e
finais de caixa e equivalentes de caixa; e o saldo movimentado no período que justifica o total
dos três caixas da primeira parte da demonstração.

Além da demonstração propriamente dita, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)


deve ser acompanhada de uma conciliação entre o resultado contábil e o fluxo de caixa
líquido gerado pelas atividades operacionais que, segundo o parágrafo 1º da Norma e
Procedimento Contábil (NPC) nº 20, visa a fornecer informações sobre os efeitos líquidos das

40
transações operacionais e de outros eventos que afetaram o resultado contábil. O objetivo
desta conciliação, defendido por Marques e Braga (2003, p. 28), é o de permitir uma ligação
entre os regimes de competência e de caixa, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)
e Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), respectivamente, uma vez que existem
diferenças temporais entre os fluxos de lucro e de caixa e, por conseqüência, seus montantes
não se igualam num período de curto prazo.

Nas Notas Explicativas que façam referência à Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC) deve haver a citação das transações de investimento e de financiamento que, embora
não tenha impacto diretamente nos fluxos de caixa daquele período, afetam a posição
patrimonial da empresa.

2.6. Caixa e Equivalentes de Caixa

Segundo Marques e Braga (2003, p. 29), o conceito de Caixa, em seu sentido mais
estrito significa:

[...] o montante de dinheiro em mãos, o qual permanece usualmente


na tesouraria da entidade para efetuar determinados pagamentos
como os gastos de pequeno valor. Em outras palavras, abrange os
fundos de caixa pequeno ou aqueles mantidos para atender
finalidades específicas.

O termo “Caixa” retratado como objeto para demonstrar suas variações na


Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC se estende além de seu conceito e contempla
investimentos de curto ou curtíssimo prazo caracterizados como equivalentes de caixa. Costa
e Santos (1998, p. 25) expõem que “O termo caixa, tal como usado nas demonstrações de
fluxo de caixa, refere-se a um conjunto englobando ativos financeiros com diferentes
características, o que mostra deferentes maneiras de compreendê-lo”. Esses investimentos são
apresentados na rubrica Aplicação Financeira de Liquidez Imediata, decorrentes da aplicação
de sobras de caixa. Essas aplicações não têm caráter especulativo, pois sua finalidade é de
minimizar frente aos efeitos da inflação. Marques e Braga (2003) explicam que a maior parte
dos países que exigem a divulgação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) tais como
Estados Unidos, Grã-Bretanha, Irlanda do Norte, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África

41
do Sul adotam um conceito mais amplo para o conceito de Caixa que significa
disponibilidades, ou seja, o total de numerário em mãos mais o somatório das contas correntes
mantidas por bancos e as aplicações financeiras de curto prazo, as quais se convertem
prontamente em dinheiro a um custo irrelevante.

São classificados como Caixa e Equivalentes de Caixa:

a) Dinheiro em espécie;
b) Dinheiro em conta corrente em bancos e;
c) Dinheiro em aplicação financeira de liquidez imediata.

Dinheiro em espécie e dinheiro em conta corrente em bancos caracterizam o “Caixa” e


“Equivalentes de Caixa” seria representado pelo dinheiro em aplicação financeira de liquidez
imediata. Costa e Santos (1998) esclarecem o razoável grau de elasticidade no entendimento
que as pessoas têm do termo caixa:

Caixa no sentido restrito (narrow cash) inclui apenas o dinheiro de uso corrente,
moeda e depósitos à vista, o poder de compra imediato que pode ser carregado na
carteira. Caixa no sentido amplo (broad cash) inclui ativos que podem ficar
disponíveis mediante ordens aos agentes financeiros (tais como, por exemplo, os
depósitos a prazo). Equivalentes de caixa (equivalent cash) ou próximo de caixa
(near cash) inclui os ativos financeiros transacionados em mercados regulares (tais
como, por exemplo, os títulos do tesouro nacional).

Para que os investimentos de curto prazo sejam caracterizados como Equivalentes de


Caixa devem apresentar as seguintes características:

a) Investimentos de altíssima liquidez;


b) Conversibilidade numa quantidade conhecida de dinheiro e;
c) Risco insignificante de alteração de valor.

De acordo com parágrafo 7 do International Accounting Standard (IAS) nº 7,


investimentos de altíssima liquidez são aqueles resgatáveis em até três meses a contar da data
de sua aquisição.

42
Para a qualificação de equivalentes de caixa, um investimento deve atender à
exigência do prazo de três meses considerando a sua data de aquisição. A possibilidade de um
investimento se transformar em equivalente de caixa é nula conforme explica Iudícibus et al
(2003, p. 399):

[...] um título do governo federal com prazo de vencimento de três meses, ou de três
anos, mas comprado três meses antes do seu vencimento é equivalente-caixa.
Todavia, um título do governo comprado há três anos não se transforma em
equivalente-caixa quando estiverem faltando três meses para seu vencimento.

De acordo com o parágrafo 7 do Statement of Financial Accounting Standards (SFAS)


n° 95, os termos caixa e equivalentes de caixa são usados com a finalidade de retratar o termo
“recursos financeiros”, que são valores à disposição da empresa, não somente o dinheiro em
espécie ou em conta corrente em bancos pela própria característica, mas também aqueles
valores, embora vinculados a uma aplicação financeira, possuam um prazo de liquidez
altíssimo, não havendo restrições para o uso imediato.

Tanto o Statement of Financial Accounting Standards (SFAS) n° 95 como o


International Accounting Standard (IAS) nº 7 consideram o conceito de caixa e equivalentes
de caixa de maneira semelhante.

2.7. Classificação dos Fluxos de Caixa

O formato de apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC está disposto


conforme o agrupamento das movimentações de caixa classificadas conforme o grupo da
atividade geradora de recebimentos ou pagamentos. Portanto, de acordo com a natureza da
transação que originou a movimentação ocorrerá a classificação no grupo de atividade da
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). De acordo com Santos (2006), a classificação dos
fluxos de caixa por atividades tende a proporcionar informações que permitam aos usuários
determinar o impacto dessas atividades na posição financeira e nos valores de caixa e seus
equivalentes, além de utilizá-las para avaliar as relações entre estas atividades.

É importante ressaltar a intenção subjacente da natureza de uma transação no


momento de sua avaliação para a respectiva classificação na Demonstração dos Fluxos de

43
Caixa (DFC). O parágrafo 8 da Norma de Procedimento Contábil – NPC nº 20, emitida pelo
Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON, esclarece:

Determinados recebimentos ou pagamentos de caixa podem ter características que


se enquadrem tanto no fluxo de caixa das atividades operacionais, como nas
atividades de financiamentos ou nas atividades de investimentos. Se for o caso, a
classificação apropriada deverá levar em consideração qual atividade é
predominante na geração do fluxo de caixa.

2.8. Fluxo de Caixa por Atividades

A operacionalidade de uma empresa engloba três atividades fundamentais: a atividade


operacional, a atividade de investimento e a atividade de financiamento. Na verdade, essas
três atividades estão intimamente ligadas, além de existir uma interdependência no
funcionamento de cada uma delas.

Antes de existência jurídica, ainda na sua gênese, a empresa estabelece um objeto


social direcionando assim o foco para a sua atividade operacional, que para torná-la viável
serão necessários investimentos, tanto diretos como indiretos, para que o negócio seja
possível; esses passam a impulsionar sua atividade de investimentos. Esses investimentos são
originados de fontes de recursos próprios e de terceiros, que caracterizam a atividade de
financiamento. Portanto, todo o funcionamento da empresa está retratado nestes três
importantes grupos de atividades que compõem os três fluxos de caixa apresentados na
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

Da mesma forma que esses três grupos de atividades de negócios estão retratados na
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e alimentam outras duas demonstrações contábeis,
Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício, que possuem suas
informações atreladas entre si. A figura sintetiza o esquema de relacionamento entre essas três
demonstrações contábeis.

Essa figura mostra a importância dos fluxos de caixa no giro dos negócios da empresa
impulsionado pelas atividades operacional, de investimento e de financiamento, que resultam
por gerar a Demonstração do Fluxo de Caixa, além de alimentar as outras duas demonstrações

44
contábeis, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. Teles (1997,
p. 68) resume este mecanismo como “uma engrenagem na qual o fluxo de caixa alimenta as
três atividades e fornece as bases para a continuidade da empresa”.

Figura – Interligação entre as atividades operacionais, de investimentos e financiamento,


e as Demonstrações Contábeis (BP e DRE)

Fluxo de Caixa

Financiamento Investimento

BP BP
(Balanço Patrimonial) (Balanço Patrimonial)
Operacional

Fluxo de Caixa Fluxo de Caixa

DRE
Demonstração do Resultado do Exercício

Fonte: Teles, Egberto Lucena. Demonstração do Fluxo de Caixa como forma de enriquecimento das
demonstrações contábeis exigidas por lei. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano 26. nº 105. Julho
de 1997. p. 68

45
2.8.1. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais

As transações envolvidas no resultado da viabilização do objeto social da empresa são


as responsáveis pelo fluxo de caixa das atividades operacionais. São atividades geradoras da
maior parte das receitas em conjunto com outras que ocasionaram, também, a maior parte das
despesas, necessárias para a geração dessas receitas. Esse fluxo de caixa é representado pelas
entradas e saídas de caixa necessárias à manutenção das operações da entidade. Essas
transações constam da Demonstração do Resultado do Exercício, pois são caracterizadas
como operacionais.

Segundo o parágrafo 5 da Norma de Procedimento Contábil – NPC nº 20, emitida pelo


Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) a definição de atividades
operacionais é:

[...] as transações que envolvem a consecução do objeto social da Entidade. Elas


podem ser exemplificadas pelo recebimento de uma venda, pagamento de
fornecedores por compra de materiais, pagamento dos funcionários, etc.

2.8.2. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades de Investimentos

Para tornar possível o objeto social da empresa, foram necessárias aplicações em


ativos de longo prazo e aquisições de ativo fixo que, posteriormente, resultarão em resgate
dos valores aplicados assim como na venda das respectivas aquisições, ou seja, os ativos de
longo prazo, após um período pré-estabelecido poderão ser resgatados e, na hipótese de troca
do ativo fixo por outro que melhor atenda às necessidades operacionais da companhia, a
empresa promoverá a sua venda. Esses investimentos e seus respectivos retornos retratam as
atividades de investimentos.

Segundo Marques e Braga (2003, p. 32):

As atividades de investimento se encontram vinculadas às mudanças da estrutura de


investimento da entidade que afetam o caixa, seus ativos, independente do prazo de
realização, exceto aquelas de natureza operacional.

46
Na concepção de atividades de investimentos, de acordo com o parágrafo 6 da Norma
de Procedimento Contábil (NPC) nº 20, emitida pelo Instituto dos Auditores Independentes do
Brasil (IBRACON), estão compreendidas as transações ocorridas na empresa que envolvem
ativos financeiros, aquisições ou vendas de participações em outras entidades e de ativos
utilizados na produção de bens ou prestação de serviços ligados ao objeto social da Entidade.
Ressalta-se ainda que, a aquisição de ativos com o objetivo de revenda não deve ser
caracterizada como atividade de investimento.

2.8.3. Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades de Financiamentos

As atividades de financiamento englobam as transações relacionadas com as fontes de


recursos em poder da empresa e estão relacionadas às mutações no Patrimônio Líquido e à
carteira de empréstimos contraídos pela entidade. Caracterizam-se pela captação de recursos
próprios e seu retorno em forma de lucro ou dividendos e pela captação de recursos de
terceiros e sua conseqüente remuneração e amortização. Conforme Marques e Braga (2003),
essas atividades estão relacionadas com a estrutura de financiamento da empresa e envolvem
as modificações nos exigíveis, tanto de curto como de longo prazo, assim como no patrimônio
líquido, afetando o caixa, exceto aquelas associadas às operações.

2.9. Transações de Investimentos e Financiamentos sem efeito no Caixa

Transações oriundas de atividades de investimentos e de financiamentos que não


tenham impacto em seus respectivos fluxos de caixa não devem constar na Demonstração dos
Fluxos de Caixa (DFC). Porém devem ter sua divulgação no Relatório Anual da Companhia,
podendo ser em notas explicativas ou nas demais demonstrações.

O parágrafo 44 do International Accounting Standard (IAS) nº 7 comenta que muitas


das atividades de investimentos e de financiamentos, embora não tenham impacto direto em
seus respectivos fluxos de caixa, afetam a estrutura de capital e do ativo da empresa, daí a
relevância atribuída à sua divulgação. O parágrafo 32 do Statement of Financial Accounting
Standards (SFAS) n° 95 explica que tal divulgação pode ser apresentada tanto de forma
narrativa como resumida em tabela específica. São alguns exemplos destas transações, a
conversão de dívida em aumento de capital, a aquisição de ativos via assunção de passivo
específico, entre outros.

47
2.10. Método de Elaboração do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais

O Fluxo de Caixa oriundo das Atividades Operacionais pode ser elaborado utilizando-
se dois métodos: o Método Direto e o Método Indireto, sendo que a diferença básica entre eles
reside na forma de apresentação dos recursos provenientes das operações. Enquanto o Método
Direto apresenta as informações de forma detalhada do comportamento do caixa; a
apresentação do Método Indireto se dá com base nas peças contábeis, ou seja, as duas
demonstrações contábeis mais importantes, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do
Resultado do Exercício. Segundo Iudícibus et al (2003), tanto a normatização do Financial
Accounting Standards Boards (FASB) quanto a do International Accounting Standards
Boards (IASB) recomendam a utilização do Método Direto. A utilização do Método Indireto
para a elaboração do fluxo de caixa das atividades operacionais é facultativa.

2.10.1. Método Direto

No Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais elaborado pelo Método Direto as


entradas e saídas de caixa dos principais componentes da atividade operacional são
apresentadas de forma explícita, ocorrendo a discriminação do montante dos principais grupos
de recebimentos e de pagamentos e, ao final, o saldo das operações que representa a expressão
do volume líquido de caixa provido ou consumido pelas operações durante o período em
questão.

Sob o ponto de vista de Iudícibus e Marion (1999, p. 221), o fluxo de caixa das
atividades operacionais por esse método é caracterizado como Fluxo de Caixa no Sentido
Restrito, sendo chamado também como o “verdadeiro Fluxo de Caixa” por demonstrar
efetivamente todos os recebimentos e pagamentos que colaboraram com a variação do caixa
naquele período.

O poder informativo apresentado por esse modelo é importante tanto para os usuários
externos, como para os usuários internos na preparação do planejamento financeiro do
empreendimento. O parágrafo 19 do International Accounting Standard (IAS) nº 7 destaca
essa prerrogativa: “Este método proporciona informação que pode ser útil na estimativa de
fluxos de caixa futuros.”

48
Embora a sua elaboração exija maior esforço, pois deve ser feito todo um trabalho de
segregação das movimentações financeiras que necessita de controles específicos para esse
fim, Marques e Braga (2003) citam como vantagem principal do Fluxo de Caixa das
Atividades Operacionais pelo Método Direto sua relativa simplicidade.

Campos Filho (1999) admite como mais uma vantagem o direcionamento para
critérios técnicos e não fiscais para a classificação dos recebimentos e pagamentos. A
observância dos critérios fiscais visa ao pagamento reduzido de impostos. Ainda segundo o
autor, para o segmento da construção civil, as vantagens desse método são ainda maiores, pois
os números pelo regime de competência têm pouco significado para essa atividade.

2.10.2. Método Indireto

A função principal do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais elaborado pelo


Método Indireto é a conversão do resultado econômico constante da Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE) em caixa. Por essa concepção, parte-se do resultado líquido do
exercício, apurado pelo regime de competência e, com uma série ajustes, chega-se ao fluxo de
caixa operacional que, segundo Marques e Braga (2003, p. 35), seria uma demonstração de
resultado numa base caixa, ou seja, é possível associar a realização financeira dos itens que
compõem a respectiva demonstração contábil.

O Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais pelo Método Indireto ou Fluxo de


Caixa no Sentido Amplo tem a mesma concepção estrutural da demonstração contábil que
antecedeu a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR). Nos Estados
Unidos; ainda de acordo com os autores, esse método foi consagrado para o cálculo do capital
de giro das operações, pelo fato de ser mais complexo e extenso na Demonstração dos Fluxos
de Caixa (DFC).

O Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais realizado pelo Método Indireto faz
uma espécie de conciliação entre o lucro líquido e o fluxo de caixa gerado pelas operações e,
segundo Iudícibus et al (2003), é conhecido por Método de Reconciliação.

Essa conciliação envolve duas fases de ajustes do resultado contábil apurado conforme
o regime de competência. São eles:

49
a) Ajuste de valores indicativos de registro de fatos econômicos;
b) Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de giro.

Normalmente, o lucro contábil é associado a um valor já realizado financeiramente, ou


seja, existe a idéia de que o montante de lucro visualizado na Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE) já esteja embutido, em sua totalidade, no caixa da companhia no período de
sua apuração. Tal fato não acontece em decorrência do método de registro das transações
utilizado pela Contabilidade chamado Regime de Competência, que é caracterizado pelo
oportuno momento de registro das transações de acordo com seu respectivo fato gerador.

Em se tratando das transações relacionadas ao resultado da empresa, Marion (2003)


justifica que a melhor maneira para o esclarecimento da prática do Regime de Competência é
o destaque de dois princípios contábeis, quais sejam: o Princípio da Realização da Receita e o
Princípio da Confrontação das Despesas. Ainda segundo este autor, Princípios Contábeis são
preceitos básicos que norteiam os registros contábeis, passíveis de alteração no tempo e
sujeitos a discussão. Estes dois princípios de contabilidade pertencem à Estrutura Conceitual
Básica da Contabilidade, estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras (Ipecafi), aprovado e divulgado pelo Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (Ibracon, antigo Instituto Brasileiro de Contadores) e referendado
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), relativo à conceituação dos Princípios
Fundamentais de Contabilidade, emitido em 1986.

Iudícibus et al (2003) menciona que, hoje no Brasil, estão em vigor dois documentos
conceituais sobre a Contabilidade que apresentam divergências insignificantes em termos de
conteúdo, sendo as de maior expressão aquelas de natureza formal, embora grande parte delas
sejam complementares. Os dois princípios se resumem no Princípio da Competência que, de
acordo com o artigo 9º da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 750
emitida em 1993, o outro documento doutrinário, diz: “As receitas e as despesas devem ser
incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente
quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento”.

Resumidamente, o Princípio da Competência regra sobre o momento de registro das


transações relacionadas ao resultado e deve atender ao fato gerador da despesa ou da receita e
não ao fato gerador do pagamento da despesa ou do recebimento da receita. Conseqüência

50
disso é que no resultado de um período é possível contemplar despesas cujo fato gerador
refere-se àquele período, podendo o seu pagamento ter ocorrido no próprio período, situação
vislumbrada pelos usuários, em períodos anteriores ou em períodos posteriores,
caracterizando, assim, despesas antecipadas que figuram no Ativo Circulante ou provisão de
despesas a pagar, pertencentes ao Passivo Circulante, respectivamente. A mesma sistemática
ocorre com as receitas, ou seja, na apuração do resultado de um período é provável que haja
receitas cujo fato gerador refere-se àquele período, juntamente com seu recebimento. Receitas
com recebimento programado para períodos posteriores caracterizam-se como provisão de
receitas a receber alocada no Ativo Circulante e quando o recebimento já ocorreu em períodos
anteriores, serão demonstradas no grupo de Resultado de Exercícios Futuros do Passivo.

A Contabilidade, juntamente com seu objetivo, está inserida num cenário contábil,
com conceitos já estabelecidos pela sua Estrutura Conceitual Básica e tem como uma das
premissas a subordinação ao Regime de Competência. Paralelamente, o parágrafo 44 do
International Accounting Standard (IAS) nº 7 enfatiza que a exclusão das transações que não
sejam de caixa da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é consistente com o objetivo de
uma DFC, uma vez que esses elementos não envolvem fluxos de caixa no período corrente.
Diante disto, serão necessários ajustes ao resultado contábil que são aqueles que representam
apenas fatos econômicos e aqueles representativos de mudança de capital de giro.

2.10.2.1. Ajuste de valores indicativos do registro de fatos econômicos

Inicialmente, ajusta-se o montante das transações que tiveram a sua origem no registro
de um fato econômico, como seguem:

a) transações que não têm efeito caixa, que representam apenas um fato econômico
não havendo uma respectiva realização financeira, simulam alterações de patrimônio sem o
envolvimento de recursos financeiros;

b) transações que têm efeito financeiro, porém num período de longo prazo,
representam a apropriação de um item de resultado, receita ou despesa, cuja contrapartida foi
agregada em ativos ou passivos de longo prazo;

51
2.10.2.2. Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de giro

Posteriormente, ajusta-se o montante das transações que tiveram a sua origem em


operações, cuja realização financeira não pertence ao período corrente. São elas:

a) transações que, embora estejam sendo apropriadas (levadas a resultado) neste


período, já tiveram seu efeito no caixa das atividades operacionais em exercícios passados;

b) transações que foram levadas a resultado por ocasião do regime de competência,


porém o efeito financeiro de curto prazo não se deu no período corrente. São transações
visualizadas como já realizadas financeiramente, que estão representadas por ativos e passivos
circulantes relacionados à atividade operacional.

Segundo Iudícibus e Marion (1999), esse processo de ajuste que indica mudança no
capital de giro ocorre de forma análoga à Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR), porém ao invés do foco ser o Capital Circulante Líquido (CCL); o centro
agora será o Caixa. Para se efetuarem esses ajustes, consideram-se como aplicações (saídas do
caixa) o aumento nas contas do Ativo Circulante e as diminuições no Passivo Circulante. Por
outro lado, as diminuições de Ativo Circulante e aumento nas contas do Passivo Circulante
correspondem às origens (entradas de caixa).

2.10.3. Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa

Matarazzo (2003) evidencia outra estrutura para uma Demonstração dos Fluxos de
Caixa, todavia com o título de Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa utilizada na análise
da gestão de caixa. Essa outra estrutura para a demonstração evidenciada no quadro seguinte
acrescenta novos conceitos que podem colaborar para um melhor entendimento do Fluxo de
Caixa das Atividades Operacionais elaborado pelo Método Indireto.

Comparando a estrutura da Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo Método


Indireto com a Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa até a nomenclatura Geração
Operacional de Caixa podemos identificar algumas semelhanças. Inicialmente, o ponto de
partida é o resultado do exercício acompanhado de seus ajustes cujos resultados finas serão
semelhantes nas duas demonstrações.

52
Essas características diferem apenas na segregação desses ajustes acompanhado de
distinção de nomenclaturas. Após os ajustes dos fatos econômicos pela razão de não
representarem desembolso financeiro, distingue-se a nomenclatura geração bruta de caixa.
Essa segregação dos ajustes assim como a nomenclatura resultante dessa segregação não
existe na Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo Método Indireto. Posteriormente,
após os ajustes de mudança do capital de giro, pelo fato de não representar movimentação
financeira no período corrente, embora estivesse apresentado nos grupos de curto prazo do
Balanço Patrimonial, acontece a nomenclatura geração operacional de caixa que na
Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo Método Indireto é representada pelo saldo
do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais, ou seja, o resultado apurado após os ajustes.

Matarazzo (2003, p. 370), cada grupo de ajustes e a respectiva geração de caixa têm
seu objetivo. Na caracterização da Geração Bruta de Caixa

[...] o ajuste do lucro por despesas não desembolsáveis mostra o montante de caixa
gerado pelas atividades econômicas, ou seja, pelas atividades comerciais”. E na
caracterização da Geração Operacional de Caixa, “o confronto das variações dos
itens de Ativo Circulante Operacional e do Passivo Circulante Operacional resultam
na variação da NCG – Necessidade de Capital de Giro. Adicionando a variação da
NCG à Geração Bruta de Caixa chega-se a Geração Operacional de Caixa, cujo
significado é o caixa gerado pelas atividades comerciais acopladas aos
investimentos operacionais e fontes operacionais.

53
Quadro 3 – Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa - Cia. Líquida
Para o Exercício Findo em 31-12-X6

RESULTADO DO EXERCÍCIO (500)


(-) Ajustes (despesas e receitas não caixa)
Depreciação do Exercício 600 100

GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA 100


Variação de NCG
Variação dos Fornecedores 300
Variação de Outros Passivos Operacionais -o–
Variação de Clientes (230)
Variação Estoques 215 285

GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA 385


Variação de Empréstimos Bancários de Curto Prazo
(30)
GERAÇÃO CORRENTE DE CAIXA 355
Variação dos itens Permanentes de Caixa
Aumento de Capital 150
Dividendos (200)
Acréscimo de Imobilizado (345) (395)
Variação dos Itens Não Correntes
Aumento de Financiamento de Longo Prazo 160 160

GERAÇÃO LÍQUIDA DE CAIXA 120


+ Saldo Inicial de Caixa 100
- Saldo Final de Caixa 220

Fonte: Matarazzo, Dante Carmine. Análise Financeira de Balanços. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.
372.

54
2.10.4. Fluxo de Caixa Operacional x CCL

Segundo Afonso (1999), o fluxo de caixa operacional ou geração operacional de caixa,


termo utilizado em finanças que, normalmente, é comparado ao Capital Circulante Líquido
(CCL) constante na Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) e utilizado
como medida de avaliação da situação financeira ganhou importância no meio acadêmico a
partir do estudo de Largay e Stickney (1980) sobre a falência da W.T. Grant Company,
quando esses autores se preocuparam em fazer algumas análises e verificar se havia indícios
do problema na Grant antes de sua falência e por que não foram diagnosticados e
solucionados. Numa comparação efetuada durante dez anos entre o Capital Circulante
Líquido (CCL), o Lucro Líquido e o Fluxo de Caixa gerado pelas Operações ficou
demonstrado que até o penúltimo ano do período analisado tanto o Capital Circulante Líquido
(CCL) como o Lucro Líquido apresentavam resultados positivos e somente no último ano
eram negativos. Já o Fluxo de Caixa gerado pelas Operações demonstrava um comportamento
totalmente distinto das duas outras medidas analisadas. No período em análise, essa medida
mostrou resultado positivo do terceiro ao quinto ano, sendo que nos outros sete anos os
resultados foram todos negativos. A constatação foi de que a empresa norte-americana W.T.
Grant, do setor de comércio varejista apresentou um montante razoável de capital de giro
líquido, também chamado de capital circulante líquido, gerado pelas operações, porém muito
desse capital estava vinculado a recebíveis e estoques e, após uma revisão no seu fluxo de
caixa operacional, entretanto, ficou evidenciada a necessidade de liquidez e a inflexibilidade
financeira que, eventualmente, causaram a falência da companhia.

O autor ainda cita a importância que Hopp e Paula Leite (1989) atribuem ao caixa
gerado pelas operações:

[...] um detalhado exame de seqüência de demonstrativos de fluxo de caixa irá


ilustrar melhor a iminência de uma deterioração financeira, que é conseqüência, e
não causa do problema econômico. O diagnóstico deverá ser a análise, por meio de
uma série histórica suficientemente longa, das tendências do fluxo de caixa gerado
pelas operações. As dificuldades financeiras nascem da disritmia entre as entradas e
saídas de caixa, que somente pode ser detectada pelo minucioso estudo de
demonstrativos de fluxo de caixa recentes da empresa. (1999, p. 27).

55
2.10.5. EBITDA

O conceito do Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais elaborado pelo


Método Indireto é associado ao conceito da medida financeira EBITDA, sigla originária do
inglês Earning Before Interest, Taxes, Depreciation/Depletion and Amortization caracterizada
em nosso idioma como Lucro antes dos Juros, Impostos (sobre lucros),
Depreciações/Exaustões e Amortizações. De maneira mais simples, seu algoritmo é
representado por lucro operacional mais as depreciações, fórmula também utilizada como o
conceito operacional de fluxo de caixa, que equivale ao conceito restrito de fluxo de caixa
operacional, pois é apurado antes do imposto de renda. Segundo Assaf Neto (2000), o
EBITDA significa o genuíno lucro operacional, ou seja, o resultado gerado pelo negócio,
independente da forma como ele é financiado. Sob outro ângulo, o lucro operacional é
formado pelas decisões de ativos, sem qualquer comprometimento com o capital de terceiros
tomado emprestado.

Conforme Hoji (2004), por intermédio do EBITDA é possível verificar se os ativos


operacionais estão gerando caixa, pois na sua fórmula de cálculo são computados apenas os
resultados operacionais que afetam o caixa, sendo desconsideradas despesas que representam
fatos econômicos, sem efeito financeiro, além de despesas e receitas que mostram ajustes de
patrimônio que não têm efeito no caixa e que não estejam ligadas diretamente à atividade
operacional da empresa. Como exemplos, podemos citar depreciação, exaustão, amortização,
equivalência patrimonial, despesas e receitas financeiras, outras receitas e despesas
operacionais não rotineiras e os impostos sobre o lucro.

Essa associação do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais pelo Método Indireto
ao EBITDA merece algumas considerações. Enquanto o Fluxo de Caixa gerado pelas
Atividades Operacionais elaborado pelo Método Indireto representa a efetiva geração de caixa
das atividades operacionais, o EBITDA pressupõe um potencial de geração de caixa,
proveniente do ativo operacional da empresa, antes ainda, de se considerar o custo de
qualquer capital tomado emprestado, motivo pelo qual, segundo Vasconcelos (2002, p. 41),
esse poderoso indicador de atuação financeira é utilizada como aferidor de desempenho na
geração de recursos próprios decorrentes da atividade-fim do negócio, além de possibilitar sua
evidência em relação ao Lucro Líquido na visualização do desempenho operacional do
negócio.

56
O ponto de partida para a apuração do EBITDA é a Demonstração de Resultado do
Exercício (DRE), demonstração contábil gerada pela aplicação do Regime de Competência,
onde há a possibilidade de parte da receita registrada não representar ingresso imediato de
recursos, somente as vendas à vista, da mesma maneira que parte das despesas incorridas
representa uma pendência de pagamento, aquelas constantes do Passivo Circulante, porém na
sistemática do raciocínio do EBITDA essas pendências, tanto de pagamento como de
recebimento são desprezadas, ou seja, desconsideram-se as diferenças temporárias, tanto que
para Hoji (2004, p. 1), o conceito de EBITDA vale para o prazo “não imediato”, pois todas as
transações refletidas na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) são consideradas
como se tivessem ocorrido no “regime de caixa”, ou seja, as vendas brutas de produtos e
serviços são assumidas como se tivessem sido integralmente recebidas, independentemente de
terem sido realizadas à vista ou a prazo, da mesma forma, os custos dos produtos vendidos e
dos serviços prestados, bem como as despesas operacionais, são consideradas como se
tivessem sido pagas à vista.

Assaf Neto (2000) reforça essa idéia ao citar que a medida financeira EBITDA não
demonstra o volume monetário efetivo de caixa, sendo mais bem interpretada como um
indicador do potencial de geração de caixa proveniente dos ativos operacionais, sem a
influência das políticas adotadas para as questões tributárias e dos métodos de depreciação
que são empregados ou permitidos. Fica em evidência sua eficiência financeira determinada
pelas estratégias operacionais adotadas.

57
Capítulo III

3. Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração das Origens e Aplicações de


Recursos: Vantagens e Desvantagens

3.1. Conceito da DOAR

Dentro do conjunto das demonstrações contábeis previstas pela Lei 6.404 de 15 de


dezembro de 1976, a Lei das Sociedades por Ações, antes da edição da Lei 11.638 de 27 de
dezembro de 2007, resultado da aprovação do Anteprojeto de Reformulação da Lei das
Sociedades por Ações, cada uma delas está relacionada a uma finalidade no contexto da
Contabilidade.

O Balanço Patrimonial retrata a posição do patrimônio da empresa em determinado


momento; a Demonstração do Resultado do Exercício divulga o resultado econômico
alcançado pela entidade num espaço de tempo, normalmente o ano civil; a Demonstração de
Lucros ou Prejuízos Acumulados esclarece a movimentação do grupo do Patrimônio Líquido;
e a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, conhecida como DOAR, representa
uma demonstração contábil focada nos aspectos financeiros da empresa. Esse retrato da
posição financeira da empresa está vinculado aos termos de sua denominação que é a de
demonstrar as operações que resultaram em origens de recursos e em quais operações esses
recursos foram aplicados, justificando o capital de giro ou a folga financeira da empresa num
período de curto prazo.

O art. 188 da Lei 6.404/76 esclarece o detalhamento a ser observado na montagem da


DOAR:

“a demonstração das origens e aplicações de recursos indicará as modificações na


posição financeira da companhia, discriminando:

I – as origens de recursos, agrupadas em:

58
a) lucro do exercício, acrescido de depreciação, amortização ou exaustão e ajustado
pela variação nos resultados de exercícios futuros;
b) realização do capital social e contribuições para reservas de capital;
c) recursos de terceiros, originários do aumento do passivo exigível em longo prazo,
da redução do ativo realizável em longo prazo e da alienação de investimentos e
direitos do ativo imobilizado;

II – as aplicações de recursos, agrupadas em:


a) dividendos distribuídos;
b) aquisição de direitos do ativo imobilizado;
c) aumento do ativo realizável em longo prazo, dos investimentos e do ativo diferido;
d) redução do passivo exigível em longo prazo;

III – o excesso ou insuficiência das origens de recursos em relação às aplicações,


representando aumento ou redução do capital circulante líquido;

“IV – os saldos no início e no fim do exercício, do ativo e passivo circulantes, o


montante do capital circulante líquido e o seu aumento ou redução durante o
exercício”.

As origens de recursos se referem às operações de financiamentos e as aplicações de


recursos às operações de investimento. Esse contexto financeiro que a DOAR traz à baila
extrapola o conceito de dinheiro e compreende outros elementos patrimoniais que compõem o
Capital de Giro Líquido denominado pela Lei das Sociedades por Ações como Capital
Circulante Líquido (CCL), cujo montante é obtido pela diferença entre o Ativo Circulante e o
Passivo Circulante. Porém, Iudícibus et al. (2003) explicam que a conotação financeira do
CCL é diferente dessa mera diferença entre os dois grupos do Balanço Patrimonial que, dentro
de suas características, representam a futura realização de bens e direitos e a exigibilidade das
obrigações num período de curto prazo, ou seja, 360 dias a contar da data do demonstrativo.
Na verdade, esse enfoque financeiro é demonstrado pelo efeito das origens e aplicações,
ambos de longo prazo, ou seja, período superior a 360 dias a contar da data do Balanço
Patrimonial, no Capital de Giro Líquido que simula a posição financeira da empresa num
período de curto prazo. Efetivamente, o CCL deve ser visualizado como a diferença entre o
Passivo não Circulante, que engloba o Passivo Exigível em Longo Prazo e o Patrimônio

59
Líquido, grupos que geram as fontes de recursos de longo prazo, e o Ativo não Circulante,
composto pelo Ativo Realizável em Longo Prazo e Ativo Permanente, grupos caracterizados
pelas aplicações de recursos de longo prazo.

O propósito financeiro inserido no objetivo da DOAR é mostrar o CCL como um


resultado entre as fontes de financiamentos e os investimentos, ambos de longo prazo,
interagindo nos grupos de curto prazo, Ativo Circulante e Passivo Circulante. Esse resultado
pode mostrar um saldo credor ou devedor, conforme o montante dos grupos contábeis que o
compõem. Um saldo credor é visualizado como uma sobra de fontes de financiamentos de
longo prazo (quadro 4), isso quando o montante deste for superior ao montante dos
investimentos de longo prazo que, então, será aplicado como investimento líquido de curto
prazo, representando, assim, uma sobra financeira de curto prazo.

Quadro 4 – CCL representando uma Sobra de Fontes de Recursos de Longo prazo

Grupos Contábeis 19X1 19X2 Variação

PELP + PL 4.250.000 5.950.000 1.700.000

ARLP + AP 3.150.000 4.350.000 1.200.000

CCL 1.100.000 1.600.000

Variação do CCL (19X2 –19X1) 500.000

A ocorrência de saldo devedor, uma situação inversa, se dá quando o montante das


fontes de financiamentos de longo prazo for inferior ao montante dos investimentos de longo
prazo (quadro 5), caracterizando uma insuficiência de fontes de financiamentos de longo.
Neste caso, acontece uma conversão para fonte de financiamento de curto prazo, situação que
representa um comprometimento das fontes de financiamentos de curto prazo, pois fontes de
curto prazo estariam financiando investimentos de longo prazo, uma vez que os recursos
vindos dos financiamentos de longo prazo foram insuficientes para as necessidades exigidas
pelos investimentos de longo prazo.

60
Quadro 5 – CCL representando uma Insuficiência de Fontes de Recursos de Longo
prazo

Grupos Contábeis 19X1 19X2 Variação

PELP + PL 10.630.000 15.980.000 5.350.000

ARLP + AP 8.740.000 14.340.000 5.600.000

CCL 1.890.000 1.640.000

Variação do CCL (19X2 –19X1) (250.000)

3.2. Importância da DOAR

Martins (1999) afirma a riqueza das informações apresentadas pela DOAR sob o
ponto de vista da efetiva utilidade e capacidade preditiva de seus dados. Tanto que Iudícibus
(1994) retrata tal característica ao apresentar como exemplo a DOAR de duas empresas
distintas com o mesmo resultado na variação do CCL, porém com conteúdos diferentes, na
tentativa de evidenciar sua utilidade como demonstrativo de caráter financeiro, além de sua
capacidade preditiva ao vislumbrar fatos após a leitura da DOAR.

Quadro 6 - Demonstração de Origens e Aplicações de CCL da Cia. X


Origens
Das Operações........................................................................... 5.000,00 83%
Empréstimos.............................................................................. 1.000,00 17%
6.000,00 100%
Aplicações
Imobilizações............................................................................. 3.000,00 60%
Distribuição de Lucros............................................................... 2.000,00 40%
(5.000,00) 100%
Aumento do CCL........................................................... 1.000,00
Adaptado de IUDÍCIBUS, Sérgio (Coord.). Contabilidade Introdutória. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1994. p. 228.

61
Quadro 7 - Demonstração de Origens e Aplicações de CCL da Cia. Y
Origens
Das Operações........................................................................... 1.000,00 11%
Empréstimos.............................................................................. 8.000,00 89%
9.000,00 100%
Aplicações
Imobilizações............................................................................. 2.000,00 25%
Distribuição de Lucros............................................................... 6.000,00 75%
(8.000,00) 100%
Aumento do CCL........................................................... 1.000,00
Adaptado de IUDÍCIBUS, Sérgio (Coord.). Contabilidade Introdutória. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1994. p. 229.

Propositadamente, as duas demonstrações, embora originadas de empresas distintas,


possuem a mesma estrutura de operações e o resultado final igual, ou seja, na estrutura das
Origens de Recursos constam duas fontes de financiamento de recursos, a primeira e a
principal num contexto de uma atividade empresarial, o Lucro do Exercício, apresentado pelo
título Das Operações, ou seja, a origem de recursos proveniente da atividade operacional da
empresa, seguida de outra fonte de financiamento, empréstimos obtidos, cujo compromisso de
quitação será num período de longo prazo, ou seja, prazo superior a 360 dias a contar da data
do Balanço Patrimonial.

Na estrutura das Aplicações de Recursos, a primeira operação representa um


investimento de recursos, no exemplo, em Imobilizações, além disso, o fato de constar como
aplicação de recursos na DOAR significa que a dívida gerada por esse investimento será
quitada num período de curto prazo. A outra aplicação caracteriza-se não por uma atividade
de investimento, ou aumento dele, mas sim pela diminuição de uma fonte de recursos que é a
distribuição de dividendos, operação caracterizada como a restituição, em termos financeiros,
do retorno do capital investido pelos sócios, ou seja, o lucro. Embora as estruturas sejam
iguais, no que se refere às mesmas operações que representam as origens e aplicações de
recursos, o ponto crucial e gerador de resultados distintos para as duas demonstrações é a
proporcionalidade de valores atribuída a cada transação dentro das demonstrações que, no
contexto empresarial, direciona para posturas diferentes assumidas na gestão da empresa.
Enquanto na Cia X a origem das operações representa 83% do total das origens; na Cia Y,

62
esse percentual equivale a 11% das origens e, inversamente, a obtenção de empréstimos de
longo prazo na Cia. X representa 17% das origens contra 89% no Cia. Y. A Cia X apresenta
dois pontos positivos quanto às suas origens. O fato de o lucro do exercício ser a grande fonte
de recursos pressupõe que a empresa está atingindo seu objetivo que é o de gerar lucro com a
operacionalidade de suas atividades e, por conseguinte, uma parcela mínima das origens será
gerada por capital de terceiros, caracterizando sua independência financeira. A situação da
Cia. Y retrata uma situação inversa, ou seja, a atividade operacional não está gerando recursos
suficientes para o funcionamento da empresa, tornando-se necessária a captação de recursos
com terceiros, comprometendo sua liberdade financeira. Observando as operações que
retratam as aplicações de recursos e seus percentuais de representatividade, novamente a Cia.
X apresenta uma situação promissora enquanto a Cia Y demonstra uma situação desfavorável.
As imobilizações na Cia X são da ordem de 60% das aplicações de recursos contra 25% da
Cia Y. Esta situação mostra a política de investimentos da empresa, que a Cia X adotou uma
postura de aumentar seu ativo fixo, almejando melhores condições para sua atividade
operacional; enquanto na Cia Y a situação visualizada é menos empresarial. O ponto crítico
na Cia Y é o percentual que representa a distribuição de dividendos no contexto operacional,
75% das aplicações foram direcionadas a essa transação que, dentro de um curto período de
tempo, consumirá recursos financeiros, ao passo que na Cia X, esse desembolso representa
40% das aplicações. É nítida a postura empresarial adotada por cada uma das duas
companhias com relação às aplicações de recursos. A Cia X preza por uma política de
investimentos visando a uma melhor gestão da atividade empresarial acompanhada de uma
preocupação em não descapitalizar a empresa; postura contrária da Cia Y, onde se verifica um
desembolso representativo que não visa à atividade operacional da empresa contra um
descaso em não direcionar investimentos para o ativo fixo. Iudícibus (1994) ao analisar a
DOAR das duas companhias comenta que as possibilidades de obtenção de crédito junto a
uma instituição financeira são completamente diferentes. A Cia X está mais apta a conseguir
um financiamento, pois demanda uma política financeira relativa ao CCL mais sólida, uma
vez que pelas suas operações ela obteve um resultado de $ 5.000,00, desse valor, distribuiu $
2.000,00 aos sócios. Do saldo dessas duas operações, acrescentou, por meio de uma captação,
$ 1.000,00 de empréstimos, que juntos foram suficientes para imobilizar um montante de $
3.000,00 e aumentar o CCL em $ 1.000,00. O autor ainda complementa que a Cia Y evidencia
uma inadequação no uso dos seus recursos, pois o montante distribuído de dividendos no
valor de $ 6.000,00 é superior ao resultado gerado pela atividade operacional que é de $
1.000,00 e como alternativa para essa desigualdade de 500%, a companhia fez uma operação

63
de captação no valor de $ 8.000,00, montante 700% maior que o recurso advindo das suas
operações que, além de gerar um aumento do CCL em $ 1.000,00, igual à Cia X, efetuou
aplicações no ativo fixo no montante de $ 2.000,00. Vale ressaltar que, enquanto na Cia Y o
montante de captação foi superior em 700% do lucro do exercício; na Cia X, a captação foi
400% inferior ao lucro do exercício, fato primordial na análise para concessão de crédito de
uma empresa, pois se observa quanto o endividamento expressa dentro do montante das
origens de recursos gerado pelas operações, que é a principal fonte de origens de recursos,
além de sua representatividade, em termos de inferioridade ou superioridade, perante o lucro
do exercício. Essa visualização das posturas operacional e financeira adotadas pela empresa é
retratada por Iudícibus e Marion (1999, p. 210-211) quando são abordados os resultados
obtidos com a análise da DOAR:

a) “As formas de financiamento das operações;


b) O montante dos recursos derivantes de operações, quando comparado com o
montante derivante de outras formas de financiamento;
c) Se os recursos foram aplicados para expandir capacidade ou para saldar dívidas ou
pagar dividendos.”

3.3. Dificuldade da DOAR

A grande aversão à DOAR está na dificuldade encontrada pelos usuários na sua


visualização como uma demonstração de caráter financeiro. Daí decorrem dificuldades de
entendimento e de interpretação de seus dados. Segundo Afonso (1999, p. 3), “embora a
DOAR já venha sendo adotada há aproximadamente 20 anos no Brasil, ainda hoje, muitos de
seus conceitos permanecem incompreendidos por grande parte dos usuários das informações
contábeis”.

O autor justifica que, talvez esse fato tenha colaborado com o movimento em proveito
da substituição da DOAR pela DFC na Brasil. Martins (1999) acrescenta que do ponto de
vista prático, tal substituição é favorável, pois haverá um ganho com a possibilidade muito
maior de utilização da DFC por um universo mais amplo de usuários.

A grande dificuldade do usuário da informação contábil em conceber uma finalidade


financeira para a DOAR reside no conceito do seu resultado final, ou seja, idealizar o Capital

64
Circulante Líquido (CCL) como uma informação financeira, porque o CCL mostra o excesso
ou a falta, do Ativo Circulante sobre o Passivo Circulante, dois grupos representativos,
respectivamente, da expectativa de transformação financeira de bens e direitos e da
obrigatoriedade de desembolso financeiro de obrigações com terceiros, ambos num período
de curto prazo. A composição estrutural desses dois grupos que compõem o CCL merece
alguns esclarecidos. Desse montante de bens e direitos, itens como impostos a recuperar ou
compensar e despesas pagas antecipadamente não terão uma transformação financeira, como
ocorrerá com duplicatas a receber, títulos a receber, aplicações financeiras, estoques, caso a
venda seja à vista.

Na verdade, serão, respectivamente, redutores de impostos a pagar e, após


transferência para o grupo do resultado, também será redutor do resultado econômico,
portanto, sua participação no valor do CCL não é coerente, uma vez que diz respeito a itens
não monetários. Outro ponto a ser observado e de extrema importância é o vencimento de
cada item patrimonial do Ativo Circulante e do Passivo Circulante. Não existe uma
simultaneidade entre as datas de vencimento dos itens patrimoniais do Ativo Circulante e do
Passivo Circulante, o que provoca uma discrepância entre as entradas geradas pelo Ativo
Circulante e as saídas ocasionadas pelo Passivo Circulante. Portanto, para vislumbrar a idéia
do CCL, a folga financeira de curto prazo, como uma medida financeira deve-se considerar
que, num mesmo momento, toda a composição do Ativo Circulante fosse convertida em
dinheiro, ao mesmo tempo em que toda a estrutura do Passivo Circulante consumisse todos os
recursos financeiros à disposição da empresa. O CCL até então formado por esses dois grupos
contábeis, estaria, agora, transformado em caixa, sendo apresentado no grupo Disponível.
Martins (1999, p. 8) conclui que “o conceito de capital circulante líquido é mesmo muito mais
difícil, por ser abstrato e não tão familiar quanto o de disponibilidade”.

3.4. Comparação DOAR x DFC

Tanto a DOAR como a DFC demonstram informações importantes aos usuários no


que se refere ao aspecto financeiro da empresa. Os quadros 8 e 9 representam a DOAR e a
DFC de uma empresa comercial que serviram de base para o trabalho de análise das
informações apresentadas por elas.
O trabalho consiste na análise dessas informações, com o propósito de se efetuar a
comparação entre a utilidade oferecida no contexto de cada demonstração.

65
Quadro 8 – Origens e Aplicações de Recursos de Empresa Comercial

Origens e Aplicações de Recursos (em milhões de reais) 31.12.20X1


Origens de Recursos
Das Operações
Lucro Líquido ..................................................... 2.194
Depreciação e amortização................................. 75
Receitas financeiras............................................ (220)
Despesas financeiras........................................... 150
Resultado Gerado pelas Operações...................................... 2.199
De Terceiros
Aumento de capital............................................................... 400
Contribuições para reservas de capital................................. 40
Produto da emissão de debêntures........................................ 300
Transferências TVM para curto prazo.................................. 264
Total das Origens.................................................................. 3.203

Origens e Aplicações de Recursos (em milhões de reais) 31.12.20X1


Aplicação de Recursos
Dividendos propostos............................................................ 549
Em títulos e valores mobiliários LP...................................... 400
Transferências de debêntures para curto prazo..................... 130
Total das Aplicações.............................................................. 1.079

Aumento (Redução) do CCL.............................................. 2.124

Ativo Circulante.................................................................... 6.673 5.220


Passivo Circulante................................................................. 2.779 3.450
Capital Circulante do período................................................ 3.894 1.770
Aumento (Redução) do CCL 2.124
Fonte: BRAGA, Roberto & MARQUES, José Augusto Veiga da Costa. Doar e DFC – Informações diferentes
para finalidades distintas. Boletim IOB, Caderno Temática Contábil e Balanços, n. 52, 2003. p. 4.

66
Quadro 9 – Demonstração de Fluxos de Caixa

Demonstração de Fluxos de Caixa (em milhões de reais) 31.12.20X1


Atividade Operacional
Lucro Líquido ........................................................................ 2.194
Depreciação e amortização.................................................... 75
Receitas financeiras............................................................... (220)
Despesas financeiras............................................................. 150
Receitas de indenizações....................................................... (50)
Decréscimos (Acréscimos) Itens do Ativo
Clientes................................................................................. (450)
Provisão para Devedores Duvidosos.................................... 100
Mercadorias........................................................................... 760
Alugueis antecipados............................................................. (150)
Decréscimos (Acréscimos) Itens do Passivo
Fornecedores.......................................................................... 300
Salários e encargos a pagar.................................................... 100
Caixa das Operações.......................... 2.809
Atividade de Financiamento
Pagamento de dividendos...................................................... (700)
Aumento de capital................................................................ 400
Ágio na emissão de ações...................................................... 40
Novas emissões de debêntures............................................... 300
Novos financiamentos contratados......................................... 200
Baixa do principal de dívidas................................................. (1.250)
Caixa Ativ. Financiamentos............... (1.010)
Atividade de Investimento
Novas aplicações realizadas................................................... (400)
Recebimento do principal investido....................................... 170
Indenizações recebidas........................................................... 50
Caixa Ativ. Investimentos................... (180)
Movimentação do Caixa no período...................................... 1.619
Saldo inicial da conta Caixa................................................... 600
Saldo final da conta Caixa...................................................... 2.219

67
Fluxo de caixa operacional, método direto (valores em R$) 31.12.20X1
Atividade Operacional
Recebimentos de clientes...................................................... 14.000
Pagamentos a fornecedores................................................... (7.700)
Pagamentos salários e encargos............................................ (2.500)
Pagamentos de aluguéis........................................................ (650)
Recebimentos de juros........................................................... 34
Pagamentos de juros.............................................................. (375)
Caixa das Operações.......................... 2.809
Fonte: BRAGA, Roberto & MARQUES, José Augusto Veiga da Costa. Doar e DFC – Informações diferentes
para finalidades distintas. Boletim IOB, Caderno Temática Contábil e Balanços, n. 52, 2003. p. 8.

Na comparação da DOAR com a DFC, Origens das Operações juntamente com o


Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais. O primeiro totaliza $ 2.199,
caracterizado como o resultado contábil ajustado pelas receitas e despesas ou não conversíveis
em caixa, no exemplo, a depreciação e amortização no valor de $ 75, uma despesa, ou não
conversíveis em itens patrimoniais de curto prazo, receitas e despesas financeiras,
atualizações monetárias ou cambiais, respectivamente, $220 e $ 150. Nessa questão das
despesas e receitas financeiras podemos verificar que no Fluxo de Caixa gerado pelas
Atividades Operacionais, pelo Método Direto é possível identificar as despesas pagas e as
receitas por conta do item juros, classificado como despesa e receita financeira,
respectivamente, não sendo aceitável tal identificação na DOAR, onde somente é possível
identificar a apropriação em contas pertencentes aos grupos de longo prazo. O saldo do Fluxo
de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais, no valor de $ 2.809 supera em $ 610 do
resultado das Origens das Operações. Pelo Método Indireto, cuja sistemática é a apresentação
das variações do Ativo Circulante e do Passivo Circulante, justificando a não conversão do
resultado contábil em caixa, constam despesas não pagas no valor de $ 400 e receitas não
recebidas num montante de $ 450, ou seja, o caixa, em breve, será diminuído pelas despesas
no momento do vencimento e será aumentado pelas receitas por ocasião do vencimento. Os $
660 restantes não terão efeito financeiro, são resultados de apropriações contábeis.

Ao analisarmos esse mesmo fluxo de caixa, porém montado pelo Método Direto, as
informações passadas mostram a efetiva entrada por conta de recebimento de clientes $
14.000 e de juros $ 34, ao passo que as efetivas saídas são representadas pelos pagamentos a

68
fornecedores, $ 7.700; de salários e encargos, $ 2.500; de aluguéis e de juros,
respectivamente, $ 650 e $ 375. Na composição das Origens de Recursos provenientes de
terceiros, todas as origens estão presentes na DFC, no Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades
de Financiamentos, exceto, a transferência TVM para curto prazo que se caracteriza como
uma origem de recursos para o CCL e não para o caixa, pois traduz um lançamento contábil
sem efeito financeiro. As operações que representam essas origens são aumento de capital,
contribuições para reserva de capital e produto da emissão de debêntures; as duas últimas
constam na DFC, respectivamente, como ágio na emissão de ações e novas emissões de
debêntures. Nas aplicações de recursos, a primeira distinção que pode ser notada é a diferença
de valores e operações quando se trata dos dividendos. Enquanto na DOAR é informado o
montante a ser pago no próximo ano, como dividendos propostos no valor de $ 549; na DFC é
apresentado o montante pago no exercício passado, $ 700. Vale ressaltar aqui que, a
informação desejada é aquela relacionada à movimentação financeira, apresentada pela DFC e
não o assumido a ser pago no seguinte que será o montante a ser consumido pelo caixa, além
disso, essa obrigação já consta na posição do Passivo Circulante, cujo propósito é apresentar
as dívidas cujo vencimento se enquadra no próximo exercício. Outro item é uma aplicação
que consta como saída no Fluxo de Caixa das Atividades de Investimentos, caracterizada
como novas aplicações realizadas e na DOAR é mostrada como aplicação em títulos e valores
mobiliários LP. Finalizando, a aplicação transferência de debêntures para curto prazo refere-
se a um lançamento de caráter contábil não modificando a posição financeira líquida da
empresa, pois não envolve o caixa. A DFC analisada mostra entradas e saídas de caixa, não
retratadas pela DOAR, importantes na dinâmica financeira da empresa. No Fluxo de Caixa
gerado pelas Atividades de Financiamentos, são apresentados novos financiamentos
contratados, $ 200, e a baixa do principal de dívidas, $ 1.250; enquanto no Fluxo de Caixa das
Atividades de Investimentos mostra-se o recebimento do principal investido, $170; além de
indenizações recebidas, $ 50.

3.5. Substituição da DOAR pela DFC – Tendência Mundial

Embora o movimento de substituição da DOAR pela DFC, no Brasil, tenha seu início
em 1999, com o envio do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações para
o Ministério da Fazenda, sendo encaminhado ao Congresso Nacional no ano seguinte na
forma do Projeto de Lei 3.741, mundialmente, esse movimento data da década de 70 quando
já estava em andamento um processo de extinção da DOAR, sustentado por pesquisas

69
científicas empíricas, dentre elas uma que concluía que indicadores de solvência baseados no
conceito restrito de fundos (caixa) são muito mais eficazes para prever falência de empresas
do que os mesmos indicadores tomados em relação ao conceito amplo de fundos (capital
circulante líquido). (LUSTOSA, 1997).

A divulgação obrigatória da DFC pelas empresas norte-americanas se deu em 1987


com a emissão do Statement of Financial Accounting Standards (SFAS) nº 95. Inicialmente,
existia o conceito da Demonstração dos Fluxos de Fundos (Statement of Funds Flow), cuja
referência era o APB Opinion nº 3 The Statement of Source and Application of Funds,
Opinião nº 3 “A Demonstração das Fontes e Aplicações de Fundos” emitido pelo Comitê de
Princípios Contábeis (APB).

O parecer sobre a demonstração das mutações da situação financeira descrevia os


possíveis formatos de apresentação disponíveis e os diversos conceitos de fundos usados na
prática. Paralelamente, o FASB (Financial Accounting Standards Boards) recomendava a
divulgação de um relatório que deveria apresentar o conceito de fundos, mostrando as
alterações de todos os recursos financeiros, caixa e capital de giro líquido sendo que esse
relatório era complementar àqueles já divulgados, Balanço Patrimonial e Demonstração do
Resultado do Exercício.

Em 1971, ocorreu a substituição do APB nº 3 pelo APB nº 19 Reporting Changes in


Financial Position, Relatando as Mudanças na Posição Financeira, nivelando o relatório
complementar a demais demonstrações, além de estabelecer novos procedimentos de
evidenciação da mudança da situação financeira, embora o conceito de fundos não tenha se
esclarecido, apenas ficou recomendada a abrangência de todas as transações significativas que
afetassem a posição financeira da empresa.

No início da década de 80, após um estudo mostrando a importância das informações


de fluxo de caixa como parte de seu projeto de estrutura conceitual, o FASB começou seu
projeto de reportar o fluxo de caixa, tanto que o APB nº 19 foi substituído a partir de junho de
1988 com o relato da DFC. Seguindo a mesma tendência, países como o Canadá, Reino
Unido e Irlanda do Norte, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul instituíram a
obrigatoriedade da referida demonstração. Atualmente, a dimensão com que se dá a
obrigatoriedade da DFC é muito maior. Desde 1º de janeiro de 2005, os países pertencentes à

70
União Européia - Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,
Grécia, Holanda, Itália, Portugal, Suécia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Lituânia,
Letônia, Eslováquia, Estônia, Eslovênia, Chipre, Malta e, recentemente, a Bulgária e a
Romênia - adotam as Normas de Contabilidade de Padrão Internacional, as IAS-IFRS
(International Accounting Standards-International Financial Reporting Standards), emitidas
pelo IASB (International Accounting Standards Board), e dentre elas está o IAS nº 7 Cash
Flow Statemets, emitido em 1992. No Brasil, autores renomados também defendem a
substituição da DOAR pela DFC. Martins (1999) reconhece a existência de um movimento
mundial pela substituição da DOAR, semelhante a que temos no Brasil com base na variação
do Capital Circulante Líquido (CCL), pela DFC e, justifica ainda a substituição, pelo fato da
DOAR apresentar um conceito abstrato de folga financeira, provocando dificuldades na maior
parte dos usuários da informação contábil.

3.6. DOAR – Vantagens e Desvantagens

No propósito de fornecer aos usuários informações que atendam às suas necessidades,


a grande vantagem da DOAR é a visão de longo prazo que suas informações têm condições
de proporcionar aos usuários. É possível associar que a origem de recursos venha de uma
captação de longo prazo, dentro de alguns anos se converterá em aplicação de recursos ao ser
transferida para o Passivo Circulante; ou então, numa situação inversa, uma aplicação de
recursos gerada pela concessão de empréstimo para devolução num período de longo prazo,
quando estiver para ser recebido, um ano antes, será apresentada como origem de recursos.
Uma situação de maior concentração das aplicações de recursos em imobilizações, em ativo
fixo, pressupõe a política de investimentos voltada ao aumento da produção, ou pela aquisição
de maquinário ou pela expansão do parque industrial.

O conceito de capital de giro ou capital circulante líquido sendo influenciado pelo


resultado entre as fontes e as aplicações de recursos de longo prazo da companhia permitem
ao usuário uma visão ampla da posição financeira, abrangendo todas as mudanças da situação
financeira como um todo. O usuário tem a possibilidade de identificar cada uma das fontes de
recursos, tanto de longo como de curto prazos e das aplicações de recursos, também de longo
ou de curto prazos e dentro dessa gama de informações, é possível verificar a integração entre
todas as fontes e todas as aplicações num conjunto perfeito que é a dinâmica empresarial.

71
Afonso (1999: p. 8) cita ainda outras vantagens da DOAR:

“I – fornece informações que não constam em outras demonstrações. Por esse motivo,
quando elaborada por um usuário externo, a partir das informações do balanço e da
demonstração do resultado, não é tão completa e informativa;
II – possibilita um melhor conhecimento da política de investimento e de
financiamento da empresa;
III – segundo alguns autores, tem poder preditivo;
IV – possui uma capacidade analítica de longo prazo maior que o fluxo de caixa;
V – permite uma melhor integração entre o lucro contábil e a posição financeira da
empresa.”

Ainda que apresente uma série de vantagens, a DOAR também coleciona


desvantagens e a principal delas é a dificuldade de leitura e interpretação, dificuldades que
colaboram com o seu não entendimento. Normalmente, os usuários leigos à técnica contábil
ou à administração financeira tendem a apresentar uma dificuldade ainda maior que outros
usuários. Essa dificuldade reside no fato de seu ponto central tratar-se de um conceito abstrato
de folga financeira de curto prazo, o CCL, além da tentativa de associá-la ao conceito de uma
demonstração de caráter financeiro, uma vez que este último remete o usuário à idéia de
“dinheiro”, ou seja, a DOAR é caracterizada como uma demonstração a ser analisada sob o
ponto de vista financeiro, porém não aborda o conceito de dinheiro, e sim de recursos,
originados e aplicados, monetários e não monetários, cujo foco é o capital de giro da empresa,
daí justifica-se a grande dificuldade encontrada pelos usuários da informação contábil.

Outra desvantagem é a ausência da movimentação das contas representativas dos


grupos circulantes, que simboliza o resumo da atividade operacional, ou seja, estoques à
disposição da administração para se efetuar as vendas; os direitos provenientes das vendas a
prazo de estoque, as dívidas com fornecedores de estoque; as dívidas com impostos sobre as
vendas, as dívidas com funcionários, ou seja, a DOAR falha ao abordar esses elementos
patrimoniais de forma genérica, ou seja, pela diferença entre o Ativo e Passivo Circulantes.

72
3.7. DFC – Vantagens e Desvantagens

O primeiro e principal motivo que justifica a substituição da DOAR pela DFC é a


facilidade de entendimento da demonstração. Martins (1999: p. 8) assim esclarece: [...]
justifica-se plenamente essa substituição apenas pelo fato de ser muito mais fácil o
entendimento do Fluxo de Caixa que o da DOAR. E talvez isso realmente já seja o suficiente
para a mudança [...].

Os conceitos da DFC proporcionam facilidade de leitura, interpretação e, como


conseqüência, de entendimento, pois seu foco é a variação do Caixa e Equivalentes de Caixa,
o que, efetivamente, representa o dinheiro pertencente à empresa. O autor ressalta que “no
mundo econômico o denominador final comum a todas as operações é o dinheiro. E, no longo
prazo, o conceito de lucro está voltando exatamente a uma diferença de riqueza medida em
dinheiro” (p. 6), portanto, o conceito de dinheiro é a informação mais desejada no que tange
ao processo de tomada de decisão, seja do acionista, interessado na distribuição de
dividendos; seja dos fornecedores, interessados no recebimento de seus créditos; seja do
governo interessado no recebimento de seus impostos; seja dos funcionários e executivos,
interessados no recebimento de seus salários; seja dos clientes, interessados no pagamento dos
custos de maneira que a empresa venha a honrar o compromisso de fornecimento de seus
produtos; seja dos financiadores, interessados no recebimento de seus créditos, além desta
informação ser primordial na análise para a concessão de empréstimos, seu produto de venda;
enfim, no mundo empresarial, o dinheiro é o principal fator na tomada de decisão, seja na
análise do passado, na tentativa de ajustar o presente e planejar o futuro; seja no presente, no
acompanhamento da liquidez da empresa; seja numa visão de futuro visando a expectativas de
vendas e retornos.

A estrutura da DFC apresenta o fluxo de caixa, efetivas entradas e saídas, conforme a


natureza de decisão da operação que gerou aquele caixa, ou seja, os fluxos de caixa das
operações relacionadas à decisão operacional alimentarão o fluxo de caixa das atividades
operacionais; já os fluxos de caixa gerados pelas operações originadas de decisões de
investimentos farão parte do fluxo de caixa das atividades de investimentos e; por fim, as
efetivas entradas e saídas originadas de operações provenientes de decisões de financiamentos
montarão o fluxo de caixa das atividades de financiamentos. Essa divisão de entradas e saídas
por natureza de decisão mostra uma visão clara e ampla dos fluxos financeiros gerados pela

73
empresa, caracterizada como outra vantagem da DFC, pois proporciona informações
geradoras de caixa e consumidoras de caixa de cada uma das três atividades da empresa,
operacional, de investimentos e de financiamentos.

Braga e Marques (1996, p. 13) citam outras vantagens da DFC:

• “Focaliza a atenção do leitor ao valor “verdadeiro” (em sinônimo a objetivo) do


dinheiro, considerado como a medida mais apropriada para mensurar a empresa em
continuidade;
• Possibilita à administração projetar o futuro da organização;
• Proporciona melhor visualização da capacidade de pagamento dos investimentos
realizados e da política financeira empregue; e
• Fornece uma melhor avaliação da qualidade de gerência financeira do negócio.”

A DFC explica a variação de Caixa e Equivalentes de Caixa que envolve o próprio


caixa, numerário em espécie, as contas correntes de livre movimentação e as aplicações
financeiras de liquidez imediata, ou seja, aquelas que podem ser resgatadas a qualquer
momento, não existindo um prazo de carência para o respectivo resgate. Esses componentes
representam uma parcela muito pequena dos itens patrimoniais à disposição da empresa e que
influenciam a situação patrimonial. Dada essa situação, a DFC apresenta como desvantagem
uma abrangência enxuta da situação financeira, de forma geral. Ela deixa de apresentar
informações importantes relacionadas a itens importantes no contexto financeiro da empresa.
Outra desvantagem é o alcance da DFC quanto à visualização de períodos. A DFC mostra
uma visão de curto e médio prazos, ou seja, evidencia uma situação muito próxima do
acontecido não mostrando tendências, que são de extrema importância para a tomada de
decisão.

74
Considerações Finais

Levando em conta a recente aprovação do Anteprojeto da Lei das Sociedades por


Ações, Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, por intermédio da edição da Lei 11.638 de 28
de dezembro de 2007, no qual uma das propostas aprovadas é a substituição da Demonstração
das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC) e o diferencial de informações apresentado por ambas, embora sejam consideradas
demonstrações contábeis de caráter financeiro, este trabalho tem por objetivo a identificação
do conteúdo informacional de cada uma das demonstrações numa conotação de caráter
financeiro, a justificativa dessa substituição como alternativa e a identificação dos pontos
favoráveis e desfavoráveis da DOAR e da DFC.

Ao serem classificadas como demonstrações de caráter financeiro, os usuários das


informações contábeis disponibilizadas pela DOAR e pela DFC associam que ambas
apresentarão informações semelhantes, mas com finalidades iguais. Mesmo que tenham a
mesma conotação financeira, suas intenções são distintas e com informações diferentes, o que
acaba por gerar confusões e dificuldades de leitura, interpretação e entendimento nesse
processo de busca das informações contábeis pelos usuários.

A DOAR, Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, visa a informar os


recursos em constante movimento da situação patrimonial da empresa, ou seja, mostrar as
origens de recursos e suas respectivas aplicações no contexto empresarial global por meio da
abordagem das fontes de recursos e de seus investimentos. Seu enfoque está na movimentação
do capital de giro da empresa, que pressupõe não somente o montante de disponibilidades,
mas todos os valores do Ativo Circulante, nomeadamente, o conjunto de bens e direitos, cuja
expectativa é sua transformação em dinheiro; e do Passivo Circulante, grupo das obrigações
assumidas pela empresa que em seus respectivos vencimentos consumirão dinheiro, ambos
para um período de curto prazo, ou seja, até 12 meses a contar da data do Balanço
Patrimonial. O aspecto financeiro vislumbrado nessa engrenagem do capital de giro acabou
por gerar dificuldades no entendimento dessa sistemática de curto e longo prazo interagindo,
na sua associação ao conceito de demonstração de caráter financeiro e, por conseqüência, na
sua vinculação ao termo dinheiro, primeira idéia à conotação “financeiro”. Com isso, as

75
vantagens apresentadas pela DOAR de indicar uma visão de longo prazo, de visualizar as
origens e aplicações de recursos, tanto de curto como de longo prazos, interagindo entre si, de
identificar as formas de financiamento da empresa e as posturas assumidas pela companhia
dentro da gestão empresarial foram ignoradas pelo usuário pela dificuldade na leitura e
interpretação da demonstração, ocasionando o seu não entendimento.

Paralelamente, esse usuário não tendo as suas necessidades informacionais atendidas,


passou a requerer uma demonstração contábil que atendesse às suas necessidades sob o ponto
de vista financeiro e, seguindo uma tendência internacional, passou a exigir a DFC como
demonstração de caráter financeiro. Essa questão da dificuldade na leitura, interpretação e
entendimento da DOAR como uma demonstração financeira ocorre em domínio internacional,
tanto que em muitos países a DOAR foi substituída pela DFC. Além disso, o Brasil está
engajado no Processo de Convergência das Normas Contábeis visando à Harmonização das
Normas Contábeis, cujos países, na sua maioria, já adotam a DFC como demonstração
contábil sob o ponto de vista financeiro.

A DFC evidencia a efetiva entrada e saída de caixa e equivalentes de caixa, atendendo


assim à demanda dos usuários interessados em informações com enfoque financeiro, pois tal
conotação pressupõe a idéia de dinheiro. Nesse aspecto, a DFC oferece facilidade de leitura
das informações, de interpretação das transações que deram origem às informações
apresentadas e de entendimento da demonstração; cujo alvo é evidenciar aspectos da situação
financeira da empresa. Nesse contexto favorável, a DFC vem atender de forma mais eficiente
os usuários por oferecer informações contábeis que melhor apresentem duas de suas
características qualitativas - a compreensibilidade e a relevância -, a informação
disponibilizada na DFC é entendida pelo usuário pelo fato de ele ter percebido a transação
retratada e utilizada no processo de tomada de decisão, ou seja, tornou-se um diferencial
naquele momento.

Consideramos que a substituição da DOAR pela DFC ocorreu no momento oportuno,


uma vez que a dificuldade apresentada pela DOAR quanto à leitura das informações; à
interpretação das transações retratadas pelas informações; e ao entendimento dela como uma
demonstração de caráter financeiro; passou a comprometer o objetivo principal da
Contabilidade que é o de fornecer aos seus usuários informações úteis para o processo de
tomada de decisão, reforçada ainda pela não compreensibilidade das informações. Tal

76
situação não acontece com a DFC, que apresenta em seu conteúdo o mesmo conceito de sua
conotação como demonstração de caráter financeiro, a movimentação de efetiva entrada e
saída de caixa, ou seja, dinheiro, atendendo assim às necessidades dos usuários da informação
contábil, além da facilidade de seu entendimento pelo fato de mostrar no conteúdo os aspectos
de conotação financeira.

Todos esses esforços vêm contribuindo para a convergência das normas contábeis
brasileiras às normas internacionais de contabilidade, porém o acontecimento de maior
importância nessa trajetória foi a aprovação do Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações,
Lei 6.404/76, pela edição da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que contém alterações de
ordem contábil, sendo uma delas a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), alteração já realizada
internacionalmente. Por tudo isso, entendemos que novas pesquisas sobre o assunto devam ser
feitas com o propósito de esclarecer pontos que causam conflitos de entendimentos e
interpretações, uma vez que se trata de uma nova demonstração contábil no contexto
brasileiro.

77
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