Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PUC-SP
Rosana Buzian
SÃO PAULO
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rosana Buzian
SÃO PAULO
2008
ERRATA
19 09/11/2007 09/11/2007
CPC CPC
Pronunciamento Técnico CPC 01 Pronunciamento Técnico CPC 02
________________________________
________________________________
________________________________
Alegrai-vos na esperança,
Sede pacientes na tribulação,
Perseverai na oração.
(Romanos 12,12)
Agradecimentos
Primeiro, agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela Sua imensa misericórdia e
bondade com que tem me agraciado em todos os dias da minha vida, principalmente, no
período da minha dissertação.
À minha família, pelo apoio, incentivo e paciência. Meu pai Theodoro (in
memorian) pelo exemplo de caráter que me transmitiu no curso de sua vida ao meu
lado; minha mãe Adélia, uma mulher que, ao mesmo tempo em que transmite força,
garra, motivação, representa um porto seguro de paz, consolo, oração, uma grande
mulher e mãe. À minha irmã, pela paciência e generosidade demonstradas nesse período
de muita ansiedade e nervosismo durante a pós-graduação.
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Carlos Marion, pois, ao possuir o dom da
palavra, lhe é permitido conduzir todo o conhecimento regado com doses de
simplicidade, sensibilidade, paciência e tranqüilidade, que o permitem ultrapassar a
categoria de Professor para atingir a virtude de um Mestre, pelo qual tenho enorme
admiração e respeito.
Aos membros da Banca de Qualificação, Prof. Dr. Carlos Hideo Arima e Prof.
Dr. Laércio Baptista da Silva, pelas valiosas críticas e sugestões oferecidas para o
desenvolvimento e conclusão do meu trabalho.
À revisora do meu trabalho, Profª. Ms. Tânia Arbolea, pelo seu profissionalismo,
paciência no período da revisão e pela orientação e presteza que sempre foram marca
registrada de sua pessoa.
Introdução p. 1
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Considerações Finais p. 75
Referências Bibliográficas p. 78
Resumo
With the advent of globalization of the economy, the disclosure of accounting mark
important role in the process of communication among its various users. The set of
standards that causes such accounting information is different because the difference in
beliefs, culture, nationalism among countries. In order to minimize the differences
between the accounting standards of the participating countries of the global market, the
harmonization of Accounting Standards represents an attempt to align the standards to
local accounting standards with international standards, whose commitment to
integration among the countries involved it is characterized as Convergence of
Accounting Standards. In Brazil, the main measure adopted in this context of
convergence was the adoption of Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades
por Ações that, among the amendments proposed and approved, is replacing the DOAR
by DFC, both financial in nature, but with different purposes. The DOAR shows the
movement of working capital, while DFC specifies the effective cash receipt and output.
Each of the two financial statements meet the needs of different users, depending on
their usefulness for the decision, the capital of spin or movement of cash. Thus, this
work aims to illustrate the purposes and points favorable and unfavorable for each of the
demonstrations, besides clarifying the purpose of exchange of DOAR by DFC. We
consider opportune the replacement of DOAR by DFC given the context of
Harmonization of Accounting Standards, while providing better understanding of the
user accounting information.
1
as diferenças culturais, de soberania, de nacionalismo, entre outros. Posteriormente, adotou-se
a concepção de Harmonização das Normas Contábeis que pressupõe uma disposição das
normas locais às normas contábeis de padrão internacional. Esse processo de alinhamento
sugere um compromisso de integração entre os países comprometidos com a Harmonização
das Normas Contábeis. Esse caminho a ser percorrido pelos países com o propósito de
minimizar as diferenças entre as normas contábeis é chamado de Convergência das Normas
Contábeis.
2
relacionada às movimentações do Capital Circulante Líquido (CCL), conhecido também
como Capital de Giro e, a segunda, relaciona-se com as movimentações do Caixa e
Equivalentes de Caixa, especificamente dinheiro.
No período em que esteve em vigor, a DOAR apresentava um alto grau de rejeição dos
usuários da informação contábil quanto à sua finalidade de demonstração contábil sob o ponto
de vista financeiro, pois a conotação “financeiro” está relacionada ao conceito de dinheiro e
não ao de recursos como prevê esta demonstração. Esse fato fez com que houvesse uma
grande necessidade de informações sobre o fluxo financeiro de caixa, sendo que as
informações sobre o fluxo financeiro de recursos da empresa já eram apresentadas na DOAR.
3
O usuário, ao recorrer a uma demonstração contábil cuja conotação seja “financeira”, espera
encontrar dados a respeito das operações que resultem em entradas e saídas de caixa, e não
informações que representem origens e aplicações de recursos, nem sempre convertidos em
caixa naquele momento. Como conseqüência disso, a característica qualitativa da informação
“relevância” não estava sendo correspondida, ou seja, deixou de ser útil para o processo de
decisão, portanto passou a ser descartada pelo usuário da informação contábil, pois sob o
ponto de vista do usuário, a Contabilidade não estava disponibilizando informações contábeis
de caráter financeiro da empresa. Neste contexto e seguindo uma tendência internacional, a
DFC passou a ser a demonstração contábil, de caráter financeiro, que poderia atender às
necessidades dos usuários interessados em informações contábeis sob o ponto de vista
financeiro. Esse anseio resultou em um dos pontos de alteração prevista pelo Anteprojeto de
Reformulação da Lei das Sociedades por Ações, sendo sugerida a substituição da DOAR pela
DFC. Sua aprovação se deu pela edição da Lei 11.638/07, quando, finalmente, ocorreu a
substituição.
4
pelo regime de caixa. Essa conversão do resultado do exercício pelo regime de competência
em resultado do exercício pelo regime de caixa assemelha-se à conciliação existente na
DOAR, tanto que, em ambos, a origem do resultado é o mesmo da DFC, ou seja, o resultado
do exercício pelo regime de competência, porém a conversão desta última será em resultado
do exercício visualizado no capital de giro. Essa conciliação apresentada pelo Método Indireto
traz a mesma problemática encontrada na DOAR quanto à dificuldade de entendimento do
raciocínio da conciliação, dificultando a percepção da utilidade da informação.
Identificação do Problema
Com a edição da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007 que aprovou o Projeto de Lei
nº 3.741 de 2000, formalização do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por
Ações (Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976), a Demonstração das Origens e Aplicações
de Recursos (DOAR), constante no art. 188 da Seção VI do Capítulo XV da Lei 6.404/76
como demonstração financeira obrigatória de elaboração e publicação para as Sociedades
Anônimas, exceto para as companhias fechadas com patrimônio líquido inferior a um milhão
de reais na data do balanço, foi substituída pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC),
sendo que o esse artigo recebeu nova redação. Justifica-se tal substituição o fato de a DFC
atender, em maior proporção, às necessidades de informações da situação financeira da
empresa, pois apresenta a movimentação das efetivas entradas e saídas de caixa. Com isso, o
usuário de informações contábeis relacionadas à posição financeira da empresa tende a
maximizar a quantidade de informações financeiras da empresa disponibilizadas por esse
demonstrativo. Entretanto, os usuários que se utilizavam das informações disponibilizadas
pela DOAR, ou seja, aquelas que compõem o conjunto de todas as origens e aplicações de
recursos, tanto de curto como de longo prazo, inclusive a movimentação das entradas e saídas
de caixa, embora de forma resumida, acabaram por perder conglomerado de informações nela
inseridas.
Embora tenha ocorrido a substituição da DOAR pela DFC como forma de minimizar
as dificuldades encontradas pelos usuários no entendimento e visualização da DOAR como
uma demonstração contábil de caráter financeiro, além de representar uma tendência
internacional, a estrutura de apresentação do Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades
Operacionais pelo Método Indireto mostra um conceito similar ao da DOAR quanto à
5
conversão do resultado econômico em resultado financeiro, situação passível também de gerar
dificuldade em assimilar os respectivos conceitos.
Objetivos
Justificativas
6
DOAR pela DFC. A primeira delas é a característica qualitativa Compreensibilidade cuja
função é o entendimento da transação que foi retratada pela informação contábil, e deve
mostrar a informação em sua totalidade com a indicação de todos os aspectos contábeis
daquela determinada operação. A outra característica qualitativa é a Relevância, cujo conceito
está em sua utilidade no processo de decisão, ou seja, ela teria de atender às necessidades do
usuário nesse processo.
Tanto a DOAR como a DFC são tratadas como demonstrações de caráter financeiro,
embora cada uma delas atinja um determinado aspecto da situação financeira da empresa.
Enquanto a DOAR vislumbra a figura do capital de giro, espelho da posição financeira de
curto prazo influenciada pelos recursos, originados ou aplicados, em longo prazo; a DFC
retrata a posição financeira líquida, resultado das efetivas entradas e saídas de caixa e
equivalentes de caixa, posição que é visualizada de maneira resumidamente genérica na
DOAR. As informações apresentadas pela DOAR, embora com alto teor informativo das
origens e aplicações de recursos, tanto de curto como de longo prazo, não apresentam, de
forma detalhada e específica, informações sobre recursos financeiros disponíveis de tamanha
importância no processo de tomada de decisão, além de sua pouca compreensibilidade por
parte dos usuários. Com isso, a divulgação de uma demonstração que atendesse a esse tipo de
necessidade passou a ser requerida pelos usuários da informação contábil, resultando na
proposta da DFC, pois havia como referência a experiência internacional, onde países como
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul já haviam
feito a substituição, visualizando o propósito de atender a essas necessidades de informação.
Tendo em vista que as duas demonstrações, ainda que financeiras, abordem aspectos
distintos, a escolha por substituir a DFC pela DOAR pode gerar uma perda de informações
importantes com o fim da divulgação da DOAR. Embora uma das justificativas para essa
substituição seja a dificuldade de entendimento apresentado pela DOAR, a apresentação do
Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades Operacionais pelo Método Indireto demonstra uma
sistemática semelhante ao conceito de conversão do resultado econômico em resultado
financeiro presente na DOAR, que também provocava dificuldade de entendimento.
Metodologia
7
os processos de Padronização, Harmonização e Convergência das Normas Contábeis. Segue-
se com um ponto de vista dos acontecimentos que envolvem o Processo de Convergência das
Normas Contábeis no Brasil, destacando as regulamentações dos órgãos envolvidos neste
processo. Ênfase maior é atribuída às normatizações internacionais e nacionais relacionadas à
DOAR e à DFC.
8
Capítulo I
Nesses últimos anos, o grande impulso para o processo de fixação de normas contábeis
no âmbito internacional foi a Globalização da Economia. Segundo Leite (2002, p. 52), essa
internacionalização dos mercados decorre de três acontecimentos que modificaram o cenário
econômico mundial:
9
primordial de informações capaz de atender às suas necessidades informacionais, no decorrer
desse processo.
A divulgação das informações contábeis de uma entidade que atua tanto no mercado
nacional como no mercado internacional atinge interesses de usuários que se encontram no
país-matriz ou no país-filial da companhia, usuários do mesmo ramo empresarial e de outros
ramos empresariais. Os usuários localizados no país-matriz ou no país-filial da companhia
estão interessados nas informações sobre a evolução do patrimônio da empresa, sobre os
resultados obtidos naquele período, sobre a situação financeira, ou seja, o interesse é sobre o
desempenho da companhia; já os usuários do mesmo ramo em que a empresa opera estão
10
interessados no confronto e comparação de informações daquele ramo empresarial, qual o
comportamento verificado entre as empresas, qual a expectativa para os próximos anos,
enfim, o propósito seria a análise dos concorrentes entre si e os usuários de outros ramos
empresariais estão interessados em informações necessárias para a montagem de projeções do
mercado, para a formulação de índices econômico-financeiros.
Essa variação de informações contábeis de um país para outro, conforme Rosa (1999)
representa um dos complicadores atuais para os investidores, dada a ausência de um conjunto
harmonizado de informações.
11
disponibilizadas no mundo inteiro mesmo ele estando no seu país de origem. O processo de
globalização, seja ele pelo desenvolvimento do mercado de capitais internacional, pelo
crescimento dos investimentos diretos estrangeiros ou pela formação de blocos econômicos
passa a exigir uma linguagem única das demonstrações contábeis para que os dados extraídos
atinjam o objetivo de bem informar tanto os usuários nacionais como internacionais.
12
qualitativas da informação. Portanto, a informação contábil deve apresentar como
características qualitativas a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade e a
comparabilidade. Na verdade, o mercado necessita dessas características para que a
informação seja útil no seu processo decisório, tanto que nos OFÍCIOS-
CIRCULARES/CVM/SNC/SEP nº 01 dos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007, no item “A
Qualidade da Informação Contábil” a CVM cita:
1.5.1. Compreensibilidade
1.5.2. Relevância
Para que a informação contábil atinja a sua finalidade, que é a de ser útil, ela deve ser
relevante para as necessidades dos usuários no processo de tomada de decisão. A informação
passa a apresentar como qualidade a característica relevante quando dispõe de condições de
fazer diferença numa decisão, colaborando com os usuários na avaliação de eventos passados,
presentes e futuros, além de confirmar ou corrigir expectativas anteriores.
13
1.5.3. Confiabilidade
1.5.4. Comparabilidade
1
Statement of Financial Accounting Concepts – Conceitos de Contabilidade Financeira.
14
necessidades, independente do país onde estejam localizadas a empresa e a sua Contabilidade
propriamente dita, a empresa matriz e o usuário interessado nas informações divulgadas pela
Contabilidade da Entidade Econômica como um todo.
Esses três conceitos tendem a ser interpretados de maneira semelhante, mesmo que
não sejam. Resumidamente, de acordo com os grandes dicionários de língua portuguesa
Houaiss e Michaelis, a palavra mais apropriada para denominar padronização seria
uniformidade, já harmonização seria mais bem associada com concordância e convergência,
logo o melhor entendimento seria a tendência para um ponto comum.
15
estado de uniformidade, enquanto o segundo seria um movimento direcionado a um estado de
ausência de diversidade de práticas.
Essa idéia serve de embasamento para o mais novo processo, a Convergência das
Normas Contábeis. Na verdade, o objetivo principal continua sendo a Harmonização das
Normas Contábeis, porém o caminho para alcançá-la é a Convergência das Normas
Contábeis.
16
1.9.1. Convergência das Normas Contábil – Contexto Mundial
17
Quadro 1 – Ordem cronológica dos acontecimentos no contexto brasileiro que retratam o
Processo de Convergência das Normas Contábeis
Documento
Data Órgão
Número Título
18
19/06/2006 CVM Deliberação 506 Aprova o Pronunciamento do IBRACON sobre
Práticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas
Contábeis e Correção de Erros. (NPC Nº 12 –
PRÁTICAS CONTÁBEIS, MUDANÇAS NAS
ESTIMATIVAS CONTÁBEIS E CORREÇÃO
DE ERROS (CORRELAÇÃO - IAS Nº 8))
26/10/2007 CFC Resolução 1.106 Estabelece regras para a edição das Normas
Brasileiras de Contabilidade (NBCs).
09/11/2007 CPC Pronunciamento Dispõe sobre os Efeitos nas Mudanças nas Taxas
Técnico CPC 01 de Câmbio e Conversão de Demonstrações
Contábeis.
19
11/01/2008 CPC Pronunciamento Dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a
Conceitual Básico Elaboração e Apresentação para as
Demonstrações Contábeis
22/02/2008 CFC Resolução 1.120 Aprova a NBC T 7 – Efeitos das Mudanças nas
Taxas de Câmbio e Conversão de
Demonstrações Contábeis.
20
Essa postura é reiterada no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2006 de 22
de fevereiro de 2006, p. 2 e também no OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP Nº 01/2007 de
14 de fevereiro de 2007, p. 14.
1.9.2.1. BCB
CRONOGRAMA
21
convergência das normas de contabilidade e auditoria das instituições financeiras com as
normas internacionais da IASB e IFAC (The International Federation of Accountants), a
Federação Internacional de Contadores, ressaltando a emissão de normas alinhadas às normas
da IASB e IFAC para adoção efetiva a partir de 31.12.2010.
1.9.2.2. CVM
22
Destacamos o compromisso da CVM junto ao IOSCO – The International
Organization of Securities Commission, a Organização Mundial das Comissões de Valores
Mobiliários, em balizar seus trabalhos nas orientações emanadas do IASB, desde que não se
depare com alguma impossibilidade legal. Nos anos subseqüentes, de 2005, 2006 e 2007, a
CVM continua nesse processo de convergência como se verifica na divulgação dos OFÍCIOS-
CIRCULARES/CVM/SNC/SEP de 2005, de 2006 e de 2007 quando é evidenciada, de forma
idêntica, a preocupação em ressaltar o propósito da CVM quanto à sua função de
regulamentação, de seu auxílio no esclarecimento de questões voltadas às normas
internacionais de contabilidade, além de recomendar a divulgação em notas explicativas da
conciliação das diferenças entre as normas contábeis brasileiras e internacionais:
Neste período, ano a ano, é possível verificar que o posicionamento adotado pela
CVM está direcionado com o propósito de redução das diferenças existentes, além dos
avanços significativos que intencionam o alinhamento às normas internacionais. A partir de
“convergência com as normas internacionais de contabilidade, além do balizamento com as
normas do IASB” constantes no Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP de 2004, constata-se no
mesmo tipo de documento, porém direcionado para o exercício de 2005, o acréscimo da
“observância de diferenças entre os procedimentos contábeis nacionais e os internacionais no
intuito de divulgá-las em notas explicativas com a devida conciliação”. No OFÍCIO-
CIRCULAR /CVM/SNC/SEP de 2006, a citação da Deliberação nº 488 de 03 de outubro de
2005, que reconhece e aprova o Pronunciamento nº 27 emitido pelo Instituto Brasileiro dos
Auditores Independentes (Ibracon) sobre Apresentação e Divulgação de Demonstrações
23
Contábeis, retrata um importante esforço deste órgão nesse processo de convergência, tanto
que no Ofício-Circular explicita-se:
A área técnica desta CVM entende que tal pronunciamento reflete a crescente
importância que a autarquia e o Ibracon conferem à convergência das práticas
contábeis brasileiras com as práticas contábeis internacionais, visando ao aumento
da transparência e da segurança nas nossas informações contábeis divulgadas ao
público investidor, e possibilitando, a um custo mais baixo, o acesso das empresas
nacionais às fontes de financiamento externas.
A CVM vem, ao longo dos anos da sua atuação, buscando aperfeiçoar e manter
atualizado o seu arcabouço normativo contábil, sempre com a participação de
segmentos interessados do mercado ou da profissão contábil. Cumpre destacar a
importante colaboração recebida da Comissão Consultiva de Normas Contábeis da
CVM, que conta com representantes da ABRASCA, APIMEC, CFC, IBRACON,
FIPECAFI/USP e colaboradores especialmente nomeados pela CVM, além dos
professores Ariovaldo dos Santos (USP), José Augusto Marques (UFRJ) e Natan
Szuster (UFRJ) e, agora, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),
recentemente instalado.
24
para que as companhias abertas brasileiras adotem obrigatoriamente as normas
contábeis internacionais.
1.9.2.3. IBRACON
Outro órgão de forte atuação neste processo é o Instituto Brasileiro dos Auditores
Independentes (Ibracon). Recentemente, o Ibracon tem emitido novas normas contábeis
alinhadas com as normas internacionais. Intituladas Normas de Pronunciamentos Contábeis
(NPC), são aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da emissão das
deliberações CVM, como segue:
25
Deliberação nº 489, de 3 de outubro de 2005 - Aprova o Pronunciamento do
IBRACON NPC Nº 22 sobre Provisões, Passivos, Contingências Passivas e Contingências
Ativas.
1.9.2.4. BOVESPA
26
1.9.2.5. CFC
1.9.2.6. CPC
27
Ainda no Art. 4º desta Resolução são atribuídos ao CPC o estudo, a pesquisa, a
discussão, a elaboração e a deliberação sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos
Técnicos.
28
• CFC (Conselho Federal de Contabilidade) – autarquia especial de caráter
corporativo, que apresenta como finalidades a orientação, a normatização e a fiscalização do
exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade. A
entidade visualiza como sua missão a promoção do desenvolvimento da profissão contábil,
primando pela ética e qualidade na prestação dos serviços, realizando o registro e a
fiscalização de profissionais e organizações contábeis, atua como fator de proteção da
sociedade e quer ser reconhecido como um Conselho atuante e representativo da profissão
contábil.
29
Além dos órgãos participantes, representantes de órgãos como Banco Central do
Brasil, Comissão de Valores Mobiliários, Secretaria da Receita Federal e Superintendência de
Seguros Privados sempre serão convidados.
30
A intensidade com que acontece a integração entre os órgãos no processo de
Convergência das Normas Contábeis é verificada pelas normatizações emitidas. A
Deliberação CVM nº 520, de 15 de maio de 2007 dispõe sobre a audiência pública e a
aceitação pela CVM dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis – CPC e a Resolução CFC nº 1.106 de 26 de outubro de 2007 que estabelece regras
para a edição das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). Como conseqüência, o
quadro seguinte demonstra os órgãos envolvidos no processo de convergência das normas
contábeis, conforme se verificam no site do CPC, os pronunciamentos técnicos já emitidos e
as regulamentações de outros órgãos endossando (referendando/aprovando) o
pronunciamento.
31
1ª Fase – Elaboração da minuta inicial (M1)
2ª Fase – Análise da minuta M1 pelo Grupo de Trabalho
3ª Fase – Análise da minuta M2 pelo CPC
4ª Fase – Análise da minuta M3 por Órgão Regulador Específico
5ª Fase – Audiência Pública
6ª Fase – Revisão final da minuta M4
7ª Fase – Apreciação final pelo CPC
32
2000, o texto desse anteprojeto foi encaminhado ao Congresso Nacional na forma de Projeto
de Lei nº 3.741 e, por fim, em 28 de dezembro de 2007, ocorreu sua aprovação pela edição da
Lei 11.638.
O Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações foi elaborado por
uma comissão integrada por representantes de entidades do mercado, principalmente da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e de órgãos profissionais e de ensino.
Posteriormente, foi submetido a processo formal de audiência pública e, ainda, foi objeto de
análise e discussão prévias entre os órgãos de governo, subordinados ao Ministério da
Fazenda, interessados no assunto.
Dado o novo cenário da economia brasileira, o Anteprojeto tinha por alvo, com as
mudanças previstas na elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, atingir os
seguintes objetivos:
33
e) Redução do custo de elaboração, de divulgação e da auditoria dessas
demonstrações contábeis.
34
Capítulo II
SFAS nº 95
IAS nº 7
Lei 6.404/76
NPC nº 20
Ofício-Circular/CVM/SNC/SEP nº 01/2007
A Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, conhecida como a Lei das Sociedades por
Ações, teve a alteração e a revogação de alguns de seus dispositivos por meio de um
Anteprojeto de Reformulação, o Projeto de Lei n° 3.741 de 2000, atualizado pelo PLC nº
121/07, aprovado pelo Plenário do Senado Federal em 18/12/2007 e sancionado pela Lei
11.638 de 28 de dezembro de 2007.
O inciso IV do art. 176 desta lei, que diz respeito às demonstrações contábeis que a
Diretoria da companhia deverá elaborar ao final de cada exercício social. O inciso foi alterado
de Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR para Demonstração dos
Fluxos de Caixa – DFC. As duas demonstrações têm caráter financeiro, porém com enfoques
distintos. A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR tem como ponto
central o capital de giro da empresa e; a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC enfoca
apenas um dos componentes do capital de giro, o caixa e equivalentes de caixa. Embora seja
35
apenas um dos componentes do capital de giro, é de extrema importância, pois é representado
pelo dinheiro, componente responsável pelos recebimentos e pagamentos da empresa, ou seja,
aqueles que efetivamente aumentaram ou diminuíram o saldo líquido de caixa, impingindo na
liquidez da companhia. Na composição do capital de giro, além do caixa e equivalentes de
caixa, estão os direitos a receber que a empresa possui, onde existe a expectativa de
recebimento daquele crédito, não sendo, efetivamente, o dinheiro propriamente dito no
montante do capital de giro. Também estão as provisões para pagamentos que, para a
empresa, representam uma responsabilidade assumida perante um devedor, portanto a efetiva
saída está muito próxima da realidade. Na verdade, a informação capital de giro serve de base
para uma análise de probabilidades de ocorrências, enquanto o caixa e equivalentes de caixa
representam exatamente os fatos ocorridos, recebimentos e pagamentos e sua utilidade está
relacionada à projeção financeira da empresa.
36
O IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil aprovou em abril de
1999 a Norma e Procedimento Contábil (NPC) nº 20 - Demonstração dos Fluxos de Caixa.
Embora não seja citado explicitamente, a Norma e Procedimento Contábil (NPC) nº 20 segue
os moldes do conteúdo da norma internacional International Accounting Standard (IAS) nº 7.
A norma do IBRACON objetiva auxiliar o trabalho dos profissionais a ele associados, os
auditores externos.
O objetivo desse trabalho é discutir as diretrizes contábeis das duas normas acima
citadas, SFAS nº 95 e IAS nº 7, dado o Processo de Convergência das Normas Contábeis no
qual o Brasil tem demonstrado enorme interesse, além dos esforços despendidos nesse
processo. O trabalho será complementado pelas diretrizes contábeis nacionais, dado o nosso
contexto e do qual surgem as dúvidas acerca dos procedimentos a serem utilizados em função
das diferenças existentes entre as duas normas contábeis internacionais.
2.3. Objetivo
A Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC tem o objetivo de prover os usuários das
Demonstrações Contábeis com informações de caráter financeiro que estejam relacionadas
com as entradas e as saídas e equivalentes de caixa.
37
Enquanto isso, a International Accounting Standard (IAS) nº 7 coloca como objetivo
da Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC a apresentação de informações sobre mudanças
ocorridas no caixa e equivalentes de caixa.
Uma vez que a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), pela Lei 11.638 de 28 de
dezembro de 2007, que alterou o inciso IV do Art. 176 da Lei nº 6.404/76, passou a substituir
a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), Marion (2003, p. 426)
estabelece um paralelo entre as duas demonstrações, ambas com propósitos financeiros, no
que tange à sua utilidade:
[...] a Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC indica a origem de todo o dinheiro
que entrou no Caixa, bem como a aplicação de todo o dinheiro que saiu do Caixa
em determinado período, e ainda, o Resultado do Fluxo Financeiro.
2.4. Finalidade
Como finalidade principal, a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) deve prover
os usuários das Demonstrações Contábeis de informações úteis para a avaliação:
38
estende-se a informações úteis sobre pagamentos e recebimentos de caráter operacional, de
investimento e de financiamento.
[...] proporciona informação que facilita aos usuários avaliar as alterações nos
ativos líquidos de uma empresa, a sua estrutura financeira (incluindo a sua liquidez
e solvência) e a sua capacidade de gerar os valores e a tempestividade dos fluxos de
caixa com a finalidade de se adequar às necessidades diante das mais variadas
circunstâncias e oportunidades em face da dinâmica inerente aos negócios.
39
c) Das razões para as diferenças entre o resultado líquido e os recebimentos e
pagamentos de caixa associados; e
d) Dos efeitos sobre a posição financeira do negócio de suas transações de
financiamento e investimento de caixa e as que não afetam o caixa durante o período.
A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é composta por duas partes. A primeira
parte exemplifica os fluxos de caixa gerados durante o período que devem ser classificados de
acordo com a atividade de origem da operação, que são:
Essa classificação está de acordo com a nova redação dada pela Lei 11.638 de 28 de
dezembro de 2007, ao inciso I do art. 188 da Lei 6.404 de 1976 no qual está a indicação das
características mínimas da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), a saber:
A segunda parte da demonstração traz uma conciliação ilustrativa dos saldos iniciais e
finais de caixa e equivalentes de caixa; e o saldo movimentado no período que justifica o total
dos três caixas da primeira parte da demonstração.
40
transações operacionais e de outros eventos que afetaram o resultado contábil. O objetivo
desta conciliação, defendido por Marques e Braga (2003, p. 28), é o de permitir uma ligação
entre os regimes de competência e de caixa, Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)
e Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), respectivamente, uma vez que existem
diferenças temporais entre os fluxos de lucro e de caixa e, por conseqüência, seus montantes
não se igualam num período de curto prazo.
Nas Notas Explicativas que façam referência à Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC) deve haver a citação das transações de investimento e de financiamento que, embora
não tenha impacto diretamente nos fluxos de caixa daquele período, afetam a posição
patrimonial da empresa.
Segundo Marques e Braga (2003, p. 29), o conceito de Caixa, em seu sentido mais
estrito significa:
41
do Sul adotam um conceito mais amplo para o conceito de Caixa que significa
disponibilidades, ou seja, o total de numerário em mãos mais o somatório das contas correntes
mantidas por bancos e as aplicações financeiras de curto prazo, as quais se convertem
prontamente em dinheiro a um custo irrelevante.
a) Dinheiro em espécie;
b) Dinheiro em conta corrente em bancos e;
c) Dinheiro em aplicação financeira de liquidez imediata.
Caixa no sentido restrito (narrow cash) inclui apenas o dinheiro de uso corrente,
moeda e depósitos à vista, o poder de compra imediato que pode ser carregado na
carteira. Caixa no sentido amplo (broad cash) inclui ativos que podem ficar
disponíveis mediante ordens aos agentes financeiros (tais como, por exemplo, os
depósitos a prazo). Equivalentes de caixa (equivalent cash) ou próximo de caixa
(near cash) inclui os ativos financeiros transacionados em mercados regulares (tais
como, por exemplo, os títulos do tesouro nacional).
42
Para a qualificação de equivalentes de caixa, um investimento deve atender à
exigência do prazo de três meses considerando a sua data de aquisição. A possibilidade de um
investimento se transformar em equivalente de caixa é nula conforme explica Iudícibus et al
(2003, p. 399):
[...] um título do governo federal com prazo de vencimento de três meses, ou de três
anos, mas comprado três meses antes do seu vencimento é equivalente-caixa.
Todavia, um título do governo comprado há três anos não se transforma em
equivalente-caixa quando estiverem faltando três meses para seu vencimento.
43
Caixa (DFC). O parágrafo 8 da Norma de Procedimento Contábil – NPC nº 20, emitida pelo
Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON, esclarece:
Da mesma forma que esses três grupos de atividades de negócios estão retratados na
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e alimentam outras duas demonstrações contábeis,
Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício, que possuem suas
informações atreladas entre si. A figura sintetiza o esquema de relacionamento entre essas três
demonstrações contábeis.
Essa figura mostra a importância dos fluxos de caixa no giro dos negócios da empresa
impulsionado pelas atividades operacional, de investimento e de financiamento, que resultam
por gerar a Demonstração do Fluxo de Caixa, além de alimentar as outras duas demonstrações
44
contábeis, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. Teles (1997,
p. 68) resume este mecanismo como “uma engrenagem na qual o fluxo de caixa alimenta as
três atividades e fornece as bases para a continuidade da empresa”.
Fluxo de Caixa
Financiamento Investimento
BP BP
(Balanço Patrimonial) (Balanço Patrimonial)
Operacional
DRE
Demonstração do Resultado do Exercício
Fonte: Teles, Egberto Lucena. Demonstração do Fluxo de Caixa como forma de enriquecimento das
demonstrações contábeis exigidas por lei. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano 26. nº 105. Julho
de 1997. p. 68
45
2.8.1. Fluxo de Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais
46
Na concepção de atividades de investimentos, de acordo com o parágrafo 6 da Norma
de Procedimento Contábil (NPC) nº 20, emitida pelo Instituto dos Auditores Independentes do
Brasil (IBRACON), estão compreendidas as transações ocorridas na empresa que envolvem
ativos financeiros, aquisições ou vendas de participações em outras entidades e de ativos
utilizados na produção de bens ou prestação de serviços ligados ao objeto social da Entidade.
Ressalta-se ainda que, a aquisição de ativos com o objetivo de revenda não deve ser
caracterizada como atividade de investimento.
47
2.10. Método de Elaboração do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais
O Fluxo de Caixa oriundo das Atividades Operacionais pode ser elaborado utilizando-
se dois métodos: o Método Direto e o Método Indireto, sendo que a diferença básica entre eles
reside na forma de apresentação dos recursos provenientes das operações. Enquanto o Método
Direto apresenta as informações de forma detalhada do comportamento do caixa; a
apresentação do Método Indireto se dá com base nas peças contábeis, ou seja, as duas
demonstrações contábeis mais importantes, o Balanço Patrimonial e a Demonstração do
Resultado do Exercício. Segundo Iudícibus et al (2003), tanto a normatização do Financial
Accounting Standards Boards (FASB) quanto a do International Accounting Standards
Boards (IASB) recomendam a utilização do Método Direto. A utilização do Método Indireto
para a elaboração do fluxo de caixa das atividades operacionais é facultativa.
Sob o ponto de vista de Iudícibus e Marion (1999, p. 221), o fluxo de caixa das
atividades operacionais por esse método é caracterizado como Fluxo de Caixa no Sentido
Restrito, sendo chamado também como o “verdadeiro Fluxo de Caixa” por demonstrar
efetivamente todos os recebimentos e pagamentos que colaboraram com a variação do caixa
naquele período.
O poder informativo apresentado por esse modelo é importante tanto para os usuários
externos, como para os usuários internos na preparação do planejamento financeiro do
empreendimento. O parágrafo 19 do International Accounting Standard (IAS) nº 7 destaca
essa prerrogativa: “Este método proporciona informação que pode ser útil na estimativa de
fluxos de caixa futuros.”
48
Embora a sua elaboração exija maior esforço, pois deve ser feito todo um trabalho de
segregação das movimentações financeiras que necessita de controles específicos para esse
fim, Marques e Braga (2003) citam como vantagem principal do Fluxo de Caixa das
Atividades Operacionais pelo Método Direto sua relativa simplicidade.
Campos Filho (1999) admite como mais uma vantagem o direcionamento para
critérios técnicos e não fiscais para a classificação dos recebimentos e pagamentos. A
observância dos critérios fiscais visa ao pagamento reduzido de impostos. Ainda segundo o
autor, para o segmento da construção civil, as vantagens desse método são ainda maiores, pois
os números pelo regime de competência têm pouco significado para essa atividade.
O Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais realizado pelo Método Indireto faz
uma espécie de conciliação entre o lucro líquido e o fluxo de caixa gerado pelas operações e,
segundo Iudícibus et al (2003), é conhecido por Método de Reconciliação.
Essa conciliação envolve duas fases de ajustes do resultado contábil apurado conforme
o regime de competência. São eles:
49
a) Ajuste de valores indicativos de registro de fatos econômicos;
b) Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de giro.
Iudícibus et al (2003) menciona que, hoje no Brasil, estão em vigor dois documentos
conceituais sobre a Contabilidade que apresentam divergências insignificantes em termos de
conteúdo, sendo as de maior expressão aquelas de natureza formal, embora grande parte delas
sejam complementares. Os dois princípios se resumem no Princípio da Competência que, de
acordo com o artigo 9º da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 750
emitida em 1993, o outro documento doutrinário, diz: “As receitas e as despesas devem ser
incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente
quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento”.
50
disso é que no resultado de um período é possível contemplar despesas cujo fato gerador
refere-se àquele período, podendo o seu pagamento ter ocorrido no próprio período, situação
vislumbrada pelos usuários, em períodos anteriores ou em períodos posteriores,
caracterizando, assim, despesas antecipadas que figuram no Ativo Circulante ou provisão de
despesas a pagar, pertencentes ao Passivo Circulante, respectivamente. A mesma sistemática
ocorre com as receitas, ou seja, na apuração do resultado de um período é provável que haja
receitas cujo fato gerador refere-se àquele período, juntamente com seu recebimento. Receitas
com recebimento programado para períodos posteriores caracterizam-se como provisão de
receitas a receber alocada no Ativo Circulante e quando o recebimento já ocorreu em períodos
anteriores, serão demonstradas no grupo de Resultado de Exercícios Futuros do Passivo.
A Contabilidade, juntamente com seu objetivo, está inserida num cenário contábil,
com conceitos já estabelecidos pela sua Estrutura Conceitual Básica e tem como uma das
premissas a subordinação ao Regime de Competência. Paralelamente, o parágrafo 44 do
International Accounting Standard (IAS) nº 7 enfatiza que a exclusão das transações que não
sejam de caixa da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é consistente com o objetivo de
uma DFC, uma vez que esses elementos não envolvem fluxos de caixa no período corrente.
Diante disto, serão necessários ajustes ao resultado contábil que são aqueles que representam
apenas fatos econômicos e aqueles representativos de mudança de capital de giro.
Inicialmente, ajusta-se o montante das transações que tiveram a sua origem no registro
de um fato econômico, como seguem:
a) transações que não têm efeito caixa, que representam apenas um fato econômico
não havendo uma respectiva realização financeira, simulam alterações de patrimônio sem o
envolvimento de recursos financeiros;
b) transações que têm efeito financeiro, porém num período de longo prazo,
representam a apropriação de um item de resultado, receita ou despesa, cuja contrapartida foi
agregada em ativos ou passivos de longo prazo;
51
2.10.2.2. Ajuste de valores indicativos de mudança no capital de giro
Segundo Iudícibus e Marion (1999), esse processo de ajuste que indica mudança no
capital de giro ocorre de forma análoga à Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR), porém ao invés do foco ser o Capital Circulante Líquido (CCL); o centro
agora será o Caixa. Para se efetuarem esses ajustes, consideram-se como aplicações (saídas do
caixa) o aumento nas contas do Ativo Circulante e as diminuições no Passivo Circulante. Por
outro lado, as diminuições de Ativo Circulante e aumento nas contas do Passivo Circulante
correspondem às origens (entradas de caixa).
Matarazzo (2003) evidencia outra estrutura para uma Demonstração dos Fluxos de
Caixa, todavia com o título de Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa utilizada na análise
da gestão de caixa. Essa outra estrutura para a demonstração evidenciada no quadro seguinte
acrescenta novos conceitos que podem colaborar para um melhor entendimento do Fluxo de
Caixa das Atividades Operacionais elaborado pelo Método Indireto.
52
Essas características diferem apenas na segregação desses ajustes acompanhado de
distinção de nomenclaturas. Após os ajustes dos fatos econômicos pela razão de não
representarem desembolso financeiro, distingue-se a nomenclatura geração bruta de caixa.
Essa segregação dos ajustes assim como a nomenclatura resultante dessa segregação não
existe na Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo Método Indireto. Posteriormente,
após os ajustes de mudança do capital de giro, pelo fato de não representar movimentação
financeira no período corrente, embora estivesse apresentado nos grupos de curto prazo do
Balanço Patrimonial, acontece a nomenclatura geração operacional de caixa que na
Demonstração dos Fluxos de Caixa elaborada pelo Método Indireto é representada pelo saldo
do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais, ou seja, o resultado apurado após os ajustes.
Matarazzo (2003, p. 370), cada grupo de ajustes e a respectiva geração de caixa têm
seu objetivo. Na caracterização da Geração Bruta de Caixa
[...] o ajuste do lucro por despesas não desembolsáveis mostra o montante de caixa
gerado pelas atividades econômicas, ou seja, pelas atividades comerciais”. E na
caracterização da Geração Operacional de Caixa, “o confronto das variações dos
itens de Ativo Circulante Operacional e do Passivo Circulante Operacional resultam
na variação da NCG – Necessidade de Capital de Giro. Adicionando a variação da
NCG à Geração Bruta de Caixa chega-se a Geração Operacional de Caixa, cujo
significado é o caixa gerado pelas atividades comerciais acopladas aos
investimentos operacionais e fontes operacionais.
53
Quadro 3 – Demonstração do Fluxo Líquido de Caixa - Cia. Líquida
Para o Exercício Findo em 31-12-X6
Fonte: Matarazzo, Dante Carmine. Análise Financeira de Balanços. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.
372.
54
2.10.4. Fluxo de Caixa Operacional x CCL
O autor ainda cita a importância que Hopp e Paula Leite (1989) atribuem ao caixa
gerado pelas operações:
55
2.10.5. EBITDA
Essa associação do Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais pelo Método Indireto
ao EBITDA merece algumas considerações. Enquanto o Fluxo de Caixa gerado pelas
Atividades Operacionais elaborado pelo Método Indireto representa a efetiva geração de caixa
das atividades operacionais, o EBITDA pressupõe um potencial de geração de caixa,
proveniente do ativo operacional da empresa, antes ainda, de se considerar o custo de
qualquer capital tomado emprestado, motivo pelo qual, segundo Vasconcelos (2002, p. 41),
esse poderoso indicador de atuação financeira é utilizada como aferidor de desempenho na
geração de recursos próprios decorrentes da atividade-fim do negócio, além de possibilitar sua
evidência em relação ao Lucro Líquido na visualização do desempenho operacional do
negócio.
56
O ponto de partida para a apuração do EBITDA é a Demonstração de Resultado do
Exercício (DRE), demonstração contábil gerada pela aplicação do Regime de Competência,
onde há a possibilidade de parte da receita registrada não representar ingresso imediato de
recursos, somente as vendas à vista, da mesma maneira que parte das despesas incorridas
representa uma pendência de pagamento, aquelas constantes do Passivo Circulante, porém na
sistemática do raciocínio do EBITDA essas pendências, tanto de pagamento como de
recebimento são desprezadas, ou seja, desconsideram-se as diferenças temporárias, tanto que
para Hoji (2004, p. 1), o conceito de EBITDA vale para o prazo “não imediato”, pois todas as
transações refletidas na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) são consideradas
como se tivessem ocorrido no “regime de caixa”, ou seja, as vendas brutas de produtos e
serviços são assumidas como se tivessem sido integralmente recebidas, independentemente de
terem sido realizadas à vista ou a prazo, da mesma forma, os custos dos produtos vendidos e
dos serviços prestados, bem como as despesas operacionais, são consideradas como se
tivessem sido pagas à vista.
Assaf Neto (2000) reforça essa idéia ao citar que a medida financeira EBITDA não
demonstra o volume monetário efetivo de caixa, sendo mais bem interpretada como um
indicador do potencial de geração de caixa proveniente dos ativos operacionais, sem a
influência das políticas adotadas para as questões tributárias e dos métodos de depreciação
que são empregados ou permitidos. Fica em evidência sua eficiência financeira determinada
pelas estratégias operacionais adotadas.
57
Capítulo III
58
a) lucro do exercício, acrescido de depreciação, amortização ou exaustão e ajustado
pela variação nos resultados de exercícios futuros;
b) realização do capital social e contribuições para reservas de capital;
c) recursos de terceiros, originários do aumento do passivo exigível em longo prazo,
da redução do ativo realizável em longo prazo e da alienação de investimentos e
direitos do ativo imobilizado;
59
Líquido, grupos que geram as fontes de recursos de longo prazo, e o Ativo não Circulante,
composto pelo Ativo Realizável em Longo Prazo e Ativo Permanente, grupos caracterizados
pelas aplicações de recursos de longo prazo.
60
Quadro 5 – CCL representando uma Insuficiência de Fontes de Recursos de Longo
prazo
Martins (1999) afirma a riqueza das informações apresentadas pela DOAR sob o
ponto de vista da efetiva utilidade e capacidade preditiva de seus dados. Tanto que Iudícibus
(1994) retrata tal característica ao apresentar como exemplo a DOAR de duas empresas
distintas com o mesmo resultado na variação do CCL, porém com conteúdos diferentes, na
tentativa de evidenciar sua utilidade como demonstrativo de caráter financeiro, além de sua
capacidade preditiva ao vislumbrar fatos após a leitura da DOAR.
61
Quadro 7 - Demonstração de Origens e Aplicações de CCL da Cia. Y
Origens
Das Operações........................................................................... 1.000,00 11%
Empréstimos.............................................................................. 8.000,00 89%
9.000,00 100%
Aplicações
Imobilizações............................................................................. 2.000,00 25%
Distribuição de Lucros............................................................... 6.000,00 75%
(8.000,00) 100%
Aumento do CCL........................................................... 1.000,00
Adaptado de IUDÍCIBUS, Sérgio (Coord.). Contabilidade Introdutória. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1994. p. 229.
62
esse percentual equivale a 11% das origens e, inversamente, a obtenção de empréstimos de
longo prazo na Cia. X representa 17% das origens contra 89% no Cia. Y. A Cia X apresenta
dois pontos positivos quanto às suas origens. O fato de o lucro do exercício ser a grande fonte
de recursos pressupõe que a empresa está atingindo seu objetivo que é o de gerar lucro com a
operacionalidade de suas atividades e, por conseguinte, uma parcela mínima das origens será
gerada por capital de terceiros, caracterizando sua independência financeira. A situação da
Cia. Y retrata uma situação inversa, ou seja, a atividade operacional não está gerando recursos
suficientes para o funcionamento da empresa, tornando-se necessária a captação de recursos
com terceiros, comprometendo sua liberdade financeira. Observando as operações que
retratam as aplicações de recursos e seus percentuais de representatividade, novamente a Cia.
X apresenta uma situação promissora enquanto a Cia Y demonstra uma situação desfavorável.
As imobilizações na Cia X são da ordem de 60% das aplicações de recursos contra 25% da
Cia Y. Esta situação mostra a política de investimentos da empresa, que a Cia X adotou uma
postura de aumentar seu ativo fixo, almejando melhores condições para sua atividade
operacional; enquanto na Cia Y a situação visualizada é menos empresarial. O ponto crítico
na Cia Y é o percentual que representa a distribuição de dividendos no contexto operacional,
75% das aplicações foram direcionadas a essa transação que, dentro de um curto período de
tempo, consumirá recursos financeiros, ao passo que na Cia X, esse desembolso representa
40% das aplicações. É nítida a postura empresarial adotada por cada uma das duas
companhias com relação às aplicações de recursos. A Cia X preza por uma política de
investimentos visando a uma melhor gestão da atividade empresarial acompanhada de uma
preocupação em não descapitalizar a empresa; postura contrária da Cia Y, onde se verifica um
desembolso representativo que não visa à atividade operacional da empresa contra um
descaso em não direcionar investimentos para o ativo fixo. Iudícibus (1994) ao analisar a
DOAR das duas companhias comenta que as possibilidades de obtenção de crédito junto a
uma instituição financeira são completamente diferentes. A Cia X está mais apta a conseguir
um financiamento, pois demanda uma política financeira relativa ao CCL mais sólida, uma
vez que pelas suas operações ela obteve um resultado de $ 5.000,00, desse valor, distribuiu $
2.000,00 aos sócios. Do saldo dessas duas operações, acrescentou, por meio de uma captação,
$ 1.000,00 de empréstimos, que juntos foram suficientes para imobilizar um montante de $
3.000,00 e aumentar o CCL em $ 1.000,00. O autor ainda complementa que a Cia Y evidencia
uma inadequação no uso dos seus recursos, pois o montante distribuído de dividendos no
valor de $ 6.000,00 é superior ao resultado gerado pela atividade operacional que é de $
1.000,00 e como alternativa para essa desigualdade de 500%, a companhia fez uma operação
63
de captação no valor de $ 8.000,00, montante 700% maior que o recurso advindo das suas
operações que, além de gerar um aumento do CCL em $ 1.000,00, igual à Cia X, efetuou
aplicações no ativo fixo no montante de $ 2.000,00. Vale ressaltar que, enquanto na Cia Y o
montante de captação foi superior em 700% do lucro do exercício; na Cia X, a captação foi
400% inferior ao lucro do exercício, fato primordial na análise para concessão de crédito de
uma empresa, pois se observa quanto o endividamento expressa dentro do montante das
origens de recursos gerado pelas operações, que é a principal fonte de origens de recursos,
além de sua representatividade, em termos de inferioridade ou superioridade, perante o lucro
do exercício. Essa visualização das posturas operacional e financeira adotadas pela empresa é
retratada por Iudícibus e Marion (1999, p. 210-211) quando são abordados os resultados
obtidos com a análise da DOAR:
O autor justifica que, talvez esse fato tenha colaborado com o movimento em proveito
da substituição da DOAR pela DFC na Brasil. Martins (1999) acrescenta que do ponto de
vista prático, tal substituição é favorável, pois haverá um ganho com a possibilidade muito
maior de utilização da DFC por um universo mais amplo de usuários.
64
Circulante Líquido (CCL) como uma informação financeira, porque o CCL mostra o excesso
ou a falta, do Ativo Circulante sobre o Passivo Circulante, dois grupos representativos,
respectivamente, da expectativa de transformação financeira de bens e direitos e da
obrigatoriedade de desembolso financeiro de obrigações com terceiros, ambos num período
de curto prazo. A composição estrutural desses dois grupos que compõem o CCL merece
alguns esclarecidos. Desse montante de bens e direitos, itens como impostos a recuperar ou
compensar e despesas pagas antecipadamente não terão uma transformação financeira, como
ocorrerá com duplicatas a receber, títulos a receber, aplicações financeiras, estoques, caso a
venda seja à vista.
65
Quadro 8 – Origens e Aplicações de Recursos de Empresa Comercial
66
Quadro 9 – Demonstração de Fluxos de Caixa
67
Fluxo de caixa operacional, método direto (valores em R$) 31.12.20X1
Atividade Operacional
Recebimentos de clientes...................................................... 14.000
Pagamentos a fornecedores................................................... (7.700)
Pagamentos salários e encargos............................................ (2.500)
Pagamentos de aluguéis........................................................ (650)
Recebimentos de juros........................................................... 34
Pagamentos de juros.............................................................. (375)
Caixa das Operações.......................... 2.809
Fonte: BRAGA, Roberto & MARQUES, José Augusto Veiga da Costa. Doar e DFC – Informações diferentes
para finalidades distintas. Boletim IOB, Caderno Temática Contábil e Balanços, n. 52, 2003. p. 8.
Ao analisarmos esse mesmo fluxo de caixa, porém montado pelo Método Direto, as
informações passadas mostram a efetiva entrada por conta de recebimento de clientes $
14.000 e de juros $ 34, ao passo que as efetivas saídas são representadas pelos pagamentos a
68
fornecedores, $ 7.700; de salários e encargos, $ 2.500; de aluguéis e de juros,
respectivamente, $ 650 e $ 375. Na composição das Origens de Recursos provenientes de
terceiros, todas as origens estão presentes na DFC, no Fluxo de Caixa gerado pelas Atividades
de Financiamentos, exceto, a transferência TVM para curto prazo que se caracteriza como
uma origem de recursos para o CCL e não para o caixa, pois traduz um lançamento contábil
sem efeito financeiro. As operações que representam essas origens são aumento de capital,
contribuições para reserva de capital e produto da emissão de debêntures; as duas últimas
constam na DFC, respectivamente, como ágio na emissão de ações e novas emissões de
debêntures. Nas aplicações de recursos, a primeira distinção que pode ser notada é a diferença
de valores e operações quando se trata dos dividendos. Enquanto na DOAR é informado o
montante a ser pago no próximo ano, como dividendos propostos no valor de $ 549; na DFC é
apresentado o montante pago no exercício passado, $ 700. Vale ressaltar aqui que, a
informação desejada é aquela relacionada à movimentação financeira, apresentada pela DFC e
não o assumido a ser pago no seguinte que será o montante a ser consumido pelo caixa, além
disso, essa obrigação já consta na posição do Passivo Circulante, cujo propósito é apresentar
as dívidas cujo vencimento se enquadra no próximo exercício. Outro item é uma aplicação
que consta como saída no Fluxo de Caixa das Atividades de Investimentos, caracterizada
como novas aplicações realizadas e na DOAR é mostrada como aplicação em títulos e valores
mobiliários LP. Finalizando, a aplicação transferência de debêntures para curto prazo refere-
se a um lançamento de caráter contábil não modificando a posição financeira líquida da
empresa, pois não envolve o caixa. A DFC analisada mostra entradas e saídas de caixa, não
retratadas pela DOAR, importantes na dinâmica financeira da empresa. No Fluxo de Caixa
gerado pelas Atividades de Financiamentos, são apresentados novos financiamentos
contratados, $ 200, e a baixa do principal de dívidas, $ 1.250; enquanto no Fluxo de Caixa das
Atividades de Investimentos mostra-se o recebimento do principal investido, $170; além de
indenizações recebidas, $ 50.
Embora o movimento de substituição da DOAR pela DFC, no Brasil, tenha seu início
em 1999, com o envio do Anteprojeto de Reformulação da Lei das Sociedades por Ações para
o Ministério da Fazenda, sendo encaminhado ao Congresso Nacional no ano seguinte na
forma do Projeto de Lei 3.741, mundialmente, esse movimento data da década de 70 quando
já estava em andamento um processo de extinção da DOAR, sustentado por pesquisas
69
científicas empíricas, dentre elas uma que concluía que indicadores de solvência baseados no
conceito restrito de fundos (caixa) são muito mais eficazes para prever falência de empresas
do que os mesmos indicadores tomados em relação ao conceito amplo de fundos (capital
circulante líquido). (LUSTOSA, 1997).
70
União Européia - Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,
Grécia, Holanda, Itália, Portugal, Suécia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Lituânia,
Letônia, Eslováquia, Estônia, Eslovênia, Chipre, Malta e, recentemente, a Bulgária e a
Romênia - adotam as Normas de Contabilidade de Padrão Internacional, as IAS-IFRS
(International Accounting Standards-International Financial Reporting Standards), emitidas
pelo IASB (International Accounting Standards Board), e dentre elas está o IAS nº 7 Cash
Flow Statemets, emitido em 1992. No Brasil, autores renomados também defendem a
substituição da DOAR pela DFC. Martins (1999) reconhece a existência de um movimento
mundial pela substituição da DOAR, semelhante a que temos no Brasil com base na variação
do Capital Circulante Líquido (CCL), pela DFC e, justifica ainda a substituição, pelo fato da
DOAR apresentar um conceito abstrato de folga financeira, provocando dificuldades na maior
parte dos usuários da informação contábil.
71
Afonso (1999: p. 8) cita ainda outras vantagens da DOAR:
“I – fornece informações que não constam em outras demonstrações. Por esse motivo,
quando elaborada por um usuário externo, a partir das informações do balanço e da
demonstração do resultado, não é tão completa e informativa;
II – possibilita um melhor conhecimento da política de investimento e de
financiamento da empresa;
III – segundo alguns autores, tem poder preditivo;
IV – possui uma capacidade analítica de longo prazo maior que o fluxo de caixa;
V – permite uma melhor integração entre o lucro contábil e a posição financeira da
empresa.”
72
3.7. DFC – Vantagens e Desvantagens
73
empresa, caracterizada como outra vantagem da DFC, pois proporciona informações
geradoras de caixa e consumidoras de caixa de cada uma das três atividades da empresa,
operacional, de investimentos e de financiamentos.
74
Considerações Finais
75
vantagens apresentadas pela DOAR de indicar uma visão de longo prazo, de visualizar as
origens e aplicações de recursos, tanto de curto como de longo prazos, interagindo entre si, de
identificar as formas de financiamento da empresa e as posturas assumidas pela companhia
dentro da gestão empresarial foram ignoradas pelo usuário pela dificuldade na leitura e
interpretação da demonstração, ocasionando o seu não entendimento.
76
situação não acontece com a DFC, que apresenta em seu conteúdo o mesmo conceito de sua
conotação como demonstração de caráter financeiro, a movimentação de efetiva entrada e
saída de caixa, ou seja, dinheiro, atendendo assim às necessidades dos usuários da informação
contábil, além da facilidade de seu entendimento pelo fato de mostrar no conteúdo os aspectos
de conotação financeira.
Todos esses esforços vêm contribuindo para a convergência das normas contábeis
brasileiras às normas internacionais de contabilidade, porém o acontecimento de maior
importância nessa trajetória foi a aprovação do Anteprojeto da Lei das Sociedades por Ações,
Lei 6.404/76, pela edição da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que contém alterações de
ordem contábil, sendo uma delas a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), alteração já realizada
internacionalmente. Por tudo isso, entendemos que novas pesquisas sobre o assunto devam ser
feitas com o propósito de esclarecer pontos que causam conflitos de entendimentos e
interpretações, uma vez que se trata de uma nova demonstração contábil no contexto
brasileiro.
77
Referências Bibliográficas
AFONSO, Roberto Alexandre Elias. DOAR versus Fluxo de Caixa. Boletim IOB, Caderno
Temática Contábil e Balanços, n. 18, 1999.
BRAGA, Roberto & MARQUES, José Augusto Veiga da Costa. Doar e DFC – Informações
diferentes para finalidades. Boletim IOB, Caderno Temática Contábil e Balanços, n. 52,
2003.
BRASIL. Lei n°. 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil. 1976.
78
BRASIL. Lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no
6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às
sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações
financeiras. 2007.
79
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC 1.055 de 7 de outubro de
2005. Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e dá outras providências. Brasília.
2005.
COSTA, Ana Paula Paulino da; SANTOS, Ariovaldo dos. Demonstração dos Fluxos de
Caixa: uma reflexão sobre a prática adotada no Reino Unido. Revista do Conselho Regional
de Contabilidade de São Paulo. n. 6, p. 24-29, nov. 1998.
HAUSSMANN, Darclê Costa Silva; CUNHA, Paulo Roberto da & CASTRO NETO, José
Luís. Os modelos teóricos da comunicação contextualizados na harmonização contábil
internacional. In: Anais do 9º. Congresso de Contabilidade. Gramado, 2003.
IASB - International Accounting Standards Board. IAS 7 – Cash Flow Statements. dezembro,
1992.
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Rubens. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações:
aplicável às demais sociedades. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
80
IUDÍCIBUS, Sérgio (coord.). Contabilidade Introdutória. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1994.
LEITE, Joubert da Silva Jerônimo & BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Processo de
evidenciação de informações para o mercado de capitais internacional – um estudo
comparativo das demonstrações financeiras de acordo com as normas contábeis brasileiras e
internacionais. In: Congresso Brasileiro de Contabilidade, 17., 2004, Santos/SP, Anais do
17º. Congresso Brasileiro de Contabilidade, 2004.
LIMA, Venício A. de. Mídia: teoria e política. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001
LUSTOSA, Paulo Roberto Barbosa. DOAR – Uma morte anunciada. Caderno de Estudos
FIPECAFI. São Paulo, n. 16, p.1-18, jul/dez. 1997.
MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MARQUES, José Augusto da Costa; BRAGA, Roberto. Demonstração dos Fluxos de Caixa:
uma contribuição à alteração da legislação societária. Revista do Conselho Regional de
Contabilidade de São Paulo. n. 24, p. 26-40, set. 2003.
81
Normas e Procedimentos de Contabilidade do IBRACON – NPC 20 - Demonstração dos
Fluxos de Caixa (DFC). Texto revisado e atualizado em 1999. Boletim IOB, Caderno
Temática Contábil e Balanços, São Paulo, n. 1, 2000.
ROSA, Paulo Moreira da. A Contabilidade no Mercosul. São Paulo: Atlas, 1999.
SANTOS, João José dos. IFRS: Manual de Contabilidade Internacional. São Paulo: Lex,
2006.
SOARES, Rute Cristina Meurer. Estudo das diferenças culturais como empecilho à
harmonização contábil: casos do Brasil, EUA e Japão. 2005. Dissertação (Mestrado em
Ciências Contábeis) - Universidade Regional de Blumenau. Santa Catarina, 2005.
Sites Consultados
82