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IGREJA PRESBITERIANA DO PARQUE


SÃO DOMINGOS

EVANGELIZAÇÃO PESSOAL
Uma perspectiva reformada

“O evangelho deve ser pregado com temor, humildade e tremor. Ele


não apela para a sabedoria do homem...ele não invoca sentimentos
pessoais...ou uma adaptação enganosa para o gosto do dia...Mas sim,
invoca fidelidade absoluta às Escrituras; ele invoca o poder do
Espírito Santo e Sua manifestação, de forma que a fé possa ser
fundada sobre o único poder verdadeiro- o poder de Deus”
Pierre Marcel

SÃO PAULO
2019
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O QUE É EVANGELIZAÇÃO?
Texto Básico: Atos 1.8

INTRODUÇÃO

Evangelizar é uma de nossas responsabilidades como igreja e como cristão


individual. Nenhuma outra instituição recebeu tão grande privilégio. Deveria ser
uma preocupação de todo cristão bem como a marca de uma igreja consagrada
a Deus e desejosa em alcançar os perdidos. Tanto é assim que já se
convencionou dizer que "Quem não evangeliza precisa ser evangelizado!".

Está absolutamente clara a ordem de Jesus aos seus discípulos para pregarem
o Evangelho (Mateus 28.19; Atos 1.8). Isso já seria motivo suficiente para nos
dedicar à evangelização, em obediência à vontade do nosso Salvador. É
impossível alguém ser um discípulo de Jesus sem jamais compartilhar essa
bênção com outros. Na aula de hoje vamos aprender o que é evangelização e
sermos motivados a aproveitar todas as oportunidades e todos os meios
legítimos para conduzir pessoas à fé em Cristo

I. O QUE NÃO É EVANGELIZAÇÃO?

O assunto evangelização ainda é complexo para alguns cristãos, que


pensam na evangelização como um trabalho realizado para “impor” suas
crenças a outras pessoas. Outros acham que a evangelização é uma tarefa a
ser desenvolvida apenas por “profissionais”, ou seja, por pessoas especialmente
chamadas para esse ministério. Mark Dever, chama nossa atenção para
algumas ideias erradas que algumas pessoas ainda alimentam sobre este
assunto e à luz da Escritura Sagrada nos ajuda a entender melhor essa nossa
responsabilidade.1

1) A evangelização não pode ser confundida com resultados.

Um erro muito comum é confundir evangelismo com os resultados


alcançados. Algumas pessoas ficam frustradas porque pregam a Palavra, mas
só porque não houve conversões, pensam que por isso a evangelização não
aconteceu. A evangelização não pode ser definida em termos de resultados, mas
somente em termos de fidelidade a mensagem anunciada. Evangelização é o
anúncio das boas novas, independentemente dos resultados. No Novo

1Cf. DEVER, Mark. Nove Marcas de Uma Igreja Saudável. São José dos Campos, SP: 2009. Editora
Fiel. pp. 127-158
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Testamento lemos que os discípulos saiam evangelizando, pregando o


evangelho (Atos 8.4,12, 25,40; 14.7; Rm 15.20). No entanto, em muitas destas
passagens não existe menção de que a mensagem era crida ou recebida pelos
ouvintes. Ou seja, não há registro de que houve conversões. O uso da palavra
“evangelizar” no Novo Testamento não significa ganhar convertidos, como
frequentemente se pensa.

Em Atos dos Apóstolos, encontramos ocasiões em que Paulo pregou o


evangelho e poucos se converteram. Por que isso ocorre? Paulo nos explica
em 2 Co. 2.15-16 porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão
sendo salvos e os que estão perecendo. Para estes somos cheiro de morte; para
aqueles, cheiro de vida. Observe que Paulo pregou o evangelho para todas as
pessoas, no entanto, para algumas o evangelho foi aroma de vida e para outras,
aroma de morte. A mesma mensagem produziu efeitos diferentes. Não devemos
concluir que o fato das pessoas rejeitarem o evangelho que significa que não
houve a evangelização. Evangelização não se define pelos resultados, mas
somente em termos de fidelidade a mensagem anunciada.

2) Evangelização não é proselitismo.

Segundo o que lemos na Escritura, evangelizar não é realmente uma questão


de impor a verdade. Não devemos tentar forçar ninguém a aceitar nossa fé. Não
podemos manipular ninguém a aceitar o evangelho. Isso seria proselitismo. A
evangelização verdadeira envolve a proclamação das boas novas com fidelidade
e exatidão. Não conseguimos transformar alguém em cristão. Nunca iremos
conseguir converter alguém. De acordo com a Bíblia, o fruto da evangelização é
obra de Deus. Como Paulo disse aos coríntios:

“Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e


isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou;
mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é
alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co
3.5-7; cf. 2 co 3.5-6).

3) Evangelização também não pode ser confundida com responsabilidade


social

Certamente os cristãos têm responsabilidades com os problemas sociais que


atingem a sociedade. João Calvino, embora tenha ficado conhecido pela sua
vasta produção teológica, nem por isso deixou de lado o aspecto social. No
entanto, nossa maior e principal responsabilidade é com a evangelização. A
evangelização tem relação com o destino eterno das pessoas; e, trazendo-lhes
boas novas de salvação, os cristãos estão fazendo uma obra que ninguém mais
pode fazer.
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A maior necessidade dos pobres é conhecer o Deus verdadeiro e se arrepender


de seus pecados para serem salvos. A maior necessidade do ser humano é a
graça salvadora de Jesus Cristo. Evangelizar não pode ser visto apenas com a
apresentação de Cristo como um amigo e ajudador, sem qualquer referência à
sua obra redentora. Se queremos uma evangelização eficaz e sadia, teremos
que pregar a mensagem certa. (I Cor 15:3-4).

Devemos ter em mente também que muitos dos problemas sociais que a
sociedade enfrenta são frequentemente apenas sintomas de um rompimento do
seu relacionamento com Deus. Muitas pessoas veem seus problemas materiais
resolvidos quando se convertem à fé cristã.

4) Evangelização não deve ser confundida com uma defesa da fé.

Frequentemente as pessoas pensam que defender a fé respondendo às


objeções dos céticos é evangelismo. A apologética pode certamente, e
frequentemente, levar ao evangelismo. Mas a menos que Jesus seja
apresentado como a única provisão de Deus para o pecado do homem e o
arrependimento e a fé sejam apresentados como o único caminho de obter o
perdão diante de Deus, o exercício permanece meramente acadêmico e
cognitivo. (I Co 2.1-5)

5) Evangelização também não deve ser confundida com o testemunho


pessoal.

Embora seja muito importante dar um testemunho pessoal do que Cristo


tem feito em nossa vida, não devemos pensar que as pessoas vão crer no
evangelho só porque falamos de alguns benefícios dele em nossa vida após a
nossa conversão. Isso não é evangelismo, e levará a uma resposta do tipo: “bom
para você!”. Nosso testemunho pessoal ainda é muito subjetivo. Os
testemunhos pessoais devem comunicar a reivindicação do evangelho sobre as
vidas dos ouvintes se desejamos que o evangelho venha ser anunciado através
do testemunho. (I Co 3.1-9)

II. O QUE É EVANGELIZAÇÃO?

Agora estamos em condição de dar uma definição do que seja evangelização.


Dito de maneira simples e descomplicada, evangelizar é contar a outros as boas
novas acerca do que Jesus Cristo fez para salvar pecadores. (I Co 2.1-2; II Co
5:18-20). A palavra “evangelismo” é derivada da palavra grega euaggelion, que
significa “boa nova”. Ao acrescentar o sufixo, “ismo” (de origem grega) ou “ação”
(de origem latina) surgem as palavras evangelismo e evangelização que
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traduzem igualmente a palavra grega euangelízo. Portanto, evangelismo ou


evangelização se refere ao anúncio do evangelho, isto é, das boas novas que
Cristo morreu para nos dar a vida eterna.2
Evangelismo é nada mais nada menos que a pregação do evangelho. É o
evangelho em ação. No Congresso Mundial de Evangelização, que aconteceu
em Lausanne em 1974 o teólogo John Stott disse: “Evangelizar não significa
ganhar convertidos, significa apenas anunciar as boas novas
independentemente dos resultados...” Nesse mesmo congresso, evangelização
ficou definida como:

“Evangelizar é propagar as boas novas de que Jesus Cristo morreu por


nossos pecados e foi ressuscitado dentre os mortos, segundo as
Escrituras; e, como o Senhor que reina, Ele oferece agora o perdão dos
pecados e o dom libertador do Espirito a todos que se arrependem e
creem”. (Pacto de Lausanne)

Evangelizar é uma mensagem, a mensagem de proclamar a pessoa de Jesus


como o Salvador, como aquele que “veio ao mundo para salvar os pecadores” (I
Tm 1.15), e que “nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio
maldição em nosso lugar” (Gl 3.13).

Em diferentes categorias, podemos evangelizar por meio de palavras


pronunciadas (seja para indivíduos, grupos ou multidões), por meio de
impressos, desenhos ou filmes, através das redes sociais ou por meio das boas
obras de amor (Mt 5.16). Podemos evangelizar também por meio de um lar que
exala e testemunha da vida de Cristo, por meio de uma vida transformada pelo
evangelho de Jesus.

O apóstolo Paulo disse que os discípulos de Jesus deveriam resplandecer


“como luzeiros no mundo” (Fp 2.15). Ou seja: cada discípulo de Jesus deveria
refletir a luz de Jesus no mundo onde vive, iluminando-o e influenciando-o com
o seu comportamento as pessoas ao seu redor. Podemos testemunhar de Cristo
em nossos lares, diante de nossos filhos e cônjuge; na universidade e nas
escolas onde estudamos; em nosso ambiente de trabalho, perante colegas,
empregados e chefes; quando no lazer ou se divertindo. Seja onde estivermos
ou o que estivermos fazendo, fomos colocados ali pelo Senhor para
testemunharmos dele e espalharmos sua glória.

2BARRS, Jerram. A essência da evangelização. Editora Cultura Cristã. São Paulo. 2004. Página 95.
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III. QUEM DEVE EVANGELIZAR?

Paulo escreveu aos cristãos de Roma: “Sou devedor tanto a gregos como a
bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou
pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma” (Rm 1.14-15).
Será que essas palavras se aplicam somente ao apóstolo Paulo? Ou se aplicam
também a nós?

A evangelização não é uma tarefa restrita aos líderes da igreja, pastores ou


especialistas treinados para isso. Cada cristão em particular, por ser parte da
Igreja de Deus, tem a responsabilidade de se envolver no chamado missionário
que Deus deu à Igreja.

O Novo Testamento declara que todos os cristãos devem evangelizar. Lemos


em Atos 8.4 o exemplo dos primeiros cristãos: “Entrementes, os que foram
dispersos iam por toda parte pregando a palavra” (At 8.4). E Atos 11.19-21 nos
conta que todos os discípulos evangelizavam à medida que se espalhavam para
além de Jerusalém. Pedro fez a seguinte admoestação: “sempre preparados
para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”
(1Pe 3.15). Pedro escreveu estas palavras não somente para os seus líderes,
mas para toda a igreja.

A ordem de Cristo é muito clara. “Recebereis poder, ao descer sobre vós o


Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda
a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (Atos 1.8). A ordem de Cristo de ir
e fazer discípulos em todas as nações parece ter sido dada a todos os seus
discípulos, não apenas aos doze primeiros (Mt. 28:18-20). O evangelismo na
igreja primitiva não foi deixado aos apóstolos ou “super-cristãos”. Todo mundo
fazia evangelismo, e havia uma ânsia em seus corações por isso.

Conclusão: Na lição de hoje aprendemos: 1) o que não é evangelização. 2) O


que devemos entender por evangelização e 3) De quem é a responsabilidade
pela evangelização. Na próxima lição veremos qual é o conteúdo da mensagem
evangelística.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO PESSOAL

1) Na sua opinião, o que falta para a sua igreja ser uma igreja evangelizadora?
2) Você tem falado do Evangelho aos seus amigos, vizinhos e conhecidos?
Justifique sua resposta.
3) Em que a lição de hoje pode ajudar você a se tornar uma pessoa mais
eficaz na sua prática evangelizadora?
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O CONTEÚDO DA MENSAGEM
EVANGELÍSTICA
Texto Básico: Romanos 1.16

Introdução:

Vimos na aula anterior que evangelizar é pregar o Evangelho. Esse convite deve
ser feito a todas as pessoas. Mas o que devemos pregar? Qual o conteúdo desse
evangelho a ser apresentado? Na sua carta aos Romanos 1.16, Paulo
afirma: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para
a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”. Esse
evangelho poderoso levanta o caído, restaura o pecador e dá nova vida àquele
que está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1-2).

Mas qual o conteúdo dessa mensagem poderosa e transformadora? Que


aspectos do Evangelho não posso deixar de fora numa conversa evangelística?
Na aula de hoje vamos estudar cinco aspectos importantes do evangelho que
precisamos apresentar às pessoas quando estamos evangelizando.

1) O evangelho é uma mensagem sobre o caráter santo de Deus.

As Escrituras nos ensinam que Deus é o Senhor Criador e Soberano do universo


(Êx 20:11, At 4:24). E Deus na qualidade de Legislador e Juiz (Tg 4:12),
estabeleceu as leis morais pelo qual todos os homens devem viver. As pessoas
precisam saber que Deus é igualmente santo e justo e que responsabiliza os
homens pela sua obediência e desobediência a estas leis.

A Escritura ensina que Deus é amoroso e misericordioso (I João 4.8). Mas


também ensina que ele é santo e justo e por isso mesmo não pode deixar de
punir o pecador. (Êx 34.7; Hb 1.13; Ez 18.4). Ele é um Deus de amor, mas seu
amor nunca abre mão da sua justiça.

Quando evangelizamos precisamos deixar claro que, se os juízes humanos têm


obrigação de julgar e condenar o culpado, Deus que é Santo, tem ainda mais o
direito de punir os culpados que desobedecem suas leis. (At 17. 31; Rm 2.5; Ap
6. 12.17).

Por sermos pecadores, todos nós temos uma grande dívida espiritual com Deus
(Cl 2.13,14) e essa dívida será cobrada. Haveremos de prestar contas de todos
os nossos atos perante o justo Juiz (Mt 12.36; Ap 20.11-12).
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2) O evangelho é uma mensagem sobre a gravidade do pecado.

"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Romanos 3:23). Na prática


evangelística precisamos mostrar às pessoas como elas estão aquém dos
padrões estabelecidos por Deus. Os homens quebraram as leis de Deus e por
isso se tornaram culpados (Rm 5:8; I Tm 1:15).

É impossível pregar as Boas Novas de salvação sem falar da gravidade dos


nossos pecados. Por isso os apóstolos sempre apresentavam o pecado dos seus
ouvintes: “vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At
2.23); “matastes o Autor da vida” (At 3.15); “Homens de dura cerviz e
incircuncisos de coração” (At 7.51). A consequência desse pecado é a morte
física, espiritual e eterna: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

O pecado não é problema de um indivíduo apenas, mas de todos os seres


humanos (Rm 5.12-19; 3.10-18). Falar contra o pecado não é uma mensagem
agradável para a sociedade moderna. Mas é preciso falar. Isso porque a recusa
do ser humano em admitir sua condição de pecador impede que ele se veja como
realmente e assim trate do verdadeiro problema de sua alma. Só deseja o
remédio quem sabe que está realmente doente. Na próxima aula vamos estudar
sobre “a necessidade desesperadora do homem”, quando então esse ponto
ficará bem mais claro.

3) O evangelho é uma mensagem clara de quem é Jesus Cristo. (I Co 2.1-2)

Temos que ter em mente que evangelizar não é apenas apresentar a Cristo
como um amigo, como alguém que está sempre pronto a ajudar, sem qualquer
referência à sua pessoa e sua obra redentora. Se queremos uma evangelização
eficaz e sadia, teremos que pregar a mensagem certa. (I Co 15:3-4). Jesus é a
solução, o remédio para o pecado do homem. É preciso pregar quem é Jesus e
o que Ele fez.

3.1. Quem é Jesus? Jesus é o Filho de Deus (At 9.19) e o próprio Deus
(Jo 1.1; Fp 2.5), foi concebido por obra do Espírito Santo assumindo uma
natureza humana (Jo 1.14) e nasceu da virgem Maria. Viveu uma vida sem
pecado (Hb 7.26), pregando, ensinando e realizando muitos milagres.

3.2. O que Jesus fez? Ao final de Sua vida Ele foi crucificado e levou
sobre Si os nossos pecados (1Pe 2.24; Isaías 53:6 e Colossenses 2:14),
morrendo a morte que nós merecíamos (Hb 2.9, 14-15). O apóstolo Paulo nos
diz que, quando Cristo foi crucificado, ele removeu o escrito de dívida que era
contra nós (Cl 2. 14-15).
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Os apóstolos sempre deixaram claro que só Jesus Cristo salva do pecado e da


morte: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos” (At 4.12). Isso eles tinham aprendido do próprio Jesus, que disse: “Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo
14.6). Assim, eles apresentavam Cristo como o salvador suficiente para nos
perdoar de todos os nossos pecados e nos livrar da ira vindoura. Muitas pessoas
sabem que Jesus morreu na cruz. Poucas sabem e compreendem o significado
da sua morte.

4) O evangelho é uma mensagem que exige fé e arrependimento.

Você provavelmente já ouviu alguém dizer o seguinte: “Não importa no que você
crê, desde que seja sincero”. Nada mais longe da verdade. Não é isso que a
Bíblia ensina. É claro que importa no que você crê. A salvação não acontece
simplesmente por meio da sinceridade. Podemos ser sinceros, mas ao mesmo
tempo errados.

O apóstolo Paulo, falando dos seus compatriotas judeus, admitia que que eles
eram honestos e sinceros. Em Romanos 10:2, ele afirmou: "Porque lhes dou
testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. O
problema dos judeus não era que lhes faltava sinceridade. De acordo com Paulo,
eles eram sinceros e zelosos em sua religiosidade, mas estavam errados, pois
tinham zelo sem entendimento. Ainda hoje é assim. Um homem pode ser
sincero, mas ele pode estar errado sobre sua salvação.

Não basta ser sincero. É preciso crer de maneira certa. Quando os ouvintes de
Jesus lhe perguntaram, o que é que eles deveriam fazer para “realizar as obras
de Deus”, nosso Senhor lhes respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais
naquele que por ele foi enviado” (Jo 6:29). Em 1 João 3.23, lemos: “ Ora, o seu
mandamento é este: que creiais em o nome de seu Filho, Jesus Cristo… ” Lemos
ainda em Atos 10.43: “ Por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe
remissão dos pecados” e em João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”.

Mas o que é fé? É necessário dizer que a fé não é um mero sentimento otimista.
A fé é mais do que apenas acreditar; ela é essencialmente confiar e descansar
nas promessas que Cristo ofereceu gratuitamente aos pecadores.
Semelhantemente, o arrependimento significa mais do que simplesmente
entristecer-se pelo passado. Arrependimento representa uma mudança de
opinião e de atitude, representa uma vida nova que nega a si mesmo e se volta
para Jesus, reconhecendo-o como Senhor e Salvador. A mera crença sem
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confiança e o mero remorso sem verdadeiro arrependimento, não salvam


ninguém. “Até os demônios creem e tremem. ” (Tg 2.19).

Os apóstolos ao pregarem faziam um apelo ao arrependimento e à fé em


Cristo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos
pecados” (At 3.19). Esse arrependimento contempla três aspectos importantes:

a) Aspecto intelectual (Mt 12:41; Lc 11:32; 15:7,10). Ou seja, o


arrependimento começa com um reconhecimento do pecado, da
santidade de Deus (Isaías 6.5), e a compreensão de que nossos
pecados são uma afronta a Deus.

b) Aspecto emocional (Mt 21.29-32 ; 26.7-10). O arrependimento


envolve tristeza. A tristeza em si e por si mesma não é arrependimento,
pois uma pessoa pode entristecer-se ou envergonhar-se e ainda assim
não estar arrependida. Veja os exemplos de Judas (Mt 27.3) e do
jovem rico (Mt 19.22).

c) Aspecto volitivo (Mt 13.15; Lc 17.4; 22.32) O arrependimento inclui


mudança de direção, transformação da vontade. A mudança de
comportamento não é em si mesmo arrependimento, mas é o seu fruto
inevitável.

5) O evangelho é uma mensagem da graça

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de
Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9).

A Escritura ensina que a salvação é pela graça. Mas os homens têm tido
dificuldade em entender o que isso significa. A maioria das pessoas continua
pensando que precisa conquistar a salvação. A salvação não pode ser
conquistada pelas boas obras ou por tentar cumprir a lei, isso porque esse não
é o caminho proposto por Deus, até porque, ninguém jamais conseguiria cumprir
plenamente a lei (Rm 3.10; Tg 2.10). Ela é um presente de Deus e por isso quem
não for salvo pela graça, não será salvo de maneira alguma. A salvação não é
uma questão de merecimento. É dádiva de Deus e não conquista humana. Em
nossa tarefa evangelística precisamos deixar claro para nossos ouvintes que a
salvação é um ato sobrenatural de Deus, motivado pelo seu amor e pela sua
misericórdia, fruto de sua graça e de sua bondade.

Quando o carcereiro, consciente de seus pecados, atirou-se aos pés de Paulo e


Silas suplicando como poderia ser salvo, eles lhe responderam: “Crê no Senhor
Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.29-31). Nada mais é exigido dele. E
em Efésios 2.8, Paulo faz uma declaração maravilhosa sobre como uma pessoa
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pode ser salva. Diz ele: “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não
vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8).

Conclusão:

Biblicamente falando, evangelismo é apresentar as boas novas confiando em


Deus para converter as pessoas. Estas boas novas precisam expor pelo menos
5 aspectos: O caráter santo de Deus, a gravidade do pecado, a necessidade da
fé e do arrependimento, quem é Jesus e o que ele fez, e por último, a graça
salvadora.

Questões para reflexão pessoal

1. Converse com as demais pessoas da sua classe em como o estudo de


hoje, de maneira prática, pode lhes ajudar a compartilhar o evangelho com
outras pessoas.

2. Como apresentar o evangelho que fala da vida eterna no céu para o


homem moderno que está preocupado só com a vida na terra?

3. Aproveite para fazer um esboço desses cinco pontos e coloque dentro da


sua Bíblia. Quem sabe numa próxima oportunidade você poderá fazer uso
dele para evangelizar alguém.
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Pressupostos da Evangelização
Reformada
_______________________________

Creio que podemos tomar como base os “Cinco Pontos do Calvinismo”,


para fundamentarmos os sete pressupostos da evangelização, dentro da
perspectiva reformada. Mas, antes, é preciso dar uma definição do que
podemos entender por pressupostos. Para tanto, faço uso do conceito visto em
Francis Schaffer, que segundo ele,

Todas as pessoas têm seus pressupostos, e elas vão viver


de modo mais coerente possível com estes pressupostos,
mais até do que elas mesmas possam se dar conta. Por
pressupostos entendemos a estrutura básica de como a
pessoa encara a vida, a sua cosmovisão básica, o filtro
através do qual ela enxerga o mundo. Os pressupostos
apóiam-se naquilo que a pessoa considera verdade acerca
do que existe. Os pressupostos das pessoas funcionam
como um filtro, pelo qual passa tudo o que elas lançam ao
mundo exterior. Os seus pressupostos fornecem ainda a
base para seus valores e, em conseqüência disto, a base
para suas decisões.3

1. A Universalidade do Pecado.

Segundo a Escritura Sagrada, todos os homens são pecadores. O


apóstolo Paulo disse que: “Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda,
não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis;
não há quem faça o bem, não há nem sequer um”. (Rm 3.10-11).

Em razão disso, o homem, em seu estado natural, é incapaz de fazer


qualquer coisa ou desejar qualquer coisa que agrade a Deus. Ele é totalmente
incapaz de discernir a verdade. De fato, o homem natural considera ridículas as
coisas de Deus e não pode entendê-las (I Co 2.14).

D.M. Lloyd-Jones faz a seguinte declaração: “....é completamente


antiescriturístico favorecer qualquer tipo de evangelização que negligencie a
doutrina sobre o pecado”.4

2. A Graça Soberana de Deus

Calvino declara: “Mesmo os santos precisam sentir-se ameaçados por um


total colapso das forças humanas, a fim de aprenderem, de suas próprias
fraquezas, a depender inteira e unicamente de Deus”.

3SCHAEFFER, Francis A., Como Viveremos?. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 11
4D.M. Lloyd-Jones, Santificados Mediante a Verdade, São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas (Certeza Espiritual, Vol. 3), 2006, p. 115.
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Na prática ninguém evangeliza sem a convicção do soberano poder


transformador de Deus. Se não fosse assim, não teria sentido orar pedindo que
Deus aplique a Sua Palavra, que transforme aquele coração, que lhe dê
discernimento, etc.

“E ainda não eram gêmeos nascidos, nem tinham


praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus,
quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por
aquele que se chama)...está escrito: amei a Jacó, porém,
me aborreci de Esaú”. (Rm 9.11-13)

Na passagem acima, o Apóstolo Paulo declara que a base da eleição está


em Deus mesmo, ou seja, está na vontade e propósito de Deus, e não no ato de
fé ou de alguma condição (como diria Arminius) existente na criatura humana,
condição tanto para o bem como para o mal! A eleição é incondicional. O homem
nada pode fazer para merecê-la!

As Escrituras acentuam que Deus não elege pessoas para serem salvas
por causa de algum bem ou de alguma coisa eminente que veja nelas. Ao
contrário, Deus se apraz em usar o fraco, o vil e o inútil, de modo a assegurar
que somente Ele seja glorificado. É Deus quem escolhe o homem.(I Coríntios
1.26-29; João 15.16 )

Se a eleição dependesse do homem, ele nunca creria, porque o homem


é totalmente depravado e incapaz de fazer aquilo que é bom aos olhos de Deus.
Deixado a si mesmo para decidir-se por Cristo, sem que antes a fé seja
outorgada por um ato de Deus, o homem nunca irá a Cristo! ( João 5.40 )

J.I. Packer, ao falar da importância deste pressuposto na pregação


evangelística afirma:

(A) fé fervorosa na soberania absoluta de Deus (...) não


somente fortalece a evangelização, como sustenta o
evangelista, criando uma esperança de êxito que, de outro
modo, não poderia ser realidade; e igualmente nos ensina
a ligar a pregação à oração, tornando-nos ousados e
confiantes perante os homens, ao mesmo tempo em que
nos torna humildes e persistentes perante Deus. (Cf. Jo
15.5; 16.33; 1Co 15.57-58; Fp 4.13).5

3) A Obra Eficaz e Suficiente de Jesus.

Ninguém pode dizer, nem por um momento, que


pessoas como Davi, Abraão, Isaque e Jacó não foram
perdoadas. Mas não o foram por causa daqueles
sacrifícios que ofereceram. Eles foram perdoados porque
olhavam para Cristo. Não percebiam isso claramente, mas
criam no ensinamento e faziam essas ofertas pela fé.

5 J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 84-85. Veja-se, também, p. 66-67; 74-75;
R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 50-51.
14

Criam na Palavra de Deus, que Ele um dia no porvir,


proveria um sacrifício, e pela fé se mantiveram firmes
nisso. Foi a fé em Cristo que os salvou, exatamente como
é a fé em Cristo que salva agora.6

Muito daquilo que pensamos a respeito da morte expiatória de Cristo


estará condicionada por aquilo que entendemos significar a simples palavra
“mundo”. No evangelho de João esta palavra tem sentido especial. (Cf. João
1.10 )

a) Os arminianos, naturalmente, sustentam que a palavra “mundo”, nesse


texto, significa toda a humanidade, porque crêem na pós destinação (destino
determinado depois que Deus prevê a volição positiva, como obra do homem,
para vir a Cristo). Os Calvinistas, por outro lado, coerentemente, sustentam que
a palavra “mundo” designa “homens de toda a tribo e nação”, mas não todas as
tribos e nações, em sua totalidade. (João 3.16)

Para entender João 3.16 consideremos a questão: Por quem Cristo morreu?

 Quem é que não perecerá, mas terá a vida eterna? R. Todo aquele que
crer nele.
 Quem deverá a crer, segundo a Escritura? R. Todo aquele que o Pai
escolheu em Cristo, por sua livre e soberana vontade.
 Quem, então, está incluído na palavra “mundo”? R. Incluí homens de toda
a tribo e nação, mas não todas as tribos e nações, como um todo, uma
vez que nem todos confiarão em Cristo!

b) Cristo não morreu por todos os homens! A expiação é limitada! A


Redenção é particular! ( Isaías 53.11-12; Marcos 10.45)

Só a eleita noiva de Cristo (a igreja) é objeto do amor de Deus. (Efésios


5.25; 1.4-5). Em João 10 quando Jesus fala das suas “ovelhas”, é óbvio que ele
está se referindo aos eleitos que o Pai lhe deu por sua livre vontade.

Em outras palavras: quando Cristo deu a sua vida na cruz do Calvário,


deu-a por suas ovelhas, os eleitos do Pai. Não são todos os homens que estão
incluídos na expressão “minhas ovelhas”.( João 10.14-15)

Por que, pois, os Calvinistas crêem na expiação limitada? Pela simples e


boa razão calcada no fato de Cristo e seus santos Apóstolos crerem nela e a
ensinarem. (Mateus 1.21; Romanos 5.8).

4) A Operação Irresistível do Espírito Santo.

O único poder que realmente pode realizar esta obra é o Espírito Santo.
Quaisquer que sejam os dons naturais que um homem possua , o que quer que

6 D.M. Lloyd-Jones, A Cruz: A Justificação de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas


Selecionadas, (s.d.), p. 9-10.
15

um homem seja capaz de fazer como resultado das suas propensões naturais,
o trabalho de apresentar o evangelho e de levar àquele supremo objetivo de
glorificar a Deus na salvação dos homem, é um trabalho que só pode ser feito
pelo Espírito Santo. Vocês vêem isso no próprio Novo Testamento. Sem o
Espírito, é-nos dito, não podemos fazer nada. (Desde os tempos bíblicos até a
história da igreja nos mostra que somente através da obra do Espírito Santo é
que o evangelho foi pregado com poder e autoridade).7

Quando estamos evangelizando, devemos fazê-lo confiantes de que


Deus, pelo Espírito, aplicará os méritos de Cristo no coração do Seu povo. Sobre
isso Billy Graham observou:

O Espírito Santo é o grande comunicador do Evangelho,


usando como instrumento pessoas comuns como nós.
Mas é dele a obra. Assim, quando o Evangelho é fielmente
proclamado, o Espírito Santo é quem o envia como dardo
flamejante aos corações dos que foram preparados.8

Talvez devêssemos começar este assunto definindo a palavra grega


“charis”, que é consistentemente traduzida por “graça” no N.T. O significado
básico da palavra graça é “favor imerecido”. Graça é algo que Deus faz em favor
do homem, e que o homem não merece, seja qual for a razão ou motivo que
alegue. Desde que a fé “é um Dom de Deus” e não das obras, ela é um ato da
graça( favor imerecido) da parte de Deus para o homem. ( II Timóteo 1.9 )

a) Que é que os Calvinistas querem dizer quando falam em graça


irresistível?

A palavra “irresistível”, quando aplicada a respeito da graça de Deus, para


com os seus eleitos, significa que Deus, por sua própria livre vontade, dá vida
àqueles que escolhe. Desde de que o espírito humano é vivificado, que é
nascido de novo, , é dominado pelo Deus vivo, de maneira irresistível, e o espírito
humano morto no pecado é denominado pelo deus morto, Satanás, de maneira
também irresistível. (João 5.21; João 6.37; II Timóteo 2.26; Efésios 2.2)

b) O homem necessita que Deus o domine irresistivelmente por


sua graça, pois, do contrario, o homem não poderá dar jamais um passo na
direção de Cristo. (João 6.44 )
Exemplo significativo deste fato nos é dado por Lídia, a vendedora de púrpura:
“...o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia”. ( Atos
16.14 )

7Martyn Lloyd-Jones. Texto extraido do site:


http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003.

8 Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje,
São Paulo/Belo Horizonte, MG.: ABU/Visão Mundial, 1982, p. 30.
16

Quem abriu o coração dela para Jesus? Que ensina a Bíblia? Que o pecador
abre o coração a Jesus, ou que o Senhor que abre o coração?

A consciência de que os “resultados” da Evangelização dependem do


Deus soberano, traz como implicação a nossa ousada confiança em Deus, não
em nosso métodos.

J.I.Packer analisou esta questão, fazendo as seguintes aplicações:

Se esquecermos que a prerrogativa de Deus é produzir


resultados quando o evangelho é pregado, acabaremos
pensando que é nossa responsabilidade assegurá-los. E,
se nos esquecermos de que somente Deus pode infundir
fé, acabaremos pensando que a conversão, em última
análise, depende não de Deus, mas de nós, e que o fator
decisivo é a maneira como evangelizamos. E essa linha de
pensamento, coerentemente seguida, nos fará desviar em
muito.9

5) O Propósito de Deus em Salvar o Seu Povo (PERSEVERANÇA DOS


SANTOS)

Os Calvinistas ensinam que os santos, também conhecidos como eleitos,


nunca podem perder-se, uma vez que a salvação deles é assegurada pela
imutável vontade do Deus onipotente! ( Tiago 1.18; Filipenses 1.6; João 17.2 )

Que diz a Bíblia? Perder-se-ão alguns dos que o Pai deu ao Filho? Ou
não perderá nenhum dos que o Pai lhe deu? Se é evidente que a salvação é do
Senhor, é evidente também que, uma vez salvos pelo poder de Deus, estão
sempre salvos.( João 6.39; João 10.28 )

Quem é que preserva os crentes “imaculados” até que Ele venha? Quem
é fiel? Quem é que faz o maravilhosos trabalho de santificar e guardar os
crentes? (Judas 1; I Tes 5.23-24; Judas 24-25 )
Os santos perseverarão porque o Salvador que quer perseverar em favor deles,
e quer guardá-los.

A perseverança dos Santos depende da Graça irresistível que nos é


assegurada porque Cristo morreu por nós, uma vez que a expiação que temos,
pelo seu sangue, é limitada aos eleitos.

6) A Inspiração e autoridade da Escritura.:

Paulo afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 3.16,17).
Toda a Escritura, portanto, é o sopro de Deus; é a própria vida e Palavra de
Deus. Isto significa dizer que as Escrituras por serem divinamente inspiradas,
não contém erros; sendo absolutamente inerrantes, verídicas em todas as suas
afirmativas e portanto autoritativas quanto a todos os assuntos sobre os quais

9 J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 22.
17

faz seguras afirmações. Esta verdade permanece inabalável, não somente


quando a Bíblia trata da salvação, dos valores éticos e da moral, como também
está isenta de erro em tudo aquilo que ela trata, inclusive a história e o mundo
(cf. 2Pe 1.20,21; note também a atitude do salmista para com as Escrituras no
Sl 119).

Uma Igreja que não aceita a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá
ser uma igreja missionária:

• Como poderemos pregar a Palavra se não estivermos confiantes do


sentido exato do que está sendo dito?

• Como evangelizar se nós mesmos não temos certeza, se o que falamos


procede da Palavra de Deus ou, está embasado numa falácia?

Spurgeon falando sobre o valor da palavra, pondera o seguinte:

O verdadeiro ministro de Cristo sabe que o verdadeiro valor de um


sermão está, não em seu molde ou modo, mas na verdade que ele
contém. Nada pode compensar a ausência de ensino; toda retórica do
mundo é apenas o que a palha é para o trigo, em contraste com o
evangelho da nossa salvação. Por mais belo que seja o cesto do
semeador, é uma miserável zombaria, se estiver sem sementes.10

A Confissão de Fé de Westminster declara a autoridade da Escritura:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida


e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou
igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é
o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de
Deus. (Ref. II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.)11

O único e exclusivo meio pela qual o Espírito Santo opera é a


Palavra de Deus. Isso é algo que se pode provar facilmente.
Vejam o sermão que foi pregado por Pedro no dia de Pentecoste.
O que ele fez realmente foi expor as Escrituras. Ele não se
levantou para relatar as suas experiências pessoais. Ele deu a
conhecer as Escrituras; esse foi sempre o seu método. E esse é
também o método característico de Paulo, como se vê em Atos
17:2: "disputou com eles sobre as Escrituras". No trato com o
carcereiro de Filipos, vocês vêem que ele pregou-lhe Jesus Cristo
e a Palavra do Senhor. Vocês recordarão as suas palavras na
Primeira Epístola a Timóteo, onde ele diz que a vontade de Deus
;e que todos os homem sejam salvos e sejam levados ao
conhecimento da verdade (1 Tm.2:4). O meio usado pelo Espírito
Santo é a verdade.12

10C.H. Spurgeon, in: Lições aos Meus Alunos, São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 1982, Vol. II, p. 88
11 Confissão de Fé de Westminster, Cap. I, parágrafo IV
12 Martyn Lloyd-Jones. Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/
. Acesso em 12/11/2003
18

7) A Obediência ao Mandato de Jesus. "Ide por todo o mundo e pregai o


evangelho a toda criatura" (Mc. 16.15)

Está absolutamente clara a ordem de Jesus aos seus discípulos para que
sejam propagadores do Evangelho. Isso já seria motivo suficiente para um
discípulo de Cristo dedicar-se à evangelização, em obediência à vontade
soberana de Deus. Essa honrosa missão, porém, não deve ser realizada apenas
por ser uma obrigação, mas, principalmente, porque apresentar o Evangelho a
quem ainda não o conhece é um privilégio. Guardar, egoisticamente, a
mensagem de Jesus como um segredo é trair a sua essência, pois ela é para
todos. É impossível alguém ser um discípulo de Jesus sem jamais compartilhar
essa bênção com outros. No Reino de Deus não há agentes secretos.

Segundo a Bíblia, pertencer a Cristo é ter o seu Espírito, e ter o Espírito de Cristo
é guardá-lo para si é tão impossível quanto reter um rio. "Quem crer em mim,
como diz a escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse
com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem..."
(J.o. 7.38-39). Se a água viva não está fluindo do coração de um cristão é hora
de ele se perguntar se é realmente um discípulo de Cristo.

A conversão e a regeneração são obras realizadas pelo Espírito Santo na vida


dos pecadores. O instrumento utilizado por Deus para essa obra é a Sua Palavra,
e o dever de proclamá-la é exclusividade dos discípulos de Jesus. Devemos
aproveitar todas as oportunidades e todos os meios lícitos para conduzirmos
mais pessoas a Cristo.
19

A SOBERANIA DE DEUS NA EVANGELIZAÇÃO


Texto Básico: Mateus 28.18-20

Introdução

Jesus, após morrer e ressuscitar, dá suas últimas instruções aos discípulos.


O medo que dominou o coração dos discípulos ao verem seu Mestre ser
capturado, julgado, martirizado e morto, pode ser substituído pela confiança.
Eles viram que Jesus era de fato quem dizia ser; seu poder mostrou-se suficiente
para a obra e, depois de ressuscitar, enviar seus apóstolos para pregar o
evangelho parecia “fácil”.

Obviamente não era algo tão simples, afinal, para que tanto poder a fim de
fazer discípulos? Como visto em outra lição, o homem está caído e com
desesperadoras necessidades. A obra de satanás no coração humano é muito
profunda e a hostilidade à Palavra de Deus é profunda. Por isso, animar seus
discípulos afirmando ter toda autoridade sobre céu e terra é essencial, para
motivar a pregação da Palavra, a despeito da hostilidade.

I. Soberania e certeza

Um primeiro aspecto que podemos focar quanto ao efeito da autoridade de


Jesus é a certeza de que dará certo. Dar certo, por sua vez, pode ser visto por
duas perspectivas: quanto ao que nos cabe e quanto ao crescimento do Reino
de Deus.

Quanto ao que nos cabe é interessante que refere-se ao discipulado, fazer o


discípulo, isso é, acompanhar alguém ensinando-lhe o caminho que deve andar.
Obviamente que Cristo não afirmou que teríamos acesso ao coração humano, a
fim de transformá-lo. A ordem está fundada em sua autoridade, isso é, como
Jesus tem poder sobre toda a criação, certamente ele levantaria discípulos por
meio da evangelização. Diante disto, cabe à igreja pregar e ver o poder de Deus
agir, transformando inimigos em amigos.

Essa certeza foi afirmada antes mesmo da declaração de autoridade de


Mateus 28. Em João 10.16, Cristo afirmar ter ovelhas além do povo judeu. Indo
além, bastaria sua voz – cremos ser a pregação de sua Palavra –, para que suas
ovelhas atendessem o chamado. Isso significa que, pela pregação do evangelho
iremos ver a manifestação do governo de Cristo naqueles que responderem
positivamente à sua voz.

Para a manifestação da soberania de Jesus, os discípulos receberam poder


em Atos 1.8. Os irmãos que estavam reunidos em Jerusalém viram a
manifestação do Espírito, que deu poder para que o evangelho fosse pregado
em outros idiomas (Atos 2.1-11). Nosso Redentor tem poder e concedeu poder,
para que sua obra prosseguisse. O desenvolvimento desta dinâmica é que o
Espírito dá dons à Igreja, para que a obra se desenvolva, pela edificação dos
crentes (1Co 12; Ef 4.10-13).
20

Vemos assim, que a soberania de Cristo sobre as nações lhe garante


discípulos; discípulos que são alcançados e desenvolvidos pelo poder do
Espírito. O que nos mostra que o amor de Deus por seu povo é manifesto
justamente por seu poder. Por isso, não há porque pensar em esmorecer na
pregação, o Todo-poderoso garante a obra, com o que devemos nos preocupar?

II. O que nos cabe

Diante de tanto poder poderíamos pensar que é só sentar e esperar. Contudo,


como já temos visto, a manifestação desse poder se dá por meio da ação da
igreja. Não somos indispensáveis para a obra de Deus. Olhando para o Antigo
Testamento, por exemplo, vemos quantos reis, sacerdotes e profetas foram
levantados. Ninguém é indispensável, porém, isso não significa que somos
inúteis.

Em sua soberania, Deus definiu que o convertido leva a Palavra para o não
convertido. Em Romanos 10, Paulo fala de sua preocupação com povo judeu,
que tem conhecimento de Deus, mas sem entendimento. A partir disso, o
apóstolo mostra o fundamento missionário da igreja:

Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o
Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. 13 Porque: Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, porém,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem
nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como
pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são
os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10.12-15)

A pregação do evangelho é a forma escolhida por Deus, para propagação do


evangelho. Vemos que a criação é revelação de Deus (Rm 1.20), porém, essa
revelação não trata da pessoa e obra de Cristo. É a pregação do evangelho o
meio pelo qual o Senhor quer que seu Filho seja conhecido. Ele poderia ter feito
de outra forma, mas, em seu eterno plano, a evangelização foi o meio escolhido.

O evangelho tem várias referências mostrando a vontade de Jesus de que


seus seguidores o sucedessem na pregação. É justamente esse o ponto.
Pregamos o evangelho porque aquele que morreu por nós era um pregador.
Estamos dando continuidade ao ofício profético de Jesus. Não falamos por nós
mesmos, o mesmo recebemos diretamente de Deus a mensagem, mas falamos
de Cristo por meio do Espírito (Jo 16.12,13). A Igreja, por sua vez, dá
continuidade ao que os apóstolos iniciaram, isso é, o ministério da reconciliação,
conforme 2Co 5.18,19.

Isso significa que, a evangelização é a manifestação da soberana vontade de


Deus. Criaturas antes inimigas de Deus, caídas e mortas em seus pecados,
agora falam das grandezas de Deus. É o poder transformador do Pai, para a
glorificação de seu Filho, conduzindo pelo Espírito, servos que reconciliados que
não têm assunto melhor.
21

III. Eleição

A doutrina da eleição é o fundamento da certeza da evangelização e do papel


do crente na obra. A evangelização apoia-se no plano eterno do Pai em salvar
pessoas desde a eternidade. Efésios 1.3-14 deixa claro que o Criador fez todas
as coisas em Cristo, para que tudo convergisse a Cristo (v.10). Na eternidade, o
Senhor resolveu glorificar o filho pela loucura do evangelho, que o Deus que
encarna e morre por pecadores.

A soberania de Deus é usada para sua glória, não para nossa salvação. Na
verdade, nossa salvação é para a glória de Deus, sua ação sobre seu povo é
para sua glória (Is 48.9-11). Somos parte da ação divina que revela sua vontade
soberana sobre nossas vidas, utilizando-as para enaltecer seu Filho.

Em João 6.35-39, Jesus apresenta-se como o pão que desce do céu. Este
pão dá a vida, porém, ele deixa claro que não é para qualquer um. Somente os
que o Pai enviar e der ao Filho serão salvos e não ser perderão. Em Mateus
11.25-30, Cristo dá outra declaração que demonstra a soberania eletiva na
evangelização. Ao condenar a incredulidade de cidades inteiras, ele glorifica o
Pai por este revelar-se aos pequeninos, ao invés de revelar-se aos que se viam
como sábios e instruídos. O que é interessante nessa revelação é que Jesus diz
ser a revelação de Deus algo que acontece por sua vontade e não pela vontade
dos homens. Não há conhecimento de Deus se este não se revelar.

Conhecimento é uma questão de relacionamento – já que a Verdade é uma


pessoa (Jo 14.6) –, e, ao que parece, Jesus não se dá a qualquer um (Mt 25.12)
Falando à Igreja de Roma, Paulo descreve a ação da Trindade. O homem
é colocado como o incompetente que, sequer, ora como deveria, diante do que,
o Espírito intercede, sobremaneira, com gemidos inexprimíveis (v.26). No verso
27, vemos que a intercessão do Espírito não é apenas uma questão funcional,
como se a forma fosse o problema, mas, antes de tudo, é uma questão de
conhecimento. O Espírito e Deus Pai trabalhando juntos, de modo que o Espírito
intercede segundo a vontade do Pai. A partir desse incentivo e segurança, Paulo
passou a demonstrar a profundidade da obra do Pai, mostrando que a
intercessão segundo sua vontade é motivo de grande conforto.

No verso 28 lemos: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem


daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito.” Para Paulo, ainda que não saibamos como orar, sabemos que todas
as coisas cooperam para o nosso bem, se de fato amamos a Deus. Essa
consciência nos leva a confiar na obra do Espírito, e foi explicada nos versos
seguintes.

A partir do verso 29, Paulo passa a descrever de que modo todas as coisas
cooperam para o nosso bem. O verso é claro ao dizer que somos predestinados,
ou seja, temos nosso destino assegurado por Deus, definido anteriormente.
Alguns querem dizer que esse verso apenas mostra que Deus viu o que iria
acontecer e escolheu de antemão aqueles que viriam a crer. Contudo, essa
interpretação não leva em consideração muitos detalhes presentes no texto.
22

O primeiro detalhe é que conhecer de antemão, para um hebreu, ou judeu,


não significa ver ou saber da existência antes. Tomemos como exemplo Mateus
1.25: “Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem
pôs o nome de Jesus”. Obviamente, esse “a conheceu” se refere ao
relacionamento entre José e Maria. Segundo o texto, se seguirmos a
interpretação daqueles que dizem que conhecer é ver, então, Mateus disse em
seu evangelho que José e Maria não se conheceram antes do nascimento de
Jesus. Sabemos que isso seria absurdo, já que antes mesmo de Maria estar
grávida, ela já estava comprometida com José. Desta forma, vemos que o texto
não poderia dizer tal coisa, nos levando a entender que conhecer na mente de
um judeu é ter um relacionamento profundo, no caso de José e Maria trata-se da
relação sexual. Se entendermos isso, veremos que Romanos 8.29 está dizendo
que aqueles com quem Deus relacionou-se profundamente de antemão, ou seja,
amou, a esses predestinou.

Entendendo o objetivo de tal predestinação, entenderemos que não há


como interpretar “conhecer de antemão” como se referindo ao fato de Deus ter
visto na eternidade o que aconteceria no futuro. Se for assim, teremos um
problema muito sério. Veja que o mesmo grupo que é dito ser conhecido de
antemão é também predestinado para ser conforme à imagem do Filho. Isso
significa que aqueles que Deus conheceu na eternidade serão conformes à
imagem do Filho – a menos que pensemos que Deus pode não alcançar seus
objetivos. Tal raciocínio nos leva a pensar, então, que todo mundo será à
imagem do Filho, tendo em vista que Deus conhece a todos de antemão, já que
ele é onisciente.

Essa interpretação, portanto, não ficou muito boa, pois sabemos que muitos
serão condenados. Deste modo, não podemos interpretar “conhecer de
antemão” como sendo saber antes, pois Deus conhece a todos. Sendo assim,
“conhecer de antemão” é mais bem interpretado como se referindo ao amor de
Deus por aqueles que ele ainda criaria e salvaria. Agora, a razão pela qual Deus
amou alguns salvadoramente e não a outros não nos foi revelada, mas que ele
predestinou uns para serem seus filhos (Sl 139.16; Rm 9.15-21; Ef 1.3-6) e
outros para serem condenados (Pv 16.4; Rm 9.15-21), quanto a isso não há
dúvidas.

O amor de Deus, portanto, é a causa de sermos salvos. Por sua própria


escolha, o Senhor traz para si a todos quantos deseja, o que nos leva a ter
segurança na obra de restauração. Nada pode impedir que Deus faça o que ele
deseja, tendo em vista ser ele o Criador de todas as coisas. O próprio Senhor
Jesus nos ensinou isso ao dizer: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim;
e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37, ver também o
v.35). Além disso, voltando a Romanos 8, a partir do verso 30, vemos Paulo
desenvolvendo a doutrina da segurança da salvação.

Depois de dizer que o Pai predestinou aqueles a quem ele ama, Paulo
ensinou que esses chegarão a esse objetivo, com certeza. Romanos 8.30 nos
diz: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a
esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Repare
que o mesmo grupo que foi predestinado recebe a certeza de que será
23

glorificado. Portanto, além de termos sido predestinados por Deus, somos por
ele guiados até a consumação da salvação.

Conclusão

Não há qualquer ligação entre crer na soberania de Deus e na estagnação. A


conclusão é fruto da preguiça. Preguiça em pregar a Palavra e em ler a Palavra.
O ensino bíblico é o de que o Deus soberano levantou pessoas não só a crerem,
mas para usá-las para levar o evangelho a outros.
Cristo tem todo o poder e concede seu poder a sua Igreja, a fim de que
preguem o evangelho. Devíamos nos dedicar mais, sabendo que o soberano
Deus elegeu os seus, garantindo os resultados para uma igreja que cumpre seu
chamado de ter os pés formosos por anunciar as coisas boas.

Aplicação
Agradeça por estar nas mãos de Deus; faça parte do ministério de
reconciliação; tenha confiança de que o Soberano Redentor garante os frutos.
24

QUALIDADES INDISPENSÁVEIS AO
EVANGELISTA
Texto básico: I Timóteo 3.1-13

Introdução

Como vimos em uma lição anterior, a evangelização é responsabilidade de todo cristão.


Essa é sem dúvida nossa mais sublime responsabilidade. No entanto, para realizar essa
honrosa missão, precisamos preencher alguns requisitos. Lemos em I Timóteo 3.1-13, as
qualificações que um oficial de igreja deve preencher. Embora não esteja se referindo
diretamente ao evangelista, não devemos ter dúvidas de que as exigências nessa lista
também são exigidas, não apenas do presbítero e diácono, mas de todo aquele que deseja
servir ao Senhor com integridade. Portanto, isso inclui o evangelista.

Deve também chamar nossa atenção nessa lista de exigências que nada é dito sobre a
formação acadêmica ou profissional. As qualificações apontadas por Paulo focalizam o
caráter da pessoa, como alguém aprovado como servo fiel a Deus em lugar das
habilidades administrativas ou capacidades intelectivas.

Fazer a obra do Senhor é o maior de todos os privilégios, independente da função, mas


requer zelo, preparo e dedicação. Na aula de hoje vamos estudar sobre alguns requisitos
básicos para ser um evangelista eficaz.

1) PRECISA SER ALGUÉM CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

Devemos ter consciência de que os resultados da Evangelização dependem do Deus


gracioso e soberano. Isso traz como implicação a nossa confiança em Deus, não em nossas
estratégias. Além disso, cremos, conforme lemos na Palavra, que só o Espírito Santo
convence do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8).

É o Espírito Santo que capacita Cristo (Mt 3.16; 4.1; Lc 4.1, 16-21), é ele que
capacita a igreja. E foi exatamente sobre isso que Jesus falou quando disse que
os discípulos deveriam ficar em Jerusalém somente até que do alto eles fossem
revestidos de poder (Lc 24.49).

Este é um ponto muito importante, e muito motivador, em nosso trabalho de evangelizar.


Segundo o Calvinismo, aqueles que Deus escolheu antes da fundação são chamados
eficazmente por Sua Palavra e Seu Espírito no tempo determinado por Ele, tendo suas
mentes iluminadas para compreenderem o evangelho, e tendo suas vontades renovadas
para que, livre e voluntariamente, venham a Cristo, através do arrependimento e fé, que
são dons de Deus. (Ezequiel 36.26-27; Efésios 1.11,18,19; 2.1-10)
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus." João 1.12-13

Notem bem o ensino bíblico: “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem
da vontade do homem, mas de Deus." As pessoas são regeneradas, não pela vontade
25

humana, mas pela vontade de Deus. Essa graça é chamada de irresistível porque é
impossível a um eleito resistir ao chamado do Espírito Santo em seu coração, sendo ela o
único motivo pelo qual alguns pecadores recebem o evangelho e outros não. (Atos 16.14).
Quando estamos evangelizando, devemos fazê-lo confiantes de que Deus, pelo Espírito,
aplicará os méritos de Cristo no coração dos ouvintes. Sobre isso Billy Graham observou:

O Espírito Santo é o grande comunicador do Evangelho,


usando como instrumento pessoas comuns como nós. Mas
é dele a obra. Assim, quando o Evangelho é fielmente
proclamado, o Espírito Santo é quem o envia como dardo
flamejante aos corações dos que foram preparados.13

A vontade do homem é dominada irresistivelmente por sua graça, pois, do contrário, o


homem não poderá dar jamais um passo na direção de Cristo. (João 6.44). Exemplo
significativo deste fato nos é dado por Lídia, a vendedora de púrpura: “...o Senhor lhe
abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos 16.14).

Quem abriu o coração dela para Jesus? Que ensina a Bíblia? Que o pecador abre o coração
a Jesus, ou que o Senhor que lhe abre o coração? O Espírito Santo tem como função
testemunhar de Cristo e é por isso que se torna inconcebível alguém que tem o Espírito
Santo e sente vergonha em dar testemunho de Cristo (Jo 16.14).

Não precisamos manipular as pessoas para aceitarem Jesus. Não precisamos depender de
técnicas e métodos carnais. Temos uma arma poderosa que é o poder do Espírito através
da Palavra. Devemos pregar a Bíblia com fidelidade e dobrar nossos joelhos em oração e
confiar que Deus vai agir conforme sua soberana vontade.

2) DAR BOM TESTEMUNHO

Um dos grandes obstáculos que enfrentamos na evangelização é a decepção que algumas


pessoas têm com a igreja ou com os crentes. Boa parte da população está decepcionada
com erros diversos em igrejas como a exploração financeira, escândalos de líderes
religiosos, o legalismo de certas igrejas que impõem aos seus adeptos leis muito rígidas,
tirando-lhes a alegria de viver. Por isso, uma qualidade indispensável ao evangelista é seu
bom testemunho. Um evangelista deve estar preparado para explicar sua fé, mas também
para vivê-la (I Tm 3.7; Rm 2.21,22).

Não podemos adotar o discurso da incoerência. Não podemos dissociar a pregação do


testemunho. Se o evangelista não for o “sal da terra e luz do mundo” ele não estará
preparado para evangelizar. O desejo de Deus é que tornemos o Evangelho atraente para
todos os que vivem a nossa volta. Fazemos isso quando vivemos de forma coerente. Em
Mt. 5.13-16, Jesus ensina que os cristãos, quando desempenham o seu papel de sal da
terra e luz do mundo, fazem com que os ímpios glorifiquem a Deus. Isso quer dizer que
se vivemos em obediência aos mandamentos de Deus, de forma fiel e coerente, as
pessoas verão a beleza em nossa vida, os atos de bondade, a vida diária de integridade

13 Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São
Paulo/Belo Horizonte, MG.: ABU/Visão Mundial, 1982, p. 30.
26

e fidelidade, e a reação deles será a de glorificar a Deus. Os incrédulos podem mudar a


maneira de ver Deus e a igreja, a depender daquilo que eles vêm na vida dos crentes.14

3) TER CONHECIMENTO DO EVANGELHO

Vimos numa aula anterior que evangelizar é pregar o Evangelho. O Evangelho é


poderoso, levanta o caído, restaura o pecador e dá nova vida àquele que está morto em
seus delitos e pecados (Ef 2.1-2). Mas o que o evangelista deve pregar? Qual o conteúdo
desse evangelho tão poderoso e transformador? A Teologia Reformada15 entende que
pelo menos cinco aspectos importantes do evangelho não podem ficar de fora quando
estamos evangelizando:

1º.) É preciso apresentar o caráter santo de Deus.

As Escrituras nos ensinam que o Senhor Criador e Soberano do universo (Êx


20:11, At 4:24) é um Deus santo e justo e que Ele que estabeleceu leis morais
pelo qual todos os homens devem viver. Ao apresentar o evangelho precisamos
ensinar às pessoas que Deus responsabiliza os homens pela sua obediência e
desobediência a estas leis.

2º.) É preciso mostrar a gravidade do pecado.

Na prática evangelística precisamos mostrar às pessoas como elas estão aquém


dos padrões estabelecidos por Deus (Rm 3:23). Os homens quebraram as leis
de Deus e por isso se tornaram culpados (Rm 5.8; I Tm 1.15). É impossível
pregar as Boas Novas de salvação sem falar da gravidade dos nossos pecados.

3º.) É preciso apresentar uma mensagem clara de quem é Jesus Cristo. (Marcos
1.1; Romanos 15.19, I Co 2.1-2)

Se queremos uma evangelização eficaz e sadia, teremos que pregar a


mensagem certa. (I Co 15.3-4). Jesus é a solução, o remédio para o pecado do
homem. É preciso pregar quem é Jesus e o que Ele fez.

4º.) É preciso ensinar que o evangelho é uma mensagem que exige fé e


arrependimento.

Arrependimento começa com um reconhecimento do pecado, da santidade de


Deus (Isaías 6.5), e a compreensão de que nossos pecados são uma afronta a
Deus. O arrependimento envolve tristeza (Mt 21.29-32). Mas também envolve
mudança de direção, transformação da vontade. (Mt 13.15; Lc 17.4; 22.32). Os
apóstolos faziam um apelo claro ao arrependimento e à fé em
Cristo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos
pecados” (At 3.19).

14 BARRS, Jerram. A Essência da Evangelização. Tradução de Neuza B. da


Silva. São Paulo – SP: Cultura Cristã. p. 52.
15 PACKER, J. I. A Evangelização e a Soberania de Deus. Editora Cultura Cristã,
2002. São Paulo, SP: pp.52-67
27

5º.) É preciso apresentar a mensagem da graça.

A salvação não pode ser conquistada por obras ou por tentar cumprir a lei. Esse
não é o caminho proposto por Deus, até porque, ninguém jamais conseguiria
cumprir plenamente a lei (Rm 3.10; Tg 2.10). Ela é um presente de Deus e por
isso quem não for salvo pela graça, não será salvo de maneira alguma.

4) DEDICADA VIDA DE ORAÇÃO

J. Blanchard afirmou certa vez: “Tentar fazer alguma coisa para Deus sem oração é tão
inútil quanto tentar lançar um satélite com um estilingue”.16 O nosso primeiro passo na
preparação para evangelizar deve nossa humildade diante de Deus. Se assim formos,
teremos que reconhecer quem somos e quem Deus é, e isso nos levará a total dependência
do Senhor.

A oração é sem dúvida por onde devemos começar. É um dos meios pelos quais o crente
cultiva um relacionamento íntimo com Deus. A oração é indispensável na devoção
pessoal. Envolve conversar e ter comunhão com Deus (I Tm 2.1; Lc 6.12; I Ts 5.17). E
esta comunhão com Deus, por meio da oração, tanto nos fortalece e habilita para a
evangelização quanto nos permite apresentarmos primeiro a Deus aqueles a quem
pretendemos evangelizar.

Mas se a oração é tão importante para a evangelização, pelo que nós devemos orar?

a) Devemos orar pela obra do Espírito Santo em nossos amigos (João 14.13;15.5).
Como vimos no ponto anterior, o Espírito Santo pode suavizar um coração duro,
dobrar uma vontade teimosa, abrir uma mente fechada desafiar preconceitos
cristalizados e curar memórias dolorosas (Jr 3.17; 7.24; 11.8; 16.12; 18.12, 2 Co
4:6)

b) Devemos orar para que portas sejam abertas para o Evangelho (Cl 4.3; I Co 16.9).
Paulo, através da oração, buscava uma oportunidade para pregar. Veja o que ele
disse: “Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta
à palavra” (Cl 4.3). Para Paulo, a oração é a chave que abre a porta para divulgar
o mistério de Cristo.

c) Devemos orar por coragem (Ef. 6.18-19; At 4.29). Por meio da oração, Paulo nos
ensina que devemos buscar coragem e intrepidez. “Vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos e também por mim, para que me seja
dado, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho” (Ef 6.18,19). Uma vez que o Senhor nos abre a porta, será
necessária coragem para anunciarmos a Cristo.

16 BLANCHARD, John. Pérolas para a Vida. Editora Vida Nova. SP: 1993. p.
268
28

d) Devemos orar por clareza e sabedoria (Cl 4.6; Is 50.4). Além de oportunidades e
coragem, precisamos também de sabedoria para falar com as pessoas. O apóstolo
escreveu: “Nossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.6). Paulo desejava sabedoria,
uma linguagem agradável, clara para despertar o interesse dos incrédulos. Vemos
isso na pessoa de Jesus, maravilhando pessoas com palavras de graça que lhe
saíam da boca (Lc 4.22). Temos que ter sabedoria para evangelizar nossos
conhecidos para não magoar a crença deles. Devemos ensinar a verdade de
maneira sábia e não agressiva.

Paulo pediu também para que Deus lhe desse clareza para falar a respeito do
Evangelho. Ele disse: “Para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl. 4.4). É
importante destacar que “Paulo tinha dificuldade em ser claro. Ele não era dos
melhores comunicadores; sabia que precisava de orações e não hesitou em pedi-
las.”17

5) SER PACIENTE E PERSISTENTE

Usando da analogia da pesca, sabemos que o pescador precisa ser paciente e aguardar que
o peixe morda a isca. Isso pode ser rápido, mas também pode demorar muito. O mesmo
acontece com a pregação do evangelho. Talvez seja por isso que Jesus disse a Pedro e
André: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mateus 4.19)

Não temos dúvida. Deus trará seus eleitos à salvação, a despeito da nossa fraqueza. Sua
Palavra não retornará vazia, mas cumprirá o que ele deseja (Is. 55.10-11). Mas Deus tem
o tempo certo para isso. Será no tempo dele. Precisamos ter paciência. Podemos estar
certos de que todos os eleitos serão salvos e a causa de Deus triunfará no final, para a sua
honra e glória. Por isso, tenhamos paciência e perseverança. Paulo despedindo-se dos
presbíteros de Éfeso revela sua perseverança: “...em nada considero a vida preciosa para
mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor
Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. (At 20.24).

Conclusão: Finalmente, devemos nos lembrar de que Deus é o Senhor. Como já vimos,
a salvação é um ato exclusivo de Deus (Jn 2.9; 1 Co 1.21; Hb 2.10; 5.9; Tg 4.12). A nós
compete pregar e depender de Deus. Que o Senhor nos abençoe, nos capacitando, pelo
seu Espírito a sermos testemunhas fiéis.

1. Depois da aula de hoje, onde você acha que precisa melhorar?


2. Você se sente constrangido pelo amor de Cristo a compartilhar o
evangelho com outras pessoas?
3. Das qualidades aqui estudadas, qual delas você precisaria
melhorar?
4. Compartilhe com as pessoas da sua classe suas experiências
como um conquistador de almas.

17 Jerram BARRS, A Essência da Evangelização, p. 49.


29
30

OBSTÁCULOS À EVANGELIZAÇÃO EFICAZ


Texto básico: I Coríntios 16.9

Introdução

Todos concordamos que a evangelização é uma ordem clara de Cristo para a


sua igreja. Contudo, não são poucas às vezes que nos sentimos impotentes,
desanimados e vencidos diante de tamanha responsabilidade. De fato, mesmo
cônscios de nosso dever, não deixamos de reconhecer as barreiras18 que se
levantam e nos intimidam quando pensamos em evangelizar.

O apóstolo Paulo disse: “... uma porta grande e oportuna se me abriu, mas há
muitos adversários” (I Co 16.9). Paulo ao pregar o evangelho em Éfeso, não o
fez sem oposição, sem a resistência de adversários. Ele enfrentou os seguidores
da deusa Diana, a deusa da fertilidade. Teve que lidar com a oposição de
Demétrio e dos ourives, pois com sua pregação, Paulo havia desestimulado
muitas pessoas a abandonarem às práticas pagãs. De modo semelhante, em
nossos dias, também temos nossos adversários. Há obstáculos que precisamos
enfrentar e superar. Na aula de hoje vamos estudar algumas destas barreiras.

1. SATANÁS: O ARQUI-INIMIGO DA IGREJA

Satanás, com seus anjos maus, procura impedir a evangelização e o


crescimento da igreja. Lemos em Mateus 13.19: “A todo o que ouve a palavra do
reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no
coração; este é o que foi semeado à beira do caminho”. Lemos também em I
Pedro 5.8: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”.

O homem natural vive sob a influência e poder de Satanás (Efésios 2.2). E


somente através da pregação do evangelho o homem é liberto do seu domínio
(Jo 8.31-32, 36, 42-44). Por causa disso a evangelização é o alvo central que o
inimigo quer destruir. Ele lutará com todas as forças para que a igreja pare de
evangelizar e esfrie na propagação das boas novas. Calvino afirmou que: “os
incrédulos se encontram tão intoxicados por Satanás, que, em seu estupor, não
têm consciência de sua miséria”.19

18 As barreiras que estudaremos a seguir, algumas foram extraídas e adaptadas da obra de


Jerram Barrs, A Essência da Evangelização, Editora Cultura Cristã. São Paulo. 2004
19 CALVINO, João. As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.26), p. 247.
31

2. POUCA PREOCUPAÇÃO COM A GLORIFICAÇÃO DO NOME DE DEUS

Qual é o grande objetivo na evangelização? Qual é o ponto principal da


proclamação do Evangelho? Por que gastamos tempo, esforços e energia nos
preparando para alcançar pessoas para Cristo? A resposta é glorificar a Deus.
Jesus disse ao Pai na conhecida oração sacerdotal: “Eu te glorifiquei na terra,
consumando a obra que me confiaste para fazer”. Nós glorificamos quando
testemunhamos dele. (2Ts 3.1; At 13.48).

Eis aqui uma grande barreira para a evangelização. Quando as pessoas não
estão maravilhadas pela grandeza de Deus, não conseguirão proclamar a
mensagem: “grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível mais que
todos os deuses” (Sl 96.4). Se não estivermos amor pela pessoa de Deus,
também não estaremos motivados para falar dele às pessoas. “Não podemos
pregar com convicção aquilo que não estimamos com paixão”.20 Quando a
paixão por Deus está debilitada, a paixão pela evangelização certamente será
fraca também. John Piper, cita o seguinte pronunciamento de Andrew Murray há
mais de cem anos:

Enquanto buscamos a Deus sobre por que, com tantos milhões


de cristãos, o verdadeiro exército de Deus que está combatendo
os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é —
falta de coragem e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus
está faltando. E isto é porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei.21

Este é um alerta para nós ainda em nossos dias. Precisamos nos voltar para o
Senhor e buscar a sua glorificação em primeiro lugar. Ninguém poderá se dispor
a fazer a obra missionária se não experimentar na intimidade a magnificência de
Cristo (Apocalipse 15.3-4; Salmos 9.11; 18.49; 45.17; 57.9; 96.10; 105.1; 108.3;
e Isaías 12.4).

3. A CULTURA RELATIVISTA DOS NOSSOS TEMPOS

Vivemos dias em que os absolutos são descartados. A verdade tornou-se


subjetiva e pessoal, cada um tem sua própria verdade. A relativização de
absolutos, ou seja, você decide o que é verdadeiro segundo suas próprias
concepções, está presente no nosso dia-a-dia e até mesmo invadido a igreja.
Muitas das nossas convicções e fundamentos sobre os quais lançávamos
princípios de vida estão abalados. As incertezas sobre o conteúdo da
mensagem do Evangelho nos tornam tímidos e nos fazem recuar. Será que de

20 PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP


(Editora Cultura Cristã: 2001) p. 12
21 PIPER, John. Op Cit., p.12
32

fato cremos numa verdade? Ela poderá mesmo derrubar os muros da


incredulidade? Já não nos sentimos tão seguros quanto ao conteúdo de nossa
pregação.

Voltaremos a este assunto quando tivermos que tratar da apologética. Por hora
basta dizer que devemos ter certeza de que nossa fé é de fato a verdade. Para
tanto, o conhecimento e estudo da Palavra de Deus é a fonte que nos prepara
para que possamos estar “sempre preparados para responder a todo aquele que
vos pedir razão da esperança que há em vós”. (1 Pedro 3.15b), assim,
“...procurai, com diligência, cada vez maior, confirmar a vossa vocação e
eleição...” (2 Pedro 1.10a).

4. HIPOCRISIA E A FALTA DE CREDIBILIDADE DA IGREJA

Você certamente já foi abordado por alguém que lhe questionou sobre a
incoerência dos cristãos. Alguns dizem: “Eu não vou à igreja porque existem
muitos hipócritas lá”. Realmente, boa parte da população está decepcionada
com os erros que acontecem nas igrejas, tais como a exploração financeira,
escândalos de líderes religiosos, o legalismo de certas igrejas que impõem aos
seus adeptos leis humanas muito rígidas. Essa é uma grande barreira que
enfrentamos na evangelização urbana, o discurso da incoerência.

Precisamos admitir que boa parte das críticas que são dirigidas à igreja são
verdadeiras e precisamos reconhecer nosso pecado. No entanto, será que
aqueles que acusam a igreja de hipocrisia também não tem as suas? Aqueles
que acusam e julgam as pessoas que estão na igreja estão, na realidade,
acusando a si mesmos, pois todos os homens, em alguma medida, são
hipócritas.

Mas há uma coisa positiva nesta acusação. É que este crítico reconhece e sabe
que isto é errado. Portanto, juntar-se a tantos outros pecadores, pode ser a
solução para ele também.22 A mensagem do cristianismo é que existe um Cristo
perfeito para pessoas imperfeitas. Cristo sim, e não os membros das igrejas, é o
ponto central do cristianismo, e é nele que devemos colocar nossos olhos.

5. ATITUDE DE GUETO - SEPARATISTA

Outra barreira sutil e perigosa é a de nos separarmos das pessoas “de lá de fora”
e restringir nosso círculo social aos “irmãos”. A igreja, por vezes, adota, mesmo
que inconscientemente, uma postura de isolamento e separação da sociedade.
Essa atitude acaba por criar um conceito de “mosteiro social gospel”. Talvez, até
mesmo por causa dos grandes desafios impostos ao cristianismo no século 21,

22SPROUL, R. C. Razão para Crer, Editora Mundo Cristão. P.57


33

a igreja tem ficado mais acanhada e ao invés de sair para testemunhar, tem
preferido se alienar. Olhemos para aquele que foi acusado de ser amigo de
publicanos e pecadores (Lucas 7.34), que tocou em leprosos, que perdoou
prostitutas, que se aproximou dos excluídos.

Não devemos amar ao mundo, é certo, disse o apóstolo João, mas, também
somos o sal da terra. Imaginem se podemos temperar um feijão colocando o
saleiro em frente à panela. Devemos pôr o sal no feijão e suas propriedades
suscitarão o efeito desejado. Podemos, em nossas igrejas, criar espaços com
certas peculiaridades, mas não nos escondermos em guetos evangélicos.
Precisamos, a exemplo de Jesus, sermos amigos de pecadores.

6. MEDO DE TESTEMUNHAR

Muitos cristãos têm medo de evangelizar. Todos nós sabemos da importância


de falar aos nossos amigos sobre o evangelho, mas quando as oportunidades
aparecem, nossas mãos suam, nossos corpos tremem e nosso coração acelera.
Tudo isso é muito normal. Mas por que temos esse medo? Este medo pode se
manifestar, por causa de algumas destas razões:
a) Medo de ser rejeitado: ao falar de Cristo, você se expõe, define sua posição,
mostra em que valores você crê. Obviamente, a possibilidade de rejeição existe,
e é muito maior do que a possibilidade de ser respeitado em suas convicções
cristãs.
b) Medo de falhar: às vezes, não temos vergonha de testemunhar abertamente,
mas tememos receber um "NÃO", ao tentarmos evangelizar alguém. Ou então,
fracassarmos por não comunicarmos com clareza o plano da salvação.
c) Medo de se contaminar com os incrédulos: muitas pessoas, quando se
convertem, são erradamente instruídas a não cultivarem amizades com
incrédulos. O desejo de santificação é muito positivo, mas algumas pessoas têm
partido para radicalismos e exageros.

O crente deve ser sal e luz, dentro da comunidade doente (Mt 5:13-16). Devemos
ter muito cuidado com o conceito de sermos separados do mundo (Jo. 17:11,
14,15). O crente deve conhecer os problemas do seu tempo, para manter
conversas inteligentes. Saiba dialogar sobre outros assuntos, além da Bíblia.
Paulo, em Ef. 4.17 diz: "não andeis como andam os gentios". Mesmo andando
entre os incrédulos, não devemos viver como eles, mas podemos viver entre
eles.

7. AUSÊNCIA DE CONFIANÇA NO PODER DE DEUS

Outra barreira é a falta de confiança no poder de Deus. De certa forma, ela tem
um aspecto positivo, pois nos ensina a humildade e a dependência de Deus.
34

Outro aspecto, porém, precisa ser retirado de nossos pensamentos. Tal obra não
é resultante de mero esforço humano, consequentemente, aquele que nos
comissionou, também nos capacitará. O apóstolo Paulo reconheceu-se fraco
diante de tal missão. Escrevendo aos colossenses diz:

Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra
porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também
estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer. Cl. 4:3,4

Se esta oração saiu dos lábios de alguém como o Apóstolo Paulo, não
necessitaríamos também orar de maneira semelhante? Conhecer nossos
temores e fraquezas é o ponto de partida para todo crescimento, porque esse
conhecimento nos leva a orar por nós mesmos e admitir que não temos em nós
mesmos competências ou habilidades suficientes para as tarefas para as quais
Deus nos chamou. Dependemos totalmente dele.

A oração humilde tem que ser nosso ponto de partida. Deus é gracioso e
certamente suprirá nossas limitações, colocando a nossa disposição a ajuda
necessária para testemunharmos dele.

Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as


autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis,
nem quanto às coisas que tiverdes de falar. Porque o Espírito vos
ensinará, naquela mesma hora, as cousas que deveis dizer. (Lucas
12.11,12)

8. POSTURA DE AUTOPRESERVAÇÃO DA IGREJA

Talvez, até inconscientemente, mas a igreja é levada a adotar como prioridade


e estilo de vida a sobrevivência e a manutenção da instituição. A maioria dos
recursos e programas da igreja são destinados e planejados para servir aos
próprios membros e manter a estrutura física da igreja local. Há uma forte ênfase
na comunidade local, mas não na sociedade como um todo. A liderança já se dá
por satisfeita em apenas ter o templo cheio de pessoas.

Estudos tem mostrado que novas igrejas ganham novos membros (60-80%)
entre as pessoas que não fazem parte de nenhuma outra comunidade, enquanto
igrejas com mais de 15 anos de idade, ganham novos membros (80-90%) por
transferência de outras igrejas. Isto significa que novas igrejas atraem de 6 a 8
vezes mais pessoas que uma velha igreja do mesmo tamanho. Por que isto
acontece?23 Tim Keller dá a resposta:

23 KELLER, Tim. Why Plant Churches. (CF. ttp://download.redeemer.com/pdf/learn/resources)


p. 30
35

Uma das razões é que igrejas recém organizadas, por


necessidade, se sentem forçadas a concentrar suas energias e
recursos muito mais nas necessidades dos que não são membros
das mesmas e assim são mais sensíveis às necessidades dos não
crentes. Também tem um efeito cumulativo. Nos primeiros dois
anos da vida cristã temos muito mais relações pessoais com não
cristãos. Desta maneira os novos cristãos atraem a não crentes
aos sérvios de adoração entre 5 a 10 vezes mais que os cristãos
mais antigos na igreja. Novos crentes dão à luz a novos crentes
(...) na medida em que a igreja envelhece as pressões
institucionais internas conduzem a fazer uso da maior parte de
seus recursos e energias naquelas preocupações de seus
membros, e não nas pessoas de fora da comunidade. As
tradições e a super estrutura das denominações tradicionais, os
excessos de legalismo, travam o crescimento da igreja.24

De maneira semelhante, Ronaldo Lidório ao analisar as causas do não


crescimento das igrejas, também atribui parte da culpa ao que ele chama de
“gigantismo sem mobilidade”. Diz ele:

O gigantismo ocorre quando a igreja local gera uma estrutura


pesada demais que a impeça de caminhar fora de seu ciclo
interno. Toda a energia, recursos financeiros, recursos humanos,
tempo e solução de conflitos são investidos para a demanda da
própria membresia sobrando pouco ou nada para as ruas onde
estão a prioridade de Cristo.25

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO:

Precisamos reconhecer as barreiras reais e contrapô-las com os recursos que


Deus coloca ao nosso alcance. Se muitas são as barreiras, cremos também que
suficiente e superior será o auxílio divino para superá-las, nos concedendo
vitórias e nos fazendo efetivos instrumentos de proclamação das Boas Novas da
Salvação em Jesus Cristo.

1. Das barreiras aqui estudadas, com qual delas você mais se identifica?
2. Na sua opinião, como você pode vencer esta barreira?

24 KELLER, Tim. Why Plant Churches. P. 30


25 LIDORIO. Ronaldo. Plantando Igrejas. Editora Cultura Cristã. SP: 2007. p. 62

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