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Alexandre Beraldi
Policial Federal, Professor e Autor
contact@beraldiexcellence.com
Todas as fotos são do autor
A linha de pistolas Taurus TS já foi apresentada ao público há algum tempo pela Taurus,
porém não havia sido feita até o momento uma análise detalhada desta arma, suas
características de projeto, novidades incorporadas, novas versões e sanadas as dúvidas a
respeito do projeto.
Em seu estande no SHOT SHOW 2019, a brasileira Taurus apresentou uma gama de novidades
que serão mostradas na série de reportagens sobre esse evento, mas a que se destacou foi
certamente a consolidação do projeto TS, com novas opções e novas versões.
Além da tradicional preta, foram apresentadas as opções de armação polimérica (frame) nas
cores verde-oliva e também em FDE (Flat Dark Earth), a atual cor preferida para as armas de
fogo em licitações militares, dada a facilidade de mimetização que essa cor proporciona em
múltiplos ambientes, e a sua neutralidade à observação por dispositivos óticos de
intensificação de luz. Foi também revelada a nova versão compacta da linha TS, disponível
nos calibres 9x19mm e .40 S&W.
À esq: TS9 e TS40C, compacta. A versão compacta, para referência, é de um tamanho intermediário
entre uma Glock G25 e uma G28.
À dir: TS9 na nova cor FDE
DefesaNet – Alexandre Beraldi – Shot Show 2019 - Pistolas Taurus TS9 e TS40 4
Pudemos realizar uma análise detalhada da arma, tendo a companhia do pessoal técnico da
empresa, sempre pronto a sanar eventuais dúvidas acerca de materiais, acabamentos e
soluções de projeto. A pistola TS é uma pistola semiautomática que opera com o sistema
Browning de recuo curto, possuindo uma armação em polímero que envolve um chassis
metálico, e emprega um mecanismo de percussão direta de ação dupla, com percussor semi-
engatilhado, reminiscente do sistema empregado na pistola Roth-Steyr, e hoje tão
amplamente utilizado em pistolas como a Glock, Steyr M, Smith & Wesson M&P e outras. Seu
design mostra claramente o emprego de soluções de engenharia presentes nessas armas,
além de características interessantes vindas do próprio corpo técnico da Taurus, sendo o
mecanismo de desmontagem o primeiro a se destacar: após se retirar o carregador e verificar
que não há munição na câmara, realiza-se o disparo em seco para que a barra do gatilho se
solte do percussor, como nas pistolas Glock e outras que utilizam mecanismos de disparo
similares, então, ao invés de se puxar para baixo uma barra de desmontagem ou girar uma
alavanca e deslizar o ferrolho, você simplesmente pressiona um botão na parte interna do
guarda-mato, fazendo com que um leve movimento à retaguarda solte o conjunto do ferrolho
do conjunto da armação, sem necessidade de deslizar o primeiro pelos trilhos do segundo.
O aço do ferrolho recebe um tratamento por nitretação à gás, o que garante uma resistência
à corrosão superior a 300 horas no teste militar de corrosão por salt spray, muito superior ao
esperado na norma da OTAN, que pede uma resistência de 24 horas. O cano em aço
inoxidável completa a robustez do conjunto. É possível ver que todo o ferrolho é bem selado,
dificultando a ingestão de resíduos de pólvora incombusta e contaminantes externos - como
areia - nas partes críticas desse conjunto da arma, tais como o canal do percussor e o
mecanismo de trava automática deste. Também a janela de ejeção se combina com o
conjunto do cano de forma a vedar totalmente o acesso ao mecanismo quando a arma está
na posição trancada e pronta para o tiro.
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Acima: vistas do conjunto do ferrolho. Observe a vedação dos componentes e os recortes na parte
interna para afastar sujeira e contaminantes das partes críticas ao funcionamento da arma. As cores
avermelhadas na parte interna do ferrolho nas fotografias à esquerda e no centro são efeito da
iluminação no estande e não corrosão, como a fotografia à direita mostra.
Setas Vermelhas: culatra de aço; Seta Verde: FPU de polímero; Seta Amarela: extrator
À frente da FPU temos uma culatra de aço afixada no ferrolho por um pino elástico, à moda
das SIG SAUER da série P220, onde se encontra um extrator com uma garra de grandes
proporções, aparentando robustez. O extrator não pode ser desmontado sem a retirada da
culatra, mas a visualização e o acesso para a manutenção em primeiro escalão são fáceis.
Ainda parte do conjunto do ferrolho, temos um sistema duplo de molas recuperadoras,
similar ao encontrado nas pistolas mais modernas. Na parte externa temos alça e massa de
miras tradicionais da Taurus, afixado pelo sistema de dovetail, não existindo ainda nesta
versão a previsão para instalação de miras eletrônicas do tipo red dot, tendência que foi
observada nos demais fabricantes neste evento. Completam o pacote as ranhuras para o
manuseio do ferrolho tanto na parte posterior quanto na anterior deste, seguindo as
tendências mais atuais.
Da esq para dir: sistema duplo de molas recuperadoras, cano e rampa/câmara de disparo.
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À esq: ângulo da empunhadura e textura. À dir: os comandos são botão de desmontagem, trava de
segurança, retém do carregador e retém do ferrolho.
Ainda falando dos comandos, temos o retém do ferrolho, que é arredondado e contíguo a
uma superfície ovalada na armação, evitando seu acionamento inadvertido por mais
agressiva que seja a empunhadura adotada. Ele está presente somente no lado esquerdo da
arma, apropriado para os destros.
Na parte traseira da armação, temos um beavertail alto, que permite uma empunhadura bem
elevada, aproveitando ao máximo as vantagens do low bore height – ou pequena altura do
eixo do cano - projetado para essa arma. Logo abaixo do beavertail, temos o módulo da
empunhadura substituível, que adapta a empunhadura a diversos tamanhos de mão.
À esq: empunhadura bem elevada e encaixada. No centro: beavertail alto. À dir: o pino de fixação do
módulo da empunhadura funciona como um passante de fiel.
O sistema de gatilho é, como dito, baseado no sistema Roth-Steyr, e mais conhecido por ter
sido adotado na famosa pistola austríaca desenhada por Gaston Glock. É de dupla ação com
percussor semi-engatilhado, com trava inercial inserida na parte central da tecla do gatilho,
trava de queda por apoio da barra do gatilho até seu curso final, e trava automática do
percussor acionada no final do curso da barra do gatilho, exatamente como as três soluções
de travas passivas existentes em pistolas modernas como a Glock, Steyr M, Smith & Wesson
M&P, CZ P10, Caracal F Enhanced e outras. O resultado é um acionamento bem parecido
com a média dessas pistolas modernas, porém sem uma “parede” tão definida: há um
pequeno curso leve, que engloba o desengajamento da trava inercial do gatilho e, na
sequência, o início do desengajamento da trava do percussor, até que se chega ao limite da
rampa da trava de queda e no início da rampa do desconector, onde normalmente sentimos
uma “parede” bem definida; porém, na Taurus, há apenas um leve aumento de peso, e então
a barra do gatilho, de uma vez e ao mesmo tempo, livra a trava de queda, levanta a trava do
percussor, termina de empurrar o percussor ao final do curso e se desconecta desse,
permitindo o disparo. É uma puxada mais uniforme. Então temos o reset do gatilho, bem
definido e audível como sua congênere austríaca. Bom gatilho. Muito superior a tudo o que
a Taurus já fez até então, tanto em termos de qualidade e sensação de acionamento, como
de eficiência no projeto de segurança.
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Voltando para a parte interior do conjunto da armação, temos que todos os seus
componentes revestidos em níquel químico, deixando-os praticamente imunes à corrosão e
com propriedades de lubricidade, ou seja, com um mínimo de atrito entre si, o que contribui
positivamente para a sensação agradável na puxada do gatilho. A posição e tamanho dos
trilhos e do bloco de trancamento deixam claro que o projeto seguiu a tendência das mais
modernas pistolas striker fired.
O ejetor é bem grande e robusto, sendo um componente à parte, que pode ser substituído
caso venha a quebrar-se, sem a necessidade da troca de outros grandes conjuntos de
componentes. Logo abaixo e atrás do ejetor, temos a rampa da trava de queda, que é de
metal com o revestimento de níquel, ao contrário do plástico utilizado em outras armas,
conectando-se e interagindo com o eixo transversal da barra do gatilho, também no mesmo
material e com o mesmo tratamento de superfície.
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Em resumo, a pistola Taurus TS parece ser uma excelente ferramenta, e os fatos recentes
parecem comprovar isso. As Filipinas acabaram de adquirir uma quantidade muito grande de
pistolas Taurus TS9 após rigorosos testes feitos pelos militares daquele país (não se pode falar
a quantidade exata por questões de sigilo contratual). Na realidade os testes das Filipinas são
considerados mais rigorosos dos que aqueles feitos pela OTAN, com testes de queda mais
elevados, testes de salt spray de maior duração, testes de arrasto e imersão para verificar a
vedação contra corpos estranhos, testes de intercambialidade de peças com múltiplos
cruzamentos, testes de durabilidade com 20 mil disparos ininterruptos por exemplar, entre
outros, sendo que a pistola da Taurus passou por todos incólume. Inobstante isso, as pistolas
Taurus TS estão passando pelo processo de certificação AC225 da OTAN.