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DefesaNet – Alexandre Beraldi – Shot Show 2019 - Pistolas Taurus TS9 e TS40 1

Cobertura Especial Shot Show 2019


Las Vegas - 22-25 Janeiro 2019

Novidades e análise da linha de pistolas


Taurus TS9 e TS40

Alexandre Beraldi
Policial Federal, Professor e Autor
contact@beraldiexcellence.com
Todas as fotos são do autor

O autor é Agente Especial da Polícia Federal, e também professor de armamento e tiro


e de táticas policiais na Academia Nacional de Polícia Federal. Atuou como operador
e atirador designado nos grupos de ações táticas da PF, além de também ter
trabalhado como Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo por quase uma
década. Atualmente mantém o site e blog www.beraldiexcellence.com que trata com
profundidade técnica dos temas armas, munições e tiro.
Colaborador e consultor de DefesaNet há mais de uma década.
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Novidades e análise da linha de pistolas Taurus TS9 e TS40

A linha de pistolas Taurus TS já foi apresentada ao público há algum tempo pela Taurus,
porém não havia sido feita até o momento uma análise detalhada desta arma, suas
características de projeto, novidades incorporadas, novas versões e sanadas as dúvidas a
respeito do projeto.

Acima: Taurus TS9 verde-oliva


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Em seu estande no SHOT SHOW 2019, a brasileira Taurus apresentou uma gama de novidades
que serão mostradas na série de reportagens sobre esse evento, mas a que se destacou foi
certamente a consolidação do projeto TS, com novas opções e novas versões.

Acima: Taurus TS40C

Além da tradicional preta, foram apresentadas as opções de armação polimérica (frame) nas
cores verde-oliva e também em FDE (Flat Dark Earth), a atual cor preferida para as armas de
fogo em licitações militares, dada a facilidade de mimetização que essa cor proporciona em
múltiplos ambientes, e a sua neutralidade à observação por dispositivos óticos de
intensificação de luz. Foi também revelada a nova versão compacta da linha TS, disponível
nos calibres 9x19mm e .40 S&W.

À esq: TS9 e TS40C, compacta. A versão compacta, para referência, é de um tamanho intermediário
entre uma Glock G25 e uma G28.
À dir: TS9 na nova cor FDE
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Pudemos realizar uma análise detalhada da arma, tendo a companhia do pessoal técnico da
empresa, sempre pronto a sanar eventuais dúvidas acerca de materiais, acabamentos e
soluções de projeto. A pistola TS é uma pistola semiautomática que opera com o sistema
Browning de recuo curto, possuindo uma armação em polímero que envolve um chassis
metálico, e emprega um mecanismo de percussão direta de ação dupla, com percussor semi-
engatilhado, reminiscente do sistema empregado na pistola Roth-Steyr, e hoje tão
amplamente utilizado em pistolas como a Glock, Steyr M, Smith & Wesson M&P e outras. Seu
design mostra claramente o emprego de soluções de engenharia presentes nessas armas,
além de características interessantes vindas do próprio corpo técnico da Taurus, sendo o
mecanismo de desmontagem o primeiro a se destacar: após se retirar o carregador e verificar
que não há munição na câmara, realiza-se o disparo em seco para que a barra do gatilho se
solte do percussor, como nas pistolas Glock e outras que utilizam mecanismos de disparo
similares, então, ao invés de se puxar para baixo uma barra de desmontagem ou girar uma
alavanca e deslizar o ferrolho, você simplesmente pressiona um botão na parte interna do
guarda-mato, fazendo com que um leve movimento à retaguarda solte o conjunto do ferrolho
do conjunto da armação, sem necessidade de deslizar o primeiro pelos trilhos do segundo.

Acima: a seta aponta o botão de desmontagem

O aço do ferrolho recebe um tratamento por nitretação à gás, o que garante uma resistência
à corrosão superior a 300 horas no teste militar de corrosão por salt spray, muito superior ao
esperado na norma da OTAN, que pede uma resistência de 24 horas. O cano em aço
inoxidável completa a robustez do conjunto. É possível ver que todo o ferrolho é bem selado,
dificultando a ingestão de resíduos de pólvora incombusta e contaminantes externos - como
areia - nas partes críticas desse conjunto da arma, tais como o canal do percussor e o
mecanismo de trava automática deste. Também a janela de ejeção se combina com o
conjunto do cano de forma a vedar totalmente o acesso ao mecanismo quando a arma está
na posição trancada e pronta para o tiro.
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Acima: vistas do conjunto do ferrolho. Observe a vedação dos componentes e os recortes na parte
interna para afastar sujeira e contaminantes das partes críticas ao funcionamento da arma. As cores
avermelhadas na parte interna do ferrolho nas fotografias à esquerda e no centro são efeito da
iluminação no estande e não corrosão, como a fotografia à direita mostra.

O ferrolho apresenta um indicador de munição na câmara que funciona apresentando a


saliência de um pequeno pino metálico quando a arma está alimentada. Na parte posterior
do ferrolho há uma placa de cobertura do mecanismo do percussor, que é removida ao se
pressionar um botão em sua posição central, deslizando-a para baixo a seguir. Ao se fazer
isso, expomos a Firing Pin Unit (FPU), ou Unidade do Percussor, que é um componente de
polímero no qual se alojam o percussor e seu mecanismo de segurança (barra de bloqueio e
mola).

A inserção de um componente de polímero no ferrolho é interessante pois diminui a massa


do ferrolho sem a necessidade de recortes ou orifícios que deixam a arma exposta a
contaminantes, reduzindo a sensação de recuo da arma, uma solução moderna que também
é adotada na nova Walther PPQ Sub Compact. O percussor é feito em aço estampado, mas
mantém a ponta arredondada tradicional, que garante uma percussão confiável da espoleta.
A interação do percussor com o invólucro de polímero garante um deslizamento sem arrasto,
sem a necessidade de lubrificação, ao mesmo tempo em que evita o desgaste do atrito do
metal contra metal.
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À esq: indicador de munição na câmara. À dir: conjunto do ferrolho completamente desmontado.


Observar o FPU todo desmontado.

Setas Vermelhas: as duas metades que compõe o invólucro de polímero do FPU


Seta Amarela: eixo de montagem e fixação do FPU
Seta Verde: barra de bloqueio e mola
Setas Azuis: percussor, mola do percussor e pino de desmontagem
Seta Roxa: placa de cobertura do mecanismo do percussor
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Setas Vermelhas: culatra de aço; Seta Verde: FPU de polímero; Seta Amarela: extrator

À frente da FPU temos uma culatra de aço afixada no ferrolho por um pino elástico, à moda
das SIG SAUER da série P220, onde se encontra um extrator com uma garra de grandes
proporções, aparentando robustez. O extrator não pode ser desmontado sem a retirada da
culatra, mas a visualização e o acesso para a manutenção em primeiro escalão são fáceis.
Ainda parte do conjunto do ferrolho, temos um sistema duplo de molas recuperadoras,
similar ao encontrado nas pistolas mais modernas. Na parte externa temos alça e massa de
miras tradicionais da Taurus, afixado pelo sistema de dovetail, não existindo ainda nesta
versão a previsão para instalação de miras eletrônicas do tipo red dot, tendência que foi
observada nos demais fabricantes neste evento. Completam o pacote as ranhuras para o
manuseio do ferrolho tanto na parte posterior quanto na anterior deste, seguindo as
tendências mais atuais.

Da esq para dir: sistema duplo de molas recuperadoras, cano e rampa/câmara de disparo.
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Acima à esquerda e centro: conjunto de miras. À direita: ranhuras do ferrolho.

Passando para o conjunto da armação, temos um design extremamente ergonômico e


confortável da mesma, como se fosse uma empunhadura de uma pistola Steyr M, porém no
mais tradicional ângulo de empunhadura de uma Colt 1911. A textura do polímero é
apropriada, sem ser muito liso para dificultar a empunhadura com as mãos molhadas ou
suadas, ao mesmo sem ser tão áspero que torne o porte junto ao corpo desconfortável.

À esq: ângulo da empunhadura e textura. À dir: os comandos são botão de desmontagem, trava de
segurança, retém do carregador e retém do ferrolho.

Como dito anteriormente, há um botão de desmontagem da arma na parte interna do


guarda-mato, e também nesse componente há um mecanismo de trava manual que impede
a movimentação do gatilho. Essa trava não existe para aqueles que buscam uma segurança a
mais, o que é desnecessário considerando os mecanismos passivos de segurança existentes -
a serem tratados adiante – mas na realidade objetiva atender os requisitos de algumas
licitações de órgãos militares e policiais. Ela é incorporada no guarda-mato de tal maneira que
é extremamente improvável seu acionamento não intencional, ao mesmo tempo que pode
ser facilmente desengajada com o próprio dedo do gatilho, permitindo ao atirador agir
simplesmente como se ela não existisse, se assim o desejar. Inobstante, a Taurus oferece uma
versão sem essa trava, em que seu espaço é também recoberto pelo polímero injetado no
restante da empunhadura.
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À esq: destravada. À dir: travada

Seguindo adiante, temos o retém do carregador, que é ambidestro, presente em ambos os


lados da empunhadura sem a necessidade de conversão, atendendo a atiradores adeptos às
mais variadas formas de manipulação. Os carregadores das Taurus TS nos calibres 9x19mm e
.40 S&W são importados, produzidos pela famosa fabricante italiana Mec-Gar, reputada pela
qualidade e confiabilidade, e que também fabrica os carregadores das pistolas SIG SAUER, CZ
e Beretta.

Acima: carregadores feitos pela famosa fabricante italiana Mec-Gar.


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Ainda falando dos comandos, temos o retém do ferrolho, que é arredondado e contíguo a
uma superfície ovalada na armação, evitando seu acionamento inadvertido por mais
agressiva que seja a empunhadura adotada. Ele está presente somente no lado esquerdo da
arma, apropriado para os destros.

Na parte traseira da armação, temos um beavertail alto, que permite uma empunhadura bem
elevada, aproveitando ao máximo as vantagens do low bore height – ou pequena altura do
eixo do cano - projetado para essa arma. Logo abaixo do beavertail, temos o módulo da
empunhadura substituível, que adapta a empunhadura a diversos tamanhos de mão.

À esq: empunhadura bem elevada e encaixada. No centro: beavertail alto. À dir: o pino de fixação do
módulo da empunhadura funciona como um passante de fiel.

O sistema de gatilho é, como dito, baseado no sistema Roth-Steyr, e mais conhecido por ter
sido adotado na famosa pistola austríaca desenhada por Gaston Glock. É de dupla ação com
percussor semi-engatilhado, com trava inercial inserida na parte central da tecla do gatilho,
trava de queda por apoio da barra do gatilho até seu curso final, e trava automática do
percussor acionada no final do curso da barra do gatilho, exatamente como as três soluções
de travas passivas existentes em pistolas modernas como a Glock, Steyr M, Smith & Wesson
M&P, CZ P10, Caracal F Enhanced e outras. O resultado é um acionamento bem parecido
com a média dessas pistolas modernas, porém sem uma “parede” tão definida: há um
pequeno curso leve, que engloba o desengajamento da trava inercial do gatilho e, na
sequência, o início do desengajamento da trava do percussor, até que se chega ao limite da
rampa da trava de queda e no início da rampa do desconector, onde normalmente sentimos
uma “parede” bem definida; porém, na Taurus, há apenas um leve aumento de peso, e então
a barra do gatilho, de uma vez e ao mesmo tempo, livra a trava de queda, levanta a trava do
percussor, termina de empurrar o percussor ao final do curso e se desconecta desse,
permitindo o disparo. É uma puxada mais uniforme. Então temos o reset do gatilho, bem
definido e audível como sua congênere austríaca. Bom gatilho. Muito superior a tudo o que
a Taurus já fez até então, tanto em termos de qualidade e sensação de acionamento, como
de eficiência no projeto de segurança.
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Seta Verde: desconector


Seta Amarela: barra do gatilho
Seta Vermelha: rampa da trava de queda
Seta Azul: eixo transversal da barra do gatilho
Seta Roxa: ejetor

Voltando para a parte interior do conjunto da armação, temos que todos os seus
componentes revestidos em níquel químico, deixando-os praticamente imunes à corrosão e
com propriedades de lubricidade, ou seja, com um mínimo de atrito entre si, o que contribui
positivamente para a sensação agradável na puxada do gatilho. A posição e tamanho dos
trilhos e do bloco de trancamento deixam claro que o projeto seguiu a tendência das mais
modernas pistolas striker fired.

O ejetor é bem grande e robusto, sendo um componente à parte, que pode ser substituído
caso venha a quebrar-se, sem a necessidade da troca de outros grandes conjuntos de
componentes. Logo abaixo e atrás do ejetor, temos a rampa da trava de queda, que é de
metal com o revestimento de níquel, ao contrário do plástico utilizado em outras armas,
conectando-se e interagindo com o eixo transversal da barra do gatilho, também no mesmo
material e com o mesmo tratamento de superfície.
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Em resumo, a pistola Taurus TS parece ser uma excelente ferramenta, e os fatos recentes
parecem comprovar isso. As Filipinas acabaram de adquirir uma quantidade muito grande de
pistolas Taurus TS9 após rigorosos testes feitos pelos militares daquele país (não se pode falar
a quantidade exata por questões de sigilo contratual). Na realidade os testes das Filipinas são
considerados mais rigorosos dos que aqueles feitos pela OTAN, com testes de queda mais
elevados, testes de salt spray de maior duração, testes de arrasto e imersão para verificar a
vedação contra corpos estranhos, testes de intercambialidade de peças com múltiplos
cruzamentos, testes de durabilidade com 20 mil disparos ininterruptos por exemplar, entre
outros, sendo que a pistola da Taurus passou por todos incólume. Inobstante isso, as pistolas
Taurus TS estão passando pelo processo de certificação AC225 da OTAN.

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