CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS
O Epicurismo: busca de uma felicidade relativa, sem desprazer ou dor, através de um estado de
ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação).
A fugacidade da vida e a fatalidade da morte (ela deverá ser aceite com tranquilidade: não sofre
a morte quem nada tem que o prenda à vida, disse Epicuro).
O gozo dos prazeres com grande moderação (já que são efémeros e, como diz Epicuro, se devem
caracterizar sobretudo pela ausência de dor, pois quando terminam, só deixam sofrimento).
As ameaças do Fado (entidade implacável que oprime deuses e homens), da velhice e da morte.
O elogio da vida rústica (“aurea mediocritas” de Horácio): em que a sua felicidade só é possível
no sossego do campo e em ambientes bucólicos (comparável a Caeiro). A “aurea mediocritas”
representa uma vida calma, fora da cidade, em contacto com a natureza e no conforto dos
honestos prazeres quotidianos e domésticos, a fim de que o espírito, liberto das inquietações da
vida pública, possa dedicar-se às letras, às artes e à filosofia.
O sentimento de gozo pelo momento presente , o “carpe diem” horaciano (com a consequente
despreocupação de tudo quanto se relacione com o futuro).
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CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS
O uso de latinismos.
A preferência pela ode (influência de Horácio), com estrofes regulares, nas quais predominam os
versos decassilábicos e hexassílabos.
A cuidada seleção de fonemas ou vocábulos sugestivos das ideias que pretende exprimir.
Ricardo Reis vai seguir a mesma linha de Alberto Caeiro no que se refere ao amor
demonstrado pela vida rústica e ligada à Natureza. Pretende ser um homem menos
complicado, franco, alegre, que sofre e vive intensamente o drama da transição, com o
desprezo que os deuses lhe conferem. Teme a morte antecipada e a dureza do Fado (destino).
Procura o refúgio de forma lúcida e cautelosa, construindo para si próprio uma felicidade
relativa, mista de resignação e um moderado gozo de prazeres que nunca põem em causa a
sua liberdade interior.
O vocabulário usado por Ricardo Reis é muito latinizado, com um estilo densamente
trabalhado, recorrendo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre em
decassílabos, com referências a fatores mitológicos.
Ricardo Reis, na sua poesia, acusa uma influência que provém de Horácio. Ambos são
moralistas e fundam a sua filosofia na reflexão sobre o fluir do tempo, os enganos da Fortuna
e a morte.
Ambos descrevem a breve passagem da vida humana, a necessidade de não desvendar o
futuro; pregam a moderação nos desejos e nos prazeres, as delícias e vantagens de viver em
contacto com a Natureza e toda a sua beleza. Têm consciência que, mesmo assim, não se
encontra a felicidade plena, mas que, tendo consciência do infortúnio, devemos encarar a vida
com um sorriso.
Para Ricardo Reis, o pensamento está na base de tudo, é o ponto de partida para tudo. Será ao
pensamento – ao conteúdo, ao significado – que terá que submeter-se a expressão. O
pensamento e a expressão deverão ligar-se naturalmente de modo que, se a ideia for elevada,
também a expressão que a veicula o será.