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Sequeira (1/2/2019)
José Ribeiro tem 67 anos e corre desde os tempos do Liceu. Já correu em 19 países e
maratonas nos cinco continentes. Ganhou 11 medalhas em Europeus e Mundiais de
Veteranos. De grande dinamismo, já foi treinador, juiz, dirigente, organizador, já fez um
pouco de tudo na modalidade.
José Ribeiro nasceu em Braga em 1951. Reformado da sua atividade como professor de
Educação Física, o desporto fez parte da sua vida desde os primeiros anos do Liceu.
“Tenho dorsais em material de pano como corredor, com o ano de 1966/1967. Desde
essa data, pratiquei várias modalidades desportivas, como federado no SC de Braga
atletismo e futebol (Juvenis)”. Neste momento, ainda joga voleibol e futebol de salão
uma vez por semana com os amigos.
Participa em cerca de vinte provas por ano, contando com as de pista. Não hesita em
eleger a maratona como a sua prova preferida mas reconhece: “agora demoro mais
tempo e custa mesmo…” Já as provas que lhe deixaram recordações menos agradáveis,
foram aquelas em que teve de desistir por lesão.
Para saber quantas maratonas já completou, teve de analisar os seus registros de treino
desde a década de 80. São cerca de 40 e com algumas Ultras. A primeira foi na Foz do
Arelho, no Campeonato Nacional do INATEL em 1982. Participaram 36 atletas e
terminou em 2h49m50s, menos dez segundos do tempo então almejado.
Como amante das maratonas, elege como suas preferidas, as dos Campeonatos
Mundiais de Veteranos e a do Deserto do Sahará, esta em 2002.
Para quem corre há mais de 50 anos, deixar de correr está longe do seu horizonte.
“Enquanto houver capacidade de resposta, enquanto não aparecer algo impeditivo,
lesão… Vamos vendo”…E complementa: “Só uma modalidade individual permite esta
prolongada participação regular em competições”.
Já ganhou 11 medalhas, sete por equipas e quatro individuais, uma de ouro, uma de
prata, uma de bronze em Maratonas e uma de prata em 20 Km (Masters).
Naturalmente que as provas mais marcantes, foram aquelas que lhe permitiram subir ao
pódio. Correu a Maratona na Austrália já com mais de 50 anos em 2h44m50s. “Foi um
excelente tempo, mas não o melhor na distância”.
Por vezes, não é o facto de ganhar uma medalha que nos deixa melhores recordações.
Foi o caso da sua participação numa maratona na Turquia. “Sem medalha mas com uma
temperatura de quarenta e tal graus que permitiram completar uma Maratona nos cinco
Continentes, ficou também marcada”.
Sendo um habitual participante nas provas de estrada e Trails, José Ribeiro transmite-
nos as diferenças que encontra entre ambas: “Na estrada, a competição é/ será mais
premente, permite aferir tempos, resultados. ‘Obriga’ a um esforço mais contínuo e a
um ritmo certo, no final vamos ao limite ou quase. No Trail, não permite comparar
tempos, tem dificuldades diversas, com pisos e desníveis inesperados. Nunca sabemos
quanto falta para finalizar, logo temos que guardar reservas para algo que surja no
fim… Não permite um ritmo contínuo, muitas vezes até deixamos de correr pela
dificuldade do percurso, o que até permite um recuperar de energias (?)”
Evitar as operações
Ao contrário do que mandam as boas regras, José Ribeiro não é adepto de “visitas
regulares” ao médico, só mesmo em último caso.
Com tantos quilómetros nas pernas, as lesões vão aparecendo inevitavelmente. De mais
complicado, o aparecimento de calcificações nos dois calcanhares, tendão de Aquiles, o
que o impede, quando acumula com a inflamação, um treino e uma participação
consequente. “Torna-se muito custoso, mas já me ‘habituei’ às dores… Até hoje, preferi
não arriscar as operações”.
Quanto à alimentação, tem os cuidados que todos os cidadãos devem ter com a mesma.
“Alimentação variada, sem repetir o mesmo, sem fritos, poucas gorduras, sem pisas e
afins, enfim comida portuguesa”.
“Tão cedo não haverá atletas em quantidade com a qualidade que já tivemos no final do
século passado”
Futuro da modalidade: nas corridas populares e nas provas técnicas
José Ribeiro encara de forma diferente o futuro da modalidade nas corridas populares e
provas técnicas. Na sua opinião, teremos cada vez mais participantes nas corridas mas
boa parte deles nunca serão federados. Já as provas de pista, continuarão a ter um
número reduzido de praticantes.
Para aumentar o número de federados, pensa que as provas de pista deviam ter algo
mais motivador para atrair atletas, como Provas Abertas a não federados ou as pistas
estarem abertas aos treinos sem custos.
“Mas penso que tão cedo não haverá atletas em quantidade com a qualidade que já
tivemos no final do século passado. Nas provas técnicas, poderemos também não ter
uma quantidade significativa, mas na qualidade em termos internacionais, poderão
aparecer atletas com mais frequência”.
Para José Ribeiro, o facto de as organizações das provas estarem cada vez mais
entregues a empresas da especialidade, permitiu melhorar o nível. “Poderá haver uma
ou outra com aspetos a corrigir mas no essencial, as provas atingiram patamares muito
aceitáveis. Reparo que nalgumas com milhares de participantes, o espaço da partida não
será o melhor, mas por conveniência de ser no centro da localidade, a alternativa será
escassa”.
As críticas mais frequentes que vai ouvindo têm a ver com o preço das inscrições,
particularmente das provas com mais participantes. Já nos trails, o nível não será tão
elevado como na estrada: “Nos trails, existem inúmeros com organizações menos
experientes, que exigem cuidados especiais. Algumas vezes têm falhas mais gritantes,
mas cada prova tem as suas características próprias”.
“Todos correm em grupo, quando existe alguém a deslocar, a malta da frente dá volta(s)
a praças até recolocar todos no grupo.”
Para tornar as corridas mais agradáveis, todas as semanas existe um tema, com visitas a
locais especiais, monumentos, instituições etc, onde se tira uma foto de grupo. “Temos
rituais, para começar e acabar, damos uma volta à fonte, fazemos a onda em plena
corrida. Cantamos, etc. Num raio de aproximadamente 3,5 km já passámos em todas as
avenidas, ruas, praças, ruelas, escadas, caminhos da cidade. Nunca passamos
passadeiras com sinais vermelhos e vamos preferencialmente por passeios. No fim,
temos sempre alongamentos e por vezes, paramos a meio para fazer alguns exercícios”.
Sendo um homem de grande dinamismo, José Ribeiro tem desempenhado mil e uma
funções no mundo das corridas. Para além de ter sido um dos fundadores da antiga
Volta ao Minho com a duração de 10 dias, já foi treinador, juiz, dirigente, organizador
de provas de estrada e trail, atleta e pertenceu ao CNEC (FPA). “Será difícil repetir isto
tudo. Como atleta, quero continuar a ter o gosto de participar e tudo o que aparecer a
mais, será bem-vindo. Vou continuar a dar apoio nalgumas provas, como a Geira
Romana, atenção às Voltas Pedestres ao Minho que se realizam anualmente em
Setembro por esse país fora”.
Estórias não faltam a Zé Ribeiro. Uma delas passou-se numa das muitas corridas
“caseiras”. O seu objetivo era apenas participar na festa e nem sabia bem a hora da
partida. “Vou no meu carro e quando chego ao local, vejo os meus amigos com umas
dezenas de metros já percorridos. Claro que deixo o carro, quase no meio da rua, nem
tranquei as portas, tiro o fato de treino e levanto o dorsal e toca a ir atrás dos demais
atletas. Apesar da prova ser curta, apenas 6 km, ainda consegui passar os mais atrasados
e não foi dessa vez que fiquei em último…”
Esta passou-se numa corrida de orientação, com muitos trilhos e caminhos pelos montes
e campos. “Quando vou calçar as sapatilhas, elas tinham ficado em casa. Como não
havia ninguém com sapatilhas para mim, tive que ir com o que tinha calçado, que era
uns ‘croques’, que devido às minhas calcificações nos tendões, não podia colocar a alça
atrás. Resultado, perdi a conta ao números de vezes que tive que voltar atrás para calçar
as ditas que se perdiam pelo caminho. Resultado final, alguns picos dos ouriços como
medalhas”.