Você está na página 1de 8

Mudanças – Psicologia da Saúde, DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.

v21n2p48-55 Copyright 2013 pelo Instituto Metodista de


21 (2), Jul-Dez 2013, 48-55p Ensino Superior CGC 44.351.146/0001-57

Reflexões acerca da abordagem da morte com crianças


Adelise Salvagni*
Sabrina Dal Ongaro Savegnago**
Júlia Gonçalves***
Alberto Manuel Quintana****
Carmem Lúcia Colomé Beck*****

Resumo
O presente artigo objetiva refletir acerca da abordagem do tema morte com crianças. Para tanto, serão apresentadas
algumas reflexões a partir de questões teóricas encontradas na literatura. Percebe-se a importância de falar com a
criança sobre a morte, a fim de que ela possa elaborar as perdas que vier a vivenciar. Para que se tenham conversas
francas com ela, é necessário que o adulto esteja preparado para este momento, de forma a considerar a linguagem
da criança, bem como suas particularidades, desde seu nível cognitivo até suas experiências de perda. Dessa forma,
será possível abordar adequadamente o tema, esclarecendo e respeitando a capacidade de compreensão da criança.
Palavras-chave: morte; educação; criança.

Reflections on how to talk with children about death

Abstract
This paper aims at reflecting on how to deal with the subject of death with children. Therefore, we will present
some reflections based on theoretical issues found in literature. It is important to talk with children about death, so
they can elaborate the losses they may experience. In order to have honest conversations with them, adults must be
prepared for this moment, considering the children’s language as well as their peculiarities, from their cognitive level
to their experiences of loss. Thus, it will be possible to adequately address the issue, clarifying and respecting the
child’s ability to understand.
Keywords: death; education; child.

* Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: adesalvagni@hotmail.com.
** Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.
*** Psicóloga, especialista em gestão de pessoas e marketing, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.
**** Psicólogo. Doutor em Ciências Sociais (Antropologia Clínica), professor do curso de Psicologia e dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia (mes-
trado) e Enfermagem (mestrado) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
***** Doutora em Enfermagem. Docente dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem (mestrado) e Psicologia (mestrado) da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM).
A morte é intrínseca ao desenvolvimento humano, inclusive as crianças, costumavam entrar e circular livre-
estando presente e deixando sinais em todas as fases da mente no espaço onde se encontrava o moribundo. A
vida dos indivíduos. A partir disso, pode-se questionar morte era vista com familiaridade e naturalidade, sendo
acerca de como preparar as pessoas para a morte, já encarada com dignidade e aceitação.
que ela é parte da existência (Kovács, 2005). Essa pre- A partir do século XI até o século XIV, a morte é
paração torna-se importante quando se consideram os marcada pelo conceito de “morte de si”, ou seja, o ser
profissionais da saúde, já que estes estão em constante humano reconhece a finitude de sua própria existência,
contato com a morte em sua prática, e os profissionais tratando-se de um sentimento mais individual e interio-
da educação, por sua vez, como facilitadores da reflexão rizado. Nos séculos XIX e XX inicia-se um processo de
sobre diversos temas, inclusive este. afastamento social da morte, tendo em vista que, quando
As pessoas têm se ocupado com questionamentos, e ela se dá com o outro, é vista de forma dramática e difícil
as respostas surgem de diversos âmbitos, como a religião, de suportar (Ariès, 1977).
a ciência, a arte, a filosofia. Porém, não há uma resposta É a partir do século XX que a morte passa a ser
que possa ser considerada completa e universal (Kovács, ocultada e escamoteada; morrer torna-se sinônimo de
2005). Falar sobre a morte pode nos trazer temores, ge- vergonha e tristeza, sendo que o processo é vivido de
rar angústia e resultar no desejo de evitar este assunto. forma solitária, ocorrendo normalmente nos hospitais e,
Entretanto, esta é uma parte da vida. Como seres mortais portanto, longe dos familiares. Na sociedade contempo-
e humanos, diferenciamo-nos de outros pela consciência rânea, este evento não é considerado natural; é um tabu,
sobre a finitude de nossa existência. A certeza da mor- não podendo ser pensado e falado nas famílias e nas
te é um dado que perpassa a nossa concepção sobre o instituições (Ariès, 1977). Além disso, recusa-se a morte
homem. Porém, quando se associam as palavras morte e, dessa forma, a angústia causada pela ideia de abordá-la.
e criança ocorre um estranhamento, pois tais palavras Quando se fala sobre o tema, isso não é feito de forma
parecem contraditórias (Vendruscolo, 2005). aberta e livre, mas sim reservada (Hennezel, 1999, 2006).
Dessa forma, o tema da morte torna-se ainda mais Nota-se, dessa forma, que apesar das evoluções no âmbi-
interdito no caso de crianças, uma vez que elas estão to científico, a morte ainda é temida e negada e continua
relacionadas socialmente com a vida, e não com a morte. causando medo e pavor (Kübler-Ross, 1989). O ponto
Assim, evita-se falar do tema na presença delas, por se essencial da diferença no modo de lidar com a doença e
acreditar que elas não estão emocionalmente preparadas a morte na Idade Média e hoje refere-se à separação que
para lidar com o assunto (Chiattone, 2003). se faz atualmente entre a vida, a doença, a naturalidade
O presente artigo objetiva refletir acerca da aborda- do adoecer e a fatalidade de morrer, carregadas de um
gem da morte com crianças a partir de alguns aspectos “pessimismo existencial”, da depressão que domina o
encontrados na literatura. Nesse sentido, inicialmente se- homem da sociedade industrial, como se uma não tivesse
rão tecidas algumas considerações sobre a morte e como relação com as outras. Na Idade Média, a morte estava
ela foi vista ao longo da história no Ocidente. A seguir, nas salas de visita; hoje ela é escondida na instituição
serão apresentados o conceito e suas dimensões, assim hospitalar (Pitta, 2010). Além disso, as pessoas vivem as
como os resultados de algumas pesquisas sobre os fatores perdas isoladamente, não podendo contar com a solida-
que influenciam na construção e no desenvolvimento riedade e o conforto que se tinha no passado em relação
desse conceito pela criança. Na sequência, a discussão ao luto. Isso ocorre porque na sociedade atual o sofrer é
centra-se nas formas de abordagem do tema morte na in- indício de desvantagem (Chiavenato, 1998).
fância, esclarecendo alguns dos motivos pelos quais é tão Da Idade Média ao século XIX, a morte de crianças
difícil falar sobre ele. Finalizando, são elencadas algumas não era considerada relevante. Não era dado à infância
considerações sobre as maneiras mais adequadas de tratar seu valor e a criança era vista como um ser sem perso-
a temática com crianças. nalidade formada; assim, ao morrer ela era facilmente
substituída por outra. No século XIX, a preocupação
Algumas considerações sobre a morte das mulheres e dos clérigos fez com que se criasse um
Ariès (1977) destaca que a atitude perante a morte mundo imaginário para abrigar as crianças que morriam.
foi se modificando ao longo da história. Assim, o autor E é neste mesmo século, com a burguesia, que a morte
caracteriza a morte durante a Idade Média como sendo na infância tornou-se intolerável. A partir desse período,
domada, ritualizada e pública. Neste período, as pessoas, a morte de uma criança passa a ser vista como a mais
50 Adelise Salvagni et al.

cruel das mortes, sendo ocultada e silenciada sempre que iniciais de vida, o bebê tem a experiência da ausência ma-
possível (Chiattone, 2003). terna, sentindo que ela não está presente o tempo todo.
Na sociedade capitalista, o homem é visto como um Estas primeiras ausências são vivenciadas pela criança
ser produtivo, consumista e capaz de ter algum controle como mortes, pois ela se sente sozinha e desamparada.
sobre a vida, o que faz com que ele se afaste ainda mais São períodos breves de ausência, sempre seguidos pelo
da possibilidade de morrer. A morte, aqui, significa parar reaparecimento de alguém (Kovács, 1992). Mas estas
de produzir, além de causar o fim do ser social, ou seja, impressões iniciais ficam marcadas e apontam para a re-
do ser consumista. Daí a busca pelo poder de controlar presentação de “morte como ausência, perda, separação
a vida, sem considerar a possibilidade da morte (Chiat- e a consequente vivência de aniquilação e desamparo”
tone, 2003). (Kovács, 1992, p. 3).
Percebe-se ainda que a morte é banalizada pelas Além disso, o ser humano vive situações de perda
agências de notícias, que reproduzem situações trágicas e desde seu nascimento, como a perda útero materno, o
sanguinárias, dando a ideia de que este evento seria um desmame, a retirada da chupeta, o nascimento de irmãos
espetáculo. Ainda, a invenção de novas tecnologias capazes (o que pode levar a um sentimento de perda da atenção
de matar muitas pessoas ao mesmo tempo faz com que dos pais), a morte de um animal de estimação, a separa-
o homem não consiga mais se defender fisicamente da ção dos pais, dentre outras. Estas vivências possibilitam
morte e procure, então, defender-se dela psicologicamente à criança enfrentar o sofrimento e a frustração causados
(Kübler-Ross, 1989). Para Kovács (2003a), as fortes ima- pela perda. Assim, perante estas situações e diante da
gens e cenas de morte nos programas e desenhos infantis possibilidade da morte real de uma pessoa querida, a
deveriam ter uma forma mais adequada de apresentação, criança vai tentar ter uma compreensão do que ocorre
com mais discussões e menos banalizações sobre o tema. consigo no ambiente em que se encontra (Borges, Genaro
A morte não deveria ser abordada apenas no fim da & Monteiro, 2010).
vida, mas durante toda a existência, tendo seu início na O conceito de morte não é unitário, por isso deve
infância (Kovács, 2003b). No entanto, em geral se pensa ser abordado de maneira multidimensional a partir da
que as crianças não estão preparadas emocionalmente irreversibilidade, não funcionalidade e universalidade, a
para isso, que não conseguem lidar com um tema tão fim de que se tenha a percepção acerca da compreensão
aterrorizante como este (Kovács, 1992; Kübler-Ross, das crianças nas diferentes fases do desenvolvimento.
1989). O que se percebe é que a sociedade contemporâ- Assim, é importante a definição das dimensões principais
nea, muitas vezes, supõe que a criança não compreenda a do conceito (Torres, 1999).
morte e, dessa forma, considera prejudicial tudo que lhe Irreversibilidade, não funcionalidade e universalidade
é associado. Com isso, lida-se com a morte mantendo um são considerados indicadores fundamentais do desenvolvi-
silêncio amedrontador, desconversando ou protegendo- mento do conceito de morte. A irreversibilidade refere-se à
-se com metáforas, quando se trata de conversar com os compreensão de que um ser com vida, quando morre, não
pequenos sobre esse tema (Lima & Kovács, 2011). pode tornar a viver; está vinculada à ideia da morte como
Essa concepção considera as crianças pequenas algo final, inalterável e permanente. No caso das crianças
demais para receberem informações sobre um assunto que possuem uma concepção que leva em conta a existên-
como a morte. A partir desse pensamento, surgem as cia de uma vida espiritual, apesar de haver a compreensão
mentiras ou histórias fantasiosas contadas às crianças para da irreversibilidade da morte, considera-se que a pessoa
esconder uma realidade sobre a qual, sem dúvida, elas vão morta permaneceria vivendo espiritualmente (Nunes, Car-
interrogar. Com isso, a confiança que ela tem no adulto raro, Jou & Sperb, 1998; Torres, 1999). De acordo com
fica ameaçada. Em algum momento, o acontecimento da Kovács (1992), muitos adultos ainda têm presente em sua
morte vai se tornar evidente para esta criança, podendo fantasia a atribuição da característica de reversibilidade da
fazer com que isto seja para ela algo misterioso, apavo- morte. Em tentativas de suicídio, por exemplo, a pessoa
rante e traumático (Aberastury, 1984; Kübler Ross, 1989). pode ter a fantasia de “morrer só um pouco”, a fim de
que o outro sinta sua falta ou sinta-se culpado.
A construção e o desenvolvimento do O conceito de não funcionalidade diz respeito à
conceito de morte pela criança ideia de que com a morte as funções vitais são interrom-
O conceito de morte está presente no desenvol- pidas. Já a universalidade está relacionada ao entendimen-
vimento humano desde muito cedo. Logo nos meses to de que tudo o que é vivo morre, ou seja, a morte é um

Advances in Health Psychology, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55
Reflexões acerca da abordagem da morte com crianças 51

acontecimento inevitável. As crianças que não alcançaram apresentaram um conceito de morte mais desenvolvido.
a compreensão da universalidade acreditam, por exemplo, Além disso, destacou-se a influência das informações e
que a morte pode não ocorrer para alguns seres “espe- crenças transmitidas pela mídia e pelo discurso materno.
ciais”, tais como pessoas queridas ou animais grandes e A partir de um estudo com 165 crianças acometidas
ferozes (Nunes et al., 1998; Torres, 1999). por doenças crônicas, Torres (2002) refere-se ao enten-
Ao longo de seu desenvolvimento, a criança acom- dimento do conceito de morte para crianças, salientando
panha as mortes reais que a rodeiam tentando entender o que também é preciso avaliar suas condições socioeconô-
que acontece. Com isso vai formando concepções sobre micas. Os dados apresentados parecem indicar que a do-
a morte (Chiattone, 2003). Até os cinco anos ela percebe ença crônica por si só não agrava a defasagem cognitiva já
a morte como uma separação que pode se reverter. A encontrada nas crianças sadias em condição de carência.
partir dos cinco anos, começa a perceber a imobilidade Assim, constatou-se que a condição socioeconômica
das pessoas mortas, mas ainda não entende totalmente exerce uma influência grande sobre a psicogênese no
as diferenças entre um ser inanimado e um ser animado. que concerne ao desenvolvimento cognitivo. No mesmo
Com sete anos a criança compreende a noção de causa estudo, embora se confirme que não foram encontradas
e efeito, o que lhe permite imaginar motivos causadores diferenças no nível cognitivo de crianças portadoras de
da morte. Por volta dos nove, dez anos, entende que a doenças crônicas e crianças sadias, a doença crônica pode
morte é irreversível, universal, permanente e inevitável. manifestar-se inicialmente como um fator desestruturan-
Assim, ela já percebe a diferença entre seres inanimados te e de lentificação na aquisição do conceito de morte.
e animados e também reconhece que a morte é uma Porém, posteriormente, o confronto com o sofrimento
etapa da vida. e a ameaça de morte surgem como fatores de amadure-
A criança compreende a morte e adquire os concei- cimento na aquisição das três dimensões da morte.
tos acima citados dependendo de seu desenvolvimento Outra pesquisa, realizada por Roazzi, Dias e Roazzi
cognitivo global e idade. Estas variáveis têm sido empre- (2010) com 92 crianças com idades entre 6-8 e 10-12
gadas nas investigações sobre a aquisição do conceito de anos, teve como objetivo investigar quando as concep-
morte (Nunes, Carraro, Jou & Sperb, 1998; Torres, 2002). ções religioso-metafísicas e secular-biológicas surgem no
Para além disso, a elaboração cognitiva deste conceito desenvolvimento do conceito de morte. A perspectiva
também pode sofrer a interferência de aspectos afetivos secular-biológica considera a morte um ponto terminal,
e emocionais, já que este tema está envolto por grande em que a vida acaba de maneira irreversível e completa.
carga emocional (Kovács, 1992). Já a concepção religioso-metafísica considera a morte
Embora a maioria das pesquisas constate a relação uma metamorfose, o início de outro tipo de vida, uma
entre o desenvolvimento cognitivo e o conceito de morte, transição, e não um fim. O estudo aponta que as crianças
percebe-se que falta especificidade suficiente para que lançam mão das duas perspectivas na busca pelo enten-
se possa explicar por que determinada etapa do desen- dimento da morte. Nota-se que há um maior uso da
volvimento intelectual é um pré-requisito para que um concepção secular-biológica para explicar a finitude do
nível particular de compreensão de conceitos abstratos, corpo e uma maior utilização da perspectiva religioso-
como o de morte, seja alcançado. Falta uma descrição -metafísica para a compreensão da possível continuidade
detalhada das aptidões específicas logicamente implícitas de processos mentais em uma vida após a morte. Assim,
na compreensão do conceito de morte (Torres, 2002). nota-se uma percepção dualista das crianças participantes
Pesquisas têm discutido e apresentado o tema da da pesquisa, na qual os processos corporais são vistos de
morte relacionado à infância, sendo que três estudos forma separada e independente dos processos mentais.
apresentados a seguir mostram-se relevantes, pois salien- Além disso, os autores salientam que a construção
tam fatores que influenciam na aquisição deste conceito. do conhecimento de morte é influenciada pela cultura na
Uma pesquisa realizada por Nunes et al. (1998) com qual a criança está inserida, que fornece noções biológi-
crianças pré-escolares de seis e sete anos de idade aponta cas, religiosas e metafísicas sobre a morte. Os conheci-
que, tanto as vivências da criança com relação à morte mentos de biologia podem ser adquiridos na escola, por
quanto as representações formais disponibilizadas pela meio dos ensinamentos sobre o funcionamento do corpo
cultura contribuem na formação do conceito de morte. e a partir das experiências concretas pelas quais a criança
No estudo, as crianças mais velhas e aquelas que tiveram possa vir a passar, como a morte de insetos ou animais
uma maior relação com a morte de pessoas próximas de estimação. Já as concepções religiosas e/ou metafísicas

Mudanças – Psicologia da Saúde, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55
52 Adelise Salvagni et al.

sobre uma possível continuidade da vida após a morte própria finitude, com os medos e as ansiedades referentes
podem ser adquiridas pela criança pelos ensinamentos à morte e ao morrer (Torres, 1999). O adulto também
religiosos advindos da família, comunidade ou igreja, ou utiliza como argumento para não conversar o fato de que
ainda pelo contato com filmes e programas de televisão ela nada saberia a respeito de sua vida (Kovács, 1992), ou
que apresentam elementos metafísicos ligados à morte então que verbalizar sobre a morte poderia traumatizá-
(Roazzi et al., 2010). -la quando, na verdade, o não falar reflete a dificuldade
A partir do exposto, percebe-se que diversos fato- do próprio adulto em enfrentar a perda (Domingos &
res influenciam a construção do conceito de morte pela Maluf, 2003).
criança. Salienta-se a importância de atentar para os Assim, para poupar a criança de ser ferida, e tam-
aspectos cognitivo, afetivo, emocional, cultural e socioe- bém para não se ferir, o adulto silencia a morte, justifi-
conômico, bem como considerar as experiências infantis cando o silêncio por uma não compreensão da criança,
relacionadas à morte. argumento que, na verdade, é falso. Porém, essa tática do
silêncio é uma estratégia inútil, além do que inibe a crian-
Morte e infância: é possível o diálogo? ça. Essa argumentação é inútil, no sentido que a criança
Falar de morte não faz parte do cotidiano e sua sabe mais sobre a morte do que pensam os adultos, o
ocorrência gera desestabilidade até mesmo nos hospitais que pode ser visualizado por meio de jogos, fantasias e
onde ela ocorre com frequência. Mesmo os profissionais de estudos sobre o tema. E é inibidora, pois a criança
da saúde podem ter receio de tocar no assunto para não entende o silêncio como denotando que ela não possa
perderem o autocontrole, como ocorre com a família e manifestar-se por meio de questionamentos e sentimentos
o paciente (Ariès, 1977). sobre o assunto (Torres, 1999). Uma informação clara e
A morte não ocupa a vida na infância em nenhuma uma comunicação aberta sobre os fatos e circunstâncias
forma de aproximação, seja pela morte da própria criança, da morte facilitarão o reconhecimento da perda (Lima
pela perda de alguém próximo de sua convivência ou de & Kovács, 2011).
um bichinho de estimação. Essa concepção errônea favo- A criança possui grande capacidade de observação
rece atitudes inadequadas dos adultos com as crianças que e, nas situações em que o adulto evita falar sobre a mor-
vivenciam situações relacionadas à morte. Algumas dessas te com ela, pode reagir pela manifestação de sintomas
atitudes são: evitar o assunto, minimizar o sofrimento que (Aberastury, 1984; Kovács, 1992). O adulto pode acreditar
eles próprios estão sentindo para poupar a criança, utilizar que não falar seja uma proteção à criança, como se isto
eufemismos que a confundem ainda mais, e até mesmo pudesse aliviar a dor e modificar de maneira mágica a
criar mentiras que venham substituir a situação que envolve realidade (Kovács, 1992; Nunes et al., 1998). Porém, o
a morte (Vendruscolo, 2005). De acordo com Aberastury que acontece é que esta atitude pode gerar confusão e
(1984), a situação pode tonar-se ainda mais complexa quan- desamparo na criança, que não tem com quem conversar
do várias pessoas próximas da criança apresentam versões sobre o assunto. Nos casos em que a criança perde um
diferentes para explicar a morte, como a invenção de uma membro da família, falar dessa morte não significa gerar
viagem, a afirmação de que o ente querido está no céu ou ou aumentar a dor, mas pode aliviá-la e ajudar na elabo-
que está doente e em breve retornará. ração do luto (Kovács, 1992). Além disso, dialogar com
Todas as crianças já passaram por alguma experi- a criança sobre a morte de forma franca faz com que ela
ência de contato com a morte, seja pela perda de um consiga lidar com os medos que porventura existam justa-
bichinho de estimação ou pela morte de algum parente ou mente pelo que desconhece sobre o tema (Kovács, 2012).
amigo, ou ainda pela visualização de situações de morte O trabalho psicanalítico com crianças revela que elas
em noticiários, filmes ou novelas expostos pela mídia. percebem acontecimentos que lhes são encobertos e, ape-
Apesar disso, muitos adultos acreditam que a criança sar de não expressá-los verbalmente, seus conhecimentos
nada sabe sobre a morte e, por isso, deve ser poupada manifestam-se por meio de brincadeiras, jogos, desenhos
(Kovács, 1992, 2012). ou outras formas de expressão. Em alguns jogos infantis,
Dialogar com a criança acerca da morte não é tarefa como esconde-esconde, mocinho e bandido, a morte é
fácil, pois o adulto crê que assim a estaria protegendo. simbolizada (Kovács, 1992).
Pensa-se que falar com a criança sobre este assunto seria As atitudes dos pais e professores no sentido de
o mesmo que feri-la. Além disso, conversar com a criança suavizar as perdas por pensarem que a criança não está
sobre essa temática implica o adulto deparar-se com sua preparada para ouvir sobre o tema podem causar o de-

Advances in Health Psychology, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55
Reflexões acerca da abordagem da morte com crianças 53

senvolvimento de angústias no futuro. Isso também pode que é importante o esclarecimento da situação de morte.
trazer dificuldades no enfrentamento das perdas que ela A partir dele, a criança compreende e assimila o aconteci-
terá ao longo da vida. Essa suavização pode vir por meio do, construindo seu conceito de morte com as verdades
de frases que digam que o morto está no céu, ou que ditas e o entendimento que lhe é possível.
virou uma estrela, ou que foi viajar (Torres, 1999). Ou Uma das causas de morte assinaladas com frequên-
seja, o adulto, em geral, não só se nega a explicar sobre cia pelas crianças é a velhice. Porém, esse ponto de vista
a morte como também tenta, muitas vezes, afastá-la ma- pode resultar em uma paralisação no desenvolvimento
gicamente (Nunes et al., 1998). dessa criança se ela pensar que para salvar-se da morte
Um episódio de morte é acompanhado por tentativas precisa parar de crescer. Assim, se o adulto quiser expli-
de explicações, pela dor e por intensas emoções. Nestas car com prudência, deve fazê-lo respeitando cada etapa
situações, o processo de luto faz-se necessário. Assim como cognitiva e, em alguns momentos, terá que desconstruir
o adulto, a criança também processa suas perdas, chora, crenças próprias dessas etapas para que não ocorra uma
desespera-se e, depois, se conforma. Ela não manifestará crise maior (Torres, 1999).
sua dor se não souber que ocorreu uma morte, porém ela Apesar da importância de se falar a verdade sobre a
nota que alguma coisa sucedeu, pois as pessoas à sua volta morte, o adulto também precisa considerar que a negação
agem de maneira diferente (Kovács, 1992). da morte pela criança diante de alguns aspectos pode
Quando uma criança apresenta alteração de com- caracterizar-se como algo positivo e necessário. Assim,
portamento diante de uma morte, isso pode represen- o importante estaria em perceber quando essa fase de
tar um sintoma do processo de luto. A possibilidade negação é superada, pois quando o clima de irrealidade
de a criança expressar seus sentimentos permite-lhe ocorre sem que a criança precise dele, pode haver conse-
aproximar-se de sua experiência ante a morte do ente quências mais preocupantes do que as que se teria com
(Vendruscolo, 2005). A escamoteação da verdade pode a percepção da realidade (Torres, 1999).
perturbar o processo de luto da criança e seu relacio- Ao falar com a criança sobre a morte, é necessário
namento com o adulto. Como ele, a criança também usar palavras e experiências que possam ser compreendi-
desejaria negar a morte, porém quando a realidade não das e assimiladas por ela, ou seja, que estejam adequadas
corresponde ao que lhe é dito, fica totalmente confusa a seu nível de desenvolvimento (Anton & Favero, 2011;
e frustrada. A negação é a primeira reação perante a Borges, Genaro & Monteiro, 2010; Kovács, 1992; Nunes
perda de uma pessoa amada. Nos casos em que o adulto et al., 1998). Os esclarecimentos mais adequados são os
reforça essa negação diante da criança, torna-se difícil a sinceros, diretos e que levem em conta o que for possível
evolução para outras etapas do luto (Aberastury, 1984; da experiência da criança. Por exemplo, deve-se consi-
Kovács, 1992). Após o momento em que a criança ex- derar se a criança já viveu alguma experiência de perda,
pressa seus sentimentos diante da morte de um ente, se entende a possibilidade de morte de um conhecido,
iniciam-se os questionamentos e a busca de soluções se possui uma enfermidade grave e esteja ameaçada de
concretas. Dessa forma, é preciso mergulhar no mundo morte pessoal e se ela tem outra forma de experiência
imaginativo desta criança para estar com ela em seus com a morte, como a morte violenta. Em suma, é ne-
sentimentos (Vendruscolo, 2005). cessário que se tenha preparo para dialogar com uma
Lima e Kovács (2011), em seu estudo sobre a comu- criança acerca do tema a fim de que se possa considerar
nicação da morte de parentes à criança, ressaltam que os sua sensibilidade (Torres, 1999).
processos familiares constituem determinantes cruciais da As próprias palavras da criança podem ser um fa-
adaptação saudável ou disfuncional à perda. A comuni- cilitador, permitindo que se estabeleça um diálogo e que
cação intrafamiliar é vital no curso do processo de luto se formulem questões junto a ela. Deixar a criança dar o
infantil, uma vez que a elaboração do luto pela criança é tom e estabelecer o ritmo da conversa parece a maneira
fortemente influenciada pelo quê e como os responsáveis mais apropriada de abordar este tema. Além de respeitar
conversam com ela, pela maneira como lidam com suas o nível de desenvolvimento da criança e utilizar uma lin-
expressões emocionais e, no caso da morte de um dos guagem acessível, também podem ser necessários elemen-
pais, pelo modo como o genitor sobrevivente reage e tos facilitadores, como a literatura infantil, os desenhos
espera que a criança reaja. animados e os filmes. Em muitos momentos, não se sabe
Assim, o processo do luto infantil, como no adulto, como agir, não se tem as respostas ou não se encontram
pode ser vivenciado de diversas maneiras, mas salienta-se as palavras adequadas ou suficientes. Nessas horas, um

Mudanças – Psicologia da Saúde, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55
54 Adelise Salvagni et al.

afago, um abraço apertado e a troca de carinhos podem Geralmente, não se encontra um ambiente escolar que
fazer a diferença (Lima & Kovács, 2011). favoreça a expressão do luto, que viabilize a expressão de
O brincar, como recurso de expressão da criança afetos e que propicie a escuta necessária (Domingos &
e recurso terapêutico, pode ser utilizado como media- Maluf, 2003). Isso pode ocorrer pelo fato de os professo-
dor deste diálogo, tendo em vista que o lúdico é uma res acreditarem que este seja papel da família e não o seu.
linguagem utilizada pela criança e, por isso, facilmente Além disso, para falar acerca da morte, faz-se necessário
compreendido. Ressalta-se que diversos estudos, como os que os educadores lidem com sua própria visão de morte
de Almeida (2005), Azevêdo (2011) e Oliveira, Gabarra, e com os seus processos de luto. Ainda, eles podem não
Marcon, Silva e Macchiaverni (2009), já comprovaram se sentir capacitados para tal tarefa por não possuírem
os benefícios do brincar em situações de doença crônica preparo em sua formação (Kovács, 2012).
e hospitalização. Pensa-se que em relação à morte não Apesar destas dificuldades, percebe-se a importância
seria diferente, considerando que se trata de um assunto/ de que o tema seja abordado nas escolas, considerando a
acontecimento ameaçador para a criança, assim como o significativa influência que os educadores exercem sobre
são a enfermidade crônica e a hospitalização. os alunos. É importante que se tenha um espaço para a
Outro recurso que pode ser utilizado por pais e expressão de emoções e sentimentos no qual haja refle-
educadores diz respeito à literatura infantil. Os livros xão, cuidado e competência, para que se contribua no
podem ser bastante atrativos e úteis para mediarem o sentido de não se instituir posições defensivas em relação
diálogo sobre o tema da morte com crianças no âmbito ao tema da morte. Esta ainda é considerada uma “terra
educacional (Kovács, 2012). de ninguém” no que se refere ao ambiente educacional
Além disso, no que se refere à escola, Kovács (2012) (Kovács, 2012, p. 79). Dessa maneira, a escola também
apresenta diversas propostas de abordagem do tema da precisa atentar para as necessidades emocionais de seus
morte. Podem-se discutir casos que os alunos tragam alunos, pois cognição e emoção são inseparáveis no de-
sobre situações de morte no seu cotidiano, assim como senvolvimento psicológico (Domingos & Maluf, 2003).
criar espaços em que estejam presentes a sensibilização,
a escuta, o acolhimento, a reflexão, o esclarecimento e a Considerações finais
expressão de sentimentos. Ao contrário do que se pode pensar, a criança tem
Também seria importante a participação da co- a capacidade de perceber o que acontece com ela e no
munidade escolar nos rituais de morte, a fim de apoiar ambiente ao seu redor, o que inclui as experiências de
familiares, além de elaborar atividades em datas signi- morte que ela possa vir a vivenciar. Assim, é imprescin-
ficativas e criar material didático. E, por fim, deve-se dível o diálogo com a criança sobre essa temática e tudo
realizar o encaminhamento a profissionais especializados que a ela se relacione.
quando necessário. Apesar de ainda hoje haver a negação e o temor
Diante do exposto, percebe-se que é possível e da morte, é importante que se busquem for mas de
imprescindível que haja diálogo entre os diferentes res- abordar o assunto desde cedo, ainda na infância. Essa
ponsáveis pela criança e que estes considerem como sua a importância justifica-se pela necessidade de a criança
tarefa de falar sobre o tema. Porém, como aponta Kovács aproximar-se do tema para poder elaborar os lutos e
(2012), geralmente as equipes de saúde não acreditam perdas que vivenciar durante sua vida. Para que isso
que seja seu papel orientar os educadores neste sentido. ocorra, é importante que pais e professores tenham uma
Estes últimos demonstram não possuir conhecimento de preparação, a fim de abordar de forma adequada o tema
como dialogar com a criança sobre a morte e também da morte com as crianças.
não consideram sua a tarefa de fazê-lo. Entretanto, tendo Não falar sobre o tema é visto como uma forma
em vista que a escola é um dos principais ambientes nos de proteger a criança, porém, percebe-se que isso não se
quais as crianças se socializam, o tema deve ser aborda- sustenta, já que ela vai perceber que algo está ocorrendo
do. Acolher os alunos faz-se necessário para que possam e, cedo ou tarde, fará questionamentos. Pensa-se que não
dar sentido às perdas, para que se promova a prevenção se trata aqui de adiar a vivência do sentimento de perda,
de sofrimento, juntamente com o acolhimento dos pais. pois este é inerente ao ser humano. Trata-se, portanto, de
O que se percebe é que geralmente este tema não possibilitar que a criança viva esses sentimentos e acon-
é abordado nas escolas e, às vezes, nem ao menos é tecimentos ligados à morte para que possa dar conta das
considerado um assunto a ser tratado (Kovács, 2012). perdas futuras e mesmo de sua própria morte.

Advances in Health Psychology, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55
Reflexões acerca da abordagem da morte com crianças 55

Dessa forma, pode-se questionar o fato de que Referências bibliográficas


não falar seria uma forma de defesa do adulto diante da Aberastury, A. (1984). A percepção da morte na criança e outros escritos. In
A. Aberastury & cols. A percepção da morte nas crianças (pp. 128-139). Porto
morte. Talvez essa defesa justifique a forma com que se Alegre: Artes Médicas.
poupa a criança de situações de morte, considerando que Almeida, F. A. (2005). Lidando com a morte e o luto por meio do brincar:
a criança com câncer no hospital. Boletim de Psicologia, LV(123), 149-167.
ela ainda não daria conta do tema. Pensa-se que seria o
Anton, M. C., & Favero, E. (2011). Morte repentina de genitores e luto infan-
caso de o próprio adulto não conseguir conviver com til: uma revisão da literatura em periódicos científicos brasileiros. Interação
a realidade da morte e não considerá-la o fim da vida. Psicológica, 15(1), 101-110.
Ariès, P. (1977). História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio
Como consequência, muitos não falam de forma franca de Janeiro: Francisco Alves.
sobre o tema. Azevêdo, A. V. S. (2011). O brincar da criança com câncer no hospital: análise
da produção científica. Estudos de Psicologia, 28(4), 565-572.
No entanto, é preciso falar abertamente sobre o as-
Borges, K. M. K., Genaro, L. T., & Monteiro, M. C. (2010). Visita de crianças
sunto. Não se trata de respostas prontas nem de receitas, em unidade de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 22(3),
mas de considerar alguns aspectos importantes. Entre eles 300-304.
Chiattone, H. B. C. (2003). A criança e a morte. In V. A. Camon (Org.). E
estão a capacidade cognitiva da criança, sua idade, o con- a psicologia entrou no hospital. (pp. 69-133). São Paulo: Pioneira Thompson
texto social e cultural no qual está inserida, suas emoções, Learning.
Chiavenato, J. J. (1998). A morte: uma abordagem sociocultural. São Paulo: Moderna.
afetos, bem como as experiências de perda que já teve
Domingos, B., & Maluf, M. R. (2003). Experiências de perda e de luto em
(morte de um familiar ou de um animal de estimação). escolares de 13 a 18 anos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(3), 577-589.
Assim, é possível que se aborde de forma adequada Hennezel, M. (1999). A arte de morrer: tradições religiosas e espiritualidade humanista
diante da morte na atualidade. Petrópolis: Vozes.
o tema, sendo importante que as informações não ve- Hennezel, M. (2006). Morrer de olhos abertos. Lisboa: Casa das Letras.
nham sozinhas, mas venham acompanhadas de reflexões Kovács, M. J. (1992). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psi-
cólogo.
e explicações. Também é indispensável que se utilize a
Kovács, M. J. (2003a). Educação para a morte: temas e reflexões. São Paulo: Casa
linguagem da criança e recursos lúdicos (livros infantis, do Psicólogo.
brincadeiras, desenhos, dentre outros recursos). Kovács, M. J. (2003b). Educação para a morte: desafio na formação de profissionais de
saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Pode-se abordar o assunto em ambientes nos quais Kovács, M. J. (2005). Educação para a morte. Psicologia, Ciência e Profissão,
a criança convive, como as escolas. Porém, para que se 25(3), 484-497.
Kovács, M. J. (2012). Educadores e a morte. Revista Semestral da Associação
possa falar abertamente com crianças, é importante que
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional – SP, 16(1), 71-81.
pais e professores superem em alguma medida o tabu Kübler-Ross, E. (1989). Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para
da morte. Caso contrário, insistir-se-á nas frequentes ensinar a médicos, enfermeiros, religiosos e aos seus próprios parentes. São Paulo:
Martins Fontes.
mentiras, impossibilitando a elaboração das perdas pela Lima, V. R. & Kovács, M. J. (2011). Morte na família: um estudo exploratório
criança e podendo causar-lhe traumas futuros. acerca da comunicação à criança. Psicologia Ciência e Profissão, 31(3), 390-405.
Nunes, D. C., Carraro, L., Jou, G. I., & Sperb, T. M. (1998). As crianças e o
Neste sentido, a psicologia pode contribuir de forma
conceito de morte. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11(3), 579-590.
a suscitar reflexões sobre o tema, demonstrando a im- Oliveira, L. D. B., Gabarra, L. M., Marcon, C., Silva, J. L. C., & Macchiaverni,
portância de verbalizar sobre a morte para que se possa J. (2009). A brinquedoteca hospitalar como fator de promoção no desen-
volvimento infantil: relato de experiência. Revista Brasileira de Crescimento e
dar-lhe sentido e elaborá-la. O psicólogo poderá ajudar Desenvolvimento Humano, 19(2), 306-312.
na construção de espaços de reflexão, fala e escuta acerca Pitta, A. (2010). Hospital, dor e morte como ofício. São Paulo: Hucitec.
Roazzi, M. M., Dias, M. G. B. B., & Roazzi, A. (2010). Mais ou menos morto:
da morte e de assuntos relacionados, podendo auxiliar na
explorações sobre a formação do conceito de morte em crianças. Psicologia:
preparação de pais e educadores, além de oferecer serviço Reflexão e Crítica, 23(3), 485-495.
especializado quando estes observam que algo na criança Torres, W. C. (1999). A criança diante da morte: desafios. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
extrapola a vivência do luto, por exemplo. Em suma, a Torres, W. C. (2002). O conceito da morte em crianças portadoras de doenças
psicologia necessita promover mais discussões acerca do crônicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(2), 221-229.
Vendruscolo, J. (2005). Visão da criança sobre a morte. Revista Medicina,
diálogo sobre a morte e considerar o tema uma questão
38(1), 26-33.
de saúde pública, já que a não verbalização pode ter re-
percussões deletérias do ponto de vista da saúde mental. Submetido em: 4-6-2013
Aceito em: 31-8-2013

Mudanças – Psicologia da Saúde, 21 (2) 48-55, Jul.-Dez., 2013


DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v21n2p48-55

Você também pode gostar