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Jonas

Introdução:
Jonas, filho de Amitai nasceu na Galiléia (2 Reis 14:25), viveu em Samaria durante o reinado
de Jeroboão II (782-753 a.C.), quando Israel ainda não percebia que a Assíria estava prestes a
destruí-la (Am 7:10, que mostra a tentativa de Amós e, dar-lhe o alarme). A libertação
milagrosa que recebeu do Senhor quando estava dentro do grande peixe, fez dele um tipo de
nosso bendito Senhor Jesus Cristo que, como para mostrar a verdade certa da narração, o
menciona. Todo este feito foi fácil para a onipotência do Autor e Mantenedor da vida. Este
livro nos mostra, por meio do exemplo dos ninivitas, quão grande é a paciência e a tolerância
divina para com os pecadores. Mostra um contraste marcante entre a bondade e a
misericórdia de Deus, e a rebeldia, a impaciência e o sentimento belicoso de seu servo Jonas.
Ele é, portanto, um profeta das tribos do norte que exerceu o ministério pouco antes de Amós,
durante a primeira metade do século VIII a.C., por volta de 760 a.C. Os fariseus se equivocaram
quando disseram que “da Galileia não surge profeta” (Jo 7:52), pois Jonas era Galileu.

TEMAS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS

Apesar de ser um profeta de Israel, Jonas não é lembrado pelo seu ministério em Israel, o que
pode explicar o equívoco dos fariseus no tempo de Jesus ao afirmar que nenhum profeta
surgira da Galileia (cf. Jo 7:52). Antes, o livro relata o seu chamado para pregar o
arrependimento em Nínive e sua recusa a obedecer. Nínive, a capital da Assíria, era infame por
sua crueldade e uma inimiga histórica de Israel e Judá. O livro focaliza a cidade gentia fundada
por Ninrode, bisneto de Noé (Gn 10:6-12). Apesar de talvez ter sido a maior cidade do mundo
antigo (1:2; 3:2-3; 4:11), foi destruída cerca de 150 anos depois da geração que se arrependeu
por ocasião da vinda de Jonas (612 a.C.), cumprindo, desse modo, a profecia de Naum (Na
1.1ss.). A aversão política dos israelitas à Assíria, juntamente com sua ideia de superioridade
espiritual como beneficiários da bênção de Deus na aliança, criou em Jonas uma postura de
resistência com relação ao chamado de Deus para o trabalho missionário. Jonas foi enviado a
Nínive em parte para envergonhar Israel pelo fato de uma cidade pagã se arrepender
mediante a pregação de um estrangeiro, enquanto Israel não havia se arrependido mesmo
tendo ouvido a pregação de muitos profetas. O profeta não tardou em descobrir, porém, que o
amor e a misericórdia de Deus são estendidos a todas as suas criaturas (4:2,10-11), e não
apenas ao povo da aliança (cf. Gn 9:27; 12:3; Lv 19:33-34; 1Sm 2:10; Is 2:2; Jl 2:28-32). O livro
de Jonas revela o governo soberano de Deus sobre toda a humanidade e a criação, que veio a
existir por meio dele (1:9) e atende a todas as suas ordens (1:4,17; 2:10; 4:6-7; cf. Mc 4:41).
Jesus usou o arrependimento dos ninivitas para repreender os fariseus e, desse modo, ilustrar
a dureza do coração desses homens e sua recusa em se arrepender (Mt 12:38-41; Lc 11:29-32).
A cidade pagã de Nínive se arrependeu depois de ouvir a pregação de um profeta relutante, ao
passo que os fariseus se recusaram a se arrepender depois de ouvir a pregação do maior de
todos os profetas, apesar das esmagadoras evidências de que ele era, de fato, seu Senhor e
Messias. Jonas retrata Israel, o povo escolhido e incumbido por Deus de servir como sua
testemunha (Is 43:10-12; 44:8), que se rebelou contra a vontade de Deus (Êx 32:1-4; Jz 2:11-
19; Ez 6:1-5; Mc 7:6-9), mas que tem sido preservado miraculosamente pelo Senhor ao longo
dos séculos de exílio e dispersão para, um dia, proclamar sua verdade (Jr 30:11; 31:35-37; Os
3:3-5; Ap 7:1-8; 14:1-3).

PALAVRAS-CHAVE

Fazer, mandar, trazer: em hebraico, manah —1:17; 4:6-8 —, descreve o poder soberano
de Deus para fazer cumprir sua vontade. Literalmente, manah significa poder para designar ou
ordenar. O grande poder de Deus no livro de Jonas de enviar o peixe, fazer crescer uma planta,
mandar uma lagarta ilustra sua soberania sobre toda a criação. Deus usou esses animais
criados para revelar a Jonas sua misericórdia e seu amor pelo povo. Em todos os planos de
Jonas, seu caminho foi cuidadosamente guiado por Deus (veja 4:6-8).

Muito paciente: em hebraico, ’erek ’appayim — 4:2 —, expressão que significa “o nariz
queima” ou “o nariz se torna quente”, caracterizando a respiração intensa de uma pessoa
irada (Gn 30:2; Êx 4:14). No Antigo Testamento, a palavra para ira estava diretamente
relacionada ao nariz. Assim, quando os autores do AT descrevem Deus como “muito paciente”,
eles literalmente estão dizendo “com nariz comprido” (Sl 86:15; 103:8). A expressão idiomática
hebraica “muito paciente” revela a grande misericórdia e compaixão de Deus (Sl 145:8; Jl
2:13).

PRINCIPAIS DOUTRINAS

A misericórdia de Deus para com todas as nações — (4:2,10-11; Êx 34:6; Nm 14:18; Sl


86:5,15; Jl 2:13; 1Tm 2:4; 2Pe 3:9).

O governo soberano de Deus — (1:4,9,17; 2:10; 4:6-7; Jó 42:2; Sl 107:25; 146:6; Ne 9:6; Mt
10:29-30; At 17:24; Rm 8:28).

O CARÁTER DE DEUS

Deus é misericordioso — 4:2,10-11.

Deus é providente — 1:4,15.

Deus se ira — 4:2.

Jonas 1
Versículos 1-3: Jonas, enviado a Nínive, foge para Társis; 4-7: Sofre uma demora, por causa de
uma tempestade; 8-12: O seu discurso aos marinheiros; 13-17: Jonas é lançado ao mar e é
milagrosamente preservado.

Vv. 1-3.
É motivo de tristeza pensarmos em quantos pecados são cometidos nas grandes cidades. A
sua maldade, como a de Nínive, é uma afronta aberta e direta a Deus. Jonas deveria partir
imediatamente para Nínive, e estando ali, deveria clamar contra a maldade dos seus
habitantes. Jonas não quer ir. Provavelmente existam entre nós muitos que não teriam
rejeitado uma missão como esta. Parece que a providência divina deu-lhe uma oportunidade
para que escapasse; nós podemos sair do caminho de nosso dever, e até mesmo encontrarmos
um vento favorável. O caminho fácil nem sempre é o caminho reto. Observemos o que
acontece aos melhores homens, quando o Senhor Deus os deixa entregues a si mesmos.

Vv. 4-7.

Deus envia um perseguidor após Jonas, um forte temporal. O pecado traz tormentas e
temporais à alma, à família, às igrejas e às nações; o pecado inquieta e perturba. Tendo pedido
socorro aos seus deuses, os marinheiros fizeram o que podiam para ajudarem-se. Quem dera
se os homens fossem assim sábios para com as suas almas, e estivessem dispostos a separar-se
da riqueza, do prazer, e da honra que não podem conservar, sem que sofram um naufrágio na
fé e na boa consciência, e arruínem para sempre as suas almas! Jonas dormia profundamente.
O pecado deixa a pessoa completamente tonta, e temos que considerar isto para que não
suceda que, a qualquer momento, os nossos corações sejam endurecidos pelo engano que
dele procede. O que é que os homens querem dizer, quando se referem ao sono como a um
pecado, quando a Palavra de Deus e as acusações de suas próprias consciências lhes advertem
que se levantem e clamem ao Senhor, se quiserem escapar da miséria eterna? Não deveríamos
nos advertir uns aos outros para que despertássemos nos levantássemos e clamássemos ao
Senhor nosso Deus, a fim de que Ele nos livre conforme a sua vontade?

Os mensageiros concluíram que a tormenta era um mensageiro da justiça divina enviado


contra alguém que estava a bordo deste barco. Qualquer que seja o mal que venha contra a
nossa vida, qualquer que seja o momento, existe uma causa para tal; e cada um de nós deve
orar, dizendo: Senhor mostre-me em que contendes comigo. Se for um pecado como era o
caso de Jonas, o mesmo tem que ser jogado fora do seu barco, (sua vida).

A sorte caiu sobre Jonas, hoje não há mais necessidade de se lançar sortes, pois os crentes têm
a Bíblia e o Espírito do Senhor para guiá-los.

Vv. 8-12.

Jonas menciona a sua religião porque esta era a sua ocupação. Podemos esperar que ele o
tenha dito com tristeza e vergonha, justificando a Deus, condenando-se a si mesmo, e
explicando aos Jonas marinheiros que o Deus grandioso é Jeová. O sentido daquilo que lhe
disseram era: Porque nos fizeste isto? Se temias ao Deus que fez o mar e a terra seca, porque
foste tão néscio para pensar que poderias fugir de sua presença? A Bíblia fala de dois tipos de
temor: 1) Há o medo dos homens e das coisas, demonstrado pelos marinheiros no v10; 2. E há
o temor do Senhor que é a piedade, o respeito para com as coisas eternas, que traz consigo o
ódio ao mal (Sl 19:9) Este temor foi demonstrado por Jonas de uma maneira bem imperfeita,
por conta de sua desobediência.

Se aqueles que professam a fé fizerem o mal, serão informados disto por aqueles que não
fazem tal profissão. Quando o pecado levanta uma tempestade, e lança sobre nós os sinais do
descontentamento de Deus, devemos avaliar o que deve ser feito com o pecado que provocou
a tormenta. Jonas utiliza a linguagem dos verdadeiros penitentes, que desejam que ninguém
além de si mesmos sofram o pior por causa dos pecados e das atitudes néscias que
cometeram. Jonas entende que este é o castigo por sua iniquidade, aceita-o e declara que o
Senhor Deus é justo por tê-lo permitido. Quando a consciência é despertada, e a tormenta se
levanta nada a acalmará, senão deixar o pecado que causou o transtorno. Deixar o nosso
dinheiro não apaziguará a nossa consciência; Jonas deve ser lançado ao mar.

Vv. 13-17.

Os marinheiros remaram contra o vento e a maré, contra o vento do descontentamento de


Deus, e contra a maré dos seus conselhos, porém é vão pensarmos em salvar-nos de outro
modo que não seja destruindo os nossos pecados, Nem mesmo a consciência natural é capaz
de fazer algo além de temer a culpa sangrenta, Quando somos dirigidos pela providência
divina, o Senhor realiza aquilo que lhe agrada, e devemos estar satisfeitos, ainda que isto não
nos agrade. Lançando Jonas ao mar, a tempestade teve fim. Deus não afligirá seus servos para
sempre; Ele somente contenderá até que nos submetamos e regressemos dos nossos pecados.

Certamente estes marinheiros pagãos se levantarão em juízo contra muitos que se dizem
cristãos, que não elevam a Deus orações quando estão angustiados, e nem lhe dão graças
pelas libertações recebidas. O Senhor é quem dá ordens a todas as criaturas, e pode fazer com
que qualquer uma delas sirva aos seus desígnios de misericórdia para com o seu povo.
Contemplemos esta salvação do Senhor e admiremos o seu poder, que assim pôde salvar a um
homem que se afogava, e a sua piedade, que deste modo pôde salvar alguém que fugia dEle, e
que o havia ofendido. Foi por causa das misericórdias do Senhor que Jonas não foi consumido.
Jonas viveu três dias e três noites dentro do grande peixe: isto era impossível para a natureza,
mas para o Deus Criador da natureza, todas as coisas são possíveis.

Deus havia preparado um meio de restaurar Jonas à vida, e leva-lo a cumprir sua missão. Note-
se que não era uma baleia (que não é um peixe, mas sim um mamífero, e que aliá não tem
garganta de tamanho suficiente para tragar um homem). Este foi um dos muitos milagres que
sempre acompanharam a interferência divina na história humana, e das quais a mensagem
bíblica está repleta; foi mencionado pelo Senhor Jesus Cristo e por Ele interpretado (Mt
12:39,40).

Jonas 2
Versículos 1-9: A oração de Jonas; 10: Jonas é livrado do peixe.
Vv. 1-9.

Observemos a ocasião em que Jonas orou; quando estava enfrentando problemas,


submetido aos sinais do descontentamento de Deus contra ele, por ter pecado; quando
estivermos aflitos, devemos orar. Orou, sendo mantido com vida por meio de um milagre, o
sentimento de boa vontade de Deus para conosco, apesar das nossas ofensas, abre em oração
os lábios que estavam fechados por medo da ira, observemos também onde Jonas orou; no
ventre do peixe. Não existe nenhum lugar que seja mau para a oração. Os homens são capazes
de impedir a nossa comunhão de uns para com os outros, porém, jamais poderão impedir a
nossa comunhão com Deus. Consideremos a quem Jonas orou; ao Senhor seu Deus. Isto anima
os desviados a retornarem.

Qual foi a oração de Jonas? Esta parece relatar a sua experiência e as suas reflexões, no
momento mais difícil da ocasião e depois deste, mais até do que a forma ou a essência de sua
oração. Jonas reflete acerca do fervor de sua oração, e da prontidão de Deus para ouvi-la e
respondê-la. Se nos tornarmos bondosos por causa de nossos problemas, deveremos notar a
mão de Deus neles. Jonas havia fugido da presença do Senhor, de uma maneira má. O Senhor
poderia, com justiça, não usar mais Jonas para suas tarefas proféticas, de modo que este
jamais o visitasse novamente. Somente podem ser considerados miseráveis aqueles a quem
Deus já não reconhece e nem favorece mais. Mesmo estando perplexo, não estava
desesperado; Jonas consegue pensar no favor de Deus para com ele, quando buscou a Deus e
confiou nEle em meio à sua angústia. Admoesta aos demais, e lhes diz que se mantenham
próximos a Deus. Aqueles que abandonam o seu dever, abandonam a sua própria
misericórdia; aqueles que fogem da obra de seu lugar e dia fogem do consolo desta. Quando
um crente copia aqueles que seguem vaidades mentirosas, esquece-se de sua própria
misericórdia, e vive abaixo dos privilégios que estão à sua disposição. A experiência de Jonas
estimula os demais, de todas as épocas, a confiarem em Deus como o Deus de salvação.

V. 10.

O peixe só restaurou Jonas a Terra, depois de em seu coração ter restaurado o desejo de pôr
em prática a sua vocação missionária. Agora estava em condições físicas e espirituais para
ouvir a palavra do Senhor que lhe veio à segunda vez (3:1), uma palavra mansa que oferecia
uma segunda oportunidade. Foi perdoada da desobediência do passado, havendo então uma
verdadeira submissão da parte de Jonas.

A libertação de Jonas pode ser considerada como um exemplo do poder de Deus sobre
todas as criaturas. Como um exemplo da misericórdia de Deus para com um pobre penitente
que, em angústia, ora a Ele: e como tipo e figura da ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Em
meio a todas as nossas diversas experiências, e dos cenários da vida que estão em constante
mudança, temos que olhar por fé, de modo fixo, o nosso Redentor, que uma vez por todas
sofreu morrendo por nós, porém, agora é ressurreto e já subiu ao céu. Confessemos os nossos
pecados, consideremos a ressurreição do Senhor Jesus Cristo como primícias de nossa própria
ressurreição, e recebamos agradecidos, cada temporal que luta contra nós nesta vida, e cada
libertação espiritual como sinal de nossa eterna redenção.
Jonas 3

Versículos 1-4: Jonas, novamente enviado a Nínive, prega ali; 5 10: Nínive se salva por causa do
arrependimento de seus habitantes.

Vv. 1-4.

O Senhor Deus volta a empregar Jonas a seu serviço. Quando o Senhor nos usa, é uma
indicação de que está em paz conosco, Jonas foi desobediente. Não procurou burlar a ordem
nem se recusou a obedecê-la. Observemos aqui a natureza do arrependimento; é a mudança
em nosso pensamento e conduta, e o regresso à nossa obra e ao nosso dever. Observemos
também o benefício das aflições; ela conduz ao seu lugar, em regresso, aqueles que haviam
desertado. Observemos o poder da graça divina, porque a aflição, por si mesma, antes
afastaria os homens de Deus ao invés de aproximá-los. Os servos de Deus devem ir aonde Ele
os mandar, ir quando os chamar, e fazer aquilo que Ele lhes ordenar; devemos fazer aquilo que
a Palavra de Deus nos manda fazer. Jonas cumpriu o dever que lhe foi atribuído de modo fiel e
direto. Não é possível termos a certeza de que Jonas tenha dito mais para mostrar a ira de
Deus contra eles, ou se somente repetiu estas palavras uma e outra vez, porém, este era o
propósito de sua mensagem. Quarenta dias é muito tempo para que o justo Deus demore a
executar juízos, mas pouco tempo para que um povo ímpio se arrependa e se concerte. Não
deveríamos nos despertar para nos prepararmos para a morte, quando consideramos que não
podemos estar tão seguros de vivermos quarenta dias, como na época Nínive pôde estar
segura de que duraria esse tempo? Deveríamos nos sentir alarmados se tivéssemos sequer a
certeza de que viveríamos mais um mês; porém, somos negligentes mesmo não tendo a
segurança de vivermos sequer um dia.

Vv. 5-10.

Houve um prodígio da graça divina no arrependimento e no concerto de Nínive, que condena


os homens das gerações que viveram ou que vivem a dispensação do Evangelho (Mt 12.41).
Uma quantidade muito pequena de luz é capaz de convencer os homens a humilharem-se
diante de Deus, e confessar os seus pecados com oração, abandonando-os. São meios para
escapar da ira e obter misericórdia. O povo seguiu o exemplo do rei. Tornou-se um ato
nacional, e era necessário que assim fosse, pois visava impedir a destruição nacional. Mesmo
os gritos e gemidos dos animais por falta de comida lembram aos seus donos que devem
clamar a Deus. Em oração, devemos clamar com força, com o nosso pensamento fixo, com a
nossa fé firme, e com afetos devotos. Interessa-nos orar para que tudo aquilo que está dentro
de nós seja revolvido. Não basta jejuar, que é nos abstermos de alimentos, por causa dos
pecados praticados; devemos nos abster do pecado, e para que as nossas orações tenham
êxito, não devemos abrigar mais iniquidades em nossos corações (sl 66,18). A obra de um dia
de jejum não se termina com o final do dia.

Os ninivitas esperavam que Deus se acalmasse quanto à sua ira; assim, evitariam a sua
destruição. Eles não podiam ter tanta confiança de que encontraria misericórdia por
arrependerem-se como nós, que temos a morte, a ressurreição e os méritos do Senhor Jesus
Cristo, no qual podemos confiar para recebermos o perdão quando nos arrependemos. Eles
não se atreveram a presumir, e não se desesperaram. A esperança de misericórdia é o grande
alento para que as pessoas se arrependam e se corrijam. Lancemo-nos de modo confiante ao
estado de graça gratuita, e Deus nos contemplará com compaixão. Deus vê aquele que se
converte de seus maus caminhos, e aquele que não se converte deles. Assim salvou a Nínive.
Não lemos que os ninivitas tenham oferecido sacrifícios a Deus para fazer expiação pelos
pecados que haviam praticado, porém, o Senhor jamais desprezará ao coração contrito e
humilhado, como o que os ninivitas tiveram.

Jonas 4
Versículos 1-4: Jonas se ira por causa da misericórdia de Deus para com Nínive, e é
repreendido; 5-11: É ensinado a Jonas o que ele fez, por meio de uma aboboreira que
murchou.

Vv. 1-4.

Jonas tomou como tema de reflexão a Deus, aquilo de que todos os santos tomam como
tema de gozo e louvor; como mostrar misericórdia exceto por meio da perfeição da natureza
divina, que é a sua maior glória, Por causa de sua misericórdia, que perdoa e salva, todos nós
estaremos fora do inferno. Jonas deseja a morte; esta era a sua linguagem néscia, a sua paixão
e intensa corrupção. Surgem em Jonas resquícios de um espírito orgulhoso e nada criativo; ele
não esperava e nem desejava o bem-estar dos ninivitas, mas somente tinha vindo declarar e
presenciar a sua Jonas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 8 destruição. Não havia se
humilhado devidamente por seus próprios pecados, nem estava disposto a confiar no Senhor
com a sua credibilidade e segurança. Com este estado mental, desprezou o bem do próximo,
para quem ele mesmo havia sido um instrumento, e a glória da misericórdia divina.

Vez por outra devemos perguntar a nós mesmos: Está bem se eu falar assim? Está bem se eu
fizer assim? Posso justificá-lo? Faço bem por irar-me tão rapidamente, tão frequentemente,
por tanto tempo e falar mal aos demais por causa da minha ira? Faço o bem ao irar-me por
causa da misericórdia de Deus para com os pecadores arrependidos? Este foi o delito de Jonas.
Faço o bem ao irar-me com isto que é para a glória de Deus e o progresso de seu reino? Que a
conversão dos pecadores, que é o gozo do céu, seja sempre o nosso gozo e jamais a nossa
tristeza.

Vv. 5-11.

Jonas saiu da cidade, mas permaneceu nas proximidades dela, como se esperasse e desejasse
a sua destruição. Aqueles que têm espírito inquieto e dão vazão aos seus afãs,
frequentemente criam problemas para terem algo de que se queixar, observemos o quão
terno Deus é para com o seu povo durante as aflições deles, ainda que sejam néscios e
atrevidos. Uma coisa pequena em si mesma, porém que chegue a tempo, pode ser uma
bênção valiosa. Uma aboboreira plantada no lugar certo pode nos ser mais útil do que um
cedro. As criaturas menores podem ser grandes pragas ou um grande consolo, conforme Deus
se compraza em fazê-las.

As pessoas que têm fortes paixões têm a inclinação de abater-se perante qualquer futilidade
que lhes incomode, ou a extasiar-se por causa de qualquer coisa vã que lhes agrade.
Observemos o que são os nossos consolos humanos, e o que podemos esperar que sejam; são
coisas que estão murchando. Um pequeno verme na raiz é capaz de destruir uma grande
aboboreira: as nossas aboboreiras murcham e nós não sabemos quais são as causas disto.
Provavelmente continuaremos a ter os consolos que provêm de criaturas, mas eles nos são
amargos; a criatura continua, porém, o consolo se vai. O Senhor Deus preparou um vento para
que Jonas sentisse falta da aboboreira. É justo que aqueles que amam queixar-se, fiquem sem
nada para se queixar. Quando as providências que afligem levam os relacionamentos, as
posses e as alegrias, não devemos nos irar contra Deus. O que deve silenciar de modo especial
ao descontente, é que ao desaparecer a nossa aboboreira, o Senhor nosso Deus não
desaparece. O pecado e a morte são muito espantosos, porém Jonas, em seu ardor, considera
ambos de modo precipitado.

Uma alma é mais valiosa do que o mundo inteiro; então, certamente uma alma tem mais
valor do que muitas aboboreiras: devemos nos interessar mais pelas almas preciosas, tanto a
nossa como a de nosso próximo, do que pelas riquezas e gozos deste mundo passageiro. É um
grande alento termos a esperança de encontrar misericórdias no Senhor, e que Ele esteja
pronto a mostrar misericórdias. É necessário fazer com que os murmuradores compreendam
que, por mais dispostos que estejam a conservar a graça divina para si mesmos e para seus
pares, há um só Senhor que está acima de todos, rico em misericórdias para com aqueles que
o invocam.

Maravilhamo-nos pela paciência de Deus para com o seu servo, que se comportou de modo
perverso? Avaliemos o nosso coração e a nossa maneira de ser; não nos esqueçamos de nossa
ingratidão e obstinação; e permaneçamos atônitos pela paciência que o Senhor nosso Deus
tem mostrado para conosco.

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