Resumo
O presente artigo reúne um extrato das ideias de dois teóricos cuja
contribuição é inegável para o campo da educação, tendo a escola e
suas práticas como elementos centrais de análise. De um lado, Pierre
Bourdieu apontando a escola como instância de reprodução, por
excelência, de uma divisão entre dominantes e dominados, e, do outro,
Ivan Illich com a tese de desescolarização da sociedade. Ambos
entendem a instituição escolar como espaço de disseminação de
desigualdades, reforçadas por estruturas curriculares colocadas a
serviço da afirmação do status quo, como também da legitimação das
divisões sociais tradicionais. Esses autores repensam a ação educativa
propondo estratégias baseadas na integração, ao espaço escolar, dos
saberes constitutivos dos atores sociais que a integram.
critérios racionais.
Na perspectiva de Illich (1985) a institucionalização de valores
canaliza três dimensões denominadas por ele de poluição física,
polarização social e impotência psíquica, as quais desencadeiam um
processo de degradação global e miséria modernizada. A educação,
estaria vinculada nesse processo de degradação, uma vez que se inclui
em um serviço essencial ao homem moderno ofertado através da
escola, a qual coloca pobres e ricos no mesmo ambiente para serem
escolarizados pautados pelos currículos secretos.
Nessa configuração, as pessoas pobres e ricas dependem
igualmente de escolas que dirigem e formam suas visões de mundo,
definindo inclusive, o que é legítimo e o que não é para os que a
buscam. Contudo, alerta Illich, os pobres ficam em desvantagem
considerando que sempre foram socialmente impotentes. A escola,
conforme sua compreensão, tornou-se a religião universal do
proletariado modernizado, fazendo promessas férteis de salvação aos
pobres numa era tecnológica, sendo ao mesmo tempo, adotada pelo
Estado, como a moldadora de todos os cidadãos através de currículos
hierarquizados, essencialmente, tendo o atrativo ritualístico dos
diplomas.
Em estudo realizado durante o curso de mestrado, (CARDOSO,
2007) bem como nas experiências como educadora, encontramos
muitos homens e mulheres (jovens e adultos tentando aprender a ler e
escrever em escolas públicas) relatando suas tentativas de
aprendizagem em escolas formais quando eram crianças e seus
insucessos constantes. “Oh, quando era menino, eu ia para o colégio,
mas aí não queria saber de estudar, queria só brincar, bagunçar, aí hoje
estou aqui, arrependido (aluno desistente da Educação de Jovens e
Adultos/EJA, 44 anos). A sensação que têm esses indivíduos é a de que
são improdutivos e incapazes, já que não apreendem nem intervêm no
mundo a partir da escrita. Freire (2002), ao falar sobre os não
alfabetizados, enfatiza que eles:
Considerações finais
De acordo com Carvalho, R. (1997), a imagem da escola é uma
síntese de construções sociais, históricas e afetivas que estão além da
racionalidade. No entender da autora, isso tem uma força
determinante, “porque não é mero retrato da realidade: é uma
reconstrução baseada no mecanismo de objetivação, através do qual
o indivíduo integra, afetivamente, todas as suas experiências”
(CARVALHO, R., 1997, p. 179). Segundo outros estudos dessa autora, a
sociedade delegou à escola a função social precípua de ensinar a
todos os conteúdos selecionados por alguns como relevantes. E, no
microcosmo da sala de aula, os aprendizes convivem com histórias de
vida, valores e motivações.
Nessa construção e diante da dificuldade que encontram para
aprender, relacionam-se com a escola como o espaço de um saber
que lhes é inacessível, mitificando tanto o conhecimento quanto o
lugar. É preciso, então, construir com eles essa desmitificação e desse
modo torná-la mais real, percebendo a escola constituída por pessoas -
educadores, alunos e funcionários.
Nesse sentido a contribuição de Illich faz referência aos males que
pairam sobre a instituição escolar, inicialmente, pela ideia desta deter a
exclusividade dos saberes. Em seu entender, os fracassos e o caráter
anti-educacional da escola são considerados a prova de que “a
educação é tarefa muito dispendiosa, complexa, sempre misteriosa e
muitas vezes quase impossível” (ILLICH, 1985, p. 31).
Os estudos de Bourdieu (2004) afirmam que os professores são
muito apegados às ordens e que estas envolvem a realidade em névoa
de certezas que os impede de analisá-las ou de refletir mais
detidamente sobre o dia-a-dia escolar, impossibilitando-os, assim, de
colocar no centro das questões o aprendiz e as práticas curriculares. Ao
desenvolver suas práticas desconectadas da vida e dos interesses dos
alunos, os professores alinham-se a um modelo tradicional de escola
que deveria, ao contrário, ser percebida por todos os seus integrantes
como comunidade integrada ao bairro, à cidade, ao mundo.
Corroborando essa visão de Bourdieu, Illich observa que
Referências
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.