Você está na página 1de 5

12/09/2017 Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país - Horizontes - Home

Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país
Alessandra Mendes e Paula Coura
horizontes@hojeemdia.com.br
19/08/2016 ­ 06h00

Lucas Prates /

http://hojeemdia.com.br/horizontes/estudo-mostra-mudan%C3%A7a-no-perfil-de-alunos-das-universidades-federais-do-pa%C3%ADs-1.407807 1/5
12/09/2017 Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país - Horizontes - Home

META – Félix Júnior, de 26 anos, realizou o sonho de infância de cursar medicina na UFMG

http://hojeemdia.com.br/horizontes/estudo-mostra-mudan%C3%A7a-no-perfil-de-alunos-das-universidades-federais-do-pa%C3%ADs-1.407807 2/5
12/09/2017 Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país - Horizontes - Home

Aos 26 anos, é o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Cursou todo o período escolar em instituições públicas e teve que se esforçar muito para ultrapassar
os obstáculos, naturalmente impostos pela baixa renda da família, e conseguir vaga em uma universidade federal. A história é da vida de Félix José Araújo Veloso
Junior, mas também diz muito sobre a trajetória de Rejane Guerra Silva. Aos 21 anos, a estudante se orgulha em dizer que será a primeira engenheira da família. Félix
será o primeiro “doutor” na casa dos Araújo Veloso.

Assim como milhares de outros jovens pelo país, ambos fazem parte de um novo perfil que, aos poucos, começa a mudar a cara das universidades públicas brasileiras.
De acordo com um levantamento divulgado ontem pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o número de alunos
negros quase triplicou de 2003 a 2014. 

ADVERTISING

Learn more

32% dos estudantes de universidades federais brasileiras ingressaram por meio de cotas, criadas em 2013

Ainda assim, são menos de 10% dos quase 1 milhão de graduandos. Juntos, negros e pardos já representavam, há dois anos, 47,5% do total de estudantes das universidades
federais do Brasil.

Dados do estudo feito em 62 instituições de ensino ainda mostram que dois terços dos universitários têm origem em famílias com renda média de 1,5 salário mínimo.
Uma das causas para a mudança no perfil dos estudantes é a implementação da Lei das Cotas, em 2013, que garantiu o acesso de alunos oriundos de escolas públicas
e a reserva de vagas para negros, pardos e indígenas.

Lucas Prates

AMBIÇÃO – Rejane já foca no futuro como engenheira

http://hojeemdia.com.br/horizontes/estudo-mostra-mudan%C3%A7a-no-perfil-de-alunos-das-universidades-federais-do-pa%C3%ADs-1.407807 3/5
12/09/2017 Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país - Horizontes - Home
“Me apaixonei pela engenharia metalúrgica e quis porque quis a faculdade nessa área. E tinha que ser universidade pública, não tinha outro jeito. Se não fosse a cota,
com certeza não teria entrado”, afirma Rejane, estudante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com uma renda familiar de três salários mínimos, ela não
teria condição de arcar com os custos de uma instituição privada.

Hipótese sequer cogitada por Félix, que cursa medicina, também na UFMG. O gasto com a graduação em uma universidade particular está completamente fora da
realidade econômica da família dele. Mesmo não pagando pelos estudos, fica difícil acompanhar o ritmo. “O gasto com livros é alto e o curso exige dedicação quase que
exclusiva, ficando praticamente impossível estudar e trabalhar. Um amigo que formou me passou os livros, o que ajudou demais”, conta o rapaz.

Essa maior presença da população negra e pobre na universidade pública é resultado de uma série de investimentos. “Há que se reconhecer um investimento da
própria população negra e pobre em relação à própria educação. Além disso, nos últimos anos foi feito um investimento muito grande do governo em políticas de
reconhecimento e fortalecimento das diversidades e combate às desigualdades nas instituições de ensino públicas, como a Lei de Cotas”, afirma Luciano Mendes de
Faria Filho, coordenador do projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, da UFMG.

Desafio de instituições é manter aluno de camadas mais pobres

Se por um lado a mudança no perfil dos estudantes de universidades federais representa um passo em busca de maior igualdade, por outro lado é também um desafio
nesse mesmo sentido. Isso porque não basta apenas garantir o ingresso desse aluno de camadas mais populares, mas é preciso ter meios eficientes para evitar a
evasão desses estudantes.

“No sentido mais imediato, as universidades precisam rever as políticas de assistência delas. Não basta entrar, é preciso que as pessoas fiquem. E isso significa ampliar
essas políticas. Além disso, é necessária uma mudança também na cultura da instituição, que deve abarcar toda essa diversidade”, explica o professor Luciano Mendes
de Faria Filho, da UFMG.

http://hojeemdia.com.br/horizontes/estudo-mostra-mudan%C3%A7a-no-perfil-de-alunos-das-universidades-federais-do-pa%C3%ADs-1.407807 4/5
12/09/2017 Estudo mostra mudança no perfil de alunos das universidades federais do país - Horizontes - Home

Lucas Prates

PREDILEÇÃO – Lucas Ribeiro sempre estudou em escola pública e escolheu o curso com base no gosto pela bolsa de valores e pelo mercado financeiro

Para quem não é contemplado por nenhum tipo de assistência nas instituições, o jeito é tentar de todas as formas adequar a realidade familiar às necessidades do estudo. “Lá em
casa só temos a renda do meu pai. E para não ficar muito longe da universidade e economizar, vim para a casa da minha avó, no Santa Terezinha (região da Pampulha)”, conta
Lucas Ribeiro, de 21 anos, aluno de controladoria de finanças da UFMG.

Outra preocupação é com a manutenção das próprias políticas de acesso à universidade. “Os poucos dias do governo interino mostram o quanto a gente pode andar para trás
gradativamente em várias áreas. Ainda não se sabe quais e como essas medidas hoje vigentes serão mantidas. Não dá para falar em democracia no ensino superior se temos uma
das piores distribuições de renda do mundo. Uma coisa não casa com a outra”, ressalta o professor. 
Atualmente, apenas 24% das vagas em universidades brasileiras são em instituições públicas. É um dos menores índices de todo o mundo e, de acordo com especialistas, o ideal
 seria uma oferta de vagas de 50% a 60%.
“Claro que todos queremos um país que não precisemos de lei de cotas. Mas, para isso, é preciso investimento muito grande em escola básica e temos que continuar com políticas
de diminuição das desigualdades econômicas”, avalia Luciano Mendes, que também coordena o projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, da UFMG. 

Link:  http://hoje.vc/q1ry

http://hojeemdia.com.br/horizontes/estudo-mostra-mudan%C3%A7a-no-perfil-de-alunos-das-universidades-federais-do-pa%C3%ADs-1.407807 5/5

Você também pode gostar