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1 ASPECTOS INICIAIS

Nos dias atuais, as problematizações no campo da pesquisa acadêmica


que se proponham a discutir processos formativos e educativos que coloquem
em evidência projetos societários que coloquem em pauta as necessidades e
demandas dos sujeitos das classes populares tem tomado cada vez mais
amplitude.
Assim, estes tensionamentos no campo da produção teórica tem
contribuído para dar vozes a sujeitos invisibilizados, em virtude dos interesses
antagônicos que se materializam na sociedade a partir do protagonismo de
diversos grupos sociais que compõem a matriz social, pois estes têm
prioridades no âmbito da produção da vida com aspectos prioritários distintos.
Diante disso, dentre estes projetos de sociedade que vislumbram dar
poder de fala e legitimar o direito à educação as classes populares pode-se
destacar a Educação de Jovens e Adultos e a Educação do Campo, visto que
surgem a partir de lutas e tensões das diversas mobilizações sociais que tem
sido feitas por parte dos trabalhadores, dos movimentos sociais rurais e entre
outros.
Portanto, discutir estas temáticas contribui para fortalecer dos setores
populares da sociedade, como também, deixar clara a necessidade de se
pensar processos educativos que de fato emancipem e deem autonomia as
pessoas, apesar dos grandes desafios que se concretizam para estruturação
destas práticas.
No cenário da Educação de Jovens e Adultos, esta modalidade
educacional é compreendida como sendo de extrema valia para os
trabalhadores que precisam estudar e na maioria das vezes é a única
possibilidade de conseguir conciliar com a necessidade de trabalhar para se
subsistir ou pela necessidade de manter a si próprio e ao grupo familiar.
Apesar dos diversos problemas que a EJA tem enfrentado nos dias
atuais, como por exemplo, falta de formação dos professores, material didático,
propostas pedagógicas que de fato contemplem as vivências dos alunos-
trabalhadores, pode-se dizer que este espaço de escolarização é visto pelos
educandos como uma oportunidade, onde estes vislumbram como um espaço
viável para se adquirir conhecimentos e aprendizagem, mesmo com as
diversas dificuldades que enfrentam.
Vale ressaltar que o lócuo da EJA é vivenciado por diversos sujeitos,
inclusive pelos adultos que não puderam completar o processo escolar na
idade normal ou não tiveram oportunidade de estudar na sua juventude, pois
tinham que ajudar a família na complementação da renda para as despesas do
grupo familiar e, assim sendo impossibilitados de concretizar os estudos.
Apesar desta conjuntura as pessoas com faixa etária menor, isto é,
jovens tem sido adentrado a Educação de Jovens e Adultos também,
principalmente devido a possuírem anos de repetência, terem que adentrar no
mercado de trabalho para contribuírem na subsistência da família ou até
mesmo pelo desinteresse destes indivíduos nos estudos.
Além disso, esta modalidade educacional tem sido percebida por um
contingente bastante significativo de mulheres que não tiveram possibilidade de
estruturar seu processo formativo na idade certa, por terem casado cedo, por
problemas pessoais, como por exemplo, violência, dificuldades em estar na
escola e entre outros, mas compreendem sobre a necessidade de completar os
estudos e como a formação é importante para se empoderarem e terem
autonomia para organizarem sua vida.
Nesta perspectiva, no âmbito municipal em virtude de todo um processo
de fechamentos de escolas ou de nucleação a EJA tornou-se um local, no qual
os sujeitos do campo têm buscado para continuarem seu processo de
escolarização ou iniciarem seu processo formativo.
Em virtude dos diversos problemas do acesso a escola nas
comunidades rurais, como também pelas dificuldades de conciliar o trabalho
com os estudos, principalmente na propriedade familiar com estudos,
precipuamente pela falta de flexibilidade da falta de flexibilidade das unidades
de ensino de não compreender que os sujeitos jovens e adultos que buscam
formação são plurais e, consequentemente, necessitam de uma perspectiva
educacional que dê conta destas peculiaridades e especificidades.
Desta forma, há a necessidade se ressignificar o papel da Educação de
Jovens e Adultos, uma vez que os indivíduos que dela faz parte ou acessam
para estruturar o seu percurso formativo têm demandas e necessidades
especificas que precisam ser notadas pelos sistemas de ensino, pelo currículo,
pelos materiais usados pelos professores e, especialmente que se fomente
uma formação docente que dê conta dos conhecimentos necessários para se
lidar com a pluralidade dos alunos-trabalhadores, visto que, estes fazem parte
de diversos grupos sociais e identitários que precisam se enxergar dentro da
proposta da EJA.
O trabalho monográfico em questão assume sua relevância, em virtude
da importância que se figura, no que concerne a dar voz de fala e
representatividade aos sujeitos das classes populares, assim, dando
visibilidade as pessoas que compõem a classe trabalhadora, deste modo levar
essas discussões para o âmbito acadêmico, principalmente nos municípios do
Território do Sisal1, torna-se algo importante para fortalecer a necessidade das
áreas munícipes valorizarem a Educação de Jovens e Adultos e se
sensibilizarem que ressignificar esta proposta educacional configura-se
primordial para que os sujeitos tenham um processo educativo que contemple
suas lacunas e demandas formativas.
A pesquisa que neste trabalho foi desenvolvida justifica-se, devido a
importância que se tem no desenvolvimento de discussões que tratem sobre a
Educação de Jovens e Adultos e a Educação do Campo, principalmente
quando se pensa na sua interseccionalidade, visto que são projetos que têm
sua gênese na Educação Popular paradigma que foi muito debatido e estudado
por Paulo Freire, como também pela relevância de se dar representatividade
aos sujeitos da EJA que muitas vezes são invisibilizados e excluídos do
processo educacional, portanto perceber estas questões torna-se primordial
para elucidar a necessidade se fortalecer projetos educativos que oportunizem
as classes populares.
Por outro lado, no caso específico deste trabalho, apesar de o lócuo de
análise ser em uma escola da zona urbana não deslegitima desenvolver uma
educação que englobe a Educação do Campo, visto que na turma em que foi
desenvolvida a pesquisa-ação os indivíduos residem tanto na cidade como no

1O Território de Cidadania do Sisal – BA, mais conhecido como região Sisaleira da Bahia, está
localizado na região Nordeste e no domínio morfoclimático do semiárido e abrange uma área
de 21.256,50 Km² é composto por 20 municípios: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal,
Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas,
Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente.
Possui uma população de 582.329. Fonte: AGEITEC; MDA.
campo, além disso, apesar de muitas residirem na cidade muitas nasceram e
cresceram no campo e são filhos de famílias que construíram sua vida nas
comunidades rurais e trabalham nelas, como por exemplo, alunos que são
lavradores e lavradoras, desta forma a produção acadêmica em questão
configura a sua legitimidade de existir.
Quanto à problemática evidenciada na pesquisa, esta se remete a
pensar de que maneira as matrizes formativas da Educação do Campo
contribuem na construção do processo educativo na Educação de Jovens e
Adultos na Escola Dulcelita Bahia de Araújo.
Desta forma, é perceptível que estas categorias são importantes para se
compreender a dinâmica da EJA e necessitam serem trabalhadas no decorrer
das aulas dos professores em sala de aula, uma vez que os saberes que os
estudantes trazem para sala de aula se tornam relevantes para a
aprendizagem, como também, as histórias de vida que carregam e que influem
no processo de ensino e aprendizagem significativamente.
Portanto, faz-se necessário e primordial que o educador dê conta de
tratar ou de articular a proposta educativa as categorias como trabalho, cultura,
terra, história, organização social/luta.
Torna-se interessante falar da trajetória de articulação da proposta de
pesquisa desde o início do Curso de Especialização em Educação do Campo
no IF Baiano do autor, visto que é relevante salientar que a proposta de
discussão de Educação de Jovens e Adultos nesta produção monográfica não
era a proposição original, uma vez que houveram ressignificações na temática
do trabalho.
Inicialmente pretendia-se pesquisar sobre a perspectiva da Educação
Profissional na Educação do Campo a partir da atuação do Centro de Estadual
de Educação Profissional do Campo Paulo Freire, no município de Santaluz,
onde se direcionou a pesquisa tentando evidenciar as comunidades que tinham
tido mais alunos provenientes delas, assim, dentro desta conjuntura destacou-
se os povoados de Mucambinho e Rose, sendo estes assentamentos rurais
desta área munícipe supracitada anteriormente. Em contrapartida, escolheu-se
a segunda como lócuo da pesquisa, onde se fez o contato com as lideranças
comunitárias jovens que teriam interesse de participar da pesquisa-intervenção
pretendida.
Porém, problemas surgiram no decorrer, em virtude que os sujeitos da
comunidade não queriam participar do projeto e sempre que os encontros eram
marcados, eles não apareciam, isto é, não assumiam um compromisso com a
pesquisa que o autor deste trabalho pretendia desenvolver. Então,
ressiginificações foram necessárias na proposta do trabalho, decorrente da
falta de devolutiva por parte dos atores participantes.
Em diálogo com o orientador surgiu à ideia de trabalhar com a Educação
de Jovens e Adultos, pois seria possibilitada a construção de um diálogo
interessante e devido aos prazos curtos para se operacionalizar a pesquisa
seria uma proposta coerente para se desenvolver esta pesquisa-ação
pretendia. Portanto, é a partir deste percurso que a temática de discussão se
materializa. Vale ressaltar que foi uma experiência bastante exitosa de se
desenvolver, inclusive por ter sido desenvolvida no município que o
pesquisador reside, destarte, contribuindo para ter um conhecimento mais
aprofundado da realidade que se vivencia no âmbito da EJA em Santaluz.
A pesquisa-ação desenvolvida neste trabalho foi realizada nas escolas
municipais do município de Santaluz-BA2, isto é, em uma turma de Educação
de Jovens e Adultos administrada pela Escola Municipal Dulcelita Bahia de
Araújo que tem duas turmas de EJA, uma onde acontece condesadamente
atividades do 1ª, 2ª e 3ª série e outra turma da 4ª série no turno noturno, sendo
que as ações realizadas pelos professores destas turmas acontecem no Centro
Educacional Nilton Oliveira Santos (CENOS), uma escola de grande porte do
município que atende ao ensino regular no diurno e à noite além destas turmas
de EJA atendem a Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental II e
possui 7ª e 8ª série do regular à noite.
Esta adaptação de levar as duas turmas da Escola Dulcelita para o
CENOS aconteceu, em virtude da necessidade de se cortar gastos por parte da
gestão municipal, pois na primeira unidade de ensino só funcionava as duas
turmas de EJA no noturno e alegaram este problema, por conseguinte,

2Santaluz é um município brasileiro do estado da Bahia. Sua população estimada em 2017 é


de 38.838 habitantes, possui bastante belezas naturais, pouco exploradas. É reconhecida na
região pela produção do Sisal que foi mais intensivamente explorado até os anos 90, e hoje é o
maior produtor de pedra da Bahia, bem como jazidas de ouro recém-descobertas, ainda possui
uma das maiores reservas de cromo da região Nordeste, muito embora seja pouco explorado.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Santaluz).
propondo estas mudanças na organização das turmas de EJA da Escola
Municipal Dulcelita Bahia de Araújo.

Imagem 01 – Escola Municipal Imagem 02 – Centro Educacional


Dulcelita Bahia de Araújo Nilton Oliveira Santos

Fonte: SILVA, Nilmar dos Santos Fonte: Google Imagens

Mapa 01 – Mapa do município de Santaluz-BA


No que diz respeito à trajetória formativa do autor, ele é Licenciado em
Geografia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus XI –
Serrinha, concluiu o curso em 2013, assim, seu campo de pesquisa remete-se
a Educação, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo e Geografia
Agrária. O respectivo trabalho de conclusão da graduação foi no âmbito das
discussões de questão agrária intitulado “Produção do espaço geográfico em
comunidades rurais: articulações associativas no povoado de Pedra Bonita,
Santa Luz – BA”, defendido em 9 de janeiro de 2013, no Departamento de
Educação, UNEB-Campus XI, Serrinha, tendo como orientado a Professora
Doutora Janeide Bispo dos Santos. Além disso, está concluindo uma
especialização em Educação Inclusiva com ênfase em Atendimento
Educacional Especializado pelo Instituto Edith Stein de Feira de Santana-
Bahia.
Quantos aos objetivos desta produção monográfica, de modo geral
almeja-se analisar como as matrizes formativas da Educação do Campo
podem contribuir na construção do processo educativo na Educação de Jovens
e Adultos no município de Santaluz. Por outro lado, de forma específica
dialogar com os alunos sobre a importância de discutir sobre as relações de
gênero; refletir com os sujeitos da pesquisa sobre a importância de questões
que são relevantes para a formação, como por exemplo: direitos, valorização
saberes, organização social, economia solidária e sua contribuição para a
formação para a vida e, por fim evidenciar os desafios e possibilidades que
existentes no âmbito da EJA.

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