GUARULHOS
Maio/2017
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RESUMO
Esta pesquisa pretende aprofundar a respeito do emprego dos pronomes pessoais sujeito
(PPS) da língua espanhola em relação à “distinta assimetria” (GONZÁLEZ, 1998) que
existe entre o português brasileiro (PB) e o espanhol (E). Baseados na Teoria de Princípios e
Parâmetros (CHOMSKY, 1981) e nos estudos comparados do português brasileiro e do
espanhol (GONZÁLEZ, 1994, 1998; BOTTARO, 2009; FANJUL, 2014), nos propomos
analisar numa amostra de língua oral de aprendizes de espanhol, composta por 15 estudantes
do Curso de Letras – Espanhol da UNIFESP, o seguinte: (1) quantificar o emprego dos PPS
nulos e plenos presentes na amostra; (2) como os estudantes utilizam as propriedades
linguísticas do sujeito nulo do E e do PB; e (3) comparar os resultados obtidos com a
pesquisa realizada sobre os PPS na produção escrita de aprendizes brasileiros do Curso de
Letras da UFSCAR (RODRIGUES ROSA, 2017).
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa procurará observar como se dá o aprendizado dos pronomes sujeito por
parte dos aprendizes brasileiros de língua espanhola do Curso de Letras – Espanhol, da
Universidade Federal de São Paulo, em relação às diferenças assimétricas presentes nas
formas pronominais de sujeito, conforme os estudos de González (1998). De acordo com a
mesma autora, o PB contempla o uso do sujeito pronominal pleno e prevalece em seus
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Tradução nossa.
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Segundo Chomsky (1959), L1 é a língua materna, ou seja, a primeira língua que o ser humano adquire em
seus primeiros anos de vida.
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Segundo Chomsky (1959) L2 é uma segunda língua adquirida após a L1. Essa questão será aprofundada na
fundamentação teórica deste trabalho.
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1. OBJETIVOS
1.2.3 Analisar qualitativamente nos dados colhidos, como os aprendizes da nossa amostra
usam as propriedades linguísticas do sujeito nulo do espanhol na oralidade e
determinar quais são as dificuldades no aprendizado;
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2.2 Coleta dos dados mediante a gravação de entrevistas orais aos alunos(as) de diferentes
níveis de aprendizado, das disciplinas de Língua Espanhola de nível I ao V. A amostra
estará composta de 15 aprendizes e faremos entrevistas orais com cada informante, de
15 a 20 minutos, provocando narrativas sobre experiências pessoais. Para tanto, nos
valemos de um questionário (ver anexos) para obter os dados pessoais do informante e
para fins de conversação sobre o uso e aprendizado do espanhol. Também utilizaremos
um roteiro com alguns temas para provocar um registro de conversa livre com
gravações de perguntas e respostas em espanhol que, as quais surgirão no decorrer da
conversação entre entrevistador e entrevistado. Para isto utilizamos o questionário que
consta anexo;
2.3 Transcrição das entrevistas por médio do método de transcrição escrita utilizado pelo
projeto NURC-SP4, de acordo com as pesquisas organizadas por Preti (2010). Esse
método consiste em transpor a linguagem falada para a linguagem escrita, para que
seja possível observar com mais clareza quais os pontos gramaticais relativos à
influência assimétrica dos pronomes pessoais do PB no E;
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Projeto Norma Urbana Culta do Estado de São Paulo.
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2.4 Análise quantitativa dos sujeitos nulos e plenos na amostra oral de aprendizes
brasileiros em relação as propriedades linguísticas do espanhol, utilizando o programa
excel para calcular a frequência dos dados;
2.5 Análise linguística qualitativa e comparativa dos resultados obtidos com outros
estudos realizados (CHOMSKY, 1989; GONZÁLEZ, 1998; BOTTARO, 2009;
FANJUL, 2014; RODRIGUES ROSA, 2017);
2.6 Por último, de acordo com o Parâmetro do Sujeito Nulo de Chomsky (1981) e a
aplicação teórica do mesmo na investigação de Bottaro (2009) no comparativo entre o
PB e o E, os dados coletados serão reunidos no primeiro e no segundo passo para
demonstrar a evolução da aquisição em L2.
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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como fruto do trabalho da Teoria Gerativista, iniciado em 1959, surgi nos primeiros
anos de 1980, o conceito de que a faculdade da linguagem por ser um mecanismo inato dos
seres humanos, originário de uma herança biológica, nos põe à disposição um algoritmo
sistêmico e gradual que se assemelha a um programa de computador. Deste modo, somos
capazes de desempenhar ou obter uma gramática de uma determinada língua, sendo esse
algoritmo supracitado o que Chomsky chama de gramática universal GU (KENEDY, 2008,
p. 135).
Em vista disto, ocorreu uma quebra de pensamento com a ideia de regras iniciada no
modelo gerativista dos anos 50 para um panorama calcado em princípios mais amplos e
complexos da linguagem, desse modo nasce o modelo de Princípios e Parâmetros de
Chomsky (1981). Esses princípios da GU possuem duas vertentes gerais, conforme quadro
seguinte:
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Do inglês LAD – Language Acquisition Device.
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(a) João disse que ele vai se casar (“ele” → sujeito preenchido).
(b) João disse que Ø vai se casar (“Ø” → sujeito nulo).
Nos dois modelos, consideramos que o PPS “ele” se refere a “João”. Assim,
podemos dizer que “João” é sujeito da oração principal e “ele” o sujeito da oração
subordinada. O que chama a atenção é a omissão do sujeito no caso (b). Essa omissão é
conhecida no conceito gerativista como pro-drop, ou seja, anáfora zero ou nula.
Para melhor esclarecer os Princípios Abertos, no que tange aos parâmetros colocados
em questão, as modificações que as línguas sofrem são definidas pela GU por dois valores:
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positivo e negativo (QUADROS, 2007, p. 49). Por isso, “os parâmetros que diferenciam as
línguas são previsíveis e distribuídos sempre de maneira binária [...]” (KENEDY, 2008, p.
137). Vejamos alguns exemplos extraídos de Rueda (2015, p. 03):
Podemos notar que na língua inglesa, os sujeitos We e She não são ocultados, porque
não há flexão verbal, exigindo a presença explícita do pronome nominativo para se conhecer
a qual pessoa (1ª, 2ª ou 3ª do singular ou plural) a frase está dirigida. Também na forma
átona, o sujeito It não é omitido, por se tratar de um pronome neutro (exclusivo dessa
língua) que antecede, no exemplo, o verbo to be. Enquanto isso, na língua espanhola, com a
existência de conjugações dos verbos tener e hacer, os PPS podem ser ocultados sem causar
nenhum prejuízo à pessoa que ouve ou lê a frase. No primeiro caso, a língua inglesa, como
também na língua francesa, é considerada uma língua pro-drop negativa (valor -), pois essa
gramática é imutável, não tendo espaço para variações na omissão do PPS. Já na língua
espanhola, assim como as outras línguas românicas como a italiana e a portuguesa, o pro-
drop é positivo (valor +), por considerar a possibilidade de ocultar ou não o pronome
nominativo.
Segundo Chomsky (1981, apud BOTTARO, 2009, p. 54), as opções de
obrigatoriedade ou opcionalidade do sujeito é um tipo de variação que há entre as línguas,
dando a possibilidade de elaborar um parâmetro que englobe as duas posições possíveis do
sujeito, chamado de Parâmetro do Sujeito Nulo.
Inicialmente, Duarte (1995, apud BOTTARO, 2009, p. 55) diz que o PB é uma
língua parcialmente pro-drop, tendo em vista que há na língua falada uma abundância de
sujeitos plenos e uma pequena quantidade de sujeitos nulos. A maior causa dessa perda do
paradigma pronominal seria a substituição ao longo do tempo do uso dos PPS que
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Uma possível tradução seria: Nós temos aqui um excelente museu. Vale a pena visitar.
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Uma possível tradução seria: Ela fez uma sopa e estava deliciosa.
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alternaram da 2ª pessoa direta “tu” e “vós” pela 2ª pessoa indireta “você” e “vocês”
(DUARTE, 1995, p. 32).
Em outro estudo, Paredes Silva (1993, apud POSIO, 2008, p. 24) aponta três
conceitos base sobre ambiguidade contextual, que se referem a um contexto linguístico
que não seja possível identificar o referente em uma flexão verbal, de acordo com os
seguintes PPS do PB:
individualizar. Esse conceito é conhecido como ênfase, que também corrobora para que os
PPS se torne visível ao lado do verbo conjugado em determinadas situações específicas.
Exemplos:
(a) En casa mi marido friega los platos porque yo odio hacer eso.
(b) Tú lo sabías.
(c) Él se quedará en casa.
(a) Ella sabía como él se sintió porque ella tuviera una angustiosa sensación ...
(b) Ella sabía como él se sintió porque Ø tuviera una angustiosa sensación ...
(c) Ø Sabía como él se sintió porque Ø tuviera una angustiosa sensación ...
Bottaro (2009, p. 56-57), em sua tese, listou algumas das principais mudanças em
relação ao emprego do parâmetro de sujeito nulo que ocorrem com maior frequência na
utilização prática do PB, conforme alguns pesquisadores:
(1) Perda do princípio Evite o Pronome, princípio criado por Chomsky (1981) (DUARTE,
1995). Esse princípio procura harmonizar nas línguas pro-drop positivas as alternâncias do
emprego do sujeito nulo.
(2) Uso de pronomes plenos em contextos de correferência com o sujeito da oração principal,
com ou sem antecedente não humano (DUARTE, 1993, 1995). O sujeito da oração principal
é retomado na oração subordinada por um pronome do caso reto. Ex.: A casa virou um filme
quando ela teve de ir abaixo (DUARTE, 1995).
(3) Sujeitos duplos que retomam como um referente previsto e próximo (DUARTE, 1995, apud,
BOTTARO, 2009). Isso Significa que dois sujeitos do mesmo referente se encontram lado a
lado na mesma frase. Ex.: Então, o instituto de F. ele manda os piores professores … Os
melhores eles dão aula no curso de M. (DUARTE, 1995).
(4) Perda do sujeito nulo referencial (DUARTE, 1993, 1995; GALVES, 1995; FIQUEREDO
SILVA, 1996). Nesse caso, o sujeito nominativo referencial não é ocultado. Ex.: Eu não sei
se eu vou conseguir numa sessão só (DUARTE, 1995).
Na língua espanhola, os PPS possuem uma inclinação muito mais acentuada para as
línguas pro-drop positivas. O pronome nominativo é ocultado com mais frequência, nesse
sentido, conforme Fanjul (2014, p. 38) quando o “ponto de partida” é retomado na oração,
isso significa que não houve nenhuma “mudança no centro de interesse” do texto, o qual
justifique a volta explícita do sujeito. Analisemos a seguir os exemplos colocados pelo
autor:
(a) Basta você querer encontrar seus funcionários que eles aparecem no mesmo instante.
(b) Basta que quieras encontrar a tus empleados, que Ø aparecen en el mismo instante.
Liceras (1992 apud BOTTARO, 2009, p. 62) apresenta algumas das propriedades do
parâmetro pro-drop de Chomsky (1981) que também se observam no E. As mesmas são:
(1) Presença de sujeitos nulos. A omissão do sujeito continua presente no E. Ex.: ____ llegaron
por allá.
(2) Não necessita de expletivos. Está pautada nos sujeitos meteorológicos, não cabendo a língua
espanhola a mesma função que têm os expletivos do inglês (it/there) e do francês (il).
Ex.: ____ nieva.
(3) Inexistência do that-t. A expressão that-t significa dizer que uma oração subordinada está
ligada a um pronome relativo, com ou sem preposição. Ex.: ¿Quién has dicho que va a
ganar?
(4) Troca de posição do sujeito em orações simples. Os PPS são um “ponto de partida”
referencial que podem estar no final de uma oração, ou seja, um nominativo de ordem
inversa. Ex.: Ha llegado Juan.
3.3 Estudo comparativo sobre o emprego das formas pronominais por parte dos
aprendizes do PB
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Língua estrangeira.
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Segundo Selinker (1972 apud, Baralo, 2004, p. 35) “se refere ao sistema linguístico do nativo”, o qual
trabalha para processar o conhecimento de uma nova gramática, a L2.
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Ibidem, página 3, nota de rodapé.
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Grifo nosso.
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Ibidem, página 3, nota de rodapé.
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a) Mientras mi hermano había ido a beber agua, él escuchó un ruido y Ø percebió ...
b) Ø No sé si yo Ø caso o si yo Ø compro uma bicicleta.
(4) Predileção pelas passivas acompanhadas pelo verbo “ser” e pelas passivas “se”.
Exemplos:
a) ... ella va a ser el palco donde las cuestiones van a ser resolvidas.
b) Se puede aprender muchas cosas.
(2) Fenômenos que se aproximam pela sonoridade e pelo uso de artigos como clíticos
(átonos). Exemplos:
a) (…) outro ascenso se podría ser esperado.
b) Se pueden escuchárselas voces por toda la casa.
Como podemos observar, no item (1), no exemplo (a) que o emprego do pronome
“lo” seria desnecessário, tendo em vista que o verbo sentir conjugado na primeira pessoa do
presente do indicativo aponta para a omissão do sujeito tônico “yo”. No exemplo (b), na
locução verbal deben usar, o PB que possui a tendência do uso da próclise e o E para a
ênclise, pode induzir a duplicação no emprego do pronome “se”, em ambas as formas
pronominais. Já no item (2), no exemplo (a), a sonoridade emitida pela letra “s” (como em
ascenso) pode ter ocasionado à inserção indevida do pronome “se”. No exemplo (b), o
emprego do artigo “las”, se referindo a voces foi equivocadamente utilizada como um
pronome associada ao verbo escuchar.
Por essas razões, as assimetrias presentes tanto nas estratégias gramaticais que se
aproximam da L1 como da L2 afetam diretamente o devido emprego do PPS do espanhol
pelos estudantes brasileiros, já que há casos de que a omissão do sujeito influência no uso ou
não dos pronomes átonos, se tornando assim, relevante para esse estudo.
CRONOGRAMA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARALO, M. ¿Qué es la interlengua (IL)? In: La adquisición del español como lengua
extranjera. Madrid: Arco Libros, 2004. p. 35-53
___________. Pero ¿qué gramática es está? Los sujetos pronominales y los clíticos en la
interlengua de brasileños adultos aprendices de E/LE. V. 14.2. Revista de Filosofia
Hispánica: Pamplona, 1998. p. 243-263
KENEDY, E. Gerativismo. In: Manual de Linguística. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
p. 127-140
POSIO, P. Uso del pronombre personal sujeto de la primera persona del singular en
español y português hablados: factores semânticos y pragmáticos. Helsinki:
Universidade de Helsinki, 2008. p. 1-79
ANEXOS
Entrevista nº
Inf.
Nome:
Idade:
Sexo:
Profissão:
Escolaridade:
4) ¿Has viajado alguna vez a algún país en donde se habla español? ¿Cómo fue tu
experiencia con la cultura, la gente y con el idioma?
10) ¿Qué haces además de estudiar y la práctica que te pide el profesor para mejorar
tu desempeño?
14) ¿Qué piensas sobre la enseñanza del español en Brasil? ¿Crees que es importante
que se enseñe el español en las escuelas?