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Anais

I Encontro Nacional de Estudos da Imagem 14, 15 e 16 de maio de 2007 • Londrina-PR

A ESTÉTICA DA REBELDIA E DO ANTICONVENCIONALISMO NO MOVIMENTO PUNK


ATRAVÉS DE IMAGENS. ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS PRODUZIDAS PELO FOTÓGRAFO
NORTE-AMERICANO BOB GRUEN

Fabio Henrique CIQUINI

O fotógrafo, Bob Gruen

A escolha deste fotógrafo nova-


iorquino representa a necessidade de
análise do material de um profissional,
que já clicou diversas celebridades do
rock, como o cantor americano Bob Dylan
e John Lennon, este, nos seus últimos
dias em Nova York, as bandas inglesas
Led Zeppelin, The Who e Rolling Stones, e,
é claro, as bandas punks Sex Pistols e The
Clash, entre outros ícones do movimento.
Com relação à banda inglesa Sex
Pistols, Gruen foi escolhido pelo
empresário da banda Malcolm McLaren
para fotografá-los em seus shows nos
Estados Unidos. O fotógrafo viajou com
a banda e registrou tanto os momentos
Johnny Rotten e Sid Vicious no avião (1977)
de palco, quanto aqueles no avião, nos
bares e no camarim. Tornou-se próximo da banda, o que em fotografia sugere que os
fotografados não se sentiam intimidados com a lente de Gruen, eram mais espontâneos, e
conseqüentemente as imagens seriam mais fiéis àquilo que acontecia.

Histórico

A proposta do movimento punk inglês era a radicalização social no país da rainha. Havia
o desemprego, os jovens tinham poucas oportunidades e simplesmente não suportavam a
figura decorativa da rainha da Inglaterra, que era, e ainda é, um ícone dos bons costumes e
da tradição. A principal arma dos punks era a música, aliada às atitudes de afronta e rebeldia
contra a sociedade inglesa, que representava um valor a ser destituído através desse
comportamento transgressor. O movimento, logo, constituiu-se numa radicalização visual
jamais vista na Europa. Os punks ingleses tatuavam-se precariamente, inscrevendo o número
de desempregados no país, as meninas usavam maquiagem carregada, o que à época era
extremamente vulgar, e alguns “andavam com ratos em decomposição pendurados em seus
blusões” (BOLLON, 1993) tudo isso para expressar a rebeldia.
Afrontadores, marginais, violentos e escória eram apenas alguns dos adjetivos
denominadores dos punks na terra da rainha. A expressividade visual do movimento era
própria, e chocava a quase todos num país de maioria aristocrática. Esses jovens que vestiam
símbolos punks da cabeça aos pés dirigiam à sociedade as piores provocações possíveis. Uma
ironia única que beirava à violência e consubstanciava-se numa revolta niilista anti-social.
“We’re into chaos, no into music” (Nossa meta é o caos, não a música) (BOLLON, 1993)

* Aluno do curso de Especialização em Fotografia da Universidade Estadual de Londrina

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Fotografia, representação sígnica e ideologia

A mensagem fotográfica é estruturada a partir de códigos, e, diferentemente dos


códigos da semiologia escrita, não possui uma decodificação estruturalista fixa.. A ausência
de formalidade no que diz respeito à leitura imagética, tem como conseqüência um aumento
de possibilidades de interpretação e torna ainda mais interessante esse tipo de semiologia.
A possibilidade de leitura fotográfica está aberta a quase todos. É inegável que grande
parte das pessoas não consiga sentir algo, interpretar ou espantar-se como uma imagem.
Tomemos como exemplo uma das imagens mais enfáticas do século XX, capturada pelo
fotógrafo Nic Ut, aquela que certamente está em nossa memória, da menina vietnamita Kim
Phuc correndo dos ataques da bomba de napalm.
Ao pensarmos sobre esta fotografia, mesmo os leigos na área e os menos sensíveis, se
espantam, e a acham uma imagem forte, que choca e provoca emoção. A carga cultural que
possuímos, no entanto, nos abastece e pode-nos levar a mais fatos e a um conhecimento
intrínseco maior sobre a imagem. Pode-se dizer que a guerra do Vietnã matou milhares de
civis, muitas crianças inclusive, e que a bomba de napalm foi nefasta para os vietcongues. A
possibilidade de leitura da imagem está aberta a distintas interpretações, dependendo,
claramente da carga cultural de quem a analisa.. O que não se pode afirmar, no entanto, é
que não há como um analfabeto tirar conclusões sobre imagens. Ele refletirá de acordo com
sua cultura e conhecimento cognitivo simbólico, lerá à sua forma a imagem que lhe foi dada.
Como disse o semiólogo francês Roland Barthes, “a mensagem fotográfica é composta por
códigos abertos e contínuos”, ou seja, distintas análises imagéticas podem ser feitas,
possibilitando uma continuidade interpretativa.

“A permissão irrestrita de leitura é um dos fatores de fascínio da fotografia, pois, além de permitir
leitura mesmo aos analfabetos, pessoas alfabetizadas em português podem ler mensagens fotográficas
de fotos produzidas na China, no Líbano ou na Rússia, mas seriam incapazes de ler uma crônica, um
poema ou uma notícia em chinês, libanês ou russo. Essa acessibilidade, permitida em razão de a
mensagem não ser codificada em símbolos. É parte integrante do que os fotógrafos chamam de
‘mundo mágico da fotografia’”. (BONI, PAULO CÉSAR, 2005, P.82)

A partir de ampla gama de interpretações, a relevância da fotografia dentro do universo


artístico se sobressai perante outras representações imagéticas. A possibilidade de eternizar
momentos únicos em capturas mecânicas “testemunha a dissolução implacável do tempo”
(SONTAG, 1977) e, a posteriori, possibilitará distintas inferências interpretativas.

A fotografia transforma (e nos habitua a essa transformação) um recorte de espaço-tempo em


matéria, o signo fotográfico propriamente dito: correspondência entre percepção e representação,
buscando uma nova harmonia entre o olho e a mente, entre percepção e representação simbólica.
(FILHO, MILTON CHAMARELLI, 2002 P.6)

Para a ensaísta e estudiosa da fotografia, a norte-americana, Susan Sontag, o ato de


fotografar “corta uma fatia do momento e congelá-a”. A não semelhança com outras
representações imagéticas torna a fotografia única, pois esta possui a veracidade de um
momento único registrado, o que chama mais atenção certamente, do que vinte quatro
quadros por segundo da representação cinematográfica. Na fotografia, tem-se os signos
primeiros numa combinação chamativa, que induz o leitor refletir a partir daquela série de
signos inscritos na imagem. O que aconteceu um segundo após o clique do fotógrafo? A magia
da fotografia reside em disponibilizar signos matriciais que servirão de referência a outras
reflexões e inferências.

A multiplicidade de sin-signos, como os acontecimentos singulares que passam a caracterizar a vida


do homem citadino, presumem, talvez, que estes acontecimentos possam ser narrativizados e
percebidos como acontecimentos pontuais. E a foto, neste momento, se antecipa ao cinema. A foto,

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em singularidade, é a potencialidade de um movimento que a transforma também em passagem


para que, a partir dela, outros signos, sob sua matriz (ou sob a matriz visual na qual a sua presença
é central (SANTAELLA, 1989)), possam se constituir. (SANTAELLA apud Filho, 2002)

Esse recorte espaço temporal, a fotografia, não é realizada com imparcialidade. A


ideologia presente nela é um aspecto que está diretamente ligado ao domínio da linguagem
fotográfica, a formação cultural do fotógrafo e suas ideologias.
O domínio das diversas técnicas fotográficas permite ao profissional escrever melhor o
seu discurso imagético. Ele se utiliza de recursos técnicos da própria câmara como a velocidade
do obturador, abertura do diafragma e diferentes tipos de lente, para demonstrar sua ideologia,
para significar algo. A intencionalidade do fotógrafo também prevalece, pois na sua construção
de mensagem visual, ele escolhe diferentes planos para capturar o que deseja, dando o
recorte que melhor lhe convêm. A importância das técnicas fotográficas notabiliza a significação
imagética e, portanto, não somente a imagem em si deve servir de substrato para análise
semiótica, mas também as técnicas fotográficas utilizadas.

É no meio que se deverá procurar a subjetividade; é nos artifícios da fotografia, que se inscrevem
as possibilidades do dispositivo, que se deverá procurar a sua singularidade: o seu caráter de sinsigno,
mas também a sua ideologia (FILHO, 2002 p.4)

A título de exemplificação, pode-se pensar num fotógrafo que cobre jogos de voleibol.
Ele pode optar em deixar a velocidade do obturador alta, para que congele o movimento,
caracterizando expressividade e dinamismo na ação, assim como pode também fotografar a
ação num plano de contra-mergulho (objeto fotografado de baixo para cima) com uma lente
grande-angular. A imagem significará “grandiosidade” dos jogadores, haverá aumento de
importância dos personagens na imagem, e supervalorização do primeiro plano.
Distintas possibilidades de interpretação proposta por Barthes, aliada à intencionalidade
do fotógrafo e sua ideologia, ou da empresa onde o profissional trabalha, juntamente com a
utilização e domínio das técnicas fotográficas e a base sígnica cultural do espectador são
elementos que permitem creditar diferentes interpretações à fotografia. No caso de imagens
de um movimento cultural, como o punk, a aplicabilidade destes conceitos, torna-se visível.
Ele se utiliza de elementos propagandeados pelos participantes do punk, como a expressão da
rebeldia, a insatisfação, o niilismo e o famoso “No future1” e os capta de maneira que
transparece, também, o seu ponto de vista.

A imagem do punk

O estudo dos ícones dentro do universo cultural punk neste trabalho, é em sua essência,
caracterizado por uma abordagem analítica dos signos imagéticos presentes, e também da
linguagem fotográfica empregada. A “desconstrução” de fotografias, no sentido em que há
de se analisar os signos plásticos e os icônicos, será útil, pois “gera uma quantidade maior de
inferências figurativas, possibilitando a detecção de cada “tijolo” significante da imagem.”
(JOLY, MARTINE 1996).

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O “No future” tornou-se um lema entre os punks ingleses que, desacreditados em seu país, onde o desemprego
ganhava cada vez mais espaço, queriam apenas chocar e destruir valores tradicionais instituídos fossem eles
familiares, sociais, comportamentais ou até mesmo musicais.

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Sid Vicious, vocalista da banda Sex Pistols. “I’m a mess”, 1978.

Esta imagem produzida no ano de 1978 mostra, num primeiro momento, a postura
anárquica e rebelde que o punk representava. Já passado o baque inicial do movimento, que
desde 1975 sacudia a Inglaterra, os conterrâneos da rainha ainda se chocavam com este tipo
de atitude que vinham particularmente dos Sex Pistols, em especial de Sid Vicious.
Com relação aos signos plásticos – cores, formas, composição e textura, a imagem tem
a predominância do preto, um tom sombrio. Parte da parede está nessa cor, assim como a
jaqueta, os óculos e o cabelo de Sid Vicious. A blusa do baixista, abaixo da jaqueta, é de uma
estampa sintética que imita a pele de uma onça, que à época, era extremamente vulgar e
pressupõe uma animalização de quem a usa. Um dos acessórios na jaqueta de Vicious é de
metal, assim como a corrente que ele usa no pescoço, o outro, é um botton, provavelmente
de metal revestido de plástico com a mensagem “I’m a mess”, ou em bom português “eu sou
uma bagunça”. O baixista dos Sex Pistols ainda segura um cachorro quente e está com a boca
toda lambuzada com catchup e mostarda. A forma como segura o cachorro quente, numa
primeira observação pode passar despercebida, mas seu dedo médio está à mostra, no
famoso gesto obsceno que todos conhecemos.
Na interação signos plásticos e signos icônicos, “que geram a figuração propriamente
dita” (JOLY, MARTINE,1996), pode-se dizer que a imagem, numa rápida e incipiente observação
é ofensiva, justamente pela sujeira com os molhos na boca de Vicious. O pouco de catchup
que está em meio à mostarda parece insignificante, mas para o universo de cores berrantes
e/ou pálidas do punk esse vermelho característico já é representativo. Dentro do movimento
é uma cor que permeia as roupas e acessórios. O calor e a vitalidade, o sexo pecaminoso, a
paixão, a raiva, o perigo e a revolução são características associadas à esta cor. O diabo é
representado pelas cores preta e vermelha. “Fisiologicamente, a visão dessa cor provoca um
aumento da pressão sangüínea, do ritmo respiratório e da pulsação, nos preparando para
uma ação física súbita” (LOURENÇO, 2004). O amarelo da mostarda é o alerta, as placas de
sinalização de trânsito desta cor significam um iminente perigo. Para a sociedade inglesa que
se chocava a cada aparição dos Pistols a idéia era justamente essa, estar alerta a tudo que
eles falariam e como iriam aparecer. O cachorro quente, apesar da aparente coadjuvância na
imagem pode ser entendido como uma forma alternativa de se alimentar. Em vez do tradicional
chá das cinco com biscoitinhos ou uma alimentação equilibrada com vegetais e cozinha típica

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britânica, os punks eram aqueles que comiam um lanche calórico, ofensivo e prejudicial à
saúde. Metaforicamente isso significa uma subversão na totalidade dos valores sociais
instituídos, inclusive na alimentação.
O preto na imagem associa-se com a noite e as trevas, e, desde a idade média,
significa obscurantismo. Indica, segundo as propriedades da óptica, ausência de luz, mas com
relação à significação revela mistério e poder. Durante os tempos modernos esteve na maioria
das vezes ligado ao erotismo e à perversão. Para o movimento punk, a negação sistemática
de todos os valores aristocráticos tem como uma das representações, a utilização dessa cor.
A descrença no governo e a situação social da Inglaterra era motivo de luto para os punks,
que, na maioria das peças da indumentária, como jaqueta, camiseta ou pelo menos em
algum acessório, utilizavam dessa cor. A estampa vulgar e sintética da blusa de Vicious
transmite a animalização do movimento; mas não é um animal dócil, trata-se de uma onça;
feroz, livre, ágil e que é uma caçadora implacável, metaforicamente, a implacabilidade feroz
do punk.
O couro da jaqueta de Sid é intimamente associado aos instintos sexuais, mas também
representava o uniforme de guerra, estava ligado à rebeldia desde a década de 50, quando
foi utilizado por Marlon Brando no filme O selvagem (The Wild One). O material servia como
proteção contra a hipocrisia social. Duro e resistente, simbolizava o escudo contra o
tradicionalismo e era considerado um material ligado também à sexualidade. A mensagem do
botton na jaqueta é clara, e não deixa nenhuma dúvida quanto a postura e a missão do punk.
Eles estavam lá para badernar, subverter, não deixar nada no lugar, promover uma revolução
jovem pretensiosa que almejava inverter todos os valores sociais, mas ao mesmo tempo não
instituir algum. O antagonismo do punk, que queria outros valores, mas também nenhum,
pode ser representada pelo contraste de cores branco X preto em segundo plano. O branco,
fisicamente, representa a soma de todas as cores, enquanto o preto, a ausência. Esta
primeira também pode significar a paz, enquanto a outra, o luto as sombras e as trevas. Há
que se pensar também na coloração leitosa da pele de Vicious que transmite uma impressão
de palidez. O punk era considerado uma doença na Inglaterra, um mal a ser extirpado da
sociedade o quanto antes, pois era um intrometido na sociedade que causava dores de
cabeça à aristocracia.
A careta de Vicious corrobora a intencionalidade de rebeldia apregoada pelo punk. A
língua de fora e a boca torta são expressões que chamam a atenção e chocam, assim como o
dedo médio indicando gesto obsceno apontado para a câmera de Gruen. Em meados da
década de 1970 nada era tão ofensivo quanto esse tipo de comportamento em público, a
Inglaterra toda sofria um taquicardia quando os punks apareciam na tevê ou em jornais, tudo
aquilo era perverso demais.
A imagem ganha dinamicidade na escolha do plano vertical. Essa verticalidade representa
na fotografia uma força, usa ausência de contemplação que obviamente conduz ao sentido
oposto da observação, há aqui falta de “ar” visual. Não é uma imagem que seja admirada e
o leitor possa conduzir seus olhos pelos elementos que contextualizam a cena. A não escolha
do plano médio, aquele que conjuga personagem e elementos que o identificam, resulta na
observação de que qualquer coisa, por mais simplória que pudesse parecer – no caso do
cachorro quente – pode ser uma “arma” do punk contra a aristocracia inglesa. Mesmo nos
planos mais fechados Sid Vicious acharia um elemento ou faria uma expressão que incomodasse.
A opção pelo plano do tipo americano, mais fechado, conduz o leitor a um espaço
menor de observação e com vários elementos significantes. Não chega a ser poluição, mas
causa desconforto, pois, por mais que o leitor queira ler outros detalhes, ele não consegue,
prevalece o anarquismo de Vicious comendo um cachorro quente.

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Sid Vicious “Covered in blood USA”1978.

Esta outra imagem de Sid Vicious, feita nos Estados Unidos no mesmo ano da outra
fotografia, revela a idêntica revolta - exponenciada em relação à outra foto - e a igual
intenção de mostrar que o punk era a intensa forma de rebeldia que jamais cessava. Seja
comendo um lanche, ou num dos explosivos shows, Vicious personificava todo o niilismo e
exacerbava a revolta que era exemplificada pela sua postura. Nesta fotografia, como o
próprio título de Gruen afirma, Vicious está “coberto de sangue”, principalmente sua boca.
Revela-se também seu corpo esquálido cortado por ele mesmo na região do peitoral.
Numa dupla observação, para que se minimize a possibilidade de ocorrer anacronismo
imagético, pode-se inferir que Vicious era um reflexo da sociedade britânica, desfigurada e
sórdida. È plausível também discorrer sobre a possibilidade de que seus cortes, e o sangue no
seu corpo apenas servem como elementos comprobatórios da rebeldia sem limites de Vicious,
e por extensão, do movimento punk. O choque pelo choque, puramente. Como disse Johnny
Rotten, vocalista do Sex Pistols “We’re into chaos, not into music” (Nossa meta é o caos,
não a música) (BOLLON, 1993).
No centro das atenções, Vicious é iluminado por um spot de luz bem ao centro da
imagem, podendo significar que, apesar de macilento, desalinhado e contra todos, Vicious
estava na linha de frente da mídia, era personagem recorrente quando se falava em punk,
principalmente nos Estados Unidos. Chama atenção também seu olhar, possivelmente sonolento
e sentindo os efeitos das drogas. No pescoço, Vicious utiliza uma corrente com um cadeado,
que confere prisão e sensação de angústia por não poder se libertar. Paro o punk, sempre
convivendo com dialéticas pouco prováveis, isso poderia significar a prisão que a sociedade
inglesa instituía em seus cidadãos, mas ao mesmo tempo o movimento queria isso mesmo,
sufocar, provocar náusea, ser um incômodo pequeno, mas notório, como o cadeado.
Com uma calça preta, Sid retoma os aspectos de significação já referentes a esta cor,
mas expande o sentido, pois utiliza na sua calça um cinto com argolas, pode referenciar
algemas. Estas argolas transmitem sensação de aprisionamento e acorrentamento, remetendo
tanto ao já mencionado sufocamento social dos jovens, quanto puramente à intencionalidade
do choque.
Apesar da pequena profundidade de campo na imagem, percebe-se que o vocalista dos
Pistols Johnny Rotten canta para uma platéia aparentemente grande. No lado direito da

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imagem há jovens dançando. A opção estética pelo preto e branco reforça a questão do
paradoxo no movimento punk, assim como também é uma forma de, neste caso, denotar
falta de esperanças e perspectivas. A captura da imagem neste plano reforça também que o
punk transcendia a música, eram atitudes e comportamento de choque que mais interessavam
As representações sígnicas à partir de elementos do vestuário, cores e ornamentos como
tatuagem e acessórios no corpo, além é claro das escolhas técnicas de Bob Gruen, representam
fundamentos essenciais do movimento punk na Inglaterra, e o entendimento deste importante
movimento da cultura pop certamente deve levar em consideração as fotografias produzidas
sobre ele.
Gruen criou imagens que, apesar de pouco conhecidas do grande público, tornaram-se
formatos clichês quando se pretende demonstrar imageticamente o que é a rebeldia e como
se portam os transgressores. Em outras palavras, o fotógrafo não conseguiu promover suas
imagens do Sex Pistols propriamente ditas, mas foi além, pois demonstrou os signos de
rebeldia e criou uma base paradigmática para que, mesmo hoje, outros fotógrafos captem
esse espírito de agressividade e rebeldia.

Referências Bibliográficas

BARTHES, Rolland. A câmara clara. Lisboa.172p.

BOLLON, Patrice.A moral da máscara, Marvelleux, Zazous, Dândis, Punks etc Rocco 2003 267p.

BONI, Paulo César.Fotografia e mídia:Da construção da Imagem à veiculação de Ideologias.Formas e


Linguagens, Ijuí, ano4, n.9, p.73-89, jan/jun.2005.

CIQUINI, Fabio Henrique: Da rebeldia ao consumo: Uma análise estética e comportamental da moda e
música no movimento punk. 2006. Trabalho de conclusão de curso de jornalismo na Universidade Estadual
de Londrina.

FILHO, Milton Chamarelli. Fotografia, percepção e subjetividade. Intercom. XXV Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, Salvador, BA.2002.

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Papirus.1996.152p.

LOURENÇO, Juliana Aparecida. Análise da Indumentária punk In______Expressões artísticas na indumentária


punk. 2004. p.40-53. Monografia (Especialização em História e Teorias da Arte: Modernidade e Pós –
Modernidade) Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Companhia da letras,2006. 221p.

<http://www.bobgruen.com/> acesso em 15 de abril de 2006

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