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INTRODUÇAO

O presente relatório de estágio corresponde ao projecto que será apresentado e defendido


para a conclusão do curso de Direito no Instituto Superior Politécnico Lusíada de
Benguela (ISPLB). Tem como finalidade a descrição das actividades desenvolvidas
enquanto estagiária onde de forma sistemática, empreguei os vários conhecimentos
adquiridos ao longo do curso e o saber fazer que me foi incutido no âmbito do estágio.

O meu estágio foi realizado no Escritório de Advogados Sérgio Raimundo e


Associados, em Benguela, sito na Rua de Angola. Estive, concretamente, no Gabinete
Jurídico como estagiária, e o orientador designado pela entidade concedente do estágio
foi Dr. Alfredo Nalatu, Advogado. A co-orientadora e supervisora designada pelo ISPLB
foi a Dra. Filipa Pintalhão.

O estágio excedeu as 60 horas inicialmente previstas no plano de estágio. Teve o seu


início em Setembro de 2016, e o seu final em Janeiro de 2017.

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I-CAPITULO

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ENTIDADE CONCEDENTE DO ESTAGIO

O ESCRITORIO DE ADVOGACIA DR SERGIO RAIMUNDO E ASSOCIADOS,


encontra-se localizado em Luanda, no Bairro do Alvalade, à rua Hélder Neto, n.º50, em
Benguela no centro da cidade na Rua de Angola, n⁰18, e em Cabinda, no Bairro Deolinda
Rodrigues, Rua do Timor, Zona-B, Casa nº32.

Existe há mais de 10 anos com uma equipa de mais de 20 advogados altamente


qualificados, entre titulares e estagiários, com formação jurídica em diversas áreas do
direito para garantir a prestação de serviços de advocacia e consultoria de qualidade e
mais concretamente, nas áreas do direito civil, penal, trabalho, família, petróleo e gás,
comercial e fiscal.

O Escritório e constituído por uma equipa cuja missão é privilegiar a consulta jurídica
como método de prevenção de litígios, exercendo a advocacia de modo a explorar o
mecanismo preventivo do Direito.

A equipa trabalha movida por quatro valores: (i) competência; (ii) foco no cliente; (iii)
prontidão e (iv) independência.

A equipa alia a técnica e rigor ético-profissional, as qualidades humanas que enriquecem


a relação com as instituições e com o cliente, assumindo como postura a defesa energética
e determinada dos direitos e dos interessados dos seus clientes, dentro dos marcos da ética
e deontologia profissional.

O Escritório Sérgio Raimundo e Associados Garantem um atendimento personalizado,


quer em regime de avença como em regime de contratação por objectivos. Valoriza cada
passo do cliente preparando um trabalho em equipa, sustentado no conhecimento, e dos
seus advogados.

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Tem como clientes dos seus serviços jurídicos, nas mais diversas áreas do direito e uma
enorme variedade de empresas, entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais.

O escritório oferece aos clientes um conjunto de serviços jurídicos orientados para as


necessidades dos mesmos, segundo uma estratégia personalizada e adaptada ao assunto
que se quer ver tratado.

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MOTIVAÇAO DO ESTÁGIO

Desde pequena que eu sonho poder ser advogada. Para mim o exercício da advocacia
significa a chance de poder defender aquilo que eu considero justo e ideal.

Mesmo que em algumas situações diárias as pessoas consideram que o dia-a-dia de um


advogado se resume apenas em elaborar petições e participar em audiências, acho isso
um equívoco. Na verdade, advogar envolve muito mais que isso. Todo advogado é
um conselheiro, tem que saber ouvir muito, é um pouco psicólogo, um terapeuta, um
confidente, um amigo, ou melhor um ouvido amigo responsável por resolver
conflitos entre as pessoas. E e esta dimensão humana da profissão que me cativa,
aliada ao seu carater multidisciplinar que implica que tenho que aprender algo novo
constantemente. Foi toda esta motivação pessoal que me moveu a optar pela
realização deste estágio.

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Obejectivos do Estagio

Objectivo Geral do Estagio:

Adquirir conhecimentos práticos consentâneos com a realidade, colocando em prática


todos conteúdos e conhecimentos adquiridos em sala de aula durante os cinco anos da
minha formação.

Objetivos Específicos do Estagio

 Acompanhar o funcionamento e as actividades do escritório Dr. Sérgio Raimundo


e Associados;
 Elaborar peças processuais e documentos jurídicos diversos;
 Interpretar e aplicar o direito;
 Realizar pesquisas de legislação e jurisprudência, de doutrina;
 Desenvolver o meu raciocínio jurídico, de argumentação e de persuasão;
 Acompanhar consultas e audiências no contexto do escritório e do tribunal;
 Procurar soluções jurídicas concretas pra as várias questões que me forem
colocadas.

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II- CAPITULO

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DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES DO ESTÁGIO

Foram várias as actividades que desenvolvi no âmbito do estágio. No entanto no presente


relatório apenas irei debruçar-me sobre três casos. Pese embora se refiram a factos reais,
por questões de sigilo os dados de identificação que aqui surgem especificados são
fictícios.

1º Caso

Processo-Crime: Ofensas Corporais e Injúria

No dia 17 de Novembro o Sr. Rodrigo de Oliveira solicitou os serviços do escritório na


sequência de uma agressão que sofreu por parte da Sra. Jurema Dias. O seu objetivo
consistia na instauração de um processo-crime contra a agressora, por ter lhe desferido
uma bofetada e ter ofendido a sua honra de viva voz e ao lado de varias pessoas, numa
parcela de terreno resguarda a sua passagem e que estava a ser alvo de uma intervenção
por parte da agressora, o que passaria a impedir a sua passagem.
Antes de darmos entrada a participação criminal pedimos a comparência da Sra. Jurema
ao nosso escritório para tentar uma reconciliação. Ela recusou-se a comparecer. Foi assim
que na sequência da sua atitude elaboramos a participação criminal e mais tarde a acuação
do particular, através da qual acusamos a agressora pela prática de crime de ofensas
corporais voluntarias e simples, tipificado pelo artigo 359º do Código Penal e do crime
de Injuria previsto e punível pelo artigo 410º do Código Penal. Com base nos dados do
ofendido expos, concluímos que a acusada agiu de forma livre, voluntaria e consciente,
agindo com dolo directo e necessário, lembrando que acusada ao dar a bofetada ao
ofendido proferiu algumas frases ofensivas manchando a honra e o bom nome do
ofendido, e bem sabia o que estava a fazer.
Coloco de seguida a acusação particular que elaborei para o caso.
Trata-se de crimes particulares artigo----- do código penal, motivo pela qual o ofendido
teve que constituir-se Assistente e deduzir acusação artigo 7º e 11º do código do processo
penal.

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MERITÍSSIMO SENHOR DOUTOR
JUÍZ DE DIREITO DO TRIBUNAL MUNICIPAL
DA BAÍA FARTA – SALA DOS CRIMES CUMUNS
BAÍA FARTA

Por se constatarem indícios suficientes nos autos e, ao abrigo do artigo 391º do C.P.P.
conjugado com o preceito do artigo 27º parágrafo único do Decreto-Lei nº 35.007, de 13
de Outubro de 1945, Rodrigo de Oliveira, melhor identificado nos autos acusa em
processo de Polícia Correccional:

Jurema Dias, Casada de 56 anos de idade, filha de Alberto Rasgado e de Maria


Carmelino, natural e residente em Benguela, Bairro Baía Azul, Município da Baía Farta,
com os demais sinais de identificação nos autos;

Porquanto, indiciam os autos de que, cerca das 17H:30 do dia 14 de Agosto de 2016,
quando o ofendido deu conta que a acusada estava a realizar obra que iria servir de
cabouco (muro de vedação), por motivo disso veio criar um clima de confusão. Tudo
porque a acusada orientou aos seus homens (Pedreiros) para fazer a referida obra
justamente num local reservado a servidão de passagem e que o mesmo impediria o
acesso ao terreno do ofendido, este, no sentido de não ser vetado ao acesso, foi ao local
juntamente com seus trabalhadores no sentido de paralisar com tal obra.

Estado no local, o ofendido orientou aos seus trabalhadores que tapassem o cabouco feito,
de forma a repor as limitações que a Administração Municipal/BF delimitou como
servidão de passagem que estava a ser alvo da acusada. Em reação do sucedido, fez com
que um do integrante da parte da acusada reclamassem e posteriormente entrar em cena
de agressão, quando o mesmo introduziu-se no interior da casa para ir a busca do Cão,
criando pânico a todos, uma vez que o mesmo cão é de uma raça perigosa.

Assim, é na altura que o ofendido e os seus trabalhadores, a darem conta do Cão, cada
um procurou forma de se defender a sua medida, tendo um dos trabalhadores atingindo o
mesmo Cão com uma pá, facto este que fez com que o mesmo animal (Cão) voltasse ao

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quintal, e que se não fosse por essa intervenção, provocaria coisas piores. No decorrer do
mal entendido, o afiliado (Breno João) da acusada fez uma ligação a mesma pedindo a
sua comparência, e mesma de seguida apareceu em companhia do seu esposo, que se
faziam transportar da sua viatura.

Da viatura saiu a condutora, ora acusada nos presentes autos, Jurema Dias que perguntou
o que estava acontecer, mas num tom de ameaças, mostrando que goza de influências e
que mesmo que prosseguisse a referida construção, que estaria a vetar o acesso do
ofendido, em nada lhe pesaria em termos de repressão. Com essa atitude demonstrada
pela acusada fez com que assustasse o ofendido e não demorou que o ofendido
despertasse do medo, a acusada desferiu uma forte bofetada na face do ofendido, que
resultou em hematoma e equimose na região da face do mesmo, conforme prova
documento, que consta no presente autos, ex vi folha nº 18.

Todavia, a referida agressão aconteceu sob o olhar sereno de todos, e em reação os ânimos
alteram-se pelos dois lados, tendo ofendido em gesto de sair naquele mesmo lugar, tinha
que empurrar a acusada, de forma a se libertar do meio que se encontrava, tendo se
refugiado junto do seu trabalhador, se não aconteceria coisa pior, porque a par da agressão
a acusada foi usando pedras para atingir o ofendido.

Bem tal comportamento ofensivo em nada preocupou os agressores que em


companhia do seu marido e apoiante no acto foram várias vezes atrás do ofendido para
continuar com a agressão, o mesmo (ofendido) sob de todo jeito se proteger das acções
preconizadas pela acusada.

A acusada agiu de forma livre, consciente e voluntária, agindo com dolo directo e
necessário, encontramos configurados os elementos objectivos e subjectivos do crime de
ofensas corporais voluntárias Simples;

Lembrando que enquanto a acusada dava bofetada violentamente ao ofendido


proferiu repetidamente as seguintes frases “filha da puta…“ “ cabrão….” Branco de
merda “ na rua a frente de inúmeras pessoas, manchando a honra e o bom nome do
ofendido.

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Pois, os factos imputados ao ofendido, foram feitos publicamente, em alto som
e viva voz, factos ofensivos á sua Bona fama, reputação, dignidade e decoro e rectidão;

Note digno Magistrado, que o tipo Penal ou melhor o concurso formal de


infracções que encontramos sub espécie visa proteger a honra objectiva e subjectiva, que
é posta em causa, e o bem violado é de difícil recuperação, causando danos morais na
esfera do ofendido de valor incalculável

Com tal comportamento cometeu assim a arguida, os crimes de Ofensas


Corporais Voluntárias Simples, p. e p. pelo artigo 359º e Injuria, p. e p. pelo artigo 410º
todos do Código Penal, correspondentes aos crimes de Ofensas Corporais Voluntárias
Simples e Injuria.

Outrossim, como Consequência lógica é sujeitar-se o autor da infracção à


responsabilizações penal e civil pelos danos morais sofridos pelo ofendido mediante o
devido processo legal, que se efectivará no processo criminal, podendo o pedido de
indemnização ser introduzido no processo penal, artigo 29º do Código do Processo Penal,
a ser fixado a data a altura do julgamento e o ressarcimento das despesas hospitalares
suportadas pelo ofendido;

Prova: A constante nos autos.


S. C: A estabelecida nos autos.

Declarantes:
Silva Mário;
Victorino Sabalo;

Requer que recebida a douta acusação particular, se marque data para julgamento.

Benguela, aos 18 de Setembro de 2016.

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2º CASO
AUTOS DE DIVORCIO LITIGIOSO

Carlos Tequete e Ana Maria casados no regime de comunhão de bens adquiridos,


encontram-se separados desde 2011.
Segundo o relato que nos foi feito em sede de consulta jurídica, pelo cônjuge marido, a
cônjuge mulher violou os deveres de respeito e lealdade ao proferir expressões ofensivas
a sua integridade moral, segundo o mesmo, foi este o motivo principal que originou a
separação, aliado ao facto de sua conjugue não ter capacidade reprodutiva.

Por todos esses factos o requerente decidiu requerer o divórcio com o fundamento
específico de que estavam separados por um período superior a três anos, previsto na
alínea a) do artigo 98 do Código da Família. Não existem bens a partilhar, pois os
cônjuges já chegaram a um acordo neste domínio. O Requerente aceitou adjudicar todos
os bens que partilharam na vigência do casamento a favor da requerida, nomeadamente
uma casa sita no Bairro da Cetenco, o respectivo recheio mobiliário e uma viatura marca
Toyota Land Cruiser.

Apesar de a visão do Escritório ser a da prevenção e resolução extra-judicial de litígios


no caso descrito, e face aos factos e a determinação que nos foi apresentada pelo
constituinte, alias considerada pelo próprio Código da Família como causa objectiva do
divorcio, não nos restou outra opção dar seguimento ao pedido do mesmo e prosseguir
com a instauração da acçao de divorcio litigioso junto a sala da família do tribunal
provincial de Benguela.

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MERITÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO
DA SALA DA FAMÍLIA DO TRIBUNAL
PROVINCIAL DE BENGUELA
BENGUELA

Carlos Tequete, casado, natural de Chipindo Província da Huíla, nascido aos 21 de


Novembro de 1959, Bilhete de Identidade nº 002277689HA032, emitido pelo Arquivo de
Identificação nacional aos 17 de Dezembro de 2010, residente actualmente em Benguela.

Vem intentar

ACÇÃO ESPECIAL DE DIVÓRCIO LITIGIOSO

Contra: Ana Maria, casada, funcionaria pública, natural do Huambo, residente


actualmente em Benguela, sendo localizável na Escola de Formação de Professores
IMNE/Benguela, com base nos seguintes fundamentos:

I-OS FACTOS


O Requerente e a Requerida, aos 25 de Julho de 1997, contraíram o matrimónio em
regime de comunhão de bens adquiridos, conforme atesta o assento de Casamento que
aqui se junta e se dá por integralmente reproduzidos para todos os efeitos legais,
(conforme doc. nº1)


O Requerente e a Requerida, desde aquela data, passaram a viver em comunhão de cama,
mesa e habitação.

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Porém, da relação matrimonial não procriaram filhos.


Durante o período em que durou a convivência conjugal a Requerida foi frequentemente
violando os deveres conjugais, sobretudo quando esta (Requerida) se sentia inconformada
pelo facto de não ter capacidade reprodutiva.

A título de exemplo: com frequência a Requerida violava os deveres de respeito e
lealdade, ofendendo moralmente o Requerente assim como os parentes mais próximo (do
Requerente), não permitindo qualquer proximidade com estes, instalando um mal clima
entre as partes.


A partir daquele momento (cujo o Requerente ignorava), devido ao comportamento da
Requerida a convivência matrimonial entre ambos começou a deteriorar-se chegando a
comprometer a comunhão de vida dos cônjuges, impossibilitando a realização dos fins
sociais do casamento.


Em consequência, a relação matrimonial foi-se, dia após dia, se deteriorando, que tornou
impossível a plena comunhão de vida entre os cônjuges, havendo reciprocamente a
violação do dever de respeito com expressões ofensivas a integridade moral do
Requerente.


Razão pela qual levou às partes em habitarem em residências separadas.


Todavia, a separação de facto entre o Requerente e a Requerida deu-se no ano de 2011.

10º

Sendo certo que, até a presente data, e passados mais de 3 anos, o Requerente e a
Requerida continuam separados de forma ininterrupta.

14
11º
Separação que tornou a relação matrimonial sem qualquer sentido para as partes, visto
que ambos já não mantêm qualquer tipo de relações de natureza pessoal, sendo este o
fundamento específico do divórcio.

12º
O fundamento específico a ser invocado como causa do pedido do divórcio é o constante
da alínea a) do art.º 98º do Código da Família: “ Pela separação de facto por tempo
superior a três anos.”

II-DOS BENS A PARTILHAR


13º
Não existem bens a partilhar, sendo certo, que os mesmos (os cônjuges) já chegaram a
um acordo, em que, o Requerente deixou todos os bens que partilharam na vigência do
casamento a favor da Requerida.
Nomeadamente: 1º- Uma casa no bairro Cetenco (com recheios mobiliários)
2º- Uma Viatura Jeep marca Toyota Land-Cruizer

III-DO DIREITO

14º
O art.º 97º do Código de Família expressa como fundamento do pedido de divórcio
litígioso que exista uma grave ou duradoura, esteja comprometida a comunhão de vida
dos cônjuges e impossibilitada a realização dos fins sociais do casamento.
15º
Prescreve ainda o Código de Família, no seu art.º 78º “ Os cônjuges poderão requerer o
divórcio sempre, que deteriorem, de forma completa e irremediável, os princípios em que
se baseava a sua união e o casamento tenha perdido o sentido para os cônjuges…….”

16º
Também se pode verificar na estatuição do art.º 79º alínea b), “ O divórcio pode ser
pedido…. por apenas um dos cônjuges, com base nos fundamentos previstos na lei”

15
17º
O referido processo de divórcio não precisa de ser cumulado com a obrigação de
alimentos uma vez que a Requerida não carece de alimentos, porque exerce a função de
professora.

18º
Com os preceitos acima citados e os factos narrados, resulta claramente o direito de o
Requerente recorrer a este Tribunal, para por termo ao casamento, por se mostrarem
deteriorados e irremediáveis os princípios nos quais se norteiam e alicerçam a relação
matrimonial.

IV-DO PEDIDO
19º
Diante do exposto, termos em que, nos melhores de direito e com o Douto Suprimento de
Vossa Excelência, deve a presente a acção ser julgada procedente por provada e em
consequência:
a)- Ser decretado o divórcio entre o Requerente e a Requerida, com todas as
consequências legais daí decorrentes, com efeitos retroagidos na data da separação a fixar
em sentença.

Valor da causa: 1. 408. 001,00 Kz

Junta: procuração forense e duplicados legais.

Conselho de Família

Cássio Sakupia
Felícia Eduardo
Arrola como testemunha
Abrantes Aristóteles
Afonso Fernando

Benguela, aos 15 de Novembro de 2016

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3º CASO
AUTOS DE IMPUGNAÇAO DE FILIAÇAO

O autor da Accão, Manuel da Costa refere na sua Petição Inicial que questionava desde
que filho nasceu a sua paternidade. No entanto proferiu assumir a sua paternidade e viver
com a respectiva mãe e cuidar do filho ate o mesmo atingir os 26 anos de idade. Só depois
disso revolveu impugnar a paternidade do seu próprio filho.

Alegou, ainda, que o que o motivou a intentar tal Accão foram os comportamentos
desadequados do filho, primeiro motivados pela sua reprovação no primeiro ano na
Universidade e também por o mesmo ter agredido fisicamente a sal actual esposa.

OS Réus da Accão, que são o filho do autor e a sua mãe, recorreram aos serviços do
Escritório onde me encontrava depois de terem sido citados para Accão, mandatando-nos
para os representar na Accão judicial.

Por uma serie de factores que se encontravam devidamente expostos na contestação que
elaboramos, a qual anexo de seguida, concluímos que o autor agiu de má-fé ao articular
argumentos que não correspondem a realidade, e, em reconversão requeremos a sua
condenação no pagamento de uma multa e de uma indeminização aos réus para a
reparação de danos morais e materiais, segundo o artigo 456º do Código Civil.
Complementando que o juiz da causa ordenou que fossem realizadas a analises ao ADN
do autor e dos réus, cujos os resultados foram mais tarde junto ao processo e ficou deste
modo provado que o autor litigou de má-fé.

Nos termos do artigo 456º do Código Civil, litigam de má-fé aquele tiver deduzido
pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não vigorava.

Penso que o Autor não foi “feliz” na sua escolha da Accão que intentou nos meios
judiciais. Se a pretensão do mesmo era “reprovar” o filho pelo seu mau comportamento,
a sua esposa deveria ter recorrido, quanto ao segundo episodio relatada, a instauração de
um processo crime por ofensas corporais ou mesmo, numa situação limite e baseada
noutros factos fatos ulteriores a deserdação.

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MERITÍSSIMO SENHOR DOUTOR

JUIZ DE DIREITO DA SALA DA FAMÍLIA

DO TRIBUNAL PROVINCIAL DE BENGUELA

BENGUELA

Wilson Adolfo e Marta Frederico , Requerido no processo à margem cotado e melhor


identificado nos autos, tendo sido notificado da Acção de Impugnação de Filiação que
move contra si o Manuel Costa, junto deste Tribunal, “data venia”, vem por este
intermédio defender-se apresentando a sua,

CONTESTAÇÃO


Aceita-se, por serem exacta a expressão da verdade o facto constante no artigo 2º.

Já o mesmo não se poderá dizer no concerne à restante matéria, impugnando-se todos os


demais factos articulados, seja por não serem verdadeiros, seja por não terem o alcance
que o Requerente lhe pretende conferir.

Pelo que é totalmente falso o que o Requerente alega nos articulados 1º 4º, 5º, 6º, 11º, 12º
13º, 14º, 15º, 16º, 17º, 18º, 20º, 21º, 29º, da P.I.

Porquanto,

18

O A e a R. Marta Frederico começaram a namorar em 1976, porque o 1º filho desta
relação é de 1977, conforme cópia do B.I (Wilson Afonso), depois em 1979 tiveram
gémeos que infelizmente foi nado morto no parto. (vide doc. nº1)

Em 1981 tiveram uma terceira filha (Filomena Cristina) e em 1985 viria então nascer o
Wilson Afonso. (Vide, doc. nº2 e 3)

Conforme os factos notórios, como pode o A alegar que namorou com a R em 1985, se
na verdade já em 1977 tiveram o 1º filho, prova mais que clara de que a relação começou
em 1976.

Nesta altura não havia nenhuma desconfiança até porque o A é quem constantemente ia
a casa da R, Marta Frederico.

Também não corresponde a verdade, quando a dada altura o A afirma que o R foi
baptizado aos 02 de Dezembro de 1986, uma vez que o R foi baptizado já adulto.

Nunca foi questionada a paternidade do R, Wilson Afonso até porque quem ficava com
o Wilson Afonso era sua avó (sogra da R), a senhora Cecília Selengui.

10º

O R deixou de viver com o A quando este tinha 22 anos e não aos 26 anos de idade.

11º

O R, Wilson já adulto viveu e trabalhou no Lobito e a R, Marta Frederico sempre viveu


e esteve no Município da Ganda, logo seria impossível esta influenciar o R, Wilson a não
estudar.

12º
Aliás, qual é a mãe que não aceitaria que seu filho estudasse?

19
13º
Não corresponde a verdade o vertido nos articulados 13º a 24º da P.I, na medida em que
o R Wilson só levou a sua mãe para conhecer o seu filho porque o A nunca aceitou que o
R se casasse e sempre deixou bem claro que não aceitaria o respectivo neto, como pode
confirmar a testemunha Nelson Gonçalves

14º

O R só não casou naquela data não é pelo facto narradas pelo A.

15º

Mas sim, porque é prática do A. destruir casamentos agendados de seus filhos, conforme
pode provar a testemunha, Nelson M. Gonçalves.

16º

Não corresponde a verdade que o R. realizou a todo custo o casamento, até porque o R,
Wilson não é casado e desafia o A a provar tal acto.

17º

O A diz que alguém confidenciou-lhe que o R. Wilson Afonso não é seu filho, logo deve
o A dizer e provar quem foi que lhe disse quem é o dito pai do R.

RECONVINDO:

18º

Logo, não tem fundamento algum tudo que o A alega.

19º

Daí que o artigo 191º, nº 3, 195º, ambos do Código da Família, artigo 483º nº 1, artigo
562º, 446º, 454, todos do C.C. e 446º e 454º, ambos do C.P,C., não fazem sentido algum
e nem se aplica ao caso concreto.

20
20º

Porquanto, o A sabe e é do seu perfeito conhecimento que na verdade o R Wilson Afonso


é seu filho biológico, tal como podem também provar as testemunhas aqui arroladas.

21º

Assim sendo, o A pretende a título de retaliação aos RR é obter uma decisão violadora
do direito de outrem, o que com este procedimento actua claramente, como litigantes de
má-fé o seu comportamento em muito ultrapassam a “simples” litigância temerária,
devendo como tal ser condenado em multa e indemnização, pois com tal comportamento
do A tem causado danos morais e materiais aos RR, devidos encargos que emanam do
processo desde as custas, deslocações até ao pagamento dos honorários de Advogados.

22º

Ora, de acordo com o artigo 456º do C.C., diz-se litigância de má fé “…o que tiver
deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não ignorava”.

23º
Com efeito, a luz do supracitado artigo, “o litigante de má fé será condenado em multa
e numa indemnização à parte contrária se esta pedir”.

24º

Nestes termos e nos demais de direito e, com o sempre mui douto suprimento de Vossa
Excelência, roga obséquio ao Meritíssimo Juiz deste augusto Tribunal, para que em
função do alegado e tendo em conta as provas apresentadas julgue improcedente a
presente acção e consequentemente:

a) Absolver os RR. do pedido, com todas as consequências legais, incluindo o


pagamento dos honorários dos Advogados, que aqui se fixa, o equivalente em
kwanzas, 1.50000,00 (Um Milhão e Quinhentos Mil Kwanzas);

b) Que seja condenado o A, a título de indemnização por litigância de má-fé e


pelos danos morais causados aos RR num valor não inferior ao equivalente

21
em kwanzas: 3.000.000,00 (Três Milhões de Kwanzas), a ser ordenado por
este augusto tribunal.
VALOR DA RECONVENÇÃO: Akz: 3.000.000,00 (Três Milhões de Kwanzas).

Como sempre, farão Vossas Excelências a reiterada e objectiva,

Justiça.

Valor da Acção: o mesmo da Acção de Impugnação.

Junta: Procuração forense e 3 documentos.

Arrola como testemunhas:

a) Nelson Gonçalves
b) Domingos Chimuco;

Benguela, aos 15 de Setembro de 2016.

22
I\NÀlfSES Ct..lNICAS

244.101 - Mediag Análises Clínicas

Largo Irene Cohen (Junto ao Governo Provincial de Luanda)


Ingombotas - Luanda

Número de petição Paciente Idade Referência externa Data de recepção

MANUEL COSTA

Provas requeridas

Estudo de Paternidade Juducial em sangue-cartao


Metodo: Reação em cadeia da Polimerase (PCR) + Análise de STRs (Short Tandem Repeats).
Estudam-se os loei polimórficos:08S1179, 021S11, 07S820, CSF1 PO, 03S1358, TH01, 013S317, 016S539,
02S1338, 019S433, VWA, TPOX, 018S51, 05S818, FGA, Amelogenina.
a)

Nota: Envia-se o informe original

Oirector Laboratório:

23
;. ,,~.5lS
~1En~QUES
~."CELONA

Teste de Paternidade

Identificação IDamostra IDAmbar Tipo amostra


Pretenso Nacionalidad TPBJ52- Sangue em
Pai: e P A161414 FTA
Filho(a}: Manuel Costa Angolana TPBJ52-F
A161415 Sangue em
Data Wilson Afonso Sawaka Angolana FTA
análise:
Descrição do estudo
O teste de paternidade consiste na análise de uma amostra de sangue de cada participante (prete
= pai e
-c filho), seguindo o seguinte procedimento:
~
o,
Extracção e purificação do AON
~ PCR - Amplificação de 15 regiões de AON (STR- short tandem repeats) que são únicas em
c::,
cada
r-:
::.;
indivíduo. A combinação destas 15 regiões constitui o perfil genético (impressão digital
", genética)
'"
ç-
Electroforese capilar - Leitura dos perfis genéticos do pretenso pai e filho
'E
"
Software de análise - Comparação dos perfis genéticos do pretenso pai e filho
",-
M
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.Q Marcadores Alelos Alelos Alelos compatíveis índice de
~ Genéticos Filho Pretenso Pai com o Pretenso Pai Paternidade, L
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índice de Paternidade a)
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combinada: 3.730.256

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Probabilidade de Paternidade: 99,99999

Valores de Referência:
Exclusão de paternidade: P=O
Inclusão de paternidade: P > 99,73000 (Valor máximo: 99,99999)

Conclusão
O pretenso pai (amostra TPBJ52-P) não pode ser excluído de ser o pai biológico do filho (amostra
TPBJ52-F).
A probabilidade de paternidade é de 99,99999, o que significa uma paternidade õiológica praticamente
provada. Dos 15 marcadores genéticos caracterizados, todos são compatíveis com a paternidade biológica.

A probabilidade de paternidade é calculada seguindo Ias recomendações do GHEP-ISFG (Grupo de Habla


Espafiola y Portuguesa de Ia International Society for Forensic Genetics)

Os valores de índice de paternidade (l) apresentados na tabela constituem a valorização da prova e


baseiam-se num cálculo matemático representado pela razão l=A/B, onde A é a verossimilhança que o
pretenso pai testado seja o pai biológico e B é a verossimilhança que um outro indivíduo aleatório da
população, não parente da mãe ou do pretenso pai testado, seja o pai biológico. Neste caso, o índice de
paternidade combinada de 3.730.256, significa que é 3.730.256 vezes mais provável que o pretenso pai
testado seja o pai biológico do que outro indivíduo aleatório da população, não parente da mãe ou do
pretenso pai testado.

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CONCLUSÃO

Em jeito de conclusão, posso afirmar que o meu Relatório foi realizado com sucesso.
Pois os objectivos estabelecidos foram cumpridos, superei aliás as expectativas, sentindo-
me hoje muito mais capacitada para prática da Advocacia. O estágio contribuiu
plenamente para a conciliação dos meus conhecimentos com experiencias do foro e
adquirir desenvoltura necessária para a prática da profissão.

Participei em vários processos, no âmbito dos quais diversas peças processuais tais como
petições iniciais, contestações, acusações particulares e acordos extras-judiciais, assistia
as consultas jurídicas assisti audiências julgamento, e ainda que não como interveniente
principal, mas como estagiaria.

Este estágio permitiu a colocação da teoria e a prática lado a lado e fez-me perceber que
as capacidades do advogado vão se sendo construídas na medida que estes vão exercendo
a sua profissão e que estou muito motivada para me aventurar no exercício da Advocacia.

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RECOMENDAÇOES

Recomendo que o ISPLB de continuidade ao seu programa de estágios, para que permite
aos estudantes vindouros terem a oportunidade de conciliar os conhecimentos adquiridos
na Universidade com a prática da advocacia.

Ao Escritório de Advogados DR. Serio Raimundo e Associados que estejam sempre de


abraços abertos para receber estagiários e a dar-lhes um acompanhamento tao bom quanto
o me concederam.

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REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CODIGO CIVIL

CODIGO PENAL

CODIGO DO PROCESSO PENAL

CODIGO D FAMILIA

RAMOS, Grandão, Noções fundamentais. 6ºed. Faculdade de direito-U.A.N. Luanda

MEDINA, Maria do Carmo- Direito da Família, 2ºed. Escolar EDITORA. 2013

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