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TRANSTORNOS ALIMENTARES
Parte I
Conteudista
Prof.ª Esp. Susana Zaniolo Scotton
Na psicologia corporal ou mesmo na psicanálise e na psiquiatria, as
primeiras relações entre bebê e mãe são extremamente importantes. A
alimentação é o começo de uma relação de cuidados e atenção. Isto é, a mãe
precisa estar presente e assegurar que os primeiros cuidados sejam feitos da
melhor forma. Quando se fala em transtornos alimentares, fala-se em
possíveis perturbações nessa relação. A menina anoréxica, por exemplo, não
se vê (se vê gorda quando magra), porque provavelmente não foi vista em
suas necessidades primordiais e não pode estabelecer uma identidade
saudável consigo mesma.
De qualquer forma, quando esses transtornos se estabelecem é preciso
cuidado no tratamento, que deverá ser multidisciplinar. A psiquiatria deve vir
para cooperar com o restabelecimento da saúde emocional e física e deve
estar aliada aos demais tratamentos.
Assim, na primeira parte deste texto, nossa intenção é revisar a forma
como a medicina trata os transtornos alimentares, mormente, a anorexia
nervosa e suas ramificações. Nesse sentido, buscamos as definições e os
possíveis tratamentos enumerados pelos compêndios de psiquiatria. O olhar
da psiquiatria para essas questões tem suas especificidades, isto é, é antes
um olhar que busca as consequências físicas/biológicas e fala das causas a
partir dos processos orgânicos.
A anorexia nervosa ou AN, dentro da psiquiatria, é dividida em dois
subtipos:
1 – restritiva
2- bulímica (BUSSE; SILVA, 2004).
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Anorexia
A anorexia nervosa, de acordo com Kaplan e Sadock (2007), é um
transtorno reconhecido há muitas décadas e é caracterizado por uma
profunda perturbação da imagem corporal e busca incessante pela magreza.
Segundo os psiquiatras Busse e Silva (2004), trata-se de um transtorno do
comportamento alimentar, caracterizado por limitações dietéticas que foram
autoimpostas, cujo resultado é a perda de peso acentuada, induzida e
mantida pelo paciente. Junto a esse quadro soma-se um temor imenso de
tornar-se obeso. O transtorno é muito mais prevalecente em mulheres do que
em homens e, em geral, tem seu início na adolescência. Geralmente acomete
mulheres entre 10 e 30 anos.
As hipóteses de uma perturbação psicológica básica em mulheres
jovens com o transtorno incluem conflitos envolvendo a transição de menina
para mulher; sendo que essa fase transicional é marcada por sentimentos de
impotência e dificuldade no estabelecimento da autonomia. Nesses casos
podemos dizer que os conflitos existentes entre mães e filhas mobilizariam a
anorexia. Isso é em decorrência da filha não conseguir introjetar a figura
feminina adulta (mãe), vista como negativa. Geralmente, trata-se de uma mãe
que não vê a necessidade básica da filha e decide “tudo por ela”, deixando
assim essa menina “perdida” no sentimento com o desejo de não copiá-la.
O corpo pode ser percebido como se fosse habitado por uma introjeção
de uma mãe invasiva e sem empatia. A inanição pode ter o significado
inconsciente de paralisar o crescimento do objeto interno intrusivo e dessa
forma destruí-lo.
Tal relação aponta para uma dependência psíquica. Os psicanalistas
concordam que esses pacientes mostram-se incapazes de se separarem
psicologicamente de suas mães. É de fato como se não houvesse autonomia
em relação ao próprio corpo.
De qualquer forma, os pacientes com anorexia nervosa também estão
mais propensos a apresentarem histórias familiares de depressão,
dependência de álcool ou um transtorno alimentar.
De acordo com Busse e Silva (2004), segundo estudos realizados, é
possível dizer que esses pacientes antes dos dez anos eram crianças
“enjoadas” para comer ou tinham frequentes problemas digestivos;
apresentavam recusa em comer com suas famílias ou em local públicos.
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Quando na puberdade, os pacientes com esse tipo de doença
substituem suas preocupações de adolescentes normais pela preocupação
com alimentos e ganho de peso. Essas preocupações assemelham-se às
obsessões.
Entretanto, a comida é algo valorativo para uma parte dessas pessoas.
A evidência de que os pacientes estão constantemente pensando em comida
revela-se na paixão por colecionar receitas e preparar refeições elaboradas
para os outros. Muitas vezes, há uma preocupação excessiva a respeito do
valor nutricional dos alimentos e como isso poderia afetar a alimentação de
seus familiares. Ou seja, há um zelo excessivo em relação à ingestão dos
alimentos por parte de seus entes, no sentido de alertá-los e informá-los
sobre os possíveis benefícios e riscos das dietas.
Alguns pacientes não conseguem controlar continuamente a restrição
voluntária da ingestão de alimentos e assim têm episódios de voracidade.
Esses episódios, em geral, ocorrem em segredo e, frequentemente, à noite. A
indução de vômito frequentemente segue-se ao episódio. Os pacientes
abusam de laxantes e mesmo de diuréticos a fim de perderem peso.
Exercícios ritualísticos, caminhar ou correr são atividades comuns. Essas
seriam as pessoas em que à anorexia soma-se comportamentos bulímicos.
Os pacientes com esse transtorno exibem um comportamento peculiar
com relação à comida. Eles escondem alimentos por toda a casa e
frequentemente carregam grandes quantidades de doces no bolso e sacolas.
Ou então, enquanto fazem uma refeição, por exemplo, tentam livrar-se
do alimento, colocando-o no guardanapo ou escondendo nos bolsos. Cortam
a carne em pedaços muito pequenos e levam muito tempo mexendo com a
comida no prato.
Em função desses comportamentos, essas pessoas são acometidas por
desconfortos epigástricos. Podem cometer furtos compulsivos geralmente de
doces e laxantes, e ocasionalmente de roupas e outros itens.
Um intenso temor em ganhar peso e se tornar obeso estão presentes
em todos os pacientes com esse transtorno e indubitavelmente contribui para
sua falta de interesse e mesmo resistência à terapia.
Comportamento obsessivo compulsivo, depressão e ansiedade são os
outros sintomas psiquiátricos mais frequentemente notados na literatura
psiquiátrica sobre a anorexia nervosa. Os pacientes tendem a serem rígidos e
perfeccionistas.
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O comportamento sexual desses pacientes é deficiente. O adolescente
tem um atraso no desenvolvimento psicossocial sexual, e os adultos um
interesse acentuadamente diminuído pelo sexo.
Os pacientes geralmente chegam ao médico quando a perda de peso se
torna aparente e aparecem sinais físicos, excessivamente magro e debilitado.
Estudos mostram que incentivo à alimentação saudável e a prática de
atividades físicas desde a infância são medidas que reduzem a incidência de
transtornos alimentares. Buscar orientar as crianças na escolha de seus
alimentos e na valorização de seus atributos corporais é importante para
firmação de adultos com saúde e qualidade de vida.
Existem alguns exames para diagnosticar a anorexia:
Albumina;
Exame de densidade óssea para verificar se a ossos finos (osteoporose);
Hemograma completo;
Eletrocardiograma;
Eletrólitos;
Anorexia e seus diagnósticos;
Teste de funcionamento dos rins;
Teste da função hepática;
Proteína total;
Teste de funcionamento da tireoide;
Urinálise.
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Um paciente com esquizofrenia, por exemplo, raramente preocupa-se
com um temor de se tornar obeso, nem apresenta a hiperatividade vista no
paciente com anorexia nervosa. O esquizofrênico, por sua vez, tem hábitos
bizarros de alimentação.
A anorexia nervosa deve ser diferenciada da bulimia nervosa, um
transtorno no qual ocorrem compulsões periódicas seguidas de depressão,
pensamentos autodepreciativos e, frequentemente indução de vômitos,
mantendo seu peso dentro de um limite normal.
Tratamentos
A primeira consideração no tratamento da anorexia nervosa, de acordo
com os compêndios de psiquiatria (1997), é restaurar o estado nutricional do
paciente, já que a desidratação, a inanição e os desequilíbrios eletrolíticos
podem comprometer seriamente a saúde e, em alguns casos, levar a morte.
Programas de internação psiquiátrica para os pacientes com anorexia
nervosa usam uma combinação de enfoque comportamental, psicoterapia
individual, educação e terapia familiar e, em alguns casos, medicamentos
psicotrópicos. O tratamento efetivo é promovido pela capacidade dos
membros da equipe em manter uma abordagem firme, mas apoiadora ao
paciente, frequentemente através de uma combinação de reforços positivos
(elogios) e negativos (restrição de exercícios e comportamento purgativo).
A maioria não se interessa ou mesmo rejeita o tratamento psiquiátrico,
sendo levada ao consultório do médico contra a sua vontade por parentes ou
amigos angustiados.
A fase inicial do processo de psicoterapia deve ser voltada a construção
de uma aliança terapêutica. Os pacientes podem vivenciar interpretações
precoces como se alguém lhes estivesse dizendo o que realmente sentem,
enquanto suas próprias experiências são minimizadas e invalidadas.
Entretanto, os terapeutas que se solidarizam com os pontos de vista do
paciente e assumem um interesse ativo no que os pacientes sentem e
pensam transmitem uma mensagem de respeito e autonomia do paciente.
Acima de tudo, os psicoterapeutas devem ser flexíveis, persistentes e
tenazes, em vista das tendências de pacientes derrotarem quaisquer esforços
no sentido de auxiliá-los.
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A terapia familiar tem sido usada para o exame das interações entre os
membros da família e o possível ganho secundário do paciente com o
transtorno.
Abaixo seguem algumas fotos de jovens com anorexia em estágio
avançado, retiradas do livro de Busse (2004, Anorexia, Bulimia, Obesidade),
importante referência nos estudos em relação aos transtornos alimentares.
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A paciente é vista em “dois estágios” diferentes da doença, uma com
sobrepeso e outra já muito magra. É possível perceber que há uma contratura
muscular no pescoço em função da indução excessiva de vômitos.
Conclusão
Os esforços da psiquiatria para o diagnóstico das anorexias são
importantes e cooperam para um tratamento intensivo e mais completo. Vista
como doença, a anorexia requer cuidados médicos específicos. No entanto,
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hoje, esse tratamento engloba outros saberes e outros profissionais,
enfocando-se num cuidado multidisciplinar, que apresenta mais sucesso na
recuperação desses indivíduos.
A alimentação é um aspecto fundamental da condição humana e a
refeição é um ato social, uma forma de linguagem, que precisa ser olhada
com os olhos da não satisfação no relacionamento com os pais – um desejo
de afeto que é concretizado por meio da ingestão exagerada ou muito
limitada de alimentos. No entanto, esse descompasso (exagero ou limitação)
tem que ser colocado para fora, pois o que se necessita realmente é de amor,
através do encontro com o outro.
Alexander Lowen, dentro da Psicologia Corporal, cita, no livro O corpo
em depressão (1983, p.132), que:
Os pais que exercitam a autodisciplina encorajarão
seus filhos a desenvolver essa mesma função, permitindo
que a criança tenha cada vez mais responsabilidade pela
satisfação de suas necessidades” [...] A autodisciplina difere
da permissividade em importantes aspectos. Não representa
um abandono das responsabilidades paternas, o que
geralmente acontece com pais permissivos [...] os pais que
acreditam na autodisciplina têm a obrigação de estar “lá” para
a criança sempre que a ela precisar deles. Isso é
especialmente verdade quando a mãe amamenta a criança
com o seio [...] Um comportamento responsável como esse é
de interação e não de permissividade. A autodisciplina é
primordialmente interessada nas funções do corpo [...] à
criança é permitido determinar quando e o que ela ira comer
dentro dos limites da comida disponível [...] A autodisciplina
aceita a criança como ela é, um organismo animal novo;
permite que ela seja o que ela é, um individuo único. O amor
é baseado no amor compartilhado.
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entraves nesse primeiro momento da vida do bebê. É preciso pensar nesso
ato mesmo como profilaxia.
De qualquer forma, o tratamento deve em algum momento abordar
essas questões. A psiquiatria tem o compromisso com o diagnóstico e com a
manipulação correta de medicamentos. Tudo isso deve ser aliado ao exame
da “alma”, que pressupõe outros fatores como, por exemplo, as relações
familiares e a redescoberta do prazer de se alimentar, de viver.
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REFERÊNCIAS
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