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PSICOLOGIA APLICADA À

SAÚDE

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Sou Flávia Andressa Farnocchi Marucci, psicóloga formada pela


Universidade Federal de São Carlos. Possuo Mestrado em Psicologia
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo (USP) e Especialização em Psicologia Hospitalar pelo Conselho
Federal de Psicologia. Atualmente, atuo como psicóloga assistente
do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento
do Hospital das Clínicas (HCFMRP-USP), preceptora do Programa
de Aprimoramento Profissional em Psicologia Clínica e Hospitalar e
supervisora do Programa de Residência Multiprofissional (HCFMRP-
USP). Possuo experiência em Psicologia da Saúde e Análise do
comportamento.
E-mail: flaviamarucci@gmail.com
Flávia Andressa Farnocchi Marucci

PSICOLOGIA APLICADA À
SAÚDE

Batatais
Claretiano
2015
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina
Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires
Botta Murakami de Souza
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote
Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

616.0019 M353p

Marucci, Flávia Andressa Farnocchi


Psicologia aplicada à saúde / Flávia Andressa Farnocchi Marucci – Batatais,
SP : Claretiano, 2015.
122 p.

ISBN: 978-85-8377-418-1

1. Psicologia da saúde. 2. Processo saúde-doença. 3. Modelo biopsicossocial.


4. Enfrentamento. 5. Interdisciplinariedade. I. Psicologia aplicada à saúde.

CDD 616.0019

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Psicologia Aplicada à Saúde
Versão: dez./2015
Formato: 15x21 cm
Páginas: 122 páginas
SUMÁRIO

Conteúdo Introdutório

1. Glossário de Conceitos............................................................................. 11
2. Esquema dos Conceitos-chave................................................................ 16
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 17
4. e-REFERÊNCIA................................................................................................... 18

Unidade 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 21
2. Conteúdo Básico de Referência.............................................................. 21
2.1. A Ciência Psicológica ......................................................................... 21
2.2. as principais teorias psicológicas ................................................ 24
2.3. a psicologia da saúde........................................................................ 33
3. conteúdos digitais integradores.......................................................... 44
3.1. psicologia da saúde............................................................................ 44
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 45
5. considerações.............................................................................................. 47
6. e-REFERÊNCIAs................................................................................................. 47
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 48

Unidade 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da


Saúde
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 51
2. Conteúdo Básico de Referência.............................................................. 52
2.1. saúde e comportamento.................................................................. 52
2.2. prevenção de doenças ...................................................................... 56
2.3. adesão ao tratamento...................................................................... 60
2.4. Teorias de comportamento e saúde ............................................ 63
2.5. personalidade e saúde ...................................................................... 67
3. conteúdos digitais integradores.......................................................... 69
3.1. Saúde e Comportamento.................................................................. 69
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 70
5. e-REFERÊNCIAS................................................................................................. 73
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 73

Unidade 3 – Estresse e Doença


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 77
2. Conteúdo Básico de Referência.............................................................. 77
2.1. estresse .................................................................................................. 77
2.2. modelos de estresse e doença ....................................................... 85
2.3. enfrentamento ................................................................................... 87
2.4. estresse relacionado com o trabalho ....................................... 92
3. conteúdos digitais integradores.......................................................... 96
3.1. estresse e enfrentamento................................................................ 96
3.2. estresse no profissional de saúde................................................ 97
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 97
5. considerações.............................................................................................. 99
6. e-REFERÊNCIA................................................................................................... 100
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 100

Unidade 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente


1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 103
2. Conteúdo Básico de Referência.............................................................. 104
2.1. O trabalho em equipes de saúde.................................................... 104
2.2. relação profissional de saúde e paciente.................................. 109
2.3. variáveis que atuam na promoção de saúde............................. 113
3. conteúdos digitais integradores.......................................................... 118
3.1. relação equipe de saúde e paciente.............................................. 118
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 119
5. considerações finais.................................................................................. 121
6. e-REFERÊNCIAS................................................................................................. 122
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 122
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Fundamentos da Psicologia da Saúde. Fatores evolutivos
e saúde. História de vida na determinação da saúde/doença.
Variáveis psicossociais do tratamento. Estresse e doença: me-
canismos fisiológicos e enfrentamento. Adoecimento no traba-
lho. Psicossomática. Relação equipe interdisciplinar-paciente.

Bibliografia Básica
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo
de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2001.
FRIEDMAN, H.; SCHUSTACK, M. W. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1996.

Bibliografia Complementar
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
DALLY, P.; HARRINGTON, H. Psicologia e psiquiatria na enfermagem. São Paulo: EPU,
1996.
FIGLIE, N. B.; BORDIN S.; LARENJEIRA, R. Aconselhamento em dependência química.
São Paulo: Roca, 2010.
HOLMES, D. Psicologia dos transtornos mentais. 2. ed. Tradução de Sandra Costa.
Porto Alegre: 1997.
MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
ORLANDO, I. J. O relacionamento dinâmico enfermeiro-paciente. São Paulo: EPU, 1997.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––––


Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que
deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes
necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os
principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os
procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua
origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente
selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou
disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos
Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do
Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência
de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto),
como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos
temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito
de avaliação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. Introdução
Seja bem-vindo ao estudo de Psicologia Aplicada à Saúde
na modalidade a distância. Neste conteúdo, apresentaremos uma
introdução ao estudo da Psicologia da Saúde, dando ênfase à sua
aplicabilidade aos profissionais de saúde que lidam diariamente
com pacientes, e que exercem, portanto, um papel importante
no estabelecimento de relações interpessoais que sejam capazes
de promover saúde e qualidade de vida.
Talvez você possa estar se perguntando: Por que estudar
psicologia? Porque a prática dos profissionais que lidam com a
saúde está intimamente relacionada ao cuidado e relacionamento
com o paciente, e, logo, compreendê-lo pode facilitar seu
trabalho, como também melhorar a sua qualidade de vida. Além
disso, a compreensão do que é saúde hoje destaca que, além
de fatores biológicos e sociais, ela é determinada, também, por
fatores psicológicos, que estudaremos também nesta obra.
Apesar de as áreas que lidam com a saúde já terem
desenvolvido seu próprio corpo de conhecimento, o diálogo
com outras ciências pode promover a compreensão de outros
fenômenos e abrir novas possibilidades. No último século, a
Psicologia vem dialogando com as ciências da saúde, a fim de
ampliar a visão do ser humano, considerando-o para além de seu
corpo biológico.
A Psicologia pode auxiliar na reflexão sobre o processo
saúde-doença, na compreensão do homem como ser integral,
na discussão sobre os limites da atuação profissional e na
problematização de discursos científico-hegemônicos, buscando
a construção de uma relação de vínculo profissional-paciente
que gere novos discursos e, com isso, construa novas práticas
profissionais e de saúde.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

A Psicologia Aplicada à Saúde tem como objetivo


apresentar como a psicologia compreende o ser humano e
sua relação com os processos de saúde e doença; possibilitar
a compreensão das variáveis que interferem na formação de
sintomas e nos comportamentos de saúde; e abrir espaço para a
discussão da relação entre o profissional de saúde e o paciente.
Para isso, dividimos o conteúdo em quatro unidades de estudo.
Na Unidade 1, você será apresentado à ciência da psicologia
e conhecerá algumas das abordagens teóricas mais importantes,
o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise. Esta breve introdução
servirá de base para a compreensão da psicologia da saúde,
que será discutida com maior detalhamento. Ainda nesta
unidade, será discutido o conceito de saúde, segundo alguns
modelos históricos e de acordo com o modelo biopsicossocial.
Também serão apresentados os fatores que contribuíram para
o surgimento de uma psicologia da saúde e as perspectivas de
trabalho e pesquisa neste campo.
Na Unidade 2, vamos nos dedicar ao estudo das variáveis
psicológicas e comportamentais que podem influenciar e
determinar a saúde do indivíduo. Discutiremos como padrões
de comportamento podem trazer benefícios e prejuízos à saúde
e a diferença entre prevenção primária, secundária e terciária.
Também será apresentado o conceito de adesão ao tratamento
e os fatores que interferem neste comportamento. Estudaremos
sobre o modelo trasteórico, que descreve 5 estágios de prontidão
para mudança e a associação entre alguns tipos de personalidade
e o surgimento de doenças.
O próximo tema a ser estudado será o mecanismo
fisiológico do estresse e as estratégias de enfrentamento. Este
assunto será abordado na Unidade 3, que pretende apresentar

10 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

os modelos de interação entre estresse e saúde, os efeitos do


estresse no organismo, e os estilos de enfrentamento (focado
na emoção ou nos problemas). Também será discutido sobre
o estresse relacionado ao trabalho e Síndrome de Burnout em
profissionais de saúde.
Em nossa última unidade, o assunto principal será a
relação do profissional de saúde com o paciente. Para isso, serão
apresentados os conceitos de equipes inter, multi e transdiciplinar
em saúde. Abordaremos variáveis facilitadoras da construção de
uma relação de ajuda com o paciente e sobre a importância da
empatia, da autonomia, da informação, do suporte social e da
espiritualidade na promoção de saúde.
Então, preparados? Vamos começar!

1. Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida
e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados.
1) Adesão ao tratamento: disposição do paciente a seguir
o regime de tratamento receitado e conseguir fazê-lo.
2) Autonomia: independência, liberdade ou autossufi-
ciência. Capacidade de gerenciar a própria vida.
3) Behaviorismo: teoria psicológica que considera o
comportamento como objeto de estudo da psicologia.
Nesta abordagem, o comportamento é compreendido
na interação entre o organismo e o ambiente.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4) Biofeedback: sistema que proporciona informações


auditivas ou visíveis com relação a estados fisiológicos
involuntários.
5) Modelo Biopsicossocial: forma de compreender a
saúde como sendo determinada por compomentes
biológicos, psicológicos e sociais.
6) Comunicação médico e paciente: interação social
entre equipe de saúde e paciente na qual há trocas de
informação.
7) Comportamento: interação do indivíduo com o seu
ambiente.
8) Contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo que
influenciam a saúde e a doença: nossa conformação
genética e nosso sistema nervoso, imunológico e
endócrino.
9) Contexto psicológico: fatores psicológicos como o
pensamento, a percepção, a motivação, a emoção,
a aprendizagem, a atenção, a memória, os quais
acarretam implicações para a saúde.
10) Contexto social: a forma como nos relacionamos com
os outros e com o nosso ambiente também influencia
em nossa saúde.
11) Desamparo aprendido: resignação passiva e desani-
mada de uma pessoa diante do estresse persistente e
incontrolável.
12) Despersonalização: refere-se à perda de idealismo no
local de trabalho, desencadeando atitudes negativas
para com aqueles que recebem o serviço ou a atenção
do empregado.

12 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

13) Doenças crônicas: é uma doença que persiste por


períodos superiores a seis meses e não se resolve em
um curto espaço de tempo.
14) Empatia: é a capacidade de compreender a emoção do outro.
É uma resposta afetiva apropriada à situação de outra
pessoa, e não à sua própria situação. Capacidade de
compreender a perspectiva psicológica das outras
pessoas e experimentar reações emocionais por meio
da observação da experiência alheia.
15) Enfrentamento: conjunto de estratégias, cognitivas
e comportamentais, utilizadas pelos indivíduos para
lidar com uma ameaça iminente. Este se processa
mediante a mobilização de recursos naturais, com fins
de administração de situações estressoras, consistindo
de interação entre o organismo e o ambiente.
16) Enfrentamento focalizado na emoção: estratégia de
enfrentamento em que a pessoa tenta controlar a
resposta emocional ao estressor.
17) Enfrentamento focalizado no problema: estratégia
de enfrentamento para lidar diretamente com o
estressor, na qual são reduzidas as demandas do
estressor ou aumentados os recursos para atender a
essas demandas.
18) Equipe interdisciplinar: consiste no estabelecimento
de associação intencional de duas ou mais áreas do
saber, para alcançar um conhecimento mais amplo e
diversificado.
19) Equipe multidisciplinar: são equipes formadas por
vários profissionais de diferentes áreas, que buscam
abranger os diferentes aspectos de uma mesma

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 13


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

situação, sem haver uma relação entre si, cada um


dentro de seu saber.
20) Equipe transdiciplinar: é a justaposição de diversas
disciplinas para descrever uma nova forma de
compreender os fenômenos.
21) Estresse: processo pelo qual percebemos e responde-
mos a eventos, chamados de estressores, que são per-
cebidos como danosos, ameaçadores ou desafiadores.
22) Esgotamento: estado de exaustão física e psicológica
relacionada com o trabalho.
23) Exaustão: refere-se a sentimentos de ter seus recursos
emocionais esgotados, com a correspondente perda
de energia e sentimentos de fadiga.
24) Modelo biomédico: visão dominate no século 20, que
sustenta que a doença sempre tem uma causa física.
25) Modelo transteórico: teoria de estágios muito utilizada,
sustenta que as pessoas passam por cinco estágios
quando tentam mudar comportamentos relacionados
com a saúde – pré-contemplação, contemplação,
preparação, ação e manutenção.
26) Mortalidade: morte; como medida de saúde, número
de mortes devido a uma causa específica em determi-
nado grupo em certo momento.
27) Personalidade: é o conjunto de características psicoló-
gicas que determinam os padrões de comportamento,
de pensar e de sentir.
28) Prevenção primária: esforços em favor da saúde para
prevenir que doenças ou ferimentos ocorram.

14 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

29) Prevenção secundária: ações adotadas para identificar


e tratar a doença no estágio inicial.
30) Prevenção terciária: ações adotadas para conter os
danos, uma vez que a doença progrediu além de seus
estágios iniciais.
31) Prontidão para mudança: presença de motivação para
realizar a modificação de um hábito ou comportamento.
32) Psicanálise: teoria psicológica desenvolvida por Freud
que tem como objeto de estudo o inconsciente.
33) Psiconeuroimunologia: campo de pesquisa que
enfatiza a interação entre processos psicológicos,
neurais e imunológicos no estresse e na doença.
34) Psicossomática: ramo da medicina concentrado no
diagnóstico e tratamento de doenças físicas causadas
por processos psicológicos deficientes.
35) Resiliência: qualidade de certas pessoas de se
recuperarem de estressores ambientais.
36) Síndrome de burnout: ou síndrome do esgotamento
profissional, um distúrbio psíquico que tem como
características o estado de tensão emocional e de
estresse crônicos, provocados por condições de trabalho
físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.
37) Subjetividade: é composta de ideias, significados e
emoções construídos pelo sujeito por meio de suas
relações sociais, de suas vivências e de sua constituição
biológica. É fonte de suas manifestações afetivas e
comportamentais.
38) Suporte social: apoio de outras pessoas que transmite
preocupação emocinal e auxílio material.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. Esquema dos Conceitos-chave


Como você pode observar, o Esquema a seguir possibilita
uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo.
Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito
e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento.
Por exemplo, a psicologia aplicada à saúde tem como objetivo
a compreensão dos determinates de saúde e doença. Nesse
sentido, existem fatores que estão amplamente associados
à promoção e à melhora da saúde, como o estabelecimento
de uma relação de ajuda com o profissional de saúde, ter
autonomia, empatia e informação, a presença de suporte social
adequado e a espiritualidade. Em contrapartida, há inúmeras
variáveis psicológicas que estão associadas ao aparecimento de
doenças. Podemos categorizá-las como o efeito do estresse em
nosso organismo e o efeito de padrões de comportamento não
saudáveis.
Entretanto, com o uso de estratégias de enfrentamento
diante do estresse, podemos minimizar os seus efeitos
prejudiciais. Da mesma forma, intervenções comportamentais
podem modificar estilos de vida não saudáveis. Assim, podemos
perceber que a determinação da saúde e da doença é passível de
mudança e não se trata de uma condição estática.

16 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


CONTEúDO INTRODUTóRIO

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Psicologia Aplicada à Saúde.

3. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo
de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. ; VALERIO, N. I. Psicologia
da Saúde – intervenções em hospitais públicos. In: RANGÉ, B. (Org.). Psicoterapias
cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. e-REFERÊNCIA
DICIONÁRIO DE SIGNIFICADOS. Homepage. Disponível em: <http://www.significados.
com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

18 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1
Fundamentos da Psicologia da
Saúde

Objetivos
• Compreender a psicologia como ciência.
• Analisar as principais abordagens teóricas da psicologia.
• Interpretar saúde em uma perspectiva biopsicossocial.
• Analisar os fundamentos da psicologia da saúde e
sua contribuição para a compreensão do processo
saúde-doença.

Conteúdos
• Fundamentos da Psicologia da Saúde.
• Psicossomática.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Esta unidade compreende o estudo da psicologia
da saúde. Os conceitos descritos a seguir serão
fundamentais para a compreensão dos demais
conteúdos abordados no restante da obra.

19
UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

2) Nesta unidade serão apresentadas apenas algumas das


abordagens teóricas da Psicologia; existem outras além
das que serão citadas aqui, mas que não abordaremos
por não ser este o objetivo de nosso estudo. Portanto,
é importante que você pesquise e busque sempre por
novos conhecimentos.
3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares
descritos nos Conteúdos Digitais Integradores.

20 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

1. INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade, iniciaremos o estudo da Psicologia
da Saúde, que é o ramo da Psicologia que se destina a pesquisar
e explicar os processos de saúde e doença. No entanto, antes
de nos aprofundarmos nesta área específica da Psicologia,
precisamos conhecer um pouco melhor essa ciência.
Para isso, iniciaremos nosso estudo com uma introdução à
Psicologia como ciência e seu objeto de estudo, além de algumas
das principais abordagens teóricas.
Você vai observar que o conceito de saúde se modificou
consideravelmente nos últimos anos, e isso está estreitamente
relacionado com o surgimento da Psicologia da Saúde. Nosso
principal objetivo aqui é demonstrar que os aspectos psicológicos,
assim como os biológicos e sociais, têm grande influência na
determinação da saúde e da qualidade de vida.

2. Conteúdo Básico de Referência


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma
sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos
Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. A Ciência Psicológica

O termo psicologia é utilizado em nosso cotidiano


com sentidos diversos. Por exemplo, quando dizemos que
determinada pessoa tem poder de persuasão ou convencimento,
muitas vezes, falamos que ela utilizou "psicologia" para

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 21


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

conseguir convencer. Ou quando encontramos alguém que


nos faça sentir compreendidos ou que nos dê bons conselhos,
muitas vezes, dizemos que tem “psicologia”. Essa psicologia,
usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de
psicologia do senso comum. Trata-se do conhecimento que as
pessoas tem, normalmente de forma superficial, da psicologia
enquanto ciência, o que lhes permite explicar ou compreender
seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.
No entanto, vamos nos concentrar na Psicologia Científica.
Para denominarmos de “científico” um conjunto de
conhecimento, é necessário que este tenha um objeto de
estudo específico, uma linguagem rigorosa, métodos e
técnicas específicos, processo cumulativo do conhecimento e
objetividade (BOCK et al., 1999). É isso que faz da ciência uma
forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento
espontâneo do senso comum. A Psicologia enquanto ciência é
relativamente jovem, seu início é datado no final do século 19,
embora já existisse há muito tempo na Filosofia, como uma
preocupação e necessidade de compreensão do ser humano.
Por ser uma ciência muito nova, a Psicologia não teve
tempo ainda de apresentar teorias definitivas, o que faz com que
ela seja caracterizada por uma diversidade de objetos de estudo.
Contudo, essa diversidade de objetos se justifica pelo fato de
os fenômenos psicológicos serem tão diversos e complexos,
que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação
e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de
descrição, medida, controle e interpretação (BOCK et al., 1999;
FIGUEIREDO; SANTI, 2004).
A Psicologia é um ramo das Ciências Humanas, e, portanto,
tudo que diz respeito ao homem poderia ser seu objeto de

22 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE

estudo, tal como o seu comportamento, a sua consciência ou


a sua cognição. Isso nos permite dizer que talvez não exista
apenas uma ciência psicológica, mas várias psicologias em
desenvolvimento (BOCK et al., 1999). Tal assunto ficará mais claro
no próximo tópico desta unidade, no qual estudaremos algumas
das teorias psicológicas mais importantes, e, provavelmente, você
perceberá que a compreensão do ser humano é estabelecida de
forma distinta dentro de cada teoria.
De forma geral, podemos dizer que a matéria-prima da
psicologia é o homem, o humano em todas as suas expressões,
as visíveis (comportamento) e as invisíveis (sentimentos), as
singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque
somos todos assim) (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). E tudo isso pode
ser compreendido no termo subjetividade:

A subjetividade é formada de ideias, significados e


emoções construídos pelo sujeito segundo as relações sociais,
de suas vivências e de sua constituição biológica, é fonte de suas
manifestações afetivas e comportamentais (BOCK et al., 1999).
Em resumo, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar
e fazer de cada um; é o que constitui o nosso modo de ser.
Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não é inata
ao indivíduo; ela é construída a partir do contato com o mundo
social e cultural, ou seja, das relações que o sujeito estabelece

© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE 23


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

com o seu ambiente. Assim, com o estudo da subjetividade, a


Psicologia contribui para a compreensão da totalidade da vida
humana (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

2.2. as principais teorias psicológicas

Como já foi mencionado, a Psicologia é composta


por diferentes teorias que buscaram, ao longo de seu
desenvolvimento, compreender e explicar a conduta humana.
Essas abordagens psicológicas foram influenciadas por escolas
filosóficas e movimentos científicos que direcionaram a forma
de pensar o mundo na época de sua criação.
As teorias da Psicologia mais importantes são: o
Behaviorismo; a Gestalt; e a Psicanálise. Para facilitar sua
compreensão, serão apresentadas as principais características
de cada uma delas.

Behaviorismo
O termo “behaviorismo” foi inaugurado pelo americano
John B.Watson em 1913. No entanto, foi baseado nos estudos
de Skinner (1945) que o behaviorismo ganhou grande destaque
e se tornou uma das abordagens psicológicas mais utilizadas em
vários países. Skinner cunhou o termo “behaviorismo radical”
para designar a filosofia da ciência do comportamento. O termo
inglês “behavior” significa “comportamento” e, por isso, o
behaviorismo também é chamado de Teoria Comportamental,
Análise Experimental do Comportamento ou Análise do
Comportamento (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).
Para o behaviorismo, o objeto de estudo da Psicologia é o
comportamento. Contudo, o comportamento não é entendido

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unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE

como uma ação isolada, mas sim como uma interação entre
o organismo e o seu ambiente. Ou seja, comportamento é a
interação entre as ações do indivíduo (respostas) e o ambiente
que o cerca (estímulos) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

A Análise do Comportamento descreve dois tipos: o


comportamento respondente e o operante. O primeiro é
caracterizado por respostas do organismo que são eliciadas
(produzidas) por estímulos do ambiente. São interações do
tipo estímulo-resposta, nas quais certos eventos ambientais
confiavelmente eliciam certas respostas do organismo que
independem de aprendizagem (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Por exemplo, quando alguma luz forte incide em nossos olhos,
nossas pupilas são contraídas imediatamente, ou quando
entramos em um ambiente muito quente, começamos a
transpirar excessivamente.
Nosso organismo já nasce com alguns comportamentos
respondentes, por isso, dizemos que as respostas reflexas são
instintivos. Esses comportamentos têm um importante valor
de sobrevivência, pois são a preparação mínima do indivíduo
para reagir aos estímulos ambientais, tais como o reflexo de
sucção na amamentação, o reflexo de retirar a mão diante de um
estímulo doloroso, entre outros (BOCK et al., 1999). No entanto,
aprendemos novas relações de estímulo resposta ao longo de

© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE 25


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

nossa vida. São os chamados comportamentos respondentes


condicionados (aprendidos), que são adquiridos a partir do
pareamento de estímulos eliciadores de respostas com outros
estímulos novos (neutros). Isso leva o organismo a responder
a estímulos que antes não respondia. O comportamento
respondente é muito importante para a compreensão das
emoções humanas, pois todas as reações do organismo
relacionadas à manifestação de emoção são comportamentos
reflexos, é por meio da aprendizagem de novos respondentes
que aprendemos a ter medo de algumas coisas, ou a chorar
quando ouvimos uma determinada música.
O segundo tipo, ou seja, o comportamento operante, é o tipo
de comportamento que abarca a maioria dos comportamentos
dos organismos, ou seja, a maior parte de nossas interações
com o ambiente. Nesse tipo de comportamento, uma resposta
emitida pelo organismo produz uma alteração no ambiente,
consequências no ambiente, e o comportamento é afetado
(controlado) por essas consequências. Por exemplo, se você vai
até uma torneira e utiliza suas mãos para girá-la até sair água,
você produziu uma mudança em seu ambiente, antes não tinha
água e agora tem. A consequência de seu comportamento (a
presença de água) influencia a ocorrência futura da mesma
resposta, pois sempre que precisar de água, girará a torneira da
mesma forma, já que aprendeu que, assim, consegue obter a
água que precisa. O comportamento operante é assim chamado
porque ele "opera" sobre o ambiente para modificá-lo (MOREIRA;
MEDEIROS, 2007).
É importante entendê-lo para compreendermos como
aprendemos nossas habilidades e conhecimento e até mesmo
como aprendemos a ser quem somos (o que chamamos de
personalidade ou padrão de comportamento). A maior parte de

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

nossos comportamentos produz consequências no ambiente, as


quais influenciam a ocorrência futura do mesmo comportamento.
As consequências produzidas pelo comportamento ocorrem tão
naturalmente no nosso dia a dia que nem nos damos conta de
que elas estão presentes.
Os comportamentos são mantidos ou deixam de ocorrer
em função de suas consequências. Por exemplo, se uma criança
apresenta um comportamento de birra porque deseja receber
um doce, a consequência oferecida ao seu comportamento
influenciará a probabilidade de, no futuro, essa criança voltar a
fazer birra. Se os pais cederem ao seu comportamento dando-
lhe o doce, há um aumento na chance de ela se comportar da
mesma forma na próxima situação em que desejar algo. Em
contrapartida, se a consequência apresentada for ignorar ou punir
o comportamento da criança, esta provavelmente não utilizará a
mesma estratégia na próxima vez que quiser ganhar um doce.
Se a consequência aumentar a probabilidade de ocorrência do
comportamento, então dizemos que a resposta foi reforçada (a
consequência é então chamada de Reforço). No entanto, se a
probabilidade do comportamento for diminuída, dizemos que
resposta foi punida (punição) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
A análise do comportamento é bastante abrangente no
estudo da psicologia da saúde e é muito aplicada na modificação
de comportamentos não saudáveis, na aprendizagem de
comportamentos de saúde e na adesão ao tratamento.

Gestalt
Gestalt é um termo alemão sem tradução para o português.
O significado mais próximo seria “forma” ou “configuração”, por

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

isso a Gestalt é conhecida como “psicologia da forma” (BOCK et


al., 1999).
Essa teoria psicológica foi iniciada com base nos estudos
de Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967)
e Kurt Koffka (1886-1941), que fundamentados na Psicofísica,
investigaram a percepção e a sensação do movimento. Eles
estavam preocupados em compreender quais os processos
psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo
físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que
ele tem na realidade (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).
Para a Gestalt, o objeto de estudo da psicologia também
é o comportamento, assim como para os behavioristas. No
entanto, essas abordagens se diferem na forma como estudam
o comportamento. A Gestalt considera que o estudo do
comportamento de maneira isolada de um contexto mais amplo
pode dificultar sua compreensão ao psicólogo. Na visão dos
gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus
aspectos mais globais, levando em consideração as condições
que alteram a percepção do estímulo (BOCK et al., 1999).
A percepção é o ponto de partida e também um dos temas
centrais dessa teoria. Para os gestaltistas, entre o estímulo
que o ambiente fornece e a resposta do indivíduo, encontra-
se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e
como percebe são dados importantes para a compreensão do
comportamento humano. Nesse sentido, a Gestalt insere o
conceito de figura/fundo, no qual temos a tendência de organizar
nossas percepções no objeto observado (a figura) e o segundo o
plano contra o qual ela se destaca (o fundo). Quanto mais clara
estiver a forma, mais clara será a separação entre figura e fundo.
Como exemplo, observe as imagens apresentadas na Figura 1. O

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

que consegue ver? Qual figura emerge e qual fundo permanece?


Consegue perceber o dinamismo entre figura que ora emerge e
ora vai para o fundo?

Figura 1 Exemplos de figura/fundo.

Na primeira imagem, é possível observar a figura de um


cálice ou a face duas pessoas; na segunda, podemos observar a
figura de uma dama com chapéu ou a face de uma senhora.
A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as
condições para a compreensão do comportamento humano.
A maneira como percebemos um determinado estímulo
desencadeará nosso comportamento. Muitas vezes, os nossos
comportamentos guardam relação estreita com os estímulos
físicos, e outras, eles são completamente diferentes do esperado
porque "entendemos" o ambiente de uma maneira diferente da
sua realidade (BOCK et al., 1999).
A Gestalt apresenta o conceito de “boa forma”, que
implica na apresentação em aspectos básicos do elemento
que objetivamos compreender, de forma que permitam
a sua decodificação, ou seja, sua percepção total. Se nos

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

elementos percebidos não há equilíbrio, simetria, estabilidade


e simplicidade, não alcançaremos a boa forma (FIGUEIREDO;
SANTI, 2004).
O comportamento é determinado pela percepção do
estímulo e, portanto, estará submetido à lei da boa forma. O
conjunto de estímulos determinantes do comportamento é
denominado meio ambiental. São conhecidos dois tipos de
meio, o meio geográfico, que é o meio enquanto tal, o meio
físico em termos objetivos, e o meio comportamental, que é o
meio resultante da interação do indivíduo com o meio físico e
implica a interpretação desse meio por intermédio das forças
que regem a percepção (BOCK et al., 1999).

Psicanálise
A última teoria psicológica que estudaremos é a Psicanálise,
abordagem bastante conhecida que foi desenvolvida por
Sigmund Freud (1856-1939), um médico vienense que mudou
totalmente o modo de pensar a vida psíquica.
O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria
e a um método de investigação, além da prática profissional;
enquanto teoria se caracteriza por um conjunto de conhecimentos
sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Como
método de investigação, a psicanálise caracteriza-se pelo
método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo
que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas realizações
imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os
atos falhos (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).
Freud, em seu livro A interpretação dos sonhos, apresentou
a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da
personalidade. Essa teoria se refere à existência de três sistemas

30 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

psíquicos: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente (BOCK


et al., 1999):
• O inconsciente é o conjunto dos conteúdos não
presentes no campo da consciência. É formado por
conteúdos reprimidos pela ação de censuras internas.
• O pré-consciente é o sistema onde permanecem
aqueles conteúdos acessíveis à consciência, que podem
ser acessados a qualquer momento.
• O consciente é o sistema do aparelho psíquico que
recebe ao mesmo tempo as informações do mundo
exterior e as do mundo interior. Destaca-se a percepção,
a atenção e o raciocínio.
Um ponto de destaque nas obras de Freud é a atenção
dada ao estudo da sexualidade humana. Ele descrevia que
a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos por seus
pacientes referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados
nos primeiros anos de vida, ou seja, que na vida infantil
estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que
se configuravam como origem dos sintomas das neuroses.
Posteriormente, Freud remodela a teoria do aparelho
psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para
referir-se aos três sistemas da personalidade. O id constitui
o reservatório da energia psíquica, onde estariam as pulsões
de vida e de morte. É regido pelo princípio do prazer. O ego
é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências
do id, da realidade e do superego. É regido pelo princípio da
realidade e suas funções básicas são a percepção, a memória,
os sentimentos e o pensamento. O superego origina-se a partir
da internalização das proibições, dos limites e da autoridade.
Seu conteúdo refere-se a exigências sociais e culturais (BOCK
et al., 1999).

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

Outro ponto importante da teoria freudiana são os


mecanismos de defesa. Freud observou que diante da
percepção de um acontecimento doloroso ou desorganizador, as
pessoas podem suprimir a realidade para evitar o sofrimento.
Esses mecanismos são processos realizados pelo ego e são
inconscientes, ou seja, ocorrem de forma independente da
vontade do indivíduo. Veja na Tabela 1 alguns exemplos de
mecanismos de defesa:

Tabela 1: Mecanismos de defesa do Ego.


Mecanismos de Defesa
Recalque O indivíduo "não vê" o que ocorre. Existe a
supressão de uma parte da realidade. Por
suprimir a percepção do que está acontecendo,
é considerado o mais radical dos mecanismos
de defesa. Os demais referem-se a apenas
deformações da realidade.
Formação reativa O ego procura afastar o desejo que vai em
determinada direção, e, para isto, o indivíduo
adota uma atitude oposta a este desejo.
Regressão O indivíduo retorna a etapas anteriores de seu
desenvolvimento, é uma passagem para modos
de expressão mais primitivos.
Projeção O indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo
externo e não percebe aquilo que foi projetado
como algo seu que considera indesejável. É um
mecanismo de uso frequente e observável na
vida cotidiana.
Racionalização O indivíduo constrói uma argumentação
intelectualmente convincente e aceitável, que
justifica os estados "deformados" da consciência.

32 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE

2.3. A PsiCologiA dA sAúde

A Psicologia da Saúde é uma área da psicologia que aplica


princípios e pesquisas psicológicas para melhoria, tratamento
e prevenção de doenças. Inclui como variáveis de interesse
as condições sociais (como disponibilidade de serviços de
saúde), os fatores biológicos (como longevidade da família e as
vulnerabilidades hereditárias a certas doenças) e até mesmo os
traços de personalidade ou padrões de comportamentos (como
extroversão e sociabilidade) (STRAUB, 2005).
Psicologia da saúde foi definida, pela Associação Americana
de Psicologia, como:

Ela abrange o ensino e a prática de qualquer tipo de


fenômeno de saúde e de interações entre pessoas, como as
relações profissionais-pacientes, as relações humanas dentro
de uma instituição de saúde, a questão das doenças agudas e
crônicas, o papel das reações adaptativas ao adoecer, a perda, a
morte e os recursos terapêuticos (MIYAZAKI et al, 2011).

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

O que é Saúde
Para compreender melhor como trabalha a psicologia da
saúde, é necessário entender o que é saúde. Por muito tempo
prevaleceu o modelo biomédico de saúde no qual, saúde era
definida como ausência de doenças. Tal definição se concentrava
apenas na ausência de um estado negativo, no entanto, a maioria
de nós concordaria que a saúde envolve muito mais e não se
limita ao nosso bem-estar físico.
A interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais
é atualmente considerada fundamental na compreensão do
contínuo saúde-doença (MIYAZAKI et al, 2011).
Pensando nisso, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
(2015) propôs a definição de saúde como "um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência
de doenças ou enfermidades", como era a definição anterior de
saúde. Essa definição afirma que a saúde é um estado positivo e
multidimensional que envolve três domínios: saúde física, saúde
psicológica e saúde social.
• Saúde física: implica em ter um corpo saudável e livre
de doenças, com um bom desempenho dos sistemas
do nosso corpo e a capacidade de resistir a ferimentos
físicos. Ela também envolve hábitos relacionados com o
estilo de vida que aumentem a saúde física.
• saúde psicológica: significa ser capaz de pensar de
forma clara, ter uma boa autoestima e um senso geral
de bem-estar. Inclui a criatividade, as habilidades de
resolução de problemas e a estabilidade emocional.
• saúde social: envolve ter habilidades interpessoais,
relacionamentos significativos com amigos e família
e apoio social em épocas de crise. Está relacionada

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

também com fatores socioculturais em saúde, como


o status socioeconômico, a educação, a cultura e o
gênero.
Cada campo da saúde é influenciado pelos outros dois
domínios. Por exemplo, uma pessoa emocionalmente segura
de si, que tem boas habilidades de resolução de problemas
(saúde psicológica), provavelmente terá mais facilidade para
manter relacionamentos sociais sadios (saúde social) do que
uma pessoa depressiva que tem dificuldade para se concentrar
no problema em questão. Da mesma forma, a saúde física fraca
apresenta desafios especiais, tanto para a autoestima quanto
para relacionamentos com a sua família e seus amigos.
No entanto, a saúde nem sempre foi compreendida dessa
forma. Até a primeira parte do século 20, a medicina apoiava-se
na fisiologia e na anatomia na busca por uma compreensão mais
profunda da saúde e da doença. Esse era o modelo biomédico
de saúde, que sustentava que a doença sempre tinha causas
biológicas. Esse modelo tornou-se aceito de forma ampla durante
o século 19 e representou a visão dominante na medicina até
recentemente (MIYAZAKI et al, 2011).
Segundo (STRAUB, 2005, p. 8):
O modelo biomédico pressupõe que a doença é o resultado de
um patógeno (vírus, bactéria ou algum outro microrganismo
que invade o corpo), e não faz menção às variáveis psicológicas,
sociais ou comportamentais na doença. Neste sentido,
este modelo é reducionista, considerando que fenômenos
complexos, como a saúde ou a doença, são derivados de um
único fator primário. De acordo com este padrão, a saúde nada
mais é do que a ausência de doenças. Dessa forma, aqueles
que trabalham apoiados nesta perspectiva concentram-se em
investigar as causas das doenças físicas em vez daqueles fatores
que promovem a vitalidade física, psicológica e social.

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

O modelo biomédico avançou o tratamento de saúde


de maneira significativa, entretanto, foi incapaz de explicar
transtornos que não apresentavam causa física observável.
O pensamento de que determinadas doenças poderiam ser
provocadas por conflitos psicológicos foi desenvolvida durante a
década de 1940 pelo trabalho do psicanalista Franz Alexander.
Ele trabalhava com pacientes com artrite reumática, e, quando
a equipe médica não encontrava agentes infecciosos ou outras
causas diretas para a doença, Alexander ficava desconfiado
pela possibilidade de que fatores psicológicos pudessem estar
envolvidos. Ele desenvolveu então o modelo do conflito nuclear,
no qual defendia que a presença de determinados conflitos
inconscientes poderia levar à presença de reclamações físicas.
Segundo esse modelo, “cada doença física é o resultado de
um conflito psicológico fundamental ou nuclear”. Alexander
acreditava que indivíduos com "personalidade reumática",
que tendem a reprimir a raiva e são incapazes de expressar as
emoções, seriam mais propensos a desenvolver artrite (STRAUB,
2005, p. 9).
A partir desses estudos, um grande número de transtornos
físicos foram descritos como presumivelmente causados por
conflitos psicológicos, surgindo, assim, a medicina psicossomática
(psico = mente; soma = corpo), um movimento reformista dentro
da medicina que buscava estudar o diagnóstico e o tratamento
de doenças físicas supostamente causadas por processos
deficientes na mente (STRAUB, 2005).
A medicina psicossomática apresentou um importante
avanço para a compreensão da saúde, quando comparada
ao modelo biomédico, no entanto, foi questionada pela
categorização aparentemente arbitrária de algumas doenças

36 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

como sendo de natureza completamente física e outra


completamente psicológica. Sua metodologia de pesquisa
era fundamentada principalmente em estudos de caso de
pacientes individuais, o que fez surgirem críticas em relação à
sua confiabilidade, além disso, a medicina psicossomática, assim
como o modelo biomédico, apoiava-se no reducionismo, de que
um único problema psicológico seria suficiente para desencadear
a doença (MELLO,1995; STRAUB, 2005).
Atualmente, a compreensão dos processos de saúde-
-doença evoluiu, de forma a serem compreendidos como
o resultado da interação de múltiplos fatores, incluindo as
condições biológicas, o ambiente e os aspectos psicológicos.
Essa tendência contemporânea de ver a doença e a saúde como
algo multifatorial é resultado da aproximação entre a medicina e
a psicologia (MIYAZAKI et al, 2011).
Um outro exemplo dessa aproximação é a medicina
comportamental, que foi concebida com base nos princípios
do behaviorismo. Esse campo começou a explorar o papel
do condicionamento respondente e operante na saúde e na
doença. Um de seus principais resultados foi a pesquisa de Neal
Miller, que utilizou técnicas de condicionamento operante para
ensinar animais e humanos a adquirirem controle sobre certas
funções corporais. Ele demonstrou que as pessoas podem
adquirir algum nível de controle sobre a sua pressão sanguínea
e relaxar a frequência cardíaca quando estiveram cientes desses
estados. Essa técnica recebeu o nome de biofeedback, e é
muito utilizada até hoje na recuperação de diversas patologias
(STRAUB, 2005).

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UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

O surgimento da Psicologia da Saúde


A Psicologia da Saúde foi criada com o objetivo de estudar,
de forma científica, as causas e origens de determinadas doenças,
principalmente as origens psicológicas, comportamentais e sociais
da doença. Ela busca investigar por que as pessoas se envolvem
em comportamentos que comprometem a saúde, como fumar
e sexo inseguro, e como facilitar a prática de comportamentos
que pode preservar, restabelecer ou promover a saúde, como ter
uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos. Também
se preocupa com a prevenção e o tratamento de doenças, por
meio de programas que auxiliem no processo de adaptação à
enfermidade e estratégias para facilitar a adesão ao tratamento.
Alguns fatores contribuíram para o surgimento de um
campo da Psicologia que se ocupasse exclusivamente de
investigar e promover saúde. Segundo Straub (2005), são quatro
tendências que desafiaram a medicina e a saúde pública e
impulsionaram a criação da psicologia da saúde:
• Aumento da expectativa de vida: com a melhoria
dos serviços de saúde e os avanços da medicina, a
expectativa de vida aumentou na maioria dos países.
Com as pessoas vivendo mais, existe maior consciência
publica das questões relacionadas com a saúde,
incluindo a preocupação com as questões psicológicas.
• Surgimento de transtornos relacionados ao estilo
de vida: até o século 19, as pessoas morriam
principalmente de doenças que eram causadas por falta
de água potável, por alimentos contaminados, ou por
infecções contraídas no contato com pessoas doentes.
Não era incomum que centenas ou mesmo milhares de
pessoas morressem em uma única epidemia de varíola,

38 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

febre amarela, difteria, gripe ou sarampo. Melhorias


em higiene pessoal, nutrição e saúde pública (como
tratamentos de esgotos) levaram a um declínio no
número de mortes por doenças infecciosas. Porém,
apenas após a descoberta da penicilina por Alexander
Fleming, em 1928, a saúde pública deu um passo
verdadeiramente decisivo. Isso levou a uma mudança
no padrão das principais causas de morte, que, antes do
século 20, eram transtornos agudos, como tuberculose,
gripe e pneumonia, e atualmente está relacionado a
doenças crônicas, nas quais a pessoa precisa tratar por
muitos anos para prevenir mortes prematuras e manter
a qualidade de vida (STRAUB, 2005).
• Modificação no modelo biomédico: os questionamentos
em relação ao reducionismo do modelo biomédico
levaram à necessidade de pensar em saúde e doença
de forma mais abrangente, como já foi discutido
anteriormente. A medicina tradicional encontrou
dificuldade para explicar por que o mesmo conjunto de
fatores de risco algumas vezes desencadeia doenças e
outras não. Isso induziu os pesquisadores a descobrir
que fatores psicológicos, como a maneira como cada
pessoa reage ao estresse, se combinam com fatores de
risco físicos para determinar o risco à saúde do indivíduo
(MIYAZAKI et al., 2011).
• Aumento dos custos do atendimento em saúde: o
crescente aumento nos custos dos serviços de saúde
ajudou a focar a atenção na eficácia do custo de
promover e manter a saúde. A ênfase da psicologia
da saúde em modificar os comportamentos de risco
das pessoas, antes que eles causem doenças, tem o

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 39


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

potencial de reduzir os custos com a saúde de forma


expressiva (STRAUB, 2005).

Perspectivas da Psicologia da Saúde


A Psicologia da Saúde desenvolveu alguns modelos
ou perspectivas para orientar seu trabalho, objetivando
compreender de forma mais ampla os processos de saúde e
doença. Cada um desses modelos investiga de forma diferente a
mesma coisa e se complementam para a compreensão total da
saúde.
O primeiro modelo é a perspectiva do curso de vida, que
se concentra em investigar os aspectos da saúde e da doença
relacionados com a idade e com os ciclos de vida. Essa perspectiva
também examina as principais causas de morte que acometem
certos grupos etários. Por exemplo, o uso de substâncias
psicoativas é mais frequente em adolescentes, enquanto que
as doenças crônicas afetam de forma mais significativa pessoas
idosas.
Outra perspectiva é a sociocultural, que se dedica a conhecer
a forma como os como fatores sociais e culturais contribuem
para a saúde e para a doença. O termo cultura é compreendido
como comportamentos, valores e costumes persistentes que um
grupo de pessoas desenvolveu ao longo dos anos e transmitiu à
próxima geração. Em culturas ou etnias diferentes existe muita
diversidade em relação à expectativa de vida e ao nível de
saúde, e algumas dessas diferenças refletem uma variação no
status socioeconômico. Por exemplo, se compararmos a saúde
da população residente no interior do Estado de São Paulo com
a saúde da população que vive em pequenas comunidades
no interior da Amazônia, encontraremos grandes diferenças

40 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

relacionadas a estruturas de saneamento básico e estilos de


vida. Outro exemplo refere-se às religiões que pregam um estilo
de vida mais saudável, sem uso de álcool ou alimentos à base de
carne animal, hábitos normalmente associados à melhor saúde.
Há também a perspectiva de gênero, que se concentra
no estudo de problemas de saúde específicos de cada gênero.
Homens e mulheres diferem no risco que apresentam para
uma variedade de transtornos, como o índice de doenças
cardiovasculares que, historicamente, tem sido maior em
pacientes do sexo masculino, embora essa realidade esteja
se modificando. Outro exemplo é a depressão, que acomete
mulheres em uma frequência muito maior que homens.
Todas essas perspectivas se sobrepõem e todas veem a
saúde e a doença como produtos da interação de fatores. Elas
diferem apenas nos fatores que enfatizam e se complementam
(STRAUB, 2005). Essas perspectivas se agrupam na perspectiva
biopsicossocial, que engloba todas as questões tratadas
anteriormente.
A perspectiva biopsicossocial defende que variáveis
biológicas, psicológicas e sociais agem em conjunto para
determinar a saúde e a vulnerabilidade do indivíduo à doença.
Dessa forma, a saúde e a doença devem ser explicadas em
relação aos contextos biológico, psicológico e social.
• O contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo
que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação
genética e nosso sistema nervoso, imunológico e
endócrino. A biologia e o comportamento interagem
de forma constante. Por exemplo: alguns indivíduos são
mais vulneráveis a doenças relacionadas ao estresse
porque reagem com agressividade aos problemas
enfrentados. Uma das tarefas da psicologia da saúde

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 41


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

é explicar como essa influência mútua entre biologia e


comportamento ocorre.
• O contexto psicológico: a psicologia da saúde preconiza
que a saúde e a doença estão sujeitas às influências
psicológicas. Por exemplo, um fator fundamental para
determinar o quanto uma pessoa consegue lidar com
uma experiência de vida estressante é a forma como
o evento é avaliado e interpretado. Eventos avaliados
como avassaladores, invasivos e fora do nosso controle
nos custam mais do ponto de vista físico e psicológico
do que os que são avaliados como desafios menores,
temporários e superáveis. De fato, algumas evidências
sugerem que, independentemente de um evento ser
realmente experimentado ou simplesmente imaginado,
a resposta do corpo ao estresse é, de modo aproximado,
a mesma. Os psicólogos da saúde pensam que algumas
pessoas podem ser cronicamente depressivas e mais
vulneráveis a certos problemas de saúde porque
revivem eventos difíceis muitas vezes em suas mentes,
o que pode ser funcionalmente equivalente a passar
repetidas vezes pelo evento real (STRAUB, 2005).
• O pensamento, a percepção, a motivação, a emoção, a
aprendizagem, a atenção e a memória têm implicações
para a saúde. Os fatores psicológicos também
desempenham um importante papel no tratamento de
condições crônicas. As intervenções psicológicas ajudam
os pacientes a administrar sua tensão, diminuindo,
assim, as reações negativas ao tratamento. Aqueles
pacientes mais tranquilos em geral são mais capazes
e mais motivados para seguir as instruções de seus
médicos. Também auxiliam os pacientes a administrar
o estresse da vida cotidiana, que parece exercer um

42 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

efeito cumulativo sobre o sistema imunológico. Eventos


negativos na vida, como a perda de um ente querido,
o divórcio, a perda de emprego ou uma mudança,
podem estar ligados à diminuição do funcionamento
imunológico e à maior suscetibilidade a doenças
(STRAUB, 2005).
• O contexto social: a forma como cada pessoa se relaciona
com a outra e com o ambiente também influencia em
sua saúde. O gênero de cada um, por exemplo, implica
determinado papel social que lhe dá um senso de ser
mulher ou homem. Além disso, você é membro de
determinada família, comunidade e nação, dessa forma,
também tem certa identidade racial, cultural e étnica e
vive dentro de uma classe socioeconômica específica.
Cada um desses elementos do seu contexto social único
influencia suas crenças e comportamentos – incluindo
aqueles relacionados com a saúde (STRAUB, 2005).
Em resumo, a perspectiva biopsicossocial enfatiza as
influências mútuas entre os contextos biológicos, psicológicos
e sociais, que atuam em conjunto na determinação da saúde,
como exemplificamos na Tabela 2:

Tabela 2 O modelo biopsicossocial de saúde e doença.


Biológico Psicológico Social
Vírus Comportamento Gênero
Bactéria Crenças Estado Civil
Lesões Enfrentamento Emprego
Genética Estresse Classe Social
Etnia

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 43


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

É com esta concepção de saúde e de psicologia da saúde


que daremos seguimento aos nossos estudos. A compreensão
desses termos é imprescindível para avançarmos em direção
ao nosso próximo tópico, no qual discutiremos as variáveis
psicológicas e comportamentais que atuam na determinação da
saúde. Este é o assunto da nossa próxima unidade.

3. conteúdos digitais integradores


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. psicologia da saúde

A psicologia da saúde foi desenvolvida a partir do conceito


ampliado de saúde, com múltiplos determinantes. A evolução na
forma de pensar saúde foi fundamental para o surgimento deste
campo da psicologia. Contudo, foram os achados da psicologia
um dos fatores que estimularam esta evolução no conceito de
saúde. Dessa forma, devemos ter sempre em mente o conceito
de ser biopsicossocial na determinação dos processos de saúde
e doença.
Os textos a seguir ajudarão você a ampliar o conhecimento
sobre este tema. É muito importante que você acesse os links
apresentados e consulte os materiais indicados.
• GRILO, A.M.; PEDRO, H. Contributos da psicologia para
as profissões da saúde. Disponível em: <http://www.
scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/psd/v6n1/v6n1a05.pdf>
Acesso em: 20 dez. 2013.

44 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

• DE MARCO, M. A. Do modelo biomédico ao modelo


biopsicossocial: um projeto de educação permanente.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/
v30n1/v30n1a10.pdf> Acesso em: 20 dez. 2013.
• TEIXEIRA, J. A. C. Psicologia da saúde. Disponível
em:<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/aps/
v22n3/v22n3a02.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.

1) Sobre a subjetividade, assinale a alternativa incorreta:


a) Ela é construída a partir do contato com mundo social e cultural.
b) É composta de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito
a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição
biológica.
c) Ela é inata ao indivíduo, ou seja, acompanha-o desde seu nascimento.
d) É o que constitui o nosso modo de ser.

2) Sobre o behaviorismo, está correto o que se afirma em:


a) O comportamento não é entendido como uma ação isolada, mas sim
como uma interação entre o organismo e o seu ambiente.
b) O comportamento respondente é uma resposta emitida pelo
organismo que produz uma consequência no ambiente, e é afetado
(controlado) por essas consequências.
c) O comportamento operante é caracterizado por respostas do
organismo que são eliciadas (produzidas) por estímulos do ambiente.
d) Essa teoria se refere à existência de três sistemas psíquicos: o incons-
ciente, o pré-consciente e o consciente.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 45


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

3) São fatores que contribuíram para o surgimento da psicologia da saúde,


exceto:
a) Surgimento de transtornos relacionados ao estilo de vida.
b) Modificação no modelo biomédico.
c) A escolha da psicanálise como abordagem teórica prevalente na área
da Saúde.
d) Aumento da expectativa de vida.

4) Em relação à definição de saúde, assinale a alternativa incorreta:


a) Saúde social envolve ter habilidades interpessoais, relacionamentos
significativos com amigos e família e apoio social em épocas de crise.
b) Saúde física implica ter um corpo saudável e livre de doenças.
c) Considera a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.
d) Concentra sua definição na ausência de doenças ou condições
negativas.

5) Sobre as perspectivas em saúde da família, assinale a alternativa correta:

a) A perspectiva de gênero que se concentra em investigar os aspectos da


saúde e da doença relacionados com a idade e ciclos de vida.
a) Homens e mulheres não devem ser diferentes no risco que apresen-
tam para transtornos e doenças.
b) A perspectiva sociocultural defende que variáveis biológicas, psicológi-
cas e sociais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabi-
lidade do indivíduo à doença.
c) Todas as perspectivas se sobrepõem e todas veem a saúde e a doença
como produtos da interação de fatores.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:

1) C

2) A

46 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

3) C

4) D

5) D

5. considerações
Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você
teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a ciência
da psicologia e algumas abordagens teóricas. Além disso,
apresentamos a definição de saúde como determinada por
variáveis biopsicossociais. Essa concepção de saúde é a base da
Psicologia Aplicada à Saúde, que busca compreender os aspectos
comportamentais envolvidos na preservação e promoção da
saúde.
Na próxima unidade, descreveremos, de forma mais
detalhada, as variáveis psicológicas e comportamentais que
interferem na saúde.
Até lá!

6. e-REFERÊNCIAs
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION – APA. Public description of clinical health
psychology. Disponível em: <www.apa.org/ed/graduate/specialize/health.aspx>.
Acesso em: 12 jan. 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS. Constituição da Organização Mundial
da Saúde. Diponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-
Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-
mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 27 jul. 2015.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 47


UNIDADE 1 – Fundamentos da Psicologia da Saúde

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo
de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
FIGUEIREDO, L. C.; SANTI, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC,
2004.
MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. Et al. Psicologia da Saúde.
Intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias Cognitivo-
Comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

48 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2
Variáveis Psicológicas na
Determinação da Saúde

Objetivos
• Compreender como variáveis psicológicas e comporta-
mentais podem influenciar a saúde.
• Interpretar os tipos de prevenção e os comportamentos
que promovem saúde.
• Analisar o processo de adesão ao tratamento.
• Identificar características de personalidade ou padrões
de comportamento que estão associados ao desenvol-
vimento de algumas doenças.

Conteúdos
• Fatores evolutivos e saúde.
• História de vida na determinação da saúde/doença.
• Variáveis psicossociais do tratamento.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) O estresse é uma variável psicológica que tem grande
associação com os processos de saúde e doença. No

49
UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

entanto, pela complexidade do tema, ele não será


analisado nesta unidade, mas sim em uma unidade
específica para o assunto, a Unidade 3.
2) Durante o estudo desta unidade, procure pensar no seu
próprio comportamento em relação à sua saúde. Tente
identificar em que padrões de comportamento você se
encaixa. Isso facilitará a memorização do conteúdo.
3) Não se esqueça de explorar o material disponível nos
Conteúdos Digitais Integradores e procure realizar
outras pesquisas sobre este tema. Existem outros
aspectos que não puderam ser contemplados aqui.

50 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

1. INTRODUÇÃO
A Psicologia da Saúde busca compreender porque algumas
pessoas são mais saudáveis que outras e por que algumas que
recebem o mesmo diagnóstico, às vezes, evoluem de formas
muito diferentes.
Para responder a estas questões, devemos, antes de
tudo, considerar os mecanismos genéticos envolvidos. Algumas
pessoas são mais predispostas a desenvolver determinadas
doenças que outras, simplesmente porque sua composição
biológica a faz mais vulnerável a isso. No entanto, pesquisadores
perceberam que outras variáveis poderiam estar presentes na
determinação da saúde. Foi verificado que alguns fatores como
hábitos de vida mais saudáveis, realização de exames médicos
periódicos e mesmos alguns padrões de comportamento
(características da personalidade) agiam como proteção à saúde.
Todos esses fatores envolvem comportamentos, e como tais, a
Psicologia acredita que podem ser modificáveis.
Desse modo, se a saúde da pessoa depende de seus
comportamentos e estes são passíveis de modificação, então
se torna imprescindível que o profissional de saúde conheça o
modo como estes padrões de comportamentos afetam a saúde,
para facilitar e promover adesão ao tratamento e hábitos de vida
mais saudáveis.
Nesta unidade, exploraremos como variáveis psicológicas
e comportamentais podem determinar os processos de saúde
e doença. A compreensão desses aspectos fará de você um
profissional de saúde mais habilitado e capaz de promover
modificações saudáveis nos seus pacientes.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 51


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

2. Conteúdo Básico de Referência


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma
sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário aprofundamento pelo estudo dos
Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. saúde e comportamento

A Psicologia no campo da Saúde vem se constituindo como


uma das formas de se compreender o adoecimento e as maneiras
pelas quais a pessoa pode manter-se saudável. De forma geral,
a Psicologia da Saúde é um campo que estuda as influencias
psicológicas na saúde, os fatores responsáveis pelo adoecimento
e as mudanças de comportamento das pessoas no adoecer.
Ela pode ser compreendida como um domínio da Psicologia
que utiliza vários conhecimentos resultantes de estudos e de
pesquisas psicológicas, com o intuito de promover e proteger a
saúde. É também seu objetivo prevenir e tratar enfermidades,
bem como identificar etiologias e disfunções associadas às
doenças (CAPITÃO; SCORTEGAGNA; BAPTISTA, 2005).
A saúde, como estudamos na Unidade 1, pode ser
considerada um estado de completo bem-estar físico,
psicológico e social. Assim, a Psicologia da Saúde volta-se
para os aspectos psicológicos da saúde no decorrer da vida de
uma pessoa, não como variáveis isoladas, mas como esferas
da vida interdependentes que se influenciam mutuamente.
Nesta Unidade, exploraremos como os fatores psicossociais e
comportamentais exercem influência sobre a saúde e a doença.

52 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

A saúde pode ser influenciada por variadas condições, tais


como:
1) diferenças individuais (experiência e história de vida);
2) traços de personalidade;
3) sistema de crenças;
4) padrão de comportamento;
5) redes de suporte social;
6) meio ambiente.
Capitão, Scortegagna e Baptista (2015) “sugerem que
os processos psicológicos e os estados emocionais estão
diretamente relacionados com a etiologia e a disseminação de
doenças”.
Até o início do século 20, as principais causas de morte
eram as doenças infecciosas, como pneumonia e tuberculose,
entre outras. No entanto, com os avanços da medicina, a
reforma sanitária e o desenvolvimento de vacinas cada vez mais
eficientes, as epidemias dessas doenças foram controladas. Aos
poucos, as doenças crônicas foram substituindo as infecciosas
como a principal causa de mortalidade (MIYAZAKI et al., 2011).
A principal causa de morte no mundo atualmente são as
doenças cardiovasculares, seguida pelo câncer. Essas doenças são
significativamente influenciadas por fatores comportamentais e
ambientais, como o hábito de fumar, a falta de exercício físico,
comer excessivamente e temperamentos hostis. Por essa razão,
houve uma mudança no foco da doença como estritamente
fisiológica, para causas fisiológicas e psicológicas.
É difícil imaginar uma atividade ou comportamento que
não influencie a saúde de alguma forma, direta ou indiretamente,
para melhor ou para pior. O consumo excessivo de álcool é um

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 53


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

exemplo de comportamento que tem impacto negativo direto


sobre a saúde física. Algumas características pessoais como a
hostilidade ou a passividade também podem afetar a saúde.
Alguns comportamentos afetam a saúde imediatamente, como
envolver-se em um acidente de carro sem estar usando o cinto
de segurança. No entanto, outros comportamentos afetam a
saúde a longo prazo, como é o exemplo do consumo excessivo
de gorduras e sódio. Já alguns comportamentos produzem tanto
efeitos imediatos quanto a longo prazo, como o uso abusivo de
álcool e a prática de exercícios físicos.
Podemos dividir os efeitos dos comportamentos sobre
a saúde em dois tipos: efeitos positivos e efeitos negativos
(STRAUB, 2005). Veja o Quadro 1:

54 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Quadro 1 Efeitos dos comportamentos sobre a saúde.


Efeitos Positivos Efeitos Negativos
Comportamentos ou hábitos São comportamentos ou
que apresentam efeito prote- hábitos relacionados ao estilo
tor sobre a saúde trazem be- de vida que prejudicam a
nefícios ao indivíduo. saúde.

Por exemplo: a prática regular Entre os mais comuns estão fu-


de exercícios físicos, o uso mar, comer de forma excessiva,
de filtro solar, uma dieta consumir substâncias tóxicas,
equilibrada, sexo seguro, práticas inseguras no trânsito
o uso de equipamentos de e comportamentos sexuais de
segurança etc. Todos esses risco.
comportamentos ajudam a
"imunizar" a pessoa contra
doenças e ferimentos.
Além desses, a raiva, o estres-
Outros comportamentos se, a tristeza, a hostilidade,
como ter atividades prazero- entre outros, também podem
sas, tirar férias regularmente, prejudicar a saúde.
rir, ter amigos, entre outros,
também podem produzir
efeitos positivos à saúde.

Essas atividades ajudam


muitas pessoas a manejar
o estresse e a manter uma
perspectiva de vida otimista.
Fonte: Acervo do autor.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 55


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Os comportamentos relacionados com a saúde interagem


e frequentemente são inter-relacionados. Além disso, o efeito
combinado desses comportamentos prejudiciais à saúde é
mais forte do que se a pessoa realizasse apenas um desses
comportamentos. Por exemplo, é muito comum que pessoas
que fazem uso abusivo de álcool utilizem também outros tipos
de substancias tóxicas ou apresentem comportamentos sexuais
de risco (CAPITÃO; SCORTEGAGNA ; BAPTISTA, 2005).

2.2. prevenção de doenças

A partir da evidência da relação entre o estilo de vida e a


saúde, muitas pesquisas tem se dedicado ao estudo da prevenção
de doenças (STRAUB, 2005). Os pesquisadores diferenciaram três
tipos de prevenção, que são adotados antes, durante e depois
que uma doença ataca. Observe o Quadro 2:

Quadro 2 Tipos de Prevenção em Saúde.


Refere-se a ações para promover a saúde que
são adotadas para prevenir a ocorrência de
doenças ou ferimentos.

Prevenção Exemplo: o uso do cinto de segurança, o uso


Primária de camisinha, uma alimentação equilibrada,
praticar exercícios físicos, evitar fumar e fazer
exames de saúde com regularidades.

56 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Envolve ações adotadas para identificar e


tratar a doença ainda no seu início.

Prevenção Exemplo: realizar exames regulares para


Secundária monitorar sintomas, usar medicações e
modificar hábitos não saudáveis.

Implica ações adotadas para conter ou


retardar danos, uma vez que a doença já tiver
progredido além de seus estágios iniciais.

Envolvem tratamentos mais avançados, como


Prevenção quimioterapia e radioterapia, medicamentos
Terciária mais fortes, procedimentos cirúrgicos, entre
outros.

A prevenção terciária tenta a máxima


reabilitação possível
Fonte: Acervo do autor.

Embora a prevenção terciária seja mais cara e menos


benéfica do que a prevenção primária e secundária, é a forma mais
comum de tratamento de saúde. O tratamento terciário é muito
mais fácil de ser realizado, pois o grupo alvo de intervenção, ou
seja, aqueles que já estão doentes são facilmente identificados.
Além disso, os pacientes em tratamento terciário normalmente
têm mais motivação para aderir ao tratamento e tomar parte
em outros comportamentos que melhoram a saúde (ALMEIDA,
2005).
Os profissionais da saúde podem contribuir com a
prevenção de doenças por meio do acolhimento personalizado

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 57


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

de cada paciente e de suas demandas. Além disso, os serviços


de saúde necessitam pensar em estratégicas para que as formas
iniciais de prevenção possam acontecer. As intervenções de
promoção de saúde, realizadas nos núcleos de saúde da família,
e as campanhas para detecção precoce de doenças são bons
exemplos de prevenção primária e secundária, respectivamente.
Apesar das evidências positivas relacionadas à prevenção
em saúde, esta ainda encontra diferentes barreiras. Considerando
a saúde e outros comportamentos como determinados pela
interação entre mecanismos biológicos, processos psicológicos e
influências sociais, devemos considerar que os comportamentos
relacionados à saúde dependem de variáveis relacionadas não só
ao indivíduo, mas também à sua comunidade e aos profissionais
de saúde (ALMEIDA, 2005).

Barreiras individuais
Muitas vezes, os comportamentos prejudiciais à saúde
não apresentam consequência imediata. Por exemplo, quando
vamos a uma churrascaria, não nos sentimos mal naquele
momento, pelo contrário, normalmente, nos sentimos bem ao
comer uma comida que gostamos, principalmente, se estivermos
na companhia de amigos agradáveis. No entanto, o efeito a
longo prazo de uma alimentação rica em gordura animal pode
trazer sérios riscos à nossa saúde. Da mesma forma, ao ir a uma
festa com os amigos e beber bastante, sentimo-nos animados e
normalmente felizes. Não há uma consequência imediata para o
uso abusivo do álcool; há, no máximo, uma dorzinha de cabeça
no dia seguinte. Mas o efeito do uso prolongado de álcool está
associado ao aparecimento de diversas doenças.

58 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

O problema está nesse atraso da consequência. Na


psicologia comportamental (behaviorista), chamamos isso
de "gradiente de reforço" (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Esse
princípio diz que as recompensas ou punições imediatas são
mais eficazes do que as atrasadas. Muitos comportamentos
que favorecem a saúde, como praticar exercícios físicos e seguir
uma dieta balanceada são menos prazerosos ou mais cansativos
do que suas alternativas menos saudáveis. Se realizar certo
comportamento, causa alívio ou gratificação imediata, ou, se não
realizar tal comportamento, proporciona desconforto imediato;
o comportamento é difícil de ser eliminado.

Barreiras impostas pela família


Os hábitos de saúde normalmente são adquiridos
com os pais e outras pessoas que atuam como modelos de
comportamentos prejudiciais à saúde. Pais que fumam, por
exemplo, tem mais probabilidade de terem filhos fumantes. De
maneira semelhante, é comum observar famílias em que todos
os membros são obesos, e filhos de alcoólatras têm maior chance
de consumirem álcool em excesso (STRAUB, 2005).
Além de uma base genética, muitos desses comportamentos
podemseraprendidospormeiodaobservaçãodoscomportamentos
de risco dos familiares. Diversas outras variáveis familiares foram
ligadas a comportamentos de risco, como inconsistência parental,
conflitos conjugais, relacionamento coercitivo entre pais e filhos e
consumo exagerado de álcool e drogas.

Barreiras impostas pelo sistema de saúde


A medicina e os sistemas de saúde estão, de forma
geral, concentrados em condições de tratamento que já estão

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 59


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

desenvolvidas. Dessa forma, sinais precoces de doenças e


fatores de risco acabam sendo negligenciados (ALMEIDA, 2005).
Pessoas que não estejam experimentando sintomas de doenças
não são estimuladas a buscar orientações com relação a fatores
de risco potenciais, e os profissionais de saúde são focados,
principalmente, na recuperação de agravos de saúde já presentes,
e não na prevenção de doenças futuras. Podemos dizer que já
houve alguns avanços nesse sentido, pois há uma crescente
preocupação que os estudantes de áreas relacionadas à saúde
passem a explorar a promoção de saúde. A criação da Estratégia
Saúde da Família é um importante avanço nesse sentido.

2.3. adesão ao tratamento

A adesão depende da capacidade do paciente em seguir


seu tratamento conforme as recomendações da equipe de
saúde, estando esclarecido de que essas recomendações e suas
ações em favor do tratamento o auxiliarão em sua recuperação.
A não adesão consiste na dificuldade ou fracasso, por parte
do paciente, em cumprir o programa ou orientação propostos
pelos profissionais da saúde. As dificuldades de adesão é um
problema comum em várias áreas da saúde, tanto em prevenção,
tratamento, como em reabilitação e há necessidade de entendê-
la melhor, já que compromete todo o tratamento (SANGUIN;
VIZZOTTO, 2007).
Ainda no que se refere à não adesão, inúmeras variáveis
estão envolvidas. Fatores de aderência e não aderência estão
aqueles relacionados à própria doença, às relações médico-
paciente, à personalidade do paciente, ao meio social, ao próprio
tratamento e às condições do serviço de saúde. Podemos dividir

60 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

esses fatores em variáveis do paciente, comunicação e variáveis


do tratamento (SANGUIN; VIZZOTTO, 2007).
Vamos descrever melhor cada uma delas:
1) Variáveis do paciente: os fatores do paciente que
mais estão relacionados com a adesão são o bom
suporte social e a percepção de responsabilidade
sobre sua saúde. Assim, pacientes que contam com
uma boa rede de apoio, na qual são incentivados a
realizar corretamente o tratamento, têm auxílio de
outras pessoas para organizar a rotina de consultas
e medicamentos e recebem suporte emocional e
material para cuidar de sua saúde, tendem a aderir
melhor ao tratamento. É importante observar que
esse apoio social pode ser fornecido tanto pela família
como por amigos ou pela comunidade na qual o
paciente está inserido. Do mesmo modo, pacientes
que idendificam que sua saúde é resultado do seu
próprio comportamento e se coloca como responsável
pela sua recuperação, atuando de forma mais ativa no
tratamento, também apresentam melhor adesão às
orientações da equipe de saúde.
2) Comunicação: fatores como o estilo de comunicação
do profissional de saúde e a satisfação do paciente
com a equipe são variáveis que podem interferir na
adesão ao tratamento. É comum que os pacientes
saiam de consultas com informações insuficientes
ou mesmo com a compreensão errônea de seus
problemas. Especialmente, em consultas difíceis, em
que os pacientes se encontram em considerável estado
de estresse é difícil aceitar tudo que o médico fala.
Profissionais de saúde que são bons comunicadores e

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 61


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

que cumprem com as expectativas de seus pacientes


no que diz respeito às informações que recebem,
tendem a ter pacientes com maior probabilidade de
aderirem às recomendações do tratamento.
3) Variáveis do tratamento: os pacientes têm mais
probabilidade de seguir recomendações em que
acreditam e que sejam capazes de cumprir. Mesmo
quando um tratamento é considerado importante, o
fato de o paciente ser capaz de realmente cumprir com
as orientações propostas depende de quão difícil ele é e
do apoio disponível ao paciente. Quanto mais complexo
for o tratamento, menor será a probabilidade de haver
adesão completa. Algumas modificações poderiam
facilitar a adesão ao tratamento dos pacientes, tais
como as descritas no quadro abaixo (STRAUB, 2005):
No Quadro 3, veja as alterações no tratamento que podem
facilitar a adesão do paciente.

Quadro 3 Facilitando a Adesão ao Tratamento


Facilitando a Adesão ao Tratamento
Manter o regime de tratamento o mais simples e curto possível.
Moldar o tratamento com o estilo de vida do paciente.
Simplificar as instruções com linguagem clara para garantir
que se compreenda a quantidade, os horários e a duração do
tratamento.
Assegurar-se de que o indivíduo entende o suficiente da lógica
do tratamento para que ele tenha confiança nos prazos a serem
cumpridos.
Envolver familiares e amigos no tratamento.
Sempre dar um retorno sobre o progresso do tratamento ao
paciente.
Fonte: Acervo do autor.

62 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

2.4. Teorias de comportamento e saúde

A Psicologia da Saúde desenvolveu diversas teorias


na tentativa de explicar porque as pessoas praticam ou não
determinados comportamentos que promovem ou prejudicam
a saúde. Algumas dessas teorias se concentram em prever a
maneira como as pessoas tomam decisões sobre determinado
comportamento, com base na ideia de que as pessoas são
racionais e entram em um processo de pesar os prós e os contras
de praticarem determinado comportamento que poderia afetar
sua saúde. No entanto, as teses mais amplamente aceitas na
Psicologia da Saúde são as teorias com estágios, que pressupõem
que a decisão de adotar determinado comportamento saudável
seja um processo dinâmico, envolvendo mais de uma decisão e
que normalmente requer diversas etapas ou estágios (STRAUB,
2005).
Dentre as teorias com estágios, o Modelo Transteórico,
também conhecido como estágios de prontidão para a
mudança, formulado por Prochaska e DiClemente (1984), é o
mais amplamente utilizado na compreensão da modificação
de comportamentos não saudáveis. Essa teoria foi inicialmente
desenvolvida para explicar o comportamento envolvido no uso
abusivo de substancias psicoativas (drogas), mas posteriormente
foi ampliado para todos os comportamentos aditivos e
comportamentos relacionados à saúde.
O modelo transteórico sustenta que as pessoas progridem
por meio de cinco estágios ao alterar comportamentos
relacionados com a saúde. Os estágios são definidos em termos
de comportamentos passados e intenções de ações futuras.
Esse modelo está focado na mudança intencional, referindo-se
à tomada de decisão do indivíduo, e não nas influências sociais

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 63


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

ou biológicas sobre o comportamento. Dessa forma, a mudança


de comportamento tende a se mover ao longo de uma série
de estágios, independentemente de a pessoa estar ou não
inserida em um plano de tratamento. Os estágios de motivação
para a mudança representam a dimensão temporal do modelo
transteórico e indicam quando mudanças particulares nas
atitudes, intenções e comportamentos tendem a acontecer,
possibilitando que o acesso ao estágio de prontidão para
mudança no qual o cliente se encontra permita uma adequação
das intervenções terapêuticas direcionadas a esse paciente.
São definidos cinco estágios, descritos na Figura 1 a seguir:

64 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


unidadE 2 – vaRiÁvEis psiColÓGiCas na dEtERminação da saÚdE

Fonte: Acervo do autor.


Figura 1 Os cinco estágios.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE 65


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Para compreender melhor esses estágios de prontidão


para a mudança, vamos imaginar um paciente com obesidade
mórbida, que foi diagnósticado com hipertensão e diabetes. Além
do tratamento medicamentoso, este paciente foi orientado pela
equipe de saúde que precisa mudar radicalmente seus hábitos
alimentares e praticar algum exercício físico. Trata-se, portanto,
de uma importante mudança no estilo de vida desse paciente.
No primeiro estágio do modelo transteórico, a pré-
contemplação, esse paciente provamelmente diria: "- Imagina,
este médico está exagerando. Não tem nada a ver uma coisa com
a outra! Comer me dá prazer, e se eu for ficar preocupado com
isso, ai sim vou ficar doente!". Nota-se que há uma ausência de
intenção de mudança e o paciente não avalia seu comportamento
como problemático.
Na segunda fase, a contemplação, este paciente passa a
reconhecer a necessidade de alteração de comportamento, mas
ainda não realiza nenhuma mudança de fato: "- Eu preciso parar
de comer estas coisas gordurosas, mas não consigo. Eu adoro
tudo isso, churrasco, fritura, sorvete. Parar de comer como? Não
tem jeito".
Na etapa seguinte, o estágio de preparação, o paciente se
organiza no sentido de buscar a ajuda necessária para conseguir
mudar seu comportamento. Nosso paciente, por exemplo,
agenda consulta com nutricionistas, pesquisa possíveis atividades
físicas que poderia realizar e solicita apoio da sua esposa para
conseguir mudar seus hábitos alimentares.
Já na fase de ação, nosso paciente coloca em prática as
orientações fornecidas pela equipe de saúde, seguindo a dieta
proposta para perder peso, diminuindo o consumo de gordura
e praticando exercícios físicos diariamente. Este é o estágio no

66 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

qual a mudança de fato ocorre. Em seguida, o paciente busca


manter esses ganhos obtidos e evita recaídas, o que configura a
etapa de manutenção.
O modelo transteórico reconhece que as pessoas avançam
e retrocedem nesses estágios de forma não linear. É comum
que pessoas tenham recaídas em relação a comportamentos de
risco, como fumar por exemplo. Esse modelo também reconhece
que diferentes processos comportamentais, cognitivos e sociais
podem assumir preponderância à medida que as pessoas lutam
para atingir seu objetivo. Tais processos incluem conscientização
(buscar mais informações sobre saúde), substituição do
comportamento prejudicial por outro alternativo e receber
recompensas de si mesmo ou de outras pessoas pela conquista
(STRAUB, 2005).

2.5. personalidade e saúde

Há algumas décadas, pesquisadores vêm tentando


descobrir padrões de comportamentos que se correlacionem
com as doenças. Há o interesse de verificar se há um perfil
psicológico comum a algumas doenças, pois se esse perfil fosse
precocemente identificado nos indivíduos, seria possível realizar
intervenções de forma a minimizar os danos causados por esses
padrões de comportamento.
Pesquisas sobre desenvolvimento e evolução das
enfermidades físicas, emocionais e psicossomáticas têm descrito
tipos de personalidades que predispõe o indivíduo a contrair
certas enfermidades como, por exemplo, cardiopatias e câncer
(DENOLLET, 1998).

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 67


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

O primeiro padrão de comportamento descrito foi


a personalidade tipo A, que foi fortemente associada ao
aparecimento de doenças cardiovasculares. Os comportamentos
característicos dessa personalidade seriam a impaciência, a
competitividade, a urgência de tempo e a hostilidade. Assim,
pessoas que apresentam esse padrão de comportamento são
mais vulneráveis a doenças cardíacas.
Contrapondo-se ao tipo A, também foi descrita a
personalidade tipo B, que seria a presença de comportamentos
opostos ao do tipo A. Pessoas com este padrão de comportamento
são mais tranquilas e capazes de se recuperar mais rapidamente
de situações estressantes do que os indivíduos tipo A. Dessa
forma, seriam indivíduos com menor chance de desenvolverem
doenças cardiovasculares.
Acompanhando a sequência do alfabeto latino, temos
também a personalidade tipo C, que se refere ao padrão de
enfrentamento, inicialmente identificado em pacientes com
câncer. Esse enfrentamento inadequado é associado à baixa
frequência de expressão emocional e comunicação empobrecida
dessas emoções e necessidades, e uma preocupação com as
necessidades e emoções das outras pessoas. As pesquisas
mostraram que pessoas com estas características estavam mais
vulneráveis a apresentarem tumores malignos.
Atualmente, novos estudos foram realizados e foi
verificado que outro padrão de comportamento parece estar
mais associado ao aparecimento de doenças cardiovasculares do
que o tipo A. Esse padrão foi chamado de personalidade tipo D,
devido à palavra distressed, que pode ser traduzida como aflito
ou angustiado. Pessoas com personalidade tipo D apresentam
afetividade negativa associada à presença de inibição social. São

68 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

indivíduos que estão mais suscetíveis a vivenciar dificuldades


emocionais e interpessoais, ficando vulneráveis a outros fatores
de risco psicossociais, como estresse, exaustão vital, depressão,
ansiedade e isolamento social. Além disso, são indivíduos que
tendem a se engajar menos no tratamento, emitem menor
frequência de comportamentos de busca de ajuda e até seu
comportamento em consultas e interações com profissionais
de saúde em geral é obstáculo para a manutenção de um
autocuidado minimamente satisfatório (DENOLLET, 1998).
A definição desses padrões de comportamentos não
significa, necessariamente, que todas as pessoas que se
enquadrarem nesses tipos de personalidade desenvolverão as
respectivas doenças. Apenas sinaliza quais grupos de pessoas
são mais vulneráveis a contraí-las.

3. conteúdos digitais integradores


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. Saúde e Comportamento

Nesta unidade, vimos que a saúde pode ser influenciada


por diversos fatores e que a forma como nos comportamos
tem efeitos diretos sobre a nosso bem-estar. Diversos tipos de
doenças poderiam ser evitados ou amenizados com a mudança
do estilo de vida e com a adesão correta ao tratamento.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 69


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Os links apresentados a seguir são parte efetiva dos


estudos desta unidade. É muito importante que você consulte os
materiais indicados:

• BARLETTA, J. B. Comportamentos e crenças em


saúde: contribuições da Psicologia para a medicina
comportamental. Disponível em: <http://www.
seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/
view/42/41>. Acesso em: 8 jan. 2014.
• REINERS, A. A. O. et al. Produção bibliográfica sobre
adesão/não-adesão de pessoas ao tratamento de
saúde. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/
csc/v13s2/v13s2a34.pdf>. Acesso em: 3 jan. 2014.
• ALMEIDA-FILHO, N. Modelos de determinação social
das doenças crônicas não-transmissíveis. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a09v9n4.pd>.
Acesso em: 5 jan. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Em relação às influencias sobre o processo de saúde e doença, assinale a
alternativa INCORRETA:
a) A saúde pode ser influenciada por variadas condições, tais como, dife-
renças individuais, traços de personalidade, sistema de crenças, com-
portamentos, redes de suporte social e meio ambiente.
b) Os processos psicológicos e os estados emocionais estão diretamente
relacionados com a etiologia e a disseminação de doenças.

70 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

c) Nosso comportamento pode ter efeito positivo ou negativo sobre nos-


sa saúde.
d) Diante das evidências da influencia de fatores psicológicos e compor-
tamentais na saúde, podemos dizer que as variáveis biológicas são
irrelevantes.

2) Sobre prevenção em saúde, assinale a alternativa INCORRETA:


a) Prevenção terciária implica ações adotadas para conter ou retardar da-
nos, uma vez que a doença já tiver progredido além de seus estágios
iniciais.
b) A prevenção secundária é a forma mais comum de tratamento de
saúde.
c) O atraso da consequência de um comportamento e os modelos fami-
liares inadequados são exemplos de barreiras à prevenção.
d) Prevenção primária refere-se a ações para promover a saúde que são
adotadas para prevenir a ocorrência de doenças ou ferimentos.

3) Em relação a adesão ao tratamento, podemos afirmar:


a) A dificuldade de adesão não é um problema comum em saúde.
b) A adesão consiste na capacidade do paciente em seguir seu tratamen-
to conforme as recomendações da equipe de saúde.
c) Características do paciente são determinantes na adesão, independen-
te da sua relação com a equipe de saúde.
d) Variáveis do tratamento pouco influenciam na adesão.

4) Descreva os cinco estágios de prontidão para mudança de acordo com o


Modelo transteórico.

5) Sobre personalidade e saúde, assinale a alternativa INCORRETA:


a) Doenças cardiovasculares foram inicialmente associadas à personali-
dade Tipo A. No entanto, novas evidências científicas mostram uma
relação maior entre cardiopatas e personalidade Tipo D.
b) A personalidade Tipo C refere-se ao padrão de enfrentamento identifi-
cado em pacientes com câncer.
c) A impaciência, a competitividade, a urgência de tempo e a hostilidade
são comportamentos característicos da personalidade Tipo B.
d) Pessoas com personalidade Tipo D apresentam afetividade negativa
associada à presença de inibição social.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 71


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) D

2) B

3) B

4) Pré-contemplação; contemplação; preparação; ação; e manutenção.

5) C

5. CONSIDERAÇÕES
Como vimos, há evidências de que as variáveis de
comportamento afetam a saúde e a doença e que fatores
cognitivos e comportamentais são fundamentais para predição
de comportamento de saúde. Essas informações têm chamado
a atenção de profissionais e pacientes para a importância de
hábitos de saúde e para o estilo de vida.
A modificação de alguns comportamentos, tais como
deixar de fumar, cuidar da alimentação, controlar o estresse,
praticar atividades físicas regularmente, dormir um número de
horas adequado podem reduzir o aparecimento de doenças
crônicas e reduzir a mortalidade. Dessa maneira, prevenir o
desenvolvimento de maus hábitos de saúde é prioridade na
Psicologia Aplicada à Saúde.

72 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 2 – Variáveis Psicológicas na Determinação da Saúde

5. e-REFERÊNCIAS
CAPITÃO, C. G.; SCORTEGAGNA, S. A.; BAPTISTA, M. N. . A importância da
avaliação psicológica na saúde. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?pid=S1677-04712005000100009&script=sci_arttext>. Acesso em: 27 jul. 2015.
SCIELO. Scientific Electronic Library Online. Disponível em: <http://www.scielo.org/
php/index.php>. Acesso em 12 jan.2014.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, L. M. Da prevenção primordial à prevenção quaternária. Revista Portuguesa
de Saúde Pública, 23 (1), p. 91-96, 2005.
CAPITÃO, C. G.; SCORTEGAGNA, S. A.; BAPTISTA, M. N. A importância da avaliação
psicológica na saúde. Avaliação Psicológica, 4 (1), p. 75-74, 2005.
DENOLLET, J. (1998). Personality and coronary heart disease: the type-D scale-16
(DS16). Annals of Behavioral Medicine, 20(3), 209-215.
MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E.; VALERIO, N. I. Psicologia da
Saúde: intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias
cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento.
Porto Alegre: Artmed, 2007.
SANGUIN, F. P. S.; VIZZOTTO, M. M. Variáveis psicológicas relacionadas ao processo de
adesão ao tratamento fisioterapêutico. Mudanças – Psicologia da Saúde, 15 (1) 13-22,
jan./jun., 2007.
STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005. 

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 73


© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE
UNIDADE 3
Estresse e Doença

Objetivos
• Compreender o que é estresse e analisar o seu efeito no
nosso organismo.
• Interpretar os modelos de estresse e doença.
• Descrever as estratégias de enfrentamento diante do
estresse.
• Analisar o estresse relacionado com o trabalho e a
síndrome de burnout.

Conteúdos
• Estresse e doença: mecanismos fisiológicos e
enfrentamento.
• Adoecimento no trabalho.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) O estudo do estresse e do enfrentamento é um exemplo
perfeito sobre a compreensão da saúde segundo o
modelo biopsicossocial. Esse modelo foi estudado na

75
UNIDADE 3 – Estresse e Doença

nossa primeira unidade. Relembre o seu conteúdo e


pense sobre isso durante o seu estudo.
2) Lembre-se sempre de tirar suas dúvidas com seus
tutores, pois eles estão preparados para auxiliá-los no
processo de aprendizagem.
3) Aprimore seu estudo com pesquisas e leitura das
referências bibliográficas da unidade e Conteúdos
Digitais Integradores.

76 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, estudaremos o efeito do estresse sobre a
nossa saúde. Vamos discutir sobre formas como o estresse se
manifesta em nosso corpo e como interage com nosso organismo,
facilitando o aparecimento de doenças.
De fato, o estresse é hoje um sério problema de saúde.
Ele está relacionado às seis principais causas de morte – doença
cardíaca, câncer, complicações pulmonares, acidentes, cirrose
do fígado e suicídio. Isso mostra o impacto do estresse em nossa
sociedade e a necessidade de ampliar a compreensão sobre ele.
Estudaremos, também, as estratégias mais utilizadas para
o enfrentamento do estresse e como este pode estar associado
ao nosso trabalho.

2.  Conteúdo Básico de Referência


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma
sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos
Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. estresse

Vamos compreender o que é o estresse. Esse termo, que


se popularizou muito nos últimos tempos, tem sido muito usado
para descrever inúmeras condições do nosso organismo, tais
como cansaço, preocupação ou mesmo nervosismo. No entanto,
o estresse vai além dessas situações. Trata-se de um mecanismo
fisiológico do organismo, com componentes psicológicos, físicos,

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 77


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

mentais e hormonais, que ocorre quando surge a necessidade


de uma adaptação a um evento ou situação de importância
(MIYAZAKI et al., 2011).
Assim, o estresse
[...] caracteriza uma reação fisiológica do organismo sem o qual
nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso
antepassado das cavernas não reagisse imediatamente, ao se
deparar com uma fera faminta, não teria deixado descendentes
Nós existimos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é,
liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular
é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que,
diante do perigo, enfrentassem a fera ou fugissem (FAMILIA.
COM.BR, 2015).

Em outras palavras, o estresse é o responsável pelas nossas


reações de luta e fuga (MELLO, 1995).
A palavra “estresse” é, algumas vezes, usada para descrever
uma situação ou um estímulo ameaçador e, em outras, para
descrever a resposta a uma situação. Por exemplo, quando uma
pessoa está sofrendo pressão no trabalho, dizemos que ela está
sob estresse (estímulo), mas se esta mesma pessoa apresenta
dificuldades para se concentrar ou fadiga, dizemos que ela se
encontra estressada (resposta).
A Psicologia da Saúde distingue as propriedades de
estímulo do estresse de suas propriedades de resposta. Os
estressores são estímulos ou eventos que desencadeiam
adaptações de enfrentamento. A tensão refere-se às respostas
físicas e emocionais que acompanham a percepção que a pessoa
tem dos estressores. O estresse é assim definido de forma
mais completa como um processo pelo qual alguém percebe
e responde a eventos que são julgados como desafiadores ou
ameaçadores (STRAUB, 2005).

78 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Modelo Transacional do Estresse


Richard Lazarus e colaboradores (1993) propuseram o
modelo transacional (ou relacional) do estresse, que descreve o
estresse como um processo. A ideia fundamental desse modelo
é de que não podemos compreender completamente o estresse
examinando eventos ambientais (estímulos) e pessoas (respostas)
como entidades separadas; em vez disso, devemos considerá-los
em conjunto, como uma transação, na qual cada indivíduo deve
ajustar-se de forma contínua aos desafios encontrados (STRAUB,
2005).
Segundo o modelo transacional, o processo do estresse é
desencadeado sempre que os estressores excedem os recursos
pessoais e sociais que o indivíduo é capaz de mobilizar para
enfrentar o estresse. Por exemplo, uma pessoa que perde seu
emprego, mas conta com apoio familiar ou com outra fonte de
renda, vivenciará o estresse de forma muito diferente do que
uma pessoa que fica desempregada sendo o único provedor de
sua família. Quando os recursos disponíveis para enfrentar ou
se adaptar às situações estressantes não estão disponíveis, o
estresse é vivenciado de forma mais intensa.
Por um lado, se os recursos de enfrentamento são
suficientemente fortes, não há estresse, mesmo que para outra
pessoa a situação pareça insuportável. Por outro lado, se os
recursos de enfrentamento são fracos e ineficazes, o estresse
ocorre, mesmo que para outra pessoa a demanda da situação
possa ser cumprida com facilidade. Uma gestação pode ser
uma ótima notícia ou uma situação complicada, por exemplo.
Do mesmo modo, algumas pessoas vivenciam tratamentos
invasivos, como a realização de uma cirurgia, de forma tranquila e
positiva, enquanto outras pessoas sofrem bastante e até mesmo

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 79


unidadE 3 – EstREssE E doEnça

deprimem por causa do procedimento. O nível de estresse


dependerá dos recursos de enfrentamento.

É muito comum observar isso no ambiente hospitalar, no


qual algumas pessoas recebem diagnósticos graves, como um
tumor avançado ou uma doença neurodegenerativa, e ainda
assim reagem de forma positiva e esperançosa. Por outro lado,
alguns pacientes que recebem diagnósticos menos graves e com
chances de resolução, muitas vezes reagem de forma desesperada
e com muita ansiedade. Não é apenas o evento que determina
o estresse, mas também os recursos de enfrentamento que a
pessoa dispõe.
Quando as demandas de um evento ou situação criam
estresse, a resposta não é estática, ao contrário, envolve
interações e ajustes contínuos, chamados de transações, entre o
ambiente e as tentativas de enfrentar o estresse. Cada indivíduo
é agente ativo que pode alterar o impacto de um estressor
em potencial por meio da utilização dos recursos disponíveis
(STRAUB, 2005).

80 © PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Os autores desse modelo acreditam que as transações


entre o indivíduo e seu ambiente são motivadas pela avaliação
cognitiva que o mesmo faz de um possível problema. Esta
avaliação inclui analisar inicialmente se a situação ameaça o
bem-estar do indivíduo, em seguida, se existem recursos pessoais
suficientes disponíveis para lidar com a demanda e, por último,
se a estratégia da pessoa para lidar com a situação ou evento
está funcionando.
Quando uma pessoa enfrenta um evento potencialmente
estressante, realiza uma avaliação primária para determinar
o significado do evento: será que essa situação me causará
problemas?
O resultado dessa avaliação é a interpretação do evento de
três maneiras:
• irrelevante;
• benigno positivo;
• desafiador ou ameaçador.
Uma vez que um evento tiver sido avaliado como desafio
ou ameaça, a avaliação secundária responde à questão: o que
posso fazer para lidar com essa situação? Nesse sentido, a pessoa
avalia suas capacidades de enfrentamento para determinar se
elas serão adequadas para enfrentar o desafio. Se os recursos
são considerados adequados, pouco ou nenhum estresse ocorre.
Quando uma ameaça ou desafio é grande e os recursos de
enfrentamento são baixos, é provável que haja estresse. Com
a reavaliação cognitiva, a pessoa atualiza constantemente sua
percepção de sucesso ou falha ante um desafio ou uma ameaça
(STRAUB, 2005). Para melhor compreensão, observe o exemplo
na Figura 1:

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 81


unidadE 3 – EstREssE E doEnça

Fonte: Acervo do autor.


Figura 1 Modelo transacional do estresse.

A avaliação cognitiva nem sempre resulta em menos


estresse; às vezes, ela aumenta o estresse. Um evento que
originalmente era avaliado como benigno ou irrelevante pode
rapidamente assumir um caráter ameaçador se a resposta de
enfrentamento fracassa ou se o indivíduo começa a ver o evento
de maneira diferente (STRAUB, 2005).

82 © PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

O modelo transacional de Lazarus e colaboradores (1993) tem


três implicações importantes: em primeiro lugar, as situações ou
eventos não são inerentemente estressantes ou não-estressantes,
qualquer situação ou evento pode ser avaliado (e experimentado)
como estressante por uma pessoa, mas não por outra. Em segundo,
as avaliações cognitivas são extremamente suscetíveis a alterações
em humor, saúde e estado motivacional. Pode-se interpretar o
mesmo evento ou situação de maneiras muito diferentes em
ocasiões separadas. Em terceiro lugar, algumas evidências sugerem
que a resposta de estresse do corpo é aproximadamente a
mesma, mesmo que a situação seja realmente experimentada ou
apenas imaginada. Isso significa que até avaliações lembradas ou
imaginadas de uma situação podem produzir resposta de estresse
(STRAUB, 2005).
É de extrema importância compreender esse caráter
relacional do estresse. Como profissional de saúde você
encontrará pacientes em situações de enfermidades já
instaladas, em exames diagnósticos, em preparação para
procedimentos invasivos e, muitas vezes, pacientes em estados
terminais. Você logo perceberá que a forma como cada um
reage a essas situações será muito diferente de caso para caso.
Isso ocorre porque os recursos de enfrentamento disponíveis
naquele momento podem ou não ser suficientes para amenizar
o estresse. Cabe à equipe de saúde compreender as diferenças
individuais presentes no processo de enfrentamento e facilitar a
expressão e a comunicação dos sentimentos vivenciados.

Os efeitos do estresse
A reação geral do corpo ao estresse é regulada pelo sistema
nervoso central (MELLO, 1995). São muitos os efeitos do estresse

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 83


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

sobre o nosso organismo, entre eles, os mais comumente


relatados são:
1) Queda na produtividade – o sujeito percebe maior
dificuldade para efetuar tarefas que antes realizava
com facilidade.
2) Confusão mental – o raciocínio pode ficar mais lento e
com maior dificuldade de concentração.
3) Apatia – a pessoa pode ficar indiferente a coisas ou
atividades em que antes sentia prazer, sente-se sem
motivação e desanimado.
4) Sensação de Desgaste – o cansaço é maior do que
normalmente e há a sensação de falta de energia;
5) Prejuízo na memória – há maior dificuldade para se
lembrar de fatos atuais e antigos;
6) Irritabilidade – o sujeito fica nervoso mais facilmente e
perde a paciência com coisas do cotidiano.
As pessoas tendem a desenvolver uma forma de "visão de
túnel", na qual limitam seu foco e se tornam menos conscientes
do ponto de vista social quando estão estressadas – tendência
que pode ser especialmente problemática para o desempenho de
grupos ou equipes, principalmente em equipes de saúde, pois a
"visão de túnel" pode deixar a pessoa indiferente às necessidades
do outro, inclusive do paciente. Por exemplo, um profissional de
saúde que se encontra muito cansado e estressado, pode ficar
indiferente às queixas de dor de um paciente, agindo sem empatia.
À medida que aumentam as demandas (estresse) externo, os
comportamentos de grupo, como ajudar os outros, podem ser
negligenciados, pois a atenção dos membros individuais do
grupo é dirigida para questões envolvidas no cumprimento de
suas próprias tarefas imediatas (STRAUB, 2005).

84 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

No entanto, nem todo o estresse é ruim e causa impacto


negativo sobre o bem-estar. Alguns tipos ou quantidades de
estresse podem, na verdade, melhorar o desempenho em
algumas tarefas. Por exemplo, o estresse de uma avaliação, pode
incentivar o aluno a estudar com mais atenção a matéria da aula.
O aspecto mais importante de um estressor é seu impacto sobre
o corpo. Para cumprir com demandas estressantes, sejam elas
boas ou más, o corpo fica excitado e gasta energia. Essa excitação
e o gasto de energia constituem o estresse (MELLO, 1995).

2.2. modelos de estresse e doença

Como já vimos, o estresse está presente na vida de todas


as pessoas e desempenha um importante papel na preparação
do organismo para reagir a situações de desafio ou ameaça.
No entanto, quando o estresse sobrecarrega os recursos de
enfrentamento, pode prejudicar a saúde. Nenhum outro tema
em Psicologia da Saúde tem gerado tantas pesquisas quanto a
maneira como o estresse pode, às vezes, promover doenças.
Conexões entre o estresse e doenças foram estabelecidas
para muitos transtornos, incluindo câncer, doenças cardíacas
e hipertensão. Será apresentado, agora, alguns modelos que
buscam explicar como o estresse afeta a nossa saúde.

O modelo da diátese ao estresse

Segundo Straub (2005, p. 90):


O modelo da diátese ao estresse propõe que dois fatores que
interagem continuamente determinam a suscetibilidade de
um indivíduo ao estresse e à doença: fatores de predisposição,
que estabelecem a vulnerabilidade à doença, e fatores de
precipitação do ambiente.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 85


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Alguns indivíduos são mais vulneráveis a doença porque


reagem mais a determinados fatores ambientais. Acredita-se que
essa predisposição reativa (diátese) tenha origem genética, mas
alguns teóricos sugeriram que o comportamento adquirido ou
traços de personalidade (como ser agressivo ou propenso a ficar
zangado) também podem tornar as pessoas mais suscetíveis a
doenças relacionadas com o estresse.
Considere um exemplo que talvez seja familiar. Todos
os estudantes experimentam diferentes graus de ansiedade
em testes. A maioria de nós, contudo, aprende a enfrentar o
estresse de fazer exames estudando e mantendo as coisas em
perspectiva. Em alguns exemplos, todavia, a ansiedade do teste
pode sair de controle, fazendo com que um estudante reaja a
exames com grande aumento na frequência cardíaca e na pressão
sanguínea. Após anos de exames estressantes, essa reatividade
cardiovascular anormal e intensa (diátese) pode deixar o
estudante mais vulnerável a transtornos cardiovasculares do que
o estudante com melhores recursos de enfrentamento.

Modelo da Psiconeuroimunologia
Por muito tempo, acreditou-se que a mente e o corpo
eram sistemas independentes, que não tinham influência um
sobre o outro. No entanto, após algumas pesquisas sobre o
condicionamento do sistema imunológico, um novo modelo
de estresse e doença, conhecido como psiconeuroimunologia,
passou a ser estudado. O nome desse campo fala muito sobre
seu foco: psico para processos psicológicos, neuro para o sistema
neuroendócrino (os sistemas nervoso e hormonal) e imunologia
para o sistema imunológico (STRAUB, 2005).
Foram encontradas evidências de interações coordenadas
entre o cérebro, o sistema neuroendócrino e o sistema imunológico,

86 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

e a maior parte dessas pesquisas se concentraram nas relações entre


o estresse, a atividade do sistema imunológico e a doença. Mudanças
adversas no funcionamento imunológico (imunossupressão) foram
demonstradas após um divórcio, a perda de um ente querido, a perda
do emprego e práticas de exercícios estressantes, durante períodos
de exames e em situações de estresse ocupacional (STRAUB, 2005).
Também é destacada a importância dos relacionamentos
sociais para o funcionamento saudável do sistema imunológico.
A solidão, por exemplo, parece afetar de forma adversa o
funcionamento imunológico, assim como o estresse causado
por um relacionamento. A imunossupressão foi relacionada com
conflitos interpessoais entre casais, mulheres recentemente
separadas dos maridos e homens cujas esposas morreram há
pouco. Estudos mais recentes demonstraram que a associação
entre o enfraquecimento da imunidade e a perda de um ente
querido ocorre principalmente entre aquelas pessoas que ficam
deprimidas em resposta a essa perda (STRAUB, 2005).
É importante lembrar que, embora o estresse seja inevitável,
ele também oferece vantagens. Alguns tipos de estresse nos
excitam e motivam e frequentemente expõem nossas melhores
qualidades e estimulam o crescimento pessoal. No entanto,
estresse demais pode sobrecarregar nossa capacidade de
enfrentamento e nos deixar vulneráveis a problemas de saúde
relacionados a ele.

2.3. enfrentamento

De acordo com STRAUB (2005, p. 246):


O enfrentamento refere-se às formas cognitivas,
comportamentais e emocionais como as pessoas administram
situações estressantes. Deste modo, o enfrentamento envolve

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 87


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

qualquer tentativa de preservar a saúde mental e física, mesmo


que tenha valor limitado. O enfrentamento é um processo
dinâmico e não uma reação única, ou seja, é uma série de
respostas que envolvem a interação do indivíduo com seu
ambiente.

Estratégias de enfrentamento
As maneiras como as pessoas lidam com situações
estressantes são chamadas de estratégias de enfrentamento.
Estas visam moderar ou minimizar os efeitos de estressores
sobre o bem-estar físico e emocional. Todavia, nem todas as
estratégias de enfrentamento são igualmente eficazes. Algumas
proporcionam alívio temporário a curto prazo, mas tendem a ser
mal adaptativas a longo prazo. Por exemplo: embora as defesas
psicológicas, como escolher não pensar sobre um problema,
permitam que as pessoas se distanciem da situação estressante
ao negar sua existência, elas não eliminam a fonte de estresse.
De maneira semelhante, o álcool ou outras drogas escondem o
estresse, mas não resolvem o problema que o gerou (STRAUB,
2005).
Em alguns casos, o estressor não pode ser eliminado e
a repetição do fato não pode ser impedida. Nesses casos, as
estratégias podem simplesmente ajudar a pessoa a tolerar ou
a aceitar a situação, como, por exemplo, no caso de doenças
crônicas ou perda de um ente querido.
Para classificar as estratégias de enfrentamento,
apresentamos a abordagem desenvolvida por Richard Lazarus
(1984). As estratégias de enfrentamento são classificadas como
focalizadas na emoção ou no problema.

88 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Enfrentamento focalizado na emoção


No enfrentamento focalizado na emoção, são usadas
estratégias comportamentais e cognitivas para administrar as
reações emocionais ao estresse. As estratégias comportamentais
incluem buscar pessoas que ofereçam apoio social, usar álcool
ou outras drogas psicoativas ou manter-se ocupado para desviar
a atenção do problema. As cognitivas envolvem mudar a maneira
como o estressor é avaliado ou negar informações desagradáveis.
As pessoas tendem a utilizar a forma de enfrentamento
focalizado na emoção quando acreditam que pouco ou nada
possa ser feito para alterar a situação estressante ou quando
acreditam que seus recursos ou capacidades de enfrentamento
são insuficientes para atender às demandas da situação
estressante (STRAUB, 2005).
Existem três tipos de enfrentamento focalizado na emoção:
1) Fuga-evitação, na qual o indivíduo se distância física
ou psicologicamente do estressor.
2) Distanciamento, que envolve afastar-se psicologica-
mente do estressor.
3) Reavaliação positiva, que solicita a reinterpretação da
situação para modificar algo negativo em positivo.

Enfrentamento focalizado no problema


No enfrentamento focalizado no problema,
[...] as pessoas lidam diretamente com a situação estressante,
seja reduzindo as demandas ou aumentando a capacidade de
lidar com o estressor. Elas tendem a contar com estratégias de
enfrentamento focalizado no problema quando acreditam que
seus recursos e situações são inconstantes (STRAUB, 2005, 153).

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 89


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Existem dois tipos de enfrentamento focalizado no


problema: o enfrentamento pró-ativo e o enfrentamento
combativo. São eles:
1) Enfrentamento pró-ativo, também chamado
enfrentamento preventivo, “as pessoas buscam
prever ou detectar estressores potenciais e agir
antecipadamente para preveni-los ou minimizar
seu impacto” (STRAUB, 2005, p. 154). Usando
suas capacidades de resolução de problemas,
desenvolvendo uma rede mais forte de apoio social,
melhorando seus recursos financeiros ou fortalecendo
sua autoestima.
2) Enfrentamento combativo, o indivíduo reage ou tenta
escapar de um estressor que não pode ser evitado.
Como o estressor é inevitável, pode ser necessária
a ajuda externa para enfrentar a situação (STRAUB,
2005).
Uma importante distinção entre o enfrentamento pró-
ativo e o combativo está na quantidade de tempo e esforço
que as duas técnicas exigem. As habilidades de enfrentamento
pró-ativo frequentemente envolvem um esforço a longo prazo,
pois a pessoa pode ter que modificar atitudes, estilos cognitivos
e comportamentos antigos. Contudo, muitas habilidades de
enfrentamento combativo, como as técnicas de relaxamento
e o biofeedback podem ser aprendidas rapidamente (STRAUB,
2005).
Para determinar se o indivíduo utiliza estratégias de
enfrentamento focalizado na emoção ou no problema, é
importante observar a natureza do evento ou a circunstância
estressante. Qualquer situação em que seja possível a ação

90 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

construtiva favorece estratégias de enfrentamento focalizado


no problema. Ao contrário disso, alguns problemas de saúde, a
perda de entes queridos e outras situações que simplesmente
devem ser aceitas têm mais probabilidade de desencadear o
enfrentamento focalizado na emoção (STRAUB, 2005).

Fatores que afetam a capacidade de enfrentar o estresse


Alguns fatores psicossociais podem afetar o quanto as
pessoas conseguem enfrentar estressores potenciais. Entre eles,
destacam-se a resiliência, o controle pessoal e o desamparo
aprendido.

Resiliência
Resiliência é um termo "emprestado" da física, que significa
a capacidade do indivíduo voltar ao seu estado normal, saudável,
mesmo após fortes estressores. É a capacidade de desenvolver
estratégias de enfrentamento apesar de condições adversas, de
se recuperar quando coisas ruins ocorrem e de prosperar frente
ao estresse. Por exemplo, pacientes que enfrentam de forma
positiva uma doença terminal, ou que superam uma perda
importante, podem ser consideradas resilientes.
Controle pessoal: é a crença de que tomamos nossas
próprias decisões e determinamos o que fazemos ou o que os
outros fazem conosco. As pessoas que possuem forte sensação de
controle têm mais probabilidade de utilizar formas adaptativas e
focalizadas nos problemas para lidar com o estresse e de controle
psicológico sobre comportamentos relacionados com a saúde.
Desamparo aprendido: quando se enfrenta estresse
de forma incontrolável e repetidamente, o indivíduo aprende
que, independentemente do que ele faça, não pode controlar

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 91


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

o que lhe causou estresse. As pessoas que não conseguem


repetidamente alcançar um objetivo muitas vezes acabam
desistindo de tentar. É importante notar ainda que elas também
não costumam responder em outros ambientes nos quais o
sucesso seja mais provável. Quando alguém passa a acreditar
que os resultados de seu comportamento não dependem do
comportamento em si, ocorrem significativas consequências
motivacionais, emocionais e comportamentais. As pessoas que
se sentem incapazes não têm comportamentos saudáveis ou
abandonam esses comportamentos antes que eles consigam
exercer um efeito positivo sobre sua saúde (STRAUB, 2005). Um
paciente que tentou diversas vezes perder peso, mas não obteve
suscesso, pode acabar desistindo de tentar emagrecer, pela
crença de que é incapaz.

2.4. estresse relacionado com o trabalho

Nos últimos anos, uma grande quantidade de pesquisas


examinou as causas e as consequências do estresse relacionado
com o trabalho. De fato, todas as pessoas já experimentaram
algum tipo de estresse relacionado ao trabalho em algum
momento de sua vida. No entanto, esse tipo de estresse poderia
ser evitado, e existem inúmeras intervenções para isso.
Para a maioria das pessoas, o estresse no trabalho é breve e
não representa ameaça séria para a saúde. Entretanto, ele pode
se tornar crônico, se as dificuldades enfrentadas persistirem ao
longo dos anos.
Uma fonte de estresse ocupacional é a sobrecarga de
trabalho. As pessoas que trabalham muito e em várias tarefas
ao mesmo tempo sentem-se mais estressadas. Estas também

92 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

apresentam piores hábitos, experimentam mais acidentes


e sofrem de mais problemas de saúde do que os outros
trabalhadores (STRAUB, 2005).
É importante observar, contudo, que o número total de
horas que uma pessoa trabalha não pode ser o único indicador
de estresse. A sobrecarga de trabalho apresenta um componente
subjetivo além do componente objetivo. Uma pessoa pode
sentir-se muito cansada e estressada com seu horário e outra é
capaz de lidar facilmente com isso. Como já dissemos, o estresse
vivenciado depende dos recursos de enfrentamento disponíveis.
O estresse no trabalho às vezes ocorre quando as pessoas
tentam equilibrar vários trabalhos diferentes ao mesmo tempo e
experimentam a sobrecarga de papéis. Os problemas associados
a lidar com múltiplos papéis simultâneos são particularmente
importantes para as mulheres. A sobrecarga de papéis, associada
ao fato de lidar com uma carga pesada de responsabilidades no
trabalho e no lar, reduz o aproveitamento de todas as tarefas e
piora o humor (STRAUB, 2005). Algumas pesquisas demonstraram
que o trabalho pode ser avaliado como desafiador e estimulante
tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, devido a
carga maior de responsabilidade da mulher, com as atividades
relacionadas ao lar e à família, elas experimentam níveis mais
elevados de estresse.
No entanto, as mulheres que mantém um emprego são
geralmente mais saudáveis do que as desempregadas, uma
vez que o trabalho é uma importante fonte de autoestima e de
satisfação com a vida.
O mais importante não é o número de papéis que uma
mulher ocupa, mas a qualidade da sua experiência nesses papéis.
Ter controle sobre o próprio trabalho e receber ajuda dos outros

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 93


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

membros da família ajudam a reduzir a probabilidade de que as


demandas de papéis múltiplos sejam estressantes.
De fato, a diferença de gênero em estresse no trabalho
já tem diminuído consideravelmente, uma vez que os valores
culturais estão se modificando. No entanto, ainda há um longo
caminho a percorrer, pois a mulher, muitas vezes, ainda é vista
como a única responsável pelos cuidados da casa e dos filhos.

Síndrome de burnout
A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento
profissional, foi definida como o estado de exaustão física
e psicológica relacionada com o trabalho. Sua principal
característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos
provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e
psicológicas desgastantes.
O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de
esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes
negativas, como ausências no trabalho, agressividade,
isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade,
dificuldade de concentração, falhas de memória, ansiedade,
depressão, pessimismo, baixa autoestima. Dor de cabeça,
enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores
musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais
são manifestações físicas que podem estar associadas
à síndrome (VARELLA, 2015).

De maneira mais específica, o esgotamento é uma síndrome


multidimensional caracterizada por exaustão emocional,
despersonalização e redução em realizações pessoais. A exaustão
emocional refere-se a sentimentos de ter seus recursos emocionais
esgotados, com a correspondente perda de energia e sentimentos
de fadiga. A despersonalização refere-se à perda de idealismo no
local de trabalho, desencadeando atitudes negativas para com

94 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

aqueles que recebem o serviço ou a atenção do empregado. A


redução em realizações pessoais refere-se à perda de sentimentos
de competência e realização no trabalho (STRAUB, 2005).
Segundo Varella (2015) “a síndrome se manifesta
especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento
interpessoal direto e intenso”. Os empregos que envolvem
responsabilidade com outras pessoas, em vez de responsabilidade
com produtos, parecem causar níveis elevados de esgotamento.
Os trabalhadores da área da saúde parecem ser especialmente
suscetíveis a esse tipo de estresse no trabalho. Pesquisas
mostraram profissionais de saúde que relatam sintomas
relacionados com o estresse suficientemente sérios, a ponto
de serem considerados sinais de maior risco de problemas
psiquiátricos (STRAUB, 2005).
A síndrome de burnout normalmente se desenvolve
durante o período de alguns anos, no entanto, alguns sinais
de aviso podem aparecer mais cedo. Entre eles, inclui-se:
sentimentos de exaustão física e mental; perda de significado no
próprio trabalho e na vida em geral; dificuldade em se concentrar;
aumento de doenças relacionadas com o estresse, como dores
de cabeça, dores nas costas e depressão; e temperamento
explosivo (STRAUB, 2005).
É importante observar que essa síndrome não é a
consequência inevitável de estar empregado em determinadas
áreas profissionais. Como nos lembra o modelo biopsicossocial,
a suscetibilidade à maioria das condições de saúde – favoráveis
ou desfavoráveis – é o produto de fatores sobrepostos em todos
os domínios da saúde. Por exemplo, os profissionais da área de
saúde que se deparam com pacientes crônicos que mantêm
uma visão esperançosa e otimista da vida apresentam menos

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 95


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

probabilidade de experimentar esgotamento profissional do que


os mais pessimistas, ressaltando, assim, a função protetora de
certos padrões de comportamentos.

3. conteúdos digitais integradores


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. estresse e enfrentamento

Como já foi discutido, o estresse tem grande influência na


determinação da saúde e tem sido associado a diversos tipos de
doenças. O efeito do estresse no nosso organismo depende dos
mecanismos de enfrentamento que utilizamos.
O conteúdo complementar apresentado a seguir pretende
ampliar e aprofundar o estudo sobre o estresse e as estratégias
de enfrentamento. É muito importante que você acesse os links
apresentados e consulte os materiais indicados.

• ALMEIDA-FILHO, N. Modelos de determinação social


das doenças crônicas não-transmissíveis. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a09v9n4.
pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.
• CHAVES, E. C. et al. Coping: significados, interferência
no processo saúde-doença e relevância para a
enfermagem. Disponível em: <http://www.ee.usp.
br/REEUSP/upload/html/546/body/v34n4a08.htm>.
Acesso em: 4 ago. 2015.

96 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

• YOUTUBE. Jornal Hoje. Muito estresse deixa organismo


vulnerável a doenças graves. Disponível em: <http://
www.youtube.com/watch?v=Mzrakeau0M>. Acesso
em: 4 ago. 2015.

3.2. estresse no profissional de saúde

A síndrome de burnout é característica do estresse


relacionado ao trabalho. Algumas profissões se destacam pela
alta incidência de estresse, entre estes, os profissionais de
saúde. O material a seguir foi selecionado para que você conheça
mais sobre burnout e pesquise sobre os efeitos do estresse em
enfermeiros.
• ARAÚJO, T. M.; et al. Aspectos psicossociais do
trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de
enfermagem. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/rsp/v37n4/16776.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.
• SANTOS, A. F. O.; CARDOSO, C. L. Profissionais de Saúde
Mental: Estresse, Enfrentamento e Qualidade de Vida.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n3/
a17v26n3.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.
• TVUFPR. Olho clínico: síndrome de burnout. Disponível
em: <http://www.youtube.com/watch ?v=lRlvT3eGpjQ>.
Acesso em: 4 ago. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 97


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

1) Em relação às Estratégias de Enfrentamento, assinale a alternativa


INCORRETA:
a) Conjunto de estratégias, cognitivas e comportamentais, utilizadas pe-
los indivíduos para lidar com uma ameaça iminente.
b) Faz parte das características da personalidade de cada indivíduo, e,
portanto, não podem ser aprendidas.
c) Processa-se mediante a mobilização de recursos naturais, com fins de
administração de situações estressoras, consistindo de interação entre
o organismo e o ambiente.
d) A resolução de problemas pode ser considerada uma estratégia ade-
quada de enfrentamento.

2) Segundo diversos estudos sobre a relação do estresse e o processo saúde-


-doença, constata-se que o estresse pode ser sadio ou nocivo. Ele se torna
nocivo à saúde quando:
a) surge a necessidade de uma adaptação a um evento ou situação.
b) alguém percebe e responde a eventos que são julgados como
desafiadores.
c) os estressores excedem os recursos pessoais e sociais que o indivíduo
é capaz de mobilizar para enfrentar o estresse.
d) os recursos de enfrentamento são suficientemente fortes.

3) Descreva os principais efeitos do estresse no nosso organismo.

4) Sobre a síndrome de Burnout, assinale a alternativa INCORRETA.


a) É definida como o estado de exaustão física e psicológica relacionada
com o trabalho.
b) O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento
físico e emocional que se reflete em atitudes negativas.
c) A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exi-
ge envolvimento interpessoal direto e intenso.
d) A síndrome é uma consequência inevitável de estar empregado em
determinadas áreas profissionais, como na área de Saúde.

5) Explique a relação entre estresse e estratégias de enfretamento.

98 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) b

2) c

3) Queda de produtividade, confusão mental, apatia, sensação de desgaste,


prejuízo na memória e irritabilidade, entre outro.

4) d

5) As estratégias de enfrentamento são os recursos utilizados pela pessoa


para lidar com o estresse. Quanto mais recursos de enfrentamento estive-
rem presentes, menos efeitos do estresse sobre o organismo.

5. considerações
O estudo dos efeitos do estresse sobre a saúde mostra,
de forma clara, a relação entre os aspectos psicológicos e
biológicos na determinação dos processos de saúde e doença.
O esgotamento emocional que ocorre pelo estresse prejudica
o funcionamento do organismo e diminui as defesas naturais
do sistema imunológico. Entretanto, as estratégias
de enfrentamento podem atuar como fatores de proteção
ao estresse, mas apenas quando são utilizadas estratégias
adaptativas. Trata-se de um bom exemplo sobre a concepção
biopsicossocial de saúde.
Vamos agora nos preparar para iniciar o estudo da
última unidade, que apresentará a temática da relação entre o
profissional de saúde e o paciente. Antes disso, não se esqueça
de explorar os Conteúdos Digitais Integradores desta unidade.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 99


UNIDADE 3 – Estresse e Doença

6. e-REFERÊNCIA
FAMILIA.COM.BR. Estresse: O que é, o que causa e como controlar. Disponível em:
<http://familia.com.br/estresse-o-que-e-o-que-causa-e-como-controlar>. Acesso em:
31 jul. 2015.
IPCS. Instituto de psicologia e controle do stress. Disponível em: <http://www.estresse.
com.br/profissionais/dra-marilda-emmanuel-novaes-lipp/>. Acesso em: 4 ago. 2015.
VARELLA, D. Síndrome de burnout. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/
letras/b/sindrome-de-burnout/>. Acesso em: 3 ago. 2015

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MELLO FILHO, J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. et al. Psicologia da Saúde.
Intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias
cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

100 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4
Relação Equipe Interdisciplinar-
Paciente

Objetivos
• Interpretar o conceito de equipe interdisciplinar no
contexto da saúde.
• Analisar a importância da relação entre o profissional
de saúde e o paciente.
• Compreender variáveis da relação com o paciente para
promover saúde.

Conteúdos
• Relação equipe interdisciplinar-paciente.
• Variáveis psicossociais do tratamento.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações
a seguir:
1) Esta será a última unidade. No entanto, o tema abordado
talvez seja um dos mais importantes para sua atuação
profissional. De todos os aspectos psicológicos que
foram discutidos até aqui, a relação entre você e seu

101
UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

paciente pode ser, muitas vezes, o único instrumento


disponível para modificar comportamento e promover
saúde.
2) Os Conteúdos Digitais Integradores são fundamentais
para a compreensão integral dos assuntos abordados.
Não deixe de acessá-los.
3) Entre os Conteúdos Digitais Integradores há um
pequeno vídeo sobre empatia. Assista-o pensando no
ambiente em que você futuramente trabalhará.

102 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

1. INTRODUÇÃO
Conforme foi visto na Unidade 1, o modo com entendemos
saúde passou por importantes mudanças ao longo do tempo.
Essas transformações influenciaram, também, o modo como
entendemos o cuidado e como compreendemos a formação dos
profissionais que cuidam da saúde.
Segundo Corradi-Webster e Carvalho (2015):
Pensar em saúde de modo positivo representa uma mudança
grande de paradigma, já que o foco não é mais o déficit, a
ausência da saúde ou ausência de enfermidade, e sim o bem
estar biopsicossocial. Com base nesta visão, serviços de saúde
vêm sendo criados e reestruturados, aproximando-se das
comunidades, oferecendo cuidados que vão além da cura,
incluindo a promoção, a prevenção e a reabilitação. Vem sendo
ampliada a participação de profissionais não-médicos no
cuidado, já que o médico deixou de ser a única figura central
da assistência.
O cuidado também começa a ser compreendido como integral,
ou seja, considera-se que as pessoas devam ter acesso a todos
os serviços de saúde necessários e que sejam considerados
os aspectos emocionais, físicos e sociais dos usuários. Nesta
perspectiva, o usuário passa a ser considerado não como uma
unidade individual, mas como alguém que está inserido em
uma família, em uma comunidade, em um contexto histórico
e social definido.

A fim de garantir a plenitude da assistência, os profissionais


da área da Saúde não podem trabalhar sozinhos. O trabalho em
equipe se faz fundamental, no qual profissionais com formações
e experiências diversas discutem situações, ampliam o olhar e as
possibilidades de intervenção (CORRADI-WEBSTER; CARVALHO,
2011).

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 103


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

2. Conteúdo Básico de Referência


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma
sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos
Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. O trabalho em equipes de saúde

O trabalho em equipe surgiu como uma estratégia para


redesenhar o trabalho e promover a qualidade dos serviços.
Entre esses processos, pode ser citado o planejamento de
serviços, a formação de prioridades, a redução da duplicação
dos serviços, a geração de intervenções mais criativas, a redução
de intervenções desnecessárias pela falta de diálogo entre os
profissionais, a redução da rotatividade, resultando na redução
de custos, com a oportunidade de aplicação e investimentos em
outros processos (STAUDT, 2008).
A forma como os profissionais se agrupam e trabalham
pode variar consideravelmente. O trabalho em equipes pode
ocorrer dentro de um contínuo, que vai da atuação paralela
à interdisciplinar. Na medida em que avança em direção à
interdisciplinaridade, várias mudanças vão ocorrendo:
• a comunicação entre os profissionais e entre estes e os
pacientes aumenta e há uma tendência cada vez maior
para que as decisões sejam tomadas por meio de um
consenso;
• a equipe torna-se mais complexa e há redução na
hierarquia;

104 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

• existe uma preocupação crescente com a compreensão


e os manejos dos problemas de saúde dentro de uma
perspectiva biopsicossocial;
• os resultados são cada vez mais complexos e incluem
extensão de serviços, ensino, pesquisa e gestão
(MIYAZAKI et al., 2011).
Nem todas as equipes de saúde são interdisciplinares,
mas isso não significa que as demais formas de trabalho não
sejam eficientes. As equipes são dinâmicas e diversos aspectos
podem afetar o seu funcionamento, como fatores pessoais e
profissionais, intragrupo e organizacionais (MIYAZAKI et al, 2011).
O conceito de interdisciplinaridade relaciona-se com outros
termos, tais como multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Em um serviço de saúde, o trabalho em equipe pode estar
organizado segundo uma dessas formas, que vamos detalhar a
seguir.

Equipes multidisciplinares
A multidisciplinaridade é a forma de organização de
equipe tradicional. Equipes multidisciplinares são formadas por
vários profissionais de diferentes áreas, que buscam abranger
os diferentes aspectos de uma mesma situação, sem haver
uma relação entre si, cada um dentro do seu saber. Neste tipo
de organização de trabalho, cada profissional atua de maneira
isolada em sua área específica, solicitando a intervenção de
outro profissional quando julga necessário, mas sem que haja
discussão ou cooperação nas decisões tomadas.
Por exemplo, em uma unidade de saúde na qual a equipe
médica tem a possibilidade de encaminhar o paciente para o

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 105


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

atendimento de outro profissional, tal como o enfermeiro, o


psicólogo ou fisioterapeuta. Esse outro profissional atua como
um consultor – cada especialidade atua de forma separada. Logo,
não há um trabalho coordenado por parte dessa equipe e uma
identidade grupal, ou seja, o médico, em geral, é o responsável
pela decisão do tratamento, e os outros profissionais vão se
adequar à demanda do paciente e às decisões do médico.
A equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre
profissionais, considerando um atendimento humanizado. Dessa
forma, foca-se nas demandas do paciente, e a equipe tem como
finalidade atender a essas necessidades visando seu bem-estar;
no entanto, de forma desmembrada, cada profissional em sua
área de atuação (STAUDT, 2008).

Equipes interdisciplinares
A interdisciplinaridade consiste no estabelecimento de
associação intencional de duas ou mais áreas do saber, para
alcançar um conhecimento mais amplo e diversificado. Nesta
forma de organização, profissionais de diversas especialidades
se reúnem para a resolução de um objetivo em comum.
Pensando em equipe de saúde, profissionais de diferentes
áreas discutem e tomam decisões em conjunto sobre os
procedimentos e tratamentos indicados para cada paciente. Este
tipo de organização, facilita a visão mais ampla do sujeito, de
forma a integrar em cada decisão seu componente biológico,
psicológico e social.
Podemos pensar no exemplo de uma unidade de saúde
na qual todos os profissionais envolvidos com o paciente se
reúnem sistematicamente para a tomada de decisão sobre
seu tratamento. Nesse caso, o médico informaria aos outros

106 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

profissionais sobre as questões clínicas do caso, enquanto o


enfermeiro poderia esclarecer sobre a adesão ao tratamento, e a
assistente social, acerca das condições familiares de dar suporte
àquele paciente.
Em equipe interdisciplinar, há um nível maior de relação
entre as disciplinas. As decisões são normalmente tomadas
por meio de trocas de informações de cada especialidade em
reuniões de equipe que ocorrem sistematicamente.
A perspectiva interdisciplinar pode possibilitar o exercício de
um trabalho mais integrador e articulado, tanto no que diz
respeito à compreensão dos trabalhadores sobre o seu próprio
trabalho, como no que diz respeito à qualidade do resultado
do trabalho. Na análise das relações de trabalho nas equipes
interdisciplinares, considera-se o modo como se desenvolve
o processo de trabalho e a compreensão acerca dos seus
componentes (objetivo e métodos) com vistas à obtenção de
um resultado, e a finalidade do processo de trabalho em saúde
é, por meio de alguma ação terapêutica, promover saúde
(STAUDT, 2008, n.p.).

No entanto, embora a interdisciplinaridade seja a forma de


organização de trabalho mais produtiva em saúde, sua aplicação
ainda encontra desafios. A prática dos serviços de saúde ainda é
extremamente hierarquizada e fragmentada. Além disso, a visão
quantitativa ainda supera a qualitativa nas gestões em saúde.

Transdisciplinaridade
A transdisciplinaridade implica uma aplicação em várias
disciplinas. Não pressupõe, necessariamente, trabalho em
equipe ou coordenação, mas vai mais além: não se resume às
interações e às reciprocidades entre as disciplinas, uma vez que
propõe a ausência de fronteiras entre elas.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 107


unidadE 4 – RElação EquipE intERdisCiplinaR-paCiEntE

Não se trata de especialidade diferentes atuando de


forma compartilhada, mas sim descrevendo uma nova forma de
compreender os fenômenos.
Assim, de acordo com Staudt (2008, n.p.):
A necessidade da transdisciplinaridade decorre do
desenvolvimento dos conhecimentos, da cultura e da
complexidade humana. Ela se preocupa com uma interação
entre as disciplinas, promove um diálogo entre diferentes áreas
do conhecimento e seus dispositivos, visa cooperação entre as
diferentes áreas e contato entre essas disciplinas.

Podemos considerar que a saúde, pela complexidade de


seu objeto, se enquadra neste campo. A definição de saúde,
que passou por transformações importantes, é um exemplo de
transdisciplinaridade. Ela partiu de uma concepção biomédica,
baseada exclusivamente no aspecto físico, e avançou para uma
definição que engloba as disciplinas biológicas, psicológicas e
sociais, de modo a descrever uma nova forma de observar o
fenômeno saúde. Observe a Figura 1:

Figura 1 Diferença entre equipes multi, inter e transdisciplinares.

108 © PSICOLOGIA APLICADA À SAúDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

2.2. relação profissional de saúde e paciente

O nosso próximo assunto é de extrema importância para


a formação na área de Saúde. Enquanto profissional, uma parte
importante de suas atribuições será gerenciar e efetuar o cuidado
com os pacientes. Esse cuidado por ser realizado de diversas
formas, que vão desde um cuidado automático e impessoal até
o estabelecimento de uma relação de ajuda. Existem diversas
evidências científicas que mostram que a relação estabelecida
entre o paciente e o profissional de saúde pode se tornar um
adjuvante no processo de cura desse enfermo.

Paciente
Imagine uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico
de uma doença grave. Apesar de ainda estar chocada com a
notícia, ela tem que tomar decisões rapidamente, pois como
precisa ser operada com urgência, terá que ficar internada no
hospital, e não terá tempo nem de voltar para casa para avisar
sua família. Você consegue imaginar como ela se sente? Será
que, se ela puder contar com algum profissional de saúde para
ajudá-la a se organizar, faria diferença neste momento?
Para o ser humano, a doença é a quebra da harmonia orgânica,
interferindo, com todos os setores da sua vida, especialmente,
na convivência com os familiares mais próximos. Quando a
hospitalização se faz necessária, o indivíduo é retirado de
seu ambiente familiar e no hospital encontra um mundo
completamente estranho, onde rotinas e normas rígidas
controlam e determinam suas ações. Ao ser hospitalizado, o
paciente deixa sua família e seu ambiente para ser inserido
em um mundo diferente, sendo obrigado, inclusive, a ter seus
hábitos modificados para se ajustar às rotinas do hospital
(PAULA; FUREGATO, SCATENA, 2000, p. 45).

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 109


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

Quando uma pessoa precisa de um serviço de saúde, ela se


vê num ambiente totalmente diferente do que está acostumada,
onde tem que seguir regras e consequentemente adotar novas
atitudes. Nessas situações, a comunicação entre o profissional
de saúde e o paciente pode favorecer a adaptação e promover
mais bem-estar a este, principalmente se o contato estabelecido
favorecer a criação de uma relação de ajuda.

Relação de ajuda e o papel da comunicação


Numa abordagem compreensiva sobre a questão de ajuda,
Rogers (2015) afirma:
A relação de ajuda é uma relação na qual pelo menos uma
das partes procura promover na outra o crescimento, o
desenvolvimento, a maturidade, o melhor funcionamento e
maior capacidade de enfrentar a vida.

Desse modo, quando alguém necessita de amparo e outra


pessoa é capaz de prestar auxílio, temos uma relação de ajuda.
Nesse tipo de relação, o próprio indivíduo é o instrumento
terapêutico, por meio da relação interpessoal.
Em contextos de saúde, profissionais podem estabelecer
relações de ajuda pelo uso de seus conhecimentos técnicos,
de forma a oferecer alívio físico, mas também pelo uso de
suas habilidades interpessoais, para oferecer apoio afetivo e
informações. Para que o relacionamento estabelecido seja de
ajuda, é necessário que o profissional de saúde se coloque em
uma posição de igualdade em relação ao paciente, abandonando
a postura de especialista, e divida seu conhecimento com o
paciente. A compreensão das estratégias de enfrentamento
que o paciente utiliza e o não julgamento moral também são
fundamentais para facilitar a aproximação com o paciente. Além

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UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

disso, é necessário cooperação, confiança, participação mútua e


uma comunicação eficaz.
A comunicação tem sido um dos pontos mais destacados
quando falamos de relação profissional de saúde e paciente. Ela
pode ter diversos efeitos sobre o seu bem-estar, entre outros,
dos quais destacamos:
• Uma comunicação eficiente pode facilitar que
o paciente compreenda seu quadro clínico e as
alternativas de tratamento. Muitas vezes, no momento
em que o diagnóstico é dado, o paciente está absorto
de grande emoção, pelo choque da notícia. Neste
momento, dificilmente ele conseguirá compreender
todos os detalhes dos procedimentos propostos.
Cabe ao profissional de saúde ter a percepção sobre
a compreensão do paciente e reorientá-lo em um
momento mais oportuno. Além disso, muitos pacientes
não conseguem compreender informações transmitidas
em termos técnicos da medicina, principalmente
quando estamos em um serviço de saúde pública. É
necessário adequar as informações em uma linguagem
acessível ao paciente e sempre verificar se ele de fato
compreendeu as orientações.
• O estabelecimento de uma comunicação eficaz, inserida
em uma relação de ajuda, pode facilitar a expressão
de sentimentos, desejos e dúvidas do paciente.
Consequentemente, isso pode facilitar a escolha de
estratégias de enfrentamento mais adaptativas. Além
disso, pode aumentar a autonomia do paciente, dando-
lhe mais controle sobre o cuidado de sua saúde, e gerar
a sensação de ser compreendido e respeitado.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 111


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

A comunicação é definida como sendo a principal


característica para o relacionamento humano. E para que traga
benefícios, o profissional de saúde deve estar consciente do
seu papel nesse processo que exige, além de procedimentos
técnicos, escuta e atenção adequada (TIGULINI; MELO, 2002).
A comunicação na área da Saúde é uma estratégia de uso
constante no cotidiano do profissional. Quando a comunicação
faz parte do trabalho, o paciente passa a vê-lo como uma
pessoa capaz de ajudá-lo e passa a estabelecer vínculo com
esse profissional. Por exemplo, informar ao paciente que
procedimentos estão sendo realizados, de forma empática e com
uma linguagem acessível a ele, facilita a confiança e o vínculo
com a equipe de saúde.
No entanto, devido à sobrecarga e ao estresse que os
profissionais de saúde enfrentam no trabalho, muitas vezes, não
apresentam uma comunicação satisfatória com os pacientes
submetidos aos seus cuidados. O profissional deve tomar
cuidado para que o estresse ocupacional não prejudique seu
relacionamento com os pacientes. Desse modo, ele deve buscar
conhecê-los, de forma que ocorra o diálogo entre ambos. Deve
cultivar a confiança do paciente por meio do respeito e da
empatia empreendidos na assistência. Deve proporcionar um
relacionamento que favoreça a diminuição da ansiedade da
pessoa enferma, fazendo-a perceber que a comunicação pode
contribuir no seu processo de restabelecimento.
De acordo com Martins (2015), “a qualidade de um serviço
assistencial está diretamente associada à qualidade da relação
interpessoal que ocorre entre os pacientes e os profissionais
encarregados da assistência”. Por meio de uma comunicação
terapêutica e da formação de vínculo entre profissional de saúde

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e paciente, é possível estimular sua autonomia e a autoestima,


promovendo sua participação no cuidado e na proteção de sua
saúde.

2.3. variáveis que atuam na promoção de saúde

Tudo o que apresentamos até agora pode ser considerado


como variáveis que qualificam o cuidado ao paciente e
promovem saúde. Não há dúvidas que o atendimento em equipe
interdisciplinar é capaz de oferecer ao paciente um cuidado mais
integral e humanizado. Além disso, a relação entre o profissional
de saúde e seu paciente interfere de forma significativa na
recuperação deste. Descreveremos agora outras variáveis
que têm sido sistematicamente relacionadas com a promoção
da melhor saúde. Entre elas estão a empatia, a informação, a
autonomia, o suporte social e a espiritualidade.

Empatia
Segundo Hoffman (1981, n.p.) a empatia
[...] é a resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa. 
Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia
seria uma espécie de “inteligência emocional” e pode ser
dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade
de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas;
e a afetiva - relacionada à habilidade de experimentar reações
emocionais por meio da observação da experiência alheia.

Assim, a empatia pode ser definida como a habilidade de se


colocar no lugar da outra pessoa, de sentir como se estivesse na
mesma situação que ela. Podemos dizer que é olhar o momento
com "o olhar do outro".

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 113


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

Por exemplo, diante de um paciente acamado, que se


queixa de dor e que não responde aos questionamentos do
enfermeiro que precisa orientá-lo, o profissional de saúde deve
compreender que, diante daquela situação, talvez o paciente
não tenha de fato condições físicas e psicológicas de responder
e compreender naquele momento, e tentar outras estratégias,
como voltar em outro horário ou orientar um familiar.
A empatia é uma habilidade social de extrema importância,
capaz de desenvolver a autoconsciência emocional. As pessoas
empáticas estão mais sintonizadas com os sutis sinais sociais que
indicam que o outro precisa de algo. Por meio da empatia, somos
capazes não apenas de manter relações interpessoais mais
próximas e equilibradas, como também temos a oportunidade
de nos sensibilizarmos para além da nossa própria perspectiva.
A empatia envolve, primeiramente, a percepção da
condição de sofrimento do outro e, posteriormente, a expressão
de apoio e tentativa de conforto.
Estudos da Psicologia da Saúde apontam que se sentir
compreendido e apoiado em situações de crise, como no
tratamento de uma doença grave, facilita o processo de aceitação
e enfrentamento do paciente, contribuindo, assim, para a
melhora da saúde emocional. Além disso, pode aumentar a
confiança na equipe e promover adesão ao tratamento (TAKAKI;
SANTANA, 2004).
Embora pareça um conceito simples, a empatia não é uma
habilidade fácil de se colocar em prática. Se, neste momento,
fosse descrito em detalhes o caso de um paciente com doença
crônica e suas dificuldades para lidar com o tratamento, talvez
você se sentisse sensibilizado e apresentaria empatia apenas ao
ler uma descrição. No entanto, no ambiente hospitalar, o volume

114 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


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de pacientes que necessitam de cuidado é grande, e, na maioria


das vezes, apenas descobrimos as dificuldades enfrentadas pelos
pacientes se lhes perguntamos diretamente.
Na rotina corrida do cuidado em saúde, há pouco
espaço para a percepção do outro. Ocorre que acabamos
nos acostumando com esse cenário e perdemos um pouco
nossa sensibilidade. É preciso tomar muito cuidado com essa
habituação. Embora possa haver centenas de pacientes presentes
na unidade de saúde na qual você se encontra, cada um é único e
vivencia seu problema de saúde de forma intensa. O profissional
de saúde que consegue manter o foco na relação interpessoal
e estabelece vínculo empático com seu paciente, destaca-se e
promove a saúde de forma humanizada.

Informação
O oferecimento de informações metodológicas a respeito
do quadro clínico do paciente e das possibilidades de tratamento
produz benefícios amplos (STRAUB, 2005). Entre estes, observa-
se menos emoção negativa e diminuição do risco de não adesão
ao tratamento.
O paciente deve ser orientado, com riqueza de informações,
sobre para que serve cada exame e procedimento médico, quais
são as alternativas de tratamento e as possibilidades terapêuticas.
Ao mesmo tempo, é necessário que as informações sejam
transmitidas em linguagem clara e acessível ao paciente. Devem-
se levar em conta as condições sociais e o nível de instrução
do paciente para que as informações sejam compreendidas
na totalidade. O uso de termos extremamente técnicos e
complicados apenas dificultam o seu entendimento e atrapalha
sua adesão ao tratamento.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 115


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

Além de informá-lo sobre sua condição de saúde, é


necessário incluí-lo no processo de tomada de decisão dos
procedimentos que serão realizados.

Autonomia
Outro aspecto importante quando falamos em saúde é
a manutenção da autonomia do paciente. Algumas vezes, por
conta de uma condição clínica delicada, os familiares e a equipe
de saúde, na tentativa de poupar o paciente, acabam tomando
decisões sem consultá-lo, ou mesmo tentam esconder deste a
notícia de uma piora no quadro. Essas atitudes, na maior parte
das vezes, acabam gerando sentimentos de desconfiança e
incapacidade.
O paciente tem direito à informação e deve participar das
decisões que envolvem sua saúde e sua vida. Esse maior controle
permite o fortalecimento das relações entre o paciente e os
profissionais que cuidam de sua saúde, a criação de sentimento
de responsabilidade no processo de recuperação, além de
aumentar a confiança do paciente na equipe e em seus familiares.

Suporte social
O estudo do suporte social também tem recebido bastante
destaque na área de Psicologia da Saúde e tem demonstrado
atuar como fator de proteção ao estresse psicológico causado
pelo diagnóstico de doenças graves.
Suporte social pode ser definido como o grau com que
relações interpessoais atendem a determinadas necessidades.
Refere-se aos recursos postos à disposição por outras pessoas
em situações de necessidade e pode ser medido pela percepção

116 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

individual do grau com que relações interpessoais correspondem


a determinadas funções (por exemplo, apoio emocional, material
e afetivo) (GRIEP et al., 2005).
O suporte social tem sido relatado como fator que exerce
papel na prevenção contra doenças e na manutenção da saúde,
e algumas pesquisas mostram que a forma como o grupo social
percebe o surgimento de uma doença e a evolução de seu
tratamento influencia a escolha dos recursos de enfrentamento
que o paciente utilizará. Tem sido associado também ao bem-
estar psicológico, ao maior grau de satisfação com a vida e à
melhora na autoestima, bem como à menor ocorrência de
ansiedade (GRIEP et al., 2005).

Espiritualidade
Nos últimos anos, a religiosidade e a espiritualidade têm
sido relacionadas a diversos efeitos benéficos à saúde e ao
bem-estar. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS)
iniciou um aprofundamento das investigações sobre este
aspecto, e, atualmente, o bem-estar espiritual vem sendo
considerado como mais uma dimensão do estado de saúde,
juntamente com as dimensões física, psicológica e social.
Desde modo, a espiritualidade tem sido relatada com um
importante fator no enfrentamento de enfermidades físicas e
psicológicas.
Lazarus e Folkman (1986) destacam que a fé parece ser
uma importante aliada no processo de adaptação a situações
de ameaça à existência, podendo auxiliar o indivíduo a obter ou
conservar a esperança, além de ajudá-lo a encontrar um sentido
para a vida e facilitar a emergência de recursos psicológicos
importantes para combater a doença.

© PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE 117


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

A prática religiosa está relacionada a um maior nível de


satisfação com a vida e relatos de felicidade e a menores níveis
de queixas psicológicas. Em uma revisão de literatura realizada
por Panzini e Bandeira (2007), as autoras concluem que a maioria
das pesquisas sobre o assunto indica que crenças e práticas
religiosas estão associadas à melhor saúde física e mental,
incluindo efeitos benéficos em relação à dor, debilidade física,
doenças do coração, pressão sanguínea, funções imunológicas,
doenças infecciosas, câncer e mortalidade, além de maiores
níveis de satisfação com a vida, bem-estar, senso de propósito
e significado de vida, esperança, otimismo, estabilidade nos
casamentos e menores índices de ansiedade, depressão e abuso
de substâncias.

3. conteúdos digitais integradores


Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. relação equipe de saúde e paciente

Nesta unidade, estudamos a importância do estabeleci-


mento de uma relação de ajuda com o paciente e algumas variá-
veis que promovem saúde, como empatia e informação.
O estudo dos materiais complementares é fundamental
para aprofundar os conhecimentos e descobrir novos tópicos
neste tema. Assim, acesse os Conteúdos Digitais Integradores
indicados e complemente seus estudos.

118 © PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE


UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

• AME EDITORINHA. Empatia. Disponível em: <http://


www.youtube.com/watch?v=gPASDkS3F98>. Acesso
em: 17 ago. 2015.
• HOGA, L. A. K. A dimensão subjetiva do profissional
na humanização da assistência à saúde: uma reflexão.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/
v38n1/02.pdf> . Acesso em: 17 ago. 2015.
• MACIEL-LIMA, S. M. Acolhimento solidário ou
atropelamento? A qualidade na relação pro-
fissional de saúde e paciente face à tecnolo-
gia informacional. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
-311X2004000200018>. Acesso em: 17 ago. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Diante de um paciente que apresenta resistência ao tratamento, qual a
forma mais adequada de um profissional da saúde atuar?
a) Respeitar a vontade do paciente e não insistir no atendimento; somen-
te prescrever o tratamento se o paciente demonstrar maior aceitação.
b) Insistir no atendimento e na prescrição do tratamento, já que o mais
importante é recuperar a saúde do paciente.
c) Desenvolver uma boa relação profissional-paciente para conseguir
identificar quais aspectos, internos e externos ao paciente, podem es-
tar gerando esta resistência e intervir para modificar estes fatores.
d) Solicitar a intervenção de um psiquiatra, tendo em vista que este é o
único profissional responsável pela atenção aos aspectos emocionais
dos pacientes.

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UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

2) Qual a importância do trabalho interdisciplinar?


a) A possibilidade de dividir tarefas, o que alivia a sobrecarga de alguns
profissionais e aumenta a qualidade do serviço prestado.
b) A chance de discutir os casos com profissionais de outras áreas e saber
suas opiniões a respeito dos pacientes.
c) A garantia de ter a quem fazer o encaminhamento quando o paciente
apresentar alguma demanda que extrapole as atribuições do médico.
d) A união de saberes de diferentes áreas, pois isto possibilita a atenção
integral à saúde do sujeito, um ser biopsicossocial.

3) A falta de compreensão adequada sobre o quadro clínico e seu tratamen-


to, pode ser aspecto determinante para a não adesão de pacientes com
doenças crônicas. Desde modo, de que forma devem ser transmitidas as
informações aos pacientes?

4) Que características são importantes para se estabelecer um bom relacio-


namento com seu paciente?

5) Sobre equipe interdisciplinar, assinale a alternativa INCORRETA:


a) Neste tipo de organização de trabalho, cada profissional atua de ma-
neira isolada em sua área específica, solicitando a intervenção de ou-
tro profissional quando julga necessário, mas sem que haja discussão
ou cooperação nas decisões tomadas.
b) Em equipes interdisciplinares há um nível maior de relação entre as
disciplinas. As decisões são normalmente tomadas por meio de tro-
cas de informações de cada especialidade em reuniões de equipe que
ocorrem sistematicamente.
c) Embora a interdisciplinaridade seja a forma de organização de traba-
lho mais produtiva em saúde, sua aplicação ainda encontra desafios
d) A interdisciplinaridade consiste no estabelecimento de associação in-
tencional de duas ou mais áreas do saber, para alcançar um conheci-
mento mais amplo e diversificado.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:

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UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

1) c.

2) d.

3) Fornecer de informações detalhadas ao paciente sobre seu diagnóstico e


seu tratamento; usar linguagem apropriada, compreensível ao paciente.

4) Uso de linguagem apropriada, estabelecimento de relacionamento cola-


borativo, empatia, fornecimento de informações e disponibilidade para
ouvir o paciente.

5) a.

5. considerações finais
“O importante e bonito do mundo é isso: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas vão sempre mudando.
Afinam e desafinam” (Guimarães Rosa).

Chegamos ao final da nossa obra. Esperamos que as


discussões e temas aqui levantados tenham servido de ocasião
para a reflexão sobre a complexidade da figura central de toda a
ciência sobre saúde: o paciente.
Com esta proposta, a Área de Saúde trabalha com o
objetivo de promover a saúde, prevenir a doença, restaurar a
saúde e facilitar o enfrentamento da incapacitação e da doença.
Enquanto profissional, você não deve se esquecer que todo
paciente tem dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais.
E, portanto, para se conseguir uma atenção integral em saúde,
todos esses aspectos devem ser considerados.

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UNIDADE 4 – Relação Equipe Interdisciplinar-Paciente

6.  e-REFERÊNCIAS
CARL, R. R. As características de uma relação de ajuda. Disponível em: <https://
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Acesso em: 10 ago. 2015
CORRADI-WEBSTER, C. M. ; CARVALHO, A. M. P. Diálogos da psicologia com a enfermagem
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MARTINS, M. C. F. N. Relação profissional-paciente: subsídios para profissionais de
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SciELO. Scientific Electronic Library Online. Disponível em: <http://www.scielo.org/php/
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Systems Change. New York: Basic Book, 1981.
LAZARUS, R. S.; FOLKMAN, S. Estres y processos cognitivos. Barcelona:
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Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre:
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STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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