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DENISE

Entrada de ano difícil


e eu aqui lembrando do primeiro amor.
Denise:
As longuíssimas conversas culturais
Poemas brotando como manhãs
Um por dia ou mais
O quarto a ninguém permitido
mas a mim, privilégio
O beijo único
Num ato de remorso
“Ninguém pode saber”
No som tocando o disco “Muito”
Justo muito…
A troca, enfim, pelo rival menos poeta
Mas capaz de eventualmente prover
(Marx tinha razão: a economia move tudo)
Inclusive as mulheres da época
Aderiam sem receios à submissão da dependência, eram mesmo ciosas disso
Tristezas do primeiro amor, difícil
desilusão…
A crônica desesperança pela parceira que unisse sexo e conversas em ciclos infinitos...
Toda descrença na poesia que se seguiu...
A culpa até, que recaiu sobre as costas de tanta poesia inútil
(soube depois, todas rasgadas pela censura reacionária do provedor ridículo)
A mesma poesia, porém, que resiliente persistiu
E me contou,
Quando ainda teias de aranha me agarravam a um amor morto
“Denise, ora, o que é Denise?
Senão um nome sonoro e cheio de cores que flutuam voando,
tantas esperanças possíveis que não se realizam nunca?”
Lógico que era mentira,
Mas fortificou um não definitivo quando já desesperançada no provedor ridículo
Denise me procurou novamente com jogos sepultados pela adolescência ida

Lógico que Denise era bem mais que um nome colorido, que flutuava enquanto bem voava,
Mas foi assim que ela ficou no passado.
Pela força das palavras que já existiam bem antes de mim
E que a mim – e a todos nós – sobreviverão
Que nos permitem o pensamento
E assim, espertas, reproduzem-se e eternalizam-se através do efêmero sopro das nossas vidas

Nós somos as nuvens


Elas as montanhas

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