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O Rei Demônio Foca Em Sua Carreira Por Questões

Monetárias Parte 3
O Rei Demônio Satan, incorporando o papel de um preguiçoso
japonês chamado Sadao Maou, dava tudo de si em seus trabalhos.
Ele passou por vários, como: controle de tráfego em uma área de
construção de rodovia, auxiliar de estoque em um depósito
comercial, assistente em uma empresa de mudanças, gestão de
passageiros na hora de pico em uma estação de trem. A variedade,
pelo menos, não era nada para se reclamar.

Enquanto isso, como Shirou Ashiya, Alciel devotou-se a manter


a casa, assegurando-se de que Maou permanecesse saudável e capaz
de continuar trabalhando. Em seu tempo livre, investigava as
possibilidades mágicas do mundo, além de administrar estritamente
a situação financeira dos dois.
Exatamente seis meses depois que eles chegaram ao Japão,
Maou recebeu pela primeira vez uma oferta de trabalho de meio
período de longa duração no MgRonald — o gigante do fast food.

Ele voltou de seu primeiro dia de trabalho com um olhar


agradável no rosto, as sacolas em suas mãos estavam repletas de um
monte de coisas extremamente fritas. Então, ele disse:

— De agora em diante, nunca mais precisaremos nos


preocupar com nossa comida secando.

Ashiya também estava feliz em se livrar destas preocupações.


Pelo menos no começo. Entretanto, comer todos aqueles
hambúrgueres, fritas francesas e frango frito — toda aquela comida
de alta caloria e conservantes, dia após dia — lhe deixou nervoso no
mesmo instante. Depois de uma semana, a azia foi o suficiente para
fazê-lo nunca mais querer ver uma caixa de fast food.
Mas Maou continuava com sua dieta questionável; até parecia
que estava gostando dessa “culinária” oferecida.

Por causa disso, inevitavelmente, Ashiya precisava prestar


ainda mais atenção nos hábitos alimentares diários deles. O
resultado disso era que a grande busca do demônio por magia não
estava levando a lugar nenhum. Se quisesse evitar uma dieta
desastrosa de comida calórica em cada refeição, Ashiya precisava
correr até os supermercados antes que fechassem, mantendo um
olho cuidadoso em qualquer coisa com a data de validade mais
apertada que tivesse um desconto maior em cada dia.

Maou estava totalmente focado em seu trabalho, pelo menos.


Dentro de dois meses, já havia ganhado o primeiro aumento.

Foi um dia que Ashiya provavelmente jamais esqueceria. Ver o


Rei Demônio alegre por ter ganhado um aumento de cem ienes por
hora trabalhada era algo que ninguém poderia aguentar sem que os
olhos lacrimejassem.

Muitas promoções seguidas aconteceram nas semanas


seguintes. E, sem demora, Maou tornou-se um membro de equipe
nível A no MgRonald em frente à estação de trem de Hatagaya.

Seu salário por hora era duzentos ienes maior do que quando
começou há meio ano. Supostamente foi um grande tratamento
gentil por parte do MgRonald. Usar qualquer magia de hipnose o
enfraqueceria ao ponto em que Ashiya saberia na mesma hora se
algo estivesse errado, por isso, tudo o que Maou conseguiu deve ter
sido o resultado de seu trabalho duro e honesto.

No fim, um formulário de sugestões, vindo de um cliente,


chegou até o quartel general do MgRonald; ao que tudo indicava, era
apenas elogios para o serviço de Maou. Isso lhe rendeu o prêmio de
Melhor Funcionário da Equipe naquele mês.

Uma mudança marcante na atitude começou a ficar aparente.


Ali estava o Rei Demônio depois do trabalho, falando sobre como
seu chefe estava certo ao elogiá-lo e quão talentoso um dos novos
empregados estava se mostrando ser. Era difícil chamar aquilo de
trama diabólica de um pretenso conquistador. Suas qualificações
sobre o papel de Rei Demônio começavam a diminuir, ao ponto onde
ele começou a clamar que superar seu gerente de loja seria o
primeiro passo para a dominação mundial.
Para alguém como Ashiya, cujo único prazer na vida era apoiar
o Rei Demônio em seus nobres triunfos, aquilo estava cada vez mais
se tornando algo inquietante. Estava ficando difícil pensar
profundamente no futuro.

Ashiya jogou o envelope com o boleto de pagamento da MHK


no porta cartas, não se incomodando em abri-lo. Ele,
intencionalmente, deixou todas as suas preocupações e reclamações
de lado — seu juramento de lealdade soou tão verdadeiro quanto na
vez em que o fez —, e hoje teria uma galeria de arte e um museu para
pesquisar.

Durante suas investigações, ficou convencido de que magia


ainda existia, ou pelo menos existira, em algum lugar do planeta
Terra.

Da Stonehenge na Inglaterra até as pirâmides egípcias e Linhas


de Nazca no Peru, o mundo era dotado de culturas e estruturas que
pareciam ter magia em sua essência.

Este era o resultado de inúmeras horas em bibliotecas,


investigando cada ruína e relíquia que o mundo tinha para oferecer.
O Castelo Demoníaco, o qual era chamado de lar por Maou e Ashiya,
não tinha algo tão conveniente como a internet disponível.

O problema era descobrir a diferença entre magia de verdade e


truques mágicos.
Não tinham dinheiro para viajar para o exterior, e mesmo que
usassem os poderes hipnóticos de Maou para fazerem a viajem, não
havia como saber qual civilização era mágica a não ser que eles
mesmos fossem ver com os próprios olhos.

Se isso não levasse a lugar nenhum, ele se sentiria


envergonhado demais para sequer olhar para o seu mestre. Além
disso, como saberiam se existia poder o suficiente em algum lugar do
mundo reabastecer sua força em primeiro lugar?

Além do mais, Ashiya decidiu começar examinando


antiguidades mais próximas à mão.

Os museus e galerias dentro da cidade ofereciam exibições


rotativas de museus estrangeiros, normalmente. Ele queria saber se
alguma dessas exibições ressoava nas mesmas frequências de sua
magia demoníaca.
Com isso em mente, partiu para Shinjuku. Seu alvo: a galeria
especial do dia no Museu Nacional de Arte Ocidental em Ueno.

Ainda chovia, então Ashiya pegou outro guarda-chuva de


plástico que Maou achou do outro lado da rua, passou a mão pela
instável trava de cilindro na porta para proteger um quarto que não
possuía nada de valor para ser roubado.
Então partiu.

De repente, um pensamento horrível passou pela sua mente. E


se, perguntou a si mesmo, esse tipo de vida continuar assim para
sempre? Isso foi o suficiente para fazê-lo tremer, mesmo em plena
primavera.

— Hmm?

Logo em seguida, percebeu que estava tremendo sem querer.


Um terremoto acontecia.

Não era nada para se entrar em pânico; com o passar do ano,


soube que o Japão sofria tremores no dia a dia. Mas viver naquele
apartamento, que mais parecia uma lata de sardinhas, e que talvez
batesse o recorde de “o prédio existente mais velho sem receber
manutenção”, era o suficiente para fazer qualquer terremoto parecer
cerca de trinta por cento mais forte, deixando-o assustado toda vez.
Mas nada aconteceu, novamente. O tremor cessou em mais ou
menos dez segundos. Em Ente Isla, qualquer terremoto, não
importava a força ou extensão, faria com que os humanos
espasmassem em pânico, dizendo que eram divindades vingativas ou
forças demoníacas em marcha. Mas um tremor desta magnitude
nem sequer atraía a atenção de muitos japonese. Os trens não se
davam ao trabalho de parar por causa disso.

Não que Ashiya precisasse de um para chegar até Shinjuku. A


partir de Sasazuka, era apenas uma parada de trem na linha Keio.
Uma caminhada de cerca de vinte minutos para qualquer homem
saudável. Girando a maçaneta mais uma vez para se assegurar de
que a fechadura ainda estava inteira, ele enfiou a chave no bolso e,
com cautela, desceu as escadas.

Nunca lhe passou pela cabeça que, ele próprio, se rebaixaria ao


ponto onde alegremente inventaria desculpas para economizar na
passagem de uma única parada de trem.

Sadao Maou, em cima de seu fiel corcel, Dullahan, estava em


seu caminho até o trabalho.
De seu Castelo Demoníaco em Sasazuka, levava menos de dez
minutos de bicicleta até o MgRonald em Hatagaya, não levando em
conta os contratempos. Graças a demora nos sermões de Ashiya, a
chuva agora caía de forma constante.

Estava forte o bastante para que seu guarda-chuva batido, com


suas abas dobradas, cabo enferrujando e plástico desbotado, que já
não oferecia visibilidade, não fosse mais capaz de cobri-lo.

Mesmo assim, Maou pedalou, projetando-se para frente, o


mais rápido que conseguia.

Era o último dia do mês, uma sexta, aquela que sempre soltava
um pouco as cordas de sua carteira. Era um dia importante também.
Sua loja estava competindo para ser a regional número um nas
vendas do item especial do cardápio. Isso fazia com que ele ficasse
animado. Apenas isso. Este seria o dia em que ele quebraria o
recorde de vendas das Batatas Fritas com Pimenta Preta!

— Não preciso de você gritando comigo, Ashiya. Também estou


pensando nisso... do meu próprio jeito!
O desejo ainda estava lá. Sua ambição suprema, como sempre,
era conquistar Ente Isla. Mas sem ter uma forma de voltar para casa,
não havia muito que pudesse ser feito. Mesmo se pudesse se
teleportar neste mesmo instante, seria cortado e derrotado em um
piscar de olhos sem sua força mágica.
Enquanto isso, no Japão, contanto que mantivesse uma boa
conduta, as chances de ser morto no campo de batalha eram menos
prováveis. E se pensasse nesta rotina atual como passos de um
recém-nascido para reivindicar o trono de Rei Demônio, era até
mesmo possível reter o senso de orgulho demoníaco.
Por enquanto, estava tudo bem. Maou acreditava com afinco
nisso.

Ele parou quando o sinal ficou vermelho para os pedestres,


seus freios guincharam quando a roda dianteira passou por uma
poça d’água.

Dullahan era uma velharia, mas seus freios, como o grito de


uma Mandrágora irritada, eram algo a ser elogiado.

Neste cruzamento, passando por uma área residencial a uma


quadra da rua Koshu-Kaido, havia um pequeno parque e um
restaurante popular, suas paredes eram de vidro, do chão até o teto.
Do outro lado da rua, da direção que veio, Maou viu uma
mulher encolhida sob a marquise do restaurante.

A rua estava cheia de transeuntes em busca de almoço, mas


aquela mulher lhe chamou a atenção. Ela parecia não ter um guarda-
chuva. Mesmo de longe, conseguiu vê-la fazer uma careta enquanto
secava um pouco o cabelo e os ombros com um lenço que tinha em
mãos.
Seu olhar incomodado apontava para o céu enquanto o sinal
ainda permanecia vermelho. Ela aparentemente não esperava que
fosse chover. Mesmo quando o sinal ficou verde, permaneceu sob a
marquise, perdida.

Maou, sempre consciente das leis de trânsito, desmontou da


bicicleta e atravessou a rua. Quando o fez, a mulher o percebeu pela
primeira vez, seus olhos viraram em sua direção. Ele acenou
levemente com a cabeça, então ficou debaixo da marquise do
restaurante, bem ao lado dela, tomando o cuidado de colocar
Dullahan entre eles para diminuir qualquer suspeita.

— Hum, se você quiser...

Desarmando o guarda-chuva de plástico, ele presenteou-a,


oferecendo o cabo primeiro.
— Hã?

Sua voz suave e refrescante soou confusa no começo. Ela olhou


para seus arredores, incerta de como proceder.

— É, quero dizer... começou tão de repente, então pensei que


você precisasse. — Ela parecia uma mulher madura de longe, a julgar
pelas roupas e ações, mas, de perto, aparentava ser mais jovem,
talvez na idade de uma colegial. Ela era mais jovem que a aparência
externa de Maou, pelo menos.

Sua blusa estampada de flores, a parte de cima da túnica e


jeans apertados e finos eram uma boa combinação com sua beleza
natural. A chuva em seu cabelo longo, levemente curvado nas
pontas, dava um brilho que a tornava ainda mais atraente. Uma
pena não ter pensado em colocar um guarda-chuva dobrável dentro
da pequena bolsa em seu ombro.

Seus olhos, afiados e obstinados, agora estavam focados em


Maou, um sopro de anseio estava presente em seu rosto.
— Mas... você tem certeza? Não posso simplesmente aceitá-lo...

Ele não havia gastado nada nele mesmo. O guarda-chuva foi


achado na rua; na verdade, gastar dinheiro em um era um conceito
exótico para ele.

— Ah, não, eu trabalho aqui perto, então... leva só uns dois ou


três minutos de bicicleta. Temos mais desses lá.

Com nervosismo, a mulher pegou o cabo que lhe foi oferecido.


Quando ela o fez, Maou montou na bicicleta novamente, não
querendo fazer com que ela se sentisse em dívida.

— Ééé, muito obrigada! Eu gostaria de compensá-lo de alguma


forma...

Entretanto, ela acabou sendo mais insistente do que Maou


esperava. Ele ergueu a mão em resposta.

— Esqueça. É um trapo, de qualquer forma. Pode


simplesmente jogá-lo fora depois de usar.

— Ah, eu não poderia...

Maou virou-se para a mulher, que ainda agia um pouco


hesitante com a coisa toda.

— Bem, o que acha disso? Eu trabalho no MgRonald aqui


perto, porque não dá uma passadinha lá para comer algo?

— Aqui perto...? Você quer dizer aquele perto da estação de


Hatagaya?
Ela acenou com a cabeça quando Maou apontou a direção.

— Vou te dar um desconto nas batatas fritas especiais que


temos agora, quando eu estiver lá.
Foi neste tipo de marketing que Maou se especializou pela
vizinhança. Ele via a si mesmo como um funcionário do MgRonald
onde quer que fosse, e qualquer um poderia ser um possível cliente.
A maneira que via isso, este esforço extra, foi o que o levou às suas
promoções no trabalho.

— Tudo bem, farei isso, com certeza. É... — A mulher ficou


ereta, encarando diretamente os olhos de Maou. — Obrigada mais
uma vez.
Com isso, curvou-se ligeiramente.

Seu sorrio era como um belo raio de sol passando pelas


angustiantes nuvens negras em seu coração.

— Fico no aguardo. Se cuide.

Maou virou-se, tentando esconder seus traços de


constrangimento. Acenando com a mão, mergulhou de volta na
chuva, sem virar para trás novamente.

— Brrr! Que frio!

Talvez a conversa tenha sido muito nobre para ele. Mas tudo
isso era em nome de um amanhã melhor, melhores projeções de
vendas e, é claro, uma chance maior de dominar brutalmente o
mundo.

Além disso, perder o guarda-chuva por um motivo desses


podia fazer com que Ashiya liberasse um pouco do orçamento, o
suficiente para que ele pudesse comprar um novo, né? Se não, ele
poderia pegar um do local onde guardavam guarda-chuvas, que
ficava em frente à loja.

De volta ao cruzamento, o sinal há muito voltara para o


vermelho; a mulher permaneceu imóvel até que Maou não pudesse
mais ser visto.

No fim, o estabelecimento do Maou falhou em ser o primeiro


no top de vendas das Batatas Fritas com Pimenta Preta da região.
Uma das fritadeiras parou de funcionar após a correria do almoço.

Levou duas horas para que o conserto aparecesse, e esse tempo


fez toda a diferença.
Uma provação frustrante para Maou, no mínimo, e uma que o
incomodava enquanto enchia outra sacola com lanches para levar
para casa.

A tempestade pesada era algo do passado quando a noite


chegou. Isso fez com que não precisasse pegar um guarda-chuva
“emprestado” da loja, mas não havia dúvidas de que o tempo ruim
fez com que os clientes não saíssem de casa.

Porém, havia algo mais? Sim, também tinha a fritadeira e a


chuva, mas teve mais algum erro? Essa dúvida era a única coisa em
que conseguia pensar no caminho para casa, à medida em que se
aproximava do cruzamento onde emprestou o seu guarda-chuva.

— Hã?

Era tarde da noite. O restaurante na esquina tinha há muito


fechado, estando completamente escuro do lado de dentro. As únicas
luzes que iluminavam o cruzamento deserto vinha de uma lâmpada
de poste e dos semáforos da rua.

Havia alguém escondido debaixo da marquise do restaurante.

No começo, não percebeu por causa da escuridão, mas aquela


era a garota que encontrara quando ia para o trabalho.
— Ei, você é a...?

Maou parou abruptamente no meio da frase. Algo estava


estranho. A mulher estava em silêncio, com o olhar fixado nele.
Havia um frio, semelhante a uma hostilidade, em seus olhos. Seu
sorriso de antes era como um arco-íris cruzando o céu chuvoso, mas,
agora, sua expressão era como a de um iceberg ártico, frio o bastante
para congelar o próprio sol.

Ela o encarava, não havia dúvidas disso. Maou engoliu em seco


com nervosismo, quase sentindo medo da sensação dos olhos dela o
observando. Sem conseguir aguentar mais o olhar silencioso da
mulher, Maou reuniu coragem e falou:

— É... o guarda-chuva serviu? Você não ficou molhada, né?


— Não, não serviu.

— Hã?

Sua voz era como um vórtice polar no meio do inverno.


— Fui até o seu MgRonald hoje.

— Hm? É, b-bem, obrigado.

Agora parecia um momento inapropriado para começar um


discurso de vendas. Ele não se lembrava de tê-la visto enquanto
estava no caixa.

A mulher deu um passo na direção de Maou, quase fazendo


com que ele perdesse o equilíbrio e caísse. Frustrado, ele desceu da
bicicleta e, por razões completamente diferente das de antes,
posicionou-a entre os dois.

— Eu estava te observando daquele lugar do outro lado da rua.

— Me observando...? Quer dizer, o restaurante?

Havia uma livraria que cobria toda a vista do outro lado do


MgRonald. Ela os observava de lá? Ela era um daqueles misteriosos
que passam o tempo todo em restaurantes? Havia apenas uma...

— Você parece diferente de antes, achei que eu estava


enganada. Mas depois de um tempo, percebi.

... mulher que estaria...

— No começo, duvidei de meus sentidos. Eu sabia que era algo


próximo, mas não tanto.

... olhando desta forma para mim!

— Você pode tentar esconder o pouco de magia que ainda


resta, mas não pode me enganar!

Impossível!

— Rei Demônio Satan! Por que você está trabalhando de meio


período no MgRonald de Hatagaya!?

O cabelo solto e levemente escuro, a pele bonita e sem


manchas, olhos que detectavam magia. Ela com certeza era...

— Você... H-Heroína Emília!

Ela era Emília Justina, a Heroína que tirou Ente Isla das mãos
retorcidas do Rei Demônio. A Heroína exaltada como a salvadora
sagrada de sua terra natal. Por que ela estava em Sasazuka?

— Sim! Eu mesma, Emília! E tenho certeza de que você sabe o


motivo de eu estar aqui!

— V-Você, não me diga...!

— Você e Alciel, seu único general restante, podem até ter


conseguido escapar de nós. Entretanto, viajei através dos mundos,
perseguindo-os! Se eu deixar vocês escaparem, nosso mundo será
envolto na escuridão novamente! E, antes que isso aconteça, eu
destruirei você!

— Espere! Calma, Emília! Podemos discutir sobre isso!

— Jamais, Rei Demônio! Preparasse para morrer!

De repente, a Heroína Emília empunhou uma faca e apontou-a


para Maou, cortando o ar. Maou deu um salto para trás, desviando
da lâmina enquanto ela arranhava sua bicicleta.

A Dullahan, outrora orgulhosa, caiu no chão, o som emitido


por ela até o fim de sua queda era uma reclamação do duro
tratamento repentino.
— Uou! Cuidado!

— Já chega de se esquivar com covardia! Levante-se e me deixe


te matar!

— Só pode ser brincadeira!

Ele mal conseguiu se esquivar da segunda facada, que passou


por Dullahan, a qual quase atingiu seu estômago.

Maou precisou de um tempo para se recompor. Estava


desarmado. A viagem de casa até a lanchonete raramente
necessitava de uma arma. Isso o colocava na defensiva, mas uma
sensação de suprema confiança ainda tomava conta de sua mente.
Um único vislumbre da arma da Emília foi tudo o que precisava para
saber como terminaria esse confronto.
— Hã... Emília?

— Hmm? Implorando por sua vida, é isso? Jamais negociarei


com meu inimigo jurado!
A força de sua declaração o atingiu levemente, mas ainda
conseguiu fazer um comentário — um que teve um efeito
surpreendente em sua oponente.

— Onde está sua espada sagrada?

— ...!

Isso foi o suficiente para fazer com que ela ofegasse.


— Você comprou essa faca na loja de cem ienes em Sasazuka,
não é? Eu tenho uma igualzinha.

— C-Como você...!

Agora ela parecia realmente abalada. A faca em sua mão


brilhava com a fraca luz vermelha do semáforo.

— Você... você perdeu toda sua força sagrada, né? E mesmo


que não seja este o caso, não pode desperdiçar, é isso?

— Nnngh...! — A forma com que ela rangeu os dentes em


resposta foi a confirmação que Maou precisava. De certa forma, já
esperava que perseguidores viessem de Ente Isla, mas não a própria
Heroína logo de cara. Mesmo assim, cá estava ela, do outro lado do
Portal, assim como ele, farejando o rastro de sua magia.

— M-mas... mas você está na mesma situação, não é? Seu


poder também parece tão fraco... tão frágil! Não é nada comparado a
antes!
— Olha... sim, mas... — Maou estremeceu por dentro. Mas não
fazia sentido esconder isso.

— Com ou sem minha lâmina sagrada, não tenho nada a temer


de um Rei Demônio que é atendente de lanchonete e impotente.
Morra! — Emília ergueu a faca.

De repente, uma luz brilhou sobre os dois.

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