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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROF.ALBERTO CARVALHO


DEPARTAMENTO DE LETRAS

JAMILE ANDRADE DOS SANTOS

Resenha da adaptação em filme do livro “ O Cortiço”, de Aluísio Azevedo

ITABAIANA-SE
2018
JAMILE ANDRADE DOS SANTOS

Resenha da adaptação em filme do livro “ O Cortiço”, de Aluísio Azevedo

Trabalho apresentado como


requisito parcial de avaliação da
disciplina Literatura brasileira II,
ministrada pela Dra. Antonielle
Menezes Souza, do 4° período
do curso Letras-Português.

Orientador (a):Dra. Antonielle Menezes Souza

ITABAIANA-SE
2018
Resenha da adaptação em filme do livro “ O Cortiço”, de Aluísio Azevedo

O Naturalismo é um movimento literário que teve seu início com “O Mulato”, de


Aluísio Azevedo, romance que data de 1881. Posteriormente, lança “O cortiço”, em 1890.
O livro é adaptado em filme pela primeira vez em 1945, mas analisaremos a obra de
acordo com a segunda adaptação, feita em 1978. Esta época literária trata-se de uma
espécie de realismo exagerado, com diversas características pontuais, que a torna mais
radical. Ao contrário do romantismo fantasiado, o naturalismo surge como uma
representação fiel da realidade, baseando-se na verossimilhança, na experiência.

Na obra é retratada a vida no Rio de janeiro em pleno século XIX num cortiço,
que tem por dono João Romão, sujeito ambicioso, hipócrita, português, conquistador,
colonizador, explorador, falso abolicionista e que recebe mérito imerecido. Ele começa a
participar da vida social para ascender, participando ativamente da vida burguesa, pois
percebe que não basta apenas ter dinheiro para ascender socialmente. Bertoleza é a mulher
que trabalha para ele, sua escrava e amante, sofre incessantemente toda a vida, servindo
a Romão.

A desigualdade social aparece na obra por meio, principalmente, do burguês


Miranda, comerciante, sujeito de posição financeira e social elevada, que estava acima
dos moradores do cortiço, não só por morar num prédio, mas em todos os sentidos, havia
um abismo social enorme, como há ainda hoje. As pessoas que moravam nos prédios
eram capitalistas, monarcas, aristocratas. João Romão é rival de Miranda e luta para
chegar ao nível de Miranda e, fazendo de tudo, consegue, ao ganhar o título de Barão.

Há uma parte em que o cortiço pega fogo, podemos interpretar o fogo como um
processo de transmutação, pois o lugar é reconstruído pelo seguro e passa de cortiço a
Vila, apresentando um aspecto mais organizado. Logo depois, já com alguma amizade
com Miranda, Romão pede a Miranda a mão de sua filha em casamento e este lhe concede,
neste ponto se destaca o casamento por interesse. Mas ainda há Bertoleza como empecilho
para a consumação desse casamento e, Romão para ver-se livre da escrava, a denuncia
aos seus antigos senhores, e esta, se coloca em frente à uma espada, suicidando-se. A
morte de Bertoleza pode ser interpretada como a abolição da escravatura, que se dá pouco
depois da sua morte.

Outra personagem da trama é Jerônimo, um português que vem trabalhar para


Romão na pedreira, chega a deixar sua mulher para casar com Rita, mas não por amor, e
sim por se sentir atraído por ela, ela o enfeitiçou, não há romantismo nisto. É tanto que
depois de um tempo, ele abandona para voltar à sua antiga esposa. Em Jerônimo, Aluísio
tenta provar mais uma vez sua teoria de que o cortiço, o ambiente, corrompe o indivíduo.
Já Rita Baiana é o retrato da mulata sensual, feiticeira, a quem nenhum homem podia
resistir, é objetificada, usada, Nela também podemos ver elementos afros : cabelo, roupas,
sua dança e alegria que é sua marca registrada, vive dançando. Ela pode ser a
representação da mulher brasileira.

O filme apresenta, claramente, vários aspectos naturalistas. Os mais evidentes são:


o determinismo, que prega que o indivíduo é determinado pelo meio, ou seja, no cortiço,
as pessoas que ali vivem são corrompidas e não há quem escape, a exemplo de Pombinha,
que, inicialmente, tida como pura, acaba se corrompendo. Além da concepção
determinista, há também a ideia de que o indivíduo é um produto da hereditariedade,
como uma pessoa que tem um pai louco, segundo essa teoria, a loucura é hereditária,
como se fosse algo genético, um determinismo biológico. A miscigenação é colocada
também como fator que influencia para corromper o indivíduo.

Além disso, é importante pôr em evidencia que há a personificação do cortiço na


obra, que é tido como um organismo vivo, ele se projeta como o “monstro” da trama, é
ele quem corrompe, é como se fosse o personagem principal da história, já que ele é
humanizado. Como coloca (BOSI, 1994, pag.211) :
Aluísio atinou de fato com a fórmula que se ajustava ao seu talento:
desistindo de montar um enredo em função de pessoas, ateve-se à sequência
de descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente
primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais convincente do
nosso romance naturalista. Existe o quadro: dele derivam as figuras.

Ainda, as personagens da história são animalizadas, são degradadas, comparadas


a animais, vermes, partes de seus corpos são colocados como de animais. A natureza
humana neste ponto é vista como uma selva, isso tem relação com o Darwinismo e, por
isso o nome naturalismo. Há aqui um trecho que (BOSI, 1994, pag. 212) apresenta em
seu livro, que comprova isso:

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e


lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a nascer um mundo, uma coisa viva,
uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e
multiplicar-se como larvas no esterco.
Há também a Proclamação da república ao fim do filme e muitos dos que moram
lá nem sabem o que isso significava, isso só acentua a ignorância daquele povo, excluídos
da sociedade, sofrendo descaso público. Além disso, o tema religioso é muito presente na
trama, por meio da bruxa, avó de Rita, que representa o misticismo e morre num incêndio,
queimada, isso nos remete à inquisição (há tanta simbologia por trás de muitos fatos que
ocorrem). Ainda, há a presença do catolicismo, por meio da rezadeira e parteira Paula.

Enfim, como é comum aos naturalistas, Aluísio Azevedo aborda em sua obra
problemas morais do indivíduo, colocando em pauta temas como ambição, presente em
João Romão e Miranda, o adultério, que além de se apresentar pela traição de Itabaiana,
também aparece quando Rita e Jerônimo são infiéis às pessoas com quem que se
relacionam. A hipocrisia reina e Romão é um dos mais hipócritas, pois é um falso
abolicionista, engana Berloteza, dizendo que está liberta, a rouba, passa por cima de tudo
e todos para atingir seus objetivos.

Referência Bibliográfica

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994.

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