1ª edição – 2006
3.000 exemplares
Tradução
Roberto Alves
Revisão
Fabiano Antônio Ferreira
Roberto Alves
Editoração
OM Designers
Capa
Magno Paganelli
Conselho Editorial
Cláudio Marra (Presidente), Alex Barbosa Vieira, André Luiz Ramos, Francisco Baptista de
Mello, Mauro Fernando Meister, Otávio Henrique de Souza, Ricardo Agreste, Sebastião Bueno
Olinto, Valdeci da Silva Santos.
Waltke, Bruce K.
ISBN 85-7622-141-1
CDD – 492.4
pv em memória de
W. J. Martin
25 de maio de 1904
21 de março de 1980
Cambridge
p vii Sumário
Abreviaturas e Siglas
Apresentação
Prefácio
Introdutório
1. Língua e Texto
3. Conceitos Básicos
4. Unidades Gramaticais
Substantivos
5. Padrões Substantivos
6. Gênero
7. Número
8. Função Nominativa e Orações sem Verbo
9. Função Genitiva
11. Preposições
12. Aposição
14. Adjetivos
15. Numerais
17. Demonstrativos
19. Relativos
Graus Verbais
37. Particípios
38. Subordinação
Glossário
Bibliografia
Índices
Termos Gramaticais
abs. absoluto
C consoante
C termo construto
c. comum
col. coletivo
cstr. construto
f(em). feminino
impfv. imperfectivo
m(asc). masculino
non-pfv. não-perfectivo
pf. perfeito
pfv. perfectivo
pl. plural
Pred predicado
S sujeito
s(ing). singular
V vogal
V verbo
* forma não-atestada
** forma impossível
Versões e Traduções
AV Authorized Version
LXX Septuaginta
TM Texto Massorético
GKC [Wilhelm Gesenius-] Emil Kautzsch, trad. A. E. Cowley. 1910. Gesenius’ Hebrew
Grammar.
LHS Ernst Jenni. 1981. Lehrbuch der hebräischen Sprache des Alten Testaments.
p ix Apresentação
Apresentar esta obra de Waltke e O’Connor na sua tradução para a língua portuguesa é
uma honra imensa. Quando a indiquei para tradução e os trabalhos foram iniciados, não tinha
idéia de quanto tempo e esforço seriam necessários até que pudéssemos tê-la entregue ao
estudioso da língua hebraica no Brasil. Não se trata da tradução de um livro simples, mas de
uma obra que, além de volumosa, apresenta complexidade nas relações internas com vários
índices fundamentais ao seu bom uso.
Ainda que após a publicação do livro (1990) as pesquisas na língua hebraica tenham
avançado, abrangendo o estudo de novas categorias lingüísticas e metodologias, a obra de
Waltke e O’Connor continua a ser reimpressa, por seu porte e valor inestimáveis. Essa é, sem
sombra de dúvida, uma obra que todo estudioso do Hebraico Bíblico deve ter em sua
biblioteca.
ÁFRICA DO SUL
p xi Prefácio
Como uma gramática pedagógica, este volume não busca apenas descrever a sintaxe do
hebraico bíblico, mas prover alguma profundidade explicativa para a descrição. Os estudantes
emergem de um curso introdutório de hebraico prontos para começar a confrontar o texto, e
este volume situa-se entre os livros que podem ajudá-los. Entre esses livros, esperamos que
este tenha um lugar distintivo. Gramáticas de referência e léxicos avançados, se consultados
rapidamente, tendem a fragmentar a visão do leitor acerca dos problemas, enquanto que
comentários tendem a estreitar demasiadamente o foco. Estudos gramaticais especializados às
vezes são forçados a discutir excessivamente uma tese ou cobrir todos os dados muito
rapidamente.
p xii Como uma ferramenta de leitura e exegese, este volume busca estimular a atenção
às dificuldades de um texto em uma língua escrita do mundo antigo de uma cultura diferente.
Um programa muito breve de estudo de hebraico pode ser desencaminhador ou até mesmo
perigoso. O domínio fácil pode fazer os estudantes acreditarem que compreenderam um
texto, quando tudo que eles realmente conseguiram foi simplesmente a memória de uma
tradução recebida pronta. As distorções decorrentes do uso da língua hebraica como a chave
para a compreensão de uma mentalidade estrangeira não fazem parte de nosso programa,
pois a erudição atual superou tais concepções. Mas o hebraico permanece uma língua
estrangeira para falantes nativos de português ou outras línguas européias. Esta gramática
busca ajudá-los a perceber o caráter desse estrangeirismo, principalmente com respeito à
interação entre sintaxe e semântica. Preocupamo-nos com o que as formas do hebraico
significam, como esses significados podem ser apropriados e, incidental e principalmente por
meio de exemplos, como esses significados podem ser vertidos para o português.
A primeira base deste estudo é a grande tradição de gramática hebraica falante-nativa
associada com a comunidade judaica medieval. Esta tradição foi passada durante séculos e
supriu a tradição européia moderna canonizada por Wilhelm Gesenius, no primeiro quarto do
século 19. A segunda base é o estudo lingüístico moderno, com suas raízes contemporâneas a
Gesenius e suas primeiras flores contemporâneas à edição da gramática de Gesenius,
atualmente impressa em inglês (1910). Esta gramática apóia-se sobre estas duas bases, ora
mais em uma, ora mais em outra. O objetivo deste volume não é a inovação; de fato, muitas
novidades não seriam apropriadas. Ainda que o corpo enorme de eruditos interessados na
Bíblia Hebraica tenha produzido muitos materiais novos, e cada nova visão ou conceito
reposiciona e reforma todas as outras facetas da gramática, isso tudo ocorre ligeiramente.
Então, é seguro dizer que qualquer leitor achará algo novo aqui, e é mais seguro dizer que
cada leitor achará algo com que discordar.
Embora esta não seja uma sintaxe exaustiva da Bíblia Hebraica, ela provê uma avaliação
completa do assunto e utiliza um corpo rico e diversificado de erudição. Por exemplo, os
estudos importantes de F. I. Andersen, Ernst Jenni e Dennis Pardee estão aqui, pela primeira
vez, trazidos para um exame da gramática hebraica; outros estudos são avaliados, e ainda
outros são citados somente de passagem. Como David Qimḥi, freqüentemente somos
respigadores seguindo os ceifeiros. Algumas das distorções que podem ser achadas na
literatura são criticadas. A bibliografia não somente dirigirá os estudantes às obras que usamos
aqui, mas também às obras de referência e aos estudos em fonologia e morfologia hebraicas,
assuntos não tratados aqui. Temos provido uma bibliografia básica de estudos de hebraico
bíblico, porque nenhuma ferramenta assim está atualmente disponível.
Algumas outras bases do volume são dignas de nota. Dados comparativos de línguas
semíticas foram utilizados para iluminar e prover perspectivas. Entretanto, não pressupomos
conhecimento algum de outras línguas. Tendo em vista nossas duas bases primárias, este uso é
inevitável. Os gramáticos de hebraico mais antigos falavam tanto o árabe quanto o hebraico;
assim, a tradição começa com uma tendência comparativa. A decifração do cuneiforme e o
desenvolvimento de gramáticas modernas de acadiano afetaram a interpretação de cada
faceta do verbo hebraico. Ao lado do árabe e do acadiano, as grandes línguas faladas
originalmente ao sul e ao leste do hebraico, estão as outras línguas do Levante antigo,
parentes mais íntimas do hebraico – moabita, amonita e púnico-fenício, como também a
língua mais antiga de Ugarite e as aparentadas mais distantes línguas aramaicas. A citação de
dados de semítico comparativo é restringida, mas em nosso julgamento é sempre crucial para
o argumento à mão. Semelhantemente cruciais são dados comparativos do português e de
outras línguas européias. A análise por contraste de línguas é agora comum no ensino
moderno de línguas. Tal informação serve para lembrar os estudantes como a própria língua
deles e outras correlatas funcionam. Nem todos os estudantes têm um amplo e firme
embasamento em lingüística – este livro não pressupõe familiaridade alguma com este
assunto – e o português pode ser tomado como um ponto de referência fixo e atraente. O uso
de dados de língua portuguesa serve, pelo menos em parte, para expor os pré-entendimentos
dos leitores de língua portuguesa. Realmente, à luz de uma língua “exótica” como o hebraico,
o português também passa a ser uma língua “exótica”. No labor da leitura ou da tradução, a
língua receptora não é mais “natural” ou “correta” que a língua de origem.
A forma do livro é irregular, pois não buscamos equilibrar exatamente os vários aspectos
do hebraico ou dividir os materiais em porções iguais. Uma compreensão própria do grau Piel
ou da conjugação prefixa requer o uso de conceitos e noções que podem parecer teóricos
demais. O capítulo sobre preposição, em contraste, pode parecer demasiadamente léxico.
Certos tópicos não são tratados completamente: os advérbios, especialmente as partículas
negativas, não recebem a atenção focalizada que eles podem receber, não obstante há
referências pertinentes ao longo do livro. O trabalho de escrita de cada livro deve ser limitado
ou pelo menos deve ser chamado a uma pausa.
Reconhecimentos
Ambos os autores desejam aproveitar esta oportunidade para agradecer aos seus
professores: Waltke foi treinado por T. O. Lambdin, F. M. Cross e o falecido G. Ernest Wright de
Harvard; e O’Connor por C. R. Krahmalkov, D. N. Freedman e G. E. Mendenhall de Michigan.
Todo o estudo de graduação é um empenho colaborativo, e queremos aproveitar esta
oportunidade para agradecer nossos condiscípulos, agora, com freqüência, colegas e
conselheiros. Nossos editores estiveram envolvidos de perto com o projeto durante mais de
oito anos, e James E. Eisenbraun trabalhou em cada aspecto do livro, na grande tradição de
eruditos-editores. Ambos os autores assumem a total responsabilidade pela obra.
FILADÉLFIA
ANN ARBOR
1° DE DEZEMBRO DE 1990
Vancouver
St. Paul
7 DE ABRIL DE 1993
Vancouver e Orlando
Washington, D.C.
24 DE JUNHO DE 1999
p1 Introdução
1 Língua e Texto
3 Conceitos Básicos
4 Unidades Gramaticais
p3 1
Língua e Texto
1.1 Introdução
3.1 Pré-História
1.4 Sincronia/Diacronia
5.1 Introdução
6.1 Característica
6.2 Consoantes
6.3 Vocalização
6.4 Acentuação
1.1 Introdução
a A língua hebraica tem sido usada desde os tempos de Moisés (a era arqueológica
conhecida como Idade do Bronze Tardio II, 1400–1200 a.C.) até o presente. O assunto desta
gramática, o Hebraico Bíblico – empregamos o termo para designar tanto o hebraico usado na
composição da Escritura como o do Texto Massorético (abreviado TM) – esteve em uso desde
aquela época, passando pelos períodos exílico, pós-exílico e do Segundo Templo. Este espaço
de tempo corresponde em grande parte à Idade Imperial (Império Neo-Babilônico, 625–540;
Império Persa, 540–330; Império Helenístico, 330–360; Império Romano, 60 a.C.–330 d.C.).
Num período de mais de três milênios, a língua hebraica experimentou muitas mudanças; na
verdade, mesmo num período de várias gerações qualquer língua sofre alterações. O
português falado hoje no Brasil não é a língua de Camões ou mesmo a de José Bonifácio. O
português de Pedro Álvares Cabral e, mais ainda, o português antigo do trovador D. Dinis
(1261–1325 d.C.) são, para nós, virtualmente p 4 línguas estrangeiras. O intervalo entre a
literatura bíblica mais primitiva, como a Canção de Moisés (Êx. 15) ou a Canção de Débora (Jz.
5), e os livros mais tardios da Bíblia, como Ester ou Crônicas, é o mesmo que nos separa de D.
Dinis. Em contraste com a história da maioria das línguas, a língua hebraica tem exibido uma
notável uniformidade com o passar do tempo. Um falante de hebraico bem educado pode ler
e entender literatura hebraica de todos os períodos, desde as porções mais antigas da Bíblia
Hebraica até o hebraico moderno.
c Textos do terceiro milênio do sítio de Tell Mardikh na Síria (antiga Ebla) estão escritos
tanto em sumeriano como em uma língua semítica. A afiliação desta língua não é clara: alguns
eruditos asseveram que ela se aproxima das formas mais primitivas do acadiano, enquanto
outros a vêem primordialmente como uma língua semítica do noroeste. Ainda outros eruditos
asseveram que o eblaico (ou eblaito) precede à divisão semítica leste-oeste. Por causa da
complexidade dos modos nos quais o sistema de escrita cuneiforme era usado em Ebla, só um
estudo prolongado solucionará o debate.
a Uma das grandes ironias da arqueologia siro-palestina é que tem sido encontrada
documentação imensamente maior para o que se pode chamar de a pré-história do hebraico
bíblico do que propriamente para a história da língua no tempo em que a Escritura estava
sendo registrada. O uso desta documentação é difícil, tanto pelo fato de as fontes serem
variadas como por se espalharem por toda a extensão do antigo Oriente Próximo. Estes
materiais estão registrados em uma variedade de escritas. Em alguns casos, um único nome
pessoal contribui como evidência de importância comparável à de um texto literário inteiro.
Um exame destes materiais, melhores designados por semítico noroeste p 7 antigo (ENWS),
está além do objetivo desta gramática, mas uma revisão cronológica das fontes principais pode
ser útil.
Tal revisão torna possível evitar as perguntas de quantas línguas (ou dialetos) exatamente
estão envolvidas e como elas estão exatamente correlacionadas.
d Bronze Médio Tardio – Bronze Tardio Posterior (1600–1400). A prova documental deste
período é escassa, limitada aos textos denominados proto-sinaíticos, escritos na forma mais
primitiva do alfabeto linear. Estas inscrições, encontradas nos muros de Serābîṭ el-Khādem,
uma área de mineração de turquesa na região do Sinai, geralmente é datada em cerca de
1475, embora alguns eruditos propuseram uma data posterior. Sinais alfabéticos foram
achados em jarros de Gezer, datados do mesmo período, e foram achados alguns pequenos
textos na Palestina.
Ugarite era uma das maiores dentre os reinos insignificantes da região. Ela não somente
preservou textos escritos em acadiano, mas também escritos na língua nativa, o ugarítico. Os
caracteres destes textos são do tipo alfabético, mas, diferentemente dos caracteres dos textos
proto-sinaíticos e dos textos correlatos ancestrais dos alfabetos europeus, a escrita ugarítica é
em forma de cunha. Textos escritos em caracteres do tipo do alfabeto ugarítico foram achados
em Ras Ibn Hani, um sítio perto de Ugarite, e em outros sítios na Síria palestina.
a O hebraico bíblico é a língua da Escritura Hebraica. A história desta língua está em parte
atrelada à história da transmissão textual (1.5). Outros fatores que apontam para uma análise
diacrônica da língua merecem um tratamento separado (1.4). Uma variedade de línguas e
dialetos mais ou menos com relação próxima ao hebraico foi registrada na ocasião em que a
Escritura Hebraica estava sendo escrita. A Idade do Ferro (1200–540 a.C.) forma uma bacia
conveniente na história das línguas siro-palestinas. Entretanto, o significado do ano 1200 não
deveria ser exagerado: o hebraico bíblico mais primitivo tinha muitas coisas em comum com o
cananeu ugarítico e com o de Amarna.
O autor reclama aqui que “uma difamação aviltante de um inimigo… foi espalhada ao
longo de toda a comunidade judaica de Bolonha. Ele foi exposto à infâmia pública até na casa
de adoração divina por pessoas destrutivas e enganosas que, conseqüentemente, estão sob a
maldição de uma vida encurtada”. Esta passagem é um exemplo do estilo de meliṣa ‘adorno’;
há outros modos nos quais os autores hebreus de todas as épocas impregnaram seus escritos
com a linguagem da Escritura e de outras fontes.
d Durante o período que vai desde o início do século 3 d.C. até o fim do século 19, o
hebraico estava em uso contínuo como uma língua religiosa, isto é, como uma língua de
oração e adoração, como também de discussão científica e legal-religiosa. Todos os judeus
educados (i.e., judeus homens) estavam até certo ponto familiarizados com ele. A língua só era
usada em situações orais limitadas, mas extensivamente por escrito; seu vocabulário foi
aumentado a partir de formas anteriores da língua, mas seus outros aspectos tenderam a
permanecer estáveis.
e Essa forma de hebraico moderno medieval primitivo serviu de base para a língua
moderna, a língua falada na comunidade judaica emigrante da Palestina do final do século 19.
Ela cresceu continuamente desde então e, hoje, é a língua oficial do Estado de Israel. Os
estudiosos de hebraico bíblico se interessam por ela como uma língua de pesquisa e como
uma fonte de informação sobre mudanças fonológicas e morfológicas. Muitos aspectos da
sintaxe da língua moderna revelam influências não-semíticas. A complexidade da interação de
várias fases do hebraico na língua moderna a toma atrativa para estudantes de lingüística
histórica em geral.
p 11 1.4 Sincronia/Diacronia
a O estudo de hebraico bíblico não é nem sincrônico, focalizado claramente na língua num
certo ponto do tempo, nem diacrônico, dirigido às mudanças que a língua sofre com o passar
do tempo. Vários fatores chocam-se com a pergunta de como ver o corpus bíblico em relação à
extensão de tempo durante o qual ele foi escrito. De um modo mais amplo, dois fatores
principais nos interessam: a incerteza sobre o tempo de composição e a complexidade de
fatores na produção e transmissão do texto. (Uma variedade de outros fatores merece estudo;
há sinais de que a fala dos homens difere da fala das mulheres; a fala, se dirigida a um jovem
ou a um ancião, pode variar a partir de um certo padrão. Mesmo a linguagem oral
freqüentemente difere de uma prosa narrativa e há traços de variação dialetal com base em
regiões em ambos os casos.)
i A análise lingüística do hebraico é, como Chaim Rabin coloca a questão, “mais um corte
transversal do que uma análise sincrônica”. Ele escreve:
a Apesar das dificuldades que temos discutido, vários eruditos têm procurado considerar o
problema de datação do texto bíblico em solos lingüísticos. Discutiremos brevemente três
projetos recentes como exemplos de tal estudo, um baseado em fontes externas comparadas
ao texto bíblico e dois dependentes em grande parte de comparações bíblicas internas. Tais
estudos históricos sérios têm sido menos comuns do que muitas reflexões anedóticas.
c A obra de Robert Polzin sobre prosa hebraica já foi mencionada (1.4.1). Os dois dados de
Polzin, como vistos, são (a) Hebraico Bíblico Clássico ou Primitivo (CBH), baseado nas porções
Yahwista e Elohista do Pentateuco, a História da Corte de David (2Sm 13–1Rs 1) e o arcabouço
de Deuteronômio, os quais mostram uma “notá-vel homogeneidade gramatical/sintática”, e
(b) Hebraico Bíblico Posterior (LBH), melhor mostrado nas partes não-sinóticas de Crônicas. O
projeto de Polzin é a datação do chamado Documento Sacerdotal do Pentateuco, incluindo
quatro cordões principais, Pg (o texto básico), Ps (o suplemento), Pt (o código de lei principal),
e Ph (o código de lei mais primitivo conhecido como o Código de Santidade). Polzin focaliza
corpos maiores de material, Pg e Ps. Ele percebe que Pg exibe algumas características de HBP,
mas retém mais características de CBH, enquanto Ps mostra mais características de LBH.
Assim, ele propõe que, tipologicamente, as fontes P principais se si-tuam, em termos de data,
entre o CBH e o LBH, e que Pg é anterior a Ps. A relação entre datação tipológica, que
necessariamente é datação relativa (“A e B foram escritos antes de C e D”) e datação absoluta
é um assunto diverso da linha principal de argumentação de Polzin.
e Vários pontos emergem destes estudos. O primeiro é que estudos de datação relativa e
absoluta são empreendimentos diferentes. A datação relativa situa-se logicamente antes da
datação absoluta; virtualmente, qualquer data absoluta requer uma data relativa, enquanto
que o contrário não é verdade. Em geral, datas absolutas não podem ser derivadas de
evidência lingüística. O segundo ponto importante é que existe material abundante sobre
datação, tanto dentro do corpus bíblico como fora dele.
1.5.1 Introdução
b A história do texto pode ser dividida, a partir dos tipos disponíveis de evidência e no
destino do texto, em quatro períodos: (a) do tempo de composição a ca. 400 a.C., (b) de 400
a.C. a ca. 100 d.C., (c) de 100 d.C. a 1000, e (d) de 1000 até o presente. Desde que o texto (e
conseqüentemente a base para a gramática do hebraico bíblico) foi unificado durante o
terceiro período, e ao quarto pertencem principalmente as modificações secundárias dentro
da tradição massorética e a impressão do texto, limitamos nosso exame aos primeiros três.
a Nenhum manuscrito existente da Bíblia Hebraica pode ser datado antes de 400 a.C. pelas
disciplinas da paleografia ou da arqueologia (nem mesmo com ajuda da física nuclear). Práticas
escribais anteriores a este período devem ser inferidas de evidências internas na própria Bíblia
e de práticas escribais conhecidas no antigo Oriente Próximo na ocasião em que foram escritos
os livros. Estas duas fontes sugerem que os escribas variadamente buscavam tanto preservar
como revisar o texto.
c Além do mais, a própria Bíblia (cf. Dt 31.9 ss.; Js 24.25, 26; 1Sm 10.25; etc.) e a literatura
do antigo Oriente Próximo mostram que no tempo das composições bíblicas mais primitivas
havia uma mentalidade que favorecia a canonicidade. Esta mentalidade nutriu uma
preocupação por cuidado e precisão na transmissão dos escritos sagrados. Por exemplo, um
tratado hitita (da Idade do Bronze Tardio), assemelhando-se muito de perto a partes da Torá,
contém esta ameaça explícita: “Quem quebra [este tablete] ou faz qualquer um mudar o teor
do tablete —… que os deuses, os senhores do juramento, o destruam”. Igualmente, uma das
Estelas Sefire (ca. 750 a.C.) registra, “Quem… diz: ‘Eu apagarei algumas d[as palavras do
tratado]’… esse homem, sua casa e tudo o que está nela serão transtornados pelos Deuses, e
ele [será] virado de cabeça para baixo, e esse (homem) não adquirirá um nome”. Novamente,
na conclusão do famoso Código de Hamurabi (ca. 1750 a.C.), são lançadas maldições contra
aqueles que tentassem alterar o Código. Indubitavelmente esta psicologia era um fator que
inibia os escribas israelitas de multiplicar variantes textuais.
p 17 d Além disso, práticas escribais através do antigo Oriente Próximo refletem uma
atitude conservadora. W. F. Albright observou que “O estudo prolongado e profundo do
grande número de milhares de documentos relativos ao antigo Oriente Próximo prova que
documentos sagrados e profanos foram copiados com maior cuidado do que aquelas cópias
escribais feitas nos tempos greco-romanos”. Para verificar esta declaração, basta
considerarmos o cuidado com que foram copiados os textos das Pirâmides, os Textos de Coffin
e o Livro dos Mortos, muito embora nunca se pretendeu que fossem vistos por outros olhos
humanos. K. A. Kitchen chamou a atenção à ostentação de um escriba egípcio num colofão de
um texto datado em ca. 1400 a.C.: “[O livro] está completado de seu começo ao seu fim, tendo
sido copiado, revisado, comparado e verificado sinal por sinal”.
e Tendência para revisar o texto. Por outro lado, escribas, tencionando ensinar as pessoas
por meio da disseminação de um texto compreensível, sentiram-se livres para revisar a escrita,
a ortografia (i.e., grafia) e gramática, de acordo com as convenções de seu próprio tempo.
Albright disse: “Um princípio que nunca deve ser perdido de vista quando lidamos com
documentos do antigo Oriente Próximo é que, em vez de deixar arcaísmos óbvios na grafia e
na gramática, os escribas geralmente revisavam documentos literários e outros
periodicamente. Esta prática foi seguida com regularidade particular por escribas do
cuneiforme”. As muitas diferenças entre as porções sinóticas da Bíblia Hebraica sugerem
fortemente que aqueles que estavam investidos com a responsabilidade de ensinar sentiam-se
livres para revisar os textos (cf. 2Sm 22 = Sl 18; 2Rs 18.13–20.19 = Is 36–39; 2Rs 24.18–25.30 =
Jr 52; Is 2.2–4 = Mq 4.1–3; Sl 14 = 53; 40.14–18 = 70; 57.8–12 = 108.2–6; 60.7–14 = 108.7–14;
Sl 96 = 1Cr 16.23–33; Sl 106.1,47–48 = 1Cr 16.34–36; e os paralelos entre Samuel–Reis e
Crônicas). Estas formas variantes são melhor apropriadas como textos finais mutuamente
dependentes, às vezes envolvendo variantes literárias primárias, como também secundárias e
variantes transmissionais.
f A língua e o desenvolvimento da escrita. Da correspondência de Amarna, dos textos
ugaríticos e de outras evidências, podemos inferir com confiança razoável que antes do
período de Amarna (ca. 1350 a.C.) o hebraico possuía vogais breves finais que diferenciavam
casos com substantivos (veja 8.1) e distinguiam várias conjugações prefixadas (veja 29.4). A
gramática preservada pelos massoretas, porém, representa um períod posterior, depois destas
vogais terem caído.
g Da evidência epigráfica, parece que em seus estágios primitivos o texto foi escrito no
alfabeto proto-cananeu, como é encontrado em Serâbîṭ el-Khâdem. Em uma fase posterior
teria sido registrado nos caracteres hebraicos (um descendente dos caracteres proto-
cananeus), e ainda depois na forma dos caracteres aramaicos (um outro descendente dos
caracteres proto-cananeus, às vezes chamados de “caracteres quadrados”) conhecidos como
caracteres judaicos.
a As mesmas tendências para preservar e revisar o texto, rotuladas por S. Talmon como
centrífugas e centrípetas, manifestam-se nos manuscritos e versões existentes no tempo da
formação do cânon e da padronização final do texto consonantal.
b Tendência para preservar o texto. A presença de um texto típico entre os textos bíblicos
de Qumran (ca. 100 a.C. a 130 d.C.) semelhante àquele preservado pelos massoretas, cujo
manuscrito primitivo existente data de ca. 1000 d.C., dá testemunho do empreendimento dos
escribas posteriores preservando o texto fielmente. Este tipo de texto deveria existir antes do
tempo de Qumran, e suas muitas formas arcaicas dão forte razão para acreditar que foi
transmitido num círculo de escribas dedicados à preservação do texto. Os estudos de M.
Martin mostram que os Rolos do Mar Morto revelam uma tendência escribal conservadora em
seguir o exemplar tanto no texto como na forma.
c De acordo com a tradição rabínica, os escribas tentaram manter o texto “correto”. O
próprio TM preserva alguns remanescentes do cuidado escribal primitivo com a preservação
do texto: (1) as quinze marcas extraordinárias que condenam as letras hebraicas assim
marcadas como espúrias ou então simplesmente chamam atenção para alguma característica
textual peculiar, (2) as quatro letras suspensas que podem indicar mudança escribal
intencional ou erro escribal devido à distinção defeituosa de guturais, e (3) talvez os nove nuns
invertidos que aparentemente marcam versículos considerados como tendo sido transpostos.
e Mais significativamente, os escribas alteraram o texto por razões tanto filológicas quanto
teológicas. Eles o modernizaram substituindo formas e construções hebraicas arcaicas por
formas e construções de uma época posterior. Eles também uniformizaram o texto
substituindo construções raras por outras de ocorrência mais freqüente e suplementaram e
esclareceram o texto pela inserção de adições e interpolações de glosas oriundas de passagens
paralelas. Além disso, eles substituíram vulgaridades por eufemismos, alteraram os nomes de
falsos deuses, removeram as frases que amaldiçoavam a Deus e salvaguardaram o nome
divino sagrado ou tetragrammaton (YHWH), ocasionalmente substituindo formas no texto
consonantal.
d A atividade dos massoretas (ca. 600 a 1000 d.C.). Entre 600 e 1000 d.C., escolas
constituídas de famílias de estudantes judeus surgiram na Babilônia, Palestina e notavelmente
em Tiberíades, no Mar de Galiléia, para salvaguardar o texto consonantal e registrar – por
meio de anotações diacríticas acrescentadas ao texto consonantal – as vogais, as cantilações
litúrgicas e outras características do texto. Até estes esforços, tais características
acompanhavam o texto oralmente. Estes estudiosos são conhecidos como masoretas ou
massoretas, designação possivelmente derivada da raiz (pós-bíblica) msr ‘passar, transmitir’.
No afã de conservar o texto, eles o cercaram colocando nas margens observações atinentes à
sua forma externa. Nas margens laterais eles usaram abreviações (Masorah parvum), nas
margens superior e inferior deram explicações mais p 22 detalhadas e contínuas (Masorah
magnum), e no fim (Masorah finalis), proveram classificação alfabética de todo o material
massorético. Somadas a essas anotações feitas diretamente no texto, preservaram
relativamente poucas variantes dentro da tradição consonantal pela inserção de uma leitura
no texto, chamada Kethiv, e outra na margem, chamada Qere. Outras leituras alternativas são
indicadas na margem por Səbir, uma palavra aramaica que significa ‘suposto’.
e Às vezes os massoretas podem ter usado daghesh em lugares inesperados para chamar a
atenção para leituras incomuns. Com a ajuda de sugestões providas pelas versões antigas, a
Masorah e outros códices, E. A. Knauf explicou o uso do Códice de Leningrado do daghesh em
( ָקצִירGn 45.6) como uma maneira de chamar a atenção para a aparente contradição com Gn
8.22; em אבִי ֶֶּ֫מלְֶך
ֲ (Gn 26.1) como um dispositivo para insinuar a idéia, devido ao texto prévio,
que estamos lidando aqui com um outro Abimeleque, e em ( תֵּ אתֶ הMq 4.8) como uma marca
para sinalizar que a pontuação era incerta.
f Das três escolas rivais, uma no oriente e duas no ocidente, cada uma com seu próprio
sistema de notação diacrítica, a escola Tiberiana prevaleceu. A obra mais importante da escola
é um códice modelo preparado por Aaron ben Asher em cerca de 1000 d.C.; este códice foi
preservado na velha sinagoga de Aleppo até imediatamente após a Segunda Guerra Mundial,
quando foi removido para Jerusalém. O estudo contemporâneo do TM está baseado em uma
variedade de textos ligeiramente posteriores e similares ao Códice de Aleppo, notavelmente o
Códice de Leningrado. O estudo moderno anterior estava estabelecido em manuscritos
medievais posteriores e nas primeiras Bíblias impressas. Uma reimpressão fotográfica do
Códice de Aleppo está disponível, e uma edição da Bíblia baseada nele está em preparação em
Jerusalém. As edições geralmente disponíveis do TM só diferem dele em certos materiais
fonológicos secundários, envolvendo alguns acentos e algumas vogais reduzidas, e a
pontuação de umas poucas formas excêntricas.
1.6.2 Consoantes
a Não se pode acentuar em demasia que, embora o alfabeto para a preservação das
consoantes estivesse em evolução durante os dois primeiros períodos descritos acima (1.5.2–
3), o registro massorético consonantal seja arcaico. A evidência do material epigráfico,
especialmente no que tange ao hebraico inscricional e aos congêneres do hebraico bíblico da
Idade do Ferro, põe este assunto fora de dúvida. A menos que o texto tivesse sido transmitido
fielmente, tanto o trabalho de filólogos de semítico comparativo como o dos eruditos bíblicos
que tentam datar o texto (veja 1.4.2) seriam impossíveis.
f As letras vocálicas do TM. Observamos acima que as letras vocálicas foram introduzidas
posteriormente nos textos antigos, primeiramente apenas para vogais finais longas e
posteriormente para vogais mediais longas. Estas letras foram adicionadas esporádica e
inconsistentemente. O TM reflete todos os estágios desta prática. F. M. Cross e D. N.
Freedman colocam a questão da seguinte forma:
יהואשמלהמיהושמ
É fácil constatar que um escriba cujo apego à tradição oral fosse fraco, por exemplo,
pudesse ler שֵּםem vez de שמֹו
ְ ou fizesse uma divisão errada da seqüência יהוא, escrevendo
הּוא e transferindo o י para a palavra prévia. (O espaçamento de palavras ou, mais
comumente, os divisores de palavras, não era regularmente usado na escrita alfabética
primitiva.) Em Êx 15.1, o TM apresenta a seqüência גָא ֹה גָָאה, enquanto que o Pentateuco
Samaritano registra ;גוי גאה a revisão ortográfica errônea é responsável em parte pela
variação samaritana.
1.6.3 Vocalização
f Durante os estágios mais fluidos do texto, podemos também esperar confusão entre
formas verbais tais como I-yod, onde o yod inicial em um nível puramente gráfico é ambíguo
entre as conjugações prefixos e sufixos. Pares do TM como שב
ָ ָי e שב
ֵּ ֵּ י ou י ָדַּ ע e י ֵּדַּע
requerem atenção cuidadosa. O artigo definido “oculto” em preposições inseparáveis também
ilustra o problema (cf. לְָאדָ םem Gn 2.20).
Está escrito: “Porque Joabe e todo o Israel permaneceram ali até que ele
tivesse cortado todos os varões em Edom [1Rs 11.16]”. Quando Joabe veio
perante Davi, Davi disse-lhe: “Por que agiste assim?” Ele respondeu: “Porque
está escrito: ‘Tu apagarás os machos [ ]זְכַּרde Amaleque [Dt 25.19]’ ”. Davi
disse: “Mas nós lemos ‘a memória [ ְֶּ֫זכֶרno TM] de Amaleque’ ”. Ele replicou:
“Eu fui ensinado a dizer ”זְכַּר. Ele [Joabe] então foi ao seu mestre e perguntou:
“Como tu me ensinaste a ler?” Ele replicou: “”זְכַּר. Logo após ele puxou sua
espada e ameaçou matá-lo. “Por que estás fazendo isto?”, perguntou o
professor. Ele respondeu: “Porque está escrito: ‘Maldito aquele que faz a obra
da Lei negligentemente’ ”.
Esta anedota sugere que se esperava dos mestres em Israel que eles passassem fielmente
a vocalização recebida.
j Alguns dos estudantes antigos posteriores da Escritura foram cuidadosos o suficiente com
o texto bíblico para preservar sinais com que estavam lidando, ao trabalharem com um texto
próximo ao TM. O grego rude de Áquila reflete o hebraico tão de perto quanto possível; em
sua miscelânea ele provê freqüentemente palavras hebraicas e formas de vocalização
próximas àquelas do TM (exceto para os segholados; veja 1.6.3c); mesmo as palavras raras são
dadas em uma forma próxima às do TM.
Estas duas versões refletem um texto hebraico como este, tomando as duas últimas palavras
da primeira linha como uma cadeia construta:
1.6.4 Acentuação
a Próximo ao meado do século 10 d.C., Saadia ben Joseph (882–942) iniciou o estudo
lingüístico do hebraico com dois livros escritos em árabe. Este versátil erudito judeu,
geralmente conhecido como Saadia Gaon, após seus serviços como deão ou gaon da academia
judaica de Sura, na Babilônia, é mais famoso por causa de sua tradução da Bíblia Hebraica para
o árabe. Seu Agron (Vocabulário) lida com a lexicografia e o Kutub al-Lugha (Livros sobre a
Língua [Hebraica]) trata da gramática. As obras de Saadia foram p 32 totalmente perdidas há
muitos séculos, mas o conhecimento delas chegou até nós por seus sucessores, especialmente
por meio dos escritos de Abraham ibn Ezra, que reverenciava Saadia como o primeiro
gramático de hebraico e “o principal porta-voz de todos os tempos” de tais estudos. Profiat
Duran conta-nos que Saadia escreveu três obras de gramática que não sobreviveram no seu
próprio tempo. As obras de Saadia foram lidas e estudadas durante o brilhante período
criativo da gramática hebraica e serviram para transferir a atenção dos intelectuais judeus dos
estudos talmúdicos para os estudos lingüísticos. Os eruditos modernos ainda o consideram
como o pai de nossa disciplina. As obras gramaticais de Saadia apresentaram vários elementos
que são básicos para qualquer gramática moderna, por exemplo, os paradigmas para os graus
verbais Qal e Hiphil além de cuidadosas distinções entre várias classes de som. O que motivou
Saadia dar à luz nossa disciplina?
b A pré-história dos estudos gramaticais hebraicos é escassa. É verdade que nos materiais
talmúdicos e midráshicos os rabinos fizeram observações gramaticais ocasionais, por exemplo,
que a terminação –ָָ הem formas como ִמצ ְֶַּּ֫ריְמָהe ֶּ֫חּוצָהindicam direção e se colocam no
lugar de um לprefixado, como em מצ ְֶַּּ֫רי ִם
ִ ש ְל
ָ e לְחּוץ, e que כִיtem quatro significados
diferentes: ‘se’, ‘para que não’, ‘de fato’ e ‘porque’. Além disso, uma quantidade considerável
de material gramatical é encontrada em Sefer Yeṣirá, uma obra cabalística do início da era
medieval. Mas estes comentários esporádicos não proveram nem base e nem motivação para
a obra de Saadia e de seus sucessores. Pelo contrário, o impulso para a descrição das regras da
língua hebraica adveio dos seguintes fatores: (1) o argumento de que a gramática é básica para
a compreensão da literatura escriturística, (2) a ameaça da seita caraíta, (3) a obra fundacional
dos massoretas, (4) o exemplo das gramáticas árabes e (5) o contínuo uso literário do
hebraico, especialmente na poesia devocional. Vamos considerar cada um destes fatores em
detalhes.
Por volta do fim do primeiro milênio d.C., escrever acerca de temas lingüísticos
tornou-se um novo fenômeno na literatura judaica, considerada por muitas
pessoas importantes como vã e sem sentido. Portanto, em suas introduções,
os autores [de obras gramaticais] discutem os fatores que os estimulavam a
escrever suas obras lingüísticas. Eles buscavam provar a seus leitores que é
uma incumbência imposta aos judeus proceder à investigação de sua língua, e
seus argumentos incluem os seguintes pontos: (1) a língua é o meio de todo
discernimento e a lingüística é o meio de toda a investigação e sabedoria; (2) o
cumprimento dos mandamentos depende do entendimento da palavra escrita
e, por sua vez, o próprio entendimento da língua é impossível sem o auxílio da
lingüística.
Tais argumentos ainda são convincentes e inevitáveis para qualquer comunidade que
constrói sua fé sobre uma escritura.
p 33 d A seita caraíta, que apareceu por volta do fim do século 8º rejeitava as tradições
rabínicas e insistia no estudo diligente das próprias Escrituras como sendo a base para o
Judaísmo. O movimento, que fez sérias incursões na academia judaica da Babilônia, incitou
tanto amigos como adversários a um estudo mais aprofundado do texto bíblico e sua língua.
Saadia, como cabeça dessas academias, estava diretamente envolvido e na liderança do
contra-ataque rabínico. Mais especificamente, o caraísmo incitou-o a escrever Kitāb al-Sabʿîn
Lafẓa al-Mufrada (O Livro das Setenta Palavras Isoladas), um breve ensaio lexicográfico em
árabe que trata de algumas das hapax legomena da Bíblia.
e Os massoretas, cuja obra havia culminado no século 10 com a escola de Ben Asher em
Tiberíades, estavam preocupados não em descrever a língua, mas com o registro do texto.
Todavia, sua atividade de vocalização do texto e de comentário do mesmo na massorá auxiliou
na preservação de um corpo essencialmente oral de tradição e formou a base para as
primeiras descrições gramaticais. Concernente à relevância do texto pontuado, Tene escreve:
É bastante surpreendente que o aparecimento inicial da literatura lingüística
dos judeus surgisse tão tarde. Há, contudo, acordo geral de que em semítico,
este tipo de discurso metalingüístico não poderia ter começado antes da
invenção dos pontos vocálicos.
Acerca das contribuições mais específicas dos massoretas para a gramática hebraica,
Yeivin observa:
Os massoretas tinham uma teoria lingüística sofisticada, mas com uma expressão
subdesenvolvida; os gramáticos, dando o passo de fazer a teoria explícita, foram capazes de
avançá-la porque poderiam avaliar lacunas e inconsistências.
h Um outro pioneiro em lingüística hebraica é Menaḥem ibn Saruq (ca. 910–ca. 970), que
leu os comentários de Saadia. Ele escreveu a Maḥberet, primeiro dicionário completo de
hebraico e a primeira obra lingüística a ser escrita em hebraico. Ela foi severamente criticada
em questões lingüísticas por um discípulo de Saadia, Dunash ben Labraṭ (ca. 920–990), cuja
família veio de Bagdá, embora ele mesmo tenha nascido em Fez e tenha se instalado em
Córdoba. Dunash e Menaḥem mediaram o aprendizado de Saadia e outras características do
judaísmo babilônico para a Espanha. Leslie McFall convincentemente observa: “A erudição
judaica na Espanha deveu não apenas sua pronúncia (sefardita), mas seus começos ao
judaísmo babilônico”.
2.2 Estudos Judaicos Medievais (séculos 11 a 16)
a O período que se estende desde o século 10 até ao meado do século 12 é designado por
David Tene como o “período criativo”. Yehuda Ḥayyuj (ca. 940–ca. 1010), um discípulo de
Menaḥem, expôs científica e sistematicamente a teoria de que todas as palavras hebraicas
têm uma raiz trirradical, uma noção que ele adatou dos gramáticos árabes. Os gramáticos
estavam agora na posição de formular regras de pesquisa para entender fenômenos como o
num assimilado e o dagesh compensatório, bem como as várias características dos verbos
fracos, aqueles com uma ou mais das letras א ה ו י na raiz. Foi Ḥayyuj que adotou o
incômodo ּפעל como verbo paradigmático, oriundo das gramáticas árabes, e introduziu a
designação dos três radicais da raiz por Pe (primeiro radical), Ayin (segundo radical) e Lamedh
(terceiro radical).
Assim ele fez e enviou sua resposta ao visitante. Este último, todavia,
desdenhosamente observou que seria mais sábio para Ibn Janāḥ reter sua
réplica até que o livro de Nagid fosse publicado, onde iria encontrar críticas
ainda mais severas apontadas contra ele. Ibn Janāḥ recusou-se a fazer isto. Ele
publicou sua réplica na forma de livro e a chamou de Kitab at-Taswiya [O Livro
de Reprovação]. Após a publicação do ataque de Nagid contra ele, Ibn Janāḥ
revidou com um violento contra-ataque em um livro que ele intitulou Kitab at-
Tashwir [O Livro da Vergonha].
c A sofisticação da gramática hebraica neste tempo pode ser percebida pelos assuntos que
estavam sendo discutidos: o Qal passivo, um tema examinado independentemente em tempos
modernos por Böttcher e Barth (veja 22.6), o uso do termo Inphial para formas Niphal
transitivas, etc. Tene escreve sobre essa literatura: “O estudo da língua nunca atingira
distinções tão requintadas e refinadas como aquelas encontradas na controvérsia que se
desenvolveu em tomo das obras de Ḥayyuj na época de Ibn Janāḥ e Samuel ha-Nagid”. Acerca
das últimas obras de Ibn Janāḥ, escritas em árabe como todos os seus livros o foram, a mais
importante é Kitâb al-Tanqīḥ (Hebraico, Sepher ha-Diqduq, O Livro da Investigação,
Detalhada). Este consiste de duas partes: Kitāb al-Lumaʿ (gramática) e Kitāb al-Uṣūl (um
dicionário). Tene fala com entusiasmo exagerado sobre o grande Kitāb:
Esta obra em duas partes, com escritos de Ḥayyuj e as obras menores de Ibn
Janāḥ, forma a primeira descrição completa do hebraico bíblico, e nenhuma
obra similar – comparável em objetivo, profundidade e precisão – foi escrita
até os tempos p 36 modernos. Esta descrição constitui o auge do pensamento
lingüístico em toda literatura [gramatical medieval].
Ele resume assim o assunto: “Os autores deste período são os grandes criadores da
lingüística hebraica”.
b Os labores de adaptação culminaram nas obras da família Qimḥi: Joseph, o pai (ca.
1105–1170) e seus filhos Moses e David (1160–1235). Na introdução à seção de seu Sepher
Mikhol (Compendium), tratando de gramática hebraica, David comparou-se a um “respigador
seguindo os ceifeiros”, cuja tarefa era compilar e apresentar, de modo simples e sucinto, as
volumosas descobertas de seus predecessores. Ele selecionou seu material tão
ponderadamente e o apresentou tão eficazmente, que sua obra eclipsou e, eventualmente,
substituiu as obras mais originais e profundas de Ibn Janāḥ e serviu como padrão autorizado
até o século 19. A posteridade abraçou suas obras com tal consideração que um ditado
mishnaico foi adaptado a elas: אם אין קמחי אין תורה, ‘Se não há Qimḥi, não há Torah’.
Somos devedores a Joseph e David Qimḥi pela formulação do atual padrão de vogais longas e
breves em sílabas fechadas e abertas e do relacionamento destas com os shewas mudo e
vocálico; o sistema de graus verbais (binyanim), como é compreendido hoje, foi primeiro
elaborado por eles.
a A literatura lingüística sobre o hebraico do século 10° até o século 15 foi um território
exclusivamente judaico. Com as transformações na cultura européia associadas ao
reavivamento do aprendizado clássico e à reforma da igreja cristã, a gramática hebraica
transferiu-se para os eruditos cristãos. O novo interesse da igreja no que ela chamava de o
Antigo Testamento foi uma das razões para que os judeus perdessem o interesse. Alegando
que Mikhol marca o fechamento da “Era de Ouro” da filologia hebraica medieval, William
Chomsky escreve:
A maioria dos eruditos judeus das gerações subseqüentes considerou o estudo
de gramática como um desperdício de tempo e alguns até consideravam tal
estudo como uma heresia. Mesmo o estudo da Bíblia começou a ser reputado
como de importância secundária e estava gradualmente diminuindo a uma
proporção tal que um rabino alemão do século 17 reclamou que havia certos
rabinos em sua geração “que nunca tinham visto um texto da Bíblia durante
toda sua vida”.
c Embora os escolásticos da Idade Média Alta e Tardia não acreditassem que a Escritura
tivesse um sentido único e simples, como os reformadores acreditavam, alguns deles
sustentavam p 39 que seu sentido fundamental deve ser averiguado em todos lugares
conforme os princípios da gramática e do discurso humano; só então outros sentidos serão
considerados. Nicholas de Lira (m. 1349) foi criterioso ao insistir em que todos os sentidos
pressupõem o sentido histórico e gramatical como seu fundamento e norma. Seguindo Hugo
de São Vitor (m. 1141) e outros eruditos da escola vitorina, Nicholas reclamou que o sentido
histórico tinha se tomado muito obscurecido em virtude da prática generalizada de ignorá-lo
em favor da exegese mística. Esses escolásticos recapturaram o pensamento de Agostinho e
especialmente de Jerônimo – que tinha estudado hebraico com rabinos judeus em Israel há
quase mil anos – pela influência de eruditos judeus, especialmente Rashi.
d A despeito dos vários contatos entre eruditos judeus e cristãos durante o período
medieval, nenhum nome se destaca na história dos “estudos hebraicos cristãos entre Jerônimo
e Johann Reuchlin”. Reuchlin é uma figura completamente humanística. Sua breve Rudimenta
não se baseia tanto na obra Mikhol de David Qimḥi como na obra elementar de Moses Qimḥi,
Mahalakh Shebile ha-Daʿat (A Jornada nas Veredas do Conhecimento), a primeira gramática
hebraica impressa (Soncino, 1489). O valor de Reuchlin não repousa no conteúdo de sua
gramática simples, mas nos seus esforços pioneiros e em sua atividade planejada. Lutero
aprendeu hebraico usando ou a obra Mikhol de Qimḥi ou as Rudimenta de Reuchlin. Conrad
Pellicanus (1478–1556), um monge dominicano que aprendeu hebraico por si mesmo sob as
mais árduas circunstâncias, efetivamente escreveu a primeira obra de gramática hebraica em
latim (1503 ou 1504). Pellicanus ensinou o reformador suíço Wolfgang Capito (1478–1541)
que, por sua vez, ensinou João Calvino.
a Entre os fatores que incitaram o trabalho iniciado efetivamente por Reuchlin estavam a
expansão da imprensa e as controvérsias na igreja. O erudito judeu itinerante Elijah Levita
(1468–1549) exerceu um papel especial. Seus livros incluem um comentário sobre a gramática
de Moses Qimḥi (1504), sua própria gramática (1517) e seus estudos sobre a massorá (1538).
Seu contato pessoal com eruditos cristãos foi também importante; entre seus alunos estava
Sebastian Münster (1489–1552), professor em Basle de 1529 em diante, que traduziu suas
obras para o latim. Levita transportou o grande lastro de filologia judaica medieval com o selo
quimḥiano para as universidades cristãs.
b O século 16 foi o primeiro grande século de estudo gramatical moderno. Perto do fim do
século, John Udall produziu a primeira gramática hebraica em inglês (1593), uma tradução da
gramática de Pierre Martinez escrita em latim (1567). Em tempo, a busca humanística pelo
hebraico cedeu lugar a interesses teológicos; cadeiras vieram a ser ocupadas por homens com
treinamento teológico.
d O gramático cujo trabalho desfrutou a mais larga aceitação e influência tanto em seu
próprio tempo como desde então foi (Heinrich Friedrich) Wilhelm Gesenius (1786–1842),
professor em Halle. Seu léxico, Thesaurus linguae hebraicae (publicado de 1829 a 1858), foi
sucessivamente revisado e alcançou proporções clássicas na 17° edição, editada por Frants
Buhl (1921). Uma edição anterior foi usada como a base para o dicionário de inglês de Francis
Brown, Samuel Rolles Driver e Charles A. Briggs (1907). A gramática de Gesenius, Hebräische
Grammatik (1813) passou por muitas transformações profundas. Ele produziu 13 edições e
Emil Kautzsch fez as 7 seguintes. Os editores posteriores da obra de Gesenius tiveram de levar
em consideração o vasto conhecimento de línguas e literatura do antigo Oriente Próximo que
estava sendo descoberto pelas pás de arqueólogos infatigáveis e sua decifração por lingüistas
brilhantes. A gramática de Gesenius ainda permanece como a obra de referência padrão hoje,
com numerosas emendas e revisões, e em várias edições.
b Pela comparação do hebraico com outras línguas semíticas e pelo trabalho com a
evidência interna do próprio hebraico tornou-se possível remontar aos primeiros estágios da
língua e traçar vários desenvolvimentos posteriores – mishnaico, medieval e, eventualmente,
hebraico moderno. Esta abordagem revolucionária do hebraico apareceu primeiro nas
gramáticas de Justus Olshausen (1861) e Bernhard Stade (1879). Ela alcançou proporções
clássicas na sintaxe de Eduard König (1897), na gramática de Hans Bauer e Pontus Leander
(1922), na 29° revisão da gramática de Gesenius por Gotthelf Bergsträsser (1918) e na
gramática de Rudolf Meyer (1966).
p 44 3
Conceitos Básicos
3.1 Introdução
3.2 Significação
3.1 Sons
3.2 Morfemas
3.3 Sintagmas
3.4 Variação
3.5 Compreensão
3.1 Introdução
3.2 Significação
b Os lingüistas usam outros termos para descrever o caráter dual ou a dupla articulação da
língua, além de signifiant/signifié e as entidades semióticas/entidades semânticas. Louis
Hjelmslev formulou a diferença envolvendo expressão e conteúdo. Outros pares correlatos
incluem sentido versus referência e sistema (intralingüístico) versus referente
(extralingüístico). Não importa como os dois aspectos da língua são vistos, o discernimento de
Saussure de que há dois aspectos é básico. Semelhantemente básica é p 46 sua observação
de que o relacionamento entre os dois aspectos é em extremo arbitrário: não há nada acerca
da substância mel que a leve a ser chamada de ( דבשem hebraico) ou honey (em inglês) ou
miel (em francês) ou mi-t’ang (em chinês). Na verdade, Saussure acreditava que a ligação entre
significante e significado era inteiramente arbitrária, mas esta visão é provavelmente muito
exagerada.
a A língua pode ser analisada em categorias mais amplas de palavras (lexis) e suas relações
(gramática). A gramática envolve o conjunto fechado de sistemas determinados por signos
intralingüísticos, o código; palavras freqüentemente são signos que apontam para a realidade
extralingüística. Um código de língua, ou gramática, consiste de, pelo menos, três sistemas:
sons, formas e sintagmas (i.e., relacionamentos de palavras umas com as outras no fluxo de
um enunciado). O conjunto de palavras não é “fechado”, mas “aberto”, embora não seja
infinito. Novas palavras podem ser cunhadas e novos sentidos podem surgir, de acordo com
padrões mais ou menos estabelecidos. Em geral, os falantes não estão livres para reconstruir a
gramática, mas estão livres para escolher as palavras que representam sua experiência. M. A.
K. Halliday refere-se à gramática como determinista, em contraste com o vocabulário, que é
probabilista.
b Uma forma de ver a oposição gramática/lexis está baseada nas classes de palavras.
Nessa concepção, há duas classes de palavras, a maior, classe aberta de palavras com
referência extralingüística versus a menor, classe fechada de “palavras gramaticais”; estas são
às vezes chamadas de “vocábulos plenos” versus “vocábulos formais”. Vocábulos plenos
incluem substantivos, tais como “árvores”, “tios”, “dentes”, “animais”; verbos, tais como
“crescer”, “correr”, “morder”, “vagar”; qualificadores, tais como “grande”, “bom”, “saudável”,
“perigoso”; e conectores, tais como ‘para cima’, “para baixo’, ‘sobre’, ‘através’. Assim, por
exemplo, as orações “A vaca saltou sobre a lua” e “A porca pisoteou o quarto” compartilham a
mesma gramática: as mesmas formas significativas (e.g., o artigo definido, a terminação –ou
para o tempo passado) e a mesma sintaxe significativa (sujeito + predicado + frase adverbial),
mas as palavras apontam para experiências totalmente diferentes. Palavras de código
intralingüístico podem ser ilustradas por ‘to’ na oração inglesa ‘He wanted to run’ (Ele queria
correr) e ‘did’ em ‘I did not go’ (Eu não fui). O falante não escolhe livremente tais palavras; elas
pertencem ao código. A distinção entre vocábulos formais e palavras plenas não é absoluta;
para alguns propósitos, o vocábulo ‘not’, na última oração, pode ser considerado um vocábulo
p 47 formal, enquanto que para outros propósitos pode ser melhor vê-lo como um vocábulo
pleno. Em hebraico, palavras como ַּה, ֲאשֶרe ֶאת pertencem ao sistema e recebem um
melhor tratamento numa gramática do que num léxico.
a “A língua é um uso infinito de meios finitos”, disse o pensador alemão Wilhelm von
Humboldt. O material que pode ser “introduzido” na língua é interminável – é impossível
nomear um número finito que não pode ser ultrapassado – mas o código usado para
comunicar este material é finito. O código de uma língua não é nada simples, mas é muito mais
sofisticado do que a maioria dos outros sistemas semióticos como, por exemplo, os dos gestos
faciais ou dos modos de vestir. A despeito desta sofisticação, a língua usa um número pequeno
de recursos.
b Desde que o código da língua seja finito, os elementos do código devem ser usados em
uma variedade de maneiras. Com freqüência, um signo tem mais de um significado e, por isso,
é chamado polissêmico. No inglês falado, /tu/ é polissêmico; três significados p 48 principais
podem ser distinguidos na pronúncia –to, two e too. Considere as seguintes orações, cada uma
delas usando a palavra ‘com’.
Nas primeiras duas orações, a preposição significa ‘junto com’, em um caso significando
‘em companhia de’ e em outro ‘em associação com’; no terceiro caso ela significa ‘por meio
de’. O mesmo fenômeno ocorre com outros tipos de entidades gramaticais. Por exemplo,
Beekman e Callow analisaram mais de trinta sentidos para o genitivo grego.
b Esta divisão tripartida, embora tradicional, não é a ideal nem do ponto de vista de um
lingüista nem do ponto de vista de um semitista. O lingüista em geral tem duas objeções.
Primeira, os blocos de construção ou unidades de fonologia são arbitrários: sons em si mesmos
não têm significado algum e esse fato separa o estudo de sistemas de sons do estudo de
outras realidades lingüísticas. Segunda, a análise do domínio sintático é difícil: deveria ser dada
atenção primariamente a frases, ou a orações e períodos ou a blocos de enunciados maiores
(i.e., discursos ou textos)? Somente o estudo de blocos de enunciados maiores permite-nos
explicar, por exemplo, aspectos de referência temporal e narrativa ou funções retóricas (p. ex.,
expressões lingüísticas de subserviência ou sarcasmo).
d Apesar desses dois conjuntos de objeções, a divisão tripartida é um esquema útil, não
obstante reconhecida por todos os gramáticos como uma estrutura conveniente e às vezes
reveladora. Discutiremos os três níveis básicos mencionados e então voltaremos brevemente
ao trabalho realizado sobre um nível discursivo ou textual. Ao término deste exame, adotamos
algumas abordagens que atravessam os níveis lingüísticos e revelam o que eles têm de
comum.
3.3.1 Sons
a O sistema mais básico do código lingüístico envolve os sons em si. Um som produzido
pelo aparelho fonador pode ser chamado fone, e os sons são estudados na ciência da fonética.
De grande interesse para o lingüista é o conjunto de sons realmente usados por uma
determinada língua, o conjunto de fonemas, e os modos pelos quais eles são usados; o
conjunto destes padrões de usos é chamado a fonologia de uma língua, tal como o estudo dos
padrões.
b Um fonema é um som ou uma unidade de fala que faz uma diferença, isto é, ele pode
distinguir uma palavra de outra. As palavras inglesas ‘pit’ e ‘pin’ diferem apenas nos sons
finais, o t e o n; assim, dizemos que t e n são fonemas em inglês. O par de palavras ‘bit’ e ‘pit’
mostram que b e p são fonemas em inglês; um par assim é chamado de par mínimo. Para
muitos falantes do inglês americano ‘pen’ e ‘pin’ são distintos, e para esses falantes as duas
vogais ε e I são fonêmicas. Para muitos outros, contudo, ‘pen’ e ‘pin’ soam iguais, e apenas a
vogal I é usada. Observe que estes falantes usam a vogal I em palavras como ‘rent’, ‘sent’ e
‘went’, onde o primeiro grupo de falantes usa a vogal de ‘pen’; não há problema com estas
palavras, como às vezes há com os pares ‘pen’/‘pin’, porque não existem palavras que tenham
um mínimo contraste com ‘rent’, ‘sent’ e ‘went’.
c O fonema não é um som como ele é produzido na garganta e na boca de um falante, mas
antes uma abstração baseada em como os falantes usam o som nas palavras de uma língua.
Fonemas, os sons mínimos significativos em uma língua, não existem como tais; eles são o
conjunto de sons que produzimos e ouvimos em nossa língua, independentes de obstáculos
tais como ruído de fundo ou idiossincrasia. Os falantes de uma língua podem variar
tremendamente e ainda conseguir entender um ao outro, porque cada qual intuitivamente
conhece o sistema de som da língua e interpreta o fluxo da fala em termos desse sistema.
3.3.2 Morfemas
a Um fonema é um som que serve para contrastar significados e o nível fonêmico de
análise é o mais básico; o nível acima é o morfêmico. Um morfema é uma unidade mínima de
fala que é recorrente e significativa. Ele pode ser uma palavra (‘formiga’, ‘rinoceronte’) ou um
afixo a uma palavra (p. ex., o prefixo negativo in-, como em ‘inesperado’, ‘indisponível’ ou o
sufixo plural –s, como em ‘livros’, ‘botas’). Um morfema livre pode figurar sozinho, por
exemplo ‘mar’, ‘azul’; um morfema aglutinado não pode ser usado por si próprio, como no
caso dos afixos. Alguns morfemas têm várias p 52 formas e estas são chamadas alomorfes ou,
com menos freqüência, simplesmente morfes. Por exemplo, a palavra ‘felizmente’ contém dois
morfes: feliz e o sufixo formador de advérbio –mente.
3.3.3 Sintagmas
a A maioria dos lingüistas toma o período como limite superior de seu campo de estudos,
consignando a consideração de unidades maiores a folcloristas ou críticos literários. Os
semitistas, como observado antes, tenderam a focalizar a oração. Assim, o estudo da sintaxe é
tido como o estudo do uso de palavras, frases ou orações individuais. Porém, recentemente,
muitos teoristas têm expresso insatisfação com essa limitação. Em parte eles têm sido
estimulados por um desejo de estudar sistematicamente certas facetas do uso lingüístico que
filósofos, antropólogos e críticos literários têm observado. Esses eruditos têm visto que a
determinação contextual ou enunciativa do sentido de uma oração segue certos padrões.
Polidez, por exemplo, tem consequências lingüísticas distintas e, argumenta-se, a lingüística
deveria ser capaz de descrevê-las. Em parte, aqueles que rejeitassem os limites padronizados
em lingüística seriam motivados por um desejo de elucidar problemas de referência: o sistema
de pronomes, por exemplo, não pode ser examinado propriamente em períodos isolados, mas
apenas em uma série de períodos.
Nos trabalhos anteriores, a análise de discurso era reputada como uma opção
aberta ao estudante de uma determinada língua, contanto que ele estivesse
interessado, e contanto que ele tivesse um bom começo na estrutura de níveis
mais baixos (palavra, frase, oração). Mas… todo trabalho… sobre níveis mais
baixos está carente em perspectiva e encontra uma frustração inevitável
quando os níveis mais altos – especialmente discurso e parágrafo – não foram
analisados. Alguém pode descrever a morfologia verbal de uma língua, mas
onde se usar uma determinada forma? … Alguém pode descrever as
permutações lineares do predicado, do sujeito e do objeto, mas que fatores
controlam a ordenação alternativa de palavras? Alguém pode recitar a lista de
conjunções que figuram no início de orações, mas onde se usar qual? … Para
resolver estes e outros problemas precisa-se da perspectiva de discurso.
e Resistimos aos vigorosos clamores dos gramáticos discursivos em parte pelas razões
teóricas e práticas mencionadas antes: a maior parte da sintaxe pode ser e tem sido descrita
com base em frase, oração e período. Além do mais, é evidente que a análise do discurso
hebraico está em sua infância. Como um infante, ela oferece pouca ajuda para muitos
problemas de gramática que ainda não têm sido bem compreendidos. Muitos tradutores,
pensamos ser justo dizer, agem instintivamente ao interpretar as conjugações hebraicas. Os
gramáticos de hebraico só recentemente vieram apreciar morfemas tão diversos como o
“marcador de objeto” את e o mem enclítico. Além disso, nenhuma gramática moderna
começou ainda a reunir a riqueza de estudos individuais que têm sido realizados em um
arcabouço mais tradicional; assim, não é surpresa que alguns estudantes pouco saibam acerca
das funções de caso, e alguns comentaristas cometam erros notórios em suas interpretações
de preposições. Para nossos propósitos, portanto, estamos felizes em ficar com as bases mais
tradicionais do que com as da gramática discursiva.
a Cada um dos níveis lingüísticos envolve unidades ou elementos. Para analisar como um
dado nível funciona, os tipos de unidades devem ser isolados. Em fonologia os sons são
reconhecidos e as características principais atreladas a eles – tom, altura ou intensidade – são
descritas. A morfologia estuda as classes de palavras e os processos formativos associados a
elas. A sintaxe dedica-se aos tipos de frases, orações e períodos.
d O papel do estruturalismo foi alterado nos anos recentes. Nas “ciências humanas” o
estruturalismo é visto, um pouco incorretamente, como antiquado, e novas abordagens são
chamadas de “pós-estruturalismo”. Lingüistas, em contraste, têm visto os métodos
estruturalistas como ferramentas que podem capacitá-los a voltar a uma abordagem anterior
com uma reserva imensamente aumentada de dados. Agora é possível usar uma base
comparativa na avaliação de uma dada língua, onde a base não é meramente o latim ou
algumas línguas, mas uma amostra amplamente representativa de toda língua. Nem todas as
línguas têm sido estudadas, sem dúvida, mas o suficiente tem sido descrito em detalhes, de
modo que poucas surpresas são esperadas. Estudos em línguas universais e tipologias
lingüísticas, cujos caminhos foram abertos por Joseph H. Greenberg, têm assumido
recentemente um papel destacado em lingüística.
3.4 Variação
a A língua varia ao longo dos mesmos parâmetros como os outros aspectos da cultura
humana, isto é, ela varia através do tempo, de acordo com o contexto geográfico, social e p 58
político, e junto com idade, gênero e relacionamento entre usuários. Variação histórica é o
tipo mais óbvio: nosso português não é o de Camões e o hebraico moderno não é a língua de
Ezequiel. Discutimos alguns aspectos da história do hebraico no capítulo 1, e lá aludimos à
oposição sincrônica/diacrônica. Na visão de Saussure, o estudo de um determinado estado da
língua num dado tempo (estudo sincrônico) é um empreendimento diferente do estudo da
relação de vários estados de uma língua (estudo diacrônico). Como argumentamos antes, uma
variedade de problemas toma difícil um estudo estritamente sincrônico ou diacrônico do
hebraico bíblico. A despeito da padronização e homogeneidade refletida no texto bíblico, é
possível apreciar aspectos de mudança histórica dentro dele. Desde a Segunda Guerra
Mundial, lingüistas perceberam muitos outros tipos de variação no uso lingüístico, e esses,
também, podem ser relevantes para o estudo do hebraico.
f Outras fontes de variações lingüísticas parecem ter deixado alguns poucos traços na
Bíblia, e estudos posteriores podem ser frutíferos. Primeiro, urbano versus rural: a fala não-
urbana é freqüentemente mais conservadora do que a dos moradores da cidade,
especialmente a elite ou os grupos instruídos. Segundo, homem versus mulher, e empregado
versus patrão: as situações sociais diferentes dos gêneros e das classes podem afetar suas
falas. Terceiro, jovem versus idoso: o desenvolvimento histórico da língua é ordenado pouco a
pouco na fala de todos os falantes como eles a dominam e amadurecem em seu uso. O estudo
destes e de outros tipos lingüísticos de variação na Bíblia é complicado por questões de gênero
e uso literário.
3.5 Compreensão
Substantivos Adjetivos
Atributivos
בַּת טֹוב
ָגמָל נָבָל
דָ בָר ִראשֹון
p 61 Cada grupo é uma amostra das classes paradigmáticas, e desde que as classes sejam
aquelas especificadas na relação sintagmática “substantivo + adjetivo atributivo”, todas as 16
combinações possíveis deveriam estar sintagmaticamente disponíveis. As frases com בַּת
devem requerer que o adjetivo esteja no gênero feminino. Não podemos estar certos de que
frases não-atestadas seriam efetivamente boas em hebraico; ָגמָל נָבָל poderia parecer
redundante – não são todos os camelos tolos? Tal julgamento seria uma matéria de semântica.
c Os eruditos há muito suspeitaram de que um período pode ter traços que são básicos a
ele, embora não estejam aparentes na forma superficial. Noam Chomsky distinguiu entre
“estrutura superficial” e “estrutura profunda”. Ele definiu a estrutura superficial de um
período como a seqüência linear de elementos; a estrutura profunda, que não precisa ser
idêntica à estrutura superficial, é vista como uma representação de relações gramaticais mais
abstrata. A distinção entre estes dois níveis da língua tem sido responsável pela enorme
quantidade de pensamento lingüístico desenvolvido sob o título de gramática gerativo-
transformacional e vários desenvolvimentos mais recentes.
Desde que haja muitas coisas e experiências no domínio extralingüístico que as pessoas
compartilham universalmente, a visão medieval de Bacon talvez não seja surpreendente.
Assim, em parte por causa das propriedades universais da língua em sua dimensão mais
profunda, abstrata e não-física, nós, como falantes e leitores do português, estamos aptos
para entender hebraico.
p 63 4
Unidades Gramaticais
4.1 Introdução
4.2 Palavra
2.1 Definição
4.4 Sujeito
4.5 Predicado
4.6 Modificadores
6.1 Modificadores Adjetivos
4.8 Período
4.1 Introduçáo
שְך
ֵּ ֲהשָלֹום לְָך ֲהשָלֹום ְלאִיVai tudo bem contigo? Teu marido vai bem? O
menino vai bem?
2 Reis 4.26
p 64 Essa resposta pode ser considerada uma palavra, uma oração (do tipo reduzido tratado
abaixo), e um período simples. Esse elemento de sobreposição entre as unidades é bastante
útil na análise. Desde que unidades superiores dependem de unidades inferiores, vamos
apresentá-las em ordem ascendente. Já tendo esclarecido a noção de morfema, começaremos
neste capítulo com a palavra.
4.2 Palavra
4.2.1 Definição
a Palavras podem ser classificadas de acordo com o modo como elas funcionam (i.e., de
acordo com sua distribuição) nas unidades superiores, frase, oração e período. Essa
classificação refere-se às relações sintagmáticas entre os diversos tipos de palavras e os p 65
diversos tipos de ordens de palavras possíveis em unidades superiores. Em português, ‘o
cachorro preto’ (artigo + substantivo + adjetivo) é uma frase aceitável, mas ‘cachorro preto o’
(substantivo + adjetivo + artigo) não é aceitável. Similarmente, a combinação de palavras nas
orações seguintes é aceitável:
Por outro lado, ninguém encontrará orações como estas entre os usuários da língua
portuguesa:
O artigo ‘o’ ocorre a algumas palavras e não a outras, e as mesmas espécies de restrição são
impostas a outras palavras. Ao observar palavras que possam ocorrer em ambientes
comparáveis, podemos agrupá-las em classes. De um modo formal, podemos agrupar as
palavras destas orações como:
Classe T: o
c Os gramáticos têm abstraído valores irreais para essas classes; por exemplo, diz-se que a
classe dos substantivos significa normalmente pessoas, lugares e coisas; a classe dos adjetivos
atribui uma qualidade ao substantivo, etc. Subclasses semânticas são, também, descritas de
acordo com valores irreais. Membros do Substantivo (a) classe citada acima pertencente à
classe de “substantivos animados”, enquanto que o exemplo do Substantivo (b) classe é um
“substantivo inanimado”. O modo pelo qual classes de palavras são imaginariamente rotuladas
é matéria distinta dos procedimentos lingüísticos usados para isolar as classes; os rótulos
podem ser em si mesmos enganadores. Por “classes de palavra” queremos dizer ambos, as
classes às quais as palavras pertencem em bases distribucionais formais e o abstrato, noção
comum pertencente à classe. Em p 66 hebraico, os termos principais do discurso são o
substantivo e o verbo; os adjetivos pertencem à classe dos nomes, juntamente com os
substantivos; os advérbios são uma classe pequena. As categorias de preposição e conjunção
se sobrepõem; estas duas, juntamente com alguns advérbios, são com freqüência
simplesmente chamadas de partículas. A classe de exclamações e interjeições, por exemplo,
‘ הֹויai’, ‘ ָח ִֶּ֫לילָהlonge com isto!’, ‘ נָאeu rogo’, ‘por favor’ é de menor importância.
d As classes de palavras têm definições misturadas, em parte baseadas em fatores
semânticos ou referenciais e em parte baseadas em várias características formais. Não existe
qualquer esquema universal único das classes de palavras, tampouco qualquer conjunto de
associações entre as classes de palavras e os sintagmas, mais complicados do que as frases.
Visto que a sintaxe, como a estamos apresentando aqui, é o estudo sistemático de como as
palavras são usadas, alguns aspectos da história da classificação de palavras são dignos de
serem mencionados. O sistema de classe de palavras remonta aos tempos helenísticos (sua
continuidade com os modelos do antigo Oriente Próximo permanece inexplorada) e, embora
os papiros gramaticais do Egito mostrem que os sistemas assumiram muitas formas diferentes,
a tradição o atribui a Dionísio Traxe (ca. 100 a.C.). O esquema completo reflete tanto o
pensamento filosófico estóico clássico como o posterior, mas Dionísio e os autores dos papiros
são mais propriamente gramáticos do que filósofos. Há uma base tríplice: o grego onoma ‘a
nomeação’, rhēma ‘a fala’ e syndesmos ‘a ligação’; sob estes três títulos podemos arranjar as
oito categorias de Dionísio:
2. interjeição
3. advérbio
a ligação 6. preposição
7. conjunção
8. pronome
Verbo
nome próprio
pronome
f Não é nosso propósito defender uma lista particular, mas, antes, ressaltar a utilidade de
uma abordagem centrada em classe de palavras a despeito de suas origens mescladas. Essas
origens poderiam ser encobertas ou superaradas, se indicadores estritamente formais fossem
encontrados para substituir os fatores referenciais. Não fizemos assim porque o peso do
testemunho tradicional é parte de nossa segurança, de que as classes de palavras facilitam o
mapeamento e a compreensão da sintaxe. E ainda, porque o referencial histórico de termos
como “substantivo” e “verbos” permanece, a dificuldade de mudar da classe de palavras para
o sintagma surge indefinidas vezes. Acreditamos que a alternativa seja uma gramática na qual
os elementos se combinem suavemente em sintagmas, mas os próprios elementos não são
reconhecíveis aos leitores sem uma preparação especial (em geral) no novo e limitado
arcabouço teorético. Um arcabouço estritamente sintagmático (ou estritamente
paradigmático) seria pouco razoável e, suspeitamos, menos acessível para “trabalhar sem
dados” (na frase de T. O. Lambdin).
b Um outro sentido diferente de frase também é proveitoso. Neste sentido, uma frase
inclui uma palavra regente e ela a tudo rege. Uma frase preposicional é uma preposição e seu
objeto; uma frase participial é um particípio e as palavras que ele rege, seja no construto ou
por meio de uma preposição; e uma frase construta inclui todos os substantivos numa cadeia
construta.
c Observamos no Capítulo 3 que a língua serve como um meio ou código pelo qual um
falante comunica pensamentos ou experiências a uma audiência. Uma oração designa um
enunciado no qual o falante faz um comentário sobre um tópico. O tópico é chamado “o
sujeito” e o comentário “o predicado”. O sujeito é expresso por um substantivo ou um
equivalente; o predicado de uma oração verbal é um verbo ou um equivalente, enquanto que
o de uma oração não-verbal é um complemento substantivo.
4.4 Sujeito
Pv 14.16
5. ֹלא־טֹוב
֑ ָאכ ֹל דְ בַּש ה ְַּרבֹותComer muito mel não é bom.
Pv 25.27
Gn 30.15
7. ְואִם ַּרע ְבעֵּינֵּיכֶם ַּלעֲב ֹד אֶ ת־Se servir YHWH vos parece mal…
יהוהJs 24.15
p 70 (7) Advérbio
8. ה ְַּרבֵּה נָפַּל מִן־ ָהעָםMuitos caíram das tropas.
2Sm 1.4
(a) aposição, a justaposição assindética de dois ou mais substantivos com um único referente
extralingüístico
Jz 19.1
(b) hendíade, a justaposição de dois substantivos com um único referente, com ou sem a
conjunção; compare com # 10 a expressão portuguesa ‘agressão e lesão corporal’.
Jr 6.7
(c) coordenação (um sujeito composto), a coordenação de vários substantivos com referentes
diferentes
Gn 3.8
12. שנֵּיהֶם
ְ וַּתִ ָּפ ַּק ְחנָה עֵּינֵּיOs olhos de ambos se abriram.
Gn 3.7
(2) Uma frase preposicional usada como um sujeito geralmente é uma frase partitiva,
introduzida por ‘ מִןde’, tanto em frases deste tipo como ‘(algo) de’ ou após um negativo ‘(nem
mesmo um) de’.
2Rs 9.33
14. ּו ְלשָאּול ֻהגַּד כִ ָֽי־נִ ְמלַּט ָדוִדFoi anunciado a Saul que Davi
fugira.
1Sm 23.13
a Às vezes o tópico de uma oração não tem em vista referência particular a pessoa (s). Em
tais casos de sujeito indefinido, a língua portuguesa, exigindo em sua estrutura p 71
superficial que um substantivo ou seu equivalente expresse o sujeito, provê um “falso” sujeito,
seja ele um substantivo (p. ex., ‘homens’, ‘povo’), um pronome (‘eles’, ‘seu’), ou um adjetivo
(‘único’); nenhum destes tem um referente extralingüístico em vista.
Em hebraico, sujeitos indefinidos podem ser expressos por formas ligadas do pronome na
terceira pessoa com um verbo finito; se um particípio é usado em tal construção, ele
usualmente está no plural. O verbo finito pode estar no singular ou no plural, ativo (cf. 22.7)
ou passivo; a construção plural ativa é a mais comum.
1. שמָּה ָבבֶל
ְ עַּל־כֵּן ק ָָראPortanto alguém chama seu
nome Babel (ou, homens ou
pessoas chamam-na Babel).
Gn 11.9
Gn 4.26
Jr 38.23
A construção impessoal (na qual o tópico é a condição expressa pelo predicado) é tratada em
22.7a.
4.5 Predicado
Ag 1.6
Ez 13.22
Rt 3.12
c Numa oração não-verbal (ou nominal) não existe marcador verbal de predicação. O
hebraico, como muitas outras línguas, incluindo o latim e o grego clássico, pode predicar um
adjetivo ou substantivo diretamente, sem uma cópula (i.e., alguma forma de היה, que
corresponde ao verbo ‘ser’). Em línguas onde a cópula pode ser opcional, ela é usualmente
requerida se o comentário é feito no tempo passado ou no tempo futuro, em contraste com o
tempo presente (ou em algum modo diferente do indicativo), ou se a situação deve ser
realçada. A função principal da cópula é então marcar na estrutura superficial o tempo, o
modo ou o aspecto. John Lyons observa:
[Qualquer verbo equivalente a] “ser” não é ele mesmo um constituinte de
estrutura profunda, mas um “falso verbo” semanticamente vazio gerado pelas
regras gramaticais de [certas línguas] para a especificação de certas distinções
(usualmente “carregadas” pelo verbo) quando não há outro elemento verbal
qualquer que porte estas distinções. Orações que são temporais, modais e
aparentemente “não-marcadas”… não necessitam de “falso” portador.
Gn 31.52
(4) Advérbio
9. שם
ָ כִי ֶֶּ֫זבַּח ַּהיָמִיםO sacrifício anual está lá.
1Sm 20.6
(5) Frase preposicional adverbial
Gn 26.20
4.6 Modificadores
A expessão preferida dentre essas em hebraico é a constructa, ( אֱֹלהֵּי ַּהנֵּכָרGn 35.2, etc.).
Uma dessas formas ou construções pode ser escolhida quer por razões de estilo, quer por
ênfase, ou devido a fatores lingüísticos. Aqui estão alguns exemplos de construções adjetivas:
(1) Adjetivo
1. … ְו ָה ַּלכְתָ ַאח ֲֵּרי אֱֹלהִים ֲאח ִֵּריםe (se) vós sequis outros
deuses
Dt 8.19
p 74 (2) Particípio
Dt 4.24
Gn. 6.18
Sl 23.2
1Cr 28.18
(6) Aposição
6. ו ֶַּּּ֫י ֹאמֶר ֶַּּ֫קי ִן אֶל־ ֶֶּ֫הבֶל ָאחִיוCaim disse a Abel seu irmão …
Gn 4.8
(7) Hendíadis
7. שכָן
ְ ב ְֶּ֫א ֹהֶל ּו ְב ִמComuma tenda como minha
habitação (lit., uma tenda e
habitação)
2Sm 7.6
Nm 19.14
9. וַּתִ תֵּ ן גַּם־ ְלאִישָּה ִעמָּהE ela deu também (um pouco)
ao seu marido (que estava) com
ela.
Gn 3.6
1Sm 2.33
4.6.2 Modificadores Adverbiais
b Quando um substantivo modifica um verbo, diz-se que ele está na “função acusativa”,
uma construção tratada no Capítulo 10. Basta aqui notar que há dois tipos principais de
acusativo: objeto direto e adverbial.
Gn 1.27
Gn 41.40
Um infinitivo construto (36.2.1) pode ser usado como um objeto direto, como um
complemento verbal ou numa frase preposicional.
3. ֹלא ֵּאדַּ ע צֵּאת וָב ֹאEu não sei (como) sair, nem
como entrar (objetos).
1Rs 3.7
Nm 22.6
Nm 35.19
Um infinito absoluto (35.3.3) pode ser usado como um objeto direto ou como um advérbio.
Is 1.17
Jr 22.19
Em alguns casos um verbo pode modificar outro verbo sem estar em uma oração subordinada;
o verbo שובfreqüentemente é usado nesta função quase-auxiliar (39.3.1).
p 76 12. ַּו ֶָּּ֫ישָב י ִ ְצחָק ַּוּיַּחְּפ ֹר ֶאת־ ְבאֵּר ֹתEIsaque reabriu os poços (lit.,
Isaque voltou e abriu …).
Gn 26.18
a Nas orações que consideramos até agora, o sujeito e o predicado dividiam a oração entre
si. Algumas orações simples contêm outros elementos, o nominativo absoluto, que não tem
equivalente no português regular, ou o vocativo.
Gn 34.8
O absoluto pode também estar associado como possuidor do objeto direto da oração.
O absoluto pode referir-se ao objeto direto da oração ou ao objeto direto de uma frase
preposicional na oração.
Gn 24.27
4. ֶּ֫ש ֹ ֶרש יִשַּי ֲאשֶר ע ֹ ֵּמד ְלנֵּס ַּעמִיםQuanto à raiz de Jessé que está
ֵּאלָיו גֹוי ִם י ִדְ ֑רשּוposta por estandarte para os
povos – as nações recorrerão a
ela (objeto preposicional).
Is 11.1
2Rs 1.4
6. כִי ְמעַּט ֲאשֶר־ ָהי ָה לְָך ְל ָפנַּיNo tocante ao pouco que tinhas
ַּוּיִפְר ֹץ לָר ֹבantes da minha vinda, (ele) foi
aumentado grandemente.
Gn 30.30
8. ש ֶַּּ֫ב ְע ָת
ְ ִ ֲאדֹנִי ַּאתָ ה נMeu senhor, tu juraste…
1Rs 1.17
Mq 1.2
4.8 Período
c Em sua obra sobre o hebraico, Andersen estabeleceu a definição, “Uma sentença é uma
construção gramaticalmente auto-suficiente”, isto é, “As funções gramaticais de todos os
constituintes em um período podem ser descritas em termos de relações com outros
constituintes no mesmo período”. Esta definição é semelhante à nossa noção de período como
a unidade que comporta o “maior grau” em análise de composição. Mas a definição de
Andersen ainda não está teoricamente satisfatória; ele mesmo reconheceu mais tarde: “A
integralidade gramatical… pode demonstrar ser tão difícil de estabelecer como a integralidade
de pensamento”.
e Definições como estas têm a vantagem de definir o período como uma unidade
lingüística composta de unidades lingüísticas identificáveis e menores. Mais particularmente,
podemos definir um período como uma forma lingüística composta de uma ou mais orações.
Se há múltiplas orações, elas estão ligadas por conjunções, p 79 significando que, juntas, elas
compõem uma unidade gramatical, embora devamos permitir que o discurso seja mantido
coeso por padrões de “conjunções macros-sintáticas”, da mesma maneira que por padrões de
“conjunções microssintáticas”, que ligam orações dentro de um período (Cap. 38). Uma
definição completa de período, que não empreenderemos oferecer, deveria incluir uma
declaração de como ele difere do enunciado macrossintático de discurso.
f Definimos um período como uma unidade lingüística não tão grande como um discurso,
porém maior do que aqueles elementos gramaticais que não podem existir
independentemente, mas são sintaticamente dependentes uns dos outros dentro dessa
unidade lingüística maior, a saber, a oração, a frase, a palavra e o morfema.
g Os períodos podem ser incompletos. Algumas das unidades menores, incluindo uma
unidade maior, são deixadas para ser inferidas do contexto; na estrutura superficial de um
enunciado, as palavras que precisam “ser supridas” para torná-lo numa construção típica são
chamadas de elididas. As palavras são prontamente supridas do contexto circundante (no
enunciado ou na situação) e dos sistemas gramaticais conhecidos como característicos da
língua. Às vezes a conjunção que liga tanto orações como períodos é elidida; outras vezes um
dos outros elementos de uma oração é elidido, como o sujeito ou o predicado.
h Um período pode ser coextensivo com uma única oração, caso em que ele é um período
simples, ou pode consistir de duas ou mais orações, caso em que ele é composto ou complexo.
Considere, por exemplo, o enunciado,
1. ש ָראֵּל
ְ ִ ַּוּי ַּ ֲע ִֶּ֫בדּו ִמצ ְֶַּּ֫רי ִם ֶאת־ ְבנֵּי יOs egípcios faziam os Israelitas
ְב ֶָּ֫פ ֶ ָֽרְך׃servirem com aspereza.
Êx 1.13
Este é um período simples consistindo de elementos gramaticais que não podem existir à parte
de sua relação sintática um com o outro e que, juntos, constituem um enunciado unificado.
Seus constituintes dependentes menores são (deixando de lado o waw inicial):
A última destas é uma frase preposicional, a terceira é uma frase substantiva; as outras duas
são simples palavras.
2. ּו ְבנֵּי יִש ְָראֵּל ּפָרּו ַּוּיִש ְְרצּו ַּוּי ְִרבּוOs israelitas foram
Êx 1.7
Neste período os quatro verbos, com o sujeito único e o modificador adverbial único, seguem
um ao outro apenas com as conjunções a uni-las. O período seguinte é complexo.
p 80 3. ַּו ֶָּּ֫יקָם ֶֶּ֫מלְֶך־חָדָ ש עַּל־ ִמצ ְֶָּ֫רי ִםUm novo rei se levantou sobre
ֲאשֶר ֹלא־י ָדַּ ע ֶאת־יֹוסֵּףo Egito, que não conhecera
José.
Êx 1.8
A segunda oração, ֲאשֶר ֹלא־י ָדַּ ע ֶאת־יֹוסֵּף, está subordinada à primeira; é uma oração
relativa modificadora do sujeito da oração principal, ֶֶּ֫מלְֶך־חָדָ ש.
p 81 Nomes
5 Paradigmas Nominais
6 Gênero
7 Número
9 Função Genitiva
11 Preposições
12 Aposição
13 Definibilidade e Indefinibilidade
p 83 5
Paradigmas Nominais
5.1 Raiz, Afixo, Paradigmas
a A maioria das palavras em hebraico inclui uma raiz, uma seqüência de consoantes a
associadas a um significado ou a um grupo de significados. A maioria das raízes é
triconsonantal (ou trirradicais); raízes médio-fracas (e às vezes outras raízes fracas) são
consideradas biconsonantais. A raiz é uma abstração baseada nas formas e nas palavras que
efetivamente ocorrem, e seu significado é, também, uma abstração baseada no campo
semântico das palavras da forma como são usadas. O sistema de raízes é parte do
conhecimento que o falante possui da língua, mas as abstrações resultantes não devem ser
exageradas, especialmente em bases semânticas. As palavras que realmente ocorrem sempre
têm prioridade sobre tais abstrações. Somente os pronomes e algumas partículas ficam
inteiramente fora do sistema de raízes.
b A raiz pode ser modificada para formar uma palavra com um afixo; pode ser um prefixo
(antes da raiz), um sufixo (após a raiz), um infixo (no interior da raiz), ou alguma combinação
destes. Os afixos formam vários paradigmas verbais e nominais, e cada palavra representa um
paradigma formativo. O termo grau é usado às vezes para descrever uma forma de raiz
consonantal com um afixo, da qual outras palavras podem ser derivadas.
p 84 c A raiz ‘ חברligar, unir’ pode ser usada na ilustração destes aspectos. A seguir
temos uma dúzia de palavras.
3. ֶֶּ֫חבֶרcompanhia
5. ַּחבָרparceiro
6. ֲח ֶֶּ֫ב ֶרתconsorte
7. ֶחב ְָרהassociação
11. ֶחבְרֹוןHebrom
12. ֶחבְרֹונִיhebronita
Nas primeiras três formas, a raiz é complementada por vogais infixas (e no # 1 sufixada); nas
duas seguintes, a consoante medial da raiz é também alongada (ou duplicada). As formas ##
6–10 levam um sufixo feminino; ## 9–10 têm um mem prefixado adicional. As formas ## 11–12
têm um sufixo –ôn e a última forma tem um sufixo –î adicional. Há outras formas que derivam
da raiz ḥbr. A raiz nunca ocorre isolada de um paradigma de afixos; o significado ‘ligar, unir’ é
derivado de vocabulário atestado.
d Alguns dos paradigmas usados nesta dúzia de palavras são paradigmas verbais; tais
paradigmas tendem a ser consistentes e regulares num grau superior àqueles usados para
formar nomes (substantivos e adjetivos). O paradigma verbal CāCaC, (ou C1āC2aC3 ou ) ָקטַּל
denota uma situação completa ou perfectiva, por exemplo, שבַּר ָ ‘ele quebrou’, שמַּר ָ ‘ele
guardou’, ‘ ָגנ ַּבele furtou’, ‘ ָאז ַּלfoi-se’; assim חבְרּו
ָֽ ָ ‘eles (foram) unidos’. O paradigma verbal
C1iC2C2ēC3 funciona de modo semelhante, por exemplo, כבֵּר ִ ‘ele honrou’, ‘ ִסּפֵּרele recontou’,
‘ גִדֵּ לele causou o crescimento’; assim ‘ ִחבַּרele uniu (algo)’. (A relação entre o primeiro
paradigma, Qal, e o segundo paradigma, Piel, será discutido adiante, 24.1).
1. ע ֵֹּרבcorvo
2. הֹומָהparede
3. יֹובֵּלchifre de carneiro
4. שרק
ֵּ videira
c Vários grupos de nomes usando esse paradigma não possui qualquer vínculo com uma
raiz verbal no Qal. De fato, em alguns nomes, onde o paradigma “indica o titular de um ofício
ou profissão”, nenhuma raiz de verbo cognato é usada (## 5–6).
5. כֹוהֵּןsacerdote
6. נֹוקֵּדcriador de ovelhas
p 86 d Outra categoria principal de nomes qôtēl inclui aqueles que podem ser associados
com verbos usados no Qal. Todavia, esses nomes não são simplesmente particípios Qal,
porque “eles não mais descrevem o exercício real de uma atividade, mas se tornaram
denotações fixas rotulando um sujeito baseados em um traço distintivo que é durável e
objetivamente observável”. Alguns desses são, como acima, os nomes de ocupações (## 11–
16), enquanto outros descrevem um papel social individual (## 17–20). Um subgrupo correlato
é usado para abstrações (## 21–22).
f Esse pequeno resumo de esforços para descrever um paradigma principal (as formas
poderiam ser consideradas em outras perspectivas) deve deixar claro quão intrincado pode ser
o sistema nominal hebraico. Porém, fica também claro que a maioria desses usos não-
participiais da forma qôṭēl está vinculada ao sentido participial básico: apenas seis dos trinta
exemplos citados (## 1–4, 21–22) afastam-se drasticamente do sentido de “alguém que faz
algo”. Ao mesmo tempo, o sentido de “atividade” é com freqüência semanticamente
inapropriado – um yôšēb ‘habitante’ não é simplesmente alguém que p 87 realiza o ato de
habitar (yâšab) –, ou impossível morfologicamente – não existe o verbo *ḥābal ‘manipular
cordas’, para produzir ḥōbēl ‘(manipulador de cordas) marinheiro’.
1. יָבֵּשseco
2. ָעי ֵּףexausto
3. שלֵּו
ָ desinteressado
4. י ֵָּרְךcoxa (superior)
p 88 6. ְמ ַּלמֵּדprofessor
7. מ ְַּרגֵּלespião (espia)
8. ְמחֹקֵּקcomandante
c O paradigma qātîl amolda tanto adjetivos (## 9–11) como substantivos. O paradigma é
usado para termos profissionais, alguns de sentido passivo (## 12–14), alguns estativos ou
ativos (## 15–17), embora as distinções não devam ser forçadas. As palavras para certas
atividades da agricultura, também empregam esse paradigma (## 18–22).
9. ָצעִירpequeno
10. נָקִיpuro
11. ָענִיpobre
14. ָּפלִיטrefugiado
15. ָּפקִידsupervisor
16. נָגִידlíder
17. נָבִיאprofeta
18. ָאסִיףcolheita
19. ָבצִירvindima
21. ח ִָרישaragem
22. ָקצִירcolheita de grão
23. בָצּורinacessível
24. עָצּוםforte
25. עָרּוםastucioso
27. חָרּוץdecisão
30. ָמתֹוקdoce
36. ֲאנָחָהsuspiro
37. ֲאנָקָהgemido
38. י ְ ָללָהuivo
39. נְָאקָהgemido
40. ְצ ָעקָהgrito
41. שְָאגָהurro
1. ַּגנָבladrão
2. דַּ ּי ָןjuiz
3. ַּחטָאpecador
4. ח ָָרשartífice
5. ּפ ָָרשeqüestre
6. ַּצּי ָדcaçador
b Adjetivos referindo-se a defeitos físicos ou mentais usam o paradigma qittçl (## 7–14).
7. ִאטֵּרinválido
8. ִאלֵּםmudo
9. ִגבֵּןcorcunda
10. ח ֵֵּּרשsurdo
11. ִעּוֵּרcego
12. ִעקֵּשperverso
Três desses termos ocorrem juntos em Êxodo 4.11 (## 8, 10, 11).
c Palavras qattîl (como aquelas em outros paradigmas com alongamento medial e uma
segunda vogal longa) freqüentemente indicam posse de uma qualidade de um modo
“intensivo”. Isto é improvável porque se baseia na noção duvidosa de que a duplicação “afia” a
raiz em um modo semanticamente direto (24.1). Basta dizer que qattîl é, a um mesmo tempo,
adjetival (## 15–17) e uma espécie de substantivo qātîl (## 18–19; no # 18, cf. 5.3 #12).
15. ַּאבִירforte
16. ע ִָריץterrificante
18. ַּאסִירprisioneiro
19. ס ִָריסeunuco
2. ש ֲאנָן
ַּ seguro
3. ֲה ַּפ ְכּפְַּךtorto
6. ֲאדַּ ְמדָםavermelhado
7. י ְַּרק ְַּרקesverdeado
9. ֲא ֻלמָהgavela
11. ְקוֻצֹותcachos
a O hebraico bíblico emprega uma variedade de prefixos que servem para modificar o
sentido das raízes. A maioria dos prefixos são elementos usados tanto em paradigmas
nominais como em verbais, incluindo ʾ, h, y, m, t e ʿ. Stanley Gevirtz tem sustentado que “o que
estas parecem ter em comum umas com as outras é uma força dêitica, demonstrativa,
definidora ou especificadora”. Nem todos os prefixos são igualmente comuns ou importantes.
2. מָקֹוםlugar
3. מֹושָבassembléia (< yšb)
4. ַּמפְתֵּ ַּחchave
6. שּפָט
ְ ִמjulgamento
7. מ ְַּראֶהaparência
8. מ ְַּרָאהvisão (fem.)
Na maior parte destes exemplos, a vogal da primeira sílaba prefixada é a (## 2–5, 7–9); nas
outras é i. A primeira sílaba de # 3, mô-, é contração de maw-; o ô é visto também nas formas
Niphal, Hiphil e Hophal de yšb e em várias outras formas verbais com waw- inicial. Nos
exemplos femininos citados, a forma masculina correspondente pode tanto não ocorrer (## 5,
9) como ter um sentido diferente (# 8, cf. # 7).
c Um nome t-prefixal geralmente designa a ação do verbo do qual é derivado (## 10–12). A
maioria destes nomes, incluindo os exemplos, é derivada de raízes w-inicial.
Gevirtz adverte contra esse tipo de obscurecimento semântico, tanto no âmbito geral do
som, que postula que onde exista diferença em forma há uma diferença em significado,
quanto no âmbito de seu estudo das palavras.
e Uma parada glótica prefixada é usada em vários adjetivos (## 18–20), bem como em
certas formas substantivas (## 21–22).
22. ֶא ְצבַּעdedo
O אusado em nomes como ## 21 e 22 parece refletir um esforço para remodelar a raiz, talvez
em parte por causa da sibilante inicial; a palavra ‘braço’, por exemplo, também ocorre na
forma mais comum זְרֹו ַּע. Este א prefixado é, portanto, chamado ou de protético (i.e.,
prefixado) ou de prostético (i.e., dando um poder adicional).
p 92 f Gevirtz sugeriu que עindica especificação ou força como um elemento da raiz. Ele
compara raízes similares com e sem ʿ: gnn ‘cobrir’ e ʿgn ‘fechar-se fora’, qwr ‘cavar’ e ʿqr
‘desenterrar’, rwy ‘estar saturado’ e ʿry ‘derramar’ (≠ ʿry ‘estar despido’). Particularmente
notáveis são as raízes que ocorrem tanto com אcomo com ע, ʾgm ‘estar triste’ e ʿgm ‘afligir’;
ʾṭr ‘fechar’ e ʿṭr ‘cercar’. Pares relevantes de nomes incluem
25. ַארבֶה
ְ locusta עָר ֹבenxame de
moscas
O elemento ʾaleph/ʿayin, nesses casos, é parte da raiz, tal qual existe no hebraico bíblico. O
elemento ʿayin também é encontrado em alguns quadriliterais designando animais, nos quais
ele pode funcionar como um prefixo, como os outros tratados aqui (## 26–30).
26. ֲע ַּטלֶףmorcego
29. ַּעכְשּובvíbora
b O sufixo mais comum é -ôn ~ -ān. Ele pode ser usado para adjetivos (## 1–3),
substantivos abstratos (## 4–6) e diminutivos (## 7–8).
4. ּפִתְ רֹוןsolução
5. זִכָרֹוןmemorial
6. ק ְָרבָןoferta
A ‘pupila’ ou ‘menina’ do olho é designação para a pessoa pequena vista refletida nele, tanto
em hebraico como em latim (pupillus, de onde provém o termo português ‘pupilo’). A
terminação -ôn é comum em nomes de lugar (p.ex., ) ֶחבְרֹוןe a terminação –ûn de Jesurum
(Yeshurun - )יְשֻרּון, um termo poético para Israel (cf. ‘ יָשָרreto’), e Zebulun ( )זְבֻלּוןestão
relacionadas.
a A estrutura fonológica do hebraico bíblico está fora de nossa esfera, mas uma faceta dela
merece menção, associada ao estudo de paradigmas. Consoantes ocasionalmente
intercambiam-se na formação de palavras em hebraico e formas muito intimamente
vinculadas podem realmente assumir formas ligeiramente diferentes. Há três grupos de
intercâmbios importantes para o hebraico bíblico: as guturais, as líquidas (l e r) e as nasais (m e
n), e outras consoantes.
c As comutações líquido-nasais são mais bem conhecidas por duas formas do nome
Nebuchadnezzar (p.ex., Jr 29.1) e Nebuchadrezzar (p.ex., Jr 21.2). Os três sons l, n e r
ocasionalmente surgem em formas intimamente vinculadas, por exemplo, liškâ e niškâ,
‘quarto’; mazzālot e mazzārot, ‘constelações’; lḥṣ e nḥṣ, ‘pressionar, urgir’. Aloysius Fitzgerald
colecionou exemplos de outras dessas variantes em textos poéticos; ele alega que em tais
casos o poeta “está usando uma forma dialetal que se encaixa melhor no padrão sonoro de
sua linha” do que faria uma forma padrão.
p 94 d Outros intercâmbios são atestados para sibilantes (ʿlṣ, ʿls, ʿlz, ‘exultar’; ṣḥq e śḥq
‘sorrir’), velares (sgr e skr, ‘fechar’) e bilabiais (plṭ e mlṭ, ‘escapar’).
p 95 6
Gênero
6.1 Introdução
6.6 Concordância
6.1 Introdução
algo extra ou incomum para distingui-lo dos outros (3.3.5e). Por exemplo, na oposição ֶֶּ֫מלְֶך ׃
ַּמ ְלכָה, o gênero de ֶֶּ֫מלְֶךnão é mostrado por qualquer dispositivo evidente, enquanto que o
gênero de לכָה ְ ַּמé mostrado pela terminação ָָ ה-; ֶֶּ֫מלְֶךé o membro não-marcado ou zero
(Ø)-marcado do par, enquanto que לכָה ְ ַּמé o membro marcado. No hebraico, em geral, o
gênero masculino é não-marcado, enquanto o feminino é marcado. O membro não-marcado
pode ter o mesmo valor que o seu oposto e assim os nomes masculinos não-marcados podem
referir-se ao feminino. O membro marcado de um par lingüístico atrai mais atenção do que o
não-marcado e assim, no estudo do gênero, pode parecer que estamos lidando com o
“problema” do feminino, mas na realidade estamos preocupados com o sistema gramatical
masculino: feminino.
(1) o verdadeiro feminino: nomes animados que denotam fêmeas, com ou sem
terminação (p. ex., baqarat- ‘vaca’ e ʾum (mãe)
(2) o feminino metafórico: nomes inanimados, com ou sem terminação feminina (p. ex.,
dawlat- ‘estado, governo’ e yad ‘mão’)
Tais noções estão subjacentes à maioria das grandes gramáticas hebraicas, as de Gesenius,
Gesenius-Kautzsch-Cowley, Joüon e outras. Paul Joüon, por exemplo, observa:
É necessário confessar, por fim, que o que determinou o gênero sempre nos
escapa.
O assunto do gênero de inanimados não foi o único estímulo para a má teorização entre os
estudiosos. Carl Brockelmann, por exemplo, tendo mostrado, cria ele, que não havia
terminação feminina alguma evidente no semítico primitivo, prosseguiu concluindo que as
fêmeas eram altamente consideradas naquela cultura, que pode ter tido uma organização
realmente matriarcal.
Esses gramáticos que têm escrito acerca dos povos primitivos e de suas
primitivas línguas foram como os antropólogos “de poltrona” do século 19,
que escreveram acerca desses povos sem quaisquer contatos com eles e com
sua cultura.
d Os lingüistas modernos concordam que o gênero gramatical serve apenas para denotar
diferenças sexuais entre os seres animados. A função primária dos vários sistemas de gênero é
sintática; gênero é um dos sistemas de concordância que conecta palavras relacionadas dentro
de uma oração. É de importância secundária que os chamados formativos “femininos”
designam o gênero natural nos seres viventes.
a A descrição do gênero como é usada numa variedade de línguas sugere que o gênero
gramatical não denota primariamente sexo em seres animados e traços “análogos” dos
inanimados. Em vez disso, gênero é primariamente uma matéria de sintaxe. Os argumentos
lingüísticos relevantes são diversos; reunidos, eles apontam na direção de uma noção
propriamente lingüística de gênero.
Na verdade, o gênero neutro Mädchen é determinado pelo sufixo -chen; o nome base é
feminino, die Magd. Outro tipo de conflito de gênero-sexo surge quando adjetivos indicando
sexo ocorrem com nomes de gêneros “opostos”. Em francês ‘o rato’ é la souris, e ‘o rato
macho’ é la souris mâle, isto é, ‘o rato (feminino) macho’!
e Foi Karl Brugmann, no final do século 19, quem mais drasticamente modificou a visão de
seus predecessores sobre gênero. De fato, ele reverteu completamente a prioridade de gênero
gramatical e sexo daquela visão de lingüistas anteriores. Ele defendeu a tese de que o gênero
gramatical, que originalmente não tinha nada a ver com sexo, guiou a imaginação poética em
personificações míticas.
Seus estudos encontraram confirmação limitada em algumas áreas. Por exemplo, os russos
personificam os dias da semana como macho ou fêmea na base do gênero gramatical do dia.
Semelhantemente, os poetas hebreus às vezes personificaram inanimados de acordo com o
gênero, por exemplo, ָח ְכמָהé Senhora Sabedoria, anfitriã (Pv 9.1–6), irmã (7.4), mediadora
(1.20–33). Equilibrando as coisas, contudo, é melhor ver o gênero gramatical e o sexo natural
dos seres animados como sistemas coordenados, nenhum controlando o outro.
f Uma visão mais ampla dos sistemas de gênero deriva dos estudos de línguas com outros
sistemas de classes nominais; estes incluem as línguas bantas, algumas línguas p 101
sudanesas e algumas línguas do Cáucaso e da Austrália. As classes nominais nessas línguas não
têm relação alguma com o sexo natural. Por exemplo, em suaíle, há classes de animados, de
coisas redondas e pequenas, de coisas compridas e finas, e assim por diante; cada classe é
formalmente indicada por um prefixo e concorda com seus adjetivos modificadores e com os
verbos. Desde que ali haja apenas uma correspondência limitada entre as classes formais e
seus “significados”, os lingüistas classificam-nas meramente por seus acidentes. Gênero nas
línguas indo-européias e semíticas parece ser um caso especial de classificação nominal; como
C. F. Hockett diz, “Gêneros são classes de nomes refletidas no comportamento de palavras
associadas”. Destas observações comparativas podemos ver que os gêneros gramaticais não
“atribuem” sexo a objetos inanimados e apenas o designam imperfeitamente em objetos
animados; é principalmente um traço sintático, seja o nome animado ou inanimado, não um
traço estritamente referencial-semântico.
a Esses fatos básicos do gênero hebraico podem ser revistos antes de tentarmos discutir as
operações do sistema. Os gêneros gramaticais são parte do sistema de rudimentos hebraicos,
isto é, as marcações de gênero mostram que certas partes da fala concordam com outras
partes da fala.
c Não há “razão” porque nomes inanimados estão num gênero gramatical particular.
Contraste ‘ הָרmonte’ e ‘ גִ ְבעָהmonte’. Alguns nomes inanimados mostram dois gêneros (p.
ex., ‘ דֶֶּ֫ ֶרְךcaminho’ ‘ אֲרֹוןtórax’). O mesmo significado pode ser associado a dois nomes não-
animados que diferem apenas em gênero (p. ex, נָקָםe קמָה ָ ְנ, ‘domínio, vingança’). Nomes
femininos não-animados podem designar um coletivo (e.g., ‘ גֹולָהexílio’), ou um componente
simples de um coletivo (p. ex., אנִּי ָה ֳ ‘navio’, contraste ‘ ֳאנִיfrota’, tanto masculino como
feminino).
d O formador feminino é usado para formar números usados com nomes masculinos (p.
ex., בנ ִים
ָ ‘ שְלשָהtrês filhos’).
p 102 e Estudos comparativos revelam certos paradigmas de gênero. O hebraico (como as
línguas semíticas geralmente) conforma-se a esses paradigmas. Se o gênero serve
principalmente à função sintática de concordar, como ele adquiriu qualquer valor semântico
nas línguas semíticas? Ele teve um “significado original”? C. Brockclmann, por causa de alguns
sistemas de classes nominais apresentados acima, pensava que os gêneros gramaticais nas
línguas semíticas originalmente não tinham nada a ver com o sexo natural. Ele associou os
sistemas de gêneros semíticos aos sistemas de classes em outras línguas e sugeriu que a
terminação feminina, juntamente com outras terminações menores, reflete um traço de um
sistema mais antigo de classe nominal no semítico. Diversos eruditos têm teorizado que as
classes nominais representadas pelos gêneros formam simplesmente classes de formas
básicas (ora masculinas) e derivadas (ora femininas).
f E. A. Speiser pensava que o que é agora o formador feminino em semítico começou como
um elemento acusativo na família maior de línguas hamito-semíticas ou afro-asiáticas. Essa
idéia tem sido rejeitada; o valor permanente de seu estudo do problema permanece em sua
alegação de que o “feminino’ significava originalmente palavras derivadas com alguma
modificação especial da raiz básica. Ele observa que em todas as línguas semíticas –(a)t havia
não apenas um, mas pelo menos quatro valores semânticos: (1) formar uma abstração a partir
de um adjetivo, numeral ou verbo (p. ex., ‘ ָרעָהmal’ de ‘ ַּרעmau’); (2) formar um coletivo a
partir de um particípio (p. ex., ‘ א ְֹרחָהcaravana’ de ח ַּ ‘ א ֵֹּרviajante’); (3) construir uma
singularidade (nomen unitatis) de um coletivo (e.g., שע ֲָרה ַּ ‘[um único] cabelo’ a partir de
שעָר ֵּ ‘cabelo’); (4) construir um diminutivo ou semelhante (p. ex., ‘ יֹו ֶֶּ֫נקֶתbroto’ a partir de
‘ יֹונֵּקplanta jovem’; cf. 6.4.2f). A “versatilidade notável” de um formativo que poderia marcar
um nome coletivo ou um nomen unitatis levou Speiser a concluir:
Com o tempo –at veio a ter a especialização definitiva do feminino com objetos animados.
Outras características como forma, tradição e associações com outras palavras, contribuíram
para a atribuição do gênero de um nome.
1. ֶּ֫א ֹז ֶןorelha
2. ֶא ְצבָעdedo
3. ֶֶּ֫בטֶןbarriga
4. ֶֶּ֫ב ֶרְךjoelho
5. ז ְרֹו ַּעbraço
6. י ָדmão
7. י ֵָּרְךcoxa
8. ָכנָףasa
9. כָףpalma
10. ְלהִיqueixo
11. לָשֹוןlíngua
12. ֶַּּ֫עי ִןolho
13. ֵּצלָעlado
15. ֶֶּ֫רגֶלpé
16. שֹוקperna
17. שֵּןdente
c O gênero de nomes de lugares é complicado pelo fato de que os termos que designam
nome de lugar freqüentemente terem perdido seus nomes principais (o processo gramatical
de “decapitação”), enquanto que o nome principal continua a controlar o gênero da frase. A
decapitação é comum em português – dizemos ‘Rio’ para ‘Estado do Rio de Janeiro’, ‘Brasil’
para ‘República Federativa do Brasil’. Em línguas com sistemas de gênero gramatical, a
redução quase invariavelmente afeta esses sistemas. Os primeiros gramáticos de árabe
notaram que um termo genérico (como ‘cidade de…’, ‘reino de…’, ‘rio de…’, ‘montanha…’) em
construto com um nome de lugar determina o gênero da frase e mesmo que o genérico não
tenha sido expresso, seu gênero ainda controla o termo, por exemplo, dijlat ‘Tigre’ é feminino
na forma, mas é considerado como masculino, uma vez que a expressão completa é nahr dijlat
‘rio de Tigre’ e nahr é masculino. A omissão do nome no construto (decapitação) é comum em
árabe. Assim, a maior parte dos nomes de cidade é feminina porque madinatu ‘cidade’ é
feminino.
d A situação do hebraico é similar. Como o árabe nahr, o termo hebraico נָהָרé masculino,
como pode ser visto no # 18; embora ּפ ְָרת pareça ser feminino, o pronome em # 19 é
masculino, seguindo (נְהַּר )־ּפ ְָרת.
18. ַּהנָהָר ַּהגָד ֹל נְהַּר־ּפ ְָרת׃o grande rio, o rio Eufrates
Gn 15.18
b Nomes abstratos podem estar no singular (## 1–8) ou no plural (## 9–11). Os abstratos
singulares e mais freqüentemente os plurais podem ser usados adverbialmente (10.2.2e), por
exemplo, קָשֹות ַּוי ְדַּ בֵּר, ‘ele falou coisas duras’ (i.e., ele falou duramente)’ (Gn 42.7; cf. Is 32.4
para # 10; cf. 39.3.1).
p 105 1. ֱאמּונָהfirmeza
3. ְבּורה
ָ גforça
4. טֹובָהbondade
5. יְש ָָרהretidão
6. נְכֹונָהfirmeza
7. תְ כּונָהarranjo
8. ָרעָהmal
9. נְדִ יבֹותcoisas nobres
Nem todos os nomes abstratos são femininos (e.g., ֶַּּ֫חי ִל, ‘poder’, כָבֹוד, ‘glória’, טֹוב ו ָָרע
‘bem e mal’ [Gn 2.9]).
12. א ְֹרחָהcaravana
13. גֹולָהexílio
15. א ֶֶּ֫יבֶתinimigo
16. שבֶת
ֶ ֶּ֫ יֹוhabitante
20. ִירה
ָ (שum) cântico שִירcântico, canto
Por outro lado, encontra-se ‘ דָ גָהcardume (coletivo)’, mas (‘ דָ גum) peixe’. Algumas formas,
por exemplo, שנ ָהַּ ‘ שֹוlírio’, ְל ֵּבנָהtijolo’, etc., são singularidades para as quais o coletivo não
é atestado. (A forma masculina שּושָ ןé um ‘lírio’ metafórico, uma decoração arquitetural).
21. הַּ ָֽנְ ַּקלָה בְעֵּ ָֽינֵּיכֶם הִתְ חַּתֵּ ן ַּב ֶֶּ֫מלְֶךParece-vos
coisa de somenos
ser genro do rei?
1Sm 18.23
Jr 2.19
a Alguns nomes não-animados têm formas tanto masculinas como femininas. Embora
esses assim chamados duplos possam ter diferentes conotações, é melhor não se apoiar muito
sobre suas distinções de gênero; ambas as formas significam essencialmente a mesma coisa.
Mordechai Ben-Asher compilou 117 nomes não-animados possuindo tanto formas masculinas
como femininas, incluindo cinco pares coletivo/nomen unitatis (6.4.2d). (Ele exclui casos onde
não há relação alguma entre formas semelhantes, e.g., tôrâ/tôr, ou onde a relação é dúbia,
e.g., ʾādamâ/ʾādām). Desses, 61 são nomes abstratos e 56 são concretos. Esses pares incluem
todos os tipos de significados: nomes abstratos (## 1–2), partes do corpo (## 3–4), termos da
agricultura (## 5–6), palavras ligadas ao vestuário (## 7–8) e pares de palavras com inicial ma–
/mi– (## 9–12; veja 5.6), sete das quais são derivadas das raízes com –waw medial (## 11–12).
Ele não encontra qualquer diferença positiva em termos de sentido entre os pares, exceto dos
poucos casos de coletivos/nomina unitatis (# 6 e talvez # 3).
1. שמָה
ְ ַּא/ ָאשָםculpa
4. גֵּוָה/ גֵּוcostas
5. ֶח ְלקָה/ ֵֶּּ֫חלֶקterritório
6. ִצצָה/ צִיץgrinalda
8. ֲגֹורה
ָ ח/ חֲגֹורcinto
9. מַּתָ נָה/ ַּמתָ ןpresente
11. ָגֹורה
ָ מ/ ָמגֹורterror
Em cinco casos ele descobriu que uma das formas ocorre num estilo poético ou elevado e a
outra em um estilo ordinário prosaico (## 13–17).
prosaico elevado
a Algumas díades naturais do tipo macho-fêmea são designadas por palavras não
relacionadas, nenhuma das quais é marcada por gênero.
2. ָאבpai אֵּםmãe
4. חֲמֹורasno ָאתֹוןmula
7. ֵֶּּ֫עגֶלbezerro ֶעגְלָהnovilha
masculino
1. ֶֶּ֫אלֶףgado (col.)
2. ד ֹבurso
3. זְאֵּבlobo
4. ֶֶּ֫כלֶבcão
feminino
5. ַאר ֶֶּ֫נבֶת
ְ lebre
6. ֲחסִידָ הcegonha
7. יֹונָהpomba
8. נִ ְמלָהformiga
p 108 9. ַּו ֵֶּּּ֫ילְֶך שְֹלמ ֹה אַּ ָֽח ֲֵּרי ַּעש ְֶּ֫ת ֹ ֶרתSalomão seguiu a Astarote,
a Os gramáticos falam do gênero masculino como “o gênero anterior” porque sua forma
refere-se a seres femininos.
Gn 1.27
2. ַּויְנַּשֵּק ְל ָבנָיו ְו ִלבְנֹותָ יו ַּוי ְ ֶָּ֫ב ֶרְךEle beijou seus filhos e suas
ֶאתְ ֶ ֑הםfilhas e os abençoou (masc.).
Gn 31.54
Lv 13.29
Êx 20.10
Vós não vistes aparência alguma no dia em que o YHWH vos falou em Horebe…
para que não… façais para vós alguma imagem esculpida na forma de ídolo,
semelhança de homem ou de mulher.
p 109 Um fato que provê apoio inferencial é o uso de ambos os sexos de uma vítima sacrificial
como oferta a Deus. No antigo Oriente Próximo era costume sacrificar animais machos a
deuses (machos) e fêmeas a deusas. No culto de Israel tanto machos como fêmeas de uma
espécie eram sacrificados a Deus (cf. Lv 3.1; 4.23,28). Ninguém pode mudar ou remover as
representações masculinas figuradas de Deus sem distorcer o texto da Bíblia.
6.6 Concordância
Gn 41.57
Is 14.11
1Rs 22.36
Dt 32.35
O verbo precedente pode, também, ser um masculino plural, como em # 9; desde que haja
casos de um verbo masculino plural seguindo um nome feminino plural, como em # 10, tem
sido sugerido que ambos os tipos de discórdia refletem um evitar verbos femininos plurais.
Lv 26.33
Exemplos como # 10 são muito menos comuns do que casos de discordância gramatical nos
quais o verbo precede o sujeito.
Para outros exemplos, veja Êx 10.11, Números 14.41 e Isaías 43.13; cf. 1 Crônicas 21.10. Tal
tipo vago de pronome pode ser masculino, como na frase trivial כז ֶה
ָ ְו ‘ כָז ֹהassim e assim’ (1Rs
14.5 e outras) e no seguinte exemplo.
7.2 Singular
2.3 Repetição
7.3 Dual
7.4 Plural
Introdução
Os padrões de uso de número parecem refletir o mundo real tão de perto que
discrepâncias entre várias línguas podem parecer desconcertantes. Em português nos
referimos a um agregado de criaturas voadoras com um plural, ‘pássaros’, mas o hebraico usa
o singular ;עֹוףem contrapartida, o português usa um singular para referirse à ‘face’ humana,
mas o hebraico usa um plural, ָּפנִים. Tais discrepâncias existem porque nenhuma faceta da
língua espelha o mundo diretamente. Número é uma categoria gramatical, como gênero, e
assim, é parte de um sistema maior de uma determinada estrutura gramatical e lexical. Além
disso, o uso de número revela até mesmo mais claramente o fato de que uma língua faz parte
de uma cultura e é, por isso mesmo, moldada por aquela cultura. Vamos considerar este
segundo ponto mais detidamente, tendo em vista que ele é crucial no processo de
compreensão de uma língua.
c As línguas, também, podem diferir em seu uso do número gramatical por causa das
diferentes percepções do que é contado como “um objeto” e do que é contado como “mais de
um objeto” (i.e., um contável), o que é contado como um coerente “grupo de objetos” (i.e.,
um coletivo), ou como uma indistinguível “massa de material” (i.e., uma massa, p. ex.,
‘manteiga’); essas percepções auxiliam na moldagem da estrutura lexical de uma língua. Por
exemplo, o inglês trata ‘grape’ (uva) como um contável (Will you have some grapes? [Será que
vai ter algumas uvas?]), mas ‘fruit’ (fruta) como um coletivo (Will you have some fruit? [Será
que vai ter um pouco de fruta?]); o russo trata essas palavras de um modo exatamente
inverso. Assim, também, o português trata ‘pássaros’ como contável, mas o hebraico referese
a eles como um coletivo.
‘Calças’ é de fato um nome plural invariável, como outras peças de vestuário em inglês (pants,
pajamas), bem como nomes de ferramentas em inglês (pliers, scissors, glasses), em português
(óculos). O hebraico, também, possui substantivos plurais invariáveis.
g O hebraico, como outras línguas semíticas, usa três números: singular, dual e plural. Nas
seções seguintes analisaremos e mostraremos os usos destes números.
7.2 Singular
a O hebraico usa o singular gramatical para os contáveis, para os coletivos e para a classe
de nomes em geral. Nomes singulares podem ser repetidos em várias construções.
a Com os contáveis o singular serve para enumerar um objeto. Com entidades que o
hebraico conta como “um objeto” ou “mais de um objeto”, o singular normalmente enumera o
referente como um indivíduo. Substantivos contáveis são os mais comuns.
1. שתִי
ְ ָהבָה אֶת־ ִאDê-(me) minha mulher.
Gn 29.21
2. ְו ָה ֶָּ֫א ֶרץ הָ ָֽי ְתָ ה ֶּ֫ת ֹהּו ו ֶָּ֫ב ֹהּוE a terra era sem forma e vazia.
Gn 1.2
4. ַּתָֽדְ שֵּא ָה ֶָּ֫א ֶרץ דֶֶּ֫ שֶא ֵֶּּ֫עשֶב ַּמז ְִֶּ֫רי ַּעProduza a terra relva, ervas que
ֶֶּ֫ז ַּרעdêem semente.
Gn 1.11
Outro coletivo vegetal é ‘ ּפ ְִריfruto’. Coletivos animais incluem ‘ עֹוףpássaros, a espécie alada’,
ֶֶּ֫רמֶש ‘rastejador-rasteiro, a espécie de corredores-a-pequenos-passos’, ש ֶרץ
ֶ ֶּ֫ ‘enxame,
espécie p 114 ziguezagueante’,‘ ְב ֵּהמָהgado’, ‘ ִרמָהvermes’. Um coletivo humano é טַּף
‘crianças’. Coletivos inanimados incluem ‘ ֶֶּ֫רכֶבcarruagem’, מעָהְ ִ‘ דlágrimas’, ‘ צִיצִתborlas,
franjas’.
5. ַּל־איש וְַאל־
֑ ִ שּפ
ְ ִ שח ָאדָ ם ַּוּי
ַּ ִ ַּוּיCom isso, o gênero humano se
תִ שָא ָלהֶםabate, e os homens se aviltam;
portanto, não lhes perdoarás.
Is 2.9
6. מַּה־נַּ ֲעשֶה לַּנֹותָ ִרים ְלנ ִ ָ֑שים כִי־Como obteremos mulheres para
ְ ִנos restantes ainda, pois foram
ש ְמדָ ה ִמ ִבנְיָמִן ִאשָה׃
exterminadas as mulheres dos
benjamitas?
Jz 21.16
Dt 29.11
a Como o português, o hebraico pode usar o artigo com um substantivo singular para
indicar uma classe particular ou grupo; cf. ‘O leão é o rei dos animais’. Tal substantivo singular
tem um vasto referente, cada membro do grupo. O hebraico pode usar o singular com este
significado mesmo sem o artigo, especialmente em poesia. Este uso do singular é encontrado
em enumerações, após כ ֹלe outros termos de quantidade, com nomes gentílicos e varias
expressões.
1. שנַּי ִם ֶֶּ֫מלְֶך
ְ ּושְלשִים ּו32 reis
1Rs 20.1
Êx 1.22
11. שבֶט
ֵּ ֶּ֫ ְולָראּו ֵּבנִי ְו ַּלגָדִ י ְו ַּל ֲחצִיFalou Josué aos rubenitas, e aos
ש ַּעֶ ַּה ְמנ ֶ ַּ֑שה ָא ַּמר י ְהֹוgaditas, e à meia tribo de
Manassés, dizendo:
Js 1.12
Ne 4.4
Sl 12.2
7.2.3 Repetição
a Substantivos singulares podem ser repetidos dentro de uma curta extensão para uma
variedade de propósitos: para expressar distribuição, diversidade ou ênfase. A referência geral
a tais tipos de expressões é plural, embora o português não use o plural para frases
comparativas.
b Um singular pode ser repetido para um sentido distributivo, seja assindeticamente (## 1–
2) ou sindeticamente com ( ו## 3–5) ou com uma preposição (## 6–8); nesses tipos de p 116
frases os membros componentes do agregado são escolhidos. Tais construções podem ser
representadas em português com ‘cada’ ou ‘todo’. Com palavras temporais uma repetição
distributiva escolhe os membros diacronicamente (cf. 15.6).
1. שנָה׃
ָ שנָה
ָ ano após ano
Dt 14.22
2. ַּויְהִי כְדַּ ב ְָרּה אֶל־יֹוסֵּף יֹום י֑ ֹוםEla falou a José dia após dia
(ou, todos os dias).
Gn 39.10
3. דֹור־וָדֹורtodas as gerações
Dt 32.7
Et 1.8
6. שנָה
ָ שנָה ְב
ָ ano após ano
Dt 15.20
Ex 16.21
c Um substantivo singular pode ser repetido sindeticamente para formar uma oração
indicando diversidade.
9. ֹלא־י ִ ְהי ֶה לְָך ְככִיסְָך ֶֶּ֫אבֶן ו ֶּ֫ ָ ָ֑אבֶןNa tua bolsa, não terás pesos
גְדֹולָה ּו ְק ַּטנָה׃diversos, um grande e um
pequeno
Dt 25.13
Dt 2.27
a O hebraico, como outras línguas (p. ex., grego clássico, sânscrito e certas línguas eslavas),
possui o dual morfológico, usado principalmente para fazer referência a dois objetos
emparelhados. Nem todas as formas duais têm uma referência dual; algumas servem como
formas plurais. O equivalente português mais próximo ao dual hebraico é provido por
expressões como ‘um par de’ (p. ex., ‘um par de meias’) ou ‘ambos’ (p. ex., ‘ambas as mãos’).
Da mesma forma que estes equivalentes em língua portuguesa, o dual hebraico é usado para
referir-se a certos objetos que ocorrem em pares (p. ex., ‘um par de tacos’, ‘um par de
brincos’) e mesmo para referir-se a objetos que são de fato singulares (p. ex., ‘um par de calças
compridas’, ‘um par de óculos’, etc.). O hebraico, também, usa o dual para referir-se a
fenômenos distintos daqueles comparativamente marcados em outras línguas. Os usos do dual
podem ser analisados de acordo com os referentes dos termos: pares naturais e conjunto de
expressões de tempo e medida. Poucas palavras morfologicamente duais deixam de exibir
traços semânticos ou sintáticos do dual.
Outros objetos que ocorrem em pares, associados com partes emparelhadas do corpo, podem
ser referidos com o dual, por exemplo, ע ֶַּּ֫לי ִם
ֲ ַּ(‘ נum par de) sandálias’. O plural de uma palavra
que forma um par natural dual é, muitas vezes, o dual morfológico.
Zc 3.9
Como o último exemplo mostra, o sentido metafórico de um par natural pode ser pluralizado
com o dual. Com freqüência, porém, tal uso metafórico mostrará um plural morfológico
regular.
24. שנָה
ָ שנָתֶַּּ֫ י ִם
ְ 2 anos שנִים
ָ
d Por razões históricas complexas, poucos substantivos possuem morfologia dual, mas não
se comportam de modo algum como duais. Os dois mais comuns são plurais: ‘ ֶַּּ֫מי ִםágua’ e
ש ֶַּּ֫מי ִם
ָ ‘céus’; ambas as palavras têm raízes finais fracas (מי, )שמי, e suas formas plurais
coincidem com o dual usual. A alguns outros termos têm sido atribuídas etimologias ‘duais’
fantasiosas: שתֶַּּ֫ י ִם ְ (‘ נְ ֻחduplos?) grilhões de bronze’, ‘ ָצה ֳֶַּּ֫רי ִםmeio-dia (hora da dupla
sombra?)’, ‘ ע ְַּר ֶַּּ֫בי ִםnoite (tempo entre o dia e a noite?) e מצ ְֶַּּ֫רי ִם
ִ ‘Egito (composto de alto e
baixo Egito)’. Um punhado de topônimos possui formas duais de significação nada óbvia:
ֶאפ ְֶַּּ֫ריִם ק ְִרי ָתֶַּּ֫ יִם
‘Efraim’, ‘Quiriataim’ e a Qere de ‘Jerusalém’, י ְרּושָ ֶַּּ֫ליִם (a Kethiv é
aparentemente שלֵּםָ )י ְרּו.
7.4 Plural
a Considerando que o inglês em grande parte restringe seu uso do plural para enumerar os
contáveis, o plural hebraico é usado com muitos significados diferentes. Ele possui uma
variedade de usos básicos, principalmente com substantivos contáveis e coletivos, e um
conjunto especial de sentidos com substantivos abstratos. Os plurais honoríficos são
importantes por razões teológicas e literárias.
b Alguns pontos de morfologia são dignos de nota. A terminação plural padrão -îm tem
dominado muitas das ocorrências do mem enclítico (veja 9.8); assim, alguns casos nos quais
uma forma plural parece difícil podem, na verdade, estar errados. A terminação plural
hebraica -îm (também encontrada no fenício) raramente é substituída por -în (padrão no
aramaico e no moabita). Isto ocorre em muitas passagens poéticas, como também nos livros
posteriores, por exemplo, אח ִֵּרין
ֲ ‘outro’ (Jó 31.10), ‘ ִאּי ִןilhas’ (Ez 26.18), ‘ ִחטִיןtrigo’ (Ez 4.9),
‘ ַּחּיִיןvida’ (Jó 24.22), ‘ יָמִיןdias’ (Dn 12.13), ‘ מִדִ יןvestes’ (Jz 5.10), ‘ ִמלִיןpalavras’ (Jó 4.2),
‘ ְמ ָלכִיןreis’ (Pv 31.3), ‘ ִעּי ִיןpedregulho’ (Mq 3.12), ‘ צִדֹנִיןSidônios’ (1Rs 11.33), ָרצִין
‘corredores’ (2Rs 11.13), ממִין ֵּ ‘ שֹוdesolado’ (Lm 1.4). As terminações plurais são quase
sempre externas à forma singular, mas há alguns sinais do uso de mudanças na base para
formar plurais, como nas outras línguas semíticas. Estas incluem: (1) o alongamento-base da
sílaba -ōh- encontrado no plural de substantivos biradicais (sing. ‘ אֵּלdeus’, pl. ;אֱֹלהִיםa rara
alternativa singular, אֱֹל ַּּה, é provavelmente p 119 uma formação secundária; sing. ָאמָה
‘serva’, pl. ( ;) ֲאמָה ֹת2) talvez uma base variante nos plurais de substantivos segolados (sing.
‘ ֶֶּ֫מלְֶךrei’, pl. ;) ְמ ָלכִיםe (3) as geminações plurais de substantivos de raízes geminadas (הַּר
‘monte’, pl. regular ה ִָרים, ה ֵָּרי, geminação pl. ה ֲַּר ֵּרי, apenas em poesia; ‘ הֵּץseta’, pl. הצִים ִ ,
mas צ ֶֶּ֫ציָך ָ ‘ ח ֹק ; ֲחdecreto’, pl. ֻח ִקים, mas ‘ עַּם ; ִח ֲקקֵּיpovo’, pl. ַּעמִים, ַּעמֵּי, mas também
ֲע ָממִים, ; ַּע ְממֵּיdois substantivos raros mostram apenas geminações plurais: ‘ צֵּלsombra’
produz ללִים ָ ְצe ‘ תְֹךdano’ produz )תְ ָככִים.
1. כְדָ ְרל ֶָּ֫ע ֹמֶר ְו ַּה ְמ ָלכִים ֲאשֶר ִאתֹוQuedorlaomer e os reis que
estavam com ele
Gn 14.5
Lm 1.6
1Rs 6.29
2Rs 3.16
Jl 3.14
7. ִחטָה ִחטִיםtrigo
Geralmente o sangue humano em seu estado natural é chamado ;דָ ם depois que ele foi
derramado, a forma plural é usada.
12. קֹול דְ מֵּי ָא ִֶּ֫חיָך צ ֹ ֲעקִים ֵּאלַּיO sangue de teu irmão clama a
mim.
Gn 4.10
d Do mesmo modo como o português contrasta ‘água : águas’, assim também o hebraico
contrasta(‘ י ָםum) mar’ e ‘ יַּמִיםmar(es), superfície do mar, etc.’; o termo relativo ַּמ ֲע ַּמקִים
‘profundezas’ é sempre plural. Uma região que atravessa um limite ou corpo de água é ֵֶּּ֫עבֶר,
enquanto que עב ְֵּרי נָהָר
ֶ (Is 7.20) é a ‘região do outro lado do (Grande) Rio’, Trans-Eufrates.
Este paradigma não deve ser procurado em todos os lugares; tanto מ ְֶרחָקcomo חקִים ַּ מ ְַּר
referem-se a ‘distância’.
e Substantivos complexos inanimados são referidos às vezes como formas plurais, por
exemplo, א ֹ ָהלִיםsignifica ‘habitação, acampamento’ (bem como ‘tendas’), como acontece
com כנ ִים
ָשְ ִמe com שכָנֹות ְ ; ִמas formas singulares de ambas tendem a ser reservadas para
um sentido religioso especial, a saber, ֶּ֫א ֹהֶלpara a Tenda (da Congregação) e שכָןְ ִמpara o
Tabernáculo. Compare também כבִים ָש
ְ ִמpara ‘cama’, ao lado de שכָב ְ ‘ ִמcama’ (mas
também ‘o ato de deitar’).
7.4.2 Abstratos e Semelhantes
p 121 1. אִיש ְמדַּ בֵּר תַּ ְהּפֻכֹותhomem cuja fala é perversa (lit.,
homem que diz coisas
perversas)
Pv 2.12
Pv 28.20
Is 27.11
4. ש ֵּרת משֶה
ָ ש ַּע בִן־נּון ְמ
ֻ י ְהֹוJosué, filho de Num, ajudante
ִמ ְבח ָֻריוde Moisés desde a sua
juventude.
Nm 11.28
5. וְהּוא ִאשָה ִבבְתּו ֶֶּ֫לי ָה י ִ ָקח׃Ele só poderá casar-se com uma
virgem.
Lv 21.13
c Uma série repetida de ações ou um comportamento habitual pode ser designado por um
plural e esse termo pode ter um sentido abstrato: o תַּ נ ְחּומִים ( כֹוסJr 16.7) é ‘um cálice’ não
de atos repetidos de conforto, mas ‘um cálice de consolação’, um cálice que dá ‘consolação’ ao
ser bebido.
Os 1.2
8. שנַּת
ְ כִי יֹום נָ ָקם לַּיהו֑ הPorque YHWH tem um dia da
Is 34.8
Sl 74.13–14
… ִהנֵּה־נָא כ ֹחֹו ְב ָמתְ נָיוEis que sua força está nos seus
lombos…
ֵּי־אל
֑ ֵּ הּוא ֵּראשִית דַּ ְרכEle é obra-prima dos caminhos
(?) de Deus
Jó 40.15,16,19
Relacionado a esta intensificação está um tipo de generalização pela qual uma espécie inteira
de animais é designada por uma forma plural.
Zc 9.9
Outros plurais honoríficos usados para o Deus de Israel incluem ‘ קְדֹושִיםSanto’ e אֲדֹנִים
‘Senhor’.
Pv 9.10
Sl 136.3
O singular ָאדֹוןé usado para referir-se a Deus somente na frase ה ֶָּ֫א ֶרץ
ָ כָל־ ( ָאדֹוןJs 3.11, 13,
etc.).
c Seres humanos podem ser referidos com plurais honoríficos, principalmente ְב ָעלִים
‘Senhor’ (não ‘marido’) e אֲדֹנִים ‘senhor’. Estes plurais ocorrem geralmente com sufixos,
sendo o primeiro apenas com sufixos de terceira pessoa do singular.
10. י ָדַּ ע שֹור ק ֵֶֹּּ֫נהּו ַּוחֲמֹור אֵּבּוסO boi conhece o seu possuidor,
ְב ָעלָי֑ וe o jumento, a manjedoura de
seu dono.
Is 1.3
Ec 7.12
12. ֲאד ֵֶֹּּ֫נינּו ַּה ֶֶּ֫מלְֶך־ ָדוִד ִה ְמ ִליְך ֶאת־Nosso senhor, o rei Davi,
שְֹלמ ֹה׃constituiu rei a Salomão.
1Rs 1.43
13. ַּאּי ֵּה אֱלֹו ַּּה ע ָ ֹ֑שיOnde está Deus meu Criador?
Jó 35.10
Sl 118.7
Is 42.5
16. שבֶט ְו ֶאת־מ ְִרימָיו
ֵּ ֶּ֫ ְכ ָהנִיףcomo
se a vara brandisse os
que a levantam
Is 10.15
primeira pessoa, tanto do singular como do plural (אֲדֹנ ִי, )אֲדֹנַּי, são usadas somente com
referência a pessoas (cf. Gn 23.6; 19.2). Outros defendem que o –āy é um aformativo
substantival que denota ênfase pelo reforço da raiz e o termo significa ‘Senhor por excelência,
Senhor de tudo’. Diversos argumentos apóiam esta opinião. אֲדֹנָיocorre em passagens nas
quais Deus fala de si mesmo e onde adequadamente a referência a ‘meu Senhor’ é improvável
(p. ex., Ez 13.9; 23.49; Jó 28.28). O termo também ocorre em passagens nas quais o falante
humano é plural, fazendo com que um sufixo singular pareça incongruente (Sl 44.24).
18. שבְתְ ָך ָּפ ֶַּּ֫עלְתָ יהו֑ הִ מָכֹון ְלYHWH, tu fizeste um lugar para a
ִמ ְקדָ ש ֲאדֹנָי כֹונְנּו י ָדֶֶּ֫ יָך׃tua habitação, um santuário, ó
Senhor, que as tuas mãos
estabeleceram.
Êx 15.17
Concluímos, portanto, que embora אֲדֹנ ָיpossa significar ‘meu Senhor’ em algumas passagens
nas quais fala-se com Deus (p. ex., Gn 15.2), mais provavelmente significa ‘Senhor de tudo’ em
todos os outros lugares.
p 125 8
Função Nominativa e Orações sem Verbo
8.1 Caso / Função
a Os sistemas de flexão ou acidentes numa língua servem para indicar os modos pelos
quais palavras em frases, orações e períodos se relacionam umas com as outras. A flexão
nominal em muitas línguas inclui as categorias de número e gênero e já vimos alguns dos
modos como estas categorias funcionam no léxico e na sintaxe do hebraico bíblico. Outro
sistema de flexão nominal, o caso, é encontrado em línguas correlatas e foi usado em formas
mais primitivas do hebraico bíblico; embora o hebraico bíblico não use casos, este sistema
provê um arcabouço conveniente para o estudo dos substantivos em hebraico.
p 126 subjetivo
(nominativo) eu ele ela nós ele o (a) qual
objetivo
possessivo
O sistema de casos do semítico clássico é como o do inglês ao distinguir algumas vezes dois e,
em outras, três casos. Este sistema é encontrado no acádio e no árabe clássico, pois
desapareceu na grande maioria dos dialetos árabes modernos. Existe abundante evidência
para o sistema de casos no semítico noroeste antigo (1.3.1), no ugarítico e nas glosas
cananéias das cartas de Amarna.
nominativo –u –ū –ā
genitivo –i –ī – ay
acusativo –a
Assim, a forma do hebraico primitivo *malk- ‘rei’ (posterior mélek) seria flexionada
aproximadamente desta forma:
acusativo malka
d O hebraico bíblico é uma língua sem um sistema de casos, embora geralmente seja útil
encarar vários aspectos do seu uso nominal num arcabouço de casos. Numa análise descritiva
formal do hebraico bíblico não podemos falar propriamente de casos. Contudo, de uma
perspectiva histórica, comparativa e sintática, podemos diferenciar três “casos” distintos, isto
é, conjuntos de funções sintáticas de um substantivo: nominativo, genitivo e acusativo. É nesse
último sentido que empregamos os termos “caso” e “função”.
b A antiga terminação – ū do nominativo plural pode ser vista no nome de lugar ּפְנּואֵּל
‘face de Deus” (Gn 32.32); a forma ultrapassada ( ְּפנִיאֵּלGn 32.31) pode conter uma antiga
terminação do genitivo-acusativo plural. Os significados dos nomes semelhantemente na
forma( בְתּואֵּלGn 22.22), ( לְמּואֵּלPv 31.1) e ( נְמּואֵּלNm 26.9) são desconhecidos, como
também são ( חֲמּוטַּל2Rs 23.31) ~ חמִיטַּל
ֲ (2Rs 24.18 Kethiv).
c A antiga terminação genitiva singular é preservada e alongada nas formas sufixadas de
algumas palavras monossilábicas referentes a membros de família: ( ָאבpai), mas ‘ ָא ִֶּ֫ביָךteu
pai’; ‘ ָאחirmão’, mas ‘ ָא ִֶּ֫חיָךteu irmão’; ‘ חָםsogro’, mas ה
ָ ‘ ָח ִֶּ֫מיseu (dela) sogro’. ֲאבִיe ֲאחִי
também servem como primeiro elemento em nomes pessoais compostos; nesses casos o î
pode ser uma vogal marcadora de caso ou o pronome de pessoa do singular: אבִי ֶֶּ֫מלְֶך
ֲ ‘o/meu
pai é rei’ e assim também ֲאבִינָדָ ב, ֲאחִי ֶֶּ֫מלְֶך, ; ֲאחִי ֶַּּ֫מעַּץcf. ‘ ַּמ ְלכִי־ ֶֶּ֫צדֶ קmeu rei é justo’ e
‘ ַּגב ְִריאֵּלo/meu homem é Deus’.
d É possível que a terminação acusativa possa ainda ser vista em algumas formas, por
exemplo, ֶַּּ֫לילָה ‘noite’ e ֶַּּ֫א ְרצָה ‘terra’. Esses provavelmente são os enfraquecidos
remanescentes do sufixo he direcional (10.5). Os gramáticos costumavam derivar esse sufixo
da antiga terminação do acusativo, mas a evidência advinda do ugarítico exclui hoje essa
explicação.
Gn 31.39
Sl 110.4
6. שּפָט
ְ ְמ ֵּל ֲאתִ י ִמela, que estava cheia de justiça
Is 1.21
A terminação, também, ocorre antes de frases intimamente ligadas, preposicionais (## 7–10) e
adverbiais (# 11).
Lm 1.1
Lm 1.1
Gn 49.11
Is 22.16
Mesmo em textos poéticos, essas formas são distribuídas irregularmente; observe os dois
exemplos em Gênesis 49.11 e os três exemplos no versículo de abertura de Lamentações.
a A função nominativa inclui quatro papéis: o sujeito (tanto de orações verbais como de
orações sem verbo; veja 4.4), o predicado nominativo (de orações sem verbo), o nominativo
absoluto e o vocativo (em qualquer tipo de oração; veja 4.7). Um substantivo ou um
substantivo equivalente pode preencher esses papéis.
1. ש י ֶַּּ֫אנִי
ִ ַּהנָחָש ִהA serpente (SUJEITO) me
enganou.
Gn 3.13
Êx 9.27
Gn 3.12
b Para orações verbais a ordem básica das palavras do hebraico é verbo + sujeito (VS). Esta
ordem de palavras verbo-primeiro usualmente ocorre onde uma oração não tem material
introdutório (# 5), onde uma oração começa com uma construção waw-relativa
(tradicionalmente “waw-consecutivo”) (# 6) ou onde uma oração começa com materiais
adverbiais (# 7).
8. ש ֶַּּ֫מי ִם ְו ֵּאת
ָ ֱֹלהים ֵּאת ַּה ֑ ִ ((ב ָָרא אcriou Deus os céus e a terra.) A
ָה ֶָּ֫א ֶרץ׃) ְו ָה ֶָּ֫א ֶרץ ָהי ְתָ ה ֶּ֫ת ֹהּוterra, porém, estava sem forma
e vazia.
ו ֶָּ֫ב ֹהּו
Gn 1.1–2
9. ְוהָָאדָ ם י ָדַּ ע ֶאת־ ַּחּוָה ִאש ְ֑תֹוCoabitou hāʾādām com Eva, sua
mulher.
Gn 4.1
Quando duas orações em contraste são ligadas por um waw-adversativo, uma espécie de
waw-disjuntivo, o sujeito sempre vem antes em ambas.
Gn 13.12
Gn 9.19
As regras que regem a seqüência do sujeito e do predicado merecem um tratamento separado
(8.4).
p 130 d O vocativo (ou nominativo de endereço) designa aquele a quem o falante está
dirigindo uma declaração. É mais claramente identificável onde o falante coloca um
substantivo definido em aposição a um pronome de segunda pessoa (# 13) ou a um imperativo
(# 14).
ַּה ִֶּ֫ביטּוolhai…
Is 42.18
a Numa oração de identificação sem verbo (“Quem ou o que é o sujeito?”), as duas partes
da oração usualmente ocorrem na ordem sujeito-predicado.
1. ִיא־צ ֹעַּר
ֶּ֫ הEsta é Zoar.
Gn 14.2
Nm 13.16
5. ִישֹון
֑ שֵּם הָ ָֽ ֶאחָד ּפO nome do primeiro (rio) é o
Pisom.
Gn 2.11
Gn 43.29
b É possível que uma oração sem verbo possua três, em vez de duas partes; a relação
entre o sujeito e o predicado pode ser produzida pelo que geralmente é chamado de pronome
pleonástico ou falso (pleo), pessoal ou demonstrativo.
8. ֵּעשָו הּוא ֱאדֹוםEsaú (, ele) é Edom.
Gn 36.8
O pronome é aqui chamado pleonástico (i.e., redundante) uma vez que a oração עשָו
ֵּ אֱדֹוםé
gramatical. Desse modo, a oração é estruturada S–pleo–Pred. De outra maneira, a predicação
pode estar associada a אֱדֹום הּוא, como S–Pred, enquanto que ֵּעשָוé considerado como um
nominativo absoluto (tópico sentencial ou marcador de foco; Foc; cf. 4.7 e 16.3.3). Essa análise
sugeriria a glosa ‘Quanto a Esaú, ele é Edom’; a estrutura seria então Foc–S–Pred.
Dt 31.3
Dt 21.20
a Numa oração de classificação sem verbo em que o predicado se refere a uma classe geral
da qual o sujeito é um membro, as duas partes da oração geralmente ocorrem na ordem
predicado-sujeito. As orações de classificação respondem à pergunta, “Como é o sujeito?” (O
exemplo # 6 contém uma frase partitiva, min + um plural, significando ‘um dos’ objetos ou
indivíduos nomeados; cf. 4.4.1b.)
Dt 33.27
Se o predicado contém uma forma sufixada, esta ordem também pode ser usada.
Gn 2.18
10. הֲלֹוא טֹוב ֶָּ֫לנּו שּוב ִמצ ָ ֶּ֫ ְָֽריְמָה׃Não nos seria melhor voltarmos
para o Egito?
Nm 14.3
Dt 1.6
Nm 1.4
Lv 11.41
14. הֹו ֶַּּ֫אלְתִ י לְדַּ בֵּר אֶל־ ֲאדֹנָי וְָאנֹכִיEis que me atrevo a falar ao
ָעפָר ָו ֵֶּּ֫אפֶר׃Senhor, mas eu sou pó e cinza.
Gn 18.27
15. ְו ָהי ָה ַּכ ֲאשֶר י ִָרים מֹשֶה י ָדֹוQuando Moisés levantava sua
mão,
Êx 17.11–12
p 134 16. קֹול דְ מֵּי ָא ִֶּ֫חיָך צ ֹ ֲעקִים ֵּאלַּי מִן־A voz do sangue de teu irmão
ָה ֲאדָ מָה׃está clamando da terra a mim.
Gn 4.10
Nm 13.29
Essa regra não se aplica se a oração é predicativa (o particípio passivo é comum, ## 18–20) ou
se o particípio é agentivo (# 21, cf. 5.2; cf Nm 35.16).
18. ָארּור ְכ ֶָּ֫נעַּןMaldito seja Canaã.
Gn 9.25
19. ָארּור ָהאִיש ֲאשֶר ַּי ָֽ ֲעשֶה ֶֶּ֫פסֶלMaldito o homem que fizer
ּו ַּמ ֵּסכָהimagem de escultura ou de
fundição.
Dt 27.15
Dt 28.5
No exemplo seguinte, o padrão S–Pred é usado para ambas as orações contrastantes; essa
exceção provavelmente reflete a necessidade de chamar a atenção para o contraste.
Gn 27.29
f Além dessas exceções ao padrão Pred–S para orações classificatórias, existem alguns
tipos de predicados que parecem neutralizar os padrões de ordem de palavras. Qualquer
ordem pode ser esperada se o predicado for um numeral (## 23–25), um advérbio (## 26–27)
ou uma frase preposicional (## 28–33).
25. ָארכַּּה
ְ תֵֶּּ֫ שַּע ַּאמֹותSeu
comprimento é de nove
côvados.
26. ּו ְפנֵּיהֶם ֲאח ַֹּרנִיתE seus rostos estavam para trás
(i.e., eles estavam virados para
trás).
Gn 9.23
Nm 13.22
Gn 32.7
Gn 33.1
32. ְו ִאתֹו ָא ֳהלִיָאבE Aoliabe está com ele.
Êx 38.23
שבָתֹון׃ ְ ַּהdescanso, e ao
ַּ שמִינִי oitavo haverá
descanso.
Lv 23.39
g Os problemas propostos pelo Shema (Dt 6.4) são numerosos. Após o imperativo e o
vocativo iniciais, שמַּע יִש ְָראֵּ ל
ְ ‘Ouve, ó Israel’, seguem-se quatro palavras. A despeito de
como estejam construídas, concorda-se que nenhuma passagem próxima comparável ocorre.
A solução mais simples é reconhecer duas orações sem verbo justapostas: (a) יהוה אֱֹל ֵֶּּ֫הינּו
‘YHWH é o nosso Deus’ (oração de identificação, S–Pred); (b) ‘ יהוה ֶאחָדYHWH é um’ (oração
classificatória, S–Pred, com um numeral; cf. # 23). Poucos eruditos favorecem esta análise
gramatical. Andersen toma … יהוה יהוהcomo um predicado descontínuo, com as outras
duas palavras como um sujeito descontínuo ‘Nosso único Deus é YHWH, YHWH’. Outros propõem
análises que consideram as duas primeiras palavras como sujeito (i.e., ‘YHWH nosso Deus é um
YHWH’) ou as três primeiras palavras (i.e., ‘YHWH, nosso Deus, YHWH é um’) ou mesmo a primeira
palavra sozinha. É difícil afirmar se אחדpode servir como um adjetivo que modifica יהוה. E é
ainda menos claro o que o predicado אחד אלהינו יהוהsignifica, embora alguns eruditos o
classifiquem adverbialmente (‘YHWH é nosso Deus, só YHWH’). Como Gerald Janzen observa, “o
Shema não se conforma exatamente a qualquer paradigma de oração nominal padrão” e
qualquer discussão adicional cai totalmente fora da esfera da gramática.
p 136 9
Função Genitiva
9.1 Funções de Modificação do Substantivo
2. ש ֶַּּ֫מי ִם
ָ שמְעּו
ִ Ouvi, ó céus (VOCATIVO).
Is 1.2
Muitas estruturas frasais e oracionais requerem que substantivos (ou pronomes) exerçam
outras funções. Um grupo dessas funções envolve substantivos que têm uma relação direta
com o verbo; esse grupo ad-verbial é chamado de acusativo.
Is 1.2
Na gramática portuguesa, o papel acusativo mostrado em Isaías 1.2 é chamado de objeto
direto, isto é, o acusativo é o objeto da ação do verbo e seu status não é mediado (p. ex., por
uma preposição).
p 137 b O outro grupo de modificações envolve outros substantivos, aqueles que não são
nem sujeitos e nem modificadores do verbo; esse grupo (em sua maioria) ad-nominal é
chamado de genitivo. Esse é, mais freqüentemente, o caso de um substantivo relacionado com
outro substantivo.
Is 1.4
Is 1.11
Is 1.3
O objeto de uma preposição também está no genitivo; é a preposição (ou frase preposicional)
que está diretamente relacionada ao verbo.
Is 1.2
c Assim, além de um papel nominativo, um substantivo pode assumir um dos dois papéis
(ou grupo de papéis): ele pode modificar o verbo (acusativo) ou outro substantivo (genitivo).
Há uma importante similaridade com a qual estas e outras relações compartilham: o elemento
modificado (ou base) usualmente precede o modificador (ou dependente). Assim em … ידע
קנהו, o verbo precede o objeto que o modifica; em ישראל קדוש, ‘O Santo’ é qualificado
por ‘de Israel’. Da mesma forma, esta relação afeta outras áreas da sintaxe hebraica, por
exemplo, um substantivo (o modificado) usualmente precede um adjetivo atributivo
(modificador): ְצּורה
ָ עִיר נ ‘uma cidade, sitiada’ > ‘uma cidade sitiada’ (Is 1.8). A relação
modificado-modificador (ou definido-definidor) às vezes é descrita com os termos latinos
regens (‘governador, regente, cabeça’) para o elemento modificado e rectum (‘coisa regida’)
para o modificador. O português freqüentemente usa a ordem regens-rectum (verbo antes do
objeto; o genitivo possuído-possuidor, p. ex., ‘O Santo de Israel’); ele pode usar também uma
seqüência modificador-modificado (p. ex., ‘falso profeta’, ‘longo caminho’). Outras línguas
exibem uma sintaxe similar à do hebraico (cf. francês ‘une ville assiégée’, LXX grega ‘pólis
poliorkoúmenē’, árabe ‘madīatin muḥāsaratin’).
a Na língua anterior ao hebraico bíblico, a relação genitiva era indicada por um marcador
vocálico final, – i no singular e – ī no plural. Porém, após a perda do sistema de casos (8.1), o
substantivo no genitivo era deixado não-marcado. Agora, se um substantivo precedesse um
substantivo no genitivo, esse substantivo freqüentemente viria a ser marcado; tal substantivo
“pré-genitivo” encontra-se no estado construto. A formação do construto é uma questão de
som e ritmo: para ligar o pré-genitivo ao genitivo, o pré-genitivo pode ser abreviado.
Gn 2.12
Gn 2.9
Gn 3.24
c O estado construto é freqüentemente indicado por um enfraquecimento do acento na
palavra. Isto pode levar a mudanças vocálicas (p. ex., דָ ֶָּ֫בר דְ בַּר־אֱֹלהִים
‘palavra’, mas
‘palavra de Deus’). O construto pode ser marcado por um acento conjuntivo (p. ex., ח ַּ ֶ֣וְרּו
‘ אֱֹלהִיםo espírito de Deus’, Gn 1.2) ou mais raramente por um methegh+ maqqeph (p. ex.,
‘ מֶ ָֽלְֶך־צ ֹרrei de Tiro’, 2Sm 5.11). Em alguns exemplos uma terminação distintiva marca a
forma (cf. 8.2e).
construto Ø –ê –ê
b A maioria das cadeias construtas em hebraico bíblico envolve dois termos, construto ou
base (C) e genitivo ou absoluto (G). Se a base envolve dois ou mais substantivos em vez de um,
todos, com exceção do primeiro, vêm após o genitivo, geralmente ligados à base por um sufixo
pronominal.
5. ּו ָפ ִֶּ֫ניתָ אֶל־תְ ִפלַּת ַּעבְדְ ָך ְואֶל־E atenta para a oração e súplica
תְ ִחנָתֹוde teu servo (lit., a oração de
teu servo e sua súplica)
1Rs 8.28
7. ש ֶַּּ֫מי ִם וְאֹלהֵּי
ָ יהוה אֶלֹוהֵּי ַּהYHWH, Deus dos céus e terra
(ה ֶּ֫ ָ ָ֑א ֶרץlit., Deus dos céus e Deus da
terra)
Gn 24.3
Contudo, o construto pode reger uma frase nominal coordenativa. Quanto mais proximamente
vinculados estejam os genitivos, maior a probabilidade de eles formarem esse tipo de frase.
8. בְה ֹנֹות י ָדָ יו ו ְַּרגְלָיו׃seus dedos polegares e os
dedos grandes dos seus pés (os
dedos principais de suas mãos e
de seus pés)
Jz 1.6, cf 1.7
10. שיָך
ֶ ֶּ֫ ָ ֶֶּ֫נפֶש ָב ֶֶּ֫ניָך ּובְנ ֹתֶֶּ֫ יָך ְו ֶֶּ֫נפֶש נa vidade teus filhos e de tuas
שיָך׃ ֶ ֶּ֫ ְְׄ ְו ֶֶּ֫נפֶש ִּפ ַּלגfilhas,
e a vida de tuas
mulheres, e a vida de tuas
concubinas
2Sm 19.6
11. לֵּב ָראשֵּי עַּם־ה ֶּ֫ ָ ָ֑א ֶרץo coração dos príncipes do povo
da terra
Jó 12.24
Neste exemplo há três relações construto-genitivas, לב ראשי, ראשי עםe עם־הארץ,
fundidas numa única cadeia. Tais cadeias não são comuns, sendo preferidas as construções
perifrásticas (9.7). A relação entre o construto e o absoluto que o acompanha é forte e
ordinariamente nada intervém.
d Quando um elemento gramatical tal como uma preposição (9.6b), um mem enclítico
(9.8) ou um he direcional se coloca entre o construto e o genitivo, o resultado é chamado de
uma cadeia construta quebrada. Outros elementos intrusivos encontrados em poesia hebraica
incluem formas construtas – k (# 12), ( את# 13), sufixos pronominais (# 14) e formas verbais (#
15).
13. ִיחָך
֑ ֶֶּ֫ ְל ֵֶּּ֫ישַּע ֶאת־ ְמשpara salvação de teu ungido
Hc 3.13
14. כִי תִ ְרכַּב עַּל־סּו ֶֶּ֫סיָך מ ְַּרכְב ֹתֶֶּ֫ יָךQuando tu cavalgaste sobre
י ְשּועָה׃teus cavalos, teus carros de
vitória.…
Hc 3.8
Os 6.9
b Nas próximas seções estabelecemos uma classificação tradicional destas espécies, pela
qual apresentaremos as várias noções significadas por esta construção polissêmica (veja 3.2.3).
Por qual procedimento os gramáticos estabelecem essas classes de sentidos? E como um leitor
pode identificar as funções de um genitivo num texto específico? Nossa análise de
procedimento para identificação e classificação do genitivo (e outras construções gramaticais)
divide-se em três partes.
g Vamos agora considerar a mesma frase em outra oração: ‘Romeu amou Julieta com as
brasas queimando como fogo, com o amor de Deus, com a avidez da sepultura’. Aqui a
pertinência semântica sugere que o ‘amor de Deus’ significa ‘Deus [-caracterizado por] amor’,
um genitivo atributivo (ou adjetival). Como essa oração sugere, a criatividade entra em cena
ao introduzir novos usos e sentidos de formas. A criatividade não é absoluta, uma vez que
todos os falantes são controlados pelo que Otto Jespersen chamou de uma “latitude de
correção”. Para comunicar um falante deve ser regido pelos significados estabelecidos e
públicos dos lexemas, morfemas e estruturas gramaticais. Lewis Caroll imaginativamente
descreveu a tensão entre o significado público das palavras e dos morfemas versus o uso
particular deles.
“Há glória para você!” “Eu não sei o que você quer dizer com ‘glória’ ”, disse
Alice. Humpty Dumpty sorriu desdenhosamente. “Claro que não sabe – até
que eu lhe diga. Eu queria dizer que ‘há um argumento interessante imbatível
para você!’ ”. “Mas ‘glória’ não significa ‘um argumento interessante
imbatível’ ”, Alice objetou. “Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty
Dumpy, num tom bastante desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu
escolhi que ela significasse – nem mais nem menos”. p 143 “A questão”, disse
Alice, “é se você pode fazer as palavras significar coisas tão diferentes”. “A
questão”, disse Humpty Dumpty, “é quem será o senhor – isso é tudo”.
a Nos diversos tipos de frases genitivas subjetivas, o termo genitivo tem um papel de
sujeito subjacente, como em inglês ‘the boy’s leaving’ (a partida do menino) implicando ‘The
boy left’ (O menino partiu). Em hebraico um genitivo subjetivo pode ter uma estrutura
basicamente verbal ou possessiva/qualitativa.
b Num genitivo de agência, G realiza a ação descrita por C (ativo, ## 1–3; passivo, # 4).
Nm 31.3
3. ִשראֵּל
ָ בְַא ֲהבַּת יהוה ֶאת־יporque YHWH ama a Israel
1Rs 10.9
c Uma forma particular de agência está incluída na fala e na escrita e o genitivo de autoria
denota que G escreveu, falou ou, de outra maneira, originou C.
2Cr 24.6
9. ֹלא ַּח ְללֵּי־ ֶֶּ֫ח ֶרב וְֹלא ֵּמתֵּ יnão mortos pela espada nem
ִמ ְל ָחמָה׃mortos por meio da guerra
Is 22.2
Is 1.7
Lv 22.4
e Um genitivo subjetivo não pode envolver nem o agente e nem o instrumento, mas uma
motivação ou intenção. Num genitivo subjetivo abstrato, G denota uma ação verbal afetando
C. (A frase חמָה
ָ ִמ ְל ֵּמתֵּיem # 9 pode pertencer a esta classificação).
13. ש ֶַּּ֫לחְתָ ֶאת־אִיש־ח ְֶרמִי ִמּי ָ֑ד
ִ você
tem libertado o homem
que eu tinha determinado que
deveria morrer (lit., homem da
minha dedicação consagrado
para a morte)
1Rs 20.42
14. ְועַּל־עַּם ֶעב ְָרתִ י ֲאצ ֶֶַּּּ֑֫ונּוEu os envio contra o povo que
incorre em meu furor (lit., um
povo de meu furor)
Is 10.6
Sl 44.23
Sl 107.30
17. מְכ ֹר ֹתֶַּּ֫ י ְִך ּומֹלְד ֹתֶַּּ֫ י ְִך ֵּמ ֶֶּ֫א ֶרץTua linhagem e teu nascimento
הַּ ָֽ ְכנַּ ֲע ִנ֑יprocedem da terra de Canaã
Ez 16.3
Is 22.5
p 145 19. ְו ַּה ְקדִ שֵּם לְיֹום ה ֲֵּרגָה׃Destina-os
para o dia de
matança (i.e., eles serão mortos
em um determinado dia).
Jr 12.3
g Em contraste com o caráter basicamente verbal dos tipos de genitivo que acabamos de
esboçar está a qualidade não-verbal de outros genitivos subjetivos. Num genitivo possessivo, G
possui ou tem C; as relações envolvidas podem ser muito diferentes.
1Rs 9.10
21. ּוזֲהַּב ָה ֶָּ֫א ֶרץ ַּההִיא טֹו֑ בO ouro dessa terra é bom
Gn 2.12
Gn 2.24
29. ִשראֵּל
ָ נִ ֲאצּו ֶאת־ ְקדֹוש יEles rejeitaram o Santo de Israel
Is 1.4
p 146 30. ַּויְהִי ַּכנָהָר שְלֹו ֶֶּ֫מָך ְוצִדְ ָקתְָךTua paz teria sido como um rio,
ְכגַּלֵּי ַּהּי ָם׃tua justiça como as ondas do
mar.
Is 48.18
Êx 24.6
9.5.2 Genitivo Adverbial
b No genitivo objetivo, o genitivo é o objeto (direto) da ação verbal essencial, isto é, grosso
modo, C faz G.
1. שכֵּי הֶ ָֽעָֹון
ְ ֹ מos que puxam pela iniqüidade
Is 5.18
Is 11.2
d A relação entre o genitivo e o verbo implícito pode ser do tipo usualmente mediado por
uma preposição; o genitivo de um objeto mediado envolve a relação C faz para / por / com G.
p 147 6. ש ֻבעַּת יהו֑ ה
ְ o juramento a YHWH
1Rs 2.43
Sl 56.13
Gn 16.5
9. ְַארתְ ָך
ְ ֹלא תִ ְהי ֶה תִ פa honra não será tua (i.e.,
determinada a você)
Jz 4.9
Sl 4.3
11. ֶֶּ֫א ֶרץ זָבַּת ָחלָב ּודְ בָש׃uma terra fluindo com leite e
mel
Dt 6.3
2Sm 8.10
Is 19.10
22. שעַּר־עִירֹו
ַּ ֶּ֫ ָבאֵּיque entram no portão de sua
cidade
Gn 23.10
Gn 3.24
28. יֹורדֵּ י־בֹור
ְ os que descem à cova
Is 38.18
5. ְונָ ַּתתִ י לְָך … אֵּת כָל־ ֶֶּ֫א ֶרץEu darei a ti… toda
a terra de
ָ ְכ ֶַּּ֫נעַּן ַּל ֲא ֻחז ֵּתCanaã como uma
עֹול֑ם posse de
perpetuidade (i.e., como uma
possessão perpétua)
Gn 17.8
Lv 19.36
Sl 48.2
2Sm 16.7
9. ָאנ ֹכִי
ֶּ֫ ֹלא אִיש דְ ב ִָריםEu nunca fui um homem
eloqüente (lit., homem de
palavras).
Êx 4.10
10. ִהנֵּה ֶַּּ֫בעַּל ַּהחֲֹלמֹות ַּה ָלז ֶה בָא׃Aqui vem aquele sonhador (lit.,
o possuidor de sonhos).
Gn 37.19
p 150 11. ַּבקְשּו־לִי ֵֶּּ֫אשֶת ַּב ֲעלַּת־אֹובAche-me uma mulher, uma
possesora de um espírito (ou,
uma mulher que é um médium).
1Sm 28.7
12. ְוהֵּם ַּב ֲעלֵּי ב ְִרית־ַאב ְָרם׃Eles eram aliados de Abrão (lit.,
possuidores de uma convenção
de Abrão).
Gn 14.13
14. אִם י ִ ְהי ֶה ְלבֶן־ ֶַּּ֫חי ִלSe ele for um filho de virtude
(i.e., Se ele se mostrar um
homem digno)…
1Rs 1.52
Gn 21.5
Êx 12.5
Ez 2.1, etc.
Jó 1.6
19. ְוק ַָּרבְתָ מּול ְבנֵּי עַּמֹוןe chegarás até defronte dos
filhos de Amon (i.e, os
amonitas).…
Dt 2.19
Num genitivo atributivo, um sufixo pronominal é afixado ao genitivo, mas usualmente modifica
toda a cadeia.
22. ש ֶֶּ֫עָך
ְ ִ וַּתִ תֶ ן־לִי ָמגֵּן יTu
me deste teu escudo de
vitória (não o escudo de tua
salvação, AV)
Sl 18.36
p 151 23. תְ פִילָה ְלאֵּל ַּחּי ָיuma oração para o meu Deus
vivo (não o Deus da minha vida)
Sl 42.9
c Num genitivo atributivo, C é caracterizado por G; a relação oposta é também encontrada,
no genitivo epexegético, em que G é caracterizado por C. Muitas frases epexegéticas podem
ser traduzidas pelos genitivos –de; observe a frase ‘duro de coração’, cf. ‘desumano’. O sentido
pode também ser transmitido pela glosa ‘igualmente’, ou ‘com referência a’, por exemplo,
‘duro com referência aos pescoços deles/delas’; este é o significado do termo “epexegético.”
Êx 32.9
Gn 24.16 Qere
Gn 39.6
27. ַּהּפָרֹות ָרעֹות ַּהמ ְַּראֶהas vacas que eram feias (lit.,
ruins de aparência)
Gn 41.4
28. שכֶל וִיפַּת ֶּ֫ת ַֹאר ֶ ֶּ֫ ְו ָה ִאשָה טֹובַּת־A mulher era muito prudente e
ְו ָהאִיש … ַּרע ַּמ ֲע ָללִיםbonita de aparência, mas o
homem era… mau em suas
ações.
1Sm 25.3
Essa representação simétrica dos genitivos atributivos e epexegéticos não devem obscurecer o
fato de que os atributivos são muito mais comuns.
36. ַּוּי ִ ַּקח יִשַּי חֲמֹור ֶֶּ֫לחֶם וְנ ֹאד ֶַּּ֫יי ִןAssim
Jessé levou um burro
carregado com alimento e um
odre de vinho.
1Sm 16.20
Gn 18.20
Gn 8.9
Êx 34.6
Jr 24.2
1Rs 19.6
55. ַּף־רגְלָּה
ַּ כa planta de seu pé
Gn 8.9
Dt 22.14
p 154 60. …וְֹלא־י ְִראֶה בְָך ע ְֶרוַּת דָ בָרde forma que ele não veja em
ti alguma forma de indecência
(i.e., qualquer coisa indecente)
Dt 23.14
Gn 9.25
63. ִירים
ִ שִיר ַּהשo Cântico dos Cânticos (i.e., a
Canção mais escolhida)
Ct 1.1
64. אֱֹלהֵּי ָהאֱֹלהִים ַּו ֲאדֹנֵּי ָה ֲאד ֹ ִנ֑יםo Grande Deus e o Supremo
Senhor
Dt 10.17
Gn 23.6
k Esta discussão pode ser resumida pela divisão dos genitivos adjetivais em duas classes.
No primeiro grupo o construto é o elemento modificado, e o genitivo o modificador:
(ou o maior) de C # 66
b Uma frase preposicional situa-se com mais freqüência após um particípio construto, um
uso semelhante ao genitivo de objeto direto; numa frase comum a preposição é omitida
(9.5.2), enquanto que nestas construções ela é mantida.
1. ָל־חֹוסֵּי בֹו׃
ֶּ֫ כTodos os que nele se refugiam.
Sl 2.12
Is 9.1
3. שדֶָּ֫ י ִם׃
ָ גְמּולֵּי ֵּמ ָחלָב עַּתִ יקֵּי ִמAos desmamados de leite e aos
que foram afastados dos seios
maternos
Is 28.9
Outros substantivos podem ficar no construto antes de uma frase preposicional; ֶַּּ֫אחַּד
regularmente rege uma frase partitiva com מִן.
Jr 23.23
c Uma oração pode situar-se após um substantivo construto. Às vezes o construto tem
uma força preposicional. Por exemplo, ֶַּּ֫אחַּרé um substantivo significando ‘parte posterior’,
porém, ocorre mais freqüentemente em um plural construto, como uma preposição apenas
(‘ ַאח ֲֵּריdepois’; 11.2.1), ou com outras preposições (‘ מֵַּאח ֲֵּריdepois de, por detrás’; 11.3.3),
ou como uma conjunção (אשֶ ר
ֲ ַאח ֲֵּרי, veja, p. ex., Dt 24.4; cf. Cap. 38.7); assim, ַאח ֲֵּריestá
bem estabelecida como uma preposição. Semelhantemente, י ָדna frase בי ָד ְ , embora seja um
substantivo construto, pode ser considerado parte de uma preposição complexa. Em casos
oracionais em que o substantivo construto não pode ser considerado uma preposição ou parte
de uma preposição, orações relativas são mais comuns, ainda que ocorram outros tipos de
orações subordinadas.
Jr 2.8
8. שלָח׃
ְ ִשלַּח־נָא ְבי ַּד־ת
ְ Envie (tua mensagem) pela mão
daquele (a quem) tu hás de
enviar.
Êx 4.13
A oração relativa pode ser usada após um substantivo construto sem força preposicional
alguma; # 10 usa um pronome relativo.
Is 29.1
ֲסּורים
֑ ִ ִירי ַּה ֶֶּ֫מלְֶך א
ֵּ שר־ ֲאס ֶ ֲאno qual os presos do rei
estavam encarcerados.
Gn 39.20 Qere
e O construto também pode ser usado antes de orações não-relativas, se for ( )אחרי
preposicional ou semi-preposicional ()כל־ימי.
1Sm 25.15
Também é possível para um construto sem força preposicional situar-se antes de uma oração
não-relativa. Essa construção é extremamente rara.
Os 1.2
Js 17.1
2. ַּר־שקֶר
ָ ֶּ֑֫ דְ בUma mentira (lit., uma palavra
de falsidade)
Pv 29.12
Se o genitivo é definido, a frase é definida; o genitivo pode ser definido por levar o artigo ou
um sufixo ou porque é um nome.
2Sm 9.11
4. ֵֶּּ֫אשֶת־ָא ִֶּ֫ביָךmulher
de teu pai (ou
praticamente a esposa de seu
pai)
Lv 18.8
b A perífrase pode ser usada em expressões genitivas sob outras circunstâncias. Ela pode
ser usada onde uma frase construta seria também aceitável.
p 158 O l perifrástico é usado também em casos nos quais uma cadeia construta precisa ser
qualificada (notavelmente por causa da necessidade de clareza sobre a definibilidade, como no
# 7 acima e no # 10 abaixo) ou manter-se concisa.
Rt 2.3
11. עַּל־ ֵֶּּ֫ספֵּר דִ ב ְֵּרי ַּהּיָמִים ְל ַּמ ְלכֵּיno Livro dos Anais dos reis
יִש ְָראֵּל׃israelitas
1Rs 14.19
Em expressões de contagem a cadeia construta inclui a unidade e a coisa contada; se esta
última é qualificada, isto deve ser feito por um genitivo perifrástico em l. A maioria destas
expressões envolve datas.
12. ַּב ֲח ִמשָה ָעשָר יֹום ל ֶַּּ֫ח ֹדֶשno décimo quinto dia do mês
Lv 23.6
c Outra forma de genitivo perifrástico envolve ‘ ֲאשֶר לְ־o qual/que pertence a’.
14. אֵּין מ ְִרעֶה לַּצ ֹאן ֲאשֶר ַּל ֲעבָדֶֶּ֫ יָךnãohá pasto para o gado
miúdo de teus servos (i.e.,
nosso gado pequeno).
Gn 47.4
Ct 3.7
Ct 1.6
c Os exemplos mais fáceis de serem vistos são os que envolvem evidências externas. Aqui
estão duas formas de uma linha de verso extraídas do Salmo 18 e de 2 Samuel 22, textos
paralelos.
O primeiro texto perdeu o seu mem enclítico, enquanto que o segundo acoplou-o a ים,
produzindo uma leitura diferente (mas não implausível). A linha é melhor lida assim:
O Pentateuco está preservado não apenas nas várias traduções antigas, mas também em um
texto samaritano; examinemos uma frase extraída de uma narrativa em prosa.
2c. שעִיר
ֵּ ְו ֶאת־הַּח ִֹרי ְבה ְַּר ֵּרי־םEo horita, nas montanhas de
Seir.
Dt 33.11 emendado
Em outros casos, o uso hebraico de forma geral provê um guia confiável para a detecção do
mem enclítico.
5. [וְאֹלהִים ַּמ ְלכֵּי מ ֶּ֑֫ ִֶקדֶ ם( ַּמ ְלכֵּי־םTu,] ó Deus, és o Rei Antigo.
>) ֶֶּ֫קדֶ םSl 74.12 emendado
Sl 89.51 emendado
p 161 10
Função Acusativa e Assuntos Relacionados
10.1 Função Acusativa
10.5 הDirecional
Is 1.4
Is 1.4
b Considerando que o genitivo pode ser identificado por sua associação com uma
preposição ou com um substantivo no caso construto, o caso acusativo não pode ser
distinguido regularmente pela forma. Mesmo a distinção entre verbos transitivos (que podem
ser qualificados por um objeto direto acusativo) e intransitivos (que usualmente não o são)
não é proveitosa; acusativos adverbiais podem estar associados com ambos os tipos de verbos.
A partícula ֶאתgeralmente é usada com o acusativo definido; mesmo p 162 esta partícula
sendo útil, seu valor é limitado na identificação do acusativo por três razões: ela é usada
apenas com substantivos que são definidos, pode ser usada com o nominativo e raramente é
usada em poesia.
c Outras dificuldades são criadas pela ordem de palavras relativamente livre do hebraico,
especialmente no verso. Enquanto o português distingue o sujeito de um verbo de seu objeto
por uma ordem fixa de palavras (veja que contraste em ‘João golpeou José’ e em ‘José golpeou
João’), o acusativo hebraico não é consistentemente ordenado com relação ao verbo. Por
exemplo, אִיש־דָ ִמים ּומִ ְרמָה י ְתָ עֵּב יהוה (Sl 5.7) pode tanto significar ‘um homem
sanguinário e traiçoeiro detesta YHWH’ como ‘YHWH detesta um homem sanguinário e
traiçoeiro’. Os exegetas não podem decidir quanto ao sentido utilizando quaisquer sinais
estritamente gramaticais pertencente à oração. Neste exemplo a linha precedente do poema
aponta claramente na direção do segundo sentido.
b Nas seções seguintes, os usos do acusativo como um objeto verbal ou receptor de ação
(10.2.1) são distinguidos dos acusativos adverbiais (10.2.2). As construções acusativas duplas
são tratadas por último (10.2.3).
a Os verbos podem governar uma variedade de tipos de objetos, de modo que a extensão
de objetos associados a um verbo particular é no fundo uma característica do verbo. A
classificação do acusativo objetivo está, portanto, baseada em várias categorizações de verbos.
A maioria dos verbos que rege um acusativo objetivo é (a) fientiva (i.e., eles descrevem ações
em vez de condições) e (b) transitiva (i.e., o efeito do verbo se transfere/atravessa para algo).
Os objetos de tais verbos podem sofrer a ação (objetos diretos; cf. ‘Ele plantou tomates’) ou
criados (objetos produzidos; cf. ‘Ele cultivou tomates’). Alguns objetos estão virtualmente
subentendidos no verbo usado (cf. ‘Ele chorou lágrimas’) – estes são objetos internos –
enquanto alguns objetos são complementares ao verbo (cf. ‘Ele vestiu roupas’).
b A própria categorização dos verbos hebraicos é uma tarefa mais complexa do que
indicada até aqui, por duas razões. Primeira, a transitividade é apenas um aspecto do esquema
de regência de um verbo; outros modificadores além dos acusativos objetivos são relevantes.
Segunda, a transitividade é expressa variavelmente; objetos diretos e preposicionais podem
ser igualmente usados em diferentes tipos de orações. Considere, associado a estes pontos, as
seguintes orações:
p 164 O verbo ‘to give’ (dar) pode ser simplesmente transitivo, apenas (# 3), com uma
partícula (# 6), ou com um objeto preposicional (“indireto”) (# 4). Mas ele também pode ser
usado com um objeto não explícito (# 1) ou com dois (# 5) ou com uma partícula (# 2).
Complexidades como estas, combinadas com o status do hebraico bíblico como língua escrita,
tornam difícil traçar um esquema completo dos tipos de acusativos hebraicos. Tanto as
semelhanças como as diferenças no governo verbal entre o hebraico e o inglês (português),
também, complicam nossa tarefa, e dedicaremos atenção para insistir em algumas das
distinções entre as duas línguas.
7. ָָאדם
֑ ָ ַּוּי ִ ַּקח יהוה אֱֹלהִים ֶאת־הE YHWH Deus tomou Adão.
Gn 2.15
Ambos os verbos hebraicos לקחe הביאsão transitivos, como o são os verbos portugueses
‘tomar’ e ‘trazer’. Na prosa, o objeto direto, se definido, pode ser regido por את. Compare # 9
e # 10.
Sl 16.4
12. ּופִי־ ִמ ְרמָה ָעלַּי ּפ ֶּ֑֫ ָָתחּוEles falaram contra mim com
línguas mentirosas (lit.: abriu…
uma boca de mentiras).
Sl 109.2
13. נָגַּע ְבכַּף־ ֶֶּ֫י ֶרְך יַּעֲק ֹבEle tocou a juntura do quadril
de Jacó.
Gn 32.33
14. ַּוּי ִ ְבחַּר ְבז ְַּרעֹו ַאח ָ ֲ֑ריוE ele escolheu a sua
descendência após dele.
Dt 4.37
p 165 d Dentro do sistema sintático hebraico, um mesmo verbo pode variar. Alguns
verbos podem reger tanto acusativos objetivos diretos (substantivos, # 15; ou pronomes, # 16)
quanto objetos preposicionais (# 17), sem qualquer diferença considerável no sentido.
15. שר ִצּוָה אֱֹלהִם ֶאת־נֹחַּ׃
ֶ ַּכ ֲאcomo Deus ordenara a Noé
Gn 7.9
17. ַּויְצַּו יהוה אֱֹלהִים עַּל־הָָאדָ םE YHWH Deus ordenou Adão…
Gn 2.16
Assim, ṣwy Piel pode reger (1) um objeto direto, seja ele (a) um substantivo (# 15) ou (b) um
pronome (# 16), ou (2) um objeto pela preposição ( עַּל# 17). O verbo ydʿ ‘conhecer’ pode
reger ou um objeto direto (# 18) ou um objeto com l (# 19), como pode hrg ‘matar’ (## 20–21)
e ʾrk Hiphil ‘alongar’ (## 22–23).
Gn 49.6
21. ג־כעַּש
֑ ָ ֶּ֫ ֶל ֱאוִיל יַּה ֲָרO ressentimento mata um tolo.
Jó 5.2
Sl 129.3 Qere
24. ְבנֵּי– ְב ִל ֶַּּּ֫יעַּל נַּ ֶַּּ֫סבּו ֶאת– ַּה ֶַּּ֫בי ִתOs homens malvados cercaram
a casa.
Jz 19.22
p 166 e Para alguns verbos, por exemplo, ngʿ ‘tocar’, ykl ‘superar’, um pronome pode
comportar-se como um objeto preposicional (## 26, 28), ou como um objeto sufixado (i.e.,
direto) (## 27, 29), sem qualquer diferença apreciável de sentido.
31. ְוי ָדֹו א ֹ ֶֶּ֫חז ֶת ַּב ֲעקֵּב ֵּעשָוsua mão segurou o calcanhar de
Esaú
Gn 25.26
32. וַּּי ֹאחֲזֶּ֫ ּוהּו ְפ ִלשְתִ ים ַּויְנַּ ְקרּו ֶאת־Então os filisteus o capturaram
)?(עֵּינָי֑ ו/ agarraram-no (?) e
arrancaram os seus olhos.
Jz 16.21
A ‘vegetação’ não é paciente da ação do verbo (compare com אֶת־ז ְַּרעֲָך ‘ תִ ז ְַּרעTu semeias a
tua semente’, Dt 11.10); ela resulta mais precisamente das ações que o verbo descreve. O
verbo e o objeto produzido freqüentemente derivam da mesma raiz; este tipo de objeto é
chamado de acusativo produzido cognato. (Como o exemplo de Dt 11.10 deixa claro, nem
todos os acusativos cognatos descrevem um objeto produzido).
Gn 9.14
p 167 35. חֲֹלמֹות יַּחֲֹלמּוןEles terão sonhos.
Jl 3.1
g Um acusativo interno é uma expressão da ação verbal; ele geralmente não possui artigo
e pode seguir ou preceder o verbo. Ele se assemelha em sentido tanto a um infinitivo absoluto
(35.3.1) quanto a diversos acusativos adverbiais (10.2.2). Um acusativo interno pode ser um
acusativo cognato.
Nm 11.4
Is 35.2
Sl 14.5
Jr 22.19
41. אִם־כְמֹות כָל־הָ ָָֽאדָ ם י ְ ֻמתּוןSe estes morrerem uma morte
ֵֶּּ֫אלֶה ּו ְפ ֻקדַּ ת כָל־הָ ָָֽאדָ ם י ִ ָּפקֵּדnatural (lit.: como a morte de
todas as pessoas) ou se eles
ֵּיהם
֑ ֵּ ֲעלexperimentarem uma punição
natural (lit.: haverá punição
sobre eles uma punição de
todas as pessoas)…
Nm 16.29
Um acusativo interno não-cognato carrega consigo um qualificador (cf. português ‘Ela escreve
à boa mão (com habilidade)’). Tal acusativo freqüentemente envolve um verbo ou expressão
junto ao qual o órgão de expressão é mencionado.
Ez 8.18
43. ְוכָל־ ָה ֶָּ֫א ֶרץ בֹוכִים קֹול גָדֹולToda a terra estava lamentando
em alta voz.
2Sm 15.23
Is 1.15
45. וַּתִ ָמלֵּא ָה ֶָּ֫א ֶרץ א ֹתָ ם׃E a terra estava cheia deles.
Êx 1.7
46. אּולַּי י ַּ ְחסְרּון ֲח ִמשִים ַּהצַּדִיקִםTalvez faltem cinco justos para
ֲח ִמשָהcinqüenta.
Gn 18.28
47. ְוש ַָּרץ ַּהי ְא ֹר ְצפ ְַּרדְ עִיםO Nilo ficará repleto de rãs.
Êx 7.28
Is 1.11
Sl 65.14
1Sm 2.4
53. ַּו ֶַּּּ֫יעַּט ַּכ ְמעִיל ִקנְָאה׃E ele se cobriu de zelo como de
um manto.
Is 59.17
54. ַּו ִֶּּ֫י ְפשַּט גַּם־הּוא ְבגָדָ יוEletirou também as suas
vestes.
1Sm 19.24
56. ְונָ ַּתתָ ה ֶאת־ ַּה ְל ִוּי ִם לְַאהֲר ֹןE darás os Levitas para Aarão e
ּו ְלב ָָנ֑יוpara sua descendência.
Nm 3.9
57. שלָל
ָ שָך ְל
ְ ְונָ ַּתתִ י לְָך ֶאת־נַּ ְפEu darei para você a vida como
despojo.
Jr 45.5
Is 27.4
2Cr 20.9
62. שנִי׃
ֵּ ֶּ֫ ָֹלא תִ נTu não serás esquecido por
mim.
Is 44.21
Jó 6.4
a Além dos acusativos objetivos, os verbos podem reger vários acusativos adverbiais; esses
detalhes característicos da ação verbal (e outros mais), incluindo tempo, lugar, condição,
modo e especificação. Em termos gerais, esses acusativos são adjuntos em vez de
complementos para o verbo (10.2).
p 170 1. וְהּוא יֹשֵּב ּפֶתַּ ח־ה ֶָּ֫א ֹהֶלEnquanto ele estava assentado
na entrada de sua tenda
Gn 18.1
Is 44.13
Is 33.14
Sl 5.5
Rt 3.8
6. ש ֶַּּ֫מי ִם
ָ שמַּע ַּה
ְ ִ ְו ַּאתָ ה תEntão
ouve [Ó Deus] dos (i.e.,
no) céus.
1Rs 8.32
Gn 24.23
O alvo do movimento (ou atividade dirigida) é usualmente marcado com uma preposição, mas
pode aparecer como um acusativo de lugar.
8. שדֶה
ָ ְוצֵּא ַּהSaia ao campo.
Gn 27.3
Por analogia, o acusativo também é usado para o lugar de onde alguém parte.
As construções com acusativo de localidade (## 12, 14) e com o direcional –āh (## 12, 13) às
vezes são intercambiáveis.
1Rs 2.40–41
A extensão local de uma ação verbal pode também aparecer como um acusativo de lugar.
15. ֲחמֵּש ֶעש ְֵּרה ַּאמָה ִמ ְל ֶַּּ֫מ ְעלָהE as águas subiram a uma
Gn 7.20
1Sm 28.20
17. וְהּוא־ ָהלְַּך ַּב ִמדְ בָר דֶֶּ֫ ֶרְך יֹוםEle foi ao deserto, jornada de
um dia.
1Rs 19.4
c O acusativo de tempo especifica um tempo. Ele pode referir-se ao tempo no qual uma
ação se realiza.
18. עַּתָ ה ֶא ָספֶה יֹום– ֶאחָד ְבי ַּד־Ora, ainda algum dia perecerei
שָאּו֑ לpela mão de Saul.
1Sm 27.1
20. שיחָה
ִ ֶּ֫ ֶֶּ֫ע ֶרב ו ֶָּ֫ב ֹקֶר ְו ָצה ֶַָּּ֫רי ִם ָאNoite,
manhã, e meio-dia que
eu clamo em angústia.
Sl 55.18
Ele pode, também, referir-se à duração de uma ação.
Gn 3.14
Is 20.3
Gn 17.12
Ele pode referir-se ao objeto de uma oração.
28. שלָה
ֵּ ְו ָלקַּח הַּכֹהֵּן ֶאת־ ַּהז ְר ֹ ַּע ְבE o sacerdote tomará a espádua
quando estiver cozida.
Nm 6.19
Js 9.12
Nm 11.10
Sl 3.8
e O acusativo de maneira descreve o modo pelo qual uma ação é realizada; este acusativo
também não leva artigo.
34. וְֹלא ֵּ ָֽתלְכּו רֹומָהNão andareis orgulhosamente
Mq 2.3
Sl 58.2
Sl 139.14
Js 7.12
39. שקָל ִלמְנ ֹרֹות ַּהזָהָב ְ ּו ִמe o peso para os candeeiros de
ְונֵּר ֹתֵּ יהֶם זָהָבouro (GENITIVO) e suas lâmpadas
de ouro (ACUSATIVO)
1Cr 28.15
Jó 15.10
Jz 3.15
Gn 18.6
a Alguns verbos são dupla ou complexamente intransitivos e podem ter mais do que um
objeto associado a eles. Tais verbos são muito mais comuns em hebraico do que em
português, mas considere estas orações:
p 174 Como esses exemplos sugerem, uma transitividade complexa freqüentemente está
associada a noções de causalidade e julgamento, noções atreladas em hebraico aos graus Piel
e Hiphil. Muitos dos exemplos aqui usam verbos nesses graus, enquanto outros refletem
outras diferenças entre os léxicos hebraico e português.
b Comecemos com acusativos duplos não associados com as formas Piel-Hiphil. Um
acusativo duplo de objeto direto + objetos “dativos” é encontrado com verbos de fala (šʾl, ʿny,
ṣwy, ## 4–8), como também com verbos de doação (ntn, zbd, ## 9–10). O objeto “dativo”
geralmente é um pronome. (Nos exemplos abaixo, a marca | é usada para separar os dois
acusativos quando estes forem adjacentes na glosa portuguesa.)
4. ש ְּפטֵּי־ ֶֶּ֫צדֶ ק
ְ ְָאלּונּו ִמ
ֶּ֫ יִשEles me perguntam | somente
para decisões.
Is 58.2
Sl 137.3
1 Rs 12.13
Dt 6.2
11. ַּוּי ִיצֶר יהוה אֱֹלהִים ֶאת־הָ ָָֽאדָ םE YHWH Deus formou o homem
| ָעפָר מִן־ ָה ֲאדָ מָהdo pó da terra.
Gn 2.7
12. שת׃
ֶ כָל־ ֵּכלָיו ָעשָה נ ְֶּ֫חTodos os utensílios os fez de
bronze.
Êx 38.3
Jz 17.4
17. ַּוּי ִ ְבנֶה ֶאת־ ָה ֲא ָבנִים ִמז ְ ֵּב ַּחEle edificou as pedras | num
altar
1Rs 18.32
Gn 15.6
19. ָו ֶָּּ֫ישֶם ֶאת־ ָבנָיו ש ֹ ְפטִיםEle fez dos seus filhos | juízes.
1Sm 8.1
Is 3.7
d Alguns verbos regem um acusativo duplo de objeto direto + meio, seja ele instrumento
(## 23–25) ou meio (# 26).
Mq 7.2
24. ְו ִה ֵֶּּ֫כיתִ י ֶאת־ ָה ֶָּ֫א ֶרץ ֵֶּּ֫ח ֶרם׃Eucastigo a terra | com uma
maldição.
Ml 3.24
Sl 64.8
26. שמֶן
ֶ ֶּ֫ … שחֲָך אֱֹלהִימ
ָ ְמDeus o ungiu… | com óleo.
Sl 45.8
Is 5.2
e Os acusativos duplos usados com os verbos Piel-Hiphil seguem padrões similares (24.1,
27.1). Em diversos casos os acusativos envolvem o objeto do predicado de causalidade, a
pessoa paciente (que sofre a ação) (pelo sujeito primário) + o objeto do outro predicado
verbal, o objeto paciente (que sofre a ação) (pelo sujeito subjacente, a pessoa que sofre a
ação).
Dt 8.3
30. שקִינִי־נָא ְמעַּט־ ֶַּּ֫מי ִם
ְ ַּהDê-me | um pouco de água para
beber.
Jz 4.19
33. וְנֹודִֶּ֫ יעָה ֶאתְ כֶם דָ ָ ֑ברE nós vo-lo ensinaremos | uma
lição.
1Sm 14.12
34. וְהּוא יַּנְחִיל א ֹתָ ם ֶאת־ ָה ֶָּ֫א ֶרץEle lhes fará que herdem a
terra.
Dt 3.28
Gn 42.25
1Rs 18.13
Sl 132.15
Sl 8.6
Is 16.9
Verbos de vestir-se (ou despir-se) podem reger um objeto direto pessoal + objeto
complementar.
p 177 40. ַּוּי ַּ ְלבֵּש שָאּול ֶאת־דָ וִד ַּמדָיוSaul vestiu a Davi | com suas
vestes.
1Sm 17.38
a A partícula אתé um dos morfemas mais difíceis do hebraico bíblico. Parte da dificuldade
é morfológica: a partícula את ֵּ / אֶת־é homônima de ֵּאת/אֶת־, a preposição ‘com’, exceto com
os sufixos pronominais. Com estes a partícula principal é ʾōt–/ ʾet– (א ֹתִ י, א ֹתְ ָך, א ֹתֹו, אתְ כֶם
ֶ,
א ֹתָ ם/ uma vez אֹותְ הֶם/ raramente ֶאתְ הֶם, etc.), enquanto a preposicional preponderante é
ʾitt– (אתִ י
ִ , ִאתְ כֶם, etc.) O resultado dessa semelhança é a confusão entre as duas palavras que
pode ocorrer.
c Poderia ser debatido que אתtenha sido originalmente um sinal do acusativo com verbos
ativos e que no desenvolvimento histórico da língua ele foi reinterpretado como o sujeito de
uma construção passiva equivalente. Assim, por exemplo, ִירד
ָ יָלַּד חֲנֹוְך אֶת־ע “Enoque
gerou Irade” é equivalente a ִירד
ָ ֶאת־ע ַּוּי ִ ָּולֵּד ַּלחֲנֹוְך, “A Enoque nasceu-lhe Irade” (Gn 4.18).
Isto deu a origem, o debate continuaria, ao tipo de construção conhecida como ergativa, na
qual a marcação morfológica do sujeito de um verbo intransitivo seria a mesma do objeto
direto de um verbo transitivo. Assim, uma paráfrase portuguesa ergativa hipotética de ‘João a
moveu’ seria ‘a movida por João’. O passo conclusivo, alguém concluiria no debate, é que
mesmo esse traço da construção passiva original se perdeu. Tal desenvolvimento é atestado
no movimento do indo-ariano primitivo para o hindi e o persa moderno. A reconstrução
também acharia suporte nas línguas semíticas p 179 cognatas, nas quais a terminação do caso
acusativo às vezes é encontrada com o sujeito de verbos passivos e é derivada da falta de
concordância gramatical entre o sujeito plural e o verbo singular. A teoria ergativa deve ser
rejeitada porque não leva em consideração o amplo uso de אתem outras construções no
hebraico bíblico.
a A partícula enfática é usada mais freqüentemente para marcar o objeto direto definido
de um verbo transitivo.
3. ַּו ֶַּּּ֫יעַּש אֱֹלהִים ֶאת־ ַּחּי ַּת ָה ֶָּ֫א ֶרץDeus fez os animais selvagens.
Gn 1.25
Numa série de objetos diretos definidos, se a partícula for usada em um membro da série, ela
geralmente será usada em cada membro (# 4); ocasionalmente o ʾt inicial numa série anula os
objetos subseqüentes (# 5).
4. ַּוּי ַּכּו ֶאת־ ַּה ְכנַּ ֲענִי ְו ֶאת־ ַּהּפ ְִרז ִי׃Feriram os cananeus e ferezeus.
Jz 1.5
5. ַּוּי ִתֵּ ן יהוה ֶאת־ ַּה ְכנַּ ֲענִי ְו ַּהּפ ְִרז ִיYHWH deu os cananitas e
ְבי ָ ָ֑דםferezeus em suas mãos.
Jz 1.4
Nm 22.33
7. ּו ְל ַּקחְתֶ ם גַּם־ ֶאת־ז ֶה ֵּמעִם ָּפנַּיSe agora também tirardes este
de mim …
Gn 44.29
8. שלַּח
ְ ֶאת־מִי ֶא Quem enviarei?
Is 6.8
p 180 Construções com ‘todo’ e números, também envolvem uma determinação lógica.
Gn 21.30
12. שחְתָ לִי אֵּת ֲאשֶר־אֹמַּרַּ ּו ָמe eu te farei saber o que hás de
ֵּא ֶֶּ֫ליָךfazer, e ungir-me-ás a quem eu
te disser.
1Sm 16.3
13. ַּו ֵֶּּּ֫ידַּ ע ֵּאת ֲאשֶר־ ָעשָה־לֹו בְנֹוE ele soube o que lhe fizera o
T. Muraoka observou que, estatisticamente, há um uso mais elevado de אתem 1 Samuel 1–8
(apenas 8 das 116 ocorrências do objeto direto definido não a possuem) do que em Gênesis
12–20 (22 de 86 exemplos não a possuem). Ele não encontrou qualquer razão para sua
omissão; compare os exemplos a seguir.
Lv 26.5
Nm 21.9
21. .ּו ָמלְאּו בָתֵּ י ִמצ ְֶַּּ֫רי ִם ֶאת־ ֶהעָר ֹבE as casas dos egípcios se
encheram de moscas.
Êx 8.17
Êx 23.22
24. ש ְבטֵּי
ִ הֲדָ בָר דִ ֶַּּ֫ב ְרתִ י ֶאת־ַאחַּדEu falei alguma palavra com
ָ יalgumas das tribos de Israel?
ִשראֵּל
2Sm 7.7
A partícula é usada esporadicamente com acusativos adverbiais, de lugar (## 27–28), de tempo
(## 29–30) e de limitação (## 31–33).
27. י ָדַּ ע ֶלכְתְ ָך ֶאת־ ַּהמִדְ בָר ַּהגָד ֹלEle te assistiu em tua jornada
ַּה ֶז֑הpor meio deste imenso deserto.
Dt 2.7
Êx 13.7
31. ַּתְכ֑ם
ֶ ּונְ ַּמלְתֶ ם ֵּאת ְבשַּר ע ְָרלCircuncidareis no que diz
respeito à carne de seu
prepúcio.
Gn 17.11
2Sm 4.5
33. ת־רגְלָיו׃
ַּ ָחלָה ֶאEle ficou doente dos seus pés.
1Rs 15.23
1Sm 17.34
Jz 20.44
2Rs 6.5
Ne 9.19
6. ִירד
ָ ַּוּי ִ ָּולֵּד ַּלחֲנֹוְך ֶאת־עE Irade nasceu (PASSIVO) a
Enoque.
Gn 4.18
Gn 27.42
O verbo existencial ‘ ָהי ָהser’ e as duas partículas existenciais ‘ י ֵּשhá’ e ‘ אֵּיןnão há’ pedem
regência verbal ordinária, com um sujeito nominativo. O verbo ( היהcom ‘ לpertencer a’; ##
9–10) e ambas as partículas (## 11–12) têm sujeitos ou substantivos em aposição aos sujeitos
marcados com את.
9. ְואִיש ֶאת־ ֳקדָ שָיו לֹו יִהְי֑ ּוComo para toda pessoa, as suas
ofertas lhe pertencem
Nm 5.10
10. שנֵּי הַּגֹוי ִם ְו ֶאת־שְתֵּ יְ ֶאת־As duas nações e as duas terras
ָהא ֲָרצֹות לִי תִ ְה ֶֶּ֫יינָהserão minhas.
Ez 35.10
p 183 12. ְואֵּין־ ֶאתְ כֶם ֵּאלַּיTu não te voltaste para mim
Ag 2.17
c Com orações sem verbo, אתpode ser usada para marcar o sujeito (# 13) ou o predicado
(# 15) ou ambos (# 17), ou um substantivo em aposição a eles (## 14, 16).
Js 22.17
14. … ְוז ֶה ֲאשֶר ֹלא־ת ֹאכְלּו מ ֶ ֵּ֑הםMas estas são as (aves) que tu
אֵּת כָל־ע ֵֹּרב ְלמִינֹו׃não podes comer de … qualquer
espécie de corvo (SUJEITO
APOSITIVO)
Dt 14.12, 14
15. כָל־ ֶהע ִָרים ֲאשֶר תִ תְ נּו ַּל ְל ִוּי ִםTodas as cidades que dareis aos
שמֹנֶה עִי֑ ר ֶאתְ הֶן ְ levitas serão quarenta e oito
ְ ַאר ָבעִים ּו
cidades e os seus arrabaldes
( ְו ֶאת־ ִמג ְְרשֵּיהֶן׃PREDICADO).
Nm 35.7
16. ֵּהמָה ַּה ָּפנִים ֲאשֶר ָר ִֶּ֫איתִ י עַּל־Eram as suas aparências como a
֑ ָ נְהַּר־ ְכבָר ַּמ ְראֵּיהֶם וdos rostos que eu tinha visto
ְאֹותם
junto ao rio Quebar (PREDICADO
APOSIÇÃO).
Ez 10.22
17. ְואֵּת הֶ ָֽע ִָרים ֲאשֶר ִתתְ נּו ַּל ְל ִוּי ִםAs cidades (SUJEITO) que dareis
ֵּאת שֵּש־ע ֵָּרי ַּה ִמ ְקלָטaos levitas, seis serão cidades
de refúgio (PREDICADO).
Nm 35.6
d Os dois usos restantes de אתsão raros. Ela pode ser usada para marcar um nominativo
absoluto (tópico oracional ou marcador focal; veja 4.7, 8.3).
18. ֶאת־כָל־ ָה ֶָּ֫א ֶרץ ֲאשֶר־ ַּאתָ ה רֹאֶהPorque toda essa terra que vês,
לְָך ֶאתְ ֶּ֑֫ ֶננָהeu a darei, a ti.
Gn 13.15
19. ְוגַּם ֶאת־ ַּמ ֲעכָה ִאמֹו ַּויְס ִֶֶּ֫ר ָהe até a Maaca, sua mãe, depôs
ָ ִמ ְגבda dignidade de rainha-mãe.
ִירה
1Rs 15.13
Ez 20.16
Como muitos exemplos têm mostrado, אתpode marcar um substantivo em aposição (12.1) a
um nominativo; é usada pelo menos uma vez diante de um substantivo em aposição a um
objeto preposicional.
21. ַּויְמ ְָררּו אֶת־ ַּחּי ֵּיהֶם ַּבעֲב ֹדָהAssim lhes fizeram amargar as
ָקשָה … אֵּת כָל־עֲב ֹדָ תָ םvidas com dura servidão … em
todos os seus trabalhos
Êx 1.14
b Como את, לé usada para marcar o objeto direto definido de um verbo transitivo
(cf.11.2.10, ##58–60).
5. ג־כעַּש
֑ ָ לֶ ָֽ ֶאוִיל יַּה ֲָרO ressentimento mata um tolo.
Jó 5.2
c O sujeito de um verbo pode ser marcado com l; o verbo pode ser intransitivo ou passivo.
2Cr 7.21
7. ּפֶן י ְ ֻבלַּע ַּל ֶֶּ֫מלְֶך ּו ְלכָל־ ָהעָםpara que não seja destruído o
ֲאשֶר ִאתֹו׃rei e todo o povo que com ele
está (PASSIVO)
2Sm 17.16
p 185 8 . ַּוּי ִתְ נַּדְבּו ש ֵָּרי הָָאבֹות ְוש ֵָּריEntão, os chefes das famílias, os
ִשראֵּל ְוש ֵָּרי ָה ֲא ָלפִים ָ ש ְבטֵּי י ִ príncipes das tribos de Israel, os
capitães de mil e os de cem e
ְו ַּהמֵּאֹות ּו ְלש ֵָּרי ְמ ֶֶּ֫לאכֶת ַּה ֶֶּ֫מלְֶך׃até os intendentes sobre as
empresas do rei.
1Cr 29.6
9 ִם־שרי ָה ֲא ָלפִים
ֵּ ַּוּי ִ ָּועַּץ דָ וִיד עConsultou Davi os capitães de
ְו ַּהמֵּאֹות ְלכָל־נָגִיד׃mil, e os de cem, com cada
príncipe.
1Cr 13.1
10.5 הDirecional
a Antes da decifração dos textos ugaríticos (1.3.1) os gramáticos supunham que o sufixo
átono hebraico –āh, significando “direção”, representava uma sobrevivência da terminação –a
do caso acusativo original. Descobriu-se, porém, que o ugarítico tinha tanto uma terminação
acusativa –a como um sufixo adverbial –h, como o sufixo hebraico chamado “he-local” ou “he-
direcional”. Com base nessa evidência é certo que o he direcional hebraico não é um
sobrevivente do antigo acusativo, mas um sufixo adverbial distinto. Em linhas gerais, como o
sufixo adverbial inglês ‘–ward’, esse sufixo denota alguns sentidos semelhantes àqueles
designados pelo caso acusativo; ele difere daquele caso, no qual ele pode ocorrer com
substantivos regidos por uma preposição, ao enfatizar claramente a noção de direção.
b O he direcional pode indicar a direção para a qual uma ação está dirigida. O caso mais
simples desse tipo de he direcional é a palavra ֵֶּּ֫הנ ָה.
Gn 43.16
2. ש ֶַּּ֫מי ְ ָמה
ָ ַּהבֶט־נָא ַּהOlhe para os céus.
Gn 15.5
3. ַּוּיָבֵּא ָהאִיש ֶאת־ ָה ֲאנָשִים ֵֶּּ֫ביתָ הO varão levou os homens para a
יֹוסֵּף׃casa de José.
Gn 43.17
Menos freqüentemente, o he ocorre numa frase preposicional indicando a direção a partir da
qual uma ação é dirigida.
Jr 27.16
5. וְדָ וִד ְב ִמדְ בַּר־ז ִיף ב ֶַּּ֫ח ֹ ְרשָה׃Davi esteve no deserto de Zife,
em Horesa.
1Sm 23.15
Êx 13.10
p 187 11
Preposições
11.1 Introdução
1.1 Perspectiva “Nominal”
2.2 אל
2.3 אצל
2.4 את
2.5 ב
2.6 בין
2.7 בעד
2.8 יען
2.9 כ
2.10 ל
2.11 מן
2.12 עד
2.13 על
2.14 עם
2.15 תחת
11.3 Preposições Compostas e Complexas
11.1 Introdução
a Por outra perspectiva, as preposições hebraicas pertencem à ampla classe das partículas.
Algumas preposições também se comportam como advérbios ou conjunções, dois outros
grupos de partículas. Como muitas partículas, algumas preposições hebraicas p 189 ficam do
lado de fora do sistema de raízes. De fato, a complexidade morfológica das preposições
merece um estudo separado. Ela apresenta três características.
b A primeira destas envolve a oposição das preposições simples (p.ex., מִןe )עַּל, as
preposições compostas, que são compostas de duas (ou mais) preposições simples (p.ex.,
; ֵּמעַּל11.3.3), e as preposições complexas, constituídas de uma preposição + um substantivo
(p.ex., בי ַּד
ְ ‘por, através’ e ‘ בְתֹוְךno meio de’; 11.3.1).
c A segunda característica dessa complexa classe de palavras é a diversidade de
estructuras associadas às preposições simples:
2. CVC, as preposições proclíticas עַּד־, עַּל־, אֶל־, ;מִן־estas com freqüência são unidas
aos substantivos que elas modificam com um maqqeph.
מִן (ממֵּי
ִ ?) não sim ִמ ֶֶּ֫מנּו ֵּמהֶם, etc.
‘dele, de
nós’
Mesmo as regularidades nesta tabela são enganadoras: variantes alongadas de כe מןsão
regularmente usadas com sufixos, mas a forma alongada de לé observada apenas em לָמֹו, p
190 que é usada em dois sentidos diferentes, ‘para ele’ (como se fosse ləmô + pronome –ô) e
‘para eles’ (como se fosse lə + pronome –hem/–am). A forma variante mais alongada é usada
apenas em Jó (quatro vezes).
a Nas duas perspectivas sobre preposições que descrevemos, as palavras são vistas, por
um lado, como substantivos essencialmente em papéis acusativos adverbiais e, por outro lado,
como partículas morfologicamente diferentes. Numa terceira perspectiva, é a semântica das
preposições que é enfatizada. Qual o significado da relação entre o substantivo que a
preposição rege e a oração na qual a frase preposicional ocorre? A relação vai em duas
direções; considere esta oração:
Ez 24.2
b A parte principal deste capítulo ocupa-se com esse arcabouço, ou seja, as preposições
simples mais importantes (11.2). Após debater as preposições compostas e complexas (11.3),
algumas características sintáticas das preposições são apresentadas (11.4).
a Preposições são termos de relação, e sua grande importância está na notável economia
com que conseguem expressar tantas relações diferentes. O número de tipos de p 191 relação
é abundante, embora as relações de lugar e de tempo sejam as de maior importância, e as
formas de relações posicionais e temporais são as mais desenvolvidas. Outros tipos
importantes de relação, freqüentemente sinalizados por preposições, incluem origem,
instrumento, agente, interesse, causa e alvo.
b Mesmo um exame apenas das interrelações de usos espaciais das preposições hebraicas
revela a complexidade do sistema, as lacunas, as sobreposições no léxico, e os diversos modos
em que os termos relacionais estão delineados. Os sentidos espaciais das preposições podem
referir-se tanto a posição quanto a movimento. Se marcarmos com flechas as preposições que
descrevem principalmente o movimento e deixarmos as outras não-marcadas, podemos
esboçar muitas das preposições espaciais num diagrama simples.
‘Ele o tomou da mesa’ = [em francês] il l’a pris sur la table … Devemos assumir
que sur em francês é ambíguo, significando tanto ‘sobre’ quanto ‘de (origem)’?
Tal reivindicação não seria viável e nenhum falante nativo aceitaria a
permutabilidade entre sur e de [como em de Paris ‘(oriundo) de Paris’] ou
depuis [como em depuis le matin ‘a partir da manhã, desde a manhã’]. A
explicação se apóia na perspectiva do falante: o português expressa a
separação causada pelo ato mediante o uso da preposição ‘de’ (oriundo de),
enquanto que o francês olha para a posição do objeto antes de a ação ter
ocorrido.
e Idealmente, os significados das preposições devem ser classificados de acordo com suas
combinações idiomáticas com verbos específicos, no intuito de salvaguardar-se de
alongamentos impróprios do significado de uma preposição. Não se deve assumir que um
falante de hebraico teria categorizado seus significados de acordo com equivalentes
portugueses. Todavia, o significado da preposição é, em grande medida, consistente e
apreensível, mesmo com as variações devidas aos sentidos dos verbos usados com ela. Um
estudo preciso e exaustivo dos pares hebraicos do tipo verbo-preposição pertence a um
dicionário ou a livros de vocabulário avançado, como observado antes. O propósito desta
gramática é fornecer um panorama básico da maioria das preposições simples e de seus
significados, sem inventariar os verbos associados a cada uma delas. O estudante deve
considerar as glosas usadas nos exemplos seguintes como guias e continuar aberto a outras
interpretações possíveis das combinações do tipo verbo-preposição.
f Das quinze preposições simples discutidas aqui, todas, exceto duas ( ֶַּּ֫יעַּן, ) ְכ, têm um
sentido espacial. Os sentidos espacial e temporal são geralmente observados primeiro, e
outras relações relevantes em seguida.
a Esta preposição é usada de duas formas, uma aparentemente singular, e a outra com a
terminação –ê, aparentemente plural. A forma singular também é usada como um advérbio, e
a plural como um substantivo. A preposição tem o sentido posicional ‘atrás de, depois de’ (# 1)
e um sentido metafórico posicional ‘(andar) após’ > ‘(comportar-se) como, à maneira de,
conforme a norma de’ (# 2). O sentido temporal é ‘depois, posterior’ (## 3–4), e o sentido
lógico principal refere-se a interesse, vantagem, ou desvantagem (‘após, para, contra’; ## 5–6).
Há um sentido derivado, que se origina na geografia p 193 básica do corpo em hebraico:
exatamente como o lado ‘direito’ ( )יָמִיןdo corpo é ‘sul’ ()יָמִין, assim o lado ‘detrás de’ ַאחַּרé
o lado remoto ou ‘oeste’ (# 7).
1 . ִהנֵּה־ז ֶה עֹומֵּד ַאחַּר כָתְ ֵֶּּ֫לנּוEis que ele está detrás da nossa
parede.
Ct 2.9
2Rs 13.2
Jó 39.8
2Rs 19.21
7. ַּוּיִנְהַּג ֶאת־הַּצ ֹאן ַאחַּר ַּה ִמ ְדבָרEle levou o rebanho para o lado
ocidental (ou distante) da
estepe.
Êx 3.1
11.2.2 אֶל
a O maqqeph está quase invariavelmente presente com esta preposição. Há uma forma
alongada אלֵּי־
ֱ , e é a partir desta que as formas sufixadas parecem derivar: ֵּאלַּי, ֵּא ֵֶּּ֫לינּו, etc. O
sentido locativo contingente (‘a, por, perto de’; # 1) é menos importante do que os sentidos
envolvendo movimento; ʾl marca uma direção (‘para’; ## 2–3), um alvo ou um fim (‘para
dentro’; # 4), ou um limite ou um grau (‘até onde, até; # 5, metafórico). Um grupo de sentidos
lógicos é “dativo” (cf. 11.2.10d): ʾl marca um dativo simples (‘para’ o recipiente de presente ou
um endereço; ## 6–7), um dativo ético de interesse, vantagem, ou desvantagem (para, contra;
## 8–11), e um dativo normativo (de acordo com; # 12). Outro grupo é comitativo, que são os
sentidos de companhia (‘com’; # 13) e soma (‘em adição a’; # 14); as preposições comitativas
pessoais (‘com alguém’) são אֵּתe עִם. A preposição ʾl também pode ser usada como uma
especificação (‘por causa de’; # 15).
Jr 41.12
3. ִלהְיֹות עֵּי ֶֶּ֫נָך פְתֻ חֹות אֶל־ ַּה ֶַּּ֫בי ִתque os teus olhos estejam
ַּחז ֶהabertos em direção a este
templo
1Rs 8.29
5. ש ָּפטָּה
ְ ש ֶַּּ֫מי ִם ִמ
ָ כִי–נָגַּע אֶל־ ַּהO seu juízo chega até aos céus.
Jr 51.9
Dt 13.2
7. ַּוּיִק ְָרא אֶל־ ֲעבָדָ יו וַּּיֶּ֫ אמֶרE ele chamou (aos) os seus
ֱאלֵּיהֶםservos e lhes disse…
2Rs 6.11
Ez 36.9
10. אֵּין נַּ ְפשִי אֶל־ ָהעָם ַּה ֶז֑הEu não tenho coração para este
povo.
Jr 15.1
Js 15.13
1Rs 10.7
2Sm 24.16
11.2.3 ֵֶּּ֫אצֶל
a Esta preposição tem um sentido posicional ‘ao lado de, junto a’ (## 1–2).
Ne 4.12
Gn 39.10
11.2.4 אֶת
a O formato desta preposição em formas sufixadas é ʾitt– (e.g, ִאתִ י, ) ִאתֶָּ֫ נּוe assim ela
contrasta com a escrita da partícula את
ֵּ , que tem as formas ʾōt– (p.ex., א ֹתִ י, )א ֹתֶָּ֫ נּוe ʾet–
(p.ex., תכֶם
ְ ; ֶאveja 10.3). O sentido básico é comitativo (‘com’); ela pode marcar
acompanhamento (companhia, comunhão; # 1), interesse (companhia, literal ou metafórica,
com o intuito de ajuda; ## 2–4), ou o complemento de verbos de trato, fala e ação (## 5–7). O
objeto de ʾt também pode ser uma adição (‘junto a, ao lado de, em adição a’; # 8). A
preposição tem um sentido espacial intimamente relacionado a este último (‘próximo de’; # 9);
compare a forma portuguesa ‘ao lado de’, como em ‘Há um templo ao lado do palácio’ e ‘Há
um sacerdócio ao lado da monarquia’. O possessivo pode ser marcado com ʾt (‘ter’; # 10).
1. ְו ַּאתָ ה ּו ָב ֶֶּ֫ניָך ִאתְָךtu e teus filhos contigo
Nm 18.2
2Rs 9.32
Nm 14.9
Gn 4.1
5. ַּו ֲאנִי ִהנְנִי ֵּמקִים ֶאת־ב ְִריתִ יEu estou confirmando minha
ִאתְ ֶכ֑םaliança convosco.
Gn 9.9
Gn 42.30
Sl 67.2
Êx 20.23
9. ְב ַּצ ֲע ֶַּּ֫ני ִם ֲאשֶר ֶאת־ ֶֶּ֫קדֶ ש׃em Zaananim, que está junto a
Quedes
Jz 4.11
a Esta preposição, a segunda mais comum em hebraico, ocorre tanto na forma simples ְב
como forma alongada ;בְמֹוesta última não leva sufixos. A diversidade de sentidos de בé algo
digno de nota.
Jz 16.4
Gn 31.54
3. שע ֶ ֑ ֶָּ֫ריָך
ְ וְָא ַּכלְתָ ָבשָר … ְבכָל־Comerás a carne… dentro de
todos os teus portões.
Dt 12.15
6. שדֶ ה
ָ מִי־ ָהאִיש ַּה ָלז ֶה הַּהֹלְֵּך ָבQuem é aquele homem que
ִלק ְָראתֵֶּּ֫ נּוvem pelo campo ao nosso
encontro?
Gn 24.65
c Usada temporalmente, b pode marcar um tempo vigente em, a ou quando (## 7–9). Ela
pode ainda, marcar uma ação simultânea à do verbo principal; a ação simultânea é mostrada
por um infinitivo (36.2.2b) numa oração circunstancial.
Pv 17.17
8. שמָם׃
ְ בְדֹור ַאחֵּר יִמַּחEm (o tempo de) uma futura
geração sejam seus nomes
extintos.
Sl 109.13
Sl 46.2
d Diversas circunstâncias podem ser marcada com b, tanto física (beth comitantiæ; ## 10–
12) como mental (## 13–14); tais frases freqüentemente são vertidas para o português p 197
com um advérbio. Ambas, instrumentos (não-animados; ## 15–16) e agentes (animados),
simples (# 17; observe o Niphal) e adversativo (# 18), levam b. A preposição pode reger o
material com o qual um ato é realizado (# 19) e o preço (beth pretii) pago (# 20) ou o padrão
monetário utilizado (# 21).
10. ש ֶַּּ֫ליְמָה ֵּב ַּחי ִל ָכבֵּד
ָ וַּתָ ב ֹא י ְרּוEla entrou em Jerusalém com
Sl 46.7
Ed 3.12
13. ש ֑שֹון
ָ ּושְַאבְתֶ ם־ ֶַּּ֫מי ִם ְבVós tirareis água alegremente
(lit., em alegria).
Is 12.3
Jr 31.9
16. וַּתִ ָבקַּע ָה ֶָּ֫א ֶרץ בְקיֹלָם׃Aterra foi sacudida pelo seu
clamor.
1Rs 1.40
18. י ָדֹו בַּכ ֹל ְוי ַּד כ ֹל ֑בֹוSua mão será contra todos, e a
mão de todos, contra ele.
Gn 16.12
19. ַּריְצַּף ֶאת־ק ְַּרקַּע ַּה ֶַּּ֫בי ִת ְב ַּצלְעֹותE cobriu o piso da casa com
בְרֹושִים׃tábuas de cipreste.
1Rs 6.15
20. וַּתַּ ֲעלֶה וַּתֵּ צֵּא מ ְֶר ָכבָה … ְבשֵּשUma carruagem foi importada
1Rs 10.29
21. שקֶל
ֶ ש ָקלִים ְב
ְ שת
ֶ ֶכסֶף ֲח ֵּמcinco siclos (sheqels) de
Nm 18.16
25. עַּל־כֵּן ֶא ְבכֶה ִב ְבכִי י ַּ ְעז ֵּרPelo que prantearei, como Jazer
(lit., como o pranto de Jazer).
Is 16.9
27. ָוא ֵָּרא אֶל־ַאב ְָרהָם … בְאֵּ לEu apareci a Abraão …como El
ַּ Shaddai.
ש ָ ֑די
Êx 6.3
Sl 118.7
Sl 141.4
32.