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Análise das Redes Sociotecnicas e Socioinstitucionais das Políticas Públicas de Atendimento

às Mulheres em Situação de Violência Doméstica: Dimensões simbólicas, atores e discursos.

Resumo

Este artigo apresenta uma análise da rede de atenção à violência contra as mulheres a partir do
estudo das redes sociotecnica e socioinstitucional previstas nos Planos de Políticas para as
Mulheres em vigor no período da coleta de dados nos três níveis de governo. A partir da análise
documental foram identificadas as características e ações contidas no planejamento, os atores e
fluxos previstos nos planos, as matrizes discursivas e foram elaborados grafos das redes
utilizando o software GEPHI 1.9.1. Os resultados indicam continuidades e descontinuidades
entre os planos e apontam uma rede no nível local com características diversas daquelas
propostas e organizada principalmente em torno do enfrentamento à violência contra as
mulheres, havendo a diluição dos demais aspectos previstos nas políticas para as mulheres. Para
a análise dos grafos foi utilizado o referencial da Análise de Redes Sociais – ARS. A partir deste
estudo conclui-se que o referencial teórico de redes sociais mostra-se um instrumento que
possibilita a análise das políticas públicas desde sua formulação até a implementação nos vários
níveis de execução.

Palavras-chave: Análise de Políticas Públicas; Redes Socioassistenciais; Rede de Atendimento à


Mulher em Situação de Violência; Violência Doméstica Contra a Mulher.

Introdução
Com as reivindicações do movimento feminista1 no Brasil e no mundo, chamando a
atenção para as várias formas de violência infringidas contra as mulheres, surgiram novos
campos de estudos sobre a violência contra as mulheres direcionados a várias áreas das políticas

1
A referência feita ao movimento feminista não quer dizer que não se tenha conhecimento das diferentes
correntes deste movimento e do movimento de mulheres, mas se quer enfatizar o papel fundamental das
mulheres organizadas para a inclusão das políticas públicas para as mulheres nos planos de governo.
públicas, principalmente, no que se refere à saúde, educação, assistência social, segurança,
justiça dentre outras, que, além de proporem intervenções em suas práticas, passariam a compor
um novo campo teórico e metodológico de pesquisa (BANDEIRA, 2010; DELGADO, 2007). A
violência dirigida às mulheres tornou-se um dos principais focos dos estudos sobre violência de
gênero, constituindo-se em um campo de estudo linguístico e narrativo que contribui para a
compreensão e denominação das várias formas que a violência assume na vida das mulheres,
possibilitando, desse modo, a intervenção no fenômeno (BANDEIRA, 2014).
O debate sobre a violência infringida contra as mulheres teve vários avanços quando o
movimento feminista passou a desconstruir a ideia de que seria o aparato sexual, inerente à
natureza de homens e mulheres, e os significados atribuídos à masculinidade e à feminilidade
que determinavam o modo como as relações se dão. Ao levantar esses questionamentos, as
concepções acerca dos sexos passam a ser inscritas no modo como são estabelecidas as relações
sociais na história, enfatizando a noção de cultura, situando-as na esfera social e rejeitando
totalmente a ideia da determinação biológica, que sempre serviu como justificativa para
inúmeras formas de subordinação feminina (SCOTT, 1995; ARAÚJO, 2014).
Afinal, é pela perspectiva de gênero que é possível compreender que a violência contra
as mulheres emerge da questão da alteridade, este é um elemento que distingue a violência contra
as mulheres de outras violências, uma vez que esse tipo de violência não se refere a atitudes e
pensamentos de aniquilação do outro como um igual, sendo este visto com as mesmas condições
de existência e valor que o seu perpetrador. Tal violência ocorre motivada pelas expressões de
desigualdades baseadas no sexo biológico. Caracteriza-se, portanto, em uma ação que torna o
outro uma coisa, um objeto desprovido de desejo, de autonomia e de autodeterminação. Esta
condição de desigualdade tem início no universo familiar, onde a violência concentra-se sobre os
corpos femininos justamente porque as relações assimétricas de poder dominam a vida cotidiana
das pessoas. A violência contra as mulheres também traz em seu bojo a estreita relação com as
categorias de classe, raça/etnia e suas relações de poder e potencializa as complexidades
presentes nas relações sociais. (BANDEIRA, 2014).
A realidade vivenciada pelas mulheres nos vários espaços sociais impõe a necessidade
de conhecer e expressar as múltiplas formas de violência que ocorrem no cotidiano, inclusive
para formular mecanismos de intervenção em uma ordem social que produz e reproduz formas
de opressão e violência contra as mulheres. Mediante esses estudos, foram geradas várias
designações que são utilizadas nos estudos de gênero para tratar de diferentes aspectos da
violência contra as mulheres. Desse modo, é possível encontrar a expressão violência contra as
mulheres com vários significados, dependendo de suas implicações empíricas e teóricas. No
âmbito desse artigo será utilizada a definição que figura na Lei 11.340/06, denominada Lei Maria
da Penha.
Tendo em vista a relevância do estudo das políticas públicas para as mulheres,
fundamentalmente para tratar da violência impingida contra estas, este artigo analisará o
desenvolvimento das políticas a partir dos Planos de Políticas Públicas para as Mulheres dos três
níveis de governo no período da coleta dos dados (2014 a 2016). Mais especificamente, realiza-
se uma análise documental dos planos para mapear os atores que constituem a rede sociotecnica
e socioinstitucional (Martins, 2004), e as matrizes discursivas que expõem os principais
conteúdos e o modo como a política deve organizar-se.
Deste modo, a partir do referencial teórico de redes sociais, para além da apresentação
dos grafos das redes, serão descritos os fluxos e os atores envolvidos na assistência às mulheres.

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