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PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA

Secretaria de Educação

Gerência de Formação e Desenvolvimento em Educação

Comissão de Educação em Direitos Humanos

FORMAÇÃO “EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS” – PROFISSIONAIS


DA EDUCAÇÃO

1. Identificação:

Diego Rodrigues Batista e Valentim Bastos Fernandes

Prevenção ao Feminicídio na Educação de Jovens e Adultos

Escola Municipal de Ensino Fundamental Álvaro de Castro Matos

Noturno

2. Organização Geral

Em 2017, de acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP),


são mortas um total de oito mulheres por dia no Brasil, ocupando o 7º lugar
(em um total de 84) entre os países que possuem o maior número de mulheres
mortas, o Estado do Espírito Santo ocupava a quinta colocação no ranking
nacional de crimes praticados contra vida de mulheres, o feminicídio, sendo ele
por muitos anos o primeiro colocado em mortes femininas no Brasil. Sendo um
dos Estados em que mais se mata mulheres, constantemente lidera o ranking
nacional de homicídios de mulheres com uma taxa de 9,8 para cada 100 mil
mulheres, foi criado em razão deste elevado número, a primeira delegacia de
polícia do Brasil especializada em investigar este tipo de homicídio.
A mulher é a maior vítima da violência de gênero que, segundo o Instituto
Sangari (2012), em 95% dos casos de violência praticadas contra a mulher o
agressor é um homem.

O feminicídio se encontra elencado no Código Penal de 1940, em seu Artigo


121, quando explícita que: “Feminicídio: VI – Contra a mulher por razões da
condição do sexo feminino; VII – Contra autoridade ou agente descrito nos
artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; §2º A Considerar-se
que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolver: I –
Violência doméstica e familiar; II – Menosprezo ou discriminação à condição de
mulher”.

O feminicídio é o homicídio doloso que é praticado contra a mulher pelo


simples fato dela ser do sexo feminino e que foi alterado através da Lei nº
13.104/15, a sua tipificação como sendo um homicídio qualificado, praticado
por qualquer pessoa, mas normalmente o sujeito ativo é o homem e o sujeito
passivo deve ser obrigatoriamente do sexo feminino. Surge pela primeira vez
em 1990, na revista feminista liberal americana Ms, quando Jane Caputi e
Diana Russell, empregaram a palavra feminicídio para denominar o “terrorista
sexista”, uma violência de caráter misógino ou relacionado ao ódio à mulher,
referente ao caso de um assassino em série que matou 14 mulheres e o feriu
outras mulheres e homens antes de cometer suicídio, não antes de gritar o
motivo de fazê-lo, acusando as feministas pelos seus problemas. Segundo as
autoras, o termo feminicídio, daria uma maior visibilidade às mortes de
mulheres que morreram pelo fato de serem mulheres, bem com os vários
outros tipos de violência como a física, psicológica, patrimonial, estupro e
abusos.

A organização das Nações Unidas (ONU) classifica a violência contra mulheres


como uma grave violação dos direitos humanos. Uma violência que se explana
para suas famílias, suas comunidades e a todos ao seu redor. Assim, foram
necessários anos e anos de mobilização social para que a violência doméstica
e a de gênero ganhassem importância na agenda global. Milhares de mulheres
continuam sendo agredidas, violentas e mortas no Brasil, em geral por
parceiros e ex-parceiros.

Esses abusos tomam várias formas como: agressões físicas, quebras de


objetos favoritos, ameaças de ferir os filhos ou outros membros da família,
abuso psicológico, intimidações, humilhações, coerção sexual,
comportamentos de controle, vigilância constante, entre outras.

A justifica para o desenvolvimento desse trabalho se dará pelo fato da


possibilidade de contribuir, a partir de análise de práticas discursivas, a
construção de um/uma estudante (em especial, as mulheres), que saiba
identificar essas agressões e assim criar possibilidades de decisões de
medidas preventivas, proativas e repressivas no enfrentamento do crime.

Assim, o trabalho se justifica pela necessidade de compreender os fatores que


contribuem para a tomada deste tipo de violência e como combater esta
violência.

O trabalho tem como objetivo, apresentar métodos de prevenção aos


estudantes da rede pública, principalmente aqueles que vivem em situação de
risco. Assim, ele tem como especificidade os seguintes itens:

Mostrar casos reais noticiados pela mídia estadual;

Discutir as especificidades dos casos;

Apresentar possíveis soluções;

Trabalhar o empoderamento feminino.

Desta forma, o trabalho será desenvolvido principalmente entre as alunas da


Educação de Jovens e Adultos – EJA, do período noturno. Utilizando como
recurso didático vídeos e imagens através do Datashow, que fornecerá o
material necessário para a culminância do trabalho, que será uma roda de
bate-papo sobre a prevenção e proteção o que porventura durante o tempo do
ACC, que antecede as aulas.

Como prelúdio desse trabalho, aos estudantes será apresentado o tema


através do filme “Cidade do Silêncio”, que foi produzido em 2006, sendo
baseado em uma história verídica, no qual fornece informações sobre as
centenas mortes de mulheres em Ciudad Juárez, informações que deram
origem aos trabalhos desenvolvidos sobre o feminicídio.

Após os debates e apresentação do tema, os estudantes realização pesquisas


na sala de informática, sendo a cada aula um tema relacionado com o tema,
tais como conceitos, livros e artigos importantes sobre o assunto, descobertas
de casos nacionais e especial aqueles ocorridos no estado do Espírito Santo.

Por fim, será trabalhado o feminismo através da música no passar dos


períodos históricos, inicialmente pensar sobre o feminismo na idade Média, em
especial, o papel da mulher e sua representatividade durante uma época em
que o patriarcado, a supremacia masculina, dominava o sistema social e havia
a desvalorização da identidade feminina e suas atribuições, sendo comparado
com a representatividade do feminino na atualidade, trespassando o
empoderamento feminino que lhe permite sair da opressão, dando-lhe voz para
lutar contra o feminicídio.

Assim, será trabalhado o estudo comparativos das mulheres nas cantigas


trovadorescas de amor medieval chegando às atuais músicas popular tais
como o funk “carioca”. Um trabalho realizado em parceria com a professora de
Língua Portuguesa, que vem desenvolvendo-o com seus alunos em acordo a
sua pesquisa do doutorado.

Avaliação:

O referente trabalho foi desenvolvido junto a um grupo de alunas da EMEF


ÁLVARO DE CASTRO MATTOS. Usando como metodologia a “roda de
conversa”, a partir da apresentação dos dados históricos e estatísticas do
presente. Discutiu-se também o contexto dos “sujeitos” envolvidos na reflexão,
e apresentou-se como saída, a conscientização de toda a sociedade,
promovendo amplo debate a partir das Escolas de todos os níveis, Igrejas,
Empresas, Movimentos Sociais, Meios de Comunicação etc. Consideramos
que os objetivos foram alcançados, uma vez que, no âmbito escolar, as
reflexões encorajaram as envolvidas a exporem publicamente sua afetação
pela temática, conforme comprovam os relatos anexos.
Anexo:

Relato 1

Anexo:

Relato 1

Meu nome é V..

Hoje eu vejo que sofri violência doméstica no passado, não só com o pai dos
meus filhos, mas também aos meus 14 anos quando sofri uma violência, um
estupro a pedido de uma irmã.

Aos dezoito anos eu casei, no início era tudo muito bom, mas ao se passar um
ano, as coisas mudaram, eu não podia mais ter amizades, minha família não ia
à minha casa e assim as coisas foram só se complicando, ao ponto de não
poder ir na varanda da minha casa, ou até mesmo no quintal, se o pai dos
meus filhos estivesse com visitas. Eu não podia trabalhar, estudar, enfim, fazer
nada. Só me esconder dentro de casa.

Eu sofria agressões físicas, psicológicas, verbais.

Suportei tudo isso por treze anos, pois, não tinha apoio da minha família, com
crianças pequenas não via solução, a não ser acreditar que um dia tudo isso ia
mudar.

Até que vi uma grande oportunidade de mudar minha vida, foi quando fiquei
sabendo de um curso que seria oferecido às mães das crianças que
frequentavam um projeto que tinha na cidade.

Me inscrevi, e, escondida, comecei a fazer o curso. Nesta época, o pai das


crianças estava trabalhando em outra cidade. Então, eu deixava as crianças na
escolinha e ia para o curso.

E assim eu fiz, até que um dia, ele descobriu e, por isso, quis me proibir com
ameaças e agressões, mas eu não parei, pois eu sabia que só assim me
libertaria.

E aqui estou livre e realizando os meus sonhos.

Foi difícil, pois tive de abrir mão dos meus filhos para ter minha liberdade.
Mas eu consegui.

Mas sou feliz, pois estão todos crescidos e próximos de mim, e eu viva, para
contar esta história.

Pois se estivesse naquela prisão, talvez hoje eu seria só uma lembrança para
eles.

- V.F.

Relato 2:

Hoje eu entendo que sofri violência doméstica no passado, pois fiquei casada
com o pai das minhas filhas por 16 anos, sofrendo muitas agressões, tanto
verbais, psicológicas e em algumas vezes físicas.

E mesmo depois de tantas humilhações durante o dia, eu era obrigada a


manter relações sexuais com ele contra a minha vontade.

E como ele fazia muitas chantagens emocionais, como esposa, me via na


obrigação de ceder às vontades dele, mesmo que não fossem as minhas, pois
tinha muito medo dele me deixar.

Mas mesmo eu fazendo todas as vontades, eu descobrir que ele mantinha


relações com mulheres de programa, o que me causou vários problemas de
saúde na época.

Eu suportei tudo isso por medo do meu casamento terminar e minha família ser
destruída, e por não ter consciência na época que tudo isso que sofria era uma
agressão.

E hoje eu superei tudo e vivo feliz realizando os meus sonhos.

- L.M.N.S.

Lista de Canções:

 Cantiga de Amor.

 Garota de Ipanema – Tom Jobim.


 Queixa – Caetano Veloso.

 Ela é Top – Leo Rodrigues.

 Mama África – Chico César.

 A mulher na canção na Idade Média.

 Cantiga de escárnio e mal dizer – Joan Garcia de Guilhade.

 Camaro Amarelo – Munhoz e Mariano.

 Um Tapinha não dói – Furacão 2000.

 Periguete – Dj Thiago.

 Flor e o Beija-flor – Henrique e Juliano.

 Vai Malandra – Anitta.

 50 reais – Naiara Azevedo.

 Meiga e Abusada – Anitta.

 Sua Cara – Anitta.

 A Rosa – Chico Buarque.

 A Rita – Chico Buarque.

Referências bibliográficas:

ARAÚJO, Maria de Fátima & MATTIOLI, Olga Ceciliato. Gênero e Violência.


São Paulo: UNESP/Arte e Ciência, 2004.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. In: Obra coletiva


de autoria da Editora Saraiva. Vade Mecum Saraiva Compacto. 16.ed. 2016.

BRASIL. Lei 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei


2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para prever o feminicídio
como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei
8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes
hediondos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/lei/L13104.htm> acesso em 22 abril. 2018.

BRASIL, Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340 – Coíbe a violência doméstica e


familiar contra a mulher. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as
mulheres. 2006b.

DEL PRIORE, Mary. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Editora
Contexto, 2000.

GIORDANI, Annecy Tojeiro. Violência contra a Mulher. São Paulo: Editora


Yendis, 2006.

HERMANN, Leda Maria. Violência Doméstica e os Juizados Especiais


Criminais – A dor que a Lei Esqueceu. Campinas. SP: ED. Servanda, 2004.

IZUMINO, Vânia Pasinato. Justiça e Violência Contra a Mulher – o PAPEL


DO Sistema Judiciário na Solução dos Conflitos de gênero. São Paulo
FAPESP/Anna Blume, 2004.

MARINHO, Alexandre Aripe, FREITAS, André Guilherme Tavares de. Direito


Penal – Teoria do Delito – Tomo II – Rio de Janeiro: Editora Lumien Júris, 2006.

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