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Traçado dos Cabos em Vigas Contínuas Protendidas

Rodrigo J. Costa Nóbrega (1); Bernardo Horowitz (2)

(1) MsC, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE


e-mail: rjcnobrega@yahoo.com.br

(2) Professor Doutor Adjunto IV, Departamento de Engenharia Civil


Universidade Federal de Pernambuco, UFPE
e-mail: horowitz@npd.ufpe.br

Endereço para correspondência

Resumo

Este trabalho apresenta programa desenvolvido para traçar os cabos de protensão a


partir de trechos formados pelos segmentos concordantes: “parabólico – retilíneo –
parabólico”. Tal programa é de fácil utilização e permite, de forma rápida, visualizar os
cabos. Definido o traçado do cabo, o programa calcula suas perdas imediatas.
No caso de uma viga contínua, as deformações causadas pela operação da protensão,
quando restringidos pelos apoios, em geral, produzem reações que resultam em
momentos fletores adicionais. Estes momentos são chamados de hiperestáticos,
secundários ou parasitas.
Após o cálculo destes hiperestáticos de protensão, o programa computa as perdas
diferidas (ao longo do tempo), finalizando com o cálculo das tensões nas fibras extremas
da seção transversal para as diversas etapas de protensão.
O programa é particularmente conveniente quando se utiliza o procedimento desenvolvido
para pré-dimensionamento da protensão que utiliza ferramentas de otimização. Este
procedimento, recentemente divulgado e aqui brevemente descrito, fornece além da força
ótima de protensão o “fuso” de passagem dos cabos que baliza o seu traçado.
A aplicação do programa desenvolvido é ilustrada através de três exemplos: viga contínua
de edifício de três vãos, seguido da análise de vigas contínuas de pontes rodoviárias de
dois e três vãos.

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 1


1 Introdução
Nas peças protendidas com armaduras pós-tracionadas, colocadas no interior de bainhas
flexíveis, os cabos podem assumir uma forma qualquer, evitando-se, entretanto um
grande número de curvas, com a finalidade de tentar limitar as perdas por atrito.
Assim, surgiu a idéia de desenvolver um programa para traçar os cabos de protensão a
partir de trechos, estes formados pelos segmentos: “parabólico – retilíneo – parabólico”.
Tal programa deverá ser de fácil utilização e que nos permita, de forma rápida, ter uma
visualização do cabo.

2 Definição da Geometria dos Cabos


Para o traçado de um cabo, dividimos a viga em um número “i” de trechos de tal forma
que cada trecho, por sua vez, é composto de três sub trechos concordantes: parabólico
01 - reto – parabólico 02, governado pelas equações:

Parabólico 01 g ( x) = a1 ⋅ x 2 + b1 ⋅ x + c1
Reto h( x ) = m ⋅ x + z (Equações 01)
Parabólico 02 k ( x) = a 2 ⋅ x + b2 ⋅ x + c 2 ,
2

gerando um total de 09 (nove) incógnitas: (a1, b1, c1, a2, b2, c2, m, y2, y3).

São fornecidas ao software desenvolvido, para cada trecho, suas ordenadas inicial e final
definidas por y1 e y4 respectivamente, como também os tamanhos de cada sub trecho s1,
s2 e s3, de acordo com a figura 1. Estes dados fornecidos, para cada trecho, são
suficientes para definir todo o traçado do cabo.

Figura 1 – Sub trechos para o traçado do cabo

A fim de garantir a continuidade dos trechos, aplicam-se equações de compatibilidade


(Equações 02) (nove ao total) aos pontos extremos dos sub trechos, de modo a
possuírem mesma ordenada e mesma tangente, conforme mostradas a seguir:

2 2
g ( x1 ) = y1 y1 = a1 ⋅ x1 + b1 ⋅ x1 + c1 ; g ( x 2 ) = y 2 y 2 = a1 ⋅ x 2 + b1 ⋅ x 2 + c1
2 2
k ( x3 ) = y 3 y3 = a 2 ⋅ x3 + b2 ⋅ x3 + c2 ; k ( x 4 ) = y 4 y 4 = a 2 ⋅ x4 + b2 ⋅ x4 + c2
g ( x1 ) k ( x4 )
d =0 2 ⋅ a1 ⋅ x1 + b1 = 0 ; d =0 2 ⋅ a 2 ⋅ x4 + b2 = 0
dx dx
k ( x3 ) g ( x2 )
d =m 2 ⋅ a 2 ⋅ x3 + b2 = m ; d =m 2 ⋅ a1 ⋅ x2 + b1 = m
dx dx
h ( x3 ) = m ⋅ ( x3 − x 2 ) + h ( x 2 ) y 3 = m ⋅ ( x3 − x 2 ) + y 2 (Equações 02)

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A resolução deste sistema nos fornece os parâmetros dos sub trechos: a1, b1, c1, a2, b2,
c2, m, y2, y3.
Como pode ser facilmente notado pelas equações da 3ª linha do grupo de equações 02,
os pontos inicial e final de cada trecho possuem derivadas nulas, isto é, suas tangentes
são horizontais.
Resolvido o sistema de equações (02), conhecemos, assim, as funções dos sub trechos
(Equações 01) dos possíveis trechos. Doravante, monta-se a função geral para o traçado
do cabo F(x) respeitando os domínios de cada sub trecho.

3 Perdas Imediatas
As perdas imediatas, no presente caso de protensão com armadura pós-tracionada, são
aquelas devidas ao encurtamento elástico do concreto, ao atrito entre as armaduras e as
bainhas ou o concreto, ao deslizamento da armadura junto à ancoragem e à acomodação
dos dispositivos de ancoragem.

3.1 Perdas por Atrito


Nestes sistemas de protensão com aderência posterior (realizada após o endurecimento
do concreto), aparecem impedimentos na movimentação do cabo no interior da bainha,
durante a operação da protensão, provocados pelo atrito (ver figura 2). Mesmo em
trechos teoricamente retos, o atrito se manifesta devido a ondulações na bainha.

Po
Perdas por atrito
P(s)

Comprimento “s” α

Figura 2 – Esforço no cabo na seção s

Em geral, para vigas, a abscissa curvilínea é bem aproximada pela sua projeção
horizontal x.
O coeficiente de atrito µ pode ser compreendido como a razão entre a força longitudinal
necessária para ultrapassar o atrito e a força normal que pressiona o cabo contra a
parede da bainha. Este coeficiente é, portanto adimensional e seu valor depende das
condições das superfícies de contato, do grau de dureza e do deslizamento que se
produz. Chamando-se de k, o coeficiente de perda por metro provocada por curvaturas
não intencionais do cabo, define-se o parâmetro S(x) dado pela equação:

S ( x) = µ ⋅ α ( x) + k ⋅ x (Equação 03)
A força de protensão em qualquer ponto x do cabo é considerada igual a:

P ( x) = P0 ⋅ e − S ( x ) (Equação 04)

Onde:
P0 = Força inicial aplicada à armadura de protensão;
α(x) = Soma dos ângulos de desvios previstos, (medidos em radianos) no trecho
compreendido entre as abscissas 0 e x;

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Para cabos com trechos parabólicos e retilíneos, as perdas por atrito, dadas pela equação
04, dão origem a diagramas retilíneos de variação de P(x), em cada trecho.
A NBR 6118(2000) indica valores recomendáveis, na falta de dados experimentais, para
os coeficientes µ entre 0.05 e 0.50, e para k o valor de 0.01µ.

3.2 Perda por Acomodação da Ancoragem


No presente caso de protensão com aderência posterior, os cabos de protensão são
ancorados em suas extremidades, por meio de dispositivos especiais, designados
genericamente por “ancoragens”.
Assumindo que a tensão no cabo é representada pela linha ac da figura 4, percebe-se
que a tensão inicial (de saída ou puxada) é a maior e a força de atrito ao longo do cabo se
desenvolve na direção positiva do eixo x.
Quando a ancoragem se acomoda de um certo valor δ, medido em milímetros, ocorre
uma súbita diminuição da tensão inicial de saída, com uma diminuição gradual nas várias
seções do cabo, e inversão do sentido da força de atrito até uma certa distância X, onde X
é a abscissa da seção do cabo depois da qual a perda devido ao encunhamento
(acomodação da ancoragem ou cravação) não é mais sentida e a tensão no cabo é a
mesma anterior à operação de ancoragem.
σP o a Tensão antes da
acomodação da ancoragem

atrito
∆σP(0)
2
∆σP(0) σP(X) ∆σP
b

c
σP(0) a’
Tensão depois da
acomodação da ancoragem

X
x
Figura 4 – Esquema da variação de tensões no cabo na saída antes e depois da acomodação da
ancoragem

Observa-se que, devido às forças contrárias de atrito dependerem dos mesmos


coeficientes das forças iniciais de atrito, as inclinações das duas linhas ab e a’b (Figura 4),
representam, respectivamente, as variações de tensões no cabo imediatamente antes e
depois da acomodação da ancoragem e são iguais e opostas. O perfil de tensão depois
do encunhamento é agora representado pela linha a’bc.
A perda média de tensão ∆σ P no cabo entre a saída e a seção X pode ser obtida pela
seguinte equação: X X
(Equação 05)

∆σ ⋅ X = ∆σ ( x ) ⋅ dx = 2 ⋅ (σ ( x ) − σ ( X )) ⋅ dx
P
0
P ∫
0
P P

Além disto, o encurtamento total do cabo sobre a distância X é igual ao escorregamento


da ancoragem δ, que corresponde a uma perda média de deformação no valor de δ/X.
Pela Lei de Hooke, a perda média de tensão no cabo equivale a perda média de
deformação por: δ
∆σ P = E ⋅ (Equação 06)
X
substituindo na equação (06), temos:
X
2
E ∫0
δ= ⋅ (σ P ( x ) − σ P ( X )) ⋅ dx (Equação 07)

onde, agora, pode ser determinado o valor de X.


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Segundo a NBR 6118/2000, estas perdas devem ser determinadas experimentalmente ou
adotados os valores indicados pelos fabricantes dos dispositivos de ancoragem. As
perdas máximas por acomodação na ancoragem situam-se na faixa de 3 mm a 10 mm, de
acordo com o equipamento utilizado. As perdas por acomodação da ancoragem
introduzem uma diminuição das deformações das armaduras junto às mesmas,
usualmente denominada de afrouxamento. Estas perdas se desenvolvem ao longo de
uma zona de propagação que, em alguns casos, pode atingir a ancoragem oposta.

3.3 Perda por Encurtamento Elástico

Em relação à perda por encurtamento elástico nos elementos com pós-tração (protensão
com aderência posterior), a protensão sucessiva de cada um dos n cabos provoca uma
deformação imediata do concreto causando um afrouxamento dos cabos anteriormente
protendidos.

A perda média de protensão, por cabo, pode ser calculada pela expressão:
α p ⋅ (σ cp + σ cg ) ⋅ ( n − 1) (Equação 08)
∆σ p =
2⋅n
onde:
σ cp = é a tensão inicial no concreto ao nível do baricentro da armadura de protensão,
devida à protensão simultânea dos n cabos;
σ cg = é a tensão no mesmo ponto anterior, devida à carga permanente mobilizada pela
protensão ou simultaneamente aplicada com a protensão;
α p = Ep/Ec é a relação entre os módulos de elasticidade da armadura ativa e do concreto,
este calculado na data da protensão.

Tal perda varia desde zero, se todos os cabos forem tensionados simultaneamente, até a
metade do valor obtido em membros com aderência anterior (pré-tensionados), no caso
se um número infinito de etapas de tensionamentos for utilizado. Nota-se, também, que o
último cabo não sofre encurtamento elástico.

4 Programa Desenvolvido
Inicialmente, desenvolveu-se um programa que realiza o traçado do cabo e calcula as
suas perdas imediatas. Outros programas, posteriormente, determinarão os momentos
hiperestáticos de protensão, os momentos fletores e esforços cortantes devidos às cargas
permanentes e às móveis seguido pelo cálculo da perda por encurtamento elástico e das
perdas diferidas (fluência, retração e relaxação). Todos estes programas estão
interligados sendo, portanto, desnecessário deixá-los em um só programa.
Nesta seção é apresentada uma descrição sumária de toda a seqüência lógica do
programa elaborado, em que este solicita todos os dados necessários ao processamento
do procedimento implementado. São dados referentes ao posicionamento do cabo e de
suas propriedades (módulo de elasticidade, área do aço, esforço do cabo, valor do
deslizamento da ancoragem, coeficientes de perda, tipo de ancoragem, etc.).
Em seguida, o programa resolve um sistema linear de nove equações, obtendo os
parâmetros dos sub trechos, os quais permitem montar a função do traçado do cabo. De
posse do traçado, calculam-se as perdas por atrito e, depois, as perdas por deslizamento
da ancoragem (encunhamento), obtendo uma função do esforço no cabo após estas
perdas.

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4.1 Descrição do Programa
Para o traçado de cada cabo, é fornecido ao programa uma matriz com cinco colunas
(figura 5), onde as três primeiras colunas representam os tamanhos de cada sub trecho
s1, s2 e s3 e as duas colunas restantes, as ordenadas inicial e final definidas por y1 e y4
respectivamente, mostradas anteriormente pela figura 1. O número de linhas da matriz é
definido pelo número de trechos que o cabo possui ao longo de toda a extensão da viga.

Tamanho dos trechos Ordenadas

Parabólico Reto Parabólico Inicial Final


C :=
i
0 1 2 3 4
0 0 2.94 5.06 1.02 0.3
No do cabo
1 6.57 2.36 7.57 0.3 1.5
Trechos 2 7.91 2.59 10 1.5 0.1
3 10 2.59 7.91 0.1 1.5
4 7.57 2.36 6.57 1.5 0.3
5 5.06 2.94 0 0.3 1.02

Figura 5 - Exemplo de entrada da matriz de dados para o traçado do cabo

A partir de então, obtém-se, facilmente, a função geral para o traçado do cabo F(x) de
acordo com a metodologia utilizada na definição da geometria do mesmo. A figura 06
mostra o traçado do cabo (vermelho) pelo interior do “fuso” (azul) obtido pelo programa.
Tal “fuso” de passagem dos cabos é obtido através de procedimento desenvolvido para
pré-dimensionamento da protensão que utiliza ferramentas de otimização. Este
procedimento foi recentemente divulgado e será brevemente descrito adiante.
0.5

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

0.5

Cabo
Extremo 1
Extremo 2

Figura 06 - Traçado do cabo de protensão

Sabendo que, derivando-se a função F(x) do traçado do cabo obtemos a função de sua
tangente θ(x) (figura 07), podemos desenvolver uma função α(x) da soma dos ângulos
dos desvios verticais.
dF ( x)
θ ( x) = (Equação 09)
dx

1
3
θ1
θ3

θ2
x
2

Figura 07 – Desvios verticais do traçado do cabo

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Admitindo que a origem do traçado do cabo se dá no ponto 1, a função α(x) no ponto 1
vale zero. Para qualquer x a partir do ponto 1 até o ponto 2, α(x) tem valor θ1. Para x
variando a partir do ponto 2 até o ponto 3, α(x) tem valor (θ1 + θ2), e assim acumulando
seus desvios verticais sucessivamente. Esta função α(x), a seguir, será utilizada no
cálculo das perdas por atrito, conforme ilustrada pela equação 03.

Para o cálculo do ponto de encunhamento do cabo, devido a um escorregamento δ da


armadura, e com o intenção de evitar um grande esforço computacional ( ocasionando um
maior tempo de cálculo) na resolução da equação 07, o programa utiliza uma metodologia
de acumulação dos valores das áreas em várias seções do diagrama de tensões do cabo,
até chegar ao valor pré-estabelecido δ, obtendo assim, o valor da distância X.

Caso exista ancoragem ativa no outro extremo da viga, o programa cria uma função β(x),
similar àquela α(x), que acumula os ângulos dos desvios verticais e calcula o valor X’,
correspondente ao encunhamento a partir do outro extremo.
Calculados os pontos de encunhamento X e X’ (no caso de ancoragem ativa-ativa),
monta-se a função do esforço do cabo de protensão ao longo de toda a viga.

Seja P(x), a função do esforço do cabo após, somente, as perdas por atrito. A nova
função P’(x) após as perdas por encunhamento será:

2 ⋅ P( X ) − P( x) , se x ≤ X
P ' ( x) = 2 ⋅ P( X ' ) − P( x) , se x ≥ X ' (Equação 10)
P (x ) , caso contrário.

A figura 08 ilustra o diagrama do esforço de um cabo ao longo de toda a extensão da


viga. Os pontos de encunhamento são denotados por X e X’.

Esforço no Cabo (KN)


2000

1800

1600

1400

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Esforço após encunamento
Esforço após atrito
Ponto X
Ponto X'

Figura 08 – Gráfico do esforço do cabo de protensão

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5 Ação da Protensão
Qualquer estrutura, ao ser protendida, se deforma. Em estruturas isostáticas essa
deformação não é impedida pelos vínculos, não havendo, assim, alteração nas reações
de apoio. O sistema de forças é auto-equilibrante, onde o momento fletor de protensão é
dado pelo produto da força de protensão e a excentricidade do cabo em relação à linha
neutra da seção transversal, para qualquer seção ao longo da viga.
No caso de uma estrutura hiperestática, tal liberdade de deslocamento não existe nos
apoios internos, provocando assim esforços de impedimento. Esse fato pode ser
representado como na figura 09. A reação de apoio Fb tem intensidade suficiente para
anular o deslocamento δb. O momento fletor da viga será P ⋅ e acrescido de uma parcela
provocada pela introdução da força Fb. Assim pode-se escrever:

M = P ⋅ e + M hip (Equação 11)


onde Mhip é chamado de momento hiperestático de protensão.

P e P

A B C

P δb P
A B C

P P
A B C
FA FB FC

Ma=P.e Mb=P.e
- -
+
Momento
Fletor

FA
+ FB

-
Esforço FC
Cortante

Figura 09 – Esforços provocados pela protensão de um cabo reto excêntrico em viga contínua

Para o cálculo do hiperestático de protensão utilizou-se o método das forças, pois pode
ser aplicado não só as vigas como também a estruturas de pórticos.

5.1 Método das Forças


Inicialmente, determina-se o momento isostático de protensão a partir do esforço no cabo
de protensão P(x), como ilustrado na figura 10, sendo F(x) a função geral de traçado do
definida na seção 2 e θ(x) sua tangente definida pela equação 09.

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F(x)

yi d P(x)
θ(x)
H(x)

Figura 10 – Cálculo do momento isostático de protensão


Calcula-se a componente horizontal do esforço no cabo:

H ( x) = P ( x) ⋅ Cos[θ ( x)] (Equação 12)

e o braço de alavanca “d”, onde yi é a posição da linha neutra, medida a partir da borda
inferior da seção transversal da viga,

d = [ F ( x) − y i ] (Equação 13)

Assim, temos, para cada cabo:

M iso ( x) = H ( x) ⋅ d (Equação 14)

O próximo passo consiste na determinação dos esforços de engastamento perfeito


(Figura 11) devido à protensão, para cada vão (elemento) i.
Li
A2 A4
A1 A3
Figura 11 – Esforços de engastamento perfeito

Primeiramente, obtém-se o sistema principal rompendo os dois vínculos do lado direito,


deixando a estrutura isostática (figura 12). Sendo n o número de cabos de protensão,
temos: M r(x)

M r ( x) = ∑ M iso ( x) A4
n
A3
Mr

Figura 12 – Sistema Principal para cada vão (elemento) “i”

Aplicam-se, individualmente, valores unitários para os esforços redundantes A3 e A4,


obtendo os seguintes diagramas de momentos fletor, como mostrados na figura 13
abaixo:
A3 = 1 A4 = 1
A4

L A3 1
M3(x) = (L-x) M4(x) = 1

Figura 13 – Diagrama de momentos fletores para os unitários aplicados

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A partir destes diagramas de momentos fletores, temos os elementos de flexibilidade:
L L
⌠ i M3 ( x) ⋅M3 ( x) ⌠ i M3 ( x) ⋅M4 ( x)
 ; 
f11 ( i) dx f12 ( i) dx
 E ⋅I ( x)  E ⋅I ( x)
⌡0 ⌡0

L L
⌠ i M4 ( x) ⋅M3 ( x) ⌠ i M4 ( x) ⋅M4 ( x)
 ; 
f21 ( i) dx f22 ( i) dx
 E ⋅I ( x)  E ⋅I ( x)
⌡0 ⌡0

onde “i” é o índice do vão da estrutura.

No presente caso, estamos lidando apenas com vigas de inércia constante, logo: I ( x) = I .
Assim sendo, obtém-se a matriz de flexibilidade do elemento i:
 f11 ( i) f12 ( i) 
f ( i)  (Equação 15)
 f21 ( i) f22 ( i)
 
A partir das equações de equilíbrio no sistema principal, este mostrado na figura 12,
relacionamos as reações entre si, como mostrado abaixo:

∑F y = 0∴ A1 + A3 0 ⇒ A1 −A3 (Equação 16)

∑ M = 0∴ A2 + A4 + A3 ⋅L 0 ⇒ A2 ( )
− A4 + A3 ⋅L (Equação 17)

Na forma matricial, obtemos:


 A1   1 0   A3   1 0 (Equação 18)
− ⋅ ; Ht 
 A2  L 1   A4  L 1
 
onde Ht é chamada de matriz de transferência.
Determinam-se, por sua vez, os deslocamentos devido a protensão, de posse de seu
momento isostático M r (x) , no sistema principal:
L L
⌠ i Mr ( x) ⋅M3 ( x)
 (
⌠ i Mr ( x) ⋅ Li − x
 )
δ 10 ( i) dx dx (Equação 19)
 E ⋅I  E ⋅I
⌡0 ⌡0

L L
⌠ i Mr ( x) ⋅M4 ( x) ⌠ i Mr ( x) (Equação 20)
 
δ 20 ( i) dx dx
 E ⋅I  E ⋅I
⌡0 ⌡0

 δ 10 ( i) 
 δ ( i)
 δ ( i) (Equação 21)
 20 
Assim, resolve-se o sistema de equações de compatibilidade elástica, a saber:
{ δ (i) } + [ f(i) ].{ A(i) } = 0
(Equação 22)
−1
{ A(i) } = - [ f (i) ] . { δ (i) }
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ou seja,
 A3 ( i)   δ 10 ( i) 
−f
−1
( i) ⋅

 A4 ( i)  δ ( i) (Equação 23)
   20 
Da equação 18, obtém-se:
 A1 ( i) 
  A3 ( i) 
−Ht ( i) ⋅ (Equação 24)
 A2 ( i)  A4 ( i)
   
reescrevendo a equação 24 em termos do vetor δ, obtemos:
 A1 ( i)   δ 10 ( i) 
Ht ( i) ⋅f ⋅( i) ⋅
−1
 A2 ( i)  δ ( i) (Equação 25)
   20 
Logo, encontram-se os esforços de engastamento perfeito do elemento i:
 A1 ( i) 

 A2 ( i)  (Equação 26)
A( i)  
 A3 ( i) 
 A ( i)
 4 
A partir da equação 26, têm-se os esforços nodais equivalentes f e (i ) , do elemento i, no
sistema global que, pelo qual, monta-se o vetor de forças nodais equivalentes F no vetor
de cargas da estrutura:
A( i) ⇒ fe ( i) −A( i) ⇒ fe ( i) F (Equação 27)

i

onde o símbolo de somatório Σ, representa a montagem do vetor.


A nossa próxima etapa trata-se da montagem da matriz de rigidez da estrutura. De acordo
com LIVESLEY (1964), monta-se, inicialmente, a matriz de rigidez para o elemento de
viga de ordem 4x4, a partir da matriz de flexibilidade f (Equação 15) e da matriz de
transferência Ht (Equação 18):

−1 T −1
Ht ( i) . [ f (i) ] . Ht (i) −Ht ( i) . [ f (i) ]

kel(i) = (Equação 28)


−1 T −1
-[ f (i) ] . Ht (i) [ f ( i) ]

onde “i” é o índice do vão da estrutura.


Vale salientar que a matriz de rigidez do elemento encontrada na equação 28 é a clássica
(GHALLI & NEVILLE, 1997), para inércia constante, na forma:
 12 ⋅E ⋅I 6 ⋅E ⋅I −12 ⋅E ⋅I 6 ⋅E ⋅I 
 3 2 3 2
 L L L L 
 6 ⋅E ⋅I 4 ⋅E ⋅I −6 ⋅ E ⋅ I 2 ⋅E ⋅I 
 2 L 2 L 
kel
 L L  (Equação 29)
 −12 ⋅E ⋅I −6 ⋅E ⋅I 12 ⋅E ⋅I −6 ⋅ E ⋅ I 
 3 2 3 2 
 L L L L 
 6 ⋅E ⋅I 2 ⋅E ⋅I −6 ⋅ E ⋅ I 4 ⋅E ⋅I 
 2 L 2 L
 L L 
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Agora, monta-se a matriz de rigidez “K” da estrutura, sabendo que, no nosso caso de
elemento de viga, os deslocamentos verticais das coordenadas 1 e 3 da figura 11 estão
impedidos. Resolve-se o sistema de equações de equilíbrio estrutura:
−1
D K ⋅F (Equação 30)
A partir de “D”, obtêm-se os deslocamentos da extremidade (deslocamento em y e
rotação em z) de cada elemento i, Dg(i), seguido do cálculo dos esforços finais em cada
elemento:
D ⇒ Dg( i) ⇒ esf ( i) A( i) + kel⋅Dg( i) (Equação 31)

De posse destes esforços, determinam-se, facilmente, os hiperestáticos de protensão de


toda a estrutura (viga).

6 Perdas Diferidas
Os valores das perdas diferidas, decorrentes da retração e fluência do concreto e
relaxação do aço de protensão, são determinados levando-se em conta a interação
destas causas, através de um processo simplificado indicado pela NBR 6118(2000), para
o caso de fases únicas de operação. Tal processo deve satisfazer as seguintes
condições:
• Admite-se que exista aderência entre a armadura e o concreto e que a peça
permaneça no estádio I;
• A concretagem da peça, bem como a protensão, são executadas, cada uma delas, em
fases suficientemente próximas para que se desprezem os efeitos recíprocos de uma
fase sobre outra;
• Os cabos possuem entre si afastamentos suficientemente pequenos em relação à
altura da seção da peça, de modo que seus efeitos possam ser supostos equivalentes
ao de um único cabo, com seção transversal de área igual à soma das áreas das
seções dos cabos componentes, situado na posição resultante dos esforços neles
atuantes (cabo resultante).

Nesse caso, admite-se que no tempo t as perdas progressivas do concreto e do aço de


protensão, na posição do cabo resultante, sejam dadas por:

ε cs (t , t o ) ⋅ E p − α p ⋅ σ c , pog ⋅ ϕ (t , t o ) − σ po ⋅ χ (t , t o )
∆σ p (t , t o ) = (Equação 32)
χ p + χ c ⋅ α p ⋅η ⋅ ρ p
∆σ c (t , t o ) = − ρ p ⋅ η ⋅ ∆σ p (t − t o ) (Equação 33)

Seus coeficientes são explicados detalhadamente na referida Norma.

7 O problema de Pré-dimensionamento
O problema geral de otimização pode ser formulado na forma de programação não-linear
(do inglês, non-linear programming - NLP) e resolvido por meio de diversos algoritmos. O
presente estudo trata com a escolha das variáveis ótimas de projeto – a força de
protensão e elevação do cabo resultante – para estruturas cujas dimensões da seção
transversal são pré-estabelecidas baseadas em seções padronizadas ou outras
considerações (estética, funcionalidade, etc.). Considerando restrições de comportamento
estrutural (tensões admissíveis de flexão) e de configuração do cabo resultante (raio
mínimo de curvatura e cobrimento mínimo da seção), mostra-se que o problema pode ser
formulado em programação linear (do inglês, linear programming - LP). Tal formulação é

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 12


baseada na linearidade entre o comportamento (tensões) e as forças equivalentes de
protensão.
Uma mudança de variáveis transforma uma relação não-linear entre as variáveis de
projeto e as forças equivalentes em uma relação linear, assim, o comportamento é
expresso explicitamente em termos lineares, ou seja, ao utilizarmos os isostáticos de
protensão no lugar das elevações do cabo na programação, tornamos o problema de
programação linear.
O objetivo é minimizar a força de protensão. As variáveis de projeto são a força de
protensão F0, e os isostáticos Xj, j = 1,...,J. O problema pode ser formulado então da
seguinte maneira, de acordo com HOROWITZ (1992) e NÓBREGA (2001):

PROBLEMA (D)

J
(D) Minimize F0 + ∑ c j ⋅ X j
j =1

F0, X1, ..., XJ

sujeito a:

J
T
Asup ≤ ( f j AC ) ⋅ F0 + ∑ (m jl Z S ) X l ≤ Asup
C

}
j j
l =1
J j = 1,..., J
A T
inf j ≤ ( f j AC ) ⋅ F0 − ∑ (m jl Z I ) X l ≤ A C
inf j
l =1

( f j ⋅ Ysup j ) ⋅ F0 ≤ X j ≤ ( f j ⋅ Yinf j ) ⋅ F0 , j = 1,...,J

1 α  α  α  1
  ⋅ F0 ≤   ⋅ X j −1 +   ⋅ X j +   ⋅ X j +1 ≤   ⋅ F0 , j = 2,...,J-1
 R Ij  f  j −1  f j  f  j +1  R Sj

F0 ≥ 0

Figura 14 – Formulação do Problema de Dimensionamento

Observe inicialmente que o problema (D) é de programação linear, e que, portanto pode
ser resolvido exatamente, num número finito de passos. Esta linearidade se deve ao
emprego dos isostáticos como variáveis. Caso fossem utilizadas diretamente as
excentricidades como variáveis o problema seria não linear. De posse do isostático a
excentricidade pode ser encontrada por:

y j = X j ( f j ⋅ F0 ) (Equação 34)

Observe ainda que à função objetiva do problema (D) foi adicionado um termo constituído
da soma dos isostáticos multiplicados por uma constante. A finalidade desta adição é a de
obter as elevações extremas superior e inferior. De fato, como em geral existe uma
infinidade de soluções para o problema do dimensionamento, o algoritmo de otimização
pára no instante em que as condições necessárias de otimalidade forem atendidas.
Portanto se este termo não é utilizado, as soluções obtidas resultam em elevações com
pontos angulosos e mudanças bruscas de direção que não podem ser conseguidos na
prática por cabos reais, como nos exemplos apresentados por KIRSCH (1973).
V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 13
Para coeficientes cj>0 obtemos a elevação extrema inferior enquanto que para cj<0,
obtemos a elevação extrema superior. É claro que os coeficientes cj devem ser
suficientemente pequenos em valor absoluto de forma a não interferir demasiadamente na
solução do problema (D), definido na figura 14.

8 Composição de Tensões
Para a verificação das tensões atuantes nas fibras inferior e superior durante as etapas da
protensão, foram feitas seguintes composições de tensões:

ETAPA 01:
PESO PRÓPRIO + PROTENSÃO INICIAL

ETAPA 02:

PESO PRÓPRIO + SOBRECARGA + PROTENSÃO FINAL

ETAPA 03:

PESO PRÓPRIO + SOBRECARGA + CARGA MÓVEL+ (MÁXIMO)+


PROTENSÃO FINAL

ETAPA 04:

PESO PRÓPRIO + SOBRECARGA + CARGA MÓVEL- (MÍNIMO)+


PROTENSÃO FINAL

9 Aplicações
9.1 Exemplo 01:
Considere a viga de um edifício contínua em três vãos, sujeita a quatro casos de
carregamento, com os respectivos coeficientes η de estimativa da perda diferida,
conforme indicados na figura 15. A viga foi dividida em 31 seções (11 seções para cada
vão) cuja geometria está indicada na figura 16. A variação admitida para a força de
protensão no tempo t = 0 esta indicada na figura 17, fornecendo assim os valores dos
coeficientes fj.
As tensões admissíveis no concreto são calculadas de acordo com as especificações do
código ACI (1977), cujos valores são:
Carregamento 01 (correspondente às ações permanentes mobilizadas pela protensão no
instante t = 0):
σ c = 14400 kN m 2
σ t = −1220 kN m 2
Demais carregamentos:
σ c = 13500 kN m 2
σ t = −2740 kN m 2

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 14


1 11 21 31

12 m 15 m 12 m

27.48 kN/m 27.48 kN/m 27.48 kN/m 1


η = 1.0

2
48.48 kN/m 48.48 kN/m 48.48 kN/m
η = 0.85

48.48 kN/m 3
34.48 kN/m 34.48 kN/m
η = 0.85

4
48.48 kN/m 34.48 kN/m 48.48 kN/m η = 0.85

Figura 15 – Casos de Carregamentos da Viga

2
Ac = 0.475 m
−3 4
I = 23.781 × 10 m
−3 3
Ws = 87.447 × 10 m
−3 3
Wi = 62.904 × 10 m

ys = 0.2719 m
yi = 0.3781 m

Figura 16 – Seção Transversal da Viga

Perdas
0.9

0.86

0.83

0.79

0.75
0 5 10 15 20 25 30 35 40

Figura 17 – Coeficientes das Perdas Imediatas

O cálculo da estimativa mínima da força de protensão, BURGOYNE (1988) nos forneceu:


Fomin = 1722 kN. Adotaremos a unidade de 6φ12.7 (6 mm2 de área), aço CP-190RB, o que
resulta num cobrimento mínimo de 6.75 cm para o cabo resultante. O raio de curvatura
mínimo adotado neste exemplo é de 6 m.
Foi então resolvido o problema (D) para dois casos: cj=0.075 e cj=-0.075, j=1,...,31,
obtendo os cabos extremos, que também é denominado de “fuso de passagem”, como
mostra a figura 18. Em ambos os casos a força de protensão ótima foi de 1754 kN. Nota-
se a proximidade do resultado obtido pela estimativa da força mínima de protensão e pela
solução do problema de otimização.

Figura 18 – “Fuso de Passagem”


V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 15
É extremamente curioso o fato de que para ambos os cabos extremos, além da força de
protensão, os momentos fletores hiperestáticos são idênticos. O valor do momento
hiperestático sob os apoios internos vale 154 kN.m em serviço, o que representa cerca de
17.2 % do momento fletor negativo máximo devido ao carregamento externo.
Agora, de posse da força ótima de protensão e do fuso de passagem do cabo resultante,
utiliza-se o software desenvolvido para o traçado dos dois cabos de protensão (figura 19),
de unidades já pré-definidas nos valores de 877 kN cada e respeitando os espaçamentos
mínimos requeridos, obtendo para o momento hiperestático sob os apoios internos o valor
de 151 kN.m em serviço, diferindo muito pouco do resultado do problema (D).

Legenda:
Azul: Cabos extremos (fuso)
Vermelho: Cabo 01
Verde: Cabo 02

12m 7.5m

Figura 19 – Traçado dos Cabos

Todas as tensões calculadas nas fibras superiores e inferiores em todas as seções, para
as diversas etapas de operação da protensão descritas anteriormente, ficaram abaixo das
tensões admissíveis previamente especificadas.

9.2 Exemplo 02:


Consideraremos, agora, a viga de uma ponte contínua em três vãos de comprimento total
de 90 metros. Foi adotada uma relação entre os comprimentos dos vãos extremos em
relação ao vão central no valor de (0.90 : 1.0 : 0.90), ou seja, os vãos extremos medem
28.93 m e o vão central mede 32.14 m.

As cargas atuantes na viga são:

• Peso próprio (PP): (área da seção transversal da viga) * (peso específico do concreto);
• Sobrecarga (SC) devido à pavimentação (7 cm);
• Carga móvel (CM), (Trem-tipo TB-450); NOBREGA(2001).

Logo a viga é sujeita aos quatro casos de carregamento descritos abaixo:

I. Peso próprio (PP) - (η = 1);


II. Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) - (η = 0.85);
III. Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) +Carga Móvel (CM+)- (η = 0.85);
IV. Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) +Carga Móvel (CM-)- (η = 0.85).

A viga foi dividida em 31 seções (11 seções para cada vão) cuja geometria está indicada
na figura 20, com suas dimensões especificadas em metros. A variação admitida para a
força de protensão no tempo t = 0, para cada caso, está indicada na figura 21, fornecendo
assim os valores dos coeficientes fj.

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 16


2
Ac = 4.535 m
4
I = 1.575 m
3
Ws = 2.694 m
3
Wi = 1.552 m
ys = 0.585 m
yi = 1.015 m

Figura 20 – Seção Transversal da Viga


1

0.9

0.8

0.7
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Figura 21 – Coeficientes das Perdas Imediatas


As tensões admissíveis no concreto são calculadas de acordo com as especificações do
padrão AASTHO (1977) para pontes rodoviárias, cujos valores são:
Carregamento 01 (correspondente às ações permanentes mobilizadas pela protensão no
instante t = 0):
σ c = 13200 kN m 2
σ t = −1225 kN m 2
Demais carregamentos:
σ c = 12000 kN m 2
σ t = −2728 kN m 2
O cálculo da estimativa mínima da força de protensão, BURGOYNE(1988), nos forneceu:
Fomin = 11740 kN. Adotaremos a unidade de 12φ12.7 (12 mm2 de área), aço CP-190RB, o
que resulta num cobrimento mínimo de 10 cm para o cabo resultante. O raio de curvatura
mínimo adotado neste exemplo é de 6 m.
Foi então resolvido o problema (D) para dois casos: cj=0.075 e cj=-0.075, j=1,...,31,
obtendo os cabos extremos, que também é denominado de “fuso de passagem”, como
mostra a figura 22. Em ambos os casos a força de protensão ótima foi de 12580 kN. Nota-
se a proximidade do resultado obtido pela estimativa da força mínima de protensão e pela
solução do problema de otimização. O valor do momento hiperestático sob os apoios
internos vale 2464 kN.m em serviço, o que representa cerca de 12.36 % do momento
fletor negativo máximo devido ao carregamento externo.

Figura 22 – “Fuso de Passagem”


Tal relação adotada entre os comprimentos dos vãos extremos sobre o vão central
(0.90:1:0.90) foi a relação ótima encontrada entre vários casos estudados por NÓBREGA
(2001). Tal relação conduz a uma melhor uniformização dos momentos fletores entre os
vãos extremos e o vão central, permitindo no dimensionamento, posteriormente, a
utilização de armaduras mais homogêneas para os vãos.
V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 17
Agora, de posse da força ótima de protensão e do fuso de passagem do cabo resultante,
obtidos pelo problema de programação linear (D), utiliza-se o software desenvolvido para
o traçado dos cabos de protensão, respeitando os espaçamentos mínimos requeridos,
obtendo, para o momento hiperestático sob os apoios internos o valor de 2402 kN.m em
serviço, diferindo muito pouco (2.5%) do resultado do problema (D).
De posse da estimativa da força de protensão ótima, das elevações dos cabos extremos e
dos correspondentes hiperestáticos de protensão, o projetista está em condições de
lançar com segurança sua cablagem definitiva que, além das verificações de serviço,
deverá satisfazer também os estados limites últimos de resistência.
Todas as tensões calculadas nas fibras superiores e inferiores em todas as seções, para
as diversas etapas de operação da protensão descritas anteriormente, ficaram abaixo das
tensões admissíveis previamente especificadas.

9.3 Exemplo 03:


Consideraremos, por fim, a viga de uma ponte contínua em dois vãos, totalizando 60
metros de comprimento, sujeita a quatro casos de carregamento descritos a seguir:

1 Peso próprio (PP) - (η = 1);


2 Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) - (η = 0.85);
3 Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) +Carga Móvel (CM+)- (η = 0.85);
4 Peso próprio (PP) + Sobrecarga (SC) +Carga Móvel (CM-)- (η = 0.85);

A viga foi dividida em 21 seções (11 seções para cada vão) cuja geometria é idêntica a da
figura 20, com suas dimensões especificadas em metros. A variação admitida para a força
de protensão no tempo t = 0, está indicada na figura 23, fornecendo assim os valores dos
coeficientes fj.
1

0.93

0.85

0.77

0.7
0 7.5 15 22.5 30 37.5 45 52.5 60
Figura 23 – Perdas Imediatas

As tensões admissíveis no concreto são calculadas de acordo com as especificações do


padrão AASTHO (1977) para pontes rodoviárias, cujos valores são:

Carregamento 01 (correspondente às ações permanentes mobilizadas pela protensão no


instante t = 0):
σ c = 13200 kN m 2
σ t = −1225 kN m 2

Demais carregamentos:
σ c = 12000 kN m 2
σ t = −2728 kN m 2

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 18


O cálculo da estimativa mínima da força de protensão nos forneceu um valor de:
Fomin = 12960 kN. Adotou-se a unidade de 12φ12.7 (12 mm2 de área), aço CP190-RB, com
um cobrimento mínimo de 10 cm para o cabo resultante. O raio de curvatura mínimo
adotado também é de 6 m.
Seguindo a mesma metodologia, foi então resolvido o problema (D) para dois casos:
cj=0.075 e cj=-0.075, j=1,...,31. Em ambos os casos a força de protensão ótima foi de
12960 kN. O “fuso” de passagem do cabo resultante está indicado na figura 24. O valor do
momento hiperestático sob os apoios internos vale 4460 kN.m, em serviço, representando
cerca de 19.43 % do momento fletor negativo máximo devido ao carregamento externo.

Figura 24 – Solução Obtida – “Fuso de Passagem”


Nota-se facilmente, que existe uma região, que por sua vez não é no apoio, em que os
cabos extremos se cruzam. O ponto de interseção encontra-se localizado
aproximadamente a 7.65 metros distantes do apoio central. Isto quer dizer que tal região
possui pouca liberdade para o traçado do cabo.
Agora, a partir do “fuso de passagem” e da força ótima de protensão obtidos do problema
de programação linear (D), traçam-se os cabos a partir do software desenvolvido,
respeitando os espaçamentos mínimos requeridos de acordo com a NBR 6118 (2000),
com unidades já pré-definidas totalizando o valor da força ótima de protensão.
Encontramos para o hiperestático de protensão sob os apoios internos, em serviço, o
valor de 4438 kN.m, o que difere em cerca de 0.5 % do valor obtido no problema (D). O
valor do coeficiente da perda diferida correspondente a um η igual a 0.857.
Todas as tensões calculadas nas fibras superiores e inferiores em todas as seções, para
as diversas etapas de operação da protensão descritas anteriormente, ficaram abaixo das
tensões admissíveis previamente especificadas.
Finalmente, podemos afirmar que todos os exemplos mostrados foram suficientes para
validar a nossa proposição, também como mostrar sua utilidade na prática.

10 Conclusões
Desenvolveu-se software para o traçado dos cabos de protensão de uma forma rápida e
eficiente, a partir de trechos formados pelos segmentos concordantes: “parabólico–
retilíneo-parabólico”, seguido do cálculo das perdas imediatas de protensão.
A seguir são calculados os momentos hiperestáticos de protensão para uma viga
contínua, seguido do cálculo das perdas diferidas de protensão e verificando, por fim, as
tensões nas fibras extremas da seção transversal para as combinações cabíveis dos
esforços externos.
Quando empregado juntamente com procedimento desenvolvido para pré-
dimensionamento da protensão, que utiliza ferramentas de otimização, o programa obtém
resultados bastante satisfatórios.

V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 19


Referências Bibliográficas

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edition, Washington D. C., 1977 (496 pages).
PCI COMMITTEE ON PRESTRESS LOSSES (1975) - “Recommendations for
Estimating Prestress Losses”, PCI Journal, vol. 20, July/August, pp. 43-75. Also
comments in vol. 21, no 2, March/April 1976.
NOBREGA, R. J. C. (2001) – “Pré-Dimensionamento Econômico de Vigas Contínuas
Protendidas”, Recife, Universidade Federal de Pernambuco. Dissertação de Mestrado.
NAAMAN, A. E. (1982) – “Prestressed Concrete Analysis and Design - Fundamentals”.
Ed. McGraw-Hill Book Company, New York, United States.
BURGOYNE, C. J. (1988) - “Cable Design for Continuous Prestressed Concrete
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second edition, Wiley, New York.
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NBR 6118 (2000) – “Projeto de Estruturas de Concreto”. Projeto de revisão. Rio de
Janeiro.
GHALLI, A. & NEVILLE, A. M. (1997) – “Structural Analysis: A unified classical and
matrix approach”, fourth edition, ed. FN SPON, New York.
HOROWITZ, B. (1992) – “Pré – Dimensionamento de Vigas Contínuas Protendidas”,
artigo publicado na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, julho, Recife.
LIVESLEY, R. K. (1964) – “Matrix Methods of Structural Analysis”, Pergamom Press,
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V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto 20

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