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Uma Lamparina para o Caminho da Iluminação

Atiśa Dipamkara Shrijnana

Promessa de Compor
(1) Tendo prostrado-me respeitosamente a todos os Triunfantes dos três tempos, ao seu
Dharma e à comunidade da Sangha, devo acender uma lamparina para o caminho da iluminação,
instado pelo meu excelente discípulo Jangchub-wo.
(2) Considerando que (os praticantes) podem ter (capacidade) pequena, intermediária ou
suprema, dizemos que são três os tipos de pessoas espirituais. Portanto, devo escrever sobre essa
distinção específica, deixando claras suas características.

Escopo Inicial
(3) Uma pessoa muito interessada em atingir, de alguma forma, a mera felicidade do samsara
incontrolavelmente recorrente é conhecida como uma pessoas do escopo espiritual mínimo.

Escopo Intermediário
(4) Uma pessoa que por natureza vira as costas aos prazeres da existência compulsiva e aos
impulsos negativos do karma, e que tem grande interesse em obter apenas um estado mental pacífico,
é conhecida como uma pessoa do escopo espiritual intermediário.

Bodhichitta Como Entrada para o Escopo Avançado


(5) Uma pessoa que realmente deseja eliminar por completo todo o sofrimento dos outros,
assim como o sofrimento incluído em seu próprio continuum mental, é uma pessoa com motivação
suprema.
(6) Para esses santos seres, que desenvolveram o desejo pela suprema iluminação, devo
explicar os métodos perfeitos ensinados pelos gurus.

Ritual e Conselhos para a Aspiração de Bodhichitta


(7) Ofereça flores, incenso e qualquer posse material para pinturas, estátuas, e assim por
diante de Budas totalmente iluminados, assim como para estupas e (textos) sagrados (do dharma).
(8) Com a oferenda de sete ramos mencionada na (Prece) da Conduta Excelente, e com o
pensamento de nunca desistir até atingir a realização última de sua natureza búdica,
(9) Com grande fé nas Três Jóias Supremas e com os joelhos dobrados tocando o solo e as
palmas das mãos unidas, comece tomando uma direção segura (refúgio) três vezes.
(10) Depois, com uma mente amorosa direcionada a todos os seres limitados (seres
sencientes), olhe para todos esses seres que sofrem com o nascimento nos três reinos piores, com a
morte, transferência e assim por diante.
(11) Então, com o desejo de que todos os seres errantes (seres sencientes) estejam livres do
sofrimento da dor, do sofrimento e das causas do sofrimento, gere a bodhichitta empenhada, com a
qual nunca desistirá.
(12) Os benefícios de gerar uma aspiração como essa foram minuciosamente explicados por
Maitreya no Sutra Que se Alastra Como o Tronco de uma Árvore.
(13) Quando tiver lido esse sutra ou ouvido ensinamentos de seu guru a esse respeito, e
estiver ciente dos inúmeros benefícios da bodhichitta completa, gere a aspiração (de bodhichitta)
repetidamente para deixá-la estável.
(14) A força positiva (mérito) disso é detalhada no Sutra Solicitado por Viradatta. Como é
resumida em apenas três estrofes, vou citá-las aqui.
(15) “Se a força positiva de bodhichitta tivesse forma, preencheria todo o espaço e além.
(16) Se alguém enchesse de joias uma quantidade de campos búdicos equivalente aos grãos
de areia do Ganges e as oferecesse aos Guardiões do Mundo,
(17) Alguém que juntasse suas mãos e direcionasse sua mente à bodhichitta estaria fazendo
uma oferenda mais nobre, pois seria infinita.”
(18) Tento gerado a aspiração de bodhichitta, fortaleça-a sempre com vários esforços e, para
mantê-la em mente nesta e em outras vidas, proteja também o treinamento explicado nos textos.

Tomando os Votos de Bodhichitta Engajada


(19) Sem os votos que são a natureza da bodhichitta engajada, sua aspiração pura nunca
crescerá. Portanto, com o desejo de progredir rumo à aspiração pela iluminação completa, tome-os
indubitavelmente e com determinação.
(20) Aqueles que mantém os votos de qualquer das sete classes de liberação individual têm o
pré-requisito ideal para os votos de bodhisattva; os outros não têm.
(21) No que diz respeito às sete classes de (votos de) liberação individual, Aquele Que
Progride Adequadamente (Tathagata) afirmou que os de abstinência gloriosa são supremos; estes são
os votos dos monges completamente ordenados.
(22) Através do ritual descrito no “Capítulo de Disciplina Ética” de Os Estágios do
Bodhisattva, tome os votos (de bodhisattva) de um guru excelente e totalmente qualificado.
(23) Saiba que um guru excelente é alguém habilitado a conduzir a cerimônia dos votos, e
que vive de acordo com os votos, tem confiança para conferir os votos e possui compaixão.
(25) Escreverei aqui, muito claramente, como Manjushri gerou bodhichitta quando era o rei
Ambaraja, conforme foi explicado no Sutra do Adorno Para o Campo Búdico de Manjushri.
(26) “Ante os olhos de meus Guardiões, eu gero bodhichitta e, ao convidar todos os seres
errantes, os libertarei dos renascimentos incontroláveis.
(27) De agora até atingir os estados de purificação suprema (iluminação), nunca agirei com a
intenção de machucar, com uma mente raivosa, com avareza ou com inveja.
(28) Devo viver de acordo com a conduta de abstinência; devo me livrar da negatividade e
do apego/ganância. Devo treinar continuamente, como fez o Buda, alegrando-me com os votos de
disciplina ética.
(29) Não devo me deleitar em atingir a iluminação rapidamente e em interesse próprio, devo
permanecer até o fim, nem que seja para ajudar um único ser.
(30) Devo limpar todos os reinos, até que se transformem em reinos incomensuráveis e
inconcebíveis, e devo permanecer nas dez direções para aqueles que chamarem meu nome.
(31) Devo purificar todas as ações de meu corpo e fala, assim como as ações de minha mente:
Nunca devo cometer ações destrutivas”

Praticando a Conduta de um Bodhisattva


Treinamento em Disciplina Ética Elevada
(32) Se treinar-se bem nos três treinamentos de disciplina ética, vivendo de acordo com os
votos que são a natureza da bodhichitta engajada e a causa para a completa purificação do corpo, fala
e mente, seu respeito por esses três treinamentos aumentará.
(33) Assim, o estado completamente purificado da iluminação surgirá; já que, ao esforçar-se
em manter os votos de bodhisattva, você completará as redes (acumulações) necessárias para a
iluminação total.

Treinamento na Concentração Superior


(34) Todos os Budas afirmaram que o desenvolvimento da percepção elevada é a causa para
completarmos essas redes de força positiva (mérito) e consciência profunda (sabedoria).
(35) Assim como um pássaro que não desenvolveu completamente as asas não consegue
voar no céu, sem a força da percepção elevada, não conseguimos atender aos objetivos dos seres
limitados.
(36) A força positiva que uma pessoa com percepção elevada ganha em um dia e uma noite
é maior do que a força positiva que uma pessoa sem percepção elevada ganha em cem vidas.
(37) Portanto, se deseja completar rapidamente as redes para a iluminação total, se esforce
para conseguir uma percepção elevada. Esse não é um trabalho para preguiçosos.
(38) Alguém que não tenha atingido uma mente tranquila e assentada (quietude mental) não
conseguirá obter percepção elevada. Portanto, se esforce repetidamente para atingir uma mente
tranquila e assentada.
(39) No entanto, se as condições que geram uma mente tranquila e assentada forem fracas,
mesmo que medite com grande esforço por mil anos, não atingirá a concentração unifocada.
(41) Assim, mantenha as condições mencionados no capítulo Uma Rede Para a
Concentração Unifocada. E mantenha sua mente (focada) em algo construtivo, ou seja, um dos
objetos apropriados para o foco.
(41) Quando um yogui atinge uma mente tranquila e assentada, ele ou ela também atinge a
percepção elevada

Treinando em Consciência Discriminativa Elevada


No entanto, se você falhou em cultivar a consciência discriminativa de amplo alcance
(perfeição da sabedoria), não conseguirá acabar com os obscurecimentos.
(42) Portanto, para se livrar de todos os obscurecimentos que dizem respeito às emoções
perturbadoras e aos fenômenos conhecidos, cultive sempre a consciência discriminativa de amplo
alcance com método (meios hábeis).
(43) Foi dito que consciência discriminativa (sabedoria) sem método (meios hábeis), e
método sem consciência discriminativa é considerado ainda estar na escravidão. Portanto, não desista
de nenhum dos dois.
(44) Para eliminar dúvidas sobre o que é a consciência discriminativa e o que é método,
esclarecerei a diferença entre consciência discriminativa e método.
(45) O Triunfante explicou que, com exceção da consciência discriminativa de amplo alcance
(perfeição da sabedoria), todas as redes de fatores construtivos (práticas virtuosas), como a
generosidade de amplo alcance (perfeição da generosidade) e assim por diante, são métodos.
(46) É pelo poder do cultivo dos métodos que alguém que possui bodhichitta, pode
rapidamente atingir a iluminação meditando cuidadosamente na consciência discriminativa. A
iluminação não surge de meditarmos apenas na ausência de uma identidade inerente.
(47) A consciência da vacuidade da existência inerente, que compreende que os agregados,
as fontes cognitivas e os estimuladores cognitivos não surgem inerentemente, foi descrita como
consciência discriminativa.
(48) Se as coisas existissem inerentemente (quando do surgimento de suas causas), não seria
lógico termos de produzi-las. Se fossem (inerentemente) não existentes, não seria possível produzi-
las, como uma flor de espaço. Uma vez que esses dois erros são absurdos, as duas outras (hipóteses)
(ser inerentemente existente e não-existentes ao mesmo tempo) também são impossíveis.
(49) Fenômenos não surgem de si mesmos, nem de algo (inerentemente) diferente de si
mesmos, nem das duas opções conjuntamente. E também não surgem de nenhuma causa. Por isso,
é da natureza de todas as coisas não possuir uma existência inerente.
(50) Além disso, quando analisamos todas as coisas como sendo (inerentemente) uma ou
muitas, e como não conseguimos encontrar algo que seja existente por natureza, podemos estar certos
da não-existência da existência inerente.
(51) A linha de raciocínio de As Setenta Estrofes Sobre Vacuidade, de O Texto Raiz do
Caminho do Meio e assim por diante, também explica como a natureza dos fenômenos é a vacuidade.
(52) Para não deixar este texto muito longo, não elaborei muito esse assunto. O que expliquei
foi simplesmente para o propósito de meditação em um sistema comprovado de princípios
filosóficos.
(53) Assim, uma vez que não conseguimos encontrar a existência inerente das coisas, sem
exceção, a meditação na ausência de existência inerente é a meditação na consciência discriminativa.
(54) A consciência discriminativa nunca encontra existência inerente nos fenômenos; é dito
que o mesmo se a aplica à existência da própria consciência discriminativa. Assim, medite na
vacuidade de forma não conceitual.
(55) Essa existência compulsiva que vem dos pensamentos conceituais (de existência
inerente) tem uma natureza verdadeira (meramente fabricada) por esses pensamentos conceituais.
Portanto, o estado livre de todos os pensamentos conceituais, sem exceção, é o estado supremo de
Nirvana Além do Sofrimento.
(56) O Mestre Vencedor Que a Todos Superou (Bhagavan) disse, “O pensamento conceitual
(de existência inerente) é a grande ignorância, aquilo que nos faz cair no oceano do ciclo incontrolável
de existência. Ao permanecermos em concentração unifocada desprovida de pensamentos
conceituais (de existência inerente), ficará claro que (a mente) sem essas concepções é como o espaço”
(57) Em A Fórmula Dharani para Engajar-se na Não Conceitualidade, ele disse: “Se os filhos
do Triunfante, envolvidos nesse dharma puro, contemplarem esse estado livre de pensamentos
conceituais (de existência inerente), transcenderão os pensamentos conceituais que são tão difíceis de
serem superados e gradualmente atingirão um estado livre de tais concepções”
(58) Quando você tiver adquirido certeza, através dessas citações e linhas de raciocínio, de
que todas as coisas são desprovidas de existência inerente e de um surgimento (inerentemente
existente), medite em um estado de pensamentos não conceituais (de existência inerente)

Manifestando o Resultado
(59) Tendo meditado assim na realidade e tendo gradualmente atingido o (estágio do) “calor”
e assim por diante, você atingirá (o estágio) “extremamente jubiloso” e assim por diante, e a
iluminação de um buda não estará muito distante.
(60) No entanto, se através de ações como pacificação, estimulação e assim por diante,
geradas pela força de mantras, das oito grandes realizações e de outras realizações, como a realização
do vaso excelente,
(61) E, se através da consciência bem aventurada, você desejar completar as redes que levam
à iluminação, e também praticar o mantra secreto conforme descrito nas classes kriya, charya e assim
por diante do tantra,
(62) Para que lhe seja conferida a iniciação do (mestre) vajra, agrade seu santo guru
respeitosamente servindo-o, dando-lhe substâncias preciosas e assim por diante e fazendo o que ele
diz.
(63) Por ter agradado seu guru, ao ser-lhe conferida a iniciação completa do mestre (vajra)
você se purificará completamente de todas as forças negativas e sua natureza será a de alguém que
tem o suficiente para alcançar as realizações verdadeiras.
(64) Por ter sido estritamente proibido em O Grande Tantra do Buda Primordial, a iniciação
secreta e da consciência discriminativa não devem ser recebidas (de forma literal) por aqueles que
praticam abstenção.
(65) Se você tomar essas iniciações enquanto vive de acordo com a prática asceta de
abstinência, estará cometendo uma ação proibida e, assim, seu voto de ascetismo se degenerará.
(66) Em outras palavras, como praticante da conduta domada, você cairia na desgraça da
derrota e, considerando-se que certamente cairia em um dos piores estados de renascimento, nunca
conseguiria uma realização.
(67) No entanto, se tiver recebido (de forma não literal) a iniciação conferida pelo mestre
(vajra) e estiver ciente da realidade, não haverá problemas em suas ações de ouvir todos os tantras,
explicá-los, fazer pujas de fogo, pujas de oferendas e assim por diante.

***

Eu, o Ancião Shri Dimpakara, tendo visto (tudo ser) explicado nos ensinamentos de dharma
dos sutras e assim por diante, compus esse resumo da explicação do caminho para a iluminação a
pedido de Jangchub-wo.
Isso conclui o texto A Lamparina para o Caminho da Iluminação composto pelo Grande
Mestre Dipamkara Shrijanana. Este texto foi traduzido, editado e finalizado pelo próprio abade
indiano (Dipamkara Shrijnana) e pelo tradutor tibetano, o monge Geway-lodro. Este texto do dharma
foi composto no Templo Toling em Zhang-zhung.

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“Byang-chub lam-gyi sgron-ma”, Skt. “Bodhipathapradipam”


por Atisha (Dipamkara Shrijnana ) traduzido por Alexander Berzin de
acordo com as explicações de Tsenzhab Serkong Rinpoche seguindo o
comentário do Quarto Panchen Lama.

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