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TRANSFERÊNCIA DE CALOR E MECÂNICA

DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL


FUNDAMENTOS E COORDENADAS GENERALIZADAS

CLOVIS R. MALISKA
Laboratório de Simulação Numérica em Mecânica
dos Fluidos e Transferência de Calor - SINMEC
Departamento de Engenharia Mecânica
Universidade Federal de Santa Catarina
1
' ( "' /\111/i.~1..,,

e 111 llf 11111 11 11·11 <'X iHl.c• 11l.t• 1<•111 sido, <'•li gern.I, (•udNeçada aos pesquisadores e para

c·rn 1, 1111 n~ ele· f opirw; PSJH'c·Hirns. A forma d(' organização deste livro objet.ivon o
ap11·11diwdo pn11lnt i110 e· a busca coHstante ela intrrpreta<;ão geom(·trica e física.
t u1rn l'11C'i 1i1 :11 o Pnf <'IH li mcnt.o, pr incipalme11te em coordenadas geuera.liza.clas.
No 1111111 dn S<'~1111da pm·t.e, s3o a.pr<'sentados exemplos que reflet em os t.ra-
1>nl llrn; clP 1H"sq11isa <'de orieut.ação de t.ei;es e d issertações, bem como os projetos
eIP 111f.c•r1u.;no <·01 11 c11tµ rcsas. desenvolvidos pelo aut.or e seus colegas do SI:JMEC
L11liornt ô rio de Simulação l\'urnérica rm Mecânica dos Fluidos e Transferência
cl1• C'alor. Os proft'ssores e os alunos de graduação e pós-graclm1ção do SIN-
~'lliX' cont.rihuíram, de modo sig1üficativo, para o atnadure<:imento desta área
c•111 uosso DC'parta lllent.o. A todos, e em especial ao Prof. Antonio Fábio, que
<'sl.c'vc· comigo desde o início destas atividades. deixo meus sinceros a.gradeci-
uu'utos.
De uma. forma direta a lg umas pe:ssoas contribuíram decisivamente para a
rc•a lização d<:'Ste livro. Gm;ta.ria de agradecer ao João Flávio, por t"er realizado,
<·0111 a paciência que a tarefa <:'xige, o excelente trabalho de edição de meu texto
digitado cm Tt;X; à Ana Lúcia, pelo des<:'nho da maioria das figuras, feitos
.'ic'lllJH'<' com muita dedicação; ao Marcos Livra mento, por sempre ter a solução
d<' como fa.zcr q uando a parafernália de aplicativos e equipamentos compu-
tacionais não sã.o compatíveis; ao Axel, por sua incansável aj uda em outras
nt ividades, permitindo-me tempo para. dedica r ao livro, e ao meu filho Clovis
.Ir. , que. desde bastante novo, muit,o tem me a uxiliado na área. computacional.
Nosso la.7.cr tem sido, freqüentemente , discutir nossas a tividades de pesquisa.
13olsis t,fü1 de iniciação científica cio SINMEC também cólabora.ram d igitando
<'q11nçoes e fo.zeudo figuras . Para não cometer injustiças, peço a eles desculpas
por não nominá-los.
Agrndeço também ao Sr. Ped ro, à Sra. Talita e a o Sr. Francisco, ela LTC ,
pela am{wel acolhida que recebi quando manifestei interesse cm publicar meu
li vro<' 1><'la ajuda d urante a preparação do texto.
f.'innlnl('nt.<', coloco meu e ndereço eletrônico, rnaliska@sinmec. ufsc. br , à dis-
posic;úo do leitor para sugestões e comentários sobre o texto e indie<.\Ção dos
prn1sív<'is C'rros <'ncontrados.

Clovis R. ?vlaliska
Setembro de 1995
Sumário

Prefácio ix
Sumário Xl

1. Introdução 1
1.1 - Preliminares 1
1.2 - Diferenças Finitas, Volumes F initos e Elementos Finitos 4
1.3 - Objetivos e Escopo do Presente Text.o . . . . . . . . 7
J .4 - Problemas de Interesse 9
2. Aspecto~ l\tlatemáticos das Equações de Con-
servaçao . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.1 - Níveis de Formulaçã.o dos Modelos . . . . . . 11
2.2 - Problemas Elípticos, Parabólicos e Hiperbólicos 16
2.3 - Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . .. 21
3. Obtenção das Equações Aproximadas - Aspectos
Gerais . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.1 - A Tarefa elo :Ylétodo Numérico . . . . . . . . . . . . 24
3.2 - O Método de Diferenças Finitas - MDF . . . . . ; , . . 25
3.3 - Formulações Explícita, Totalmente Implícita e Implícita ' 26
3.4 - Consistência, Estabilidade e Convergência .• 33
3.5 - Conclusões 34
3.6 - Exercícios . 34
4. Obtenção das Equações Aproximadas - Volumes
Finitos . . . . . . . . . . . 36
4.1 - Introcltição . . . . . . . . . 36
4.2 - O Método elos Volumes Finitos . 36
4.3 - Condução Unidimensional 11-ansiontc 38
4.4 - Linearizaçã.o do Termo Fonte 45
4.5 - Condições de Contorno . 46
4.6 - Aproximação ela Equação Geral da Condução 51
4.7 - Estrutura da Ma.t.riz ele Coeficientes 5.4
xii G. U. M11.li8k11.

1
11.s ' l l'at.u111l1 ut.o das Não-linearidades .... . . ...... 56
''·º - So!uc;H.o do Sistema Linear de Equações . . . . . . . . . 57
4.10 - Cuida dos Gerais na Obtenção elas Equações Aproximadas 65
4.11 - Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5. Convecção e Difu são - Funções d e Interp olação 73
5.1 - Introdução . . .... - .... - ..... 73
5.2 - A Dificuldade do Problema Convectivo-Dominante 74
5.3 - Funções de Interpolação - Suporte F ísico 79
5.4 - Funções de Interpolação Unidimensiona is 82
5.5 - Difusão Numérica ou Falsa Difusão 87
5.6 - Outras Funções de Interpolação 94
5. 7 - Conclusões
104
5.8 - Exercícios . . . . . . . . . . 105
. 6. Convecção e Difusão Tridimensional de <!> 106
6.1 - Introdução . . . . . . .. . . .
106
6.2 - Integração ela Equação para</> em 3D
·- 106
6.3 - Formulação Explícita . . . . . . 111
6.4 - Formulação Totalmente Implícita . . 114
6.5 - Exercícios . . . . . . . . . . . . 115
7 . D e terminação do Campo d e Velocidades - A co-
plamento P - ll . .. .. . . . . 117
7. l - Introdução . . . .. . . . . . . 117
7.2 - Sis tema de Equações a Ser Resolvido 117
7.3 - O Acoplamento Pressão-Velocidade: Características 119
7.4 - Métodos para Tratamento do Acoplamento P - V . . 126
7.5 - Condições de Contorno para P e P' . . . . . . . . . 140
7.6 - Os Métodos de .Acoplamento e o Arranjo Co-localizado 142
7.7 - Condições de Contorno para as Out.ras Vai·iáveis 146
7.8 - Conclusões
153
7.9 - Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
8. E scoa m e ntos a Qua lquer Velo cidade - Acopla-
mento P- V / p . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
8.1 - fotrodução . . . . . . .. . . . .. . . . . . . i55
8.2 - Acoplamento Pressão-Velocidade e Pressão-Densidade . 156
8.3 - Acoplamento Temperatura-Velocidade 164
Surmírio xiii

X.il - Conclusões 165


X.!') - ExC'rdC'ios . 165
li. P roble m as Bi e Tridimens ionais P arabólicos 167
!l. I - Introdução 167
!J.2 - Problemas Bidimensionais Parabólicos Externos 168
o.:3 - Problemas Bidimensionais Parabólicos Internos 170
!J.11 - Problemas Tridimensionais Pa1·abólicos Externos 170
O.G - Problemas Tridimensiona.is Parabólicos Internos 173
D.G - c 'onclusões . . . . . . . . . . . . . . . . 179
9.i - Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
1O. R e comendações Gerais p a ra Concepção e Teste
do Programa . . . . . . . . . . . 180
10.l - Introdução . . . . . . . . . . . . . 180
10.2 - Os Requisitos para o Analista l\;umérico 180
10.3 - Escrevendo Seu P rograma . . . . . 181
10.4 - Executando Seu Programa . . . . . . 184
10.5 - Escolhendo Problemas-Testes. Buscando Erros 186
L0.6 - Observando às Características da Solução 193
10.7 - Conclusões . . . . . . . . . '. . . . . . . 197
11. Discretização Coincid ente com a Fronteira 198
11.1 - Introdução . . . . . . . . . . . . . 198
11 .2 - Malhas Estruturadas e Não-estruturadas . . . 200
11.3 - Domínio Físico e Domínio n·ansformado . . . 202
11.4 - n·atamento das Fronteiras Obtidas por Cortes 221
11.5 - Conclusões . . . . . . . . . . . . 222
11.6 - Exercícios 223
l 2. Transformação de Coordenadas 225
12. l - 'Introdução . . . . . . . . . . . . 225
12.2 - Sistemas de Coordenadas Curvilíneas 226
12.3 - Comprimento ao Longo de um Eixo Coordenado 229
12.4 - Áreas no Sistema de Coordenadas Curvilíneas . . 231
12.5 - Vetores de Base . . . . . . . . . . . . . . . 233
12.6 - Representação de Vet.ores no Sistema de Coordenadas Cur-
vilíneas . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
12.7 - Exemplo de uma Transformação Não-ortogonal 245
12.8 - Conclusões 250
12.9 - Exercícios 250
X IV e. R. J\iíali.skri

13. Geração do Sistema d e Coordenad as Curvilíneas 252


13. l - Introdução . . . . . . . . . . . . . . 252
13.2 - Ylotivação para Uso de Equações Elípticas . . . . . . 254
13.3 - Transform ação elas Equações ele Geração . . . . . . . 260
13.4 - Condições de Contorno para as Equações Transformadas 266
13.5 - Solução Numérica das EquaçÕ('S de Geração Transformadas 268
13.6 - Outros Sistemas Elípticos de Geração de Coordenadas . . 271
13.7 - Sistemas Parabólicos e Hiperbólicos ele Geração de Coorde-
nadas . . . . . . . . ·. . . . . . . . . . 272
13.8 - Métodos Algébricos de Geração de Coordenadas . 274
13.9 - Transformações Analíticas 280
13.10 - Obteru:.:ão elas Métricas Numericamente 282
13.11 - Exercícios . . . . . . . . . . . . . 284
14. Transformação d as Equações de Conservação 286
14.1 - Introdução . . . 286
14.2 - A Transformação 287
14.3 - Conclusões 295
14.4 - Exercícios 295
15. Obtenção d as Equações Aproximadas 298
15.1 - Introdução . . . . . . 298
15.2 - Integração das Equações . 299
15.3 - Condições de Contorno . . 322
15.4 - A Técnica de 1foitiblocos 328
15.5 - Exercícios 333
(16. M alhas Não-estruturadas 335
16.1 - Introdução . . . . . . . . 335
16.2 - Construção cios Volumes Finitos . 336
16.3 - Formulações Usando os Diagramas ele Voronoi 339
16.4 - Formulação UsaJ1Clo o Volume Criado pela Media.triz 355
16.5 - Solução do Sistema. Linear 360
16.6 - Condições de Contorno . 361
16.7 - Conclusões 363
17. Aplicações . 364
17.1 - Introdução 364
17.2 - P roblemas Ilustrativos 364
Swnário xv

17.3 - Visualização Científica . 399

l l pforên cias Bibliog r áficas 407

Í 11dice Alfabético 420


1 .

'f
1
CAPÍTULO UM
Introdução
..

1 .1 - Preliminares
O uso de técnicas numéricas para a solução de complexos problemas da
engenharia e da física. é, hoje, uma realidade, graças ao desenvolvimento de
computadores de alta velocidade e de grande capacidade de armazenamento.
Em função dessa disponibilidade computacional, que cresce exponencialmente,
o desenvolvimento de algoritmos para a solução dos mais diversos problemas
tem recebido enorme atenção dos analistas numéricos. A ampla aceitação dos
modelos numéricos pela comunidade interessada na solução desses problemas
explica-se pela grande versatilidade e relativa simplicidade de aplicação destas
técnicas. O seguinte exemplo, extraído de [16], com a devida atualização das
informações, demonstra o crescimento vertiginoso da eficiência computacional
(equipamentos + algoritmos) nos últ imos anos. A solução do escoamento tur-
bulento supersônico sobre um aerofólio, usando computadores do tipo IBM 704,
existentes na década de 60, consumiria um tempo de computação de aproxima-
damente 30 anos, com um custo de 10 milhões de dólares. O mesmo problema,
utilizando os computadores atua.is, requer minut()S de CPU êofn eusto de cen-
tenas de dólares.
Outra i·evolução acontecida no campo da fabricação de equipamentos com-
putacionais foi o aparecimento das estações de trabalho. Atualmente, 'elas
se apresentam com capacidade de armazenamento e velocidade de processa-
mento que permitem a solução de quase todos os problemas numéricos de in-
teresse da engenharia. Seus preços, por outro lado, são extremamente baixos,
quando comparados com os dos supercomputadores. Mesmo para os grandes
problemas, que representam uma pequena parcela dos problemas cotidianos
de engenharia e· que fogem da capacidade das estações, praticamente todo o
procedimento de cálculo pode ser nelas realizado, deixando-se para os super-
computadores apenas as execuções finais em malha refinada. Além disso, as
estações possuem capacidades gráficas que permitem que os resultados sejam
imediatamente visualizados e interpretados. A integração com programas de
CAD, indispensáveis para definição da geometria de solução e posterior geração
da malha, fica extremamente facilitada com o uso de estações de trabalho.
Em resumo, ficará cada vez mais fácil, tanto no meio a.caclêmico-cio11t.ífko
como no i11dw-1tria,l, o w;o ele t6cnicns numórica."S parli soluçãü <I<· prnhlor1111:;
-.....
de <'11g1•11lmrin, 11111a vez qne os custos para a aquisição cios equipamentos nc-
tesr-;1írios H('rno n1.da vez menores. A seguir, é feita uma avaliação da potcncia-
licln.d<• das diversa:; ferramentas disponíveis para esse fim.
O 011gcnliciro 01 1 projetista incumbido de resolver um determina.do pro-
bl<•ma trm a sua disposição, fu ndamentalmente, três ferramentas:

1. métodos analíticos;
2. métodos numéricos (experimentação numérica.); e
3. experimentação em laboratório.

Os métodos analíticos e os numéricos formam a classe dos métodos teóricos,


pois ambos objetivam resolver equações diferenciais. A di~erença está apenas na
complexidade da equação que cada. método pode atacar. Os métodos analíticos
têm a desvantagem de ser aplicáveis apenas em problemas cujas hipóteses sim-
plifica.tivas os desviam demasiadamente do fenômeno físico real Além disso, são
aplicados, normalmente, a geometrias simples e condições de contorno também
simples. Obviamente, as soluções analfticas não devem ser descartadas e uma
das suas importantes aplicações é, exatamente, para validar casos limites de
modelos numéricos e auxiliar no desenvolvimento de métodos numéricos ma.is
robustos. Uma vantagem significativa é a obtenção da solução em forma fe-
chada, requerendo baixíssimos tempos de computação. Se um método analítico
for suficiente pax·a resolver o problema de interesse dentro dos níveis de pre-
cisão e exigência necessários, ele deve ser preferido. Uma regra básica que deve
ser observada em engenharia é o uso da ferramenta adequada ao tamanho do
problema em questão.
Com relação à experimentação em labora.tório, sua grande vantagem é. o
fato de tratar com a configuração real. Ela é, entretanto, de altíssimo custo e
muitas vezes não pode ser realizada, por questões ele segurança, como é o caso
da transferência de calor no núcleo de reatores nucleares, ou pela dificuldade de
reprodução das condições reais, como, por exemplo, no escoamento supersônico
a grandes altitudes ou na simulação de reservatórios de petróleo. Na ausência de
modelos matemáticos estabelecidos e em geometrias extremamente complexas,
muitas vezes é a única alternativa de que o projetista dispõe.
A experimentação numérica (uso de técnicas numéricas) , por sua vez, pra-
ticamente não apresenta restrições, podendo resolver problemas com complica-
·das condições de contorno, definidos em geometrias arbitrárias e apresentando
resultados com uma rapidez fantástica. Os dados obtidos devem ser, entre-
tanto, confiáveis e este é um ponto de extrema importância a ser observado
pelo a.1alista.
Existem dois níveis de erros que podem estar presentes na solução numérica
quando os resultados são comparados com a realidade de um problema físico:
no primeiro nível estão os erros numéricos propriamente ditos, resultado da
má solução das equações diferenciais. Para detectá-los, os resultados devem
' ser comparados com outras soluções, analíticas ou numéricas, verificando-se
se a equação diferencial foi corretamente resolvida. Aspectos como precisão
ela. soluçfü> e' <'O nvcrgência do algoritmo são testados nesta fase , que pode ser
duuna.da dr validação numérica. Esse processo atesta a qualidade do modelo
1111m6rico. No segu.ndo nível estão os erros, resultado do uso de equações dife-
1·c1uciais que não representam adequadamente o fenômeno. A validação física,
port.anto, preocupa-se com a fidelidade do modelo matemático para com o pro-
l>l<11na físico em questão.
Na visão da engenharia, este é o ponto que interessa. Logo, a feua-
111r11ta numérica é adequada e confiável quando se está de posse de um método
numérico que resolva corretamente as equações diferenciais, e de um modelo
uuüernático que, sabidamente, represente com fidelidade o fenômeno físico. É
l>oin lembrar que nada ajuda, do ponto ele vista. da engenharia, t er um excelente
111odelo numérico, se o modelo matemático (isto é, as equações diferenciais esco-
lh idas) não representa o fenômeno que se quer modelar. A nossa preocupação,
neste livro, será apenas com os aspectos do modelo numérico, apesar de, sem-
pre que possível, enfatizarmos a importância de não perder de vista a física do
fenômeno que está. sendo modela.do.
A Fig. 2. 1 detalha os dois níveis de validação. A comparação dos resultados L
numéricos (RN) com os resultados analíticos (RA), se existirem , ou com ou- /
tros resultados numéricos, caracteriza a validação numérica. Por outro lado, a 1
compar ação de RN com os resultados experimentais (RE) identifica a.validação 1.
física. .../
Observa-se que qualquer processo de obter os resultados de um problema
físico é suscetível a erros, No caso, os procedimentos que·podem levar a distan-
ciar a realidade física dos resultados obtidos encontram-$e listados nas chaves.
Portanto, sempre que ist.o for constatado, deve-se conferir esses procedimentos.
Alguns exemplos da penet ração da simulação numérica !\ª indústria são
importantes como motivação. No projeto de aviões, por exemplo, o uso de
técnicas numéricas diminui, sensivelmente, o t rabalho de labórat:ório. Atual-
mente, as grandes companhias já utilizam o computador em larga escala, in-
clusive revolucionando o projeto em detalhes, o que não seria possível com
o uso do túnel de yento apenas. Um exemplo marcante é o 'caso do projeto
cio Boeing 737-300, que apresenta uma nova dimensão cio reator e uma nova
posição do mesmo em relação à asa. No 737-200, o reator é de menor dimensão
e colocado sob a asa, enquanto no 737-300 o mesmo é posicionado avança.do em
relação à asa. A atual configuração do 737-300 só foi possível porque inúmeros
experimentos numéricos foram realizados. Diz-se hoje, entre os especialistas,
que o 737-300 não estaria no mercado se não fosse a ajuda prestada pela si-
mulação numérica [120]. Diferentes testes realizados não conseguiram determi-
nar a condição adequa.da de projeto. Uma varredura experimental completa
elas opções possíveis no túnel de vento consumiria meses, com custos extrema-
mente elevados e sem a garantia de determinar a configuração adequada [28].
Outra restrição ao projet o era a pequena distância entre a asa e o solo, t ambém
resolvida pela via numérica.
4 C. R. M11li.~k"

Ai11d1t rnn1 n •lnção ao 737·300, a simulação numérica foi extensivamente


usada na <·orrobornção dos testes de vôo necessários para certificar o aparelho
j unLo nos órgãos oficiais. Um desses testes foi o do vôo à baixa. velocidade
com os ftap.~ abertos. P ara esta situação, 18 configurações foram analisadas e
algumas "surpresas" surgidas durante o vôo foram previstas pelas simulações,
cujos resultados ainda permitiram descobrir algumas limitações dos túneis de
vento nos testes à baixa velocidade [120].
Estes exemplos mostram que, se o modelo matemático representativo do
fenômeno já é conhecido e validado, não é mais lógico usar a experim'e ntação
ele labora.tório, uma. vez que os computa.dores e os métodos numéricos podem
resolver tal modelo matemático. Ou seja, não faz sentido usar o laboratório
para produzir os mesmos da.dos que podem ser obtidos pelo computa.dor com
um custo sensivelmente menor.
A tendência que se observa , portanto, é a realização de experiências em
laboratório cada vez mais sofisticadas com o intuito de usar os resultados na
corroboração de modelos matemáticos e numéricos , na investigação e entendi-
mento de novos fenômenos, que ainda necessitam ser matematicamente mode-
lados, e na avaliação final de um determinado projeto. O laboratório deixará,
certamente, de realizar a tarefa repetitiva, que ficará a cargo do computa.dor . O
que deve ser buscado, portanto, é a associação adequada da simulação numérica
com selecionadas experiências em laboratório. A união dessas técnicas resul-
tará em um projeto melhor e mais barato. Não há dúvida de que este é o
caminho da engenharia moderna, onde a simulação desempenhará , cada vez
mais, um papel decisivo nos custos e qualidade do projeto, caminhando lado a
lado com a experimentação de laboratório.
É importante salientar que esta.mos observando, por enquanto em maior
escala aperias em países ma.is desenvolvidos, que as técnicas numérica::> não estão
presentes apenas na solução de complexos problemas a cargo de institutos de
pesquisas e universidades. Ela.s já fazem parte das ferramentas diárias dos
engenheiros em muitas empresas de grande e médio porte.
Neste trabalho, a atenção é voltada para a modelação de problemas que
envolvem escoamento ele fluidos com ou sem transferência de calor. A solução
desses problemas requer o manuseio das equações de Navier-Stokes, altamente
não- lineares, acopladas às equações da conservação da massa e energia. Os
métodos disponíveis para o tratamento dessas equações são brevemente discu-
tidos a seguir.

1.2 - Difere nças Finitas, Volumes Finitos e


Elementos Finitos
Com o grande desenvolvimento experimentado pelos métodos numéricos e
a conseqüente penetração dos mesmos na engenharia, não raramente se t ravam
discussões acaloradas a respeito da eficiência do método das diferença.e; finitas
Introdttçao 5

( M 1)1•') <' elementos finitos (MEF). Minha intervenção neste ponto polêmico
t1 .. w H«' a.o fato de ter observado, ao longo dos últimos 10 anos, que muitas
1111111111,çõcs acerca desses métodos são oriundas do desconhecimento ele sua na-
l 1111•;-,a. Um breve histórico é importante para o entendimento. O MDF sempre
1!11 «'ll1prcgado pelos analistas da área de escoamento de fluidos, enquanto o
~11·~ 1 ·' o., foi para a área estrutural, na solução de problemas da elasticidade. Os
prnhlP111as, do ponto ele vista físicq, são completa.mente diferentes. Os de escoa-
11111111.0 são altamente não-lineares (equações de Navier-Stokes) , enquanto os da
1•lm1t.iddade não possuem os t ermos convectivos, não-lineares, e assemelham-se
11 problc>mas puramente difusivos de transferência de" calor. Foi natural, por-
t 1111t.o, o fato de os pesquisadores do MDF terem se concentrado na tentativa
d1• dominar as não-linearidades dos termos convectivos e no problema do difícil
1wopl ~1.mento entre as equações, dificuldades não encontradas em problemas de
Pl11.Ht.iC'idade. Por muito tempo foi deixado para segundo plano o problema do
l 1 1~l.amento de geometrias complexas, e o MDF teve todo o seu desenvolvimento
lms<'ado nos sistemas coordenados ortogonais, como o cartesiano, o cilínd rico e
o !IHférico. Por esta razão, muitas pessoas ainda vinculam o MDF com malhas
l'lll'l.CSianas, equivoca.damente, uma vez que ele pode ser aplicado a qualquer
t.lpo de malha, mesmo a não-estruturada usada em elementos finitos.
Por outro lado, o MEF sempre teve a vantagem de usar malhas não-
t•Ht.ruturadas, o que permite que problemas em geometrias complexas possam
1wr resolvidos. O MEF não teve penetração forte na área de fluidos por muito
t.1•rnpo, porque se acr editava que a equação diferencial a ser resolvida necessi-
l 1wa de um princípio variacional para que o método pudesse ser aplicado. Como
11 oquação de Navier-Stokes não tem esta propriedade, a aplicação do MEF em
fluidos foi retardada.
Até o início da década de 70, t inha-se, portanto, o MDF com grande ex-
1wl'iência na área de fluidos, mas sem habilidades para. tratar geoll!etrias com-
11l<•xas; e o MEF, hábil no tratamento da: geometria, mas sem ferramentas para
1rntar os termos convectivos presentes nas equações do movimento. Mesmo
1111pla.ntando a questão do princípio variaciona l, através do uso, do método de
c:nlerkin e outras variantes, o MEF não teve sucesso imediato em problemas
de• fluidos, uma vez que o método de Galerkin (que é equiva lente ao uso de
diferenças centrais no MDF) é adequado a.penas para. problemas puramente
difusivos.
O uso do método de Galerkin em elementos finitos é equivalente ao uso de
diferenças centrais em diferenças finitas , am bos produzindo instabilidade em
problemas de convecção dominante. Este e outros problemas similares, que
possuem a adequada interpretação física pelo não-funcionamento, motivaram
P<'Hquisas para o aprimoramento do método dos volumes finitos (MVF), no
qual as equações aproximadas são obtidas através de balanços de conservação
da propriedade envolvida (massa, quantidade de movimento, entalpia, etc.) no
volume elementar. A obser vação do caráter físico de cada t ermo da equação
G C. R. Mriliska

diferencial permitiu que métodos mais robustos fossem desenvolvidos . A pos-


sibilidade de associar a interpretação física com a matemática influiu de modo
considerável para que praticam ente todos os analistas envolvidos com o MDF
passassem a usar o MVF, visto que ambos, por serem equivalentes para uma
série de problemas, levam muitas pessoas a. ·confundi-los. Importantes desen-
volvimentos foram então realizados no MVF, mas ainda em. coordenadas orto-
gonais , principalmente cartesianas.
Uma grande transformação, motivada pelo aparecimento de equipamentos
mais velozes, processou-se na década de 70. Em meados dessa década, os
sistemas coordenados ortogonais convencionais começarnm a ceder espaço para
os sistemas coordenados generalizados coincidentes com a fronteira do domínio,
e o MVF passou a resolver problemas de fluidos em geometrias irregulares.
Nos últimos 15 anos , foi espantoso o crescimento experimentado pelo MVF
em coordenadas coincidentes com a fronteira. P raticamente todos os gran des
pacotes hoje disponíveis no mercado para a solução de problemas de escoamento
de fluidos com transferência de calor empregam coordenadas generalizadas no
âmbito do MVF.
Paralelamente, o MEF passou a empregar outras funções de interpolação
para permitir o tratamento adequado dos termos convectivos não-lineares. As
funções do tipo Petrov-Galerkin, que nada mais são do que a ponderação entre
os efeitos difusivos e convectivos, semelhantes aos esquemas híbridos emprega-
dos em volumes finitos, possibilitaram um expressivo avanço do MEF na área
de escoamento de fluidos. Recentes formulações, onde estas funções são desen-
volvidas ao longo da linha de corrente, também equivalente aos esquemas skew
usados em volumes finitos, permitiram que o MEF pa.ssasse, também, a t ratar
problemas ele fluidos minimizando os efeitos de difusão numérica.
Atualmente, um grande esforço de pesquisa está sendo dedicado ao desen-
volvimento de métodos em volumes finitos, usando malhas não-estruturadas,
semelhantes, portanto, àquelas usadas em elementos finitos.
No panorama atual, observa-se que am.bos os métodos (MVF e MEF) estão
resolvendo problemas altamente convectivos, inclusive com ondas de choque,
em geometrias arbitrárias, mostrando que existe entre eles uma forte seme-
lhança em termos de generalidade. Se olharmos do ponto de vista ma.temático,
não poderia ser diferente, uma vez que todos os inétodos numéricos podem
ser derivados do método dos resíduos ponderados, empregando-se diferentes
funções peso. Por exemplo, o MDF surge quando a função peso é feita igual
à função delta no ponto em consideração; o MVF aparece quando esta função
peso é feita igual a. 1 no volume elementar, e a zero em todos os outros volu-
mes elementares; já o MEF-Galerl~in surge quando estas funções peso são feitas
iguais às funções tentativas. Logo, não existe sentido em argumentar que um
determinado método é sempre superior a outro, visto que eles são derivados do
mesmo princípio e diferem apenas na. forma de minimização escolhida.. O que
• se t!ilm, na. prática, são diferentes graus de experiência dos diver~os métodos
para diferentes problemas.
folmrlu(·tw i

/\ prnf'<•rrncia. pcl'l:mal deste autor pelo n16toclo dos volumes fi ni t.os ( MV I•')
1111111 prnblc'111ns do csC"oainento do f-luidos é j usLificada primeiro pela. <'H<·ola s<'·
1•,111tl11 IH\ s11<\ formação e, segundo, pelo fato de o ~1VF, ao cria.r suas cquaçõ<'s
1111 oxi111adm; 1 estar realizando um balanço da propriedade em nível de volu-
1111•11 (llo1i1c•11tares. Se o que se busca com o método numérico é a solução clH.
1•q1111<;1t0 dil'crcncial que representa a conservação da propriedade em nível de•
p1111to (infinitesimal), parece lógico que as equações aproximadas (que formam
11 MiHt.Pma linear) representem a conservação em nível ele volumes elementares
(dlHcrcl.o). A depuração de um programa computacional também fica mais
11\t'il quando o analista tem etapas a serem conferidas. Como no MVF os ba-
l1111ços de conservação devem ser satisfeitos em nível de volumes elementares,
para qualquer tamanho de malha, todos os princípios de conservação podem ser
rlu•<"<-\.dos cm uma malha bastante grosseira. Ou seja., quase t udo pode ser feito
1111111useando-se poucos resultados em execuções rápidas no computador. Em
011t.ros métodos, pode-se a.penas conferir a solução com uma malha refinada.
Recentes desenvolvimentos mostram também o MEF aplicado em nível ele
volumes elementares, sendo denominado método dos elementos finitos baseado
110 volume de controle, conhecido na literatura internacional como CVFEM
Control Volume Finite Element Method, cujo objetivo é obter as equações apro-
ximadas em nível de volumes elementares em uma base de elementos finitos.
Muitos autores, principalmente aqueles ligados ao MEF clássico, não conside-
rnm o CVFEM como um MEF. Entretanto, foge do nosso escopo aprofundar
t•sta e outras questões específicas.
Um outro método que vem ganhando destaque· e espaço é o método dos
olemêntos no contorno (Boundary Element Method - BEM, da literatura inter-
nacional). Sua vantagem é a possibilidade de tratar apenas com a discretização
da fronteira, sem necessidade de discretizar o domínio interno. O método é apli-
cado quando é possível transferir a influência. do operador do domínio para a
fronteira. Apesar de atraente, é um método que ainda está' longe de responder
às solicitações dos problemas complexos resolvidos pelos outros métodos. Sem
dúvida, é uma área de pesquisa que merece esforços .

1.3 - Objetivos e Escopo do Presente Texto


Com o desenvolvimento da área de Mecânica. dos Fluidos Computacio-
nal (CFD) , muitos livros-texto foram publicados. A maioria deles é, entro-
tanto, dirigida ao pesquisador ou a.o aluno já familiarizado com as metodologias
numéricas modernas. ·
A minha observação da. área., nos últ imos anos, revela que, apesar do <'S·
pantoso crescimento no uso de métodos computacionais, principalmente c•111
coordenadas generalizadas, o iniciante em métodos numéricos em coordenadnfl
generalizadas não possui um texto que apresente os desenvolvimentos da 1111· •
todologia de forma gradual, permitindo o aprendizado ~la.tino e culminando
8 C. R. Maliska

com o desenvolvimento de seus próprios programas computacionais. Este texto


tem, exatamente, o objetivo de preencher esta lacuna.
O texto divide-se em duas partes: a primeira preocupa-se em apresentar
os conceitos básicos do método dos volumes finitos e, a segunda., o uso de
coordenadas generalizadas no método dos volumes finitos. Na primeira parte,
por simplicidade, os desenvolvimentos serão realizados utilizando o sistema
cartesiano de coordenadas, sem prejuízo do entendimento completo daquilo que
se buscará estudar, uma vez que toda a formulaçáo básica serve para qualquer
sistema coordenado. O texto é assim organizado com o objetivo de torná-lo
mais didático.
O Cap. 1 faz a introdução e tece considerações sobre os métodos numéricos
atualmente disponíveis para resolver problemas de Mecânica dos Fluidos e
Transferência de Calor. O Cap. 2 discute aspectos matemáticos das equações
de conservação. Esses dois capítulos discorrem sobre os assuntos em uma lin-
guagem adequada para os já iniciados. Isto não deve., entretanto, preocupar,
porque o início do curso propriamente dito ·está reservado ao Cap. 3, e a não-
absorção completa das informações dos Caps. 1 e 2 não prejudicará o aprendi-
zado.
Os Caps. 3 e 4 . apresentam a formt~lação para problemas de condução
unidimensional, sempre procurando mostrar que os conceitos adquiridos com
estes problemas são gerajs.
Nos Caps. 5 e 6, o importante problema das funções de interpolação é
abordado. O campo de velocidades é considerado conhecido e a maneira de
calculá-lo, tratando, portanto, com o sistema de equações diferenciais parciais,
é tarefa para o Cap. 7. Ainda no Cap. 7, discorre-se sobre os mais corren-
tes métodos para trat ar o acoplamento pressão-velocidade e a aplicá.Çã.o das
condições de contorno.
No Ca.p. 8 é apresentada uma moderna metodologia para resolver proble-
mas para qualquer regime de velocidade, uma linha de pesquisa de vanguarda
que vem atraindo a atenção dos pesquisadores, enquanto no Cap. 9 são discu-
tidos problemas tridimensionais parabólicos.
- / O Cap. 10 traz recomendações para aqueles que estão desenvolvendo seus
programas, principalmente os iniciantes, para teste e depuração dos programas,
sugerindo soluções analíticas para comparações, critérios de convergência, ~te.
Na segunda parte é abordada a solução de problemas usando coordena.-
das generalizadas coincidentes com a fronteira ( boundary-fitted coordínates) . O
Cap. 11 define plano físico e plano transformado, preocupando-se com que o
leitor tenha claros os procedimentos usados em um mapeamento de uma malha
arbitrária para um plano computacional regular.
~ O Cap. 12 preocupa-se com a transformação de coordenadas, buscando
dar a interpretação geométrica das grandezas matemáticas envolvidas. A ex-
periência mostra que a não-familia.rida.de física e geométrica. com o tensor
métrico, métricas da transformação, jacobia.no, velocidades contra.variantes e
covariantes, componentes físicas, etc. dificulta o domínio da metodologia.
Introdt~çao 9

O Cap . .1.3 discute a geração do sistema de co ord~nadas genera lizadas.


t l mNodo diferencial e métodos algébricos são a.presentados. No Cap. 14 as
1·q1111ço<'s de conservação escritas no plano (x,y,z) são transformadas para o
pl11110 C'Omputacional (sistema de cool'denadas generalizadas) . Mais uma vez
1•111'11.t.iza.-se o entendimento físico da transformação.
No Cap. 15 as equações aproximadas no plano computacional são obtidas.
<> processo é idêntico ao apresentado na primeira parte, com a diferença de que,
11µ,orn, os balanços de conservação são realizados em volumes elementares irre-
p.11larcs. Ainda nesse capítulo, os métodos de acoplamento vistos na primeira
pnrl.<' são estendidos para coordenadas generalizadas.
O Cap. 16 é reservado para introduzir 'OS conceitos básicos da formulação
11H11udo malhas não-estruturadas. Volumes ele controle obtidos tanto com os
d111.µ;ramas de Voronoi, como com o método da mediatriz são considerados . O
cll'H<'11volvimento de métodos numéricos usando volumes finitos com malhas não-
1•sl r11t.uradas é uma linha de pesquisa recente, que deverá receber importantes
1onl ribuições cm um futuro breve.
O Cap. 17 apresenta uma série ele problemas resolvidos pelo fJ.utor e seus
1·olc•ga.s, usando coo.rdenadas gcneraliu idas, nas áreas ele desenvolvimento de
li•1Tamentas numéricas e de aplicações , como aerodinâmica subsônica e su-
p1•rsônica, escoamentos ambientais, simulação de reservatórios de petróleo, pro-
l1IPmas de transferência dê calor e mecânica dos fluidos, etc.
A metodologia que será apr esentada neste texto pode ser empregada em
1111ia série de problemas de interesse prático. A próxima seção procura apre-
liPnt.ar parte deste universo.

l.4 - Problemas de Interesse


O escoamento de fluidos com ou sem transferência. de calói:' está envolvido,
prnticamente, em todos os processos de produção de energia, nos fenômenos
11111bientais, nos projetos de equipamentos térmicos, na engenharia aeronáutica
" aeroespacial, engenharia de reatores, bioengenharia, etc. A Fig. 1.1 procura
iclC'lltificar a lgumas áreas onde, cada vez mais, as , técnicas numéricas são em-
pregadas. Os exemplos mostrados são, na realidade, classes de problemas. No
raso da int.eração fluido-est,rutura, enquadram-se todos aqueles problemas onde
l'St..amos interessados na determinação da força (geralmente dinâmica) sobre cs-
t ruturas, tais como trocadores de calor, aviões, automóveis, etc.
Existe uma interação interdisciplinar no projeto globa l de equipamentos.
Por <>xemplo, o campo de temperatura.<i em uma estrutura de um reator nuclear
é um dado de entrada para modelos computacionais que determinam as tensões
nessa estrutura. Outro exemplo é o da interação fluido-estrutura que ocorre nas
aeronaves. A excitação na estrutura, devido ao escoa.me~ provoca vibrações
que, por sua vez, modificam o escoamento, criando uma situação física que
requer a solução de um problema acoplado de bastante complexidade. A lista
10 C. fl.. M nli8krt

ele problemas iutercssantes é longa e fica como exercício ao leitor imaginar os


inúmeros problemas de engenharia que podem beneficiar-se com as técnicas
numéricas modernas.

COMBUSTÃO PREVISÃO CLIMÁTICA

SIMULAÇÃO DE RESERVATÓRIOS
DE PETRÓLEO

AERODINÃMJCA
POLUIÇÃO AMBIENTAL

Fig. 1.1 - Exemplos de problemas de interesse.


CAPÍTULO DOIS
Aspectos Matemáticos das
Equações de Conservação

2.1- Níveis de Formulação dos Mode los


A obtenção da solução de qualquer problema. físico requer a habilidade da
1•1·l11,\ft0 elo rnodelo matemático correspondente. O modelo matemático deve ser
f 11 1 qtH' possa. ser resolvido com tempos de computação não-proibitivos e que os
1111111lr.ados obtidos bem representem o fenômeno físico em questão. Obviamente,
11fi11gir este objet ivo não é uma tarefa. fácil. A Fig. 2.1 mostra, de maneira
PHquemá.tica., a t arefa exigida. ao buscar-se a solução de nm problema.
Para a obtenção do sistema de equações, representado na Fig. 2. 1 pelo
q1 1n.dro Modelo Matemático, a decisão importante a ser tomada é com relação
1111 nível no qual os balanços de conservação sã.o realizados. Citando os extre-
111os, os balanços de couservação podem ser feitos t.anto em nível molecular,
ol'iginaudo urna. equação para. cada molécula, como :sobrP volumes de controle,
q11c podem até, em cleterminfl.das di.reçõ0s, coincidir com o domínio de solução.
Nrsses ext.remos, varia muito a complexidade dos métodos numéricos adequa-
dos a cada situação. A Tab. 2.1 mostra. os níveis do formulação dos modelos.
Obviamente, a. solução de problemas dentro do nível 1 é cómp11tacional-
1110nte impraticável. No nível 2 também o é, pelo fato de se ter que resolver
11i; equações diferenciais para intervalos de tempo da ordem das flutu ações tur-

lnllentas. Existem, atualmente, tentativas para atacar o problema neste nível.


Drntro dos .níveis 3 e 4 é qne hoje se acomodam os modelos que resolvem os
problemas de transferência. de calor e massa em fluidos de interesse da enge-
11 l1aria.
As equações de conservação da massa, quantidade de movimento e energia,
para os níve is 2 e 3, escritas no sistema ca.rtesia.no de coordenadas, são dadas
por (12)

ôp ô
Ôt +_ÔXj (pu,;) = Q \. (2.1)

- - ) + su-.
ô (PUi ) + - ô (PUjUi ) = - -ôP + - ô ( µôtti (2.2)
Ôt ÔXj ÔXi ÔXj ÔXj

-ô (pT)+ -(puiT)
ô â ( -kôT)
= -ÔXj - +Sr (2.3)
Ôt ÔXj Cp ÔXj
..
• Leis de conservação, como quantidade ......
N
PROBLEMA FÍSICO de movimento, massa, energia, etc.
q
MÉTODOS MÉTODOS TEÓRICOS
~
EXPERIMENTAIS • Relações constitutivas, modelos de
turbulência, etc. ~
...
a.
BANCADADE 1
MODELO ~ Condições de contorno ..
<e
?:-

TESTES EM
LABORATÓRIO l MATEMÁTICO 1 r-
• Integrações espaciais e temporais
___.,-----....... • Tratamento das não-linearidades
Concepção · e acoplamentos
• MÉTODOS
do experimento NUMÉRICOS • Natureza da malha
• Leis de • Funções de interpolação
similaridade • Etc.
MÉTODOS
• Qualidade doo ANALÍTICOS
equipamentos
de medição ·[ 1 1 1• Método de solução dos
sistemas lineares
__,~ • Escolha do tamanho da
• Processamento malha
Solução exata
dos dados 1
das • Escolha do tamanho do
equações intervalo de tempo
• Etc. 1
diferenciais

1
t
RE
t:
RA
i
RN
t
• Critérios de convergência dos
&"""" dclos -
• Etc.
..
RESULTADOS 1

Fig. 2.1 -Métodos de solução


Aspectos Matemáticos das Equações de Conservação 13

Tabela 2. 1 - Níveis de formulação dos modelos.

Nível em que os Informações Tipo de equação


balanços de conservação necessárias resultante
são efetuados
..
Conservação Massa molecular,
para cada molécula leis de t roca de QM, Equação para
V«L~ campos de forças: cada molécula
elétricos, magnéticos, etc.

Balanços onde: Propriedades refletindo Conjunto de


tm ~ t ~ tt o comportamento molecular equações diferenciais
Lm « L « Lt p, µ, k, etc. parciais

Fornecer p, µ,
Balanços onde: k, et c., e as tensões Conjunto de
t » tt de Reynolds, relações de equações
L » Lt transferência de calor e diferenciais
massa turbulenta • P.arc.iais

.
Balanços onde o Fornecer as condições de Equaçõçs diferenciais,
volume de controle contorno nas direções onde parciais, ordinárias
coincide com o domínio o volume de controle o.u algébricas
de solução em alguma(s) coincide com o domínio
direção (ões) de solução

1.: tempo médio sobre os quais os balanços de conservaçã\ sã.o realizados


tempo entre colisões moleculares
1..,,.:
1.,: escala de tempo para turbulência
/,: comprimento médio sobre os quais os balanços de conservação são realizados
/,m: livre caminho médio entre as moléculas
J,, : <'Scala de comprimento para tu rbulência
14 C. R. Ma.liska.

As Eqs. (2.1), (2.2) e (2.3) podem ser escritas para um campo escal ar geral
</>, neste caso expandindo os termos, como

ô ' ô ô ô
ôt (pcp) + ôx (pu<fa) + ôy (pvé) + ôz (pw<fa) =
(2.4)

~
ôx
(r<1> ª<P)
ôx
+ ~ (r<t> ª <P) + ~
ôy ôy ôz
(rq, 8ôz<1> ) + s,,
A Eq. (2.4) representa a conservação da massa, quando S"' for igual a zero
e cj> = 1. As equações do movimento nas três direções coordenadas são obtidas
fazendo-se </> igual a tt, v e w com o apropriado termo fonte, que, neste caso,
inclui o gradiente de pressão. A equação da energia é obtida. fazendo-se <I> == T,
também com o termo fonte apropriado. f ef> representa o produto da difusividade
pela massa específica da propriedade transportada em consideração. Para. as
equações de NA.vier-Stokes f <P = J.I. e para a cqua<;ão da energia r1 == k/cv,
quando o escoamento é laminar, e é igual a /;tfetivo e (k/cp)rfetivo, quando o
escoamento for tmbulento. A Tab. 2.2 mostra os valores de Sr!> para as diversas
variá.veis, no caso tridimensional compressível.
O primeiro termo do lado esquerdo da Eq. (2.4) é o termo temporal e
serve para avançar a solução no tempo, seguindo-se o transiente real ou um
transicnte distorcido. Fisicamente, representa a variação da. propriedade </>
dentro do volume de controle. Os outros termos, ainda do la.do esquerdo da.
equação, representam o balanço convectivo da variável</>. São, numericamente,
os termos mais delicados para tra.tamenLo, devido às não-linearidades. Os
prirudros três termos do lado direito representam o balanço dos fluxos difusivos.
enquanto o termo fonte é responsável por acomodal· todos aqueles termos que
não se encaixam na forma apres0nfada pela Eq. (2.4). O termo fonte coutém o
gradiente de pressão, quando <jJ for as componentes do vetor velocidade.
A Eq. (2.4) pode, ainda, representar a conservação de outras proprieda-
des, como, por exemplo, energia cinética turbulenta (k) e dissipação da energia
'c inética. turbulenta(€), gerando outras duas equações diferenciais que se acres-
centam ao sistema quando o modelo (k-c) é usado para modelar problemas de
escoamentos turbulentos. Para. um problema monofásico com mais de um com-
ponente na fase, a concentração de cada componente (C) pode ser calculada
com a Eq. (2.4), empregando-se os parâmetros mostrados na Tab. 2.2.
O fechamento do problema. é obtido com a equação de estado

p = p(P,T) (2.5)
obtendo-se assim, para um pr9blema tridimensional compressível, seis equações
(conservação da. massa, Navier-Stokes nas três direções, energia. e estado), para
seis incógnitas p, u , v, w , P e T.
A .~711:tl.os M nlm1uílicos das Eqwiço<'s <fo Conse1·urtçâo l G

T a b e la 2.2 - Valores de</>, r 9 e stl>.

11:q1n1.çiiD de conservação </> r<P s<ti


.
IVlassa global 1 o o

8 8
Bx + (JX (wrfi - 32 ~I \l . V)
-
+
<l1111 11t,idade de movimento cm x li ~i

ô ( ôv ) + D ( ôw ) âP
Q1i W(Ji Fz µ 'dX - dit

By + ô (~tôv _ :J
OyOy zp.\i . \l) +
<luantidade de movi mento em y V µ
8 ( ôu)
Qx µFy
+ Oz
ô ( µ(Jy
ôw) - ôP
1Jy

Bz âw
ô ( Wtfz
+ 7'iZ 2 \J ' V)
- 3µ +
c.iuanticlade de movimento em z w µ
â ( ôu) + ô ( âv) ôP
<n µ crz 7fii. µõZ - a;:

Energia" T .!!_ .L DP + E..°ip


e., c1, 7:JT , c1,

Massa de um componente i e pD o

* <l> é o termo de dissipação viscosa. A equação ~ara ·<1> pode ser encont1:ada
11111 (12). )
16 C. n. Maliska

2.2 - Proble mas Elípticos, Parabólicos e


Hiperbólicos

2.2.1 - Introdução

A classificação dos problemas em elípticos, pa rabólicos e hiperbólicos pode


ser feita facilmente, de acordo com o tipo da equação que governa o fenômeno,
utilizando-se a relação entre os coeficientes da equação diferencial parcial. Esse
tipo de classificação é puram ente matemático e pouco ajuda na escolha do
método numérico. Considerando, ainda, que os problemas de transferência de
calor e mecânica dos fluidos são governados por sistemas de equações, a clas-
sificação do sistema é sempre mista. Por exemplo, as equações de conservação
para escoamentos cornpressívcis formam um sistema de equações denominado
misto hiperbólico/pa rabólico, se os termos transientes· sã.o mantidos, e misto
elíptico/hiperbólico, se os mesmos são desprezados. É mais didático não clas-
sificar o sistema de equa.ções como um todo , mas sim apontar o caráter das
equações em cada, direção coordenada. Por exemplo, a equação do movimento
transiente, considerando-se os efeitos viscosos em t odas as d ireções coordena-
das, é uma equação. parabólica no tempo e elíptica no espaço. A seguir, são
dados exemplos dessas classes ele problemas .

2. 2.2 - Problemas Parabólicos e H iperbólicos

Do ponto de vü;t.a numérico, é importante reconhecer as características


das equações para que se possa tirar vantagens computacionais, como t empo de
computação e armazenamento das va riáveis. E é precisamente interpretando as
vantagens computaCionais que é mais útil definir os problemas de transferência
de calor e mecânica dos fluidos em problenrns que permitem a sua solução pelo
processo de ma rcha. cm uma determinada coordenada (temporal ou espacia l) e
aqueles que não perm item este procedimento.
Procurando compatibilizar esta definição com a definição matemática, po-
demos dizer que problemas hiperuólicos e parabólicos permitem o procedimento
de marcha, enquanto os elípticos não o permitem . Problemas de marcha são
aqueles que não nccessiL:nn de condições de contorno a jusante, isto é, depen-
dem apenas de informações a. montante. Os termos convectivos das equações de
Navier-Stokes são t ermos parabólicos, sendo fácil e11te11der que, se não existir
outr o meio de transporte da propriedade presente na equação, não será possível
que informações a jusante sejam transmitidas a montante, uma vez que as in-
formações da convecção viajam apenas no sentido da velocidade e levadas por
ela.
A Fig. 2.2 mostra o clássico problema parabólico do escoamento bidimen-
" siona l sobre uma placa plana. Neste problema os efeitos de difusão na direção x
são desprezados e não existem efe itos de pressãO a montante (uma vez que não
Aspectos Matemá.t.icos deis Equações <lc Conset'tmçao 17

1•xiHtem obstciculos ao escoamento). Logo, na direção x, resta apenas o termo


<"Onvectivo, não havendo necessidade, portanto, de condições de contorno a ju-
sante. O problema, ent.ão, é solucionado marchando-se das condições iniciais
<' resolvendo-se um problema unidimensional elíptico em cada estação x . A
solução marcha até onde exista interesse em obtê-la.
Computacionalmente, existe uma grande vantagem neste tratamento, pois
o armazenamento necessário é apenas correspondente a duas estações: a de
cálculo e a montante, ao passo que, se o tratamento for elíptico, necessita-se do
armazenamento global. Ainda mais importante é o fato ele que a solução com-
pleta é um conjunto de soluções unidimensionais independentes, extremamente
mais rápida do que a solução envolvendo todos os pontos da malha.
Observe que neste problema a ordem da mais alta derivada em x (a do
t.ermo convectivo) é 1, sendo necessária, por esta razão, apenas uma condição
de contorno para o eixo :i:. Essa condição é a do início da placa. Através
da ordem das derivadas é, também, uma forma de identificar se o problema é
parabólico ou elíptico em urna dada direção.
A diferença entre a marcha parabólica e a marcha hiperbólica é que a
primeira ::;e <lá ao longo de uma coordenada, e a segunda ao longo das carac-
terísticas do problema. A dificuld ade da marcha hiperbólica está no fato de que,
geralmente, não sabemos as condições de contorno elo problema elíptico na(s)
outra(s) direção(ões). Quando isso acontece, fica mais fácil tratar o problema
eHptica.mente em todas as direções. ·

Seção de cálculo

--
u..

..
-- --- ..... ~
~
Necessidade de armazenamento de
variáveis em duas estações.
,
.

-
-- ~ .
t
Condições iniciais
X

(x • O)
Fig. 2.2 - Camada limite sobre placa plana.
18 C. R. M aliska

2.2.3 - Proble m as E lípticos

Os problemas elípticos são aqueles nos quais as informações físicas se trans-


mitem em todas as direções coordenadas. Efeitos difusivos e de pressão são efei-
tos elípticos os quais, se presentes no fenômeno, requerem o estabelecimento de
condições de contorno em ambos os sentidos da coordenada em consideração.
Ou seja, esses efeitos viajam também no sentido contrário ao da velocidade,
conferindo característica.5 elípticas ao escoamento. .
É fácil entender fisicamente que, em um dado meio, quando acontecer
uma elevação de temperatura em algum ponto, o calor se transmitirá. em todas
as direçôes, de acordo com o valor da condutibilidade térmica. A difusão de
calor, bem como de massa e quantidade de movimento, são fenômenos elípticos
e, portanto, requerem condiçôes de contorno em toda a fronteira do domínio.
Também é fácil perceber que uma perturbação de pressão em um ponto do
domínio se transmitirá em todas as direções. Basta jogar urna pedra na água e
verificar que não existe direção preferencial para a propagação da perturbação.

Elfpt;oo 111111111 ~1111111111 X


..

Parabólico
..
Jllllllllll X

Hiperbólico
X

Fig. · 2.3 - Caracterização das coordenadas.

Observe, ainda, que os termos difusivos possuem derivadas de segunda or-


dem, requerendo, portanto, condições de contorno nos dois extremos do domínio
de solução no eixo considerado.
A Fig. 2.3 mostra o domínio de influência de um ponto P sobre o escoa-
mento nos casos elíptico, parabólico e hiperbólico. Considerando a coordenada
Asvectos Matemáticos das Equações de Consernação 19

,,. mostrada, uma perturbação no ponto P irá influenciar o domínio a montante


•' a jusante de P, no caso elíptico; apenas a jusante de P , no caso par abólico; e
11,pcnas a jusante de P e em uma determinada região (obviamente não conhe-
rida) no caso hiperbólico. O primeiro problema não admite o procedimento de
' marcha, enquanto os outros dois o permitem.
Para dar mais um exemplo e finalizar esta seção, considere o escoamento
1mpersônico sobre o corpo ele revolução apresen~ado na Fig. 2.4, onde apenas
um plano é m ost rado, devido à simetria. A região de escoamento é dividida
<'m três partes. Na região I a velocidade é constante e igual a u 00 (escoamento
não perturbado) . A região II é de Ma.eh < 1, subsônica e, portanto, elíptica,
<' a região III é supersônica (hiperbólica), conseqüentemente, admitindo um
procedimento de marcha para a solução. A Fig. 2.5 mostr11 um possível sistema
de coordenadas generalizadas para a solução deste problema.
__..
__.. Choque
Uoo (M > 1)
_..
_.. (I )
~ Região
supersôtúca
_.. ( ill )
__..
__..
......
_..
_..
Fig. 2.4 - Escoamento supersônico sobre um corpo rombudo.

Vamos iniciar os comentários sobre a física deste problém'a, considerando


a equação pe Euler, isto é, sem a existência de termos viscosos. A região II
é uma região elíptica, porque, devido à presença do corpo , a ondã de pressão
formada "viaja" em sentido :contrário ao escoamento, com a velocidade do
som local. Quando o escoamento tem velocidade igual à velocidade com que
viaja a informação, estabelece-se a onda. de choque e, a. montante dessa onda,
temos a região I, onde o escoamento é não perturbado. Quanto ma.is alta a
velocidáde do escoamento, mais perto do corpo se dará a. onda de choque.
É fácil ver que, quando o escoamento é subsônico, n~ existe a formação de
onda de choque, porque a onda de pressão que via.ja{em sentido contrário ao
escoamento propaga-se até o infinito. O escoamento não tem condições, neste
caso, de impedir a. propagação, pois sua velocidade é menor.
A região III é totalmente supersônica. Pela inexistência de efeitos difu-
sivos (escoamento invíscido) e de pressão (o corpo não possui reentrâncias ou
saliências nesta região), os efeitos se propagam apenas a j usante. Essa carac-
terística permite que a região III possa ser resolvida por um processo de marcha.
20 C. R. Maliska

Caso considerássemos os efeitos viscosos, a região III apresentaria. a formação


da camada. limite viscosa perto do corpo, podendo, se desejado, ser dividida
em outras duas, onde o problema da camada limite seria resolvido interativa-
mente com o escoamento invíscido (supersônico). Nesta região, o problema é
mais uma vez de marcha ao longo do corpo. O mais conveniente é continuar
resolvendo a região III como um único domínio , e a interação entre os efeitos
viscosos e invíscidos seria então levada em consideração automaticamente.
Até agora comentamos as características físicas específicas ~e cada região
do escoamento, sugerindo um modelo numérico adequado para cada uma delas.
Obviamente, as regiões I,II e III podem ser resolvidas como um único domínio
de cálculo, evitando-se separar os problemas em regiões cujas fronteiras não são
conhecidas. Este é o procedimento adotado neste texto e que será. mostrado no
Cap. 15.

Fig. 2.5 - Sistema de coordenadas para o problema da Fig. 2.4 .

2.2.4 - Transiente Real e Dis torcido

Considere-se o problema da transferência de calor bidimensional transiente


em uma placa com condutibilidade térmica dependente ela tempera.fora. De
· acordo com nossas definições, este problema é parabólico no tempo e elíptico
11as duas direções espaciais. Se. para este problema não esLivermos interessa.dos
.. na. solução transiente, mas apenas na de regime permanente, duas maneiras de
atacar o problema podem ser empregadas. A primeira, mantendo o termo tran-
sientc, requer a solução do problema bidimensional espacial para cada tempo.
A .~Jl('ci.os Mátmnát,icos das Equaçõ<1s rfo Gonse1'V<içào 21

1 '1111111 11110 <'!'li.amos interessados no transiente real, podemos avançar no tempo


, 11111 vc·~ q11<' recalculamos a matriz dos coeficientes, que é variável devido à
11 ln1;no da condutibilidade térmica. O transiente seguido resulta distorcido,
p11lr1 11 problema não foi convergido para cada inter valo de tempo.
/\ H<'guuda maneira é retirar o termo transiente da equação. Da mesma
l11111m que na a nterior, o problema deverá ser resolvido diversas vezes, pois de-
1•1•11t H<'I' 'tLualizacla a matriz dos coeficientes que dependem da condutibilidade
t 1•111dr11 H. qual, por sua vez, depende da temperatura. Estas sucessivas iterações
"'11ilv1dmn a realizar a marcha distorcida no tempo, se o termo transiente for
11111111.ido.
O C'nsinamento extraído é que, existindo ou não o termo transiente nas
• 111111<;ô<'s, se as mesmas forem resolvidas necessitan do de algum tipo de iteração,
11 111 or<'dimento é equivalente a marchar no tempo. Por est a razão, nos proble-

11111'1 it.c•rativos é sempre recomendável manter a coordenada tempo, seguin do-se


,1t m11Hicnte real ou distorcido, de acordo com a solução desejada. Ou seja, nu-
11111drnmente, a manutenção da coordenada tempo não aqarreta complicações
11dll'ionais e devemos tiúu· proveito disto, criando métodos numéricos onde o
11v11 1iço no tempo pode ser usado como um parâmetro de relaxaçã.o. Dest a
l111111a, o coeficiente de relaxação fica controlá vel pelo usuário.
Vale lembrar que, em um problema onde apenas a solução de regime per-
1111111c•11te é desejada e o termo transiente foi mantido, a estimativa do campo
ili• variáveis para iniciar o processo iterativo faz o papel dos valores iniciais da
111dAvel.

:J.3 - Exercícios
2.1 - Para se familiarizar com as equações de conservação, escreva as
11:qH. (2.1) a (2.3), termo a termo, para as seguintes situações: ,

a.. Incompressível viscoso.


b. Compressível viscoso.
c. Compressível invíscido (~uações de Euler). Existe ~ecessidade de
alguma outra equação, além das citadas, para fechamento dos proble-
mas?
d . A equação da energia na forma apresentada p el~Eq. (2 .3) considera.
o cp constante. Como fica esta equação se o cp não for constante?
Quais são as expressões de </>, r<1> e S para este ca ?
e. Usando a Eq. (2.2) , mostre que os termos fonte S'"" su
e sw contêm
apenas a.s forças de campo e de pressão, se p e µ são constantes.

2.2 - Considere o escoamento bidimensional incompressível, com tra.ns-


l1•n•ncia de calor, de dois componentes formando uma única fase com concen-
1rnc;ões C1 (x, y) e C2(x, y) . Escreva o sistema de equações diferencia.is .parciais
q11<' deve ser resolvido para a determin ação de todas as variáveis envolvidas,
22 C. R. Mo.liska

ou seja, tt , v, P , T , C1 e C2. Quais seriam as condições de contorno para essas


variáveis, para a situação em que o escoamento é de ar seco sobre uma lâmina
d'água, admitindo-se a superfície da água rígida?

y
O; , T;
'

20

'.
Fig. 2.6 - Escoamento entre placas paralelas. Prob. 2.3.

2.3 - PaJ:a o problema do escoamento bidimensional incompressível entre


duas placas planas paralelas, conforme a Fig. 2.6, escreva, em coordenadas
cartesianas, a forma da equação da energia adequada ao problema. Dê as
condições de contorno necessárias para os casos em que a velocidade (ou o
número de Peclet, para ser mais rigoroso) tende a zero e ao infinito.
2.4 - A equação

-â (puu) â
+ -(pvu) = - -âP + -â · ( µ.âu
-) (2.6)
âx ây âx ây ây

é a equação do movimento para o escoamento sobre uma placa plana após


terem sido feita.s a.s hipóteses da camada limite. De acordo com a forma de
definir coordenadas elípticas e parabólicas apresentadas no texto, . classifique
esta equação e diga quais as condições de contorno necessá1·ias para a sua
solução. Comente, também, sobre a forma de determinar o gradiente de pressão
em tais problemas.
2.5 - Para o problema bidimensional de condução de calor mostrado na.
Fig. 2.7, onde existe uma geração de calor uniforme q"' , por unidade de tempo
e volume, qual é a restrição que deve ser obedecida para que na face norte seja
possível aplical· uma condição de fluxo prescrito? Se isto não for respeitado,
quais serão as conseqüências do ponto de vista de obtenção da solução?
2.6 - A equação governante do movimento vibratório de uma mola sob
tensão fixada em seus extremos é dada por

Ô2 'U â2 u
- = c2 -âx 2
ât2
(2.7)
A .~vectos Mntemáticos das Eq·uações rle Conser·7mç'io 23

(•o d0slocamcnto, to tempo, x a coordenada espacial e e uma constante.


1111tl11 11.
1'l11~Hifiq11t' 0sta. equação e dê as condições de contorno necessárias para a solução
il1•Ml I' probl('ma.

~
y

-
1
~

~ (w2)
m
>

~ (:2)
b
~

-
l
.

q"'(:3)
X
-
\..-isolado
I••- - - - -- a - - - - - -
Fig. 2. 7 - Condução bidimensional. Prob. 2.5.

\
CAPÍTULO TRÊS
Obtenção das Equaç ões Aproximadas
Aspectos Gerais

3.1 - A Tare fa do M ét o do N um érico


A tarefa de um método numérico é resolver uma ou mais equações diferen-
ciais, substituindo as derivadas existentes na equação por expressões algébricas
que envolvem a função incógnita. Um método analítico que tivesse a habili-
dade de resolver tais equações nos daria a solução em uma forma fechada e
seria pos.sível, então, calcular os valores das variáveis dependentes em nível
infinitesimal, isto é, para um número infinito de pontos. ·
Por outro lado, quando decidimos fazer uma aproximação numérica da
equação diferencial, aceitamos ter a solução para um número discreto de pon-
tos, esperando que, quanto maior for este número de pontos, mais próxima da
solução exata será a nossa soiução aproxi_m ada (ou numérica). É fácil entender
então que, se decidirmos calcular 100 valores da variável no domínio, teremos
100 incógnitas, sendo necessárias 100 equações algébricas para o fechamento,
formando um sistema de 100 equações a 100 incógnitas. Se quisermos tornar
mais precisos nossos cálculos, aumentando o número ele incógnitas, o sistema li-
near a ser resolvido, logi camente, também vai aumentando, proporcionalmente,
em número de equações. O esforço computacional também cresce e de forma
não-linear.
A Fig. 3.1 exemplifica a tarefa do método numérico, na qual uma equação
diferencial escrita. em nível infinitesimal e definida para o domínio D é transfor-
mada em um sistema de equações algébricas. Para isto, as derivadas da função
existentes na equação diferencial devem ser substituídas p·elos valores discretos
da função. A maneil·a de obter essas equações algébricas é que caracteriza o
tipo do método numérico:
Nossa preocupação, neste texto, será apenas com o método dos volumes
finitos. Exi1:1 tem, entretanto, algumas considerações que devem ser feitas e que
valem para qualquer método. Para tanto, usaremos, inicialmente, o método ·
ele diferenças finitas, aproveitando também para apresentar e comentar aspec-
tos desse método, que foi intensivamente usado no passado em problemas ele
escoamento de fluidos e transferência de calor.
Obtençcio das Eqiiaçoes Aproximadcis A.~pectos Gerais 25

:1.2- O M étodo de Diferenças Finitas - MDF


O primeiro passo para a obtenção das equações aproximadas é promover a
tllM<'l't'f,izac;ão do domínio de interesse,.isto é, dividi-lo em células elementares.
\ pt•Hnr do não ser necessário, é comum no MDF usar discretização estruturada
(m11st.ruída usando um sistema. coordenado) a.través de coordenadas ortogonais,
111111 0 cartesianas, cilíndricas, esféricas, conforme mostrado na Fig. 3.1 para o
1 llHO bidimensional. A Fig. 3.2 mostra uma discretizaçã.o unidimensional que

~t1 1'1Í usada ao longo deste capítulo.

D Método
nwnérico

+. ôD

Equação diferencial
.t(<P)=O e Sistema de equações algébricas
Condições de contorno (A) C<PJ = [B]

Fig. 3.1 - A tarefa do método numérico.

Considere-se a seguinte equação dife.rencial do problema de condução tran-


siente unidimensional

ôT ô2 T
- =a- -2 (3.1)
ôt ôx
onde T é a temperatura, t o tempo e a a difusividade térmica . A tarefa é
representar as derivadas espacial e temporal por expres~ algébricas. Usando
sérios de Taylor em torno de P , os valores ela temperalura em E e W podem
ser calculados por

2 2 3 3
TE = Tp + -ôT 1 ÂX + -ô T2 1 -
Âx- + -ô T 1 -
Âx- + .. . + . . . (3.2)
ôx P ôx P 2! 8x3 P 3!

-8T 1 ~x + -8 T2 1 -Â x- - -asr 1 -Âx3


2 2
Tw = Tp - 8x P 8x P 2! 8x3 P 3!
- + · ·· - ·· · (3.3)
26 C. R. Maliska

Dessas equações podemos encontrar as aproximações numéricas das deri-


vadas parciais. Usando as Eqs. (3.2) e (3 .3), encontramos, respectivamente,

ôT' = Ts-Tp + O (~x) (3.4)


ÔX p ~X

õJ'I
ÔX p
= Tp -Tw +O(~x)
~X
(3.5)

que são as aproximações numéricas , para a frente e para trás, da derivada de


primeira ordem. Observe que os erros de truncamento são da ordem de ~x.
Somando a Eq. (3 .3) com a Eq. (3.2), obtém-se

ô
2
TI __ Te+Tw-2Tp + O(A
2 A 2 .u X
)2 (3.6)
ÔX p .u X

que é a aproximação numérica para a derivada de segunda ordem em d.iferenças


centra.is. Neste caso, o erro de truncamento é da. ordem de (~x) 2 • 'Il-abalhando
com as expansões da funçã.o em série de Taylor, é possível, usando mais termos
da série, representar derivadas de qualquer ordem. Logicamente, quanto maior
for a ordem da deriva.da., e de acordo com a ordem desejada para o erro de
truncamento, mais pontos serão necessários em torno de P. As aproximações
dadas pelas Eqs. (3.4) a (3.6) sã.o suficientes para o nosso exemplo. O leitor
interessado pode consultar [4J, onde uma completa ta.bela de aproximações
numéricas de derivadas pode ser encontrada. A seguir, as diferentes formulações
são empregadas no contexto do método dai diferenças finitas.

w p E

1144--- Ô.X - - - -·1>1'+4- - - Ô.X - - -- ·'

Fig. 3.2 - Discretização unidimensional.

3 .3- Formulações Ex plícita, Totalmente


Implíc ita e Implícit a
;,
Considere-se a Eq. {3.1) do problema de difusão de calor tra.nsientc que
deverá ser aproximada numericamente usando as Eqs. (3.4) a (3.6). A apro-
ximação do termo t ransiente, de acordo com a Eq. (3.4), onde a variável iudc-
pendcnte agora é o tempo, é da.da por
Obtenção das Equações Aproximadas Aspectos Gerais 27

ôT 1 = Tp - Tf, +O (ó.t) (3.7)


ôt p ó.t

onde Tp e T'j, são os valores da t.emperatura do ponto P no nível de tempo


no qual se busca a .solução e no anterior, respectivamente. Lembre que as
temperaturas no nível de tempo anterior são conhecidas cm todos os pontos do
dom ínio.
Uma questão importante surge agora com relação ao nível de tempo no qual

------
será avaliado o lado direito da Eq. (3.1) . Lembrando que este termo representa
os fl~xos~~ e que estamos avançando a. solução de um nível de
tempo para outro, devemos decidir se vamos avaliar esses fluxos no início, no
fim ou em uma posição intermediária do intervalo ele tempo. Denotando por
8 a posição, no intervalo de tempo, de avaliação cio termo difusivo, temos a
seguinte aproximação num~rica para a Eq. (3. 1).

Tp - Tf, ri + rei, - 2ri (3.8)


6.t =a 6.x2

A partir da. Eq. (3.8) podemos gerar todas as formulações, as quais são
discutidas a seguir.

3.3.1 - Formulação Explícita

Escolhendo 8 = O, teremos a formulação exp lícita, onde todas as tem-


peraturas vizinhas a P são avaliadas no inst ante anterior e, portanto, já são
conhecidas. É possível explicitar a incógnita da equação (Tp) em função de
temperatur as vizinhas, toda. conhecidas. Como temos uma equ~ção para cada
ponto discre~o e, em cada uma destas equações,. as temperaturas vizinhas são
sempre do instante anterior, a formulação explícita dá. origem a. um· co njunto
de equações algébricas que podem ser resolvidas uma. a uma', obtendo-se a
temperatura em cada ponto do espaço para. o novo nível de tempo. Devemos
<'nfatiza.r que, pelo fato de as equações não serem acopib.clas entre si, não existe
a necessidade de resolver uma matriz. Por isso a denorAÍnação conjunto e não
sistema de equações. )Jestc ponto, é conveniente apresentarmos um exemplo,
<'mpregando a formulação descrita.
Imagine-se o problema ela condução unidimensional tI'ansiente sendo resol-
vido na malha mostrada na Fig. 3.3. No insta nte de tempo inicial, a distribuição
ele• tcmp<'r atur a é dada por T1 = O, T2 =O, T3 = O, T1 =O e Tõ = O, quando,
r<'pentinamente, a temperatura T1 passa para 100 e T5 é maJ1tida em zero. A
física deste problema nos ensina que o calor começa a penetrar o domínio, au-
111<'11t.a11do a sua temperatura, até que o regim e permanente seja atingido. Os
div<•rsos p<'rfis ele temperatura com o tempo são exponenciais, saindo de 100
(f('tll(H'rnt.11r11. da fac<' <'S((u<'l'cla) <' ch<'ganclo a O (tcmpC'rnt.ura da face dir<'ita),
rn111'o r111<' ntost.rn, <'sq11<'1111tt.ic:u11<•11t.C' n Pig. 3.4.
28 C. R. M aliska

1 2 3 4 5

• r._ _! • •
t.x

Fig. 3.3 - Malha para o problema unidimensional tra.nsiente.

A Eq. (3.8), considerando a formulação explícita, tem a forma

Tp = (1 - 2r) Tf, + rTf; + rTw (3.9)

cró.t = 1 , por s1mp


eons1·derando r = (.6.x) · 1.ic1ºdad e, temos
2 2
Tp = ~ (Tf; + Tfv) (3. 10)

de onde podemos obter o conjunto de três equações para avançar as tempera-


turas dos pontos 2, 3 e 4 no tempo. As equações ficam

T2 = ~ (T3 +Tf)
T3 = ~(T.f+ Tí) (3.11)

T4 = ~ (Tt + T3)
Observe-se que essas equações não são acopladas entre si e podem ser
resolvidas uma a uma, tantas vezes quantos fore~n os níveis de tempo desejados.
Se for de interesse mudar o 6.t ao longo do tempo, basta mudar o valor der
e obter novas equações. A Tab. 3.1 mostra os valores da. temperatura para
alguns intervalos ele tempo. Continuando-se a evolução ao longo do tempo,
iremos determinar a solução ele regime permanente, dada por 100, 75 , 50, 25
e O. :'-Jeste caso, quando o regime é permanente, a Eq. (3.1) fica reduzida. à
derivada segunda igual a zero. Como a aproximação numérica dessa derivada
reproduz o perfil linear, a solução numérica. de regime permanente é a própria
solução exata, urna vez que a solução exata é uma reta e, portanto, o númem
de pontos espaciais não influencia a solução. Ou seja, a solução é independente
do tamanho da malha.
A distribuição espacial de temperatura ao longo elo tempo, entretanto,
não está correta, visto que seu comportamento é exponencial no espaço e no
tempo. Para captar adequadamente o t ransientc, malhas refinadas no espaço
e no tempo são necessárias.
A formulação explícita possur!u:ma limitação importante com relação ao
·1i tamanho do intervalo de tempo que pode ser adotado para avanÇar a solução.
Para este problema simples que estamos analisando, onde as aproximações
numéricas foram de derivadas para a frente no tempo e diferenças centrais no
Obtenç<i.o <ln.~ Eqirnçôes Aproxirna.das Aspectos Gerais 29
Tab e la 3.1 - Solução numérica da Eq. (3.1).

'1'1•111 po o 1 2 3 4 Regime permanente


Po11I o 1 100 100 100 100 100 100
l 10111.o 2 o 50 50 62,5 62,5 75
Ponto 3 o o 25 25 37,5 ·50
Pouto 4 o o o 12,5 12,5 25
l 'm1to 5 o o o o o o
T

100

Solução de
regime permanente

X
2 3 4 5

Fig. 3.4 - Comportamento da solução transicntc.

1·~p11.c.;o, é possível mostrf.l!t, utilizando a análise de von Neumann [4,118], que


1 < 1/2. Observando a Eq. (3.9), vemos que isto significa manter o coeficiente
tl1• /'f> positivo. Uma prática importante em esquemas explícitos, portanto,
11 manter este coeficiente sempre positivo. Conseqüentemente, podemos dizer
11111• o intervalo de tempo em formulações explícitas éfimitado pela estabilidade,
1111m vez que, sendo o mesmo bastante restrito pela Eftabiliclade, a precisão, em
11.11ml, fica satisfeita. ·

:l.:L2 - Formulação Tota lmente Implícita

e
Se na Eq. (3.8) o va lor de for feito igual a 1, teremos a formulação
l11111l111ente implícita, com a seguinte equação discretizada

Tp ( -r1 + 2) = Tg + T w +_ T_e
r
º (3.12)
30 C. R. M aliska

onde podemos consLa.tar que não existe mais a possibllidacle do coeficiente ne-
gativo para T$. Essa formulação dá origem a um sistema de equações, uma
vez que as equações estão agora acopladas entre si. Na Eq. (3.12), as tempe-
raturas Te e Tw estão sendo calculadas no mesmo nível de tempo de Tp, o
que caracteriza o acoplamento. P ara essa equação simples em consideração,
tal formulação é incondicionalmente estável e o intervalo de tempo é limitado
por precisão . Observe-se que esta formulação é chamada totalmente implícita,
porque os valores das temperaturas que entré),m no cálculo do fluxo difusivo são
feitos iguais aos valores no fim do intervalo de tempo.
Considerando novamente r = ~ , o sistema de equações resultante para
esta formulação é dado por

T2 = ~ ((T3 + T1) + 2Tf)


T3 = ~ ((T4 + T2) + 2rn {3.13)

T4 = ~ ((T;.; + T3) + 2T4')


Observe-se que a Eq. {3.12) pode ser escri ta na forma

(3.14)
que, fazendo P = 2, 3 e 4, 01igina o sistema de equações dado pelas Eqs. (3.13),
reproduzido a seguir como ·' '

Ai T2 = A;T3 + B2
A}.,T3 = A~T4 + A~uT2 + B3 (3.1 5)
A~T<t = A!,T3 + B4
onde as temperat uras T 1 e Tr, foram incluídas nos termos independentes B 2 e
B 4 , respectivamente, pois as mesmas são conhecidas das condições de contorno.
Nessas equações foi adot ada uma notação ma.is rigorosa. para. os coeficien-
tes, que não será seguida mas merece ser explicada enquanto estamos ainda
no início cio texto. Primeiramente, reconheça. que cada uma das equações que
formam o sistema (3.15) foi obtida da aplicação do método numérico para um
ponto( ou célula) da malha.. Portanto, todos os coeficientes que aparecem em
uma equação sã.o coeficientes pertencentes àquele ponto para o qual a equação
foi escrita.. P or exemplo, o coeficiente A1:> é o coeficiente ce,ntral da célula 3,
enquanto A~ e A~ são os coeficientes leste e oeste ela célula 3, respectivamente.
O coeficiente A~, por exemplo, que é um coeficiente da. célula 3, tem a tarefa
de conectar a célula 3 com a célula vizinha a leste, que, na numeração que ado-
tamos, é a. célula 4. O sobrescrito indicando a que célula pertence o coeficiente,
conforme mencionaÇo, será, doravante, omitido. .
A solução elo sistema ele equações lineares (3.15) fornece-nos as tempera-
turas T2, T3 e T4 .
l)pvc SC'l' Lmnbém reconhecido que o sistema (3.13) pode ser escrito na
1111'11111. 11u1.tridal como

[A][T) = [B] (3 .16)

11\t

1,00
- 0,25
[ 0, 00
-0, 25
1. 00
- 0. 25
O, 00
-0, 25
1, 00
l[ l [ l
T2
T3
T1
B2
Da
B4
Note-se que os zeros que aparecem na matriz de éoeficientes ~ão existem
t1 xpliC'itamente nas Eqs. (3 .13), pois a forma de escrever estas equações envolve
tq Hm<\S as temperaturas que estão ligadas à célula em questão. Como T 4 não
t1•111 ligação com T2, o coeficiente é, logicamente, zero. O mesmo acontece com
f'., <'m relação a T4. Imagine, agora, que nossa. malha tivesse não apenas três
lrw6gnitas, mas, por exemplo, uma centena. É fácil ver que nossa matriz de
1'o<'íicientes teria 100 linhas por 100 colunas. Em cada linha, teríamos apenas
:i rncficientes não-nulos com os 97 restantes nulos.
Antecipando os acontecimentos do próximo capítulo, vale lembrar que
quando métodos iterativos são usados para resolver o sistema linear , trabalha-
HI' npenas com os não-zeros da matriz, ao passo que em soluções diretas, como
11llmina.ção de Gauss, por exemplo, todos os elementos da matriz tomam parte
1111s operaç.ões. Como, em geral, as matrizes obtidas n':\ aplicação de métodos
numéricos são bastante esparsas, aconselha-se o uso de métodos iterativos para
11v itar operações com zeros.
Pàra o caso com três equações e três incógnitas, é fácil resolver o sistema li-
111•ar por substituição. Quando o número de pontos aumenta.consideravelmente,
111étoclos eficientes de solução de sistemas lineares devem ser empregados. Note
que o sistema (3.13) deve ser resolvido para. cada intervalÓ cÍe tempo, pois o
problema ~m consideração é transiente. Se o interesse for a solução de regime
permanente, bastará. faz~ r ~ 00 (infinito a.va.nço no tempo) e resolver o sis-
t.rma linear resultante. Novamente, a soluÇ<1.o de regime permanente é igual à
<'xata, pelas razões já expostas.

3.3. 3 - Formulação Implícita I


Na formulação implícita, os valores das temperaturas que entram no cál-
culo do fluxo difusivo são tornados como uma média. dos valores dessas tempe-
raturas no começo e no fim do intervalo de tempo. O mais conhecido método
nesta classe é o ele Crank-Nicolson, onde a temperatura é tomada como uma
média aritmética entre as temperaturas Ti e Tp, como

Ti = 8Tp + ( 1 - 8) Tp (3.17)
32 C. R. Mali.~ka

É importante observar que basta ser () diferente de zero para que as


equações fiquem~acoplad_Sts, cara.tterizando a implicitude entre as mesmas. É
comum, na literatura, denominar-se a formulação com () = 1 de formulação
implícita e não totalmente implícita, como aqui denominada. A razão para
isto é que a grande maioria dos métodos usa () = 1, por razões de estabilidade.
A Fig. 3.5 ilustra, para os três tipos de formulações, as conexões existentes
entre o ponto P e seus vizinhos, no instante de tempo de cálculo e no instante
de tempo anterior. A figura mostra que, quando existem conexões no mesmo
nível de tempo de cálculo da solução, as equações são acopladas entre si e é
necessária a solução de um sistema linear para obter-se os resultados.

0 = O-
Expllcira L~
w p E t

w p E
t +~ t

0 <0< 1-

.w p E t

W P E
~~-..~~---. ..........--~~---~~-t+~ t
0 = 1- Totalmente
implícita

w p E t

Fig. 3.5 - T ipos ele conexões nas formul ações estudadas.

i. Fica como tarefa .ao leitor (ver P rob. 3.4) obter o sistema de equações
equivalente ao sistema dado pelas Eqs. (3.13) para o caso ele() = &.
Obt.mçrio das Equetçocs Apmximaclas Aspecto,, Gemis 33

a.4 - Consistência, E stabilidade e Convergência

Em geral, os problemas práticos de interesse da engenharia e da física


1IM origem a sistemas de equações complexos sobre cujos comportamentos ma-
l 1•111áticos pouco se conhece. P or exemplo, quando temos um problema gover-
111~do por uma única equação, e ainda linear, existem ferramentas matemáticas
que podem provar se uma determinada aproximação numérica é estável e con-
vPrgente. Quando estamos trabalhando com sistemas de equações não-lineares,
1'(180lvidas em geral de forma seqüencial, onde acoplamentos delicados estão pre-
1w11tes, é muito difícil provar matematicamente que uma aproximação numérica
(1 mitável e convergente. Seria um presente maraviJhoso aos usuários de métodos
1111méricos se os analistas numéricos pudessem fornecer as condições (tamanho
do malha, tamanho do intervalo de tempo, coeficientes de relaxação, etc.) para
que as aproximações numéricas dos problemas acoplados e não-lineares fossem
1•stáveis e convergentes.
Por não se ter esses parâmetros é que simular numericamente, a lém de
1•xigir o perfeito conhecimento da física do problema, requer experiência para
c•ncontrar os parâmetros que levem o processo iterativo para convergência.
Um dos requisitos fundamenta.is de uma aproximação numérica é que ela
rC'produza a equação diferencial quando os tamanhos da malha espacial e tem-
poral tendam a zero. Isto é, os erros ele truncamento· devem tender a zero
quando a malha tender a um infinito número de pontos. A aproximação
numérica que possuir essa característica é dita consistente. Em resumo, as
rquações discretizadas devem tender às equações diferenciais, quando a ma-
lha tender a zero. Aparentemente, esta é uma questão óbvia, mas existem
<tproximações na quais os erros de truncamento crescem com o, refinamento
da malha [4]. Felizmente, todo modelo numérico desenvolvido a partir das

.
equações nà forma conserva.tiva usando volumes finitos é consistente. ·
Outra característica importante desejada é que a. soluçáo numérica ob-
tida seja a solução exata das equações discretizadas, ou seja, tenha estabili-
d ade. Aqui, diversos fatores interferem, tais com7 erros de arredondamento
de máquina, que vão se multiplicando e podem/nstabilizar a solução; difi-
culdades de tratamentos de acoplamentos entre as variáveis, fazendo com que
algumas variáveis evoluam mais rapidamente que out ras, provocando instabili-
dades, etc. A questão da estabilidade é o mais sério problema na obtenção da
solução numérica, exatamente pela falta de conhecimento das características
matemáticas das aproximações, conforme já discutido.
Consistência e estabilidade são condições necessárias e suficientes para a
conver gência. A solução numérica é convergente quando é estável e tende'
para a solução das equações diferenciais quando a malha é refinada.
34 C. R . Maliska

3.5 - Co nclus ões


Os assuntos tratados neste capítulo, apesar de terem sido apresentados
no âmbito do método de diferenças finitas, aplicam-se a qualquer metodologia
numérica. A idéia de apresentá-los dessa forma. permitiu que o método de
diferenças finitas também fosse enfocado. Nos próximos capítulos, quando o
método dos volumes finitos for estudado, os assuntos aqui vistos permitirão
traçar os paralelos entre os dois métodos. Será. mais fácil observar os benefícios
do uso do método dos volumes finitos na construção de esquemas numéricos
sobre os quais se deseja ter controle de todos os passos . ·

3.6 - Exe rcícios


3.1 - Obtenh~ uma expressão aproximada para ~ e ~ ·no ponto P,
utilizando os pontos mostrados na Fig. 3.6. Sendo (3 = ~' obtenha o erro .
de truncamento quando /3 for igual a 1 e quando í3 tender ao infinito. Se nos
pontos P, E e BE tivéssemos os valores das temperaturas , determine o fl uxo
de calor aproximado em P com ordem t:,.x2 •
'

------~~--~~~~--~~~~~~·
p. E X EE

Fig. 3 .6 - Figura. dos Probs. 3.1, 3.2 e 3.5.

3.2 -, Utilizando os mesmos pontos da Fig. 3.6, considere conhecidos os


valores da temperatura em E e E E e da derivada da temperatura em P. Com
uma aproximação da ordem de t:,.x 2 , determine o valor da temperatura em P .
3.3 - 1v1ostre as seguintes expressões aproximadas considerando !::,.x e !::,.y
igualmente espaçados.

aâ22J1 = - /i+3 + 4fi+2 - 5fi+1 + 2fi


t:,.2 +0
(t:,.' 2)
X
(3.18)
X i X

âfl
âx i
= - h+2+8fi+1 -8fi-J +fi- 2 +0(6.x4)
12!::,.x
(3. 19)

a2 f 1 = fi+i.i+i - !i+1,j -1 - h - l,j+1 + h-1,j-1 +


âxây ij 4!::,.x!::,.y
(3.20)
Obtençno <las Equciçoes A7n·o:r.imci<las Aspecto.~ Gemi.~ 35

:~.4 - Obtenha a aproximação numérica usando diferenças finita.s para


11 l•:q. (3. L) para B qualquer. Consulte outra bibliografia (4,118] para estudar
11 nit.61'io de estabilidade de von Neumann e mostre que para 8 qualquer os

1 l'l ll11'ioH são:

CtÓ.t 1
- -< - - (3.21)
6.x2 - 2 - 48
JIHl'li 0$ Ü, 5, e
a6.t
- - <
6.3;2
00 (3.22)

pnrn O, 5 :5 8 :5 1.
3.5 - Usando um polinômio para aproximar uma função que passa pelos
pontos da Fig. 3.6, considerando 6.x1 = D.x 2 , determine ~ em E . e sua
11•1<pcctiva ordem de aproximação. Confira o resultado com a aproxima.ção
oht.ida pela série de Taylor.
3.6 - Resolva numericamente a Eq. (3.1), usando uma formulação ex-
plícita. Use uma malha com 5 pontos (dois sobre as fronteiras) e admita as
ll'mperaturas iguais a 1 nas fronteiras esquerda e direita. A condição inicial é
/'(.t) = O em todo o domínio. Considerando a = 1 e 6.x = 1, use D.t igual a
O, 25, O, 50 e O, 75, avance a solução para 6 intervalos de tempo para cada caso.
C'omente os resulta.dos.
3. 7 - Obtenha uma expressão para ~ com ordem de truncamento de
~:1; 4 . Com a mesma expressão para a derivada segunda de f em relação a y,
t'HCreva a equação aproximada para o ponto P para o problema bidimensional
clC' condução de calor governado pela equação de Laplace.
CAPÍTULO QUATRO

Obtenção das Equações Aproximadas


Volume s Finitos

4 .1 - Introdução
O capítulo anterior mostrou aspectos gerais da aproximação numérica jun-
tamente com uma breve descrição do método de diferenças finitas . O objetivo,
para o restante do livro, é apresentar a metodologia em volumes finitos para pro-
blemas de Transferência de Calor e Massa e Mecânica dos Fluidos. A estratégia
empregada é o desenvolvimento do assunto, procurando enfocar aspectos im-
portantes em diferentes seções ou capítulos , empregando equações diferenciais
simples, mas que possuam os ingredientes para atingir os objetivos.
Primeiro, serão discutidos os problemas difusivos, depois os convectivos
considerando o campo de velocidade conhecido e, finalmente, os problemas nos
quais o campo de velocidade e temperatura. são resolvidos simultaneamente.
Com este enfoque em mente, este capítulo apresenta o problema da con-
dução de calor transiente. Com esta. equação, será possível mostrar toda a
integração, tanto t.emporal como espacial, pertinente ao método dos volumes
fini tos e a.presentar a. aplicação das condições de contorno para problemas con-
dutivos. Para problemas de difusão pura, as funções de interpolação entre os
pontos nodais podem ser lineares sem acarretar problemas de estabilidade como
os apresentados quando a convecção está presente. A influência ela convecção
será cliscutida no Cap. 5.

4.2 - O Método dos Volumes Finitos


Exist.em duas maneiras ele se obter as equações aproximadas no método
dos volumes finitos. A primeira. é a realização de balanços da propriedade em
questão nos volumes elementares, ou volumes finitos, e a segunda é, partindo-
se da equação diferencial na form a conservativa*, integrá-la sobre o volume

. :., * Forma conservativa ou forma divergcnLe é aquela em que, na equação diferencial,


os fluxos a parecem dentro do sinal da derivada. Neste caso, pu e pv re presentam os
flu xos de ma~sa por unidade de área.
Obtenção das Equações Aproximadas Volumes Finitos 37

1•l1•111<•nt.ar, no espaço e no tempo. Logicamente, os processos são equivalen-


1t'M , pois bast<\ lembrar que para deduzir as equações diferenciais é necessário
pt l111oirn realizar um balanço em um volume infinitesimal, fazendo-se, em se-
K 1tld~t, o processo de limites para obter a equação diferencial. P:ua ilustrar estes
pt o<'<'Ssos, considere o volume elementar bidimensional mostrado na Fig. 4.1.
NoMso interesse, neste momento, é obter a equação diferencial que representa. a
11111sc•rvação da massa. O balanço de massa no volume elementar mostrado na
llgura, para regime permanente, é dado por

p·uí:::..yl - ptií:::..yl + pví:::..xl - pví:::..x l = O (4.1)


e w n s

y .. ~ pvAx ln -
n
y+Ay ..........
pu Ayj
• O H oo oooo ooo oo

w
-- puA
.
w~ •P 4 e

.. -
y ..........................
s-
pvAx 1s

X x +Ax
Fig. 4.1 - Balanço de massa no volume finito.

As letras minúsculas e, w, n e s que aparecem na Fig. 4.1' representam,


r<'spectivamente, os pontos cardeais este, oeste, norte e sul e é a nomenclatura
usada para identificar as faces do volume de controle na discretização numérica.
Dividindo a Eq. (4.1) por í:::.. xí:::..y , encont1amos

pul - pul P'Vl - pvl


e 1»+ n s=o (4.2)
í:::..1: !:::.y

que, após a aplicação do limite, nos dá a forma. diferencial conserva.tiva da


equação de conservação da massa,

a
- (pu) +-
a (pv) =O (4.3)
ôx ôy
38 C. R. M aliska

A Eq. (4.3) está na. forma conservativa e queremos agora obter a sun apro-
ximação numérica através da integração da mesma no volume elementar, como
é a. prática d o método dos volumes finitos . Realizando a integração sobre o
volume mostrado na Fig. 4 .1, obtêm-se

r Js
lw r [a(pu) + Ô-ya(pv) ] dxdy =O
ÔX (4.4)

r [piiJ
.fs e
- pul ] dy +
tv
r
Jw
[pvl - {J'uj ] ctx = o
n.. · 8
(4.5)

Considerando que o fluxo de massa avaliado no meio ela face do volume de


controle r epresenta a. média ela variação na face, podemos escrever

pu~yle - pu~yL + pv~xln - pv~xls = O (4.6)

que é exatamente a Eq. (4.1). É comum na literatura numérica escrever a


Eq. (4.6) como

(4.7)
Esta equação, ou a Eq. (4.1), é a equação .a proximada que vale para o
volume P. Porta nto, realizar a integração da forma conservativa da equação
diferencial ou fazer o balanço são procedimentos equiva lentes. Rea lizando a
integração par a todos os volumes ele mentares, obtemos o sistema de equações
a lgébricas.
A preferência em se obter as equações aproximadas integrando-se a equação
diferencial vem do fato de que nem todos os bala nços são fáceis ele deduzir como
foi o da conservação da massa . Um balanço de quantidade ·de movimento, por
exemplo, re·q uer a identificação e somatório ele todas as tensões a t uantes no
volume de controle. Para. volumes ele controle irregula res, não é uma tarefa
fácil. ·
A seguir, o problema da condução unidimensional transiente é a na lisado
usando volumes finitos.

4 .3 - Condução Unidime nsional Transiente


Considere-se a equação da condução unidimensional transiente com termo
fonte dada por

~ (pT) = ~ ( k
8t 8x
fJT) + S
e,, âx
(4.8)

onde o e,, foi introduzido no sinal da derivada para que a equação tenha a
forrria da Eq. (2.4), onde</> é a temperat ura. Para m antê-la naquela forma, isto
Obtenç<Xo das Eqtiações Aproxim adas - Volum es ft"inüos 39

1\ 111 1r<'Hsá.rio,
porque, de fato, a propriedade transportada é a entalpia e não
11 t.n111pcrat ura. Poderíamos deixar a entalpia como variável dependente, mas,
1•111 1w os fluxos difusivos associados à entalpia são os fluxos de cnlor e necessitam
il 11H l.ompcraturas para serem expressos, a manutenção da ent,aJpia misturaria
1111 vnd<\veis. Por outro lado, as condições de contorno são mais diretas e mais
1'1frois do aplicar quando em função da temperatura e de suas derivadas.

Volume elementar
para integração

I
w p E

• r w • e
• •

Fig. 4.2 - Malha para o problema unidimensional de condução.

A malha empregada é mostrada na Fig. 4.2, onde, nas outras direções, as


dimensões são tomadas como unitárias. Observe que a malpq adotada possui
volumes inteiros em todo o domínio, ao contrário da prática adotada em [100],
<( 110 usa mei~olume de controle nas fronteiras. o procedimento aqui adotado é
wcferido por duas razões; a primeira, porque facilita a general~zação do cálculo
dos coeficientes se todos os volumes tiverem as mesmas características, e a
1mgunda, por ficar bem mais simples a aplicação das condições de contorno
qu ando sistemas de equações estiverem sendo resolvidos. Finalmente, o uso de
volumes inteiros em todo o domínio facili~euormemente o uso de variáveis
ro-loca.lizadas, urna prática moderna para o armazenamento das vadáveis*.
A integração no tempo e no espaço da Eq. (4.8)

* O uso de variáveis co-localizadas significa que,.em problemas de 'mais de uma va-


riií.vel, todas elas são armazenadas no mesmo ponto, com o mesmo volume elementar
cl<· integração, facilitando muito a implementação computacional. A prática comum
ele usar variáveis desencontradas (staggered grids) tende a desaparecer. Este assunto
~<'rá discutido no Cap. 7.
40 C. R. Moliska

t+ó.t 1ea - (pT) dxdt


8t
=! t+ó.t 1e-
XCp8
w8
ô ( k ôT )
. - - dxdt+
!t w l X

(4.9)
r+ó.t r
lt lw Sdxdt
nos dá

arl - -k -&ri ) dt+


1
w
e (pT - pºTº) dx = ft+ó.t ( -k -
t Cp ÔX <: Cp ÔX w

(4.10)

O termo fonte foi expandido em uma função linear da temperatura. É


lógico que tal relação é a de mais alta ordem possível, uma vez que estamos,
com a integração das equações, formando um sistema linear. Se o termo fonte
tiver termos da temperatura ao quadra.cio, ou outra potência maior, o mesmo
requererá iterações para ser atualizado. Considerações sobre a linearização do
termo fonte serão tecidas em uma próxima seção, ainda neste capítulo.
Empregando a convenção de não usar sobrescrito para o nível t + .6.t e usar
o sobrescrito "o" para o tempo anterior, e considerando o integrando como a
~6dia representativa dentro do volume, tem-se

&ri &ri ) dt+


MpTp-Mf,T f,=
! t
t+ó.t ( -k -
Cp ôx e
- -k -
Cp ÔX w
(4.11)

onde iVl e Mº representam a massa dent1'0 do volume elementar nos dois níveis
de tempo.
Observe-se, agora, que é necessário decidir como é o comportamento do
fluxo de calor nas duas faces do volume elementar ao longo do intervalo de
tempo .6.t para que a integração possa ser realizada. Dependendo da fun ção
escolhida para o comportamento do fluxo no intervalo de tempo, teremos as for-
mulações totalmente implícita, implícita e explícita, voltando à tona a questão
í.t já discutida na seção 3.3 do Cap. 3. Observe-se, entretanto, que aqui a questão
fica mais clara e mais fácil ele ser compreendida, uma vez que a integração no
tempo mostra a necessidade de uma função que especifique o comportamento
Obtençno <i<Ls Equa.çoes Â7Jro:i:imada.s Volume.~ Finito.~ '11

d11 1(lll LJl<'r<1.turn ao longo do intervalo. Novamente, v1:1mos simbolizar pelo 80-
l111'lwrito ()a. escolha de avaliar o fluxo no início, em uma posição qualquer, ou
1111 li111 elo intervalo ele tempo.
L<'rnbre-sc de que os valores da temperatura são conhecidos no começo e
1111 fim do intervalo de tempo. Se decidirmos avaliar o fluxo em uma posição
11n t.t•mpo entre os limites do intervalo, teremos de especificar uma função que
111\ 11. variação da temperatura dentro cio intervalo de tempo. Esta é a chamada
l1111c.;iio de interpolação no tempo e será definida logo mais. A Eq. (4.11) toma,
11111 no, a seguinte forma

(4.12)

1111111• Tf,, que aparece no termo fonte, também deve ser interpolado no tempo.
\ função de interpolação no tempo será mostrada Jogo mais.
Devemos, também, escolher uma função ele inter.polação espacial para a
t1•111pera.tura, uma vez que ·a mesma precisa ter sua derivada avaliada nas in-
1111 f;\ccs do volume de controle, Para este problema físico, onde se têm apenas
nl'l'il os de difusão, é natural escolher uma função linear (por exem pio, diferenças
1•1•11l.rais) entre os pontos nodais. Logo, as derivadas nas faces são expressas por

ôT I() = T~-: Tf, (4. 13)


ÔX e Ó.Xe

T~
9
ôT 1 = Tf, - (4.14)
ÔX w Ó.Xw

Com estas definições a Eq. (4.11) fica

"'
M pTp - Mf,Tf, --
------'--~ -k 1 T~ - Tf, - -k 1 Tf, - T&, + sp Tº"" sA
puX + c uX (4.15)
6.t Cp e Ó.Xe Cp w Ó.Xw

011, com mais um reananjo, na forma /

(4.16)
12 C. R. Maliska

É momento, agora, de definir a função ele interpolação no tempo. A Fig. 4.3


mostra três funções de interpolação possíveis, que podem ser representadas pela
função

T 9 = BT + (1 - B) T º (4.17)
que, por sua vez, dá origem aos t rês tipos de formulações já discutidas na
seção 3.3. Convém relembrar que o valor ele Tº, obtido pela Eq. (4.17), é
o valor representativo da temperatura para todo o intervalo. Outras funções
de interpolação são possíveis, como, por exemplo, aquela mostrada pela linha .
tracejada na Fig. 4.3. São funções que podem ser usadas, caso se deseje usar
maiores intervalos de tempo e, concomitantemente, seguir o transiente com
mais fidelidade. Seu uso é, entretanto, raro.

Totalmente implícita
T -- -----------·,..-------~...,.......,.
,_. .. -
· ,,,,,,,,,,,......

/,,/// ~~''º~
Tº ------------~-------------'
Explícita

t + .ôt
t -

Fig. 4.3 - Função de interpolação no tempo.

A Eq. (4.16) para a formulação explícita tem a forma

(4.18)

onde

A - ~Vlp Aº-~
~ 1º
(4.19)
p - D.t p - D.t

(4.20)
Obtmiç<Lo 1lli.~ J::qwi(;Ões Aproxúna.clas Volwnes Finitos 43

Aw = k 1 (4.21)
Cp .Ó. X w

,, Af1, = pp.6.x e M<p = p°p.6.x .


Observe que fazendo k, Cp e p constantes no domínio , considerando Sp =O,
rn1Hcja, sem linearizar o termo fonte, e usando uma malha igualmente espaçada,
t•1H·outra.mos a condição de positividade do coeficiente de T~ como

a.6.t 1
--< -
.6.x2 - 2
(4.22)

q11<' é, exatamente, a condição de r ~ O, 5 encontrada. na. seção 3.3, quando a


lê>rmulação explícita foi analisada à luz do método de diferenças finitas . O Sp
poHitivo, neste caso, ajuda a manter a positividade do coeficiente de Tf..
A Eq. (4.16) para a formulação totalmente implícita (B =
1) tem a forma
(lm1brando que para B = 1 não estamos usando o sobrescrito),

(4.23)

1u1dc
Mp
Ap = .6.t + Ae + A v - 1 Sp.6.x (4.24)

t' Ac e Aw têm as mesmas expressões ante1iores. Veja que, agora, na formulação


totalmente implícita, é desejável que o t ermo Sp seja negativo para ajudar
11a magnitude do termo da diagonal do sistema linear. Sistemas lineares com
tlil-\gona.l dominante são passíveis de solução mesmo por !flétodos não poderosos,
como os iterativos ponto a ponto, por exemplo. Como em geral a formulação
usada é a totalmente implícita, busca-se sempre lineari'.lar o termo fonte com
8 p negativo. ' '
Como os dois últimos termos do lado direito da Eq. (4.23) são conhecidos,
C'les podem ~r agrupados, resultando no sistema linear que deve sei: resolvido
para se obter a distribuição de temperatura para aquele nível dé tempo,

ApTp
---
= AeTs + AwTw + B
Quando o transiente real está sendo resolvido e um processo iterativo for
(4.25)

usado para resolver o sistema li near dado pela Eq. (4.25), o termo T'} não deve
mudar enquanto o campo de temperaturas para aquele intervalo de tempo não
t;iver convergido (dentro da tolerância especificada, logicainente). Quando um
transiente distorcido está sendo resolvido, o interesse é só na solução de regime
permanente e, conseqüentemente, não tem sentido resolver o sistema linear com
precisão para aquele nível de tempo, pois não se tem interesse na exatidão da
solução para os intervalos de tempo. O que é feito é iterar-se, algumas vezes,
ou mesmo uma só vez, no sistema linear e mudar o valor de Tf., avançando
44 C. R. Maliska

mais rapidàmente no tempo. Fica evidente, com isto, qu<' cada vez que o Tp
muda, estamos avançando mais um intervalo de tempo. Também ficou claro
que não tem sentido usar um método direto para resolver o sistema linear, em
cada nível de tempo, se o interesse for só a solução de regime permanente.
Outra forma de obter a solução de regime permanente é saltar de uma
só vez para um nível de .tempo bastante grande. Basta fazer na Eq. (4.23)
·6.t -t oo. Assim procedendo, aquela equação resulta em

(4.26)
o·nde

Ap = Ae + Aw - Spó.x (4.27)
desaparecendo o termo T~, o que é lógico, uma vez que, se a solução é de regime
permanente, eventos acontecidos em tempos anteriores não interessam ma.is. A
afi rmação de que a solução de regime permanente não depende da solução ao
longo do transiente pode parecer estranha.. Basta lembrar, então, que para. a.
solução de regime permanente só interessam as condições de contorno e não
mais as condições iniciais. A Fig. 4.4 mostra as possibilidades ele avanço da
solução no terripo.

FORMULAÇÃO NO TEMPO

Explícito ------iliJ>• Limitação no ât

r~-c
(Conjunto de equações)

lmplfcito - -- -- ..
l J> ót limitado por
(Sistema linear) precisão

1
Trm;iente

\°'"'""'" -e Explícito

Implícito
- - - - - - iliJ>.. Limitação no ót

liJ>
(Sistema linear- d-ev-e-se-r ___., ót não limitado
resolvido sem precisão} (Teorias lineares)

Fig . 4.4 - Possibilidades de avanço da solução no tempo.


Obtençtio das /:Jq'ttaçôes Aproximadas - Vobm es Finito.9 4G

11nni obLcr a formulação implícita (B qualquer) basta combinar a Eq. (4:16)


111111 1l l•iq. (4.17). Fazendo-se B = 0,5, obtém- se o método de Crank-Nicolson.
I•: d1•liu\da. ao leitor esta tarefa.

•l .4 - Linearização do Termo Fonte


A representação das equações de conservação conforme a Eq.(2.4) muitas
\' PV.tlH desloca termos importantes para o termo fonte. Nestes casos, cuida-
' 11IH <'H pcciais devem ser tomados para que o processo de solução iterativo dos
l'lll'IL11mas de equações não divirja.
PH.ra exemplificar, um escoamento típico onde efeitos importantes são in-
du ídos no termo fonte são os escoamentos de alta rotação. Neste escoamento, a
1111·c.;n centrífuga, dependente da velocid.ade azimutal, na equação do.movimento
111dlnl, e a força de Coriolis, dependente da velocidade radial, na equação do
111ovimento azimutal, fazem parte do termo fonte. Estes termos fontes são par-
t l«ularmente difíceis de tratar, pois a variável que aparece no termo fonte de
1111111 equação é a variável principal da outra equação. O termo fonte, neste
1'HHO, eleve ser tratado com extremo cuidado, pois os efeitos centrífugos e de
< 'oriolis são determinantes no fenômeno [68]. Termos fontes desta natureza são
111nis complexos do que o caso que estamos considerando, em que a variável que
11 pn,rece no te1:mo fonte é a própria vari.ável da equação.
A primeira regra a ser seguida é procura:r fazer com que o termo fonte
1 u·J ~i levado em consideração o mais implicitamente possível. Isto significa não
111n11tê-lo constante ao longo do passo iterativo ou passo de tempo. Uma forma
d1 fazer isto é linea1·izá-lo, tal que a variável em questão, presente no termo
1

l'onte, atue implicitamente e não seja apenas substituída pelo seu último valor
disponível. Muitas vezés, dependendo da importância cio termqfonte, apenas a
l i u cariz~ão não é suficiente, sendo necessário atualizá-lo mais freqüentemente
do que o restante dos coeficientes.
!\osso objetivo é obter uma linear~ção do tipo

(4.28)

onde o coeficiente Sp seja negativo. Observe-se pela Eq. (4.28) que Sp é a


inclinação da reta S x T. Considerando a função S x T, existem duas possibili-
dades de comportamento de S com T. A primeira é aquela. na qual a tangente é
naturalmente negativa, característica ela graride maioria dos problemas físicos.
Neste caso, o método recomendado de linearizaçã.o [100] é expandir o termo
fonte em série de Taylor como

(4.29)
46 C. R. M aliska

e determinar Sp e Se. A segunda é aquela cujo comport,anionto 'd e S x T


tem derivada positiva. Neste caso, é necessário criar artificialmente uma li-
nearização com S p negativo. Não é difícil de entender que este processo só
é possível através de um aumento, também artificial, em S e, o que implicará
menor velocidade de convergência. Os seguintes exemplos, extraídos de [100],
esclarecem. Sejam os termos fontes dados por

S = 5-4T (4.30)

S = 5 - 4T 2 (4.31)
O primeiro deles, por ins peção visual ou pelo método da expansão em
série, nos dá S p = - 4 e Se = 5, enquanto para o segundo, pela expansão,
determina-se S p = -8T f, e Se = 5 + 4TJ, 2 •
Para exemplificar a geração artificial ele Sp negativo, seja a equação

S = 3 + 7T (4.32)
Uma possível linearização é Sp = - 2 e Se = 3 + ~Tf,. Existem outras,
obviamente, mas todas elas prejudicam a convergência. O compromisso, nestes
casos, é a melhora da diagonal da matriz (aumento da negatividade de Sp)
contra o aumento ele Se, que diminui a velocidade de convergência . Não é
fácil, se não impossível, determinar o ót.imo nest a situação devido aos inürneros
fatores que atuam concomitantemente no processo.
Sempre é possível, é claro, fazer Sp =O. Esta prática, ent.retanto, não uti-
liza as possibilidades de melhorar o esquema numérico via tratamento implícito
de todo ou parte do termo fonte.

4.5 - Condições de Contorno


A Eq. (4 .25), que é a equação aproximada para um volume elementar
genérico, foi deduzida para um volume interno. Todos os outi·os volumes in-
ternos possuem equações aproximadas idênticas. Para se obter o sistema de
equações algébricas completo é t.aT{lbém necessário obter as equações para os
volumes que estão na fronteira. Existem diversas formas de aplicação das
condiçõ~s de contorno. Uma delas é criar uma malha na qual o ponto central
do volume de controle fique sobre a fronteira (100). Este procedimento dá ori-
gem a meio volume de .controle perto da fronteira e volumes internos inteiros,
conforme pode ser visto na Fig. 4.5.
Dois problemas aparecem com este procedimento. O primeiro deles é a
não-uniformidade dos volumes. P ara problemas unidimensionais isto não se
traduz em maiores dificuldades, pois temos apenas dois meios-volumes. Entre-
tanto; para problemas bidimensionais e tridimensionais teremos volumes intei-
ros, meios-volumes, quarto de volumes e oitavo de v~lumes. Em uma estrutura
Obtenção das Equ.ações Aproximadas - Volum es Finito.9 47

1·01111rnt.acional mais geral, este fato t raz problemas para a uniformidade elas
11111>-rotinas de cálculo dos coeficientes. O segundo problema aparece quando a
l.c 1111poratura de fronteira é conhecida, isto é, T1 é um dado do problema. Neste
1·11:-10 , a aparente vantagem em não ser necessário criar uma equação para ovo-
1\11110 de fronteira, uma vez que T1 é ·conhecida, traduz-se na não-observância
do:; bala nços de conservação, pois para os meios-volumes da fronteira, a con-
1H • 1w~ção da energia (no caso deste problemã ele condução) não estará sendo
nh1mrvacla. Em um problema bidimensional/tridimensiona} teremos toda uma
f'1dxtt de volumes de controle na fronteira não respeitando os princípios de con-
t1P1'v1ição, conforme pode ser visto na Fig. 4.6 para a situação 2D .

Fig. 4.5 - Discretização com meio-volume na fronteira.

A seguir, dois procedimentos que respeitam a conservação para todos os


volumes são apresentados. O segundo deles é o recomendado por ter mais
c:onsistênda física e gener alidade.

- -
-
-
' '

·• • • .,·
~
'

,. • • • ~

~
-·-
.

--
(_ Regtao onde a equaçao- de
--
conservação não é satisfeita

Fig. 4.6 - Discretizaçã-0 bidimensional com meios-volumes na


fronteira.
48 C. R. lvfaliska

4.5.1 - Volumes Fictícios

Uma das formas de aplicar as condições de contorno é o uso de volu-


mes fict(cios, conforme mostra a Fig. 4. 7. É urna prática atraente e de fácil
aplicação, que usa volumes inteiros para todos os volumes, respeitando, por-
tanto, os princípiQs de conservação para todo o domínio. Todos os volumes
do domínio, inclusive os de fronteira , são inter pretados corno internos, uma
vez que são criados os volumes fictícios. A desvantagem é a criação de no-
vas incógnitas, aumentando o tamanho do sistema linear, situação que vai
se agravando quando a dimensão do problema aumenta. Em um problema
unidimensional com 1.000 incógnitas teremos apenas dois volumes fictícios, re-
presentando, portanto, 0,2% dos volumes . Na situação.bidimensional, também
com 1.000 incógnitas, em uma malha de 33 x 33, aproximadamente, teremos 132
fictícios, representando 13,2%. Em três dimensões a malha será de 10 x 10 x 10,
com 600 volumes fictícios, ' um aumento expressivo Ç10 número de equações do
sistema linear. Para uma situaÇão- prática comum de uma malha 3D com
30 x 30 x 30 elementos, teríamos um aumento em torno de 20% no número de
equações.
Com a criação dos volumes fictícios, deveremos criar as equações para estes
volumes· em função das condições de contorno existentes: É natural escrever
tais equações na mesma forma das equações para os volumes internos, como

(4.33)

r
p E
1
• • • • •

Fronteira Fronteira

!' .
Fig. 4. 7 - Condições de contorno com volumes fictícios.

Os diversos tipos de condições de contorno fornecerão diferentes coefi-


cientes para a Eq. (4.33) .., Para temperatura ,prescrita, a temperatura da
fronteira, T1, é conhecida e pode ser escrita como

.. Tp + TE
T1= (4.34)
2
que permite, então, determinar as seguintes. expressões para os coeficientes da
Eq. (4.33): .
Obt.cnção das EqMções A proximadas Volume.~ Finito.~ •W

Ap =1 Ae = -1 B= 2T1 (4.35)
Para fluxo prescrito temos a seguinte expressão para o fluxo em função
dC' Tp e Te:

li - - k TE - Tp (4.36)
lft - f 2.6.x i
que, de acordo com a Eq. (4.33) , gera os seguintes coeficientes:

Ap =: 1 Ae = 1
B = 2q/ .6.x! (4.37)
k1
A última espécie de condição de contorno para problemas de condução de
calor é a de convecção na interface. Para este caso, devemos igualar o fluxo
por condução ao de convecção, na forma

_ TP+TE ) - . Tp-TE (4.38)


h ( Too 2
- k1 2.6.
Xf

que, mâis uma vez, gera os seguintes coeficientes para. a Eq. (4.33):

k1 h
Ae = - - - - B = hToo (4.39)
. 2.6. Xt 2
O uso de pontos fictícios é uma boa alternativa, apesar de aumentar o
número de equações, apenas para uma discretização ortogonal, onde é possível
expressar o fluxo de calor, por exemplo, envolvendo somente um ponto fictício
e um ponto interno. Para coordenadas generalizadas, isto nã9 é possível e o
procedimento não é, então, recomendado. A. seguir, será descrito o método
recorftbnda.do. , ,-

4.5.2 - :Balanços para os Volu~s de Fronteira

O procedimento mais adequado, devido ao seu embas~ento físico e à


possibilidade de generalizaçao para sistemas coordenados mais complexos, é
realizar a. integraç-ão das equações de conservação também para os volumes de
fronteira, da mesma forma realizada para os volumes internos, respeitando a
condição de contorno existente. Desta forma, não existe aumento no número
ele equações e as condições de contorno ficam embutidas nas equações para os
volumes de fronteira . Apesar ele este método ser apresentado para o sistema
cartesiano de coordenadas em um problema unidimensional, sua aplicação é
geral.
Neste procedimento, a discretização do domínio é feita com volumes ele-
mentares inteiros. Assim, nunca teremos urna variável sobre a fronteira, sendo
sempre necessário realizar os balanços para todos os volumes, independente-
mente do tipo de condição de contorno. Já foi salientado, anteriormente, qu<•
50 C. R. M aliska

esta prática vem ao encontro dos procedimentos modernos de armazenamento


de variáveis nos volumes elementares e permite maior generalização aos progra-
mas computacionais. Este fato ficará ainda mais claro na segunda parte deste
texto, quando coordenadas generalizadas forem estudadas.
Considere-se a F ig. 4.8, onde o volume de fronteira P é mostrado. O pro-
cedimento de obtenção da equação aproximada para o volume P é idêntico
àquele usado para. os volumes internos, isto é, devemos integrar a equação di-
ferencial no volume. Lembrando que nosso problema é de condução transiente,
a integração resulta em

il<fpTp - J\IJ<j,T'j, ql k 1
(4.40)
!J.t = Cp - Cp ÍJ. X e (Tp - Te)

Na obtenção da Eq. (4.40) foi despre'bado o termo fonte (sem preJUlZO


dos objetivbs) e considerada a formulação totalmente implícita. Compare-se
a Eq. (4.40) com a Eq. (4.15) para identificar que qJ representa o fluxo na
fronteira, o qual deve ser equacionado de acordo com a condição de contorno
existente. Observe-se, tam bém,. que a Eq. (4.40) é exatamente o balanço de
energia para o volume de fronteira.

~ xr

cJ
....w
Gl
ã
o q"
w f
•·
p e E
• •
Ú(

' Fig. 4 .8 - Discretizaçào unidimensional com volumes inteiros.

Conforme já visto para problemas de condução, três tipos de condições de


contorno são possíveis. São eles: ·

1. Temp eratura prescrita - Neste caso, o valor de q/ é dado por


" k . TJ - Tp (4 .41)
Qf = J ÍJ. Xj

onde Tr é a temperatura especificada na fronteira.

" 2. F lux o prescrit o - Nesta situação, o valor de q'j deve ser substituído
pelo valor prescrito do fluxo. Esta é a condição de contorno natural, uma ve7.
que as equações são obtidas a~ravés do balanço dos fluxos nas fronteiras. Então.
Obtençao das Equ.<,çôes Aproximadas Volumes Finito.~ 51

q/ =valor conhecido (4.42)

3. Convecção - Para esta situação física, devemos igualar o calor que


d 1cga por convecção com o calor por condução para dentro do volume de fron-
teira. Desta forma, temos

q'1' = h (Too - T1) = kT1 -Tp (4.43)


Ó.X/

onde h é o coeficiente de transferência de calor por convecção. Isolando T1 da


<'quação anterior e substituindo-a no fluxo (convect ivo ou difusivo) dado por
urna das duas expressões da Eq. (4.43), encontramos

h .
q'j = hó. (Too - Tp ) (4.44)
1 +--X_f
k1
Levando o valor ele qJ, de acordo com a condição de contorno existente,
na. Eq. (4.40), encontramos a equação aproximada para o volume de fronteira,
na forma

(4.45)
onde os coeficientes podem ser facilmente deduzidos.
A seguir, a discretização para problemas bi e t ridimensionais é realizada.

4.6 --Aproximação da Equação Geral da


c .ond ução \ . ..
A obtenção das equações aproximadas para problemas bi e tridimensionais
segue exatamente o procedimento j á descrito para o problemà unidimensional,
isto é, realiza-se a integr.ação da equação na forma conserva.tiva no espaço e no
tempo. Para uma situação bidimensional, a Fig. 4.9 mostra o volume elementar
P com seus vizinhos. A Fig. 4.10 mostra, para a situação tridimensional, o
volume elementar P e seus vizinhos. Optamos por. denominar pelos índices
F (front) e B ( back} os volumes no sentido positivo e negativo do eixo z ,
respectivament e. Os eixos foram desenhados de forma a resultarem na usual
representação quando o problema for bidimensional. Em (70] , o volume vizinho
na direçã.o positiva do eixo;; foi denomina.do T (top) e, na negat iva, B (bottom),
sendo necessário apenas t rocar os índices T por F e t por f para repi·oduzir os
coeficientes.
A equação da condução em trê.s dimensões para regime transiente com
termo fonte tem a seguinte forma:
52 C. R. Maliska.

(4.46)

.ó.x.

N
• A.
n
~ ·~
p
W • w
• e •E - '.<I '
~
,,
s

-
~
<I ,,
•s

l~ .Ó.X ~
~ ....

Fig. 4. 9 - Volume elementar e seus vizinhos. Situação bidimen-


sional.

A integração dest a equação no espaço e no t empo, a proximando as deriva-


das nas interfaces do volume elementar por diferenças centrais e usando uma
formulação totalmente hnplícita, resulta em

(4.47)

onde os coeficientes são dados por

(4.48)

(4.49)

(4.50)
Obtenção das Eq·uações Aprox·imadas - Voltimes Finito8 úa

• f

(4.51)

(4.52)

Ab = -----;\
k 1 ~x~y (4.53)
Cp u.Z b

(4.54)

111° pº
A]:, = --E.
~t
=-
~t
~x~y~z (4.55)

(4.56)

Nas equações anteriores, está prevista a possibilidade de p variai· com o


tempo .. Quando isto não acontecer, ~~ = ~; . As equações discretizadas para
situações bidimensionais estão incorporadas nas equações mostradas anterior-
mente, bastando eliminar as conexões do eixo z e fazer ~z = 1.

N.

w. E

L
/
/
/ y
/
/
F /
/
~----X

z
s
Fig. 4.10 - Volume elementar e seus vizinhos. Situação tridi-
mensional.
54 C. R . Maliska

4. 7 - Estrutura da Matriz de Coeficientes


A estrutura da. matriz de coeficientes obtida na. aproximação numérica é de
fundamental importância na escolha do método de solução do sistema linear.
Antes de concluir este capítulo, é didático fazer alguns comentá.rios sobre esta
estrutura , em complementação à.queles feitos no Cap. 3.
Em primeiro lugar, é bom lembrar que, seja o problema uni, bi ou tridimen-
sional, o resultado é sempre a obtenção de um sistema linear que, logicamente,
sempre pode ser escrito na forma matricial. A matriz cios coeficientes é que
muda sua estrutura de acordo com a dimensão do problema. Nas formulações
mostradas, a matriz tem a forma tridiagonal para problemas unidimensionais,
pentadiagonal para problemas em duas dimensões, e heptadia.gonal para si-
tuações tridimensiona.is.

XX XX X
xxx xxx X
xxx xxx X
xxx xxx X
xxx xxx x
xxx X xxx X
xxx X xxx X
xx x X xxx X
xxx X xxx
xxx X xxx
xxx X xxx
xxx X xxx
XX X XX

Fig. 4.11 - Estrutura da matriz de coeficientes para problemas


1D e 2D , respectivamente.

Para entender a razã.o desta estrutura, basta lembrar que, ria discretização
ela equação da condução, a. conexão do ponto P com os vizinhos apareceu no
momento de aproximar nurnencamente os fluxos na interface. Como usamos
uma aproximação em diferenças centrais, apenas os volumes adjacentes parti-
ciparam desta aproximação. Logo, se o problema é l D, apenas dois vizinhos
tomam parte, resultando cm uma equação com três termos apenas. Se o pro-
blema tiver, por exemplo, 100 incógnitas, teremos 97 termos nulos na equação
que relaciona o volume P com os demais do domínio. A Fig. 4.11 mostra estas
estruturas para as situações uni e bidimensional.
É possível usar mais pontos vizinhos para estabelecer a ligação com o
volume P, se desejado. Muitos métodos usando diferenças finitas aproximam
.. os Buxos usando polinômios que envolvem mais pontos. Se assim for feito, o
número de não-zeros naquela linha da matriz se altera.. O limite seria. usar uma.
aproximação na qual o volume P é conectado com todos os outros volumes
Obtenção das EqMçôes Aproximridcis Volumes Finit.oH :;ri

do domínio, o que origina.ria uma matriz de coeficientes cheia. A ma,iorin.


das metodologias numéricas adota o procedimento empregado, ou seja, o d<'
envolver apenas os vizinhos mais próximos, criando uma matriz de estrutura a
mais simples possível.

Tabela 4.1 - Índice de esparsidade em pro blemas bidimensionais

1'.falha 10 X 10 20 X 20 40 X 40

Número de
elementos na matriz 104 16 X 104 256 X 104

Não-zeros 500 2.000 8.000

3 Não-zeros 53 1,25 % 0,312 %

Índice de esparsidade 0, 95 0,9875 0,9968



...
Memória requerida* [Kbytcs] ., 40
-
2
640 '
8
'

.
10240
-32-

* O número superior indica a quantidade de Kbytes,necessária para armazenar


cm simples precisão a matriz completa, enquanto o número inferior indica quantos
Kby:tes serão necessários para armazenar somente os elementos não-nulos desta ma-
triz.

Uma característica importante das matrizes obtidas das aproximações nu-


méricas é o alto índice de esparsidade. Tais matrizes, se métodos diretos d<'
solução forem empregados, requerem o manuseio dos não-nulos, influindo graJ1-
demente na taxa de convergência do método. O índice de esparsidade é definido
pela percentagem de nulos comparados com os não-nulos da matriz. A Tab. 4.1
apresenta o índice de esparsidade para. três malhas diferentes, mostrando qu<•,
para uma malha 40 x 40 (que não é uma malha muito refinada para muit.os
5Ci C. R.. Maliska

problemas práticos}, o índice de esparsidade é próximo de 1. A mesma ta-


b(')a. mostra o armazenamento necessário quando a. matriz é cheia e apenas os
11ac>-trnlos são considerados.
As estruturas discutidas a.té agora são originárias de aproximações numéri-
cn.-; usando malhas estruturadas, isto é, malhas cujos volumes-p.oss.uem_sernpr.e.....
o mesmo número de vizinhos. Em discretizações não-estruturadas, como as en-
rnutntdas em elementos finitos ou em volumes finitos não-estruturados, pode-
mos ter diferentes números de vizinhos para cada volume, originando matrizes
que não são tri, penta ou heptadia.gonajs, mas sim com uma banda dia.gonal
V<Lriável.
Os métodos de solução para sistemas lineares com matrizes desta natureza
são mais elaborados. O uso de discretização não-estruturada será discutido na
segunda parte deste trabalho, no Cap. 16.

4 .8- Tratame nto das Não-linearidades


A aproximação numérica de uma equação diferencial parcial linear dá ori-
gem a um sistema linca.r ele equações cuja matriz tem coeficientes constantes.
Quando o problema é não-linear, novamente a aproximação dá origem a um
sistema linear de equações, mas, desta feita, a matriz contém coeficientes de-
pendentes da variável e deve, portanto, ser atualiz.ada ao longo da.s iterações.
No caso dos problemas ele condução discutidos neste capítulo, as nã.o-
liuearidades comuns são a dependência ele k com T e uma possível não-lineari-
dade no termo fonte. Em problemas de convecção, que envolvem a solução elas
0quações de Navier-Stokes, uma série ele não-linea.ridades importantes aparece.
Em todos os casos, a equação é linearizada., transferindo para a mat1)z dos
coeficientes a. não-linearidade.
Observe-se que, mesmo considerando-se um problema de conclução (uma
única equação diferencial presente) e resolven1,o-se o sistema linear através de
um método direto, a não-linearidade introduz um nível iterativo a mais no
processo, que é justamente a atualização da matriz. Quando o método de
solução do sistema linear é iterativo, podemos confundir as iterações devido às
não-linearidades com aquelas do método de solução. Como em geral se usam
métodos iterativos, é comum ouvirmos a afirmação de que as não-linearidades
não introduzem dificuldades nas formulações numéricas. Do ponto de vista
ele implementação, é verdade, pois incluir no algoritmo o tratamento de uma.
não-linearidade significa. apenas atualizar a matriz dos coeficientes. Quando
sistemas de equações estão sendo resolvidos, vale a mesma observação, ainda
com mais razões, pois existem outros níveis iterativos nos quais a atualização
da matriz poderá ser realizada.
,. Do ponto de vista de convergência, poderá ser diferente, pois, dependendo
da natureza da não-linearidade, a obtenção da solução poderá ser mais lenta. A
experiência do analista e sua familiaridade com o problema físico permitirão que
I Obtcnç<io das Equcições Ap1'0:i;imadas Volumes Finitos 57

o mesmo decida sobre o número de vezes de atualização da matriz comparado


<'Om as iterações do método de solução.

4 .9 - Solução d o Siste m a Line a r d e E quações


Após ter sido apresentado o método dos volumes finitos para a aprQximação
ele equações diferenciais parciais e diversos aspectos da formulação, dedicaremos
esta seção para descrever alguns métodos de solução do sistema de equações
algébricas lineares. Os métodos de solução podem Sê'r classificados em d iretos
e it erativos . Os métodos diretos são todos aqueles que neçessitam da inversão
da ma.triz completa, incluindo os não-zeros. Neste trabalho, apenas métodos
iterativos serão discutidos, uma vez que são eles os largamente empregados,
pelas razões já discutidas na seção anterior.
Os métodos iterativos podem se classificar cm iterativos p on to a ponto,
linha a linh a ou plan.o a p lano . É lógico que um método iterativo ponto a
ponto é um método direto se a malha tiver apenas um volume elementar. Da
mesma forma, o método linha a linha é um método direto quando o problema
é unidimensional , e o plano a plano é direto para um problema bidimensional.
A seguir, alguns métodos iterativos mais empregados serão apresentados.

4.9.1 - M étodo d e J acobi

Este método pertence à classe dos métodos ponto a ponto, resolvendo


o sistema linear, visitando equação por equação, iterativamente, ·usando os
valores das variáveis do nível iterativo anterior. Reescrevendo a Eq. (4.47.) na
forma

(4.57)

o ciclo iterativo tem a seguinte estrutura:


• E stimar campo inicial da variável.
• Iterar em k.
• C alcular Tp usando a Eq. (4.57) para todos os pontos do domínio.
• Checar convergência.
• R etornar se o critério não foi satisfeito.

O método de Jacobi é de lenta convergência e requer uma matriz com do-


minância diagonal. P or outro laâo, é de facílima implementação e é totalmente
vetorizável, uma característica importante nos dias atuais, quando computado-
res com vetorização e processamento paralelo ganham espaço em computação
ele alto desempenho.
58 O. R. Maliska

4.9.2 - Método de Gauss-Seidel

Este método é essencialmente igual ao anterior, com a diferença de fazer


uso, durante um mesmo ciclo iterativo, de valores das variáveis já calculadas
neste ciclo. Ist.o acelera a convergência em relação ao método de Jacobi. O
processo iterativo pode ser resumido como:
• Estimar campo inicial da variável.
• Iterar em k.
• Calcular Tp pela Eq. (4.58) onde foi considerada uma van·edura de tní.s
para a frente, de sul para norte e oeste para leste, podendo-se considerar
como conhecidas, na mesma varredura., as temperaturas Tw , Ts e TB-.
• . Checar convergência.
• Retornar se o critério não foi atendido.

A P T pk+l =~
L.J A "b Tk+ t.t yk A Tk A yk B
N B + n e E + n N + f F' + (4.58)
As mesmas consi<lerações sobre a estrutura da matriz feitas para o método
anterior valem para o método de Gauss-Seidcl.

4.9.3 - Método das Sobre-relaxações Sucessivas - S.O.R .

O método S.0.R. procura acelerar, ainda mais, o processo de convergência


dos métodos anteriores. Isto é feito aplicando-se uma sobre-relaxação nos va-
lores obtidos com o método de Ga.uss-Seidel. O ciclo iterativo tem a seguinte
estrutura:
• E stimar campo inicial da. variável.
• Iterar em k.
• Calcular os valores de T usando a Eq. (4.58).
• Sobre-relaxar usando a Eq. (4.59) .
• Checar convergência.
• R etornar se o critério não foi satisfeito.

( 4 ..59)

Na Eq. (4.59) , Tp1 ~~1 representa o valor calculado com o método de Gauss-
Scidel e w, o coeficiente de relaxação. O coeficiente de relaxação serve para
avançar mais rapidamente a solução, quando o processo está lento, ou "segu-
rar" a variável, quando a mesma está avançando em demasia e pode causar
divergência. Os valores recomendados de w para avançar mais rapidamente a
solução variam entre 1,5 e 1,7, apesar de este valor ser dependente do tamanho
da malha. Valores menores do que 1.0 sub-relaxam a. solução.
Para os três métodos acima descritos, o fim das iterações pode ser estabe-
lecido conferindo-se o valor do resíduo dado por [73]
Obt.ençao rl<is Equações A proximadas Volmncs Finito.~ IJO

(4.60)

com uma tolerância pré-especificada.


Os métodos iterativos ponto a ponto são métodos que poderíamos classi-
ficar como "fracos" do ponto ele vista de convergência da solução, por serem
lentos na transmissã.o da informação advinda da condição de contorno. É fáci l
perceber que, ao varrer-se o domínio ponto a ponto, a informação "viaja." no
iuterior do domínio na La:.x:a de uma malha por int,crvalo de tempo. Por isto, é
importante escolher adequadamente o sentido de varredura .
l\foitos sistemas lineares não podem ser resolvidos com os métodos descri-
tos. Tm dos requisitos para que seja possível é que a matriz dos coeficientes te-
nha dominância. diagonal. Isto significa dizer que, se o sistema linear for passível
de solução por métodos iterativos ponto a ponto, muitos outros métodos de
solução podem ser empregados. Por outro lado, o método numérico gerador de
sistemas lineares com dominância diagonal pode ser considerado robusto.
O critério de ScaJ:borough [100, 124] estipula a seguinte condição suficiente
para convergência do método ele Gauss-Seidel:

$ 1 para todas as equações

(4.61)

< 1 para pelo menos uma elas equações


Podemos ver pela Eq. (4.56) que a maneira ele construir no~so método
numérico usan~o volumes finitos vai ao encontro do critério de Scarborough,
desde que tomemos cuidado com a linearizaçifõ do termo fo11t~ , produzindo um
Sp negativo, e que tenhamos os coeficientes d~ conexão com os pontos vizinhos
positivos . .

4.9.4 - Método Linha por Linha

O mais conhecido método desta natureza é o algoritmo de T homas ou


TDMA ( TrWiagonal Matrix Algorithm) [100 ,117,118]. Como se deduz pelo
nome, os métodos linha por linha resolvem diretamente uma linha, ou seja, um
problema unidimensional. Para problemas bi e tridimensionais são iterativos ,
com a varredura se processando linha por linha. e coluna por coluna.. P ara
exemplificar, vamos considera.r um problema bidimensional usando a Eq. (4.47)
não considerando os termos na direção z . Considere a F ig. 4. 12, onde está
mostrada uma linha na qual será aplicado o método TOMA. A equação a ser
resolvida é dada por

(4.62)
GO C'. R. Maliskci

o o o o o o o
o o o o o o o

• • • • • • •
• • 1 • •
m-1 m • m+l • • N

• • • • • • •
o o o o o o o
o o o o o o o

• Linha sendo resolvida


• Valores dmpoofveis usadc« na solução

Fig. 4.12 - Linha onde se aplica o Método TOMA.

Escrevendo a Eq. (4.62) em uma forma mais conveniente para procedimen-


tos recui·sivos [73], temos
,,,,.----
(4.63)

O interesse é determinar uma relação recursiva. da forma

(4.64)

que perm ita, com o uso das condições de contorno, varrer a linha em um sen-
tido, determinando os coeficientes P e Q, e voltar, determinando os valores
da variável, que, no caso, estamos chA.manclo ele T . Béüxanclo um índice da
Eq. (4.64), encontramos

(4.65)

Substituindo a Eq. (4 .G5) na Eq. (4.63) e comparando o resulta.do com a


Eq. (4.64) , encontramos as seguintes ('xpressões para os coefi cientes P e Q:

(4.66)
Obt<•11.ç<io das Equ<Lçôcs Ap1·oxim<L<fos Volumes Finit.os G1

As Eqs. {4.66) e {4.67) são relações recursivas que permitem, depois de


rnnhecidos P1 e Q, , determinar todos os valores de P e Q. Para o nosso
problema, dado pela Eq. (4.62) , quando a marcha for conforme mostrada na
l +' i ~. 4.12, temos

Am = A p {4.68)

(4.69)

Quando a varredura se der por colunas, teremos as seguintes expressões


para os coeficientes:

A.,,,. = Ap (4.70)

(4.71) .

A determinação de P1 e Q1 é fácil de inferir, inspecionando as Eqs. {4.66)


<' {4.67). Imaginando que os índices crescem como mostrado na Fig. 4.12, a
1•quação aproximada para o volume ele fronteira (volume 1) não poderá. depen-
der ele valores da variável à esquerda. Logo, 0 1 d~verá ser zero, resultando
(l lrl • 1
..
Qi = D1 {4.72)
A1
Para o outro volume de fronteira (volume N), sabemos que a equaçã.o
aproxima.da não poderá depender da variável à direita. Logo, DN deverá ser
zero, pela Eq. (4.66), o que resulta, pela Eq. (4.64) , em

TN = Q,v (4 .73)

Para. três dimensões, basta somar a.o coeficien te D.m a cont.ribuição dos
outros dois volumes vizinhos. Logicamente, a.gora. teremos ma.is uma direção
para executar as varreduras do domínio. O TD1v1A é- um método usado inten-
sivamente na área numérica, dada a sua facilidade ele implementação e boas
características de convergência.
O algoritmo pa.ra aplicar o método TDMA pode ser resumido por:
G2 C. 17. Malük<'

1. Estimar o campo de variáveis inicia.is.


2. Ca lcular P.t e Q :1 através da Eq. (4.72).
3. Calcular todos os Pm e Qm com m de 2 até N usando as Eqs. (4.66)
e (4.67).
4. Fazer T,v = Q.rv.
5. Calcular as variáveis para os pontos N-1 até1 usando a Eq. (4.65).
6. Checar a convergência. Não sendo satisfeito o critério , repetir ou
alternar a direção.

Também no mét.odo TDMA é importante observar as condições ele con-


torno dom inantes para realizar o processo, principalmente nest a d ireção.
Uma importante extensão cio uso do T DMA foi desenvolvida em [73,132]
para aplicações em problemas tridimensionais. A idéia é o uso da. vetorização
para aplicar o TDMA cm um banco ele linhas (TDYIA-BL) , confor me mostrado
na Fig. 4.13. A vetorização é realizada no plano (x,y), sendo a solução pelo
TDMA realizada na linha ao longo de z . A vetorização em (x,y) propicia
a solução de um banco de linhas ao invés de uma linha por vez. O banco
ele linhas alterna-se nas direções z , x e y. É possível, também , escolher a
direção onde a malha é menor e fazer mais iterações, ou todas, nes ta direção,
aproveitando para realizar as relações recursivas, portanto não-vetorizáveis, ao
longo do menor número de malhas. Em resumo, deve-se escolher o banco de
linhas que tenha. as linhas mais curtas possíveis. Os resultados obtidos na
solução de problemas t riclimensionais sã.o promissores e motivam a aplicação
desta metodologia para problemas bi e tridimensionais.

4.9.5 - Modified Strong ly lmplicit - MSI

Este método [127J, iterativo mas fortemente implícito*, é baseado no mé-


t.odo SIP (136] e resolve o sist ema linear através ele uma decomposição LU
a proximada. Seja o sistema linear dado por

[A] [T] = [B] (4.74)


tal que

(L] (U] = [A]+ [A') (4.75)


O segredo na criação ele um bom método de decomposição aproximada é
criar a matriz [A'] tal que a decomposição [L][U], da.ela. pela Eq. (4.75), seja fácil.
Se a decomposição [L](U] originasse n matríz [A.], o método seria direto. Como
isto não acontece, o método é itera:t.ivo, com a seguinte fórmula. de recorrência

* A pala.vr11. implícito, aqu i, é usada como s inô nimo de di re to. Fortemente implícito
significa, então, um mé todo quase direto, 0 11 seja, aquele em que com poucas ite rações
se o btém a convergência. O esforço compu tacional por iteraç<'i.o, por out ro lado, é bem
s uperior ao:; demais métodos iterativos.
Obt.cnçiio d(ls Eqwições AproximMfo.s Volttmes Pinito.9 G:l

/.
/
I l

ND=NJ•NJ

Fig. 4.13 - TDMA aplicada a bloco de linhas.

[A+ A'] [Tt+i = [A + A'] [T]k - {[A] [T] k - [B]} {4.76)

onde k indica. o nível iterativo. Quando a soluç~convergida de T for ob-


tida, o segundo termo do lad~ireito da Eq. {4.76) se anula'., í·esultando em
T"'+' = T k. Observe-se que a matriz [A'] não interfere na solução do sistema,
ruas é determinante na velocidade de convergência do método iterativo. Uma
matriz [A'] mal escolhida pode originar um esquema iterativo que não tenha
convergência.
Definindo uma correção no campo de T por

( 4. 77)

o um resíduo, ou erro da. solução, por

['R.( = [A] [T]k - [B] {4.78)

a Eq. {4.76) resulta em

(4.79)
64 C. R. Maliska

Utilizando a decomposição [L][U] de [A+ B], encontramos

[L] [U] [ót+L = - [R] k+l (4.80)

A solução pode ser obtida fazendo-se dois processos de substituições su-


cessivas, uma vez que as matrizes [LJ e (U] são matrizes diagonais inferior e
superior, respectivamente. Desta forma, definindo um novo vetor [V], podemos
determiná-lo por

(L] [V] =- [R]k+l (4.81)


Conhecido [V], podemos determinar [ó]k+ 1 usando

[U] [ó]k+i = [V] (4.82)


pa.ra, através da Eq. (4. 77), determinar a solução da. T para o novo nível itera-
tivo. O processo iterativo segue até que o resíduo, calculado com a Eq. (4.60),
seja menor do que a tolerância. especifica.da. O MSI ~ um método bastante
poderoso, mas, por ser fortemente implícito, pratica.mente não é vetoriz<'Ível.
Tal fato tem feito coin que o método não tenha sido intensivamente usado em
códigos computacionais que envolvem vetorização.
Com relação ao aspecto vetorização, um estudo ra:.wavelment.e amplo foi
realizado em ['73], com o objetivo de verificar a performance de métodos itera.-
tivos, quando usados em processamento escalar e vetorial. Os métodos com-
parados foram Jacobi, TDMA-BL e MSI. Os problemas testados consiclera.ram
o escoamento supersônico tridimensional sobre a parte frontal do VLS-Veículo
Lançador de Satélites brasileiro e foram resolvidos usando-se o código compu-
tacional MACH3D [49], versão 4.0, desenvolvido no Laboratório de Simulação
Numérica em Mecânica dos Fluidos e Transferência de Calor - SINMEC.
Malhas com 7.200 e 28.800 volumes foram empregadas. Os resultados
mostraram o MSI como o método majs eficiente para o processamento escalar,
seguido cio TDMA-BL, tendo o método de Jacobi apresentado a pior perfor-
mance. Para o processamento vetorial, o método TDMA-BL foi o mais eficiente,
seguido pelo MSI e Jacobi.
O estudo mostrou que os "velhos" métodos ponto a ponto, como Jacobi,
Gauss-Seídel e outros derivados podem ser uma boa alternativa para programas
vetorizáveis. Primeiro, por apresentarem bom desempenho quando vetorizados
e, segundo, por serem de implementação extremamente fácil. É claro que a
estrutura da matriz deve ser robusta para aceitar métodos iterativos ponto
a ponto. Considerações sobre os cuidados a tomar neste caso são tecidas na
próxima seção. Também fica aqui a sugestão do uso do TDMA-BL em progra-
mas vetorizáveis.
Existem inúmeros métodos para solução de sistemas lineares na. literatura
especializada. que o leitor interessado poderá ter acesso. Os métodos aqui apre-
sentados permitem ao iniciante na área de métodos úurnéricos implementar seus
Oblen<;<W <i<is Eqtwçoes A vro:r.imu.â<i.~ Volmncs Finito.~ (ir1

programas computaciona.is, bem como apresentam alternativas pa.ra o ui;11Ario


experiente aplicar em problemas práticos. Recomenda-se ao leitor a fowilia-
rização com os métodos multigrid, por se apresentarem como alternativas para
situações com coeficientes an isotrópicos [43].
O volume de métodos diretos que trabalham apenas com os não-zeros ela
mat riz também é grande. São as chama.das técnicas de esparsidade, onde se
busca uma. solução direta do sistema linear em tempos computacionais razoáveis
e com armazenamento compatível aos métodos iterativos. O uso de técnicas de
esparsidade na solução ele sistemas lineares também deve ser considerado pelos
usuários de metodologias numéricas.

4.10 - Cuidados Gerais na Obtenção das


Equações Aproxhnadas
A opção feita, neste texto, para. a obtenção elas equações aproximadas foi
pelo método dos volumes finitos, isto é, a questão central é a conservação da
propriedade em nível de volumes elementares. Vimos, também , que a estrutura
da matriz resultante deve respeitar certos critérios de dominância diagonal e
positividade dos coeficientes, para que métodos iterativos possam ser aplicados
para resolver o sistema lineaL A seguir, estas regras [100] serão apresentadas
e discutidas para que o leitor as tenha. em mente no momcnt.o de desenvolver
seu método numérico.

4.10.1 - Pos itividade dos Coeficientes

. A positividade dos coeficientes é de fundamental importância para que


a soluçá.o obtida seja fisicamente coerente. Para auxiliar neste raciocínio,
considere-se um problema bidimensional cu)b--temperat~rás Cios volumes vi-
zinhos sejam maiores do que a temperatura do volume P. Imagine-se, agora,
que os coefici entes de ...onexão de p com seus vizinho:; sejam negativos e A.p
positivo. A física correta do problema requer o aumento de Tp. P ela. expressão

(4.83)
que é a equação aproximada para o ponto P, não existe esta garant ia, se os
coeficientes forem negativos. Uma rcgTa fu ndamental, portanto, é procurar
manter , sempre, a positividade dos coeficientes. Isto ajuda muito a performance
globa l do método.
É importante destacar, também, que nem sempre a existência de coeficien-
tes negativos indica que a solução será incorreta ou fisicamente inconsistente.
É possível ter aproximações numéricas com coeficientes negativos convergindo
para soluções corretas, desde que a aproximação seja consistente, conforme já
definido. Nestes casos, a penalidade vem pela necessidade de métodos nuiis
GG e. n. M<Lli.9ka

robustos para a solução do sistema linear. A possibilidade da divergência da


solução está, portanto, também fortemente reladonada com o uso de 111étodos
nfio robustos o suficiente pa.ra determinadas matrizes de coeficientes . Mantendo
os coeficientes positivos, teremos dominância diagonal, sendo permiti<.io o uso
de qualquer método iterativo, o que é desejável. ·

4.1 0.2 - Conservação dos Flux os nas Interfaces


Em se tratando do método dos volumes finitos, este cuidado parece trivial,
pois significa requerer que o fluxo da propriedade (couvectivo ou difusivo), dei-
xando um determinado volume de controle, deve ser calculado tal qual quando
visto como um fluxo entrando no volume de controle vizinho. Se isto nã.o acon-
tecer, teremos geração da propriedack~ na interface, obvia.mente alterando o
valor da função localmente. Quando são empregadas fu nções de interpolação
que não usam os mesmos pontos de ajuste polinomial para o fluxo que deixa e
que entra no volume vizinho, a não-conservação na fron teira aparece.
O uso das equações na forma não-conserva.tiva também acarreta problemas
para a conservação em nível de volumes elementares . Os termos convcctivos,
µresent.es no lado esquerdo ela Eq. (2.2) podem ser escritos nas seguintes formas:
conservativa

!.__ (pu<i>) + !.__ (rrv<!>) + ~ (pw<b) (4.84)


8x ây ôz ·
e não-conservativa

â<f>
f)'U --
Ô<!>
+ pv -· + pw -8</> (4.85)
âx ây âz

p
w
• e
• E
ee
. EE

~
-- ~
- ÂX .

Fig. 4.14 - Análise de conservação em nível elementar.

Considere-se apenas o primeiro termo da forma conservativa sendo com-


putado nos volumes de controle mostrados na Fig. 4.14. Integran<lo tal termo
para. o volume centra.do em P com dimensão D.x, obtém-se

(4.86)
0/Jf<!nçlio das l!Jqw1.çóes Avrn:ci'utt11üis Volm1w.s Vinil o.~ ()7

Seja agora o volume centrado cm E com dimensão b.x. Intcgrnuclo, cu-


rnntra-se

j ';r; (p'U<p) dx dy = j [(P'1t.ef>)cc - (pu<P)e ]dy = rhce ef>ee - 1heef>e (4.87)

Finalmente, vamos considera r o volume centrado em e com dimensão 2b.x.


1ntegrando, obtemos

(4.88)

A soma das Eqs. (4.86) e (4.87) é exatamente a Eq. (4.88) , mostra ndo que
na interface dos volumes P e E não existe nem geração nem sumidouro da
propriedade <f>. Isto é, o fluxo da proprieda de </> que sai de P é o mesmo que
entra em E. Dizemos, então, que o esquema numérico resultant.e é conservativo.
Cons idere-se agor a o termo de convecção dado por

ô<b
pu ax (4.89)
P ar a o volume elementar centrado em P , temos

./ pu ~! dxdy = J pp11.p (<Pe - </>...,,.) dy = p p'ttP4>e6..y - ppu.p<faw6.y (4.90)

Pata o volurne centrado em E, obtemos

J pu ~~ dxdy = J PEUE (</>ee - </>e) dy =PEUE</>ee LlY - PE'UE</>eÓ.Y (4.91)

Finalmente, para o volume centrado em ~0htemos ' '

./ pit ~~ d:r;d:y = ./ ; etLe (</>u - </>w ) dy = PeU<'<Í>ceÓ.V - NtLe<Í>~uÓ.Y (4.92)

Observa-se que, desta ma neira, os fluxos da propriedade </> que deixam


um volume de cont role não são os mesmos que entram no volume de controle
vizinho. Existem, então, gerações e sumidouros da propriedade nas interfaces
cios volumes de controle. Isto poderá a.ca.rretar sérios danos à convergência da
solução e à pre<.:isão elos va lores locais da propriec\1.1.de e;>. Devemos, portanto,
sempre procurar desenvolver o modelo com as características conserva.tivas cm
nível de volumes elementares. Pf\.ra os termos de <lifusão valem as mesmas
observações, sendo desejável tê-los na forma fx
(f~~) e não na formar~ +
~~ ~~ . Os valores das propriedades físicas também devem ser avaliados no local
ele avaliação do fl uxo, isto é, na interface .
68 C. R. Maliska

4.10.3 - Linearização do Termo Fonte com Sp N egativo


li A importância de termos o S p negativo na linearização do termo fonte já
:1 foi disc utida com razoável profundidade. Basta aqui lembrar que o S p negativo
aumenta o valor de Ap, confer indo à matriz dominância diagonal, o que é
1
extrema.mente benéfico para a convergência. Por outro lado, a necessidacle de
Sp negativo vem ao encontro da realidade, uma vez que os processos físicos
são sempre limitados, o que não aconteceria com um $p positivo. A expressão
! do coeficiente Ap , abaixo, mostra que o Sp negativo ajuda. na dominâ.ncia
diagonal,

Ap = L Anb - Spb. V (4.93)


A possibilidade de criar esquemas numéricos onde o coeficiente central
seja igual, no mínimo, ao somatório dos coeficientes de influência dos volumes
vizinhos é um fat or que também contribui para a dominância da diagonal e
facilita o critério de Scarborough. As equações obtidas, até o momento, com a.
discretização em volumes finitos satisfazem este critério.
Ao longo do Cap. 4 pudemos constatar que a construção de um método
em volumes finitos segue uma série de passos sobre os quais o a nalista numérico
possui controle. Esté:\ intimidade com o método tem benefícios, porque a análise
dos resultados numéricos pode ser feita à luz dos balanços em nível cios volumes
elementares, sendo, então, mai8 fácil detcct,ax erros na solução. Outro aspecto
é que a formulação satisfaz os principais critérios requeridos para que o modelo
concebido seja robusto.
Finalmente, vale comentai· que, apesar ele termos trataclo neste capítulo
de problemas de condução unidimensional, os fundamentos estudados aplicam-
se a. sistemas lineares em geral. Em problemas de condução, as funções cje
int erpolação se fazem necessárias para avaliar os fluxos difusivos nas front ei-
ras, que podem ser interpolados linearmente devido à ca racterística. elíptica do
fen ômeno. Em problemas que envolve m convecção, o::> fl uxos convect ivos elevem
ser, também, avalia.dos nas fron teiras e as funções de interpolação elevem est.ar
aptas pa ra t al. O próximo capítulo a nalisa este problema.

4.11 - Exe rcícios


4.1 - Resolva a nalít ica. e numericamente, usando volumes finitos e dife-
renças finitas, o problema unidi mensional de condução com geração ele calor,
mostrado na Fig. 4.15, dado por

(4.94)

e compare as soluções. Para o mét odo das diferenças finitas use os pontos
marcado::> por círculos cheios, enquanto para o método dos volumes fi nitos a
Obtenção <las Equ.<ições Aproximadas Volmncs Fini/,o.~ ()!)

temperat ura está armazenada nos quadrados. Você verá que a solução uRando
diferenças finitas é exata, isto é, sem erros de truncamento, portanto, indcpcud<'
do tamanho da malha, ao passo que para volume:> fi nitos a S(Jlução mun6rica
depende da malha. E xplique a razão. Faça unia ou mais proposições que
permitam obter a solução exata. também para volumes finitos.
O bs. 1. No caso da equação da condução, a aplicação de diferenças finitas,
ou volumes finitos com função de interpolação por diferen ças centrais, resulta
em idênticas equações aproximadas, quando os volwnes forem internos.
· Obs . 2. A obtenção ele uma solução numérica idêntica à exata só é fácil
ele obter cm problemas unidimensionais. P ortanto, é sempre conveniente ter
volumes de controle, onde são realizados balanços, que cubram todo o domínio
computacional.

q'"_
-
k
-5 (X)
,

T=O
• • • • / L =lm
õx = 0,25m
ÔX
'•
- - -- L _ __ _ _,

Fig . 4.15 - Cond ução unidimensional. Prob. 4.1.

4.2 - Partindo da Eq. (4.94) com o termo transientc, obtenha as equações


aproximadas para as formulações explícita e tot;:ilmente implícita.. Na for-
mulação explícita existem três formas usua is de distorcer o transiente. Uma
delas é avançar a solução com o máximo ê:..t permitido para. cada célula; a ou-
t ra é fazer uso dos valores recentemente ca.lt"f1.l.,(),dos das vari~veis; e a. t erceira é
sobre-relaxar est es valores de acordo com ·

~ rn+ 1 = wT * + (1 - w) T n (4.95)
onde T * representa. o valor calcula.do que será. substit uído pelo valor T'i+l ob-
t ido com a Eq. (4.95). Mostre que, se o sistema linear obtido com a formulação
tot almente implícita for resolvido pont.o a ponto, as três formas de distorção
do t ransicntc explícito são exatamente os métodos de Jacobi, Gauss-Seidel e
SOR, respectivament e.
4.3 - H.esolva, usando volumes finitos, o problem;;t da aleta. unidimcnsional
transient.c, com o topo isolado e tempera tura n
na base, conforme Fig. 4.16,
com os seguint.es dados:
n = 373 l\ , TQO = 293 /( , /..: = 10 W/m /\ ,
D = 0, 01m, L=0,05 m,, h = 5,0 W /rn2 A" e a= 10-6 m 2 /s
Faça o problema va.rianclo o número de volumes elementares. Compare a
solução de regime permancnt.e com a solução analítica disponível em qualquer
70 C. R. Maliska

texto de transferência de calor. Para compara.r, adirnensionalize seus resulta-


dos . No tempo t = O a aleta está na temperatura ambiente.

h, Too
(
Tb/..---.

X
L ....
~
i::;
@
~
o
Fig. 4 .16 - Aleta trnnsiente. Prob. 4.3.

4.4 - Partindo da Eq. (4.46) em duas dimensões, obtenha as equações


aproxirnadas, usando a formu lação explícita. Mostre que o máximo avanço de
tempo possível pa.ra a solução, de acordo com o critério de von Neumann, é
dado por

6.t < 1/2 (4.96)


- a [ -ó.:c2
l .1 ]
+ -f:l.y2
4.5 - Para materiais anisotrópicos, a equação da condução do calor em
duas dimensões é escrita como

-ô (pcpT)
ât
, = -ô
âx
( k11 âT
-
âx
âT)
+ k12- + -â ( k21 âT
ây
- + kn ôT)
ôy
- +q
ôx ôy
111
(4.97)

onde kij é o tensor condutividade térmica . Numere os volumes element.ares da


esquerda para a direita e de baixo para. cima; integre a equação acima, usando
volumes finitos e a forrnulação totalmente implícita e obtenha os coeficientes da
equação discretizada.. Mostre como fica a estrutura. da matriz de coeficientes e
calcule o índice de esparsidade para uma malha de 20 x 20 volumes.
4.6 - Resolva numericamente o problema bidimensional de condução em
regime permanente da.elo pela Eq. (Hl.6) <~ cornpa.r<~ a. solnçào com a a.na.lítica.
dada pela Eq. (10.7) .
4. 7 - Resolva numericarnent<~ o problema de condução unidimensional
descrito na seção 10.5.2 e compa.re seus resultados com a solução analítica
dada pela Eq. (10.10). Derive a expressão analítica para obter o fluxo de calor
e compare com o fluxo de calor calculado numericamente.
O&l«'U('<LO das Eq1rn(·ôcs A7n·o:i:imaclas VoltLmcs l•'iuilo.~ 71

4 .8 - Para o exercício 2.3, do Cap. 2, q uand o o escoamcuto eutro afi pla<.:aH


paralelas se tornar plena mente desenvolvido, a ec1uação resultante é semclha nLl'
àquela cio problema de condução com geração uniforme de caJo.r , ou seja,

1 dP ô 2 tt.
(4.98)
µ dx = ôy2
o nde dP/ d..'t é o g;radiente de pressão, constante, e µ. é a viscosid ade do fluido.
Observe que o lado esquerdo da equação faz o papel ele uma geração em um
problem a de condução. Resolva este problema numer icamente e com pa re a
solução com a exata. Valem para este p roblema todos os comentários feitos
pa ra o exercício 4. 1.
4.9 - Uma placa pla na d e espessura L = 3 m tem cm sua face esquerda
um fl uxo de calor por unidade de área igual a. 10 lV /rn 2 en t rando na placa,
enquan to na face esquerda, um fl uxo de calor por un idade de área igual a
21 W /m 2 deixa a placa. Existe uma geração uniforme de calor igual a 7 W /m 3
no interior da placa. A condutibilidad e térmica da placa é igual a. 1 W /ml\.
De Lermine a distrib uição de t emperatura, usando os métodos de Jacobi, Ga uss-
Seidel , SOR e TDMA.

a. Pa ra esta situação o p roblema não tem solução. Explique a razão.


b. Faça agora o fluxo de calor que sai ig ua l a 31 W/m.2 . Por que não é
possível encontrar a solução usando o T DMA? Fixe o va lor da tem-
per atura cio ponto central em 10 1\. Por que agora foi possível achar
a solução usando TDMA?
c. Resolva, pelos métodos de Jacobi, Gauss:Seidcl e SOR , fixando e
não fixando o valor do ponto central. Analise o comportamento dos
métodos quanto ao número de iterações necessário.

13 14 15 ~6

9 10 li 121
~ w.w 1 ~ 1 ~ 1 ~ 1 "! ~
5 6 7 8
(b)

1 2 3 4

(a)

Fig. 4.17 - Prob. 4.10.

4.10 - P ara o problema 4.3, com 16 volumes ele controle , e para u111
p roblem a bidimensional de condução, também com 16 volumes e num<'ra.dos
72 C. R. Maliska /

de acordo com a Fig. 4.l 7(a.), usando sempre diferenças centrais, obtenha a.
estrutura da matriz de coeficientes para. os dois casos . Imagine, agora, que, na
obtenção das equações aproximadas para o problema da a.leta, dois volumes
à direita e dois à esquerda sejam utilizados na equação para P, conforme a
Fig. 4.17(b). Como fica. a estrutura da matriz? Qual é a semelhança desta
matriz com a do problema bidimensional?
CAPÍTULO CINCO
Convecção e Difusão
Funções de Interpolação

5.1- Int rodução


Nos Caps. 3 e 4 os problemas de difusão de calor estudados foram usa-
dos como base pa.ra apresentação cio método <lo::> volumes finitos e de suas
características. ~ão tivemos a p reocupa.ção de enfatizar o uso de .funções de
interpolação, a.pesar de as mesmas terem sido usa.das na. aproximação dos flu-
xos nas interfaces dos volumes de controle. ~o contexto apenas do fenômeno
da difusão (de qualquer propriedade), as funções ele interpolação usadas nos
termos clifusivos são lineares (cl ifcrenças centrais) e não trazem problemas de
estabilidade para o método numérico. .
Neste capítulo, nossa atenção será volfada. à aproxima.ção dos termos con-
vectivos da equação diferencial de conservação, a.presentada em forma. geral
pela Eq. (2.4). A convecção de uma der.erminada propriedade é causada pelo
escoamento. Também neste capítulo, trataremos, fundamentalment<', com pro-
blemas uni dimensi~ais , agora de convecção/difusão, com o objetivo de enfati-
zar as fun ções de interpolação aplicadas aos termos conveêdvo~.
A.pe~ar ele estarmos tratando com problemas que envolvem convecção, não
nos interessa, no momento, saber como foi obtido o campo de velocidades que
a.pa.rccerá. nas equações de c:ilnscrva.ção. Deve ser interpreta.ao que este campo
é conhecido e disponível. IBm próximos capítulos, dedicar emos atenção aos
métodos que ensinam como calcular numericamente os campos de velocidade e
pressão.
A próxima seção é dedicada ao entendimento do relacionamento da natu-
reza da função de interpolação com a fís ica dos respectivos termos nos quais a
função será. a.plicada. Na seqüência., serão analisados alguns tipos de funções ele
interpola.ção, ainda. para problema.s unidimensionais. Neste item, estarão pre-
.sentes as funções de interpolação largamente usa.das nos códigos computacionais
atua.is. De posse deste conhecimento, a integração da equação de transporte
ele uma variável genérica <P em duas dimensões será apresentada, juntamente
com o conceito de dift~são numérica. Alguns métodos para diminuir seus efeitos
serão, tamb6m, apresentados.
7 4 C. R. Maliska

5.2 - A Dificuldade do Problema Convectivo-


Dominante
Conforme foi salientado na Introdução deste t rabalho, o método das dife-
renças finitas desempenhou papel importante no desenvolvimento de metodo-
logias numéricas aptas a resolver os problemas não-lineares da Mecânica dos
Fluidos. P elo fato de o método se fundamentar na substituição dos termos da
equação diferencial por aproximações numéricas, a: tendência foi sempre pro-
curar a aproximação com o menor erro de truncamento. Sabemos, a.través da
série de Taylor, que a aproximação em diferenças centra.is, usando dois pontos
vizinhos, produz erros de truncamento da. ordem de .6x 2 . Para relembrar, as
aproximações em diferenças centrais para a derivada de primeira e segunda
ordem de </> são dadas por

(5.1)

2
ô rjJI = Te+Tw - 2Tp +O (.6'.r; 2 ) (5.2)
ôx 2 P .6x 2

P ara dar início à discussão das dificuldades do tratamento de problemas


convectivo-dominantes, vamos considerar o problema unidimensional de con-
vecção/ difusão da propriedade</> sem os termos transiente e font e, dado por

~ (pU<p) = ~
âx ôx
(r.P ª<P
ôx
) (5.3)

onde </> representa uma propriedade qualquer transportada e f 4>, o coeficiente


de t ransporte. Para um problema de condução/convecção de calor, </>será a
temperatura e r Ç>: o produto da massa. específica pek'\ difusividade térmica.
Considerando propriedades físicas cons tantes, usando as Eqs. (5.1) e (5.2) para
aproxim;;w os termos convectivo e difusivo, e empregando a formulação total-
mente implícita (lembre-se de que, neste problema, a coordenada x tem deri-
vada de primeira ordem, semelhante ao tempo, e, portanto, uma formulação
explícita em x também seria possível), encontramos

.pu <faE - r/Jw = r"'<f>E


, + <Pw - 2<fap (5.4)
· 2.6.x: 2
.6x
que, após rearranjada, tem a forma

(5.5)

com os coeficientes dados por


Convecçci.o e Difusão Punções de fntcrvol<içiio 7ri

2fif>
AP = ~ x2 (5.G)

ffU. fif>
Ae = - 2~x + ~x2 (5.7)

pu, fef>
Aw = ? " . + ux2
~ux
A (5.8)

Considerando a velocidade u positiva, a seguinte relação deve ser satisfeita,


para que o coeficiente Ae seja positivo: .
pu~x
- fq.>.- -<2 (5 .9)

onde a expressão à. esquerda do sinal na inequação é reconhecida como sendo o


número de Reynolds da célula. Note-se que, se estivermos resolvendo a equação
da. energia., será. o número de Peclet da célula, uma vez que f"°' será igual a
k/cp na Eq. (5.9). Podemos observar que, quando a velocidade u aumenta, a
malha deve ser reduzida proporcionalmente, se desejarmos manter o coeficiente
positivo. Lembramos que manter os coeficientes positivos é uma. característica
desejada para. qualquer método numérico .

y ••
Isolado Condição de contorno em T
6
' '
u = conhecida '--- '---
v=O ,_ .
~
~ ~
'
,_ X

I~
il_
Isolado Condição de contorno em T

Fig. 5 .1 - Região de entrada térmica entre pla.cas paralelas.

Q seguinte problema, bastante simples, mostra o quanto pode ser restri-


tiva a necessidade de manter o número de Peclet da célula menor do que 2.
O problema em questão é a determinação ela região de entrada térmica entre
duas placas planas paralelas, conforme mostra.do na Fig. 5.1. O. escoamento a
montante tem temperatura constante e está hidrodinamicamente desenvolvido.
7G C. R. Mcilisk<'

Em x = O, uma condição de contorno térmica é aplicada e se inicia o dC'i;cn-


volvirnento da camada limite térmica, enquanto o perfil de velocidade continua
constante e invariável com x.
A malha a ser escolhida deve se estender, no mínimo, até cobrir a região
de entrada térmica. Para termos idéia do tamanho do domínio, a informação,
mesmo não-exata, pode ser tirada dos resultados existentes na literatura. Uma
das expressões que nos fornece o comprimento da região de entrada térmica
(Xpo) é

(5. 10)

onde Rem, é o número de Reynolds baseado no diâmetro hidráulico e Pr é o


número de Prandtl. Para um problema de transferência de calor, o requisito
para positividade dos coeficientes é

(5.11)

Trabalhando com essas duas equações, encontramos

(5.12)

ou

1
P et;.z = O, 05 ReohPr N z R eD1 Pr ~ 2
1 (5.13)

onde Nz é o número de malhas na direção x, dado por

(5.14)

Tomando como exemplo o produto de R eohP.r da ordem de 1.000, o que


representa um escoamento laminar de baixa velocidade, tanto de á.gua como <le
a.r, teremos a necessidade de 25.000 pontos na direção x . Se tomarmos 1Vy igual
a 10, o que é uma malha grosseira para captar camadas limites, teríamos uma
malha com 250.000 pontos. O tamanho desta malha é absolutamente despro-
porcional à complexidade <lo problema. Malhas desta envergadura são usadas
em problemas relativamente grandes, consumindo um tempo de computação
só permitido a. quem tem acesso a. supercomputadores.
Portanto, o uso de diferenças centrajs na aproximação dos termos convecti-
vos cria, quase sempre, coeficientes negativos, pois é impossível, praticamente,
refinar a malha até forçar sua positividade. O uso de coeficientes negativos,
associados à natureza do método iterativo usado para a solução do sistema
linear, pode impedir totalmente a obtenção da solução. Além disso, a presença
de a.proximações de alta ordem, como diferenças centrais, nos termos convccti-
vos, quando estes forem dominantes, gera instabilidades, produzindo soluções ·
Convccçiío e Difusão Punções de Jnte·1 pol<1çrio 77

q11<' aprcscnta.rn oscilações numéricas em regiões de grandes gradientes. A C<l-


rnctcd st.ica dessas oscilações está mostrada na Fig. 5.2(a), onde um pulso de</>
deve ser reproduzido numericamente.
É importante salientar que a solução que apresenta as oscilações numéricas
(~ convergida e não se trata de uma solução oscilatória não-convergida. A im-
possibilidade de dissipar as oscilações é uma característ ica dos esquemas de
nJta ordem, incluindo-se, nestes, a aproximação por diferenças cent rais .

Oscilações numéricas
/(Wiggles)
'
Solução dissipada
(Difusão numérica)

X X
(a) (b)

F ig. 5.2 - Diferenças centrais na convecção; presença de os-


cilações numéricas (a), e difusão numérica (b).
. ~

Também é importante destacar que a existência de coeficientes negativos


não significa a impossibilída.de total de obter a solução. ' 0 uso de sol'Uers
potentes e a forma de avançar a solução permitem a. obtenção da solução,
mesmo com coeficientes neg__ativos, conforme relatado por Silva [1'28].
A maneira ele evitar o ~eficiente negativo é usar uma. outra aproximação
para. o termo convectivo. Uma. aproximação de um lado só, por exemplo,
também conhecida por iipwind, resolve o problema.. Para u po$itivo, a apro-
ximação de um la.do só deverá ser para trás, resultando na seguinte aproximação
numérica. para a Eq. (5.3)

rf>p - <i>w = rq,cPE + ~~W - 2rf>p


(5 .15)
pu .6.x .6.x2
originando os seguintes coefi cientes

· 2r<P · r>u.
A p = -.- 2 + -! - (5.16a)
.6.x .6.x
78 . C. R. Maliska

(5.16b)

pv. f<P
Aw = ~+A 2 (5.16c)
uX uX

que, como a velocidade é positiva, são todos positivos. Para. v. negativo; a


aproximação da Eq. (5.3) resulta em

<f>e - <f>p = f<f></>E + </>w - 2<f>p (5.17)


pu. ilx ilx 2

criando os seguintes coeficientes

2r<1> p·u
Âp=- - - (5.18a)
il:r2 ilx:

(5.l8b)

A.,,,=
r""2
A (f>.18c)
Ll.X

onde se observa novamente que, pelo fato de u ser negativo, os codicient<:~s


resultam todos positivos.
A soluçã.o do pulso de <D usando esquemas ·1tpwind tem a forma mostrada
na Fig. 5.2(b), onde se pode ver que desapareceram as oscila.çôes numéricas,
mas, por outro lado, o pulso dissipou-se, não sendo captado o rea.1 gradiente do
problema.
Estes dois comportamentos obedecem a. uma consistência física que será
discutida. na próxima seçãó. Por agora., é importante mantermos em mente
os dois fatos seguintes que serão discutidos com maior profundidade em u1na
próxima seção, ainda neste capítulo:

1. O uso de diferenças centrais (CDS), e de outros esquemas de alta or-


dem, em problemas de convecção dominante, gera, em geral, soluções
não realísticas por sernm esquemas não-dissipativos.

2. Os esquemas ·upwind (UDS) produzem soluções fisicamente coerentes,


mas têm a propri,edade de suavizar os altos gradientes, por serem
dissipa.tivos. ·
Convccç<io e Difusão flmçôes <lc Jntm11oltiç<10 7!)

5.3 - Funções de Interpolação - Suporte Físico


O uso do esquema CDS para problemas puramente clifusivos e do csqucni:1,
UDS para problemas de convecção dominante tem uma forte motivação física..
Parn interpretá-la, vamos considerar novamente a Eq. (5 .3).
Conforme já discutido no Cap. 2, seção 2.2, os termos da equação diferen-
cial possuem uma característica matemática que pode ser associada com a física
do fenômeno. Assim, o termo difusivo é um termo elíptico e os efeitos de uma
perturbação no meio são transmitidos (difundidos) cm todas as direções por
este termo. Portanto, o lado direito da Eq. (5.3) transmite, igualmente, uma
perturbação nos dois sentidos cio eixo :e. O termo convectivo, do lado esquerdo
da equa.ção, é parabólico e transmite perturbações apenas no sentido da veloci-
dade. Os efeitos deste.s termos, logicamente, infiuem no perfil de temperatura
e devem ser claramente entendidos.

T.
v=w=O
u = coust

u =~
---+ 1 A
"'""--='"=,--~~~~~~~~~~--e

---+ ......

--·
---+
---+
e .... ...,
' ' '\
·--·
---+
---+
-.-....
---+
\
\
\
\

---+º X
L

Fig. 5.3 - Problema idealizado de convecção/cüfusão.

O problema idealizado e mostrado na Fig. 5.3 é útil para este fim. Con-
sidere-se um escoamento unidimensional com velocidade 11 consta:nte. Existem
duas telas metálicas muito finas nas posições x = O e x = L, mantidas às
temperaturns 1 e O, respectiva.mente. O problcrna é idealizado e, portanto,
não nos interessa questionar como as tem peraturas 1 e O serã.o mantidas nas
telas. Uma. possibilidade é o uso de microrrc.sistências elétricas ligadas para
manter as temperaturas. Como as telas são finas, o escoamento, ao passar pela
primeira tela, adquire <i temperatura 1, uniforme em todo plano ao qual x é
perpendicular. Ao passar pela segunda tela, o fl uido. adquire a temperatura
O. Não existindo fontes de calor, tudo em. regime pennanente, a Eq. (5 .3) é
80 C. R. Maliska

a equação 1que governa este fenômeno, onde </> é a temperatura. Mas, para a
nossa análise física, esqueçamos, por ora, que nosso problema é governado pela.
Eq. (5.3).
Considere, inicialmente, a velocidade tt igual a zero. Nesta situação, restam
apenas os efeitos difusívos e a solução da equação é uma reta, uma vez que
tanto a temperatura 1 como a O terão a mesma influência no estabelecimento
do perfil dentro do domínio, pelas características elípticas da difusão. A solução
matemática., que é uma reta, coincide com o nosso sentiment.o físico.
O outro limite acontece quando considerarmos a velocidade muito grande,
positiva, e tendendo ao infinito. Nossa intuição física nos · diz que a solução
do problema é a temperatura constante e igual a 1 em todo domínio, uma vez
que a condição ele contorno a. jusante (T = O) não interfere na solução, pois
os efeitos clifusivos não conseguem se transmitir no sentido contrário a.o eixo
coordenado, porque os efeitos convectivos, muito fortes, não permitem e forçarn
sobre todo o domínio a. temperatura igual a l.
Entre estes dois limites existem infinitas soluções onde o balanço entre os
efeitos difusivos e convectivos estabelece, para velocidades finitas, uma solução
intermediária, mostrada pela linha tracejada na Fig. 5.3. /
O aprendizado com esse problema nos mostra. que o uso ele diferenças cen-
trais (CDS) é ~tfillte para problemas puramente difusivos, enquanto o uso
da aproximação ele um lado só (UDS) é fisicarnente consistente para proble-
mas convectivos. Parece, portanto, coerente que as funç-ões de interpolação
(comportamento da função entre pontos nodais) a. serem empregadas em pro-
blemas difusivos/convectivos levem em conta esta característica física.. Logo,
pa.ra. um problema de convecção dominante, com velocidade positiva, a função
d<~ int€!rpolação adequada é a curva. A, paTa difusão dominante, a curva B, e
pa.ra situações intermediárias uma curva. adequa.da que tenha como pa.râm<~tro
o número de Peclet. -
A solução analítica. da Eq. (5.3) serve, conseqüentemente, como uma fa-
mília de funções de interpolação. Interpretando a posição O e a posição L, na
Fig. 5.3, como os pontos da malha P e E, rnost.rados agora na Fig. 5.4, as
condições de contorno para a Eq. (5.3) são dadas por

em X= Xp

(5.19)
em :e= XE

Definindo as seguintes variáveis adirnensionais

~
_ :e
-
- 3,;p
-
( .
p-
'ILllX)
- .6x r<P
(5.20)
' ( /..* <P - if>·p
.:\ <v
'· ' · ·
= ef>e - <f>p

\.
o problema se reduz a

ô</>'' éJ2 </>.


(5.2 J)
ôÇ âf, 2
com as seguintes condições de contorno

em Ç= O
(5.22)
</>* =1 em E,= Pe
onde o número de Peclet baseado cm ó x é dado por

p11D.x
Pe= ~ (5.23)

A solução do problema., dado pela Eq. (5.21) com as respectivas condições


de contorno, é

(5.24)

p e E X
X X+ t..x

Fig. 5.4 - Funções de interpolação.

A Fig. 5.4 rnosl"ra a família de soluções obtida com a Eq . (5.21). A curva


B representa o problema de difusão pura, enquanto a curva. A, o de convecção
pura. P ar a velocidades negativas, temos as curvas D para P eclet muito grande
negativo e a curva E para Peclet fin ito negativo. O im portante, agora, é fazer
uso da Eq. (5.24) no tratamento numérico das equa.ções diferenciais pareia.is. A
seguir, alguns esquemas numéricos , usando dif<~rcntes funçõcf> de interpolação,
serão apresenta.dos.
82 C. fl. M<ilisk(J,

5.4- Funções de Interpolação Unidimensionais


Já vimos, na seção anterior, o uso dos esquemas em diferenças centrais e
nvwind. Vimos, também, que a família de soluções obtida com o problema uni-
d imcnsional de convecção difusão pode ser usada como função de interpolação.
Nc::;ta seção, faremos uma análise elos diversos esquemas que usam diferen-
l;cs funções de interpolação. Repetiremos os esquemas .de diferenças centrais
e 'tipwind com o objetivo, apenas, de deixar reunidos, nesta seção, todos os
esquemas unidimensionais mais importantes. A maioria dos esquemas unidi-
u1cnsionais que serão apresentados está também descrita em [100].
Considere-se, nova.mente, a Eq. (5.3) sendo integrada sobre o volume ele-
mentar mostrado na Fig. 5.5 , originando

. -
pucpl pwbl = I'<t>. -ôd>· 1 - f<i> -Ô<Í>· 1 (5.25)
. e . . w ô:i; e ÔX w

onde observamos que é necessário fornecer as relações ent;re os pontos no-


dais (funções de interpolação) para que seja possível calcular o valor da função
e de suas derivadas nas interfaces do volume de controle. Diferentes funções de
interpolação geram aproximações diferentes, que produzem soluções diferentes
para a mesma equação diferencial, enquanto a malha nã.o for refinada. Não
existe nenhum exagero em enfatizar e repetir que o estabelecimento da função
ele interpola.ção é a parte fundamental na concepção de um método numérico .

• -1·- -- ......
1.. ___J •
Axw ~Xe

Fig. 5.5 - Discretização unidimensional.

5.4.1 - Diferenças Centrais

O esquema CDS usa urna interpolaçã.o linear. Considerando que as faces


do volume de controle estejam situadas no meio da distância entre os pontos
nodais, temos

. <f> E
<!>e= - -- -
.
+ <f>p
2 cbw
'
= ó1v 2+ <fap
· (5.26)

e, conseqüentemente,

a0I = <f>E - <f>p ,ô</> 1 </Jp - <bw


6xw
(5.27)
ÔX e 6::te ôx 'W
Com a substituição elas Eqs. (5.26) e (5.27) na Eq. (5.25) e considerando o
campo de velocidades uniforme, obtemos os coeficientes dados pelas Eqs. (5.6)
Convecção e D'ifn.scio Fimções de !nter710lriçá,o 8:\

11 (r1.8), quo so1upre apresentam coeficientes negativos, independentemente do


"111 111 dn. velocida.de, quando Pe, ou Re para problemas de transferência de
q11111ll,id11.do ele movimento, for maior do que 2. Todas as implicações deste
11111 111c 1111\jéÍ. foram discut.idas. Na obtenção das Eqs. (5.6) a (5.8) usamos malhas
1

l11,111d11H111t.<? espaçadas, apenas por conveniência e não por i1ecessidade.

r•.11.2 - Upwind
l '11.rn.' evitar o aparecimento de coeficientes negativos e as oscilações nu-
111t'11lc11,._. j á discutidas, lança-se mão do esquema upwind. Agora, as funções de
l11ic1f' polação têm as seguintes expressões, fazendo-se uso da Fig. 5.4,

.ef>w = <f>w </>e = <f>p u>O (5 .28)

<f>w = <f>p (5.29)

il11 11do o rigem, exatam ente, aos mesmos coeficientes dados pelas Eqs. (5.16) e
(11, I H) pa.r a u positivo e negativo, respectivamente. Observe-se que o termo
illf111-1 ivo continuou sendo aproximado por diferenças centrais. Apenas pa.ra
1e 11dl rnrn.r, o esquema 'Upwind tem sua relação direta com o termo pa.rabólico,
IHl,o 6, o va lor da função na interface é igual ao valor da função no volume a
111011ln1i te. O volume a montante muda, logicamente, de acordo com o sentido
1ln vc1 locidade.
...
i. , 11.:~ - Esquema Exponencial

O csq~1ema exponencial é baseado nas idéias apresentadas em (134] e pro-


prn1Lo por (115] e usa as funções de interpolação obtidas da s,olução exata do
w11ilkma. unidimensional de convecção/difusão. É lógico que, se mesmo pro- o
l1ln11rn, unidimensional de convecção/difusão que originou as funções de inter-
polH<,:ào for resolvido nu~ericamente, usando a própria função, de interpolação,
11 1-1ol11ção numérica obti~. será a exata, não importando o número de ma-
lil11H l'1t1pregado'. Isto é semelhante à constatação que já fizemos no Cap. 3,
1111d< ~•sol ução numérica do problema de condução unidimensional permanente
1

1'111·11<;ce a solução exata, independentemente do tamanho da malha, quando a


l11i.111"polação for por diferenças centrais.
Usando a Eq. (5.24) para determinar <i>e e ~! le' encontramos
f'~·
e2 -1
· ef>; = eP., _ 1
(5.30)

f'(;

eT
(5 .31)
eP,, -;-1
8'1 C. 17 . M riliskri

il'mbrando que a Eq. (5.20) deve ser usada para obter as expressões dimensio-
na.is. O mesmo proced imento deve ser realizado para. obter os valores de </> e
o ele sua derivada em w, para posterio r substituição n ~~ Eq. {5.25) . Obser ve-se
que o número de Pe é calculado com D.xe , qua ndo a va liá mos as funções de
interpolação n a face e, e com D.xw, qua ndo avaliamos na face w .
A dificu ldade com o esquema exponencial é o t empo de computação para.
avaliar os exponenciais. Como a função de interpolação depende da velocidade
{Peclet), será necessário calcular exponenciais para todas as interfaces dos vo-
lumes de controle. Uma varümte deste método, com simplifica.ções nos cálculos
dos exponenciajs, criando expressõe::; q ue procuram seguir a expressão exata,
por faixas de número de Peclet., denom inado Power-Law, está descr ito em [100].

5.4.4 - WUD S - Weighted Upstream Dífferencing Scheme

Neste esquema, a função de interpolação exata proposta em [115] é a.'3so-


ciada a dois coeficientes a: e /3 que dependem do número de Peclet e servem
corno pesos en tre a convecção e a difusão. O valor de ifJ e ele sua der ivada na
interface são escritos, toma ndo a face lest e novamente como exemplo, como

(5.32}

r ef> ª <P I = f3cr</J ( <t>E - efyp ) (5.33)


ôx e " D.x
Inspecionando as equações acima, vemos q ue para o: Oe /3 1 o esquema de = =
diferenças centrais é recuper ado, ao passo que para a O, 5 e a: =
- 0, 5, com =
{3 = O par a a mbos, recupera-se o esquema ttpwind para velocidades posit ivas e
negativas, respect.ivamente.
Os valores destes coeficientes são determina.dos usando-se a Eq. (5.24) e AS
Eqs. (5.32} e (5 .33), reescritas para</>*, e aplicando-se as condições ele contorno
dadas pela Eq . (5.22). Para a Eq. (5.32) encontramos

<i.•>c = ( 2+0:.,
1 ) </>p
.• + ( 2
1 - a e) ,i,*
't'B {5.34)

originando a. expressão para O'e

1 e~ -1
(}'
-e -
- --
2 -eP,,- - - 1 (5.35)

Para .Be, a Eq. {5.33) resulta em

ré> ô<t>* I = ª r <i><f>Ê - <f>j, {5 .36)


e âf, e fJ e e .6.f,
originando expressão pa ra .iJe, dada por
Convecção e Di.fnsáo Pnnções de lnte·11Jol riç{i.o 8ii

~ I
e 2
/3e = P e ep e - l (5.37)

onde .6.Ç foi feito igual a Pe, de acordo com a adimensior1alização feita para af;
v11.riá veis.
l:Vfa.nter as expressões para a e 8 na forma exponencial acarreta as mesmas
dili culdades de computação já discutidas para o método exponencial. Rai-
l.l1by [110] propôs as seguintes expressões para os dois coeficient.es

Pe 2
O:e = 10 + 2Pe2 (5.38)

_ 1 +O, 005Pe 2
16 (5.39)
e - 1 + O, 05Pe 2
lembrando que em todas as expressões que envolvem o número de Peclet este
número é baseado em 6. x.
Quando substituídas as expressões para <Pe e sua derivada na face e pelas
Eqs . (5.32) e (5.33), e equações similares para <f>'W le sua derivada na face w, na
Eq. (5.25), encontra.remos a equação discretizada na forma

(5.40)
com as seguintes expressões para os coeficientes

".'1.e =- ( /YtL ) e ( 2
1- O' e ) + ,a.rt
.6.x (5.41)

A w -_ + ( ptt) w ( 2
1
+ O:w ) + .8w.6.xrt (5.42)

Ap = Ae +A,,, (5.43)
A equação da conserv~ão da massa unidimens ional, d~da por
(pv) e - (pu)w = O (5.44)
foi usada para determinar as expressô<~S dos coeficientes anteriores.
A Fig. 5.6 mostra o comportamento do coeficiente Ae com a velocidade.
Pode-se constatar que o coeficiente será sempre positivo, independenternent.c
do sinal de tt . Para tt igual a zero, resta no coeficiente apenas a. parte difusiva,
a.o passo que, para a positivo e grande, o coeficiente fi e. t ende a zero, como
era de se esperar, pois o valor nodal E não deve mais influenciar o valor dn
variável em P . Para o coeficiente Aw, ternos o mesmo comportamento, isto
é, será sempre positivo, t endendo a. zero quando a velocidade for cresce!ldo
negativamente.
86 e. n. M t1Li8kri

Fig. 5.6 - Comportamento de Ae com a velocidade.

A F ig. 5.7 apresenta as curvas de a e .8 dadas pelas Eqs. (5.35) e (5.37)


e pelas aproximações dadas pelas Eqs. (5.38) e (5.39). Quando o número de
P e aumenta, a aproximação cio termo convectivo aproxima-se de uma deri-
vada a montante ( upwind scheme). Esquemas deste tipo, onde a e f3 variam no·
domínio de cálculo procurando "pesar" as infl uências da. convecção e da difusão,
são chamados de esquemas híbridos. Se é verdade que a utilização destes es-
quemas evita oscilações espaciais e ~ambém a possível divergência da solução, é
também verdad e que à medida que as velocida.des aumenta.m,. fa.zendo a tender
a !, aumenta a chamada difusão numérica ou falsa difusão, assunto de nossa
próxima seção.

0.6

0.4

0.2
0.6
o.
0.4
·0.2

- o. • Eq . (S.3S) 0.2
- 0.4
· · · · o. • Eq. (S.38)
-0.6.l..----- - - -- -- - o.o 1 1 1 1 1 1 1 1
· 12 . 10 - 8 . 6 -4 -2 o 2 4 6 8 10 • 12 • 10 - 8 -6 - 4 • 2 o 2 4 6 8 10
pe PC

Fig. 5. 7 - Coeficientes cv e f3 (110].


Cou:uecçâ.o e Di.fnsão Fimçõe.s de Interpolação 87

h. õ - Difusão Numérica ou Falsa Difusão


Aq1wl;\s pessoas q ue já procuraram obter a solução numérica de um pro-
l 111•111 11 1·011vc'ctivo sabem ,que, se a. função de interpolação adotada para. os
l 1•11110H rnuvcctivos for diferenças centrais, existem dois riscos. O primeiro é
1•1 t1111111 rinr a divergência ela solução, provocada pelo uso de métodos de solução
ili • MIH L1 1 111 a~ lineares não aptos ao tratamento de coeficientes negativos, e o se-
11.1111!11 1 (•obter soluções não-realísticas (apresentando oscilações numéricas) ,
1 1111l'<u·111e a F'ig. 5.2(a), uma vez que o esquema de d iferenças centra is não possui
l 11il1 lll<l i~d o para dissipar as perturbações inerentes ao. processo de solução [4].
< IMl'nn(H11cnos podem ser superpostos, isto é, a presença de um coeficiente ne-

1•,11l l vo pode dar origem a uma perturbação que se propaga sem a. possibilidade
tl11 ~11 •1' di:-;sipada.. Essa. perturbação pode crescer e fazer a solução d ivergir ou
111111!• fi «ar limitada, estabelecendo urna solução convergida, mas apresentando
111w ll11ções numéricas.
1>or outro lado, se a interpolação usada for ttpwind, o esquema resulta
l111-tl 11.11 t.c estável, obtendo-se sempre uma solução realística, mas com alta clis-
1d11n1;1w embutida, conforme mostrado na Fig. 5.2(b). Esta dissipação ocorre, lo-
111l1·1111Hmte, nas regiões de grandes gradientes, muitas vezes destruindo a solução,
1·1m10 (' o caso de captura d e ondas de choque, que deve ser r ealiza.da com. pre-
1·IH11.o para identificar a real posição do choque:
/\ propriedade de o opera.dor aproximado usando 11pwind de suavizar os
fl/l\ 1l( l<'S graclien~s pode ser também interpretada como benéfica, uma ve'.l que,
11111·11. 1nuitas situações de engenharia., é preferível obt.er-_ s e alguma solução,
1111 1H1HO sabendo elas imprecisões, do que não obtê-la. O mecanismo de sua.-
111:.m<,:iio dos g!·adientes é equivalente ao processo de difusão física de uma pro-
p1•l1 \! lrtde, sendo por isso chamado d e difusão numérica ou falsa difusão'. As
.
1li v11rsas maneiras de interpretar a falsa difusão são apresentadas e discutidas
11 Hnµ uir.

r•.r. .1 - Enfqque ~tte.mático .» _ ,. .


Uma das formas· êle mterpretar a d1fusao numenca é com 'base no erro
il1 l.ruucamento das aproximações por série de Taylor. Considere-se a função
1

ili· lut.crpolação mostrada na F'ig. 5.8 entre os pontos W e P . Avaliando a


l'01 1vocção de <i> através da face w usando clifernnças C<~ntrais, te mos

Cw = Pw'Uw ( <P~v +<PP)


2
(5.45)

1• , 11sando diferenças de um lado só ('apwind),

(5.46)
Expandindo os valores de <i>w e <f>p em séries de Taylor, usando as Eqs. (3.2)
o (3.3), e utilizando estes valores nas Eqs. (5.45), obternos, para a convecção
11a face oeste, usando diferenças centrais
88 C. n. Mnliskn

Cw :::::: PwUiu</Jw + O (.6.x2 ) (5.47)

e, usando a. Eq. (5.46) pa.ra diferenças a montante, encontra.mos

e w :::::: P u/l.t iu </J w - Pw 1lw 2


.6.x (ª<!>)
Ôx w + O (.6.x 2) (5 .48)

O segundo termo do lado direito da Eq. (5.48) é um termo análogo ao


termo de difusão da propriedade </> (veja que é um coeficiente multiplicado por
uma derivada), onde e"'"2'6 x seria o coeficiente de difusão falso .
Dest a. maneira, explica-se a difusão numérica pelo uso de aproximação de
primeir a ordem na a proximação cios termos convectivos. Como as diferenças
cent rais apresentam erros de segunda ordem , não e;istiria. difusão num érica
para esta aproximação.

</>w ...................... .__ __ ___

w w p X

F ig . 5.8 - Análise da difusão 111irnér ic<t.

5.5.2 - Enfoque Físico

Patankar [100] contesta esta visão da difusão numérica., afirmando que o


problema unidimensio nal de convecção de uma descon,t:inuidade de <i> é'"propa-
gaclo, sem suavização , portanto sem difu são numérica., q uando um esque1m~
'ttpwind é empregado. Alega. que, neste caso, o esquema itpwind é exato, nã.o
justificando afirmar que o mesmo é im preciso por ser de primeir a ordem. A
Fig. 5.9 mostra o problem a, onde uma corrente unidim ensional de flui do t.em,
na sua metade inferior, o valor </>1 e na superior, o valor </>2.
O problema cm questão é governado pela seguinte equa.ção de convecção
unidimensional,
Convccç(io n D·i.fw;rio Ftmçõc:> ele lnt.c7·71ofo.ç1io 8 !)

[:)
ôx (rnup) = O (5 .49)

1111dn ii ('()ud ição de contorno em x = O é a. prescrição do perfil de <f>. Integrando


11 l•;q, (5 .49) para o volume de controle P, encontramos

[:) ( ') '


-;:;---- PU</J = PeV·e<Pe - PwU·w<Pw = . o (5.50)
ux .
Como </>e = </> p e <f>w = 1>w, pela aplicaçã.o do esquerna ·upwíncl, temos
[:) . .
-;:;---- (pud>) = Pe1teef>P - PwUw</>W =O (5.51)
uX

:::

- ~
-- ·--
-- ---
-- -
-- --
</> = </>, </> = fj> , .
w w p e E
t • • • • • X
..
1.. ..1
~X

Fig. 5.9 - Propagação ele uma clesconl:inuiclade em x .

Considerando p e u coi1stantes, sem prejudic:;:'ir a análise, t emos

</>p = </> 111 (5.52)


q11c é a solução exata do problema dado pela Eq. (5.49) . O fato de a apro-
ximação ser de primeira ordem, portanto, não afetou a precisão da solução: A
<li fusão numérica deve, então, ser explicada .e m outras bases. Para. isto, vamos
l"Onsiderar o mesmo problema, definido agora no sistema x- y, conforme mostra
a Fig. 5.10.
90 C. R. Maliska

A equação diferencial do problema agora é

!....
âx
(pu<j>) + !.... (pv</J) = o
ôy
(5.53)

Integrando a Eq. (5.53) para o volume de controle, agora bidimensional, e


considerando êix = êiy, temos

(5.54)

y A

F ig. 5.10 - Problem a unidimensiona.l de convecção defini<;lo no


plano x - y.

Utilizando o esquema upwind e cousiderando p, ti e v consta ntes, temos

.
(j)p = <Pw + 6s
. (5.55)
2
A solução do problema governado pelas Eqs. (5.49) e (5.53) deveria ser
a mesma, urna vez que o problema físico é o mesmo. Apenas foi mudada. a
orientação do sistema de eixos, tornando o problerna bidimensional. Ent.re-
tanto , a Eq. (5.55) nos dá uma solução diferente da solução exata que é <:~ = 1
para. os pontos abaixo da linha AA e </> =
2 para. os pont.os acima. Há uma
clil'nsúo da. propriedade</> da região superior para a região inferior, dcnon1inada
clt' difusão numérica ou difusão falsa.
Pa.tankar [100] define, então, a exist ência da difusão numérica. pelo fa.t.o df'
o <•sc·oamento ser oblíquo às malhas e por existir um gradieute de </> uonna.1 ;1
dirrção de escoamento.

1).5.3 - Considerações sobre os Enfoques

l. Em primeiro lugar, a razão de a Eq. (5.49) ter a solução numérica


igual à exat a, quando se usa upwind, não é pelo fato de a malha. esta r
alinhada com o es<"oamento, mas sim por t er sido usada uma função
de interpolação exata, neste caso 'ttpwind, que é a própria solução do
p roblema. É lógico que, se o escoamento não fosse unidimensional,
11[10 seria fácil encontrar a função de interpolação exata. Mas , se
encontrássemos esta. função exata, isto é, obtida da solução exata
da Eq. (5.53) , teríamos uma solução numér ica t,ambém exata para o
problema da Fig. 5.10, mesmo com a ma lha inclinada em relação ao
vet or velocida.de.
2. Vale recordar, aqui, que o problema da difusão unidimensional, da.do
pela Eq. (3.1 ) para. regime permanente, tem olução nwnérica exata,
independentemente do tamanho da malha, quando usamos diferenças
centrais como função de interpolação. A razão é a mesma apon-
tada no item anterior, ou seja, a fm1ção de interpolação é a própria
soluçã.o. Para citar mais um exemplo, o problema unidimensional ele
convecção/difusão dado pela Eq. (5.3) também terá solução numérica
exata, não importando o t,a manho da malha., se a função de inter-
polação for aquell'I. do esquema. exponencial ' '
3.. Vimos, então, que se usarmos as funções de i nte rpol açõ~s exatas, obti-
das d~ próprias equações diferenciais que se desej~ resolver, a. solução
nwn érila é exata, independentemente do ta.mru1ho da malha e da di-
mension~lidade do problema . Logo, a exist(•u<'ia de erros de trunca-
ment o (i.é. , solução não-exata) está ligada diretamente à natureza da
função de interpolação empregada.
4. O uso, então, de fu nçõe:; ele interpolação não-exatas gera erros de tru n-
camento que podem estar associados a esquemas dissipativos ou não.
Erros de truncamento associados a funções de interpolação do tipo
diferenças ccntrai8 :;ão erros de t runcamento do üpo nã.o-dissipativos,
que produz.em as chamadas oscilações numérico,s, enquanto os asso-
ciados a funções de interpolações do tipo tipwind são dissipat ivos <'
suavizam os gradientes existentes no domínio, produzindo a chamada,
difttsâo numérica. fenômeno semelha nte ao provocado pela difusão
física.
92 C. R. M <Lliska

5. As iucxatidões nas fuu ções de interpolação podem ser geradas de di-


versas formas. Uma delas é o uso de funções de interpolação uni-
dimensionais em problemas 2D e .3D, que é o caso do problema da
Fig. 5.10.

5.5.4 - O Enfoque deste Texto .

Com base nó~ comentários anteriores, fico u cla.ro que o uso ele funções
de intcrpola.ção não-exat.as dá origem aos erros de truncamento. Tais erros
de truncamento podem ser classificados em dissipativos e não-dissipativos e
originam, respectivamente, a difusão numérica e a. oscilação numérica.
É mais consistente, então, definirmos a difusão nitmérica como sendo os
erros de truncamento de nat·urcza dissipn.tiva, associados à aprox·imação dos
termos convectivos por esquemM dissipativos, catisados pelo fato de a função
de interpolação não ser exata. É lógico que, em problemas bi e tridimensionais
complexos, nunca teremos a possibilidade de usar funções de interpo.lação exa-
tas, pois j á teríamos de saber, de antemão, a solução do problema. Logo, nossos
problemas serppr~ estarão contaminados de difusão numérica, se aproximarmos
os termos convectivos por esquemas dis:;ipativos. Poderemos tentar minimizá.-
la, criando funções de interpolação o mais próximas possível da solução do
problema físico a ser resolvido.
Com esta. definição, o leitor poderá tentar concluir que um problema bi-
dimensional de conduçfio pura, onde são usadas diferenças centrais u11idimen-
sionais em cada termo, inciependcntementc, o que caracteriza uma função ele
interpolação não-exata, possu i difusão numérica.. Para dissipar esta. dúvida.,
devemos Iembra.r que a difu.sã.o nitrnérica aparece apenas quando erros de trun-
camento dissipativos estão associados aos termos convectivos, e a oscilaçl'io
numérica, a.penas quando erros de truncamento não-dissipativos estão associa-
dos a estes mesmos termos. Existem erros de truncamento, sim, pois a. função
de interpolaçã.o não é exata, mas eles não dão origem à difusão numérica e
nem a oscilações numéricas. É por isso que não encontramos dificuldades para
resolver numericamente um problema bi ou tridimensional de condução pura
usanc!o diferenças centrais. Basta refinar a malha que obteremos uma. solução
ten<leu<lo ~i solução exata.
Dent.ro deste enfoque, contrário ao ensinado em {100], o uso de diferenças
centrais pa.ra. aproximar os termos convectivos elirnina a difusão numérica. Ao
usarmos diferenças centrais, os erros de truncament.o são não-dissipativos, não
dão origem à difusão numérica e podem SC'l' eliminados pelo refinamento da ma.-
lha. Um exemplo disto está. no trabalho ele Silva. [128), que resolveu o problema
da propagação da. clescontinuida.dc dado pela Eq. (5.53), na malha inclinada,
usando diferenças centrais unidimensionais como fun~\o ele interpolação dos
termos convectivos, obtendo um resultado sem difusão numérica, isto é, sem a
suavização d<\ descontinuidade.
Gomwcçno e Diftmi.o Htn('O<'.~ de l n i.<'l'1JOl<Lç1w !J:I

Novnm<'lltC' contrário ao ensinado cm [100], a difusão uumériea pode <'Xist.ir


1•111 prohlc•11rns 1111iclimensionais sem gradiente lat.cral. Considere o problC'nHt
1111 idi 11 1<' 11sional ele convecção/difusão dado pela Eq. (5.3), sendo a proxi111ado
11 i;1111do nvwind 110 termo convectivo e diferenças centrais no termo difusivo.
< 'n1110 esta funçfi,o de interpolação não é exata e existe um esqueh1a dissipativo
( 11.711uind) associado à. representação do termo convectivo, pela definição deste
t 1•xt o, C'xistc difusão numérica. P ara comprová.-la, basta resolver o problema
1111111c•ricamente e verificar que o perfil será mais difusivo do que o obtido pela
~olu <:ão exata, quando o termo convectivo predominar.
1~111 problemas de convecção dominante bi e tridimensionais, usando fun-
•:•H'~ de interpolação unidirnensiona.is, a difusão numérica é acentuada, pois,
p11 r t1, aliviar as oscila.ções numéricas, os termos convectivos são aproximados por
1·~q11rmas dissipativps do t ipo upwirui, e as funções de interpolação afastam-se
liast.ante das funções de interpola.çã.o exat.as.

Funções de interpolação não-exatas

Erros de truncamento Outrós


associados à representação erros de
dos termos convectivos truncamento

Dissipativos Não-dissipativos
(di fusãó numérica) (osci lações numéricas)

\, ,.
'\ig. 5.11 - A origem ela difusão nu m é ri ca. '

Deve-se salientar que é errado o conceito de difusão numérica dissemina.do


Pntre os a nalistas numéricos que usam volumes finitos. T al conceito sugere que a
mesma nã.o está vinculada. aos erros de trunçamento e sim, fundamentalmente,
;\ inclinação cio vetor velocidade com a malha. O não-alinhamento do vetor
vd ociclade com a malha apenas torna as funções de interpolação unidimensio-
nais ma.is inexatas, gerando erros <le truncamento que poderão dar origem à
d ifusão numérica, à oscilação numérica ou a. outros erros desse gênero. A di-
fusão numérica. diminui com o refino da malha, e isso também ocorre com todos
os demais erros de truncamento, desde que a aproximação da equação diferc11-
C'ial seja consistente . A Fig. 5.11 mostra os diferentes erros ele truncamento,
mostrando a origem ela difusão e da. oscilação numéricas.
!)ti G'. R. Ma.liska

Par<\ finalizar, saliente-se que a boa função de interpolação é aquela oriunda


da <'qnaçã.o diferencial que se procura resolver. Portanto, efeitos transientes,
difw;ií.o lateral , convecção lateral e termos-fonte, etc. devem ser contemplados.
A 8cguir, serão discutidas mais algumas funções de interpolação que pro-
rnra.111 diminuir a difusão numérica.

5.6 - Outras Funções de Interpolação


Se o uso de funções de int.erpolação unidimensionais em problemas multi-
cli rnensionais gera difusã.o numérica, a solução é criar funções com a dimensio-
nalidade do problema.. Muitos esquemas desta na.tureza existem na literatura.
Apenas as idéias básicas de alguns deles serão apresentadas, uma vez que não
é objetivo dest.e texto fazer uma revisão do assunto.

5.6.1 - SUDS e SWUDS - Skew Weighted Upstream Differencing


Schemes

As idéias precursoras no clesenvolvimento 'cle funções de interpolação bidi- •


mensionais foram apresentadas por Raithby [111 J ao desenvolver dois métodos
que criam funções de interpolação alinhadas com o vetor velocida.de.
Corno na maioria dos códigos computacionais a malha é fixa, e mesmo nos
códigos adaptativos é difícil fazer a adaptação da malha com o vetor velocidade
para todas as regiões do domínio, o natural é escre.ver a função de interpolação
ao longo cio vetor velocidade. Dest.a forma, para avaliar, por exemplo, o valor de
<P na fa ce oeste, conforme mostrado na Fig. 5.12, os valores da variável em Sill,
N, W e P participam na função de interpola.ção, em vez de apenas participarem
W e P . É fácil ver que a função de interpolação unidimensional dada pela
Eq. (5.30) pode ser, agora, aplicada ao longo de 0- L, usando, como condições
ele contorno, os valores ele </; int.erpolados dos pontos nodais. Fazendo isto,
um elos fatores da difusão numérica, o alinhamento do vetor velocidade com a
malha, fica a.nu lado. Outros fatores devem ser, ainda, l.evados em consideração,
como difusão transversal ao escoamento, termos-fonte etc.
O esquema a.ssim criado envolv<~rá nove pontos para a situação bidimen-
sional, gerando matrizes de nove diagonais cujos métodos de solução devem ser
mais robustos.
Conforme já salientado mais ele urna vez, a função de interpolação mais
adequada é aquela obtida ele uma equação diferencial o mais próxima possível
ela equação a ser resolvida. Para problemas bidimensionais, a equação de
transporte convectivo/difusivo bidimensional, sem considerar os termos-fonte,
pressão e transiente, parece ser uma boa alternativa. Considerando p e u cons-
tantes localmente, esta equação, escrita. para a face w, tem a forma

Ô</>
(pu)w ~
Ô<b
+ (pv)w ~
.
= ri:

n
2
d>
-~
+ uy
n ;
ôd>)
2
'. ,' (5.56)
ux uy ux w
Convecção e Difusão - JAmções rlc lntcrpolru;á.o üli

Esc:rc vcndo a Eq. (5.56) para. as direções se n, conforme a. Fig. 5.13, temos

\t i ô4> = r<t> (ô2<i> a2</> ) (5.57)


P w âs w ôs2 + ân2 w

nudc V é a magnitude do vetor velocidade. A solução exata da Eq. (5 .57) é


(,l'ahalhosa de ser obtida. Uma solução que admite uma variação linear de </>
nornial ao escoamento é

(5.58)

onde k 1 e k 2 são constantes e (x,y ) são medidos ao longo da normal ao es-


rnamento.. caracterizando os pontos do domínio. As ---- constantes sào determina-
...... ,.------.....~--~

<l9s usan~p~~~_?~1od~s- g~ inl~~!f~!la. f.<iÇ~.Q.fili.!.~

-
/ ' - .... . -. ____.-:;;____
l'w~ç~.o dejnte1J?.Olação assume que <i> varia linea®cnte na direção normal ao
~

('HCOa~to. Quando o-gfadiente de <j> norma.l ao escoamento tende a zero e a


-~·------

<·ouvecçãof;)r dominante localmente, a aproximação torna-se ?Lpwínd.

NW N NE
• /
\ •
E

\ p / e •
s
s SE

(_......._ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _--+-_

\ ,. . Direção do vetor velocidade local

Fig. 5.12 - Pontos nodais envolvidos no esquema SUDS.

As equações dos coefi cientes, não mostrada.s aqui, permitem concluir que
existe a possibilidade de coeficientes negativos, dependendo da inclinação do
vetor vdoddad_e. É um esquema que diminui a difusão numérica, mas, cm
!>G C. R. Mahskn

fnução da complexidade de vido ao controle de ângulos do vet or velocidade, é


cw nplicado para implementação. lVluitos esquemas baseados no esquema de
.Raithby (11 1] foram desenvolvidos, procurando elim inar o problema do coefi-
ciente negativo, cios quais citamos os de Lillington [48] e Hassan et al. [38],
entre outros.

NW N NE
• • fts

~n

w~ w
• Vº •
p
'e
E

1v1 /
~

s
sw s SE
• • •

Fig. 5.13 - Direções tangencial e normal ao escoamento - SUDS.

Huget (42], recentemente, propôs dois novos esquemas baseados no SUDS,


o MSUS (Modified Skew Upstream Scheme) e o MvVUS (.Mass Wei,ghting Ups-
tream Scheme). Eles melhoram os resnltaclos obtidos pelo SUDS, sendo o último
deles bastante estável, sem geração de coeficientes negativos e sem apresentar
oscilações na solução convergida. Muitos outros métodos não pertencentes à
família do SUDS não são aqui mencionados pelos motivos já expostos.
O outro método desenvolvido por Raithby (115], o SWUDS, emprega tam-
bém a Eq. (5.56) e propõe uma solução par a e/> da forma

,/. l
l./J :::;} + B ( y -=:;- Vw ) + C ecix +bu
'Uw +X -=:;- · (5.59)
. IVI IVI
onde a e b, reconhecidos como os números de Peclet em x e y, são da.dos por

a = pttx 1 b- -pvy 1 (5.GO)


rcp w - rs~ w

Observa-se que neste esquema existem os balanços difusivo e convectivo na.


direção do escoamento, ausentes no SUDS. No SUDS, este fato causava dificul-
dades para resolver problemas de baixa velocidade, em virtude de a inter polação
ser fixa e ·npwind na. direção do escoament.o. Mais uma vez, a dificuldade deste
método é a complexidade de implementação e o tempo de cálculos das funções
exponenciais.
r•.(i .2 - Fu11ções d e Interp o lação U nidime n s iona is com
T ermo Fonte
Os osquc tuas skew, que procuram levar em consideração a dimc11:;ionali-
d11d<· do problema na função de interpolação, são métodos bastante pesados do
ponto de vis ta de lógica de fun cionamento, pois necessitam ele grande mímero
d1• conferências para verificar o quadrante do volume de controle pelo q ual in-
p,n•ssa o fluxo de massa. Além disso, envolvem nove pont.os para problemas
hidi111('11sionais e 27 para tridimensionais. É bom lembrar que, quanto mais
rn111plcxo 6 o algoritmo, mais <lificulcla des se tem para a sua convergência. A
l111pl<' mcnt.ação ele funções ele interpolação complexas (mesmo que muito pre-
<'iHn.-;) só ó viável em programas acadêmicos. Em um programa comercial, é
111 viável comprometer a. estabilida de e rapidez do método com funções de inter-
polação cujo acréscimo em precisão é discut ível e depende de cada. problem a
P111 particular.

Na opinião dest e a utor, nestes casos, é preferível im plementar uma função


d1• interpolação unidimensiona l, mas q ue leve em consideração os o utros efeitos
dit equação rliforcncial de forma explícita. Uma extensão elo WUDS com esta
fi losofia é agora descrito.

G. 6.3 - W U DS-E - W eighted Upstream Differ·encing Scheme-E xtended

O WUDS-E [144,145] resolve a mesma equação diferencial unidimensional


r1'solvida pelo WUDS, incluindo todos os efeitos restantes no termo fonte. O
<'H querna foi desenvolvido para coordenadas genera liza.das, mas é aqui apresen-
1.ndo em sua versão para coordenadas cartesianas. A equação apropriada é
<'Scrita como

ô<P éP</>
{J'ii- -
ôx
r -8x 2
+B = O (5.61 )

onde B é dado por 1.


1

\ ap a2 <1>
B = - - r - :2 +pv - · - S
a0 (5.62)
ôx ây ôy
A &1. (5.61 ) é a Eq. (5.3) com um t ermo fonte adicionado, o que implica.
que sua. solução é semelhante. Fazendo as segu intes aclimensionaliza.ções, dadas
por

Ç= x ~ :r;p
(5.63)
xe - xp

(5.64)

B D.x2
B* = - --·-
p t> (5 .G5)
98 C. R. Maliska

encontramos a equação diferencial que deve ser resolvida para se obter a função
de interpolação

ô ' fJ2</>
- Pe_!!_ + - 2 + B * = O {5.66)
Ôf., âf.,
onde devemos observar que a variável <P não foi adimensionalizada, proposita-
damente. A solução da Eq. (5.66) é

' F r
. = L + 1· 2e
</>
P eÇ
+ -nPee
•ç
- (5. 67)

Usando as condições de contorno

</> = <i>P em f., =O <!>= </>e em f., =1 (5.68)


determinamos as constantes F1 o Fz . Considerando malhas igualmente espa-
çadas, podemos determinar o valor de <f>e usando f., igual a obtendo-se !,

eP" - el:,f
</>e= </>P [ ePe - 1
l [e.!f - 1]
+<!>E e Pe - 1 + s;
[(1 - 21) 1l
e1r
ePe - 1 + Pe (5.69)

A equação para <f>e, rearranjando os coeficientes, pode ser escrita como

(5.70)
onde

a.p
1
= 2 + O'.e ae = -21 - O:e
d -
e -
O:e
Pe (5. 71)

onde ae é o coeficiente dado pela Eq. (5.35), repetido abaixo por conveniência

1 e lf - 1
Cl' -
e -
-
2
- -,,,- -
e Pe - 1
(5.72)

A Eq. (5.62) para o termo fonte B inclui, também, o termo de pressão,


o que só faz sentido quando efJ for uma das componentes do vetor velocidade.
Quando isto não acontecer, é d aro que o termo de pressão desa parece. O
próximo passo para concluir a obtenção de <fae é avaliar o termo fout.c B*.
Considera.nclo a F ig. 5.14, os termos de B são avaliados por
2
.ê..x âP 1 = Pe - Pp .ê..x (5.73)
f</J ôx e r~; .

(5.74)
Convecção e Difusâo Fnnçõcs <fo lni.mpolnçnu !)!)

ó:i;2 r<Pô <i~


f<f>
2

ôy 2
= (óx) ( ef>N+<PN B+ ef>s+ ef>se- 2(<far-;+ef>p))
t::.y
2

2 .
(5.75)

-
pv ôef>
-
J\
LiX
2 _
-
pv ,
- w1 •X
• ( ifJNE + </JN - ef>sE - ef>s) -óx (5. 76)
f<P ôy f<P . 4 t::.y

u 1Hlc o termo que adimensionaliza B foi multiplicado nas equações acima par a.
Hn obter as expressões adimensionalizada.s.

NE
~ •
'
'

p E
•w • . •e •
s SE
• •
' '
Fig. 5.14 - Pontos usados na avaliação de .B* .
.
O que podemQ.fi observar é que, d<~pois do valor ·de B; ser aproximado
uurnericamente e substituído na Eq. (5 .69), a função . de i~terpolação leva em
conta todos os ~011tos vizinhos, como se fosse um esquema skew. Existem dois
procedimentos 4ue podem ser considerados. O primeiro é avaliar o termo fonte
com todos os valores nodais de cp da iteração anterior; o que faz do termo
fonte simplesmente um número e da Eq. (5.70} uma função de inter polação
1tnidimensional cuja influência dos volumes 1V, N E', S e SE é considerada
cxplícit.a. Para um problema bidimensional, a matrí:t de coeficientes contínua
ele cinco pont.os, o que é vantajoso. A outra alternativa é considerar os valore~
de ó em N, N E, Se SE como implícitos, de tal forma que a Eq. (5 .70) teria
a forma

(5.77)
100 C. R. MaLiska

Note-se que, nesta segunda alternativa, o termo B foi consick•rado cons-


tante para achar a solução exata da equação diferencial dada pela Eq. (5. 70).
Depois de aproximado numericamente, sugere-se que o mesmo participe impli-
citamente. Assim, ao substituirmos o valor de <Pe na equação integra.da sendo
resolvida, o algoritmo aumentaria o número de dia.gonais da matriz. Quando o
va.lor de cjJ fosse ava.liado nas quatro faces , o aigoritmo bidimensional passaria
a ter nove pontos. Esta segunda alternativa não foi amadurecida nem imple-
mentada, uma vez que a idéia surgiu no momento da redação deste texto. Fica
como sugestão ao leitor fazer uma análise dos coeficientes e verificar se existe
potencia.l para esta alternativa. A primeira possibilidade, por outro lado, foi
exaustivamente testada.
Com relação à derivada de</> nas faces do volume, no método WCDS-E, a
mesma não é obtida. pela derivação da função de interpolação unidimensional,
como é comum, pois o esquema foi desenvolvido para malhas não-ortogonajs.
Neste caso, a derivada de <P em uma única direção coordenada (não coincidente
com a normal) não ava.lia o fluxo total, sendo necessária a derivada em relação
á normal.

F ig. 5.1 5 - Avaliação da de riva.da normal em e.

P<'\.ra exemplificar como é fc it.o o procedimento, a Fig. 5.15 considera uma


malha não-ortogonal onde são mostrados os pontos A e B cm que os valores
de c/J sã.o obtidos por interpola.çã.o dos valores vizinhos. A derivada de </> em
relação à. normal é obtida, considerando .8 = 1, por

</>A -</>a
ª<PI (5. 78)
ôn, 6.L
onde <PA e </>B são obtidos por iut.erpolação entre os pontos </>e e <i>N E, e <f>p e
</>s, respectivamente.
Convccç<LO e Difi.t.sno Hmço<~s de lnl<•i·pofoçno 1O1

É 16giC'o que, para malhas cartesianas, a derivada fica

ª <P I ef>E - <t>P (5.70)


â:i; e = ti.x
Alguns casos limites desta formulação podem ser analisados. Em primeiro
lugar, é fácil ver , combinando as Eqs. (5.70) e (5.71), que, se o termo fonte for
111110, o valor de <Pe reduz-se a

(5.80)

que é a. expressão obtida com o método W UDS. Considere-se, agora, um escoa-


mento bidimensional sem termos de pressão, com S = Oe uma malha cartesiana
igualmente espaçada. Neste caso, o termo B * estará considerando a convecção
<' a. difusão lateral , sendo expresso por

B * =· - -
pv /\, ( <PNe+ <!>N - </>sE - cPs ).6.x
-+
r 4> L...J. X 4 ti. 11
(5.81)
<Í>N E + <l>N + <PsE + </>s - 2</Je - 2ef>p ) ti.x2
( 2 D.,y2

Defin indo as seguintes grandezas

- c/Jp + <f> E (5.82)


cPx = 2

:;:-_ <f>N + <l>N E+ </>ss+</>s (5.83)


'f'y -
4

·n - </>N + cPNE - <Ps - <


PsE (5 .84)
' '-'y - 4
1
puilx
Pe" = ~ (5.85)
I
(5.86)

podemos escrever B~ como

D * = - 2P e'1/ Ry + 2 (</>y - </>a,) (5 .87)


P ara o caso limite de P ey e Pe"' tendendo a zero, isto é, condução pura.
bidimensional, temos
3- 1-
<l>e = 4efix + 4</>y (5 .88)
102 C. R. Mai'iska

de onde pode mos verificar que o valor de <!>e carrega a influência de 75% da
int;erpolação linear em :'e. e 25% da interpol;;1ção linear em y , ou seja, a função
do interpolação é bidimensional, mesmo para o problema apenas difusivo. P ara
o caso de difusão pura unidimensional, <Pe se reduz a <f>x, como espera.do.
Para o caso limite unidimensional com Pex tendendo ao infinito teremos
a recuperação do esquema upwind

</>e= <f>p (5 .89)


como era esperado. P a ra finaliza.r, para o caso limite onde Pex e Pey tendem
ao infinito, isto é, convecção pura bidimensional, temos para valor de 1>e

. '
= <l>p </>s + </>sE - - +-
</>N- <!>N E
<l.> e . + 8 8 - (5.90)

que novamente mostra que a função de interpolação é bidimensional. Tarnbém


podemos ver o aparecimento de um termo negativo que, dependendo de sua
magnitude, poderá ca.usar dificuldades na solução.
Os testes realizados com a formulação WUDS-E no problema ela convecção
ele um pulso mostram que o método tem a mesrn;;i pe rforma nce de métodos
skew, que são naturalmente bem mais complexos e a.urnentam a banda da ma-
triz. Deve ser lembrado que uma função ele interpolação unidimensional, mesmo
com termo fonte, sempre carrega alguma difusão numérica. Os resultados po-
dem ser vistos e m [144,145].

5.6.4 - FIC - Função de Interpolação Completa

O método FIC [146,147], desenvolvido parn coordenadas generalizadas,


segue as idéias apresentadas em [126] uo âmbito do método dos elementos finitos
para volumes de controle (CVFEM). A idéia básica é buscar uma função ele
interpolação a mais próxima possível da solução exata. É lógico que a. for~a de
obter a função de interpolação da maneira até agora apresenta.da, r<~solv(~,do
uma equa.ção diferencial parcial, não se aplica, pois, na busca da função ~e
interpolação idea.1, teríamos que resolver analiticamente a equação completa de,
conservação de c/J.
Se não é possível obter a função de interpolação analítica, por que não
obtê-la numericament.e? Desta forma, t.anto a função de interpolação quanto
a equação diferencial de interesse seriam obtidas numericamente. Como a
função de interpolação seria obtida numericamente, poderíamos determiná-Ia
de modo que todos os efeit.os sejam considerados. Lembrerno-nos de que a. boa
função de interpolação é aquela que está o mais próxima. possível da solução
da equação que queremos resolver. O método FIC tem este objetivo. Também
este método foi desenvolvido pa.ra aplica.çã.o em coordenadas generaliza.elas, cuja.
simplificação para o sist ema coordenado cartesiano é feita a seguir.
Nosso objetivo é obter o valor de <fae d~. equa.ção diferencia,! completa. A
Fig. 5.13 auxilia em most.rar os pontos nodais que farão parte da expressão.
ConV<!CÇ<io e Di/'ttsrio F'nnÇÕ<'S ri.e ln lC1'1JOlaç<io 1o:i

1•:1'<'l'C'vcndo a equação dife rencial bidimensional para a conservação de </> no


ponto e, temos

=- âPI + r <Pô2</> I + r <P92</> I +s (5.91 )


º'[) (p</J )
e
+ puª<P I + pvô</> I
âx e ôy e ôx e éJx2 e ay2 e

Vale lembrar que, após a obtenção de </>e da equação acima., a mesma deve
1'<'1'Hnbstituída na integração da equação diferencial que está. sendo resolvida.
Para que </>e possa ser obtido, devemos realizar as aproximações numéricas na
l ~q . (5.91). P ara o termo t,ransiente e de pressão, temos

Ô </>e - </>~
Ôt (p</>)e = Pe 6.t {5 .92)

ôPI Pe - Pp (5.93)
(h; e= 6.~:
no passo que, para os termos convectivos, temos

a<1> I _ CÍ>E - </Jp (5.94)


pu Ô
- - (pu.) e !::::,,
X e . X

ô</>' = ({YU )e <f>N E + </>1v46.- </>se - <f>s


{YU Ô'I
(5 .95)
Y e Y .
(' difusivos

r <Pª2</> I = 4r<J>(t>s+ <f>p - 2<f>e (5.96)


âx2 e e !::::,,;i;2

r<t>ô
2
</>I = r<.~</>:v + ef> tve + </>s + </>sE - 2 (<PP·+ ef>i::) (5.97)
ây2 e e 26.y2 •
O termo fonte S d~ve ter a. sua aproximação de acordo com a sua. expressão
específica para. a. variável </>. Substit uindo as expressões a.cim a. na Eq. (5.91),
encontramos a expr~ssão para </>,,, dada por
/

De forma semelhante, podemos determinar <!> nas outras três interfaces e


subsLituí-lo na. equação diferencial integrada, obtendo a equação aproximada
que forma1:á, o sistema li near para determinação de </>. Os coeficientes, tanto
da Eq. (5.98) como da equação final, podem ser encontrados em (146] . Pela
Eq . (5.98) constatamos que todos os nove pontos vizinhos tomarão parte na,
equação discretizada fi nal para </J. Logo, a matriz será de nove diagonais parn
problemas bidimension<\iS e 19, ou 27, para problemas t ridimensiona.is.
104 C. n. Maliska
É aparente a maior complexidade do método FIC em relação ao Expo-
nencial, WUDS e WUDS-E. Entretanto, resultados com qua.lidade que só são
obtidos com malhas em torno de 40 x 40 com os métodos unidimensionais são
conseguidos com malhas 20 x 20 com o método FIC. Uma análise do tempo de
computação revelou um esforço em torno de 10 a 15% maior usando o FIC.
É deixado ao leitor, como exercício, obter os casos limites para o método
FIC, de forma semelhante à que se fez para o WUDS-E. Resultados obtidos
com o FIC podem ser vistos em (146,147].

5. 7 - Conclusões
Este capítulo teve como objetivo apresentar as funções de interpolação e
o papel das mesmas na aproximação das equações diferenciais. Como aprendi-
zado principal, ficou o fato de as funções de interpolação serem as responsáveis
pelos erros de truncamento de urna aproximação. Em outras palavras, se
tivéssemos a possibilidade de usar funções de interpolação exatas, teríamos
a solução exata do problema, independentemente do tamanho da malha.
Além disso, e talvez o mais importante do capítulo, classificamos os er-
ros ele truncamento como dissipativos e não-dissipativos, definindo a difusão
numérica como sendo estes erros com caráter clissipativo, quando os mesmos
estão associados aos termos convectivos.
Identificamos, também, as aproximações '1qrwínd como dissipa.tivas e mos-
tramos que a existência da velocidade causa difusão numérica, porque, que-
rendo associar a física com a matemática, a velocidade força as aproximações
a tenderem a -upwind.
Salientamos, também, que as aproximações em diferenças centrais sã.o de
caráter não-dissipativo e, portanto, não classificadas como erros de difusão
numérica. Erros não-dissipativos associados à representação dos termos con-
vectivos dão origem às oscilações numéricas.
Na seqüência foram mostradas algumas (das muitas existentes na litera-
tura.) funções de interpolação com as quais o autor tem familiari.dade. Outros
métodos poderiam ter sido descritos, entretanto, como já mencionado, não é
o objetivo do texto rever a literatura no assunto. Por exemplo, o método
QUICK (47], e seus derivados, é um procedimento bastante conhecido e utili-
zado, que emprega um maior número ele pontos em uma. direção coordenada
para obter o valor da. função na interface. Os esquemas TVD - Total Variation
Diminishing estão recebendo atualmente grande atenção em todas as áreas [40]
de aplicação e constituem-se em uma boa alternativa para o desenvolvimento de
funções de interpolação robustas. Uma apresentação bastante completa sobre
métodos TVD pode ser encontrada em [40]. Novos esquemas estão sempre em
desenvolvimento e comparações entre métodos estão sempre sendo realizadas.
Um recente trabalho [82] apresenta comparações entre QUICK, CDS, FIC e
TVD, culminando com a sugestão ele novos esquemas.
Uo'll!Ul'CÇCW e Di.fu.sâo Pnnçôcs 1le .lnl:er11olr1,ç11.o 1o;,

õ.8 - Exercícios
5 .1 - Explique como aparecem as ocilações numéricas e a difusão numérica
1111 solução de problemas convecti vo-dominantes.
5.2 - Por que o rc-fin o da malha elimina a difusão numérica e a oscilação
1111111(,rica?
G.3 - Para verificar o aparecimento das. oscilações numéricas e da difusão
1111111érica, o problema uniclime n::iional de convecção/difusão cm regime perma-
1H'11t.e é extremamente útil. Usando uma formul ação totalmente implícita e o
111r t.odo dos volumes finitos, resolva a Eq. (5.3), considerando como condições
d<• C'ontorno <P =O em x = O e</>= 1 em x = 1, para as seguintes situações :

a. Diferenças centrais para o termo difusivo e r onvectivo. Aumente


gradativamente a velocidade e observe o aparecimento de oscilações
numér icas na região perto de x = 1.
b. Upwínd para o termo couvectivo e diferenças centrais para o difusivo.
Nova.mente, aumente a velocidade e observe que o gradiente de <P cap-
tado está dissipado, isto é, existe o aparecimento da difusão numérica.,
mesmo em um problema onde o escoamento é alinhado com a malha.
e. Use como fun ções de interpola.ção as Eqs. (5.30) e (5.31 ). Varie o
número de pontos da ma.lha e compare a. soluçã.o com a exata, dada
pela Eq. (5.24 ). Por que a solução é a exata, independentemente do
tamanho da malha? Não existem mais erros de truncamento?
d. Resolva., agora, o problema. usando o WU DS ·com a e (J dados pelas
Eqs . (5 .38) e (5.39). O resultado numérico será novamente indepen-
dente da malha? Por quê?

5.4 - Obtenha a solução exa.ta da Eq. (5.61) utilizada no método \.VUDS-


E. Obtenha, também , as Eqs. (5.88) a (5.90). .
5.5 - Empregando a função de interpolação completa(FIC) descrita na
seção 5.6.4, mostre que, quando P e;, e Pe~ tendem a zero, a função </>e fica

<t>~ = O, 8q)., + O, 2(f>Y (5.99)

oude k., é dado P/ •


Sp:_-r; (cj>p-
. <P )
'E (5. 100)
CAPÍTULO SEIS
Convecção e Difusão
Tridimensional de </>

6.1 - Introdução
Os capítulos aJ1teriores apresentaram toda a base necessária parn. se ob-
ter, numericamente, a solução ele um problema de convecçAo/clifusão, para si-
tuações unidimensionais, considerando conhecido o campo de velocidade. Neste
capítulo, realizaremos a integração da equação de conservação de <i> para si-
tuações tridimensionais. Continua-se admitindo que o campo de velocidades
que produz a convecção seja. conhecido. A apresenta.ção da integração da
equ<:~ção em 3D busca apenas deixar completo todo o processo de integraçã,o,
aplicando urna funç,ão de interpolação e apresentando todos os coeficientes. No
Cap. 7, a variável</> dará origem às diversas equações de cons('rvação e métodos
para resolver o sistema de equações diferenciais parciais serão apresentados.

6.2 - Integração da Equação para <jJ em 3D


A Eq. (2.4) deverá ser integrada no tempo e ~o espaço mostrado na Fig. 6.1,
onde, para faci litar a especificação das dimensões, apenas as retas que unem os
centros dos volumes de controle são mostra.das. Já. sabemos que as seis letras
rninúsculas identificam as interfaces do volume de controle centrado em P. A
integração da equação de conservação para </>

{ : (p<fa) dV dt + / : . (pwp) dV dt + . { : (pv</>) cW dt+


l v,t t lv,1 x l v,t Y

{ ~., (pw<!>) dV dt = {
8
. (r<t> ~) dV dt+ (6 .1)
}~ }~t 8 X
àâ'

u- X

f 8
8
(r<t>~<P) dVdt + f ~ (r4> 88~) dVdt + f .'J'Í'd\fdt
lv,i Y r;y .fv,t uz "' l v,1.
Convecçrio e Di/1isrio 'l 1rirli'llttm..~irmr1,l rfo </> 107

110 t<•111po <' Hohrc o vol u111e ele cont role centrado em P nos d<í

(6.2)

D2 -ô<P 1º + D3 -Ô</> 1º - D3 -ô</> 1º + L [S </> ] o


ây s âz 1 âz b

w
E

s
Fig. 6.1 - Volume elementar t ridimensional.
I "
onde os fluxos de massa e os coeficientes difusivos sã,o dados por

Me = pu.6.y.6.z le 1'1w = pu.6.y.6.z l {6.3)


'W

Mn. = pv.6.x.6.zl 1Ús ::::: pv.6.x.6.z 1s {6.4)


n
108 e. n. Mati.ska
lVÍJ = P'WÓ:1:6ylf lvh = pw6x6ylb (6.5)

D ie = [4'6y6zl~ D 1w = r <P6y6z l (6.6)


lJ)

D2n = r <P D.xD.z l D2 s = [ 4' 6 x 6 z ls (6.7)


n

1
D3f = f" °'6x6:1J I/ Dsb = r~~ 6.:1:6.vt. (6.8)

O sobrescrito B, mais uma vez, significa que a variável em integração ao


longo do intervalo de tempo é avaliada em uma posição intermediária entre o
instante t e o instante t + 6t, originando as formulações totalmente implícita,
implícita e explícita.
Rigorosamente, os fluxos de massa nas interfaces também são avaliados em
e. Entretanto, como na formulação implícita e totalmente implícita a equação
deve ser linearizada, os fluxos farão pa.rte dos coeficientes que serão avaliados
corn os valores das variáveis disponíveis na it.eração anterior. Como os coefi-
cientes são atualizados, quando a solução convergir, tanto os coeficientes como
a variável da equação estarão sendo obtidos no mesmo nível de tempo. Poi·
essa razão, os fl uxos de massa não carregam o sobrescrito().
11
O termo L [S<P] signifi ca a aproximação numérica do termo em colchetes e
sua linearização será feita. de acordo com o que foi visto no Cap. 4. Esse termo
poderá conter o gradiente de pressão se </J for uma das componentes do vetor
velocidade.
Escolhendo a função de interpolação no tempo, conforme já discutido no
Ca.p. 4, por

<Pº = 8<P + (1 - O)<!>º (6.9)

onde devemos lembrar , novamente. que a variável <f> sem sobrescrito siguifiC<\ a
avaliação da mesma no instante t + 6t.. Empregando a função de interpolação
unidimensional do esquema WUDS, dada por, para os termos convect.ivos,

~e= (~ +ac) ~!' + (~ - C~e) Q)H (6.10)

<Pw = ( ~ + lfw) <f>w + ( ~ - Ow) ~ I' (6 .11)

4JTl = ( ~ + ltn) ~p + ( ~ - Ün) q)N (6. 12)


C<m:uccçci,o e Difu.slio 1h rl·imc·11..~ionril. 1fr rfa 1OH

</>s= (~+as) <f>s + .(~- as) q)JJ (6. J3)

~/ = (~ + O:/) q)p + (~ - lYJ ) </>F (6.14)

q)b = ( ~ + lYb) </> B+ ( ~ - lYb) <f> P (6.15)

e para os difusivo.e;

f <P
e
(ª<f> ) = P e f <Pe ( <i>E6 -X e<f!p )
àx e
(6. 16)

rw (ª<!
<P >) · (rpp. 6x~
ôx w = .6w f~
- <i>w) (6.17)

r,.,, (ªeà·Yf> ) n
ef> -- .B.n rn (<f>N. 6 -, <f>p)
<i>
· Yn
(6.18)

r"''
,
(ª<!>)
Ôy s
== .8sf ef> (if>.p - <Ps )
s 6ys
(6.19)

r <t>
f
(ª<P)
ô- "' f
= B r .P
.f f
(ef>F"-"'!<f>p )
Ll~ •
(6.20)

r "'b (ª<!> ) = .Bbrb<t> ( <PP"- </>B ). (6.21)


v!:> z b LJ.Zb .

e substituindo os valores de <!> e de suas derivadas nas interfaces na Eq. (6.2),


obtém-se
.
M p</>p
~ + </>0p [ Me
· (1 ) · (1 ) + · (12 +a.,.) -
2 + o:e - Mw 2 - o:w I'vfn

-D, í3 l + -D i(J I + -D2,6 l + -D2i3 \ + -D3/3 \ +D3


,81] =
-
6:t " 6 :i; ·w 6y n 6y s 6 z f 6z b

0
</>e [ - ( 21 - O:e) · +
Me D1ª11
6~ e +
(6. 22)

<i1>0w [(l2+a:w) .· iVlw + D1.6


8
6 x \ w +<P,v [ - 1 . (12 - 0:n) J\!f,,,· + ·Dd3
6y \n] +
L10 C. R . Mnliskti

Para auxiliar a obt,enção da equação aproximada para a variável <b, a


equação da conservação da. massa deve ser empregada. Fazendo <P = 1 e o
ter mo fonte igual a zero na Eq. (6.2), recuperamos a equação da conservação
da massa, como
Mp - M<p . . . . . .
t::..t +Me - Mw + M,. - Ms + l vf1 - Mb =O (6.23)

Adicionando a equação da conser vação da massa, Eq. (6.23), mul tiplicada


por - 1, no interior do colchete que multiplica <fa~, encontramos

(6.24)

An<PN
·O
+ A f'l'F
,;.O
+ A b'rB
A.o
+ lvf[, ·o S AV
ê:i.t fl>p + Cu
onde

Ae = - ( 21 - O:c
) ·
iVle + D1í3
6.x e
I

A111 = ( 21 + O'.w ) .
Nf w +
D i[31
f:.x w

An = -. ( 21 - a:,. ) ;"\tf,.
· D1J3 1
+~ (6.25)
Y n

A1 = - ( -21 - ªJ ) M1
· + -D31fi
fiz
l
1
Convecçâo e Dif1isiío Tridimcnsionnl de </> 1 11

No Cap. J, onde discutimos os aspectos gerais de uma aproxin 1açfw


1111111(11'i('lt ;ü 11da 110 contexto unidirnensionaJ e cio método de diferenças finitas,
lc 1111111 11,presc11tados os diversos t ipos ele formulações relativamente ao avanço
il 11 110l11 <;íl,o uo tempo. Com a obtenção da equação aproximaéla para <P para
1111 11 11<;0<'11 tridimensiona is, é importante retornar a este assunto. Agora, com .
11111 111111Ja.<;;\mcnto numérico melhor do que aquele que tínhamos no Cap. 3, po-
rl1 111101-1 f':t:1,cr uma aná lise da relação entre os diferentes tipos ele transiente e as
1'111 1111il nçõcs explícita e implícita.

H.:j - Formulação Explícita .


1\ Eq. (6.24) reescrita para e = O, formulação explícita, tem a seguinte
1'01 ' 1111~

M p <j> p
~=<PP
,0 (Mp *) ~ ·o
~t - Ap + L.....,Anb<P NB + Sc~V
,
(6.26)

1111!11 1, 1mra. garantir a positividade dos coeficientes, devémos ter


M'º
~t<~ (6.27)
- Aj:,
l'odcrnos, agora, símplificar a Eq. (6.27) para o problema unidimensional
rl11 <011cl11 ção sem t ermo fonte, considerado no Cap. 3. Para malhas igualmente ,
0

11Hp111;n das, os coeficientes .4e e Aw, dados pelas Eqs.(6.25), resultam f x, com
11 , \/ cl<?vendo satisfazer, de acordo com a Eq. (6.27), o seguinte critério pa.ra
111 11 111.or a positividade dos coeficientes

cdt 1
- -<-
~::i;2 - 2
(6.28)

q111• 1" o mesmo obtido no Cap. 3. •


A Eq . (6.27) nos dá, portanto, a forma geral para. á op tenção do valor
1l<• 6t máximo que a solução explícita pode avançar no tempo. Está claro,
f.alllbém, ~e o máximo avanço permitido no tempo é diferente de célula para
n'-lul a, confÕrme ~1os mostra a Eq. (6.27). MarlipulaJ· o valor de ilt abre a
pm;sibilidade de avança r a solução no t empo, seguindo o transiente real ou. o
transiente distorcido.

6.3.1 - Transiente Real

Quando estamos interessados no transiente l'eal e estamos usando a for-


tnulação explícita, o avanço no tempo para todas as células deverá ser igua l.
Isto é fisicamente fácil de compreender , pois o t ra nsiente deixaria de ser real
se alguns volumes avançassem tempos diferentes. Dessa forma, o máximo út
possível é dado por ·
112 C. J?. . Mafüka

6.tl avanço = min [6.tl máximo


P ] (6.29)

isto é, o máximo avanço de tempo possível deve ser igual ao mínimo elos
máximos permitidos para cada volume, conforme a F ig. 6.2 procura ilustrar.
Assim , o coeficiente de <P? será sempre positivo .

2 Volumes P

Fig. 6.2 - Avanço de tempo p cnni t,ido na form ulação explícita.

Conforme já. salientado no Cap. 3, a formu lação explícita não dá origem


a um sistema linear de equações, mas sim a um conjunto de equações que são
resolvidas uma a. urna (ponto a ponto). Toda vez que uma varrida é real iY,ada
no dom ínio, a solução no novo intervalo de tempo é obtida em um proce::;so
computa.cional extremamente rápido. Esta rapidez, entretanto, é aparente,
uma vez que os valores de 6.t possíveis de serem usados e que ma.nt.êm os
coeficientes positivos são bastante limitados pelo critério da Eq. (6.27). Em
out.ras palavras, podemos dizer que o 6.t é limitado pelo critério de convergência
e não pela precisão, sendo desnecessário, em geral, rc<'llizar um estudo de refino
de malha no tempo, ou seja., refino de 6.t.

6.3.2 - Trans ie nte Distorcido

Quando a. solução de regime permanente é a de interesse, podemos uscu· o


má.ximo 6.t possível ele cada volume elementar, ava.n çando a solução de uma.
forma distorcida, já que cada volume avança diferentemente no tempo. Na
Con'llecçào e Ú'i/11.~fio Tt·iclimcn.~ioual 1l1· </> 11:1

11'l1 l111 lt1 1 11110 <'x isl.<' ina is o cálculo d e uma. so lução cm um d 0t,crminado nf v(') d<•
t11111po n ll rnri n. uiolhor dizer que temos a solução 11um determina do níve l il,er11r
li 111 l 1ngin\1ll<'nl.c', a solu ção ele regime perma nente independe d estas soluçÔl's
dlMI 1111 •1d11l-I in t rrnwdiá rias ao longo do t empo. A Fig. 4.4 most ra os avanços
oi ' 11liu;110 rom o t.cmpo, discutido, naquele momento, no â mbito de problemas
111il1ll1111•11sio11a.is . A E q. (6.26) parn o transiente distorcido, usando o máximo
\/ pns1-1ív<·I para ca da volume elementar, result a e m

- = E A°""<f>Nº 8 + s e!:::.. v·
-J\ilp<f>p
6.t
(6.30)

Nor ma lmente, o método explícito é a ssociado à coordenada tempo. Não


11, p111'(1111 , obrigatório que a coordenada explícita seja sempre a coordenad a
t1111 1p11. Por exemplo, a distribuição de temperatura na r egião plenamente de-
11'11 \'olvid a para. o escoamento entre duas placas par a lelas é governada pela
' 1•11111111 <' C'q uação d iferencial

(6.31)

1J111lt· /1 0 a velocidade a o longo do eixo x .


l ·~ssa equação
pode ser resolvida utilizando-se a formulação explícita., avan-
1;11 11do-H<' explicitamente em x da seguinte rnaucira

y x+L>.::c T "' _ A
O: u X
T N"' + y Sx - . 2·rx
P
p - p- ~ 6.y2 (6.32)

1111

Tp~+L>.o· = yxp (i - 2a6.x)


A
ttu y + 7•x uuy
2
0:6.x
N~ + S'"'"A2'
r x cr6.x
uuy
(6.33)

Observa-se que a temperatura no ponto P na posiçã.o i + 6.x é obt ida. cm


l't 111c;fto ele valores conhecidos na posição .1:. A F ig. 6.3 ilustra o procedimento.
( :o u scq~ntemcntc, sempre que o p rocesso ma rcha r em uma dada coordenada,
d<'l.<'rmina ndo ~s valores da função sem a necessidade de solução de sistemas
li11c•arcs, a. formu lação é explícita. Nesses casos, se1npre existirá uma restrição
110 t.amanho do passo que pode ser usado na coorde nad a explícita.. No exemplo,
n. rcsLrição que 6. x deverá respeitar para que 11ão haja divergência. no processo
<'Xplícit,o é

6.x < ti6.y2 (6.34)


- 2a

que deve ser comparado com o critério dado pela Eq. (6.28) e estabelecida.o.;
s uas semelhanças.
l1 4 C. R. Malisk<i

u (y) e
T (y)
conhecidos Placas
emx=O paralelas

x= O x+ó.x x+2ó.x X
n= O n+l n+2

Fig . 6.3 - Procedime nto de avanço explícit,o em x .

6.4- Formulação Totalmente Implícita


A Eq. (6.24) escrita para() = 1 t em a. seguinte forma

(6.35)

onde

(6.36)

A Eq. (6.35) é a. forma ma.is empregada para resolver numericamente pro-


blemas de :>.focã.n ica dos Fluidos e Transferência de Calor. A formulação to-
talmente implícita é a preferida, pela. possibilidade de avançar o tempo com
í:::.t maiores. Entretanto, rn;ar a formu lação totalmente implícita não significa
dizer que podemos usar qualquer tamanho de intervalo de tempo, pois, qua ndo
est.amos -.....
resolvendo mais--....... de uma- equação (o- que é quase sempre o c<1so), o
. problema do acoplamento pode limitar severameutc o 6.f Estudos de refino do
6.t , pani Se achar H solução independente de 6.t pa ra. aquclE) nível de tempo,
devem sempre ser conduzidos.
Lembra.mos, mais urna vez, que a formulação implícita dá origem a. um
sistema linear de equa.ções. Quando o transiente real é ele int.crcsse, o sistema
linear deve ser resolvido com precisão para. cada. a.vanço no tempo. Quando
esta mos aclot a.ndo um transiente distorcido, resolvernos o sistema linear po-
bremente em cada nível de t empo e avança.mos rapidament e para o regime
Gon·uccção e Difw;âo Tridim<m.~ional de </> 1 1G

111'11111w•11t.<', que•(> o nosso interesse. A outra a lternativa é fazer 6.t baslant.<>


111111d1• (i 11íi 11ilo) e , através da solução precisa de um sistema linear, obtermos
' 11hu;110. n cpelindo o que foi salientado em capítulos anteriores, é claro qu<'
11 '" 11•111 :·wntido (seria. um esforço computacional desnecessário) resolver 11111
11 111si11111<' distorcido implidtamente, usando um método direto de solução do
11111111111H lineares, conforme a lerta a Fig. 4.4.
( :01110 uma (1ltima o bservação, lembramos que quando o transiente real
1 p1 rn·11 n 1 .do, seja explícita ou implicitamente , a condição inicial deve ser a
111111 llt;11<> física real do problema. Quando o transientc disto rcido é a dota do
(l11t1 11Pss<' no regime p ermanente apenas), a condição inicia l é uma estimativa.
1111111 tu• in iciar a marcha d istorcida no tempo, ou as iterações, se preferirmos
1111 111 chamar. No p róximo capítulo, a.prend eremos como calcular o campo de
1 t1l111 iditdcs e pressões.

O. r; - Exercícios
0.1 - Obtenha as Eq. (6.26) e (6.35), com todos os coeficientes, passo a
lill"llH >,
(1.2 - A Eq. (6.33) é a equação a proximada do p roblema dado pela
l .q (Ci.:3 1), quando o avanço em x é feito explicitamente. Faça um algoritmo
11111111111 a.ciona.1 1 dest a.ca.ndo os principais loops do seu programa para o cálculo
dw-1 t1•111perat.uras em todos os pontos do domín io. Existe aJgum sistema linear
11 1111 n•solvido? ·
11.3 - Ainda. con siderando o problema do escoamento entre placas p lan as
1111111 IPIHs, obtenha agora a. equação para a march a t,otalmente implícita cm
, l•:x-ii;te ain da alguma rcst.riçã.o com relação ao tamanho de D.x a ser usad o
1111 iwH.nço da solução cm x? Reformule o seu a lgoritmo com putacional para
l 11111i>r m incluir em seu programa o avanço implícito em x. 'Exist e, agora, algum
1tlHt (•111a linear a ser resolvido dent ro deste a lgoritmo?
6.4 - Ainda para o mesmo p roblema, considere, agora, o avanço implícito
«111 .1· com () qualquer, isto é

~- _âây22T 1 = (1 - B) (-âây2
2T) + () (-ô'ây2).T ) (6.37)
_x,,+06.x x 1, x 1,+9.6. x

Determine a. relação entre B e 6.:1: tal que não existam oscilações· que pro-
voquem divergência durante a marcha ern x.
Corno um caso especia l, considere u ma malha com apenas t rês p ontos
(e dois deles sobre a~ placas) com as temperaturas T,v e Ts iguais a zero.
n ccomeçando com a equação diferen cial e aproximando apenas o termo ~, a
i;eguinte equação ord iná ria é obtida

(6.38)
Rcimlva esta equação para obter T p(:t). Existe alguma possibilidade de
o:;ci1ações?
U:;ando, agora , a equação para () qualquer, determine qual é a expressão
de e que garante a solução "exat.a" deste problema simplificado.
6.5 - Rc.solva numericamente o problema de condução/convecção bidi-
mensiona l mostH1do na Fig. 6.4, onde o campo de velocidades V é conhecido.
Como função de interpolaç.ão. use o méto do WUDS.
Este é um problema. importante pal·a a preparaçã.o de seu programa com-
putacional para ilicluir, no Cap. 7, a determinação das velocidades u e v que,
neste problema, são consideradas conhecida.<>. Observe que a. mesma sub-rotina
que você vai desenvolver para calcular os coeficientes para T será usada pax·a os
coeficientes deu e v, no Cap. 7. Portanto, estruture seu programa de maneira
a reservar armazenamento local para as variá.veis T , u , v e p, panl a ma.lhas
b..x e t:::.. y, para as propriedades físicas e para os coeficientes.

y T= O
/

T=O

b /v /

T =O .
.___.

a
~

(.qx)
~

T = sen X

Fig. 6.4 - P ro blema G.5.

Adimensionalize o problema e resolva para diferentes va.Jores de P et:..x e


Pee:.y e relações a,fb. Estude os casos limites e compare, quando possível, a
solução numérica com a analítica. Por exemplo, para u e v iguais a 7.ero,
o problema tem solução exata mostrada no Cap. 10. Parn. a.s faces laterais
isoladas e T = constante em '.IJ = O, tt = constante e 'V = O, o problema fica
unidimensional e possui solução cx;\ta.
Para generalizar ainda mais o problema, cousidere a placa como sendo
de espessura <:, pequena, e coloque um Lermo fonte, função da ternperal,ma,
simulando a convecção de calor que é t rocado pelas superfícies da placa. Nada
se altera do ponto de vista de estrutura do programa e o modelo resultante pode
simular o resfriamento de' u.m a chapa que se move com velociclacle conhecida.
,
CAPITULO SETE
1>oterminação do Campo de Velocidades
Acoplamento Pressão-Velocidade

7. 1. - Introdução
Pma desenvolver os tópicos até aqui apresentados, em todas as ocasiões
t1111 que foi necessário, o campo ele velocidades foi admitido como conhecido. Na
1t •1ili<l nde, quando estamos interessados em determinar as condições de troca de
1·1ilor por conveccção, resolvendo a equação da energia, o campo de velocidades
11 110 6 t:onhecido e deve ser determinado, a pr·iori ou simultaneamente, com o
i'IUIJpo de temperaturas·.
Pela tarefa a ser cumprida, podemos dizer que existem dois problemas a
Mt ' rl'11~ resolvidos; o problema de iVIecânica dos Fluidos e o de Transferência
d11 Calor. Os dois poderão estar acoplados, corno em problemas de conveção
1111,l.ural, ou quando as propriedade8 físicas variam coni a temperatura; ou to-
l.1dment.e desacoplados, quando a convecção forçada com propriedades físicas
<·011:;tantes for resolvida. Em qualquer dos casos, o problema mais complexo a
Hnr resolvido é o de Mecânica dos Fluidos, em função do delicado acoplamento
C111 l;re a pressão e a velocidade, e as não-linearidades presentes nas equações do
111ovimento*.
Nosso interesse, neste capítulo, é calcular o campo de velocidades acoplado
01 1 não ao ·campo de temperaturas.

7.2- Si~ema de Equações a Ser Resolvido


De acordo c9m o que foi visto nos capítulos anteriores, cada urna das
equações diferenciais deverá ser representada por um sistema de equações al-
gébricas lineares. Teremos, portanto, um sistema de sistemas de equações
algébricas para ser resolvido. As equações aproximadas podem ser obtidas
através da Eq. (6.35), substituindo-se <b pelas variáveis dependentes. Para um
escoamento tridimensional compressível, temos

* Rigorosamente, equação da conservaçã.o da quantidade de movimento linear.


Entretanto, neste texto, por simplicidade, deno minaremos equação do movimeuto.
118 C. R. Maliskri

A 7>up = AeUE + A.wit.w + .r1nUN +.Astts + Arup


+ A11ua - L [P'"] .6.V+ B"· (7.1)

A pVP = Â eVE + ÂwVW + ÂnVN + A sVS + ÂJVF


+ AbVB - L [Pv] .6. V + B v (7.2)

A 1,Wp = AeWE + AwWW + A n WN + A s'WS + ÂJWF


+ Â1>WB - L [PW] 4V + E'" (7.3)

A.pTP = AeTE + AwT1v + A.,iTN + A sT s


+ AJTp + AbTB + BT (7.4)

Mv -Af.º . . . . . .
.6. p + A1e - Mw + J.V!n - Ms + M1 - lVÍb
t
=o (7.5)

P = P (p, T) (7.6)

onde a Eq. (7.6) é a equação de estado, usada para fechamento do problema.,


e tt , v, w, P , T e p são as três componentes do vetor velocidade, a pressão, a
temper.a.tura e a massa específica.. Nessas equações, os coeficientes, apesar de
uã.o estarem com notações diforentes, poderão não ser os mesmos.
A primeira decisão a ser tomada, a.o se tentar resolver essas equações, é
quanto à natureza da solução; segregada. ou s imultânea.. A solução simultânea
dos sistemas de equações algébricas cria. urna única matriz, envolvendo to-
dos os coeficient es e resolvendo todas as incógnitas, simultaneamente. O pro-
blema do a.coplamento entre as variáveis desaparece, rest ando apenas as não-
linearidades, que são consideradas resolvendo-se este grande sistema iterativa-
ment e, atualizando-se a matriz dos coeficientes até a convergência..
Esta alternativa, entretanto, nã.o é viável, uma vez que a dimensão da ma.-
triz resultante é fenomenal, apresentando um alt íssimo índice de esparsidade.
Pa.ra·constatar isto, imagine-se um problema tridimensional e incompressível
com uma malha de 50.000 volumes, de porte médio, por tanto. São 250.000
incógnitas, originando urna ma.triz com 62.500.000.000 elementos, dos quais
apenas O, 0028 % são não-nulos. Não exist e o mínimo sentido em querer tra-
balhar com est a matriz, a não ser que um robusto método de tratamento de
matrizes esparsas seja usado.
A alternativa viável é a solução segregada dos sistemas de equações, isto é,
resolver os sist emas lineares um a um, atualizando os coeficientes . Na solução de
/){'(,1·1"min<içâo do Cmn7JO de Veloci<fodcs Acoplammlo P -V 1 lf)

1111ht sist.<•11m li11N\r em pa r ticular, a prática. é usar, t.ambém, métodos itC'ra t.ivos
dt• so llt<;ao e não métodos diretos, pois os pr imeiros tra ba lham apenas com os
11110 'l.<'l'OH da. matriz.
Optn.ndo-sc pela solução segregada, o problema dos acoplamento::; cnl;re as
vil rl ilV<'iH HC dost.aca e, em mecânica dos fluidos, um elos acoplamentos principais
1• o da ve'lodclade e pressão para escoamentos incompressíveis e escoamentos
1111dP a massa específica não é uma função forte da pressão. Escoamentos de
p,M<'S so111 variação de pressão e de líquidos com ou sem variação de pressão
1•111·nix<1m-se nest a classe de problemas. A razão da dificuldade será, logo mais,
11x pi irada.
Autcti ele a presentarmos os diversos métodos para trat ar do acoplamento
p1•pssiio-vclociclacle, vamos analisar a lgumas características do acoplamento que
1P111 infl uência sobre estes m étodos, tais corno a natureza da formu lação e o
1111 a 11jo das variáveis na m alha computacional.

7 .3 - O Acoplamento Pressão-Velocidade:
Características
A uature7.a segregada do processo de solução requer que cada variável te-
111111 uma equação evolutiva pa ra ser avançada. Observando o nosso sistem a de
1•q111u,;õcs, é fácil identificaJ· que as variáveis v., v, w e T podern ser avançadas
111 1ln <'q11ação cio movimento cm cada direção e pela .equação da euergia, res-
pPr l.ivamente. Pi:na, avançar a prcssã,o, as coisas não são tão claras assim e
d1 •1H·11dem de o escoamento ser compressível* ou não. Para ca<la 11111 desses
plojrn;t111entos existe uma formu lação adequada para a t.acar o problema. Estas
ln111111lações são agora discutidas.

7.~Ll - Formulação Compressível e I ncompressível

Considere-se um escoamento tridimensional com tran~ferên da ele calor


wrd<' existem cinco equações a serem r esolvidas: conservação ela massa; urna
••quação cio movimento ern cada direção coordena.da e a equação ela energia. As
inc·ógnit.a~ão massa específic~\, pressão, tem peratura e as três com ponentes do
\'Ptor velocidade.
Se p tem variação considerável com P. cntáo a equação de estado, rela-
C' iouanclo p CO!Y; a tempera.Lura e a, pressão, é a rclit<:,:ão empregada para o fe.
d1an1ento do problema. A equaç}í.o de estado é cn tii.o a equação evolutiva para
a prcs.são, E>nquanto a equação da continuidade o 6 para a massa específica.

* :\este capítulo entenderemos por compressível, do ponto de vista n umérico, o


1•scoamento onde p varia fortem<'nte com a pressão. 8.~coamentos onde o p varia,
111as a pena:; com a te mperat ura., pertencem à classe pa ra a qual a form ulação incom-
pressível se aplica,
120 C. R. Maliska

Esta formulação, onde todas as variáveis dependentes possuem a sua equação


de evolução, é a chamada formulação compressível. A classe de problemas mais
importante que usa esta formulação é a dos escoamentos de gases em alta ve-
locidade. Nestes problemas, é comum também se usar a solução simultânea
das equações, onde a natureza da lineariza,ção evita a necessidade da solução
iterativa pa,ra atua.lizar a matriz de coeficientes [11,109].
Em princípio, qualquer problema compressível pode ser resolvido dentro da
seqüência abaixo, avançando a solução de um tempo t pa.ra um t empo t + t:.t.
Os valores das variáveis no instante t são conhecidos através d<:IS condições
iniciais reais do problema (tra.nsiente real) ou através de uma estimativa. que
dá início a.o processo iterativo (transiente distorcido).

l. Calcular p no instante t + t:.t, usando a equação da conservação da


massa.
2. Calcular a temperatura a partir da equação da energia..
3. Com p e T calcular a pressão através ela equa<,:ão de estado.
4. Calcular as velocidades através elas equações do movimento para cada
direção.
1. 1 5. Reiniciar em 1 e avançar a solução para um novo intervalo de tempo
até atingir o regime permanente (transient,c real) ou até atingir a
convergência (transient.e distorcido).
Se a massa específica não varia sig-rüficativamente com a pressão, mas
tem variação considerável com a temperatura, o problema pode ainda ser de-
fin ido, rigorosamente, como compressível. Entretanto, a equação de estado
P = P(p, T) não pode ser mais usada como equação para a determinação
de P, porqtie pequenos erros cometidos no cálculo de p~ via equação ela con-
servação ela massa,'.lpoclcrão produz.ir grandes erros cm P, calculados através da
relação P = P (p, 1'). Se este campo de pressões for intro<luúclo nas equações
do moviment-0 e as velocidades resultantes suLstituí<las na equação da continui-
dade, para cálculo de p para o próximo intervalo de tempo, sérias instabilidades
ocorrerão na solução numérica do sistema de equações.
Como a massa específica. não depende de P , parece lógico que a equação
ele estado sej a utilizada para o cálculo de p , dependente apenas de T, p =
p(T), onde T é determ inada através da equação da. conservação da energia. A
dificuldade que surge é que, assim procedendo, a equa.çã.o ele estado passa a. ser
uma equação para p, e a pressão passa a não possuir uma equação evolutiva,,
aparecendo sua infl uência '1.través do seu gradiente na.s equações cio movimento.
É fácil ver que não basta isolar P ele uma ou outra equação cio movimento. Os
gradientes nas três direções devem ser combina.dos para. a. determina.ção da
pressão. Esta é a dificuldade. Extrair P das equações do movimento de forma
que as velocidades obtidas satisfaçam a conservação da massa.
A equação ele conservação da massa, por sua vez, não serve de equação
evolutiva para nenhuma variável e passa a ser, apenas, uma restrição que dcvC'
sc•r ohcdccida pelo ca111 po dr vc•loddadC's.
Determinação do Campo de Velocidades - A coplamento P-V 12l

O desafio, então, é determinar um campo d e pressões que, quando


Inserido nas equações do movimento, origine um campo de veloci-
dades que satisfaça a equação da conservação da m.assa, . Em outras
palavras, o fato de p não variar com P introduz um forte acoplamento entre
"· prc:=;são e a velocidade, causando dificuldades para a solução do sistema de
1 qna.ções. Esta formulação é chamada "incompressível". O caso em que p não
1

1~ l'n11ção de P nem de T é um caso particular. Observa-se, portanto, que os


1·nsos de p = f(T) e p = constante recebem o incsmo tratamento do ponto ele
vista numérico.
Relembrando, é muito importante notar que, se o sistema de equações fosse
11•:;olviclo simultaneamente, o problema cio acoplamento pressão-velocidade não
1•xist.iria.
F'nndamentalmente, é o seguinte o procedimento de avanço ela solução do
l 11r-; t.Hntc t para o instante t + 6.t:

1. Fornecer os valores inici~üs das variáveis dependentes.


2. Calcular T, usando a equação da energia.
3. Calcular p, usando p = p(T~.
4. Calcular P. Um algotitmo parn a determinação de P deve ser utili-
zado.
5. Calcular as componentes do vetor velocidad<', usando as equações do
movimento ..
6. Verificar se as velocidades satisfazem a equa.ção da conservação da
massa. Caso não satisfa.çam, ·voltar ao item 4 e recalcular a pressão.
Iterar dentro dos itens 4-5-6 até que a. equação da continuidade seja
satisfeita.
7. Como a tcmperat.ura depende elas velocidade$, .vo~tar ao item 2 e
recomeçar o processo.
8. Após a convergência, avançar novo intervalo ele tempo, até que o re-
gime permanente seja alcançado.
Como pode ser observado, a questão-chave da solução é a iteração 4-5-
fl, mH le,.~tá envolvida. a criação de um algoritmo especiaJ para. o cálculo da
111 e•ssi'.\o: Também parece lógico que a equação da conservação da massa. deverá
1cci 1·t.rAnsformada em uma equação i1a qual a variável pressão apareça.. Assim
1111..-11([0, ao de'terminar-se P, a conservação da massa est;a.rá satisfeita . Algu11s
111 (•!.odos que usam esta fil osofia serão descritos logo mais.

7.:l.2 - O Arranj'o das Variáveis D ependen tes na Malha

A localização relativa das variáveis na malha computacional é conhC'dda


roino arranjo de variáveis, onde seu papel principal é a. posição relativa ent n•
11 "1 componC'ntes do vetor v0lociclade e a pressão. Muitos arranjos são possív<•is,
111 11s, para sist.C'rnM c·oorcl0nados ort.ogona.is, dois d<'IC's são empregados. Suas
r11rnrl.Príst.ic·ns s~o HJ>l'<'s<•nt.ndn.s na. seção sc·gui11t.<'.
122 C. R. Ma.Liska.

Arranj o Co-localizado

Quando estamos resolvendo numericamente uma única. equação diferen-


cial, é lógico que a incógnita é localizada (anna.zenada) no centro do volume de
controle. Qua.n clo mais de uma equação está cm jogo, a pergunta é se to<las as
variá.veis serão localizadas, conjuntamente, no centro do mesmo volume de con-
trole, conforme most,rado na F'ig. 7.1. Este arranjo, dcnomi11a.do co- locali~a.do
pelo fato de todas as variáveis usarem o mesmo volume de COHtrole, fo i sempre
a escolha natural pela simplicida.de d<> controle dos índices das variáveis na im-
plementaçã.o computacional. O uso do arra njo co-loca.li:tado significa us;:u· um
único volume de controle para realizar t.odas as integrações.

~~1.-
1
1

+ -f. ++
1, v, P, p, T
- ·~ e outros
escalares

n - 11
-

's
,
·~ . -f•w+ 1

-
'e
+
•t...

+ i:· -i- Ô.X

F ig . 7.1 - Arra.njo co-local.i:.1ado de va riáveis.

Existe uma. gTande tontrov<~rsia ent.re os pesquisadores elas diferente.<> esco-


las ele métodos m nnéricos em fluidos sobre a questão do a rra njo co-localizado.
Pa.tankar [100), da escola ele volumC"s finitos aplicados a problemas incom-
pressíveis de convecção, j11st.ific<1. as difkuldadcs do arranjo co-loca.lizado pela
na t ureza física do acoplamento entre a pressão e a velocidade. Por outro lado,
Roache [119], no desenvolvime nto e aplicações de metodologias em diferew,;as
fin itas, salientou que nunca se defrontou com dificuldades pelo uso do arra njo
co-localizado. Em toda a área aeroespacial não se tem notícia do uso ele arran-
jos que nã.o oco-localizado.
Uma possível explicação para isto pode sc'r achada na naturczri dos méto-
dos emprega.dos em cada á rea. Na aeroespacial. os métodos, C"m geral, resolvem
1 ' q1111c;rn•s si 111t1 l1.a11C'a.111t'11(,(' ( nã.o ('xisti ndo, port.ant.o, problema!> d<' n<'o pln·
111111111~ ) t• ns aproxi1naçÕ<'s são de mais alt.a ord<'m. permiti ndo que aval ia<;ô<'s
tlc 1• 111dit •11I PS de pn'ssão r nvolva.m mais do que dois poutos discretos. Al(•n1
til 11 1111 1tn•a arroespacial, oi; escoam entos mais est udados e p esquisados :-;;io
" ili • 11 11.n \'C•locidade, onde a formulação compressível pode ser usada e cada.
l111111.,1dt.n possui sua eq 11açi"to evolutiva . Na área d e t.ra11sferência de calor e u1
1 11 11111 111•11Los incomprcssívris, o acoplamento passa a. ser do mina nte e deve ser
t 1 li 11il!1 <·om cu id<i.do. ·
1 )1 • arorclo com Patn.uk:u·, dois p rob lemas ruerecem d estaque . O primeiro

1 1 111cl!'11 1 de a valiação do g ra.d iente de pr essão pa ra a cqua.çi'io da conservação

il 1 q1111 111.idade d e movimento. Considere a avaliação do gradiente de pressão


1 111 tl'lm;ao a x e y no ponto P. mostrado na Fig . 7.1, dado por

(7.7)

111 11• 1 ('011siclera ndo u ma a proxim;:i.ção linear p a ra P , res111t.a cm

ôP I ~ PE - Pw (7.8)
Dx p Êl. Xe + !:i.:c,,,

i >ara. o gradient.e em y, t.e mos

8P' ::::: Pn - P. (7.9)


Dy P !:i.y
,.
P;v - Ps
ª.ôyP Ip
~
Êl.Yn + Êl.Ys
(7.10)

O q ue se observa l'- q11c as equações do moviu1c11to ·pára· as direções :1; e


11. ou seja, para as velocidades e vp, nã.o en volvem a pressão no volu me
tl.J>
1'1•. o q ue acarreta uma aval iação do grad iente d e pressão rm tÍma malha ma.is
~rosseira. Isto causa.ria a. d iminu ição da. p recisão da soluçãó.
O segundo problema., e ele <\c:·orclo com Pa.tankar o mais importante, é>
a possi bµ~cte de ocorrência ele campos de prf!ssões oscilat.órios que não são
dt't.cctados pelo g radiente ele p re~~ão . A F ig. 7.2 mostra um campo de p ressões
que não seria "visto" pelo g rad ien te d e pressào, se a avaliação fosse fe ita de
arnrclo cc~n as Eqs . (7.8) « (7.10) .
O campo oscila tório, most rado na F ig . 7 .2 (os mí llleros representam va lorrs
dH pressão) ; não con sc~gnc ser de tectad o p elas eqn;:i.ções do movimen to, se o
arranjo for co-localizado. P ara o volume d e cont role para. a velocidade cen tra.da
em P , os gradientes de pressão em x, b em como em y, serão zero, p ois en volvrrn
os pontos PE , .Pw , P,v e Ps . Assim, a variação d e pressão no domínio (nrst.c•
caso, ond ula.t.ó1io de O a. 100) não será p ercebida. por a queles volumes de controle'
ha.churados. O mesmo acontece caso o volume de controle para as velocidadl's
124 C. R. Maliska

seja cent rado nos volumes não hachurados. Observa-se, então, que aquelas
pressões armazenadas (localizadas) junto com as velocidades não entram na
equação do movimento para. aquele volume. L-Ogo, parece coerente localizar a
velocidade v entre Pe e Pp e Pp e Pw e a velocidade 11 entre PN e Pp e Pp e Ps,
gerando-se urna mal ha desencontrada., mostrada na Fig. 7.3, para a velocidade
e a pressão (37], dando consistência. ao acoplamento pressão-velocidade. Este
arranjo é discutido a seguir.

o 100 o
.------·-- --------------- -------,-------- --------
! 1 ' 1
'' ' ''
'
100 : .o ' 100 .o ,____.100
N
'
:..----- ''
'
)
-------r
o 1
100
w 1
·ºp l·~~-+l....="-1~~40
l 1
.L. .. ................ -------··------
E
- -------l .............. __ _____ _,

: '

y 100 ~ •O 100 •O 100


s
''
'l-- ----- ............... ..

Fig. 7.2 - Campo de pressões inconsistente.

Arranjo D esencontrado

O arranjo desencontrado (staggered grúl) [37) evita os aparentes problemas


do co-localizado. As pressões estão armazenadas de tal forma que seu gradiente
é a força motriz da velocidade armazenada entre dois pontos de pressão. É,
sem dúvida, um arranjo fisicamente consistente, pois, entre outros fatores, as
velocidades estão localizadas adequadamente para o balanço de massa cujo
volume para. balanço é um volume centrado na pressã-0.
É importante saliental· que, se por um lado o arranjo desencontrado pro-
move a. esta.bilida.de necessária para o acoplamento pressão-velocidade, também
provoca uma complexidade adicional do ponto de vista de programação com-
putacional, uma vez que o controle de índice das variáveis é, obviamente, mais
e-0mplexo. Também os balanços de conservação devem ser feitos para volumes
I )t'I 1·1·1ninnçào do Cam7JO rl<• Vel.o<:itl11"fr8 A copl<tw,1·11.t.o f'-1' 1:l."i

111. 11111 ..11, oc·11sionr111do fluxos de massa diferentes para cada variáV('I, r<'<tll<'-
• • 111li 1 1111111 il <'H(>t\ÇO ele memóri;;t computacional. 8(' para problemas tridi111cusio-
11 ti 1 111 1•oord<•uada.o; cartesianas a complexidade já 6 grande, para coordei1aclns

, , 111 11il l:.-.11d11s l.ridimensionais o arranjo desencontrnclo torna-se excC'ssivatllentc


·"'li dwrn , po1· exigir um t.ra.ba.lhoso controle de índices· e por necessita.r de ex-
l111 11111 111;1,c111:H11ento de informações geométricas. As condições de contorno
1 1111111 •111 1 •x i~c·111 um processo trabalhoso de implementação.
\ 1•11f11sc• dada por Patankar para. o arranjo desencontrado, bem como a
111111 I••1liss<'111iuação que isto obteve através de seu livro [100] contribuíram para
0 1111 11 111Tn11jo desencontrado Reestabelecesse por duas décadas . A necessidade
ol1 11 111 il w r problemas em geornctrias mais complexas com o uso de coordenadas
1

1' 111 •111 Ii:.-.adas motivou os pesquisadores a descnvol verem métodos de acopla-
111• 11lu lu1sc•ac\os em arranjos co-localizados [85,103,116]. O crescimento atual
1 lt 1111•1 odos usando malhas não-estrutura.das (onde é ma.is difícil usar o arranjo

, i, 1•111·0111 ntclo) e a busca da generalização dos métodos atuais permitem-nos


I'' "' " ' o desaparecimento do arranjo desencontrado pa.ra um futuro bastante
l 11 n1 P . Nt'8Le texto, os métodos para t.rata.r o acoplamento pressão-velocidade
1

'"' 1111 n.prcsent.l\clos de form a a poderem ser empregados para os dois tipos de
11111111.!1>1-1 . As peculiaridades dos métodos para cada arranjo serão vistas em
'•,•H'l'I próprias.

N
• • • • pressão

+n veloéidade u
1
w- ~ -
E
t ve'locidade v
• w
+ +
e •
- +
Is
•s •
'
F ig. 7.3 - Arra.njo desencontra.do das variáveis .
126 C. R. Mnliskri

7 .4 - M étodos para Tratamento do Acoplame nto


Pressão-Velocidad e

A técnica uti lizada durant.0 1uuil'.o tempo para evita.r o problema do aco-
plament.o foi resolver as equações em termos da funç ão <IC' corrente e da vorti-
cidade. Com esta prática, um problema. bidimensional. cujas incógnitas são as
componentes do vct.or velocidade e a pressão, reduz-se a um problema de duas
incógnitas: a fu nção de corrente e a vorticidacle, desaparecendo da formulação
a pressão. É uma técnica bastante atraente, mas que tem vantagens (também
limitadas) aperms para problemas bidirnensiona.is. Um i11conveniente é a. neces-
si dade de forne('Cr condições de cout.orno para a vorti<.:iclacle, uma vari;hcl física
ele interpretação não fácil e não cor1hccida no momento ele aplícar as condições
ele contorno. Outro inconveniente é o acoplament.o entre a função de corrente e
a vorticidacle, via condições ele conLorno. tornando o processo iterativo bastante
instável e de convergência lent.a.
P ara problemas tridimensionais, a metodologia ni'í.o S<~ aplica, pois uào
existe a definição ela função de corrente para três dimensões. Existe a df' finição
de uma variável equivalente, a fnfl(;.'i.o potencial, mas que torna o problema, cu-
jas incógnitas seriam as t rês componentes do vct.or velocidade e a pressão, em
um problema com seis incógnitas, tr(\s componentes da função potencial e t.rês
componentes da vort.icida.de. PcrdC'-se, então, a vantagem que se tem no caso
bidimensional. Devido a isto, atualmente, a quase tot.Alidade dos esquemas
numéricos utifo:a as va.riúveis prirnit,ivas, ou seja, pressão e velocidade, ado-
tando métodos para tratar cio acoplamento entre as variáveis primitivas, com
ênfase no acoplamento pressão-velocidade que aparece, como já foi comentado,
dev ido à natureza segregada da solução do sistema de equações diferenciais.
Exi~tcm, a.t.ualmente, div<'rsos métodos para t.ra.tar deste acophunento. O
objetivo de todos eles é criar uma equação para a pressão que permita. que o
processo itera.tivo avance, observando a conserva.çã.o ela massa.
Ant.es de inidannos a descrição de alguns métodos, é aconselhável clei-
xar claro o inccanismo físico que d E~ve ser observado no desenvolviHt<'nt.o de
algoritmos para trnt.a.r deste acoplam0nto. A solução C'O rreta de um problema
de transporte de quantidade de moviment.~ obt.ida quanclÇ o- campo de
pressõ~ int.roduúdo nas~~ões de ~a.~~ gerar velocidades que sa.-
tisfaça111 a equac.;,ifo d~c~.1i1Qsl ~ O sistema de equações de interesse no mo-
mento sfü~qs. (7.1) a (7.6). Poderão existir outras equações para avançar
outros escalares, como concent,raçii.o de massa, energia cinética. turbulenta, dis-
sipação de energia cinética turbulenta etc.
Na construção de qualquer algoritmo , a realimN1tação adequada do p ro-
. cess; é funclarnent.al para se obtN· un1a_boa velocid<\de de con~ergência. No
caso do ~oplarnent.Q_ ; questão, o resid~Lde-;1;a.-;sa, computado através .Qa
equ~la conti11uida.dê~ é o dado fundamental pirã. indicar a maneira eomo
- - --~ - I' __ ,,..---- - --· - -

o :,10'~<?._ ~ampo de pressões 9eve ser alterado. Ao mesmo tmnpo, este novo
D1;l.enninaçtio do Campo de Vetocúforles Aco71lmnenl.o P -V J 2i

111111po d<' pr<'sSÔ<'S dcv<', j u nt.amente ·corn as mais recentes velocidades, satisfa.-
1•1 11s 1•q11açõcs do movimento. Existem diversas maneiras de ir "ajustando"
111 \'ill iAvc•is du rante o processo iterativo a t é obter-se a solução do p roblema,
q11111 1do <>utão todas as equa.ções de con servação envolvidas cstarã.o satisfeitas.
l l11rlow e Wekh [37] , Chorin [17,18}, Amsden e Ha.r low [2] e Patanka r e
:1 p11 lcli11g [101] foram os precursores no d esenvolvimento d e rnétodos para tra.ta r
11 11rnpl;unento pressã.o-vclocidade. Baseados nas id éias de C horin, muitos ou-

t 111-i foram desenvolvidos dos quais alguns elos mais d ifundidos na comunidade
i 11 •111 ífi !'n. serã o aqui apresentados. Ma is urna ve?., é didático deixar claro que

tli 1<t'11volvcr um a lgori t mo para <'Ste fim é obter urna ~~quação para avançar os
1

,·1 dnn•s da p rcssf\.O de uma maneira eficiente.

7. 1. 1 - Método de Chorin

G horin [17)8] d csHnvolveu dois métodos para trataJ· o problema elo aco-
11l1111H·nto em escoa.rnc11tos inco1npressívcis. O primeiro d eles foi concebido p ar a
problemas onde apenas a soluçã.o de regirnE~ permanente era. de interesse. Como
"" sol11 çõcs intermediárias ao lo ngo do tempo são d istorcidas, ele usou o con-
t·11it.o <lc ('Ornpressibilida dc n.rt.ifüfal, uma estrat.égia bastante usada, p ela qual
n 1•s1·oa mcnto é tratado corno compressível, desaparecendo a compressibilidade
q111u1clo a solução de regime perma nente é obtida. Dcst.a forma, a formulação
• 11111pressível p ode ser usada.
O segundo método d e Chorin [18] pod e resolv~r problema5 seguindo o
l 11111siente real. P ara exemplifiC'a.r . considere a equaçii.o do movimento para a
di 1'<'<;ã.o .t escrita na forma

ô àP
- (pti) + - = F.?; tt' (7.11)
ât. 8:c
n11dc• pé assumido constante e todos os termos não explicitamente escritos estão
11µ,rupados em F á.te Em um det.ermiHaclo tempo, ·u é tom<'l.dO como conhecido.
Jla ra o tempo t + Êlt , a segu iutc equação é r esolvid a:

ô
Dt (pu) = F,..ti (7.12)

Corno a. pressão não foi considerad a ria Eq. (7.12), o valor ele u obtido ('
<ic' nomina<lo u.* . R econ heccudo que Fx pode ser decom posto em um vetor de
divergência z~·o e o utro de rota.C'ional zero, e que o vct.or ele rotacional zero
<leve ser ~,P,
CJX
as rela.t:ões
"S
ent re ·11. e u" e v e v" são

{llt = ptt • - u·' t -ôP


a
:1:
{7.13)

pv = pv* - Ê!.tôP (7 .14 )


ây
128 C. R. Maliska

Como a pressão não é conhecida, a mesma deve ser determinada de tal


forma que a conservação da massa seja satisfeita. O seguinte esquema iterativo
foi proposto por Chorin:

p1.:+ 1 = pk _ À.D (7.15)


onde D é a aproximação numérica da. equação da conservação da massa, ou
o erro em satisfazer esta equação, À é um parâmetro de relaxação e k o nível
iterativo dentro do intervalo de tempo no qua.l a solução está sendo obtida.
Quando convergir, D será igual a zero e a pressão também terá convergido.
O ciclo iterativo para este método é:

1. Obter v.* da Eq. (7.12).


2, Corrigir v e v (no caso bidimensional) usando as Eqs. (7.13) e (7.14) .
3. Calcular P através da Eq. (7.15).
4. Iterar entre os itens 2 e 3 até determinar as velocidades e a pressão
dentro da precisão desejada.
5. Avançar para novo nível de tempo.

Com base no método de Chorin, brevemente descrito, foram desenvolvi-


dos os métodos que mais impacto causaram nas metodologias numéricas para
solução de escoamentos incompressíveis.

7.4.2 - Método Sil'v1PLE - Semi 11\lfPlicit Linked Equations


11 11
Um dos métodos baseados no inétodo de Chorin muito utilizado at.é bem
ili'li recentemente; e do qual, por sua vez, derivararn muitos outros, é o método
SIMPLE, desenvolvido por Patanka.r e Spalding [101]. Também neste pro~fl­
dimento, a pressão é escrita como a soma da melhor estimativa da pressão
disponível, P* , mais uma correção P' que é calculada de maneira a satisfazer
a equação da continuidade, ou seja., P = P * + P'.
Praticamente em todos os métodos, a seqüência ele cálculo envolve dois
passos distintos já presentes no método de Chorin: no primeiro, as velocidades
são corrigidas de maneira a satisfazer a equação da. conservação da. massa.; ·
e, no segundo, as pressões são avançadas, para. completar o ciclo iterativo:
As Eqs. (7.13) e (7.14), que corrigem o campo estimado de velocidade, são
denominadas equações ele correção das velocidades e a qualidade das mesmas
influencia. significativamente a taxa. de convergência do processo iterativo.
No método SIMPLE, as equações para a correção das velocidades são ob-
tidas a. partir das equaçÕ<'!S do movimento. Se um campo de pressões P*' é
introduzido nas Eqs. (7.1) a (7.3), encontramos

Apup = Aeu.E + Awtttv + Anu;v + Astts


+ Atttf. + A1>ttÍ:J - L[pt'j* .6V + B'" (7.16)
Ol'lenniwi(·rio rlo Camvo rle Vl'locidadcs Aco71l<Lmeuto /> V 1W

A,,vf, = A .vê+ A wvw + A.,.vN + Asvs


+ Arv} + AbviJ - L[Pv]* .ô.V+ B v (7 .17)

(7.18)

Por outro lado, se o campo correto de pressões é introduzido, obtemos

Aplt p = A e'UE + f l 10 uw + A,.ti..v + Asus


+ A11.Lp +Ai/tis - L [P"'} ó. V+ B'" (7.19)

ApV P = A eVE + Àw'Uw + AnVN + As·vs


+ A JVF + A bVB - L [P 11 } .ô.V+ B " (7.20)

AvWP = A eWE + A1,;ww + A ,.wN + A ..ws


+ ArwF + A11wa - L [P'v] .ô.V+ B to (7.21)

Subtraindo as Eqs. (7.16) a (7.18) das Eqs. (7.19) a (7.21), considerando os


1·11di <·icntes e t ermos-fonte constantes, desprezando as diferenças u -u'+, v - 'u* e
111 111•, e reconhecendo que o operador (L] é o gradiente de pressão aproximado
1111111<•ricamcnte, encontramos as equações de correção das velocidades dadas por

'tLp = 'U.p - -ó.V.ô.


---
Ap Ó.X
P'
(7.22)

• .ô. V .ô.P'
Vp = Vp - --- (7.23)
A p ó.y

.ô. V .ô.P'
...
Wp = 'W/'•· - - - --
Àp ó.z
(7.24)

1111<1<» novamcnt.e, ~ aler tado que os coeficientes A p que a.parecem nessas C'-
q11ações são diferentes para cada equação do movimento. Resta, agora, obter
11111n, cqua.ção par a determina r P' tal que, quando s ubstituído nas Eqs. (7.22)
11 (7.24), origine vclocida.dcs u, v e w que sat.isfaçam a equação da conservação
d11. nrnssa. Para tanto, basta substituir as Eqs. (7.22) a (7.24), escritas para as
l11l.1'rfaces, dadas por
'11
130 C. n. Maliska

Ue = tLc* - _..,_ (P'E - P'p )


de {7.25)

u.w = u.~ - d:;, (Pf, - Pí"') (7.26)

lln. = tJ., -
>t: - tJ ( 1
dn .PN - Pp)
I
(7.27)

(7.28)

Wf -- ·j (P'F
·W·J• - -dw - 1''p ) (7.29)

(7 .30)

na equação da conservação da. massa. discretizada para. o volume moi;t.rndo na


Fig. 7.4 , dada por

(7.31)

obLendo-sc uma equação d e Poisson para. P', 11a forina

ApPf, = A, Pf: + A wP~v + AsPs + A,.P,~ + AbPh + A. 1 P;.. - \1 ·V" {7.32)

!111 onde v · lf" é obtido aplicando ct Eq. (7.31) <to vct.or V*. Os coeficientes d<~
Eq. (7.32) são da.do!:> por

Ae = ((L~.yL\z) cz:') t (7.33a.)

Att. = ( (L\:1;L\ z) ([:) (7.33b)


1t.!

A,.= (Ct.x L\z) d~,),, (7.33c)

As = ( (L\xL\z )d: ).. (7.33d)

A,= (cL\ xL\y)dn {7.33e)


1

Ab = ( ( L\xL\y) dn b {7.33.f)
I )l'f.1·1"111:inn<,·11,o !Lo Gmn710 ri.<; Vdoci<lrulc.s Ar·o71 fo,111.cnl.o I >- \! 1:11

\ • 1111 1d lc;rn•H <1<' rnulorno para a equação de P' sedio disc11tidns l o~o 11111is,

t111ti 1 111 " II' 1•11,p ÍI 1110.


1 1'1'1 · (M')I'.)
'·~",
1"
( 1.,
/..
t' rlaco
l por

(D.y.6.z) ) (7.34)
( A.p e

111111 111111 11 s c•xprC'ssÕ€'s p<\ra os outros d podem ser facilmente obtidas por
1111111111111,110.
11!111110 !" . as velocidades tLe, 'ttw, v,., ·v5 , wf e Wb são corrigidas, obt.endo-sc
11111 1 1111po de• vdocidad<'s que satisfaz a equa~~o da conservação da m<\ssa.

Mb

• p
Mw w
- -- -·-·-·-·-· ·-·-·~· •
f

.>----~ X

'Fig . 7.4 - Yol um ~ de cont.role para conservação c.ll'l. mas:m.


,..._
O segundo passo é agora r(!alizado, ou seja., a. pressão P é obtida. a.través
..
P = P* + P' (7.35)
Para o novo ciclo it.crativo, p • é feito igual ao novo P e um novo c·<1.tnpo
de velocidades estimado é cakulado, dando-se seqüência ao mesmo processo,
ai.é obter-se a convergência dentro ele parâmet.ros estipulados.
Nest,e ponto, é muito importante lembrar que, se o arranjo desenco11t.n1do
for usado, isto é, pressões localizadas nos centros cios volumes ele conS('rva.c.;no
132 C. R. Malisk<4

de urns~a e velocidades localizadas nos meios das seis faces deste volume, as ve-
locidades das .Eqs. (7.22) a (7.24) já estão sendo calculadas onde são necessárias
para. o procedimento. Quando o arranjo co-lot:alizado é usado, devemos visuali-
zar uma ma.neira de calcular as velocidades nas interfaces (elas estão armazena-
das nos centros) de modo que possamos fazer o balanç.o de massa para o volume
de controle ele pressão, que é o volume de conservação da massa . 'fais proce-
dimentos, denomina.dos métodos de acoplamento para variáveis co-localizadas,
é um assunt.o de int.ensa pesquisa atualmente. Ainda neste capítulo, teremos
oport unidade de discutir um método que emprega variáveis co-loca.liza.das.
O nlétodo que acabamos de descrever possui uma série de limitações, prin-
cipalmente com relação à velocidade de convergência. As vantagens e limitações
deste método, e de muitos outros, podem ser encontradas cm (114:], onde é
re;;1.lizada uma análise comparativa entre diversos mét.odos para tratarnent.o cio
acopl ~mento pressão-velocidade.
Brevemente, podemos dizer que a Eq. (7.35) não tem uma fundamentação
física que a suporte. Ela não é obtida nem a partir da equação da conservação
ela massa nem da. equação da conservação ela quantidade ele movimento. É
apenas uma maneira simples de avançar os valores de P. P' tem um significado
físico muito forte nas Eqs. (7.22) a (7.24), mas não o tem na Eq. (7.35). Esta é
a razão por que é necessário aplicar um coeficiente de sub-rela.xação severo em
P', do tipo

P = p .. + a:P' (7.36)
para que se possa obter a convergência do sistema de equações . O ciclo itera-
tivo completo para resolver o acoplamento pressão-velocidade usando o método
SIMPLE é o seguinte:
l. Estimar os campos de velocidades e pressão ( P *) .
2. Calcular os coeficientes da.s equações do movimento para u., v e w.
3. Resolver as equaçôes do movimento, usando P*, obtendo 't1.*, v* e w *.
4. Resolver a Eq. (7.32) e obter P'.
5. Corrigir u • , v• e w•, obtendo o campo de velocidades que satisfaz a
equação da continuidade.
6. Calcular P através da Eq. (7.35) ou Eq. (7.36).
7. Resolver as equações de conservação para outras variáveis, tais como
temperatura, concentração de massa etc.
8. Fazer P * = P e recomeçar no item (2) até convergência .
No item 7, caso os valores destas variáveis não tenham influência sobre
o escoamento (por exemplo, transferência de calor por convecção forçada e
propriedades físicas constantes), estas equações podem ser resolvidas após o
escoamento ter sido calcula.cio.
Um detalhe importante dos métodos de acoplamento pressão-velocidade
que usam equações de correção da velocidade é lembrar que a, solução do pro-
blema não depen de elas equa.ções de correção, urna veí!, qul;l as mesmas são
/Jl'I crminaçao do Cmnµo de \leloci<laill's A covtmn1·nl o J> 1' 1:1:1

1•q1111t;0<'H a uxilia res 9 n ão fazem pa rte do sistema de equações que• C'st.A sC'nclo
1'"º 1lvido. A i11 Auê11cia d as mesmas está na taxa de convergênC'iél. Por <'H l.<t
t lt't.11() , (• nc·o11:;clhável ter unia. equação de correção originária c'. as cquaçõC's quC'

qt 11 •n 'l nos resolver.


( '011 10 já foi comentado c m outro capítulo, existem dois motivos p elos quais
111•111ço1•s siio necessária5 n a solução do sistema de equações. O primeiro, pelo
lid 11 de• as <'quações serem acopladas en tre si e o segundo, para levar em conta
l! M 11110 linC'aridades. No p rocediment.o a.cima descrito, a iter ação mostrada est á
l11•1.to11do os dois papéis ao mesmo tempo, ou seja, resolve o acopla mento e ao
1111 •M1110 t.cnipo a.vança os coeficientes, trazendo os efeitos da n ão-li nearidade em
··11 rl11 t'ido iterativo. Um outro procedimento possível, e bastante adotado, é
tl1 •~11rnp l ar os dois efeitos, fazendo com que p rimeiro o acoplamento pressão-
' ••l11riclade seja resolvido para. u rn conjunto fixo de coeficientes e só então os
1w•liric•nt.cs são recalculados. Isto equivale a fazer uma iteração interna. entre
11-l 1t1·11s 3 e 6 e, depois desta etapa ter convergido, calcular o item 2.
Uma das va ntagens do método Sil'v1PLE é o fato de não ser necessá ria a
11o l11çao dr um sis tema linea r para de terminar a pressão. Entret.a.n to, a velo-
l'ltl nd<' de convergên cia é pequena. 1vlaiores d etalhes sobre o m étodo SIMPLE
11110 < ' 1H·o ntrado:s em [114].

7 .•1. 3 - Método SIM PLE R

Corno o cálculo da pressão a través da Eq . (7.35) não é um procedimento


111l 111s lo, o método SIMPLER (SIMPLE - Revisado) [100] apresenta urna nova
11111 1H'Ír(I, ele calcular o campo de p ressões em cad a iteração, procurai1do associar
11 r1\ lrulo do campo de pressões com as equações que governam o fenômeno. A

1111 n·çàc> do campo de velocid ades é feita d e maneira id êntica àquela do método
~ll~IPLE. Para calcular a p ressão, as equações do movimento, já a proximadas
pnrn. os volumes finitos, para tt, v e ·w, são escritas na ségúinte forma:

D.V D.P
v,p = 't'Lp - - - --
Ap Lix
(7.37)

~ D.V LiP
Vp = Vp - ----
Ap Liy
(7.38)

, LiV LiP
tvp = Wp - ---- (7.39)
Ap Liz

É importante observar a similaridade entre as Eqs. (7.22) a. (7.24) e as


Eqs. (7.37) a. (7.39), tendo em mente que as três primeiras não são as equações
do mov i men~o, m as s im expressões deduzidas apen as com o objetivo de criar
urna maneira de corrigir a.5 velocidades. As Eqs. (7.37) a (7.39) são, por sua
vez, exata.mente as equações do movimento, onde todos os termos qu<' 11 fü 1
1:34 C. R. M nliskri

aparecem cxpliciLamente foram agru pados em i).p, up e wp, que, e m cada


uma das equações elo movimento, respectivamente, represe11tam uma parcela
ela velocidade.Estas velocidades não são obtidas çorn a solução de sis t.emas
lin eares (como ô o caso ele v.* , v* e w*) , mas dct.cn ni11adas algebricam ente,
utilizando as mais recent.es velocicladt'S dis poníveis, através de

(7.40)

= A eVG + Awvw + A.,..V N + A svs + AJP F + A 0v s + B


1
'
Vp ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ (7.41)
Ap

i'\osso objetivo, a.gora , é cletermina.r a. pressão que está present.e nas três
equações do moviment o. Uma ma neira , dentre muitas, de isolar a pressão
dessas três equações é substituí-las na equação ela couservação da massa. Po-
deríamos criar qualquer out ro artifício para isolar a pressão elas equações do
movimento. Usar a equação da cons<'rva.ção da massa, ~\lém ele fazer a t arefa,
<:onst.itui-se em uma forma robusta de> fazê-la. É bom frisar que, nest e pMso,
não c..x iste a necessidade de satisfawr a conservação da massa. Ist.o já foi fcit.o
no passo anterior, quando a.s velocidades 'u,* , v* e w" foram corrigidas com o
campo P' .
Introcluziuclo a.s Eqs. (7.37) <i (7.39); escritas para as faces do volum·e ele
controle pa ra a conservação da. rm,,<;sa, e dadas por

(7.4 3)

(7.44)

Vn = 'Ún - d:: (P,v - Pp) (7.45)

Vs = 1Js - d~ (Pp - Ps) (7.46)

(7.47)

(7.48)

na equação de conservação da massa, Eq. (7.31), obtém-se uma equação pa ra


a pressão na forma
Dc/.ennin<içcio do C<1mvo de Velocúl<ules Acovltirnento P-V 135

/\ pressão obtida com a solução ela equação acima é a nova. pressão para
11 w 6xi1110 ciclo iteratívo. Logicamente, o campo de pressões obtido com a.
1111111(,'n.o ela Eq. (7.49) não é uti li7.aclo para corrigir as velocidades ú, fj e ú;, uma
vi•z que o campo de velociclH.dcs já sa tisfaz a equação d<~ ('Ow;crvação da massa,
e•1H'rn<.;ão realizada no item da. correção da velocidade com P'. A seqüência de
1·11lrnlo para o método SU.·1PLER é:* '

l. Estimar os campos de velocidade e pressão (P•).


2. Repetir os itrns de 2 a 5 cio método SIMPLE.
3. Calcular ite. ·uw, D,i, V8 , ti•1 e ti;b.
4. Citlcular P at.ravés da Eq. (7.49).
5. Resolver as equações de co nservação para o utras Vc\ri {weis, corno tem-
peratura, concent.n1.çfto de massa etc.
6. Voltar ao .ifrm 2 e iterar até a conve rgê ncia.

Nrste proceclimenr.o, chrns equações ele Poisson, uma. para P' e out.ra para
/ ',são resolvidas. Entretanto, o avanço de P em clir0ção à convergência é m ais
r;\pido e mai& seguro.
Para relembrar. notemos que, no método $L\.1PLE em três dimensões, para
n•solver o problema de Mecânica dos Fluidos temos, em cada ciclo iterativo, a
so lu ç~.o de t rês sistemas li neares (pa ra v., v e w), e um para P'. Ko m étodo
SIMPLER, necessitamos ela solução de cinco sistemas lineares (1t, v, w, P' e
~· .

7.4.4 - M étodo PRIME - PRessure Implicit Moment11.1.m, f!~:plicit

:.leste método [50], a mo!.i Vk1.çiio principal fo i a rea.li7.aç:'.io dos dois passos
(correção da velocidade e' C'ákulo da pressão) de uma. só v<% Isto pode ser
conseguido utilizando-s<' a Eq. (7.49) não só para o dilrnlo da pressão, mas
também para usar a.s pressões obtidas dest.a equação pa ra a correção das velo-
cidades [34], tornando desnecessária a obtenção do c;:i.111po P'. que nos métodos
STMPLE e SIMPLER servem para corrigir o campo de velocida des . Ou seja.,
as cq1mçõcs elo movimento, Eqs. (1.43) a (7.48), são usa.das t.ambém como
c·q11a.<_;<'ícs de correção. Est.as equações, a.qui repetidas , são

1.1.c -
= Uetf- -d·e11• (PE - 1"P ) (7.50)

* l<:st amos admitindo um arranjo desencontrado. A maneira de calcular as veloci-


dades "chapéu", q uando o arranjo forco-localizado, será tratada ai nda neste capít ulo.
136 C. R. Maliska

(7 .51)

(7.52)

Vs = 'Us - d~ (Pp - Ps ) (7.53)

(7.54)

(7.55)

Como já comentado, as equações de correção de velocidades podem ser


quaisquer, podendo, portanto, ser as próprias equações do movimento, como
proposto pelo método PilIME.
É importante notar que, no método PilIME, como as equações de correção
de velocidades sã.o as próprias equações do movimento, o campo de pressões
que corrige as velo<:idadcs é o próprio campo de pressões procurado. Por isso
dizemos que o passo de correção de velocidade e o de determinação de pressão
são feitos conjuntamente.
O algoritmo do método PRIME apresenta, então, os seguintes passos:
1. Estimar os campos de velocidade e pressão.
2. Calcular os coeficientes das equações de movimento para tt , 'U e w.
3. Calcular as velocidades Ue, ·U.,,, ·vn, ·vs, t'U1 e wb em todas as interfaces
do volume de controle para a pressão (conserva,ção da massa). Lem-
brar que elas não são obtidas a partir da solução ele sistemas lineares,
mas sim através das expressões algébricas , Eqs. (7.40) a (7.42), já.
apresentadas no método SHviPLER e repetidas a seguir, Eqs. (7.56) a
(7.58) , por conveniência.
4. Calcular P resolvendo a Eq. (7.49) .
5. Corrigir as velocidades usando as Eqs. (7.37) a. (7.39). Lembre que
isto não é feito no método SIMPLER.
6. Resolver outras equações que possam existir no modelo (temperatura,
concentração de massa, etc.).
7. Voltar ao item 2 e iterar até a convergência.

(7.56)

'UP = A cVE + Awvw + AnVN + A s VS + ÂJVP + AbVB + B'v (7.57)


Ap
Detcnninaçao <Lo Cmnpo ele Velocirlacles Acopfomento P -\1 IJi

Alguus detalhes importantes deste método devem ser ressaltados. Primei-


ramente, não existie mais a necessida.cle de resolver sistemas de equações para
obter as velocidades. Elas são avançadas durante o ciclo iterativo ele uma ma-
neira simila.r ao método de Jacobi. A palavra E:cplicit no nome do método
vem deste fato. Explícito, ne1Ste caso, não quer dizer que a formulação seja
explícita, mas sim que os sistemas lineares para as velocidades estão sendo
resolvidos iterativamente de uma form a semelhante ao método de J acobi.
Apenas uma equação de Poisson é resolvida em cada iteração e o método
é de implementação extremamente simples, principalmente para. sistemas ge-
neralizados de coordenadas. Por outro lado, como .a solução das equações cio
movimento é realizada com um método iterativo ponto a ponto, a convergência,
em princípio, é mais lenta [152]. Um estudo comparativo bastante cuidadoso
realizado em [29], onde o SIMPLE, SIMPLEC e PRIME foram comparados
na solução de problemas incompressíveis em coordenadas generalizadas, com
diferentes condições de contorno, rnostrou o método PRllVIE comparável aos
demais e superior em grande parte das situações testadas. Observou-se boa
estabilidade do método, permitindo que intervalos de tem po elevados possam
ser usados durante a solução.
Uma das possibilidades de compensar a convergência mais lenta do método
PRIME é tirar proveito ele sua característica explícita. (iterativa. ponto a ponto)
ela ·solução da. equaç~\.O de conservação de quant.idade de moviment.o, usaJ1ClO a
possibilidade de vetoriz.ação. É uma alternativa. atraente, pois, acredita-se,
é possível conjugar a boa estabilidade do método e sua facilidade de imple-
rnentaçáo com urna vetorização adequada., possível com métodos explícitos.
Atualmente o autor e colegas [121] estão envidando esforços neste sentido,
incluindo a extensão do PRl1v1E para escoamentos de qualquer velocidade e
arranjo co-localiza.do. Os resultados obtidos até agora são encorajadores. Al-
guns resultados, usando o m<)t.odo PRIME e sua extensão para. escoamentos de
qualquer velocidade e variáveis co-loca.liz,ac\as, podem ser vistqs no Cap. 17.

7.4.5 - Método SIMPLEC - SIMPLE Consistente .

O método SIMPLEC [153] tem o procedimento idêntico ao SH..IPLE, di-


1

ferindo, apenas, nas equações de correção elas velocidades. No método SIM-


PLEC, não são desprezadas as diferenças n - u*, v - v• e w - w*, como no
SL\if PLE. Tomando a velocidade u como exemplo, considere as Eqs. (7.16) e
(7.19) escritas na forma

(7.59)

(7.60)
138 C. R. Malisk<i

Subtraindo a Eq. (7.59) da Eq. (7.60) , encontramos

ÂpU p
1
= L A,.,,u~v a - L [P'!] L\ V (7.61)

No método SIMPLE, tLN 8 é desprezado. :'Jo método SIMPLEC, para


tornar mais robusta a equação de correção das velocidades, é subtraído de
ambos os lados da. Eq. (7.61) o termo L An&V'~h res ultando em

(7.62)

Agora, desprezam-se as diferenças da.s variações, ficando a equação de cor-


reção das velocidades como

L [P'"] L\V
U. p = U. *p -
Ap - L: A ,.&
(7.63)

ou

'/J. p = 'l.tp* -:;ul_,


- o.e [P'·u] uX
J\ (7.64)

Observe que a diferença entre o SI:\:fPLEC e o SIMPLE está apenas na


expressão do d:, cm cujo denominador, agora, aparece a diferença entre o
Ap e I: A ,.b, e não apenas o Ap, como no método SI:YIPLE. Tal efeito evita
a severa sub-rela."'<a.ção em P', necessária no método SIM P LE para obter-se
co11vergência.
As expressões para as velociclacles nas interfaces para o método SIMPLEC
soo, portanto, as mesmas do método SIMP LE com o d modifica.do. E, logica-
mente, todo o procedimento é idêntico.
,• As Figs . 7.5 e 7.6 mostram comparações [29] entre os métodos SliVIPLE,
SIMPLE R , SIMPLEC, PRIME e CELS [32] para problemas em coordenadas
nã.o-ortogona.is. Uma das importantes c~u-a.cterísücas do método P R.11vIE, ob-
serva.da. nas figuras mencionadas , é a qmtse não-dependência. cio tempo de CPU
do intervalo de tempo adotado. Isto permit.e que o usuário possa usar qualquer
inLervalo de tempo sem preocupações com a convergência.
Existem muitos outros 111ôtodos para tratar elo acoplamento pressão-vclo-
cirJ:.tcle que não serão comentados por :wrem semelhantes aos aqui d<•scritos. O
objct.ivo desta seção é apresentar a filosofia. que uort.eia os métodos ck acopla-
me11to e não uma revisão dos mesmos.
Para que seja possível resolvermos as equações para P e P' que aparecem
110 tratament.o do acoplamento, é necessária a especificação das correspondcnt.es
cond ições d e contorno. Este é o terna. a.o qual nos cled ica.n•mos agora.
Dc'f:enninnçrio rlo Ccmwo de Velocidades AcovlrL'llwn /.o P -\! U9
400
(1) SIMPLE
(2) SIMPLER
(3) SIMPLEC (3)
300 (4)PRIME
,....,
"'
'-' (5) CELS
::i
e..
u
4)
"C
200
o
o.
a
. <U
t--'

100 (4)

(5)

o
10 100
Tempo adimensional

Fig. 7.5 - Comparação entre diversos métodos de acopla.mento.

2
10

1
10
( l)SIMPLE
(2) SIMPLER
10º
(3) S!Ml'LEC
(4) PRTME
10·' (5} CELS

~
--... 10'2
ç/
10·>

10..

10.s

10-<I

10·1

o 50 ljl ISO 200 250


Tempo de CPU (s)

Fig. 7.6 - Comparação enhe diversos métodos de acoplamento.


140 C. J?.. M<i,liska

7. 5 - Condições de Contorno para P e P'


As condições de contorno para P' e P nos métodos SIMPLE e SIMPLER,
respectivamente, conforme recomendado cm [100], são obtidas das Eqs. (7.22)
a {7.24) e Eqs . (7. 37) a (7.39), respectivament.e. Quando temos velocidades
prescritas nas fronteiras, não devemos ter correções para estas velocidades, o
que é conseguido fazendo-se os gradientes ele P e P' normais às superfícies iguais
a zero, conforme indicado na Fig. 7.7. Este procedimento é razoável, quando
se usam pont.os fic tícios e quando o sistema coordenado é ortogonal. Ca.so
contr{1.r io, não é recomendado, pois em sistemas não-ortogona is, o gradient.e de
P ' normal na fronteira não pode ser expresso em função de apenas dois pontos,
requerendo pontos fictícios cruzados. Tal possibilidade j á foi investigada (50] e
mostrou-se inadequad a. Mesmo em sistemas coordenados ortogonais, se pontos
fic tícios não forem adotados, não é trivial a.plicar a condição de contorno de
derivada nula para P' .

Fronteira
/
N

• ~/ p'=P'
E p

·~
vn
Violume
fi ctício

•-
w p E V
• Uw
.
•t ue
.

1 vs

•s
F ig . 7.7 - Cond ição de contorno pa.ra pressão.

Uma alternativa gernl e simples pa.ra o problema foi proposta por Ma-
liska [50), para coordenadas generalizadas, e posteriormente apresentada em
[153], para coordena.das cartcsia.W1s . A id6ia é aplicar para. os volumes de fron-
tcira o m<'smo procedime11to adotado para os volumes internos, isto é, aplicar
a. equação da conservação da massa para estes volumes, respeita.ndo a condição
lJct.<·rntinnç<Lo do Crt111.710 d<• Vclocidarl<-.s Acovtmnen/.o P -\1 l tl l

cl<• rontorno c-xist<'nte naquela fronteira. Usando mais uma vez a Fig. 7. 7, aban-
donando o volume fictício, vamos apli car a equação da conservação da massa
para o volume P, considerando uma situação bidimensional A equação fica

(7.65)
onde apenas os fluxos de massa em w, s e n serão substit.uídos pelas equaçõe::;
de correção. O valor de í'Ífe, como é especificado (condiÇ<\o de contorno), é
um número conhecido e fará parte do termo-fonte. É fácil ver que a equação
aproximada para, o volume centrado em P tem a forrna

(7.66)
Desta maneira, a condição de contorno já está incorporada na equação
aproximada para o volume ele fronteira. Este procedimento, como dito, não
depende do sistema coordenado usado, satisfaz os balanços também para os
volumes de fronteira e não aumenta o número de equações do sistema linear,
pois não tem pontos fic tícios.
Outra var1tagem deste procedirnento, e muito importante do ponto de
vista de convergência, é a satisfação ela equação da conservação ela massa de
forma exata, pois ac; velocidades prescritas entram diretamente na equação para
aquele volume.. Pelo método da especificação do gradiente de P' igual a zero,
gera-se um problema de Neu1murn* , que não terá solução se o erro na con-
servação da massa global não for sendo corrigido durante_o processo iterativo.
No caso de a fronteira ser de entrada de massa, poderemos ter a condição
ele pressão prescrita. Também, neste caso, o tratamento dependerá do tipo
de arranjo de variáveis que está sendo usado. As alterações necessárias nos
métodos de acoplamento, quando o arranjo co-localizado é empregado, serão
discutidas na próxima seção. Considerando, inicialmente, o arranjo desencon-
trado, a Fig. 7.8 mostra um volume de controle onde, mi face oeste, a pressão
é prescrita, e. igual a P1 . A equação aproximada para o volume P é obtida,
como sempre, fa7.e ndo um balanço de massa. As equações de correções para as
velocidades ltc , V,,, e Vs são as mesml\S de um volume interno, enquanto para
1Lw têm a forma

26.V Pp
Uw = tt:u - - --
Ap 6.:r:
(7.67)

uma vez que Pí é igual a zero, pois P1 é igual a Pi. Deve ser observa.elo
que a velocidade t t w é descon hecida e, portanto, deve existir uma equaçào
para a mesma no sistema linear, lal que tt.~ possa ser cktcrrninaclo. Para. um
problema incompressível, não deve :;c-r es~ecido que- a pressão na saída deve

* Problema d e Ncurnan n é aquele cujas condições de contorno são, em toda a


fronteira, na cleriw.t da da fun ção, isto é, na espeCificação dos fluxos; no presente caso,
de massá.
142 C. R. Maliska

ser especificada, pois a diferença de pre~são, neste caso, estabelece o fluxo de


massa..

,-...
~
• V
::s
..._,
«!
t n
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il) Pr p
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11 "O

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' [)

~
o •s
r1
Fig. 7 .8 - C-0ndiçã.o de contorno de pressão prescrita..

Apenas para lembrar, pois o as!:mnto nã.o se rela.ciona à equaçã.o de con-


servaç.ã.o da massa., a diferença. de pressão que toma parte no gradiente na
equação da conscrvaçã.o da quantidade de movimento para Uw é Pl - Pp.
Se o método PRBvIE está sendo usado, a equação de correção pa.ra u.,., fica

(7.68)

onde, logicamente, U.w deve ser obtido de sua equação do movimento sem con-
siderar os termos de pressão.

7.6 - Os Métodos de Acoplamento e o


Arranj o Co-lo calizado
Quando o arranjo co-localiza<lo é usa.do, t.odas as vanavcis possuem o
mesmo volume de controle para o balanço elas propriedades. A dificuldade
que aparece, então, para criar a equação para P' ou P, neste caso, é a. não-
existência de velocidades nas interfaces do volume de controle para fazer o ba-
lanço de massa. De alguma forma, est.as velocidades devem ser obtidas e o pro-
cesso de obtê-las terá influência marcante na robustez do acoplamento prcssão-
velocidade. A seguir, o acoplamento pressão-velocidade, usando o arranjo co-
localizado, será descrito para. os métodos SIMPLE/SIMPLEC e PRlME. Para
Détennina.ção do Cmnpo de Vcloci<larles Acoplamento P -V 143

outros métodos, o processo é serri.elhan te. Por simplicidade, a situação bidi-


mensional será considerada.

7.6.1 - SIMPLEC para o Arranjo Co-localizado

Reconhecer, com clareza., o que é necessário mudai· no método de aco-


pla.ment.o, quando o arranjo desencont rado é substituído pelo co-localizado, é
o primeiro passo para o perfeito entendimento do que vamos agora analisar.
P ara o arranjo co-loca.lizado, usando as mesmas equações de correção utiliza-
das para o ananjo desencontrado e substit uindo-as na equação de conservação
da massa {imaginando que existam velocidades nas interfaces), obteremos exa-
tamente a mesma equação para P' . Entretanto, inspecionando os coeficientes
da equação para. P' , dados pelas Eqs. (7 .33a) a. (7 .33f), observamos que sã.o
necessários os parâmetros d nas interfaces. Eles não exis~em nas interfaces,
pois as equações do movimento não estão sendo resolvidas nestes locais. O
termo fonte da cqua.ção de P' também requer as velocidades (com sobrescrito
asterisco) nas interfaces.
Devemos, portaut,o, conceber urn a man eira eficiente ele calcular as com-
ponentes ele V* e os d nas interfaces . Pa.ra o cálculo das componentes de V"
a maneira mais f1.l.cil é, de posse do vet.or "\/* em todos os centros dos volu-
mes, obt ido com a solução do sistema linear , fazer uma média simples, por
exernp~o, entre Íiê e 11.f>, conforme a. Fig . 7.9, para obter u;.
Este não é um
procedimento adequa.do, s0ndo recomendado cria.r uma pseudo-equação pa,ra
a fronteira a partir das equações em P e E , em um procedimento similar ao
apresentado em (103]. Des ta forma, tar1to a. velocidade quant.o os parâmetros
d podem sei: clet.erminados pant urna pseudo-cqua.ção na interface.
Seguindo a metodologié\ desenvolvida em (84,85], ~ equações para os vo-
lumes P e E , para a velocida.de u., por exemplo, são dadas por

' ~ :_
(A p ) pllp - '"'
~ (A.n.IJ
' 'l.l·N/J M'/,'ttp
* ) p+~ - ' V + 1., [Su*I pu
L· [.tn" *] p Ó. ""V (7.69)
w.t

onde (A p) p r. (A p) E são os coeficientes centrais para as equações do movimento


em P e E, respe('tivamente. Interpolando linearmente as E qs. (7.69) e (7.70) ,
exceto pa.ra o t.ermo de pressão, encontramos a expressão para a velocidade ·u; ,
como

(7.71)
/
• •1•1 v. J( . M aliska

onde

(7.72)

+ L[S"'* ] p óV
+ (M f. +ótMf:)u~ - 2L[P'IJ.•J ó V
e

-t-
tv~

-f .~+ ~ -tuw
....-..
1

~
ue
tvs
1

+
Pressões e velocidades
calculadas neste ponto

Fig . 7.9 - Bala nço de massa no arranjo co-localizado.

De maneira. semelhante, podemos determinar as outras três v0locidadcs


que entram par a o cálculo do divergente da velocidade estimada, que será o
termo fonte da equaç.ão para P'. Os valores de d que são necessários nas
Eqs. (7.33a) a (7.33f) são obtidos através de uma. média aritmética entre os
valores de d em P e cm B.
O ciclo iterativo é o mesmo do m<\todo SIMPLE e SIMPLEC para arranjo
1 desencontrado. Difere, apenas, em um pequeno detalhe. No arranjo deseucon-
1 trado, quando as velocidades são corrigidas, elas passam a ser as mais recentes
l estimativas do campo de velocidade. ~o caso co-localizado, quando elas são
corrigidas, originando as velocidades que satisfazem a. conservação <la massa ,
1 as velocidades nodais, que são as verdadeiras variá.veis do problema, devem
t.ambém ser atualizada.e; para iniciar o próximo ciclo iterativo. Duas formas são
1· possíveis. Corrigir as velocidades nodais com o campo P' determinado, ou, a
Determinação do Campo de VeLocirlcides Acoplamento P -V :l.'l::í

partir das velocidades corrigidas nas faces, através de uma média, determinar
as novas velocidades nodais. A primeira alternativa. mostrou-se mais eficiente
quando o método SIMPLEC foi empregado. Provavelmente, esta observação
seja válida pa.ra os métodos do tipo SIMPLE/SIMPLEC, pois para o método
PRIME a alternativa mais eficiente foi a segunda. Isto se deve, provavelmente,
à natureza explícita do método PRiiVIE ao avançar as velocidades.

7.6.2 - PRIME para o Arranjo Co-localizado


·,.
Primeira.mente, deve ser lembrado que as equações de correção ele velo-
cidades para o método PRIME co-localizado são as mesmas para o PRIME
desencontrado. Portanto, também deveremos ter as velqcidades u e fi, bem
como os parâ.metros d, avaliados nas interfaces. Em segundo lugar, eleve s~r
observado que as velocidades u e fi entram na. forma.çã.o do divergente de \f,
que, por sua vez, é o termo fonte pa.ra P na Eq. (7.49).
Lembre-se, entretanto, que não existem velocidades arma:.!.enadas nas in-
terfaces e, conseqüentemente, não existem coeficientes nestas posições. Uma
média das velocidades e cios coeficientes vizinhos à interface em consideração
deve ser realizada. Como já comentado, a natureza desta média é importante,
principalmente para o método PRIME, que usa corno equações de correçã.o a
própria equação do movimento. Como u e v são partes da equa.ção do movi-
mento, elas devem ser avaliadas com cuidado para que nã.o sejam introduzidos
erros maiores dos que os erros inerentes à própria discretizaçào.
Uma possível maneira de calcular a velocidade na interface segue a idéia já
descrita e usada no método SIMPLEC para o arranjo co-localizado. Tomando
a velocidade Ü e como exemplo, temos

Ue =
L (Anb'U NB)p +L(Anb'UNB) E + B'U I + B~ I
- - - - - - - - - - - - -----'P_ _ _=E
· (7.73)
(AP)p + (A1 •) e
onde Bu inclui todos os termos-fonte da equação do movimento, exceto o gra-
diente de pressão. De maneira. semelhante, é possível determinar íi..,,,, Vn, Vs
e as outras duas componentes na direção z. no caso tridimensional. Conhe-
cidas todas estas velocidades nas interfaces, é possível resolver a Eq. (7A9) e
determinar a. pressão. Conhecido o campo de pressões, usam-se as equações de
correção das velocidades, Eqs. (7.37) a (7.~~9) , para determinar as velocidades
que satisfazem a massa.. Pa.ra. obter as velocidades nos centros dos volumes
de c:ontrole, basta fazer uma média das velocidades vizinhas que satisfazem a
equação da conservação da massa.
É importante perceber que, no método PRIME, a equação de conservação
da quantidade ele movimento não é satisfeita exatamente para o volume onde
as velocidades estão centradas, mas sim para uma velocidade que representa a
média. do balanço de quantidade ele movimento-O.e dois volumes vizinhos. Os
14G C. R . Maliska

d nas interfaces são obtidos atn,w és de uma média aritmética entre os d nos
centros dos volumes de controle.
O emprego do esquema dado pela. Eq. (7.73) não é adequado quando se
usa o método PRIME. Resultados obtidos para o escoamento em uma cavidade
inclinada mostraram erros considerá.veis na solução, quando essa média foi
empregada (121]. Uma out.ra média, semelhante à descrita , que apresentou
bons res ultados e procura incrementar a. estabilidade, podendo ser usada para
escoamentos subsônicos e s upersônicos, foi desenvolvida em [122) e tem a forma

(7.74)
Apenas para lembrar, o tratamento de escoamentos de alta velocida<le será
discutido no Cap. 8. A seguir, as condições de contorno para outras variáveis,
além da pressão, são apresentadas.

7. 7 - C ondições de Contorno para as


Out ras Variáv e is

No Cap. 4, foram apresentadas as condições de contorno para problemas


de difusão pura., enquanto ua seção 7.5 foram apresentadas as condições de
contorno para P e P' para problemas de escoamento de fluidos. Nest<:~ seção,
procuraremos complet ar os procedimentos de aplicação das condições de con-
torno, também incluindo problemas onde há entrada e saída de massa.
I· ~Iais uma vez, as condições ele cont.orno podem ser aplica.das, fazeudo-
se os balanços para os volumes de frontr ira e levando-se em consideração as
1
concliçÕC's exist.entes, incorporando-se, portanto, os acontecim<"ntos de fronteira.
t nas equações aproximadas. A outra forma é considerar todos os vol11m0s de
fronteira como internos e usar volumes fictícios. As duas fonnM serão ana-
lisadas, considera.ndo-se uma variável genérica </> e o arranjo co-localiz.a(lo de
variáveis, ·ou seja , não existem va riá veis armazenadas sobre a fronteira , uma
vez que a discret.iza<;ão é feit.a com volumes inteiros.
D el en n.in<içâo do Cam po <lc Velocirfo<lc.o; A coplamento P -V 14 7

7.7.1 - Balanços d e C onservação nos Vo lumes de Fronteira

Considere a Fig. 7.10, onde o volume centrado em P é de fronteira . Para


um problema bidimensional, por simplicidade, a equação de conserva~:ão de </>
é

~ (pefJ) + .!}__ (pu<fa) + .!}__ (pv<fa) = .!}__ (r<1JJ<i>) + .!}__ (r<P ôef>) + s<t> (7. 75)
ât âx ây â:c âx ây ây

/ •
Fronteira
N

w
-
-
p e E
o
• 4~

-s
_s


Fig. 7. 10 - Balanços para a plicação das condições de contorno.

A integração dessa. equação nos dará os flu xos difusivos· e coJwectivos nas
quatro faces do volume de controle. Apenas os fluxos na face w nos interessam
para o estâbelecimento das condições de contorno. Os fluxos na.s· out.ras faces
deverão ser aproximados usando as funções de interpolação. Os ela face w são

ptu/JI (7.76)
1IJ

(7.77)

De acordo com a.s condições de contorno, devemos agora especificar os


fluxos convectivos e difusivos em w. Observe-se que, para os fl uxos em e, o
procedimento é como se o volume fosse interno, isto é, interpola-se o valor de
<i> e de sua derivada em função dos pontos nodais vizinhos. Para a. condição de
contorno cm w , três situações importantes podêi'n ocorrer. São elas:
148 C. R. Maliskn

Fronteira Impermeável - </> Prescrito

Neste caso, o fluxo convectivo é igual a zero e o difusivo deve ser determi-
nado p or

r"' ª</>I = r<J> (<f>p - ef>w) {7.78)


ôx w 6.x
w -
2
que deve ser substituído na equação de conservação integrada para obter a
equação aproximada para o volume de fronteira, na forma

(7.79)

Fronteira Imper meável - Fluxo de </> Prescrito

Como a parede é impermeável, o fluxo convectivo é zero. O flu xo difusivo


dado pela Eq. (7.77) deve ser substituído pelo valor prescrito. No caso de <P ser
as componentes do vetor velocidade, para o caso de parede impermeável, sempre
t eremos a condição ele função prescrita. No caso da temperatura, poderemos
ter temperatura prescrita ou fluxo prescrito.

Fronteira com Entrada ou Saída d e Massa

Quando temos um problema de entrada de massa no domínio e especifica-


mos o valor do fluxo de massa e sua distribuição (cm geral uniforme) na área de
entra.da, automaticamente devemos especificar o fluxo difusivo nulo nesta face.
Isto é fácil de ser compreendido, pois, do contrário, se existisse fluxo difusivo
na face, o mesmo alteraria o fluxo convectivo e a distribuição da variável na
face. Conseqüentemente, não teríamos mais a condição de contorno naquela
posição. Se o sentimento físico nos diz que naquela. posição em que est amos
especificando o fluxo convectivo, deve ser também especificado o fluxo difusivo,
é porque a fronteira não estA. adequadamente escolhida. Devemos mover , neste
caso, a fronteira. do domínio de cálculo até uma posição onde exis ta a penas
fluxo convectivo. Esta condição de contor no é também chamada de localmente
parabólica, conferindo com <1. explicação <lada acima. Então, neste caso,

pti</i l = co11hecido (7.80)


1U

rç, Ô(;'I = º (7.8 l)


ôx tu

P ara o caso de saída de massa do domínio, novamente a condição que deve


ser usrida (: a localment.e µarab6lica , portanto com fl uxo difusivo nulo. Desta
for ma, não é U<'<'essAria a condiç~.o ck contorno a jusante, pois o co0ficiente Ae
D et.en ninnçrio 1lo Co.11t110 dr• Vl'lu1·irL1HÜ'N A c:oplmnento P - \! 14 !)

(1 ... l 11 111os imagi nando o volume de front eira de saída à d ireita do dom ínio) sen\
1~11i1I a Z<'ro, já que uma aproximação do tipo upwind deverá ser usa.da . Se,
11111 a lgum~ raZ<'io, for necessário o valor de ef> na front eira, o mesmo dever á ser
1 ' 1rn.polado ele valores ele <P internos. Em geral, o va lor de </> na fronteira ele
11ída (: [eito igual ao valor do volume interno imediatamente anterior. Lembre-
'º' eh· que ~b, nesta discusf!ão, pode ser as componentes cio vetor velocidade ou
11 1.c•111pcra t;ura.
P<n a qualquer desses casos, a forma da equa ção a proximada para o volume
d11 fronteira será do tipo da Eq. (7.79) .

........................
:
.
:

• i •
i ti. X f
1 i.----:.

e • E

• •
.........................

Fronteira

Fig. 7.11 - Volumes fictícios para as condições de dor;lo1'no.

7.7.2 - U so d e Volumes F ictícios

O uso de volumes fict ícios, conforme discutido uo Cap. 4, é uma prática.


nlraente pela facilidade de implementação, mm; t em , como defeito, o aumento
do número ele incógnitas. Para o arranjo co-localiza<lo de variáveis , torna-se
n.inda mais a.traente, poiH t.odas as variáveis t er ão o mesmo procedimento na
<1.plic<ic;ão das condições de contorno. P or co mplctcza, um.a malha bidimensional
('0 111 volumes fictícios est.á m ostrada na Fig. 7. 11. Não deve mos estranha r o fato
dP o volume fi ctício estar sendo denomina.do como volmnc P. Assim é fcit.o,
pois é para ele q ue vamos de Lermina.r nma nova equac;áo para ser juntada às
c•qua.ções elos volumes internos e formar o sistema linear. Tal como feito no
Cap. 4, a equa<,:Ao para o volume fictício, neste caso para wna fronteira oeste,
será sempre ela forma
150 C. n. M<tliskfl,

(7.82}
Novamente, devemos t rata.r dos dois t ipos de cond ições d e contorno exis-
t entes em problemas de escoamento de flui dos.

Fronte ira Impel'meável - </> Prescrito

Neste caso, conhecemos </>1, que deve ser equacionado em termos de <f>p e
</Ji:; . Assim,

A- </>p +ef>E
'Pf = 2 (7.83)

que nos dá, comparando a Eq. (7.82) com a Eq. (7.83) ,

A. p = 1 Ae = - 1 (7.84)

É importa nte recordar que <P poder á ser qualquer d as componentes do


vetor velo cidade, a temperatu ra., ou outro escalar qualquer.

Fronteira Impermeável - Fluxo d e <P Prescrito

Neste caso, o fluxo de </>é conhecido na. fronteira. Entã.o,

(7.85)

onde F<Ji é o va lor do fluxo ele </> a plicado na fronteira e, portanto, conhecido.
Usando uma aproximação em d iferenças centrais, temos, par a os valores cios
coeficientes,

Ap =1 Ae = 1 (7.86)

Fronte ira com Entrada e Sa ída d e M assa

Considere a cntrnda d e m assa se daJ1do pela face oeste do d om ínio, con-


forme a Fig. 7.1 1. Como já discutido, se especificarmos um determinado fl uxo
convectivo na entrada de nosso domínio de cálculo, estamos admitindo que o
fl uxo difusivo é nulo. Logo, teremos a cha mada aproximação parabólica.. Se o
fluxo convectivo de cj> é con hecido, então

</Jp = <f>c (7.87)


d e ontle tiramos os valores dos coeficientes, como

Ap =1 Ae = O (7.88)
Determinação do Campo de Velocidades - Acovlamento P-V 151

Hn o flu xo de massa está saindo cio domínio, por exemplo, pela face leste,
n,plicando a condição localmente parabólica, teremos
1111 1fio,

</>p = </>w (7.89)

Ap =1 Bw = 0 (7.90)

No código computacional SINFLO\V [133], as condições de contorno são


11 11lk 1\das usando volumes fictícios, como mostrado acima, apresentando, entre-
l 11 111,o , as equações na forma

{7.91)

11 q11 t' significa, unicamente, a troca de sinal dos coeficientes vizinhos, uma vez
q1u1d cs estão escritos no mesmo lado do coeficiente central, A.p, nas equações.
As condições de contorno nas outras faces têm aplicação semelhante, não
111111d o necessário repetir o procedimento.

7. 7.3 - Comentários Gerais sobre Condições de Contorno

Toda a literntura que trata do método dos volumes finitos para solução
dn problemas de escoamentos considera, quase na sua totalidade, escoamentos
lncompressíveis, fazendo uso, portanto, dos métodos de acoplamento pressão-
v<'locidade discutidos neste capítulo. Além disso, a condição de contorno usual-
111rnte discut.icla é a de velocidade prescrita . Pouquíssimas informações existem
1mbre condições de contorno de pressão prescrita e da mistura de condições de
l)l'Cssão e velocidade. A mistura das condições, se não observadas as carac-
k rísticas físicas, pode trazer sérias complicações de converg~nçi~1., bem como
pode representar situações fisicamente não-realistas. Por estas razões, procura-
H<', no restante desta seção, esclarecer estas dlividas.

Gs coarnentos Incompressíveis

Para escoamentos incompressíveis, apenas o gradiente de pressão tem in-


lluência sobre a solução, não interessando o nível de pressão existente. Por
<'xernplo, para o escoarnento incompressível em um duto de comprimento L e
seção transversal :1, apenas a diferença de pressão entre a entrada e a saída
r suficiente para clctenninar a vazão mássica que se estabelecerá. Qualquer
constan te que seja adicionada à prcssã.o nã.o alterará o escoamento.
Port.anto, para cscoament.os incompressíveis, se as pressões ele entrada
e saída forem especificadas, a velocidade não poderá ser também prescrít(I,.
Prescrevendo-se a pressão e a velocidade na entrada elo duto, não se pode prc::>-
crever a pressão na saída, pois dois valores pa.ra a vazão mássica estariam SCJ H lo
especificados.
152 C. R. M aliska

A combinação mais utilizada é a de velocidade prescrita na entrada e


condição localmente parabólica na saída , sem estabelecer qualquer condição
para a pressão. Como a solução é iterativa , o nível de pressão se estabelece
automaticamente. Se desejado, pode-se, também, prescrever o valor da pressão
cm um ponto do domínio, o que é equivalente a escolher uma das infinitas
soluções para a pressão que satisfazem as equações do movimento. Uma form a
de traduzir matematicamente a condição parabólica é impor a derivada nula das
variá.veis na saída. Vale a pena relembrar, aqui , que prescrever derivada nula é
equivalente a prescrever fluxo difusivo nulo da propriedade. Esta condiç~.o de
contorno vai se tornando mais real, quanto mais plenamente desenvolvido for o
escoamento. Tem aparecido, na literalura,, o emprego da condição de derivada.
nula inclusive em regiões com recirculaçõeis. Isto não é col'l'eto, pois nestas
regiões existem fluxos difusivos importantes que não são considerados com esta
condição. É lógico que é possível usar esta condição, empregando esquemas de
extrapolação para as variáveis na fronteira, mas deve ficar claro que existem
erros. Se é possível dar valores para a variável na fronteira de saída, apenas em
função de valores internos, então, é lógico, a condição de contorno é parabólica.
Conscqiientewcnte, não poderão existir efeitos elípticos atuando, como é o
caso de uma recirculação. Em resumo, a condição de contorno parabólica
só pode ser empregada quando o padrão de escoamento na fronteira. de saída
seja determinado somente pelo escoamento a montante. A Fig. 7.12 mostra a
posição correta onde se deve usar a condição localmente parabólica.

\
\
Condições de contorno Localmente
Efeitos
de entrada parabólico
elípticos

F ig. 7.12 - Condição de cont.orno localmente parabólica.


Det.ermiuação do Camvo de Velocidades - Acoplamento P -V 153

11:1l1·onmontos Compressíveis
N<'sta seção, vamos considerar como compressíveis aqueles escoamentos
1111d<' n 111assa específica (p) varia, significativamente, com pressão. Quando a
111 11-.sa específica varia apenas com a temperatura., o problema pode ser con-
lilPntdo como incompressível do ponto de vista numérico, para o qua.l as ob-
""' vn<;õcs j á feitas se aplicam.
Para os escoamentos compressíveis, a relação entre a massa específica,
1111•..,são e temperatura, dada pela equação de estado, deve ser satisfeita.
Para escoamentos compressíveis internos, como em bocais e tubeiras, as
1•1 111diçõcs de contorno devem ser dadas de acordo com a natureza do escoamento
1111 l'utrada e saída. A seguir, alguns casos possíveis são analisados.
• Para escoamentos subsônicos na entrada e supersôuicos na saída, as con-
dições de contorno na ent rada devem ser de pressão t.ota.l e temperatura
total prescritas, com saída localmente parabólica. Observe-se que, neste
c•scoamento, eleve existir um processo de atualização da velocidade na en-
t.rn.da, uma voz que o fluxo de massa não ó conhecido e sim determinado
com a solução do problema. [88].
• Para escoamentos supersônicos na entrada e na saída, pode-se prescrever a
pressão estática, a velocidade e a temperat ura total na ent rada. Na saída,
a condição ,localmente parabólica pode ser empregada.
• P ara escoamentos supersônicos externos, as condições de escoamento livre
são prescritas (número ele Mach e temperatura) nas fronteiras do domínio
onde elas existirem, ao passo que condições localmente parabólicas são usa-
das na saída do domínio [85,131]. É comum também, quando as metodo-
logias projetadas para escoamentos supersônicos são empregadas, aplicar
as condições de saída ao longo das características.

7.8 - Conclusões
Este capítulo deu início ao t ratament,o de problemas onde o campo de
vPlocidades e pressões deve ser determinado numericamente. Como já salien-
l 1 ~do, é na solução do problema de Mecânica dos F luidos que residem as maio-
1c•s dificuldades numéricas. A primeira delas é o tratamento cio acoplamento
pn•ssão-velocidade, resultante do processo segregado de solução das equações
de· conservação.
Foram descritos os métodos mais usados para tratamento deste acopla-
11t<'nto, prornrando-se apresentar a filosofia básica das metodologias, de tal
forma que o leitor possa analisar e propor melhorias ou novas maneiras de
t.rnt,ar o acoplamento. Tais métodos, íntensivameutc usados para o arranjo do-
s('llcontra.do, foram apresentados, também, para o arranjo co-localizado, un u,,
VC''l. que este último está sendo alvo de intensa pesquisa e será o arranjo domi-
1111.ute em um fut uro brevíssimo.
'I
151 C. R. M alisl.;a,

Tratamos, t a mbém, <las cond ições de conto rno, descrevendo as d iferentes


concliçõe::; encontradas em problemas práticos. Também nest e tópico, fizemos a
apresenta.ção usa.nclo o arranjo co-localizaclo. No próximo capítulo, cont.inu:u-e-
mos tratando dos acoplamentos, apr esentando o a copl a mento para problemas
d0 qualquer velocidade, onde a pressão interfere, a.gora, na velocidade e na
ma~sa específica.

7. 9 - Exe rcícios
1 '
7.1 - Na solução segregada de um problema bid imensional "incompressível
de couvec.ç ~/d ifusào , uma das forruas de corrigi r a velocidade é através de

'lt = . + ():,;
'U"'
à<b

(7 .92)
~ à<i>
v=v +-
ôy
O btenha a equa çào </> que permit.e corrigir as componcmtes do vet.or velo-
cidade tal que a equaçào da conscrva<;ão da mas:;a seja satisfeita.
/
7 .2 - !vlost.re que a correção de velocida.de no problema 7.1 11ão a ltera a
vorticidade.
- ·u - u. - 1: - t - tv
1 - ·w
7 .3 - Es('reva a expres:;ão de rl" , d tv • cl,.. d~, dj e d 11 , para os mét-0dos
SHvlPLE, PRl~fE e SIMPLEC pi:i.ra. os a rranjos co-localiz:aclo e clc:;encontrado.
7.4 - Obten b<'I. a equação para n. prcssào empregando o mé todo PRIME.
7.5 - CousidC're a Fig.7.8, onde a pressão é prescrita na fro 11t0ira. w. Ob-
tcn ha a equação parn a correção da pressão P' para o volume de cont.rolc P ,
utilizando o método SI.\fP LEC.
,
CAPITULO OITO
E scoa mentos a Qualque r Velocidad e
Acoplam e nto P - V / p

8. 1- Int ro dução
Historicament.e, os métodos numéricos para escoamento de fl uidos foram
desenvolvidos abrangendo duas grandes classes de escoam entos: escoamentos
ele baixa e de a lta velocidade. Os de baixa velocidade são, cm geral, relaciona-
dos com prohlema.s ele transferêncil't de calor, ou seja,, problemas convcct.ivos.
onde estamos i11teressados na. determinação cl~ts trocas de calor na int01face
sólido-fluido. Por serem escoamentos de baixa velocidade, com pequenas va-
riações de pressão, a densidade é considera.da. constante ou é determinada como
uma função apenas da temperatura. É a classe, portanto, par;.i. i'l qual se aplica
a formu lação incompressível, já discutida anteriormente, e que reqÚer o uso dos
métodos de acoplamento pressão-vélocidade vistos no Cap. 7. Os de.alta veloci-
dade são, em geral, compressíveis, relacionados aos problemas c!e aerodinfünica
e aerotermodinâmica.
Para. problemas compressívcis devemos introduzir no acoplament.o também
a influência. da pressão sobre a densidade. Este é o principal assun to deste
capítulo, pois se t.rata de um item relevante na literatura. atual, devido ao
grande impacto sobre os esquemas numéricos que procuram resolver escoamen-
tos a qualquer velocidade.
Outro tipo ele acoplamento, importante para problemas de transferência
de calor por convecção natural, é entre a tern pern.tura e a velocidade. Nc:;scs
problemas, o escoamento é causado pelos gradientes de t.emperatura e não
de pressão, justificando-se acoplar de maneira adequada a temperatura com
a velocidade, um procedimento raramente adotado em soluções numéricas ck
convecção natural. Este é o outro assunto deste capítulo, apesar de ser t.rat.ado
de maneira ext.rc111a.111ente breve.
15G C. R. Maliska

8.2 - A coplamento Pressão-Ve locidade e


Pre ssão-De n s idad e
Os escoamcnt.os de alta. velocidade são relacionados, em geral, com ae-
rodinâmica supersônica , cujo interesse principal é a determinação dos coefi-
cientes de pressão sobre a. superfície, para cálculo das forças de arrasto e de
sustentação de formas aerodinâmicas. O m6todo mais usado, nesta área, ainda
é o de diferenças finitas ern coordenadas generalizadas, existindo atualmente
uma tendência para aplicação do método dos volumes fin it.os.
P ara escoamentos de baixa velocidade, a metodologia bá..c;ica dos esqu<'-
mas numéricos (> a consideraç-ão de que a densidade não é fu nção da pressão.
Logicamente, não é possível resolver um escoamento supersônico com esta me-
todologia, pois, neste caso, com a existência. inclusive, de ondas de choque,
a. densidade varia significativamente com a pressão. Corno conseqüência, os
métodos que usam a. formulação incompressível, descrita no Cap. 7, nã.o são
aplicáveis aos escoamentos compressíveis de ali.a veloó cla<le.
Por ou t.ro lado, a metodologia básica. elos mét.odos para. rscoamentos de
alta velocidade é calcular a densidade através da equação da conscrvaç<'1o ela.
massa e a pressã.o através da equação de estado. I\' ão é preciso dizer que esses
métodos não se aplicam a escoam entos de baixa velocidade, onde a pressão não
pode ser determin a.da por \lma equaç.ão ele estado, por razões de inst.abilidade
numérica. Se r,\ densid<:tde tem pouca va.riação corn a pressão, pequenos erros no
cálculo de p resultam em gra.ncle.s erros no cálculo de P . Quando essas pressões
são introclu7.id&> nas equações cio movimento, as velocidades calcula.elas também
possuem erros que, por sua. vez, produ7.em erros aiuda maiores llO cálculo de p
via conservação da massa. E o processo assim C'ont.inua., genmdo instabilidade
e ca11sando divergência. Portanio. para escoamentos de baixa velocidade, já.
sabemos do Cap. 7, a pressão deve ser determinada através de uma equação
criada a partir ela equação ela conservação ela massa.
Uma out.ra forma de ver o porquê da limitação das duas metodologias é
olhar para o produto plf na equação da conservação da massa . Como em todo
processo numéri('O, sempre que a.pareçam produ tos de variáveis, eles devem ser
linearizados. Para os esccmmcntos de baixa velocidade, u8a-sc jogar a densidade
para os coeficieut.es. deixando-se a velocicla<le como variável ativa na equa.c;âo
da c:onscrvação da t11assa. A substituição desta velocidade por equações de
correção, de acordo com o método de acoplamento empregado, transforma a
equação ele conserva.ç-ão da massa cm uma equação para a pressão. A den-
sidade, entreta11to, foi mantida nos ('Oefi cientes com o seu valor d<\ it.eraçfü>
anterior. Dizemos que, nesse caso, i\. velocidade foi mantida como vaJ.'iável
ativa na equação ela consC'rvação da massa e o método só é aplicável a escoa-
mentos de baixa velocidade just.ament.c porque a densidade foi mant ida inativa
nos coeficientes.
O outro ca.so é quando a velocidade é incor porada. aos coeficientes e a
equaçào da couserv;\çào ela massa t,orna-se uma equação para a densidade.
Escoa.mentos a Qtta.lquer Velocidade Acoplamento 1' \/ / p l 5i

Neste caso, a variável ativa é a densidade e o método só se aplica a escoanwntos


ele alta velocidade.
Com base no exposto , parece, então, que o que caracteriza a formul ação
(compressível ou incompressível) é a. maneira ele linearização adotada para o
produto pV na equação da conservação da massa. Exi:;tem, atualmente, duas
linhas <le pesquisa de vanguarda, procurando estender as met-Odologias para es-
coamentos a qualquer velocidade. Uma delas é aquela em que a base numérica
foi desenvolvida para escoamentos cornpressíveis, e as extensões procuram con-
templar escoamentos incomprcssíveis. A outra. considera o oposto e é o objeto
de nosso capítulo. Nosso interesse, portanto, est1i nas metodologias cm volu-
mes finitos que usam a equaçã.o de conservação da massa para determinar a
pressão, ou seja, que aplicam os métodos para. escoamentos incompressíveis aos
compressíveis. É nessa. família de métodos que mostraremos uma extensão para
('scoam entos de <~lt.a velocidade.
A idéia básica é muito simples. Se, para escoa.rnentos incomprcssíveis,
nosso proced imento para determinar uma equação para P ou P' é substit uir
as velocidades (equações de col'reçã.o) como furn;ã.o da. pressão na equação da
conservação da. massa, pa.rccc lógico que, se desejamos ma.nt.cr a densidade
igualmente ativa, basta substituí-la, t.ambém, como urna função da pressão.
Assim , a equação de conservação da massa. se transformará em urna equação
para a pressão que carrega os efeitos desta. sobre a velocidade e sobre a. densi-
dade. A linearização é necessária, pois, do contrário, teremos um produto de
pressões, o que nií.o é perrnit.iclo, se queremos um sist.cn:1a ele equações Algébricas
lineares.
A proposiçào da. lineari:lação foi reafü,ada, hA mais de duas dén1.dns, nos
trabalhos de Ilmfow e Amsden (2] e Pat.ankar [99], mas a idéia não prospe-
rou. R.ecent.emcutc, Van Doormnal [152], parn coordenadas cartesianas, Silva
e l\faliska [131], Maliska e Silva [64] e I<arki e P ata.nkar [4~J.. para coordenadas
generalizadas, aplicaram a idéia básica no desenvolvimento de àlgoritmos para.
escoa.meoto::> de qualquer velocidade.
O clcsc11volviment.o que se segue, por simplicidade, será rcali:lado pa.ra duas
dimensões. Vale lembrar, também, qnc o desenvolvimento depende do arranjo
de ,ra.riáveis uLifü~ado. Admit.iremos que existem velocidades armazenadas nas
interfaces do volume de controle para conservação da massa. Se não existirem,
um processo para calculá-las, como já descrit.o 110 Cap. 7 para arranjo co-
localizado, eleve ser emprega.do.
Integra.ndo-sc a equação dfl. conservação ela massa no espaço e uo tempo
para um vol ume elementar cent.rn.do em P com interfaces e, w, n e s , temos

A1p - lvl<j, . . . .
!J.t + M. - A1..,_, + NJ,. - Ms =O (8. 1)
158 C. R. Maliska

onde

lvfp = Pe ô.. V
Mº = pf.,6.V
lVfc = (ptt,) e ê!.y
(8 .2)
1,fw = (pu)w 6.y
JVI,. = (pv )n 0. x
1Vf5 = (P'U) 8 ilx
Na. liuearizaçã.o do Lermo ptt, por exemplo, a segu inte e:;tr:a Légia é utili-
1:::ada (G4,131,152)

(8.3)

onde o sobrescrit.o ''*" significa que os valores são mant.idos const antes e co-
nhecidos do nível iterativo anterior. Com essa li nearizaçã.o, tanto a. deusidade
como a velo<.:idade se ma ntêm a~ iva.s rm equação ela conservaçã.o ela mas:;a.
As densidades estão armazenadas no centro do volume de conservação
da massa, juntamente com <:i pressão e as velocidades, se o arranjo for co-
localizado. Uma função de interpolação será. necessá.ri a para obter os valores
<lc p nas interfaces. Seguindo o esquema WUDS, vist.o no Ca.p. 5, podemos
escrever, para a densidade nas int.erfaccs,

Pe = ( ~ + ~/,, ) P P + ( ~ - %) (J E (8.4)

Pw = (~ + ~lw) Pw + (~ - ~1w) PI, (8.5)

Pn = (~ +%.)PI' + (~ - ~ln) PN (8.6)

Ps = (~ +~r.. )Ps+ (~ -~rs)PP (8. 7)

onde ~r assume os valores - ~ e + ~ , clepe11dendo de a velocida.cle ser posiüwt


ou negativa, sendo um esquem a 'ttpwind para a densidade com o iutuito ele as-
segurar a positividade dos coeficientes da equação de conservação da massa .
Também é possível dar uma explicação física para a. escolha ela aproximação
'ttpwind pura. Como a equação de conservação da massa não tcrn termos difu-
sivos, a solução exata uniclimeusional do problema couvectivo/difusivo requer
11111 perfil <lo tipo escada para a função de interpolaçã.o. Veja a semelhança
entre o "! e o a, no Cap. 5.
Escoamentos a QMlq·uer Velocidade Acoplamento P V /p 150

O procedimento agora é idêntico a.o já visto para. o tratamento do aco-


pl<lme nto pressão-velocic\ac\e em escoamentos incompressíveis, isto é. de vemos
substit uir os fluxos de massa linc~.rizados da equação de conservação da massa
por equacões de correção, agora de velocidade e dc11sidade.
Inicialmente, substituindo a Eq. (8.3) e as similares para as outras três
f;-ices na Eq. (8.l), obtém-se a equação de conserva.çào da massa com os fluxos
linearizados, na forma

mj,pp + m~ PE + m~pw + m~p,v + m,~ ps (8.8)


+ m~ttc + ·m,~~it.w + m~v.,. +' m~Vs = bc
onde

(8.9)

(21+ ) ~fn *A
V 11.u X - (12 - ) "fs V 8* uA X

e =
1nP (~2 - ~1.e ) u"6y
e (8.10)

niP
'W
= - (~2 + -1' W
) u*W 6.·y (8. 11)

m~ = (~ - l'n) v~6:r (8.12)

1nPs = - (~2 + ~r.)


's ·v*
,. A ...
L.), •.,
(8 .13)

m~ = [( ~ +/'e ) pj, + ( ~ - 7e) pj~] 6.y (8.14)

rn;~ = - [(~ +í'w


) P~r + (~ --lw) Pi~] í:::,.y (8. 15)

m~ = [ (~ +1,i) pj, + (~ - -r..) P;v] l:::,. x (8.16)

rn~ = - [ ( ~ + 'Y·) Ps+ ( ~ - 1·,) PP) 6x (8. 1i)

...
160 C. R. Maliska

(8.18)

Agora, os valores de p, ti e v, na Eq. (8.8), devem ser substituídos por


expressões que contenham a. pressão, ou a. correção da pressão, transformando
a equação da conservação da massa em uma equação para a. pressão ou correção
da pressão.

8. 2.1 - Exp ressões da Velocidad e em Função de P' - SI M PLEC

As expressões que relacionam as velocidades corno função da pressão (ou


P' ) são as já conhecidas equações de correção das velocidades. O procedimento
para determiná-las depende do método de acoplamento pressã.o-velocidade usa-
do. Por exemplo, para o método SIMPLE ou SIMPLEC, elas são obtidas sub-
traindo-se a equação do movimento escrita para P * da equação do movimento
escrita para P e desprezando-se as diferenças tJ. - u* e v - v * . As equações
resultantes para o caso bidimensional, j á vistas 110 Cap. 7 e aqui repetidas, são

(8.19)

(8.20)

v.,. = v.: - d:: (~P')n (8.21)

(8. 22)

8.2.2 - Expr essões da D ens idade em Função d e P' - SI M PLEC

As equações de correção da densidade são a. novidade que existe no aco-


plamento pressão-velo<:idade/deusiclade em relação ao acoplamento para es-
coamentos incompressíveis. Se para encontrarmos expressões para corrigir a
velocidade em fu nção de P' recorremos à equação do movimento, parece lógico
que a.gora recorramos à equação de estado.
Linearizando a equação de estado em fun ção da pressão, obtém-se

(8.23)
Chamando-se de p• o cam po de densidades obtido com uma pressão p • e
p o campo ele pressões obtido com um campo de pressões P , temos

p"' = CP P* +BP (8.24)


Escomncnl.oi; (1 Qv.nlq11er Velocicla.de A covl!tmen /.o p V Ir> 1()1

Subtraindo-se a Eq. (8.24) da Eq. (8.23), obtém-se

p = p* +CPP' (8.25)
0 11dt• P' =P - P* . A Eq. (8.25) é a relação procurada da densidade em função
ti<' !"'. Podemos, agora, obter as expressões para p nos centros dos volumes
11,t.rnvés da Eq. (8.25) , como

PP= PP + C~P'p (8.26)


PN = p;, + C~1P;v (8.27)
PS= Ps + C~Ps (8.28)
PE = PÊ+C~P~ (8.29)
Pw = Pw + CCvP~ (8.30)

Substituindo as Eqs. (8.19) a (8.22) e as Eqs. (8.26) a (8.30) na Eq. (8.8),


<'ucontramos a equação para P' como

(8.31)

onde

(8.32)
(8.33)
(8.34)
(8.35)
(8.36)

(8.37)

onde, por exemplo, l; é dado por

( ~~)
- i<
de = (8.38)
p e

A Eq. (8.31) é uma equação semelhante à equação pilra P' para escoamen-
tos incompressíveis, mas que, agora, também considera o:; efeitos da densidade
através da equação de estado e não apenas os efeitos ela velocidade através das
equações de Navier-Stokes.
A seguir, tem-se uma seqüência de cálculo utiliz<'l.nclo a metodologia des-
crita, ext.raída de (66,128).
Conhecidos os campos iniciais deu, ·v , T, P e p cm t =O, é o seguint.e o
procedimento de solução:
l62 C. R. Mali.~k<i

l. Sã.o estimados os campos de tL, v, P e p em t = t + 6.t.


2. Co m os campos disponíveis sã.o calculados os coeficientes das equa ções
da quanti dade de rnovimento nas direções x e y.
3. São calculados os coefi cientes ela equaçã.o para P' .
4. Fazendo P * = P , um cam po de velocidades i i * e v* é de tcnn imLdo.
5. É calculado o ter mo fonte bP' .
G. É resolvida. a equaçã.o para I'' , as velocid a.des 'u* e v* são corrigidas
através das Eqs . (8.19) i\. (8.22) . p* é co rrig ido at ravés da Eq. (8.25),
e o novo campo de pressões calculado por P = P* + P' .
At.é este ponto, a conservaçào da massa foi satisfeita para um deter-
minado conj unto d<~ coefi cie nt.es.
7. Retorna-se ao item 3 e itera-se até a convergência.
São n<~cessários, a inda, ciclos itera t ivos par a a a t ua lização dos coe-
fi cient~s das eq uações de conservaçã o da quantida.d<' de movimento,
para a soluçá.o da equação da energia. e devido ao trnnsient.e.
8. R et orna-se ao item 2 e iter a-se até a convergência.
Até o momento, as densidades são as <'Stimadas 110 item 1 e corrigi-
das apenas qua nto à va riação no campo de pressões pela expressão
aproximada, Eq . (8.25).
9. São calcula dos os coeficientes ela equa.ção da energia e u111 novo cnmpo
ele te mperat uras é clc-terminado.
10. Através ela equação de esta.cio, um novo campo de densidades é cal-
culado.
11. Reto rna-se ao item 2 e it era-se até a convergência .
=
Foi obtida, a t é aqui, a solução cio problerna cm t t + 6.t.
12. Considerá-se a. sol uçã.o em t = t + 6.t como urn campo inicial para o
novo nível de t,empo.
13. Retorna-se ao item 2 e iter a-se a té que o regime pertn<\U<!rlt.c seja
a t ingido.

A seg11ir , são aprescntad i\s as eq uações de correção par a a. velocidade e


densidade para o m étodo PRIME.

8 .2.3 - Ex pressões d a Velocidade e D en s id ade e m Função d e P.


Método PRilVlE

Novam ente, vamos considerar que temos a s velocidades clü;poníveis nas


interfaces ele um volume pa ra conser vação da massa . Essa d isponibilidade pode
/'ler devida ao . armazenamento desencontra.do ou aos processos de médía..s, j<\
t~xaustivam ente comentados e a presentados . Ma is uma. vez, cousiderando uma
:;it uação bidimensiona l, por sim plicida de, as equações de cor reção de velocida de
:-;ão aq uelas, do Cap. 7, qua ndo escritas para as q ua t ro faces do volum e ele
controle ele conservação da massa., dadas por '
Escon.menl:o.s tt (J11.1ilqtie1· Velocidade Acovlmnenlo P V /p 1G3

Ue = ft.e - d; (Pe - Pp ) (8.39)

v.,., = ti..,,, - d: (Pp - Pw) (8.40)

<'nquanto a equação de p como função de P é a própria equa<;I\O de estado,


dada por

p = CPP + BP (8.43)

Corno <~st.amos interessados em transformar a equa.ção da conservaçào ela


rnfü;sa cm urna equação para a pressão, basta subslituir as expressões das corn-
po11c11te:s da velocidade e ela densidade cm função de P na equação ele con-
s<'rvação da massa. P arn o m('todo PRl iVIE, estas expre:ssões são as próprias
<'q uações do movimento e de esta.do. Substituindo-as na eqm\Çã.o da conservação
da massa já lineariza.da, Eq. (8.8), obtemos uma. equação para a pressão na
forma

(8.44)

É deixada ao leitor a obtenção dos coeficientes para a Eq. (8.4<1) . Um


possível ciclo iter<).tivo para o método pode ser o seguinte:

1. Sepdo o problema: transiente, sã.o conhecidos no instante tos campos


de P, T , lt e v com p calculado pela equação de c::ita.do. Se um
transiente distorddo for empregado , estes campos scr'ão estimados.
2. Estimar os campos de P , T , u e v, com p novamente calculado pela
equação de estado, no instant.e t + D.t. Os valores de p, it e v são
denominados p* , tt • e 'V" .
3. Calcular os coeficientes e termos fontes para as equações do movi-
mento para H e 'V .
4. Calcular ú e 'fi nas inl;crfaces cio volume de <.:ontrole para a conservação
da. massa. É irnporta.nte repetir que íi e ?) contêm todos os termos
da equação ele co nserva.(;~o de quant.idade de movimento, exceto o
gradiente de pressão.
5. Calcular os coeficientes e o termo fonte para a pressão. Resolver a
Eq. (8.44) e obt.cr P através da soluç.ão de um sistema linear.
6. Corrigir as velocidades nas interfaces, usando as Eqs. (8.39) a (8.42).
164 C. R. Jvfaliska

Nest.e ponto, temos um campo de velocidades e densidades que satis-


fazem a equação da conservação da massa. Os coeficientes ainda não
fornm atualizados. Se o arranjo for desencontrado , a. correção da ve-
locidade na interface corrigirá a própria variável. Se for co-loca.lizado,
a correção da velocidade na interface não corrigirá a própria. variável,
pois a mesma está localizada no centro do volume de controle. A ob-
tenção da velocidade no centro deve ser foita através ele urna média
empregando as corrigidas da interface e não a.plicando o processo de
~orreção às velocidades no cent.ro do volume.
7. Calcular p, usando a equação de estado.
8. Retornar ao item 3 e iterar até a convergência.. Neste ponto, temos
os campos de u, v, p e T que satisfazem as equações da quantidade
1
de movimento e massa para um dado campo ele temperaturas.
1 9. Calcular os coeficientes para a. equaçã() da energia. Resolver o sistema
1'
linear e obter T . Retornar ao item 3 e iterar at.é a convergência..
10. Voltar ao item 2 e avançar um novo intervalo ele tempo.

8.3-:- Acoplamento Temperatura-Velocidade


Existem dois níveis de influência. do acoplamento entre os campos de ve-
locidade e temperatura em problemas de transferência de calor. O primeiro
deles, e o mais fraco , aparece em problemas de convecção forçada, onde as pro-
priedades físicas dependem da temperatura.. Nesse caso, o escoamento altera-se
pela, mudança da viscosiclacle, num t.ipo de acoplamento que poderíamos d izer
de segunda ordem em importância, No segundo deles, que aparece em proble-
mas de convecçáo natura.!, os gradientes de temperatura afetam diretamente o
campo de velocidades, através do empuxo, constituindo-se em um acoplament.o
ele primeira ordem.
Quando problemas de convecção natural, que possuem o acoplamento forte
entre lf e T, são tratados, a prática corrente, ao resolver a equa.çào da energia,
é manter as velocidades nos coeficientes, t.a.l que a equação resultante é uma
equ~tçào para a variável T apenas. Se V e T são importan tes na equa.çào da.
c m~rgia , o adequado é manter as duas variáveis ativas nesta equação. Para
isto, a seguinte linearização é proposta. em [31], seguindo a idéia usada para
lineari7.ar o produto pV para escoamentos de qualquer velocidade,

uT = u*T + ·u:T* - u.'"T* (8.45)

Estas expressões, substituídas na equação da' energia, originam urna equa.-


ção onde a velocidade e a temperatura são variáveis a.tivas. A dificuldade que
agora a.pa.rece é a, necessidade de resolver a temperatura, simultaneamcnt.c, com
7t e 'U . Conforme resultados a.presentados pelos a,utorc~, o tcrnpo de' co111 p1_
1taç.ão
Escoamentos a Qualquer· Velocidade - Acoplamento P - V /P 165

foi menor para urna série de problemas de convecção natural resolvidos. Lo-
gicamente, a implementação computacional e os sistemas lineares que devem
tier resolvidos são mais complexos. A metodologia. não se apJi.ca a problemas
onde o número de Prandtl é pequeno, pois, nesses casos, a transferência de ca-
lor é dominada pela condução e a velocidade deixa de desempenhar um papel
fundamental.

8 .4 - Conclusões
O desenvolvimento de metodologias para a solução de escoamentos sub-
sônicos, transônicos e supersônicos empregando um único modelo numérico
básico, conforme descrito neste trabalho, está recebendo grande atenção dos
pesquisadores. Trata-se de uma forma conveniente de a.tacar os problemas, pois,
muit.as vezes, temos escoamentos que possuem os três regimes de velocidade
simult.anearnente. Nesses casos, o método deve ser versátil pa.ra conseguir obter
a solução. O método a.qui apresentado, desenvolvido a part.ir da linearização
do produto da velocidade e densidade, tem sido apli<.;ado para uma série de
problemas práticos com baixo e alto número de Ma.eh, representando os limites
de funcionamento da metodologia, sempre com excC'IC'ntes resultados.
Também, apesar de muit.o brevemente, apresentamos, neste capítulo, uma
possibilidade para tratar o a,coplamento velocidade-temperatura, aplicável a
problemas ele convecção natura l.
O conjunto de equações a ser resolvido, quando se deseja, obter soluções
pari\ problemas de t.ransferência de calor. é muito rico em acoplamentos e 11ão-
li11earidades. Isto significa que muitas outras formas d<' t.ratar tais acoplamentos
<' não-linearidades podem ser concebidas e o leitor é motivado a exercit.ar seus
conheciment.os, procurando visualizar métodos para este fim.

8. 5 - Exercícios
8 .1 - P ropondo correções para a velocidade e para a massa específica por

ti= u* + tt'
(8.4G)
p = p* + p'
obtenha a Eq. (8.3).
8.2 - Obt,enha. a equação ele conservação da massa, Eq. (8.8), fazendo nas
Eqs. (8.4) a (8.7) o valor de / igual a zero e observe o sinal dos coeficientes.
Qual é o mínimo valor , em módulo, possível de ser usado para -y para que os
coeficientes result.cru positivos?
8 .3 - Umf\. outra forma de obter a equação para P' , Eq. (8.31) , é substitui r
dirC'tam cnte na <'quação de conservação dá massa,, Eq. (8.1), as expressões de
'li , u <' p ro1110 fu n<;ÕC's d<' P' , sC'n 1 usar a. li11cari za,<;Ao da.da pC'IA. Eq . (8.3).
16G O. .R. Mnliskn.

O resulta.do será uma cqua1,;ão onde aparecerão termos com produtos ele P'.
Proponha uma lin<'arização para esta equação. Existe a possibilidade de obter
os mesmos coeficientes dados pelas Eqs. (8.32) a (8.37)?
8.4 - As condições de contorno para com entrada. e saída <le massa do
domínio são as mais delicadas de serem estabelecidas. Especifique as condições
de contorno que resultem em problemas fisicamente consistentes pa,ra os se-
guintes problemas:

a . Escoamento iuterno incompressível ondC' a diferença de pressão entre


a. ent.rada e a saída é prescrita.
, b. Idem , onde a vazão mássica na entrada é conhecida.
c. Escoamento interno subsônico na entrada, p<:issando a supersônico no
domínio e voltando a subsônico na saída.
d . Escoamento interno s ubsônico na eutrada e supersônico na saída.
e. Escoamento externo supersônico sobre um corpo.

8.5 - Em pregando a linearização do produto ttT e vT dado pela Eq. (8.45),


obtenha a equação da energia cliscreti?.ada.
8.6 - Obtenha os coeficientes para as Eqs. (8.31) e (8.44) para OH pontos
inLcrnos. Cousiderc, agora, uma <.:o ndição <le contorno de velocidade prescrita
e obtenha os coeficientes para um volume de front.cira com esta condição.
,
CAPITULO NOVE
Problemas Bi e Tridimensionais
Parabólicos

9.1 - Introdução
Rigorosamente, pod (~mos dizer que todos os problemas de interesse prático
siio tridimensiona is, rc~quercnclo a soluçã.o da.s equações ele >!avier-Stokes com-
pletas. Exist.em, entretanto, muitos problemas e, entre eles, destacam-se o
<~scoarnento no interior de cintos e j a.t.os livres de ;)lta. velocidade, onde, con-
forme discutido no Cap . 4, os efeitos ele difusão podem ser desprezados em uma
direção. Isto torna. o problema de convecção dominante e, portanto, parabólico
naquela. direção.
A aproximação parabólica pennit.e um problema de marcha nest.a direção
e, por; est.a razão, não podem existir concliçôes de cont.orno a ju.s;,1nte. Tbdos
os efeitos físicos que t.ra.nsmitcrn informações contrárias ao escoamento devem
ser elimina.dos para que o problema. possa ser t.rat.ado pai'a bolicamente. Física.-
mente, a.s condições que devem prevalecer pa.ra que a a proximação parabólica
seja vá lida são:

1. Existência de urna direçã.o predominante de escoamento.


2. Difusi:io de momento, 1TW.SS<)., calor , etc. desprezáveis na ~lireção pre-
domina nte.
3. A pressão a jusante não eleve influenciar as condições do escoarnent.o
a montant.e. Esta. condição introduz o desacoplamento dos campos
de pressões. Como os efeit.os de pressão são elípticos, é necessário
desacopla.r o campo ele pressões na direção parabólica do campo ele
pressões nas outras direções, para que a equa<;ão do movimento na.
dircçào predornina.nt.e (parabólica) fique desacoplada das equações do
movimcnt.o nas outras direções .

A rest.rição (1) significa. que não poderá haver separnc;ão ou recirculação


do escoamento na direção predominante ou, em out.rns pa hwrns, 1;1 velocida de
deverá ser sempre positiva.. Com relação ao escoamento secundário (transversa.!
à direçã.o parabólica), é importante ter cm ment.e que a aproximação parabólica
não impô<~ nenhuma rest.rição, permit.indo que o mesmo seja. a.na.lisado comple-
ta.mente.
O clesacoplamento elo campo de pressões é obtido escrevendo-se
168 C. R. Malis/..:a

P (x,y,z) = P(x,y;z) + P(z)


onde P(z) e Ê'(x,y; z) representam a média e a variaç.:1.o local da pressão em
uma determinada. seção z. A Fig. 9.1 ilustra a Eq. (9.1). Na notação Ê'(x, y; z) ,
a coordenada zé mantida para esclarecer que Ê'(x, y; z) é um campo bidimen-
sional de pressão, mas que muda com z, enquanto a solução "marcha" plano
por plano ao longo de z. É importante observar que, a.gora, como os campos ele
pressões são desacoplados, deveremos ter um método para tratar o acoplamento
pressão-velocidade também na direção parabólica.

P(z)

x,y

Fig. 9.1 - Desa.coplamento do campo de pressões.

A seguir, os esquemas iterativos para problemas bi e tridimensiona.is são


apresentados. As equações serão escritas para regime permanente e escoamento
incompressível. Estas hipóteses não prejudicam, absolutamente, a generalidade
do assunto abordado nesta seção.

9 .2 - Proble mas Bidime ns ionais P arabólicos


Externos
O sistema de equações para resolver o problema. do escoamento parabólico
bidimensional é
Proble11ws Bi e Tridimensionais Parab6Lico.~ J 69

-8 (pmt) + -ô (pvtt) = - -ôP + -ô ( µôu


-) (9.2)
ôx ôy ôx ôy ôy

ô
-(puv)
ôx
+ -ô
ôy
(pvv) = - -af> + -ô
ây ôy
( µ.-âv )
ôy
(9.3)

ô ô
ô x (pu) = - ôy (pv) (9.4)

onde as a proximações pa.ra t.ornar o problema parabólico na direção x já foram


i11t roduzidas, sendo admitido que i~ « ~! , apesar desta consideração não
ser necessária para escoamentos externos. P ara problemas bidimensionais, o
clcsacoplamento da pressão é da. forma

P (x,y) = F(y;x) +P (x) (9.5)

Em problemas bidimensionais , com o desacoplarncnto do campo de pres-


sõc::> e, desde que ::;eja possível determinar o gradiente de P na direção :i; , a
velocidade u pode ser determinada da equação do movimento cm x, de pois da
substituição de v corno função dr u obtido da. equação da conservação da massa.
Ou seja, não necessitamos da equação da quantidade de movimento em y pa.ra
resolver o problema. Não é difícil reconhecer que o problema que est<í sendo
discutido é o problema de camada limite bidimensional. Aliás, aproximação
parabólica e aproximação da cama.da limite são si nônimos.
P ara a cle tennina.ção do gradiente de pressão cm :i; , bast.a lembrar que
estamos tra balhando com escoamento:; externos. Assim, o gradiente de pressão
em x pode ser relacionado com o gradiente de pressão em x fora. da. camada
limite, no escoamento não per turbado, onde a. eqnaç,ão de Bernoulli é aplicável.
Assim ,

-dP
dx
=- p ooUoo--
rhl=
dx
(9.6)

P ara escoamentos com velocidade constante, o gradiente de pressão em x


é zero. As equações que devem ser resolvidas, neste caso, para o problema de
camada limite externa bidimensional, são

-ô (pm.1.) a
+ -ôôy (pvu) = -ây (ti -ôu). (9.7)
ôx ây

â ô
ôx (pu) = - ôy (pv) (9.8)

que formam um sistema de duas equações a. duas incógnitas u e v. MNm10 qur


exista va riação de u 00 , as equações serão as mesmas com a inclusão do tc•rn10
de pressão, que será uma qua ntidade conhecida. As Eqs. (9.7) e (9.8) são H.s
170 C. R. M cuiska

bem conhecidas equações da camada limite, cuja soluç,ão clássica é a solução de


Blasius. Elas podem, logicamente, ser resolvidas utilizando-se algum método
numérico. Pa.ra. isso, existem muitos algoritmos possíveis e é deixado ao leitor
buscar na literatura o de seu interesse.

9.3- Problemas Bidimensionais Parabólicos


Internos
Para problemas internos, não existe mais a. possibilidade de equacionar o
gradiente de pressão em x com o escoamento fora da camada limite, pois este
tíltimo também tem variação com x e não é conhecido. A variável P não pode,
portanto, ser elimina.da., restando como incógnitas ti, v e P. O fechamento
do problema é obtido através da conservação da. massa global, uma vez que,
para escoamentos internos, a vazão mássica é conhecida. Logo, as equações que
devem ser resolvidas são

-ô (pim)
ô.x
+ -ô
f}y
(ptru) = -âP
-
âx ây
ôu)
+ -ô ( tt-
ôy
(9.9)

ô ô
- (pu) = - - (pv) (9.10)
âx ây

lVI= lpudA (9.11 )

onde ;V/ é a vazão mássica que escoa. pelo duto. Esse problema, novamente,
é de marcha ao longo de x, com a necessidade, agora, de se estabelecer um
algoritmo para determinar o gradiente de pressão cm x, de forma que a equação
de conservaç.ão da massa global seja satisfeita.. O acoplamento da velocidade
na direção x com o gradiente de pressão nesta direção será objeto de discussão
da seção 9.5.
Se cstivermoo interessa.dos na dist.rib uição de pressão com y, basta de-
terminá-la da equação do movimento em y, usando as velocidades v. e 'U já
calculadas.

9.4 - Problemas Tridirnensionais Parabólicos


Externos
Os esC'oamentos externos mais co111w1s que podem ser tratados parabo-
licawente Hão os jatos e plumas. conforme esquematizado na F ig. 9.2, on<le
apenas é mostrado um plano para simplifirar a figura. Deve-se ter cuida.do ao
considerar a aproximação parabólica.. pois o jato vai perdendo quantidade ele
P1·oblemas Bi e Triclimensionais Pcw(l.bólicos 171

111ovi111cnto pela incorpora.çâo do fiuido ambiente, deixando de ser parabólico a


11111~i det erminada distância d a descarga..
O desacoplamento da. p ressão na direção axial é feito de acordo com a
l•:q. (9. 1). Um detalhe importante, agora, é perceber que não podemos d ispen-
1mr , como fei to no caso 2D, as equações do movimento em x e y, pois o campo
d<· pressões P d eve ser determinado para que a dis tribuição de vclociclacles no
pli\uo (x, y) possi:\ ser conhecida. É fácil ver que, mesmo que tenhamos a velo-
<'idaclc 't.l calculada , não é possível extrair v ou w d a equa.ção d a conservação d a.
111assa., como era feito no problema bidimensional, pois agora são três velocida-
dt•s envolvidas na equação. A distribuição deu e v no plano (x - y) será dada
1H'la solução do problema bidimensional no plano, envolvendo as equações da
ron:>e1YdÇâo da quantidade de movimento em x e y e a conserva.ção da massa
local.

z (Direção parabólica)

LL Planos de marcha

Fig. 9.2 - Escoamento tridimensional pa.rabólico c~tc rn o.

Com o desa.coplament,o do campo d e pressões, a incógnita.Pé substituída


por outras duas, P e P. A equa.çâo de fechamen to vem, tal como para o
escoamento bidimensional ext erno, da rela.ção com o escoamento não pertur-
bado, fora da região de solução do problema. Por exemplo, sendo um jato, a
L72 C. R. Maliskn

pressão ao longo da dire<;ão axial é tomada como constante e igual à pressão


atmosffrica. Isto significa dizer que a incógnita P terá sua própria equação,
que não envolve as variáveis elo problema e, portanto, pode ser admitida como
conhecida. Restam as incógnitas u, v, w e P, cujo sistema de equações a ser
resolvido é, já eliminando do sistema o gradiente de P , no caso de P constante,

-â (puu) + -
âx
ô(pvu) + -âza (pwu). = -aP
ây ôx âx
ô-u) + -âyâ (
- + -â ( µfü; âu) (9.12)
/J,-
ây

~
ôx
(ptw) + ~ (pv'u) + ~ (pwt1) = - aP + !..._ ( 1); av) + ~
ây âz Ô1J âx âx ây
(µ ôv)
ây
(9.13)

ô ô ô
- (pu)
éh;
+ -ây (pv) = --
âz
(pw) (9.14)

-â (pttw) +
8X
-ôy (pvw) + v~
8 z 8X 8X 8y
âw)
{) (pww) = -ô ( µ - + -â ( µ.71
vy
âw) (9.1 5)

,.•- - - 6Z - --11o
B - - - - - - - - -... p

Plano anterior (B) Plano de cãlculo (!')

F ig. 9 .3 - Avaliação das derivadas e m ;:.

A forma como fornm dispostas a:-; equações acima pretende salientar que
as Eqs. (9.12) a (9.14) formam um problema bidimensional elíptico no plaJ10
(:i;,y), acoplado ao problema da equação do movimenLO em z, Eq. (9.15). Pan\
a ~olu ção do problema, as Eqs. (9.12) a (9.15) devem ser discretizadas seguindo
o que foi estudado nos capítulos anteriores. Deve ser lembrado que todas as
integrações em z são feitas entre o pia.no de cálculo e o plano anterior, conforme
mostra a. Fig. 9.3. Por exemplo, para o termo t_ (pwp) . temos
Prnblmnti:; .Di e 11-idi?ncn.~ionais J>a.rnú6licos 1?:J

l _
z+ô. z Ô
Ôz (pu</>) dz = pu.<f> 1p - pu<f>
1
D (9.16)

011d<1 podemos observar que todas as quantidades avaliadas em B são conhecidas


1•, portanto, fazem parte do termo fonte ela equação. O problema torna-se
hic 1i111en:;ional no plano de cálculo, obtendo-se uma equaçi"to aproximada, para
11H l.:q:;. (9.12), (9.13) e (9.15), do t.ipo

(9.17)

Um possível ciclo iterativo para solução do problema é apresentado abaixo.


No plano (x - y), devemos tratar o acoplamento (u -v)/ P com um dos métodos
q11c já vimos no Cap.7. No procedimento que se segue vamos usar o SIM-
1, LE/SIMPLEC.

l. Para o plano z = Osão conhecidos os valores deu, v e w.


2. Avançar para o plano z + L'i.z e estima r os valores das componentes
do vetor velocidade e da pressão P. Os valores do plano anterior são
adotados.
3. Calcular os coeficientes para a equação do movime nto em z . Resolver
o sistema. linear e obter w.
4. Calcular os coeficientes para as equações deu e v.
5. Com o campo estimado de P, resolver os sistemas linectl'es e determi-
nar u* e v*.
6. Obter a equação para P', cletermifütr P' e corr igir as velocidades -u* e
v*, usando as equações ele correção do método SIMPLE ou SIMPLEC.
7. Fazer P = P* + P'.
8. Voltar ao item 4 ou 5 e iterar até convergir no problema bidimensional.
A solução não é a correta, pois a velocidade w ta mbém 11ã.o é correta.
9. Voltar ao item 3 e iterar até convergência. Neste ponto, temos um
cam po de velocidades (u, v, w) e de pressão P dete rminaclo.para aquela
posição z .
10. Avançar para a nova estação z e repetir os cálculos até varrer o
domínio desejado.

9.5 - Problemas Tridimensionais P arabólicos


Internos
T<:>dos o::> escoamentos t ridimensionais no interior d<' dutos retos com qual-
quer tipo de seção trans versal, sem obstáculos ao longo do 0scoamento, podem
ser tratados com o procedimento parabólico. O tratamento é muito semelhant.C'
ao já descrito para escoarucutos externos. A diferença fund amental está no fa.t.o
174 C. R. M(iliska

de agora não ser possível relacionaJ· o gradiente de pressão na direção axial co


o escoamento fora. da. camada limite. Port anto, ~~ não é conhecido e sim 1m
uma incógnita a ser determinada. Felizmente, t emos mais uma equação pa:
ser usada, que é a conservaçã.o ela massa global, dada pela Eq. (9.22) .
Como o gradiente de pressão na direção axial, quando substituído r.
equação de conservação da quantidade de movimento axial, deve gerar veloc
dades axiais que satisfaçam a conservação ela massa global, existe um novo ac<
pla.mento a ser resolvido. Vamos denominá-lo acoplamento pressão-velocidaé
na direção axial. Temos, então, um acoplamento bidimensional no plano (x - 11
e um acoplamento unidimensional na direção z, ambos ligados através da vek
cidade axial que a parece nos dois acoplamentos.
O sistema de equações a ser resolvido é

!...__ (pim)
ôx
+ !...__. (pvu) + .!!_ (pwu) =
ây ôz
- aP + .!!_
âx âx
(µôu)
âx
+ .!!_ (µ ôu)
ây ây
(9.18

ô-ôX (puv) + vy
8 ô
Z
aP a ( ~1. -
~. (pvv) + -ô (pwv) = -ô- + -ô
y X
â
X
+-ô
y
µ.-ô
y
ôv) ô ( ôv) (9.19;
ô ô ô
-
âx
(rm) +-
ây
(pv) = - -az (pw) (9.20)

.!!_ (puw) + .!!_ (pvw) + .!!_ (pww) = - ôP + .!!_ (1;,


ôx fJy âz ôz âx
ôâxw)+ .!!_ôy (µ ôw)
ây
(9 .21 )

ilf = l wdxdy (9.22)

onde as Eqs . (9.18) a (9.20) formam o problema bidimensional no plano (:i; -y)
e as equações Eqs. (9.21) e (9.22) cara.cterizarn o problema. na direção axial.

9.5.1 - Tratamento do Acoplamento P- w na Direção


P arabólica

A filosofia. para criar um método que trate o acoplamento na direção


parabólica. é a mesma empregada para os !'J.Coplamentos bi e tridimensionais
elípticos. Ou seja, na direção parabólica, devemos encontrar o gradiente de
pressão nest a direção que gere velocidades que satisfaçam a conservação de
massa global. O processo pocl(~ ser iterativo, estimando um gradiente de pressão
e corrigindo as velocidades de modo que a massa seja conservada. Um processo
it.era.tivo desta. nature-ba foi proposto por Patankar e Spa.lding [101] e passa.,
agora, a ser descrito.
Proble ma.~ Dí e Trid·iuicn.sionai.s Parab6licos 175

l\ l " t udo d o Patankar e Spalding - Acoplame nto P~w

O 111C'smo procedimento aplicado para determinar as equações de correção


d11"' v11locidadcs, mostrado no Cap. 7, será empregado, agora, para a equação
ia. d11 11111vin1cnto na direção z. A integração da Eq. (9.21) no volume de controle
:i- 1111 111 11, velocidade w nos dá
)-

le
') (9.23)
>-

J>;\ra um gradiente de pressão ( ~~ )" a equação tem a forma

)
(9.24)

Subtraindo a Eq. (9.24) da Eq. (9.23) e desprezando as diferenças entre


11• 111•, encontram os

Wp = wf> - (dP)'
dz
6.V
Ap (9.25)

1111dc

= (dP)"+ (dP)'
(dP)
dz dz dz
(9.26)

A integração numérica da vazão mássica. na área. é

M= 'L pw!:::,.x!:J.y (9.27)

Snbstituindo fl, Eq. (9.25) na Eq . (9.27) , encontramos

(dP)'
dz
(9.28)

oude 1\d • é a vazã-0 mássica cnlcula.da com a velocidade w*. A correção no


gradiente de pressào adicionada ao gradiente de p ress~.o estimado nos dft o
novo gradiente. A Eq. (9.25) serve para. corrigir a velocidade axial de forma
que a conservação da massa global seja sat isfeita. O processo é i.terativo dentro
do ciclo da equação do movimento axial. O ciclo iterativo completo deste
rnétodo será comem.ado logo mais, quando o próximo método de tra.tament.o
do acopl<J.mento for analisa.do.
17G C. ft. M aliska

Método de Raithby e S ch neider - Acoplamento P- w

O método proposto em [114] teve como objetivo eliminar o processo ite-


ra tivo na cou eção do gradiente de pressão em z, fazen do uso da linearidade
<~xisten te entre a velocidade w e o gradiente de pressão em z, na Eq. {9.23), pa.ra
um dado conjunto de coeficientes. Explorando esta cara.cterística, Raithby e
Schneider [114] propuseram as seguintes novas variáveis

dP . _ Ôwp
Q =-- j p - âQ (9.29)
dz
A variável f pé obtida., de acordo com sua definição, derivando a Eq. (9.23)
em rela.ção a Q. O resultado é

A p f p = Aef B + Awfw + A ,. f N + A.,Js + 6.V (9.30)


Aproximando numericamente as expressões da Eq. (9.29), obtemos

6.Q = dP _ dP•
(9.31 )
dz clz
e

fp6.Q = b.w p = Wp - Wp (9.32)

Integrando a E(]. (9.32) na área, encontramos

b. Q = i!f - i!f* (9.33)


L, pb.x b.y fp
As condições de contorno paTa a Eq. {9.30) são obtidas inspecionando-se a
Eq. (9.32). Para velocidade prescrita, não devemos t.er correção de velocidade,
o que obriga que f p seja zero. Para a condição ele derivada ela velocidade
prescrita, a equação requer a derivadfl. de f p igual a zero. A Fig. 9.4 mostra a
estra.tégia ele correção do gradiente de pressão em z sem necessitar de iterações
no acoplamento pressão-velocidade na direção axial, em função da linearidade
existente entre a velocida(le w e o gradiente de pressão nesta direção.
O procedimento de c;~lculo na direção parabólica é simples.

1. Estimar "'!' e calcular wj,, resolvendo a Eq. (9.24) (solução de urn


sistema linear de equa,ções).
2. Com w? determinar ,vr,
usando a Eq. (9.22).
3. Resolvei: a Eq. (9.30) e determinar f p.
4. Calcular 6.(.J, usando a Eq. (9.33).
5. Corrigir os valores de w;,,utilizando a equação wp = Wp + f p 6.Q.
6. Calcular o novo campo de pressões, utilizando a Eq. (9.31).
P1·oblemas JJi e Tridimensionais Parab6licos 177

l ' 111·11. concluir , é aprescnt;:i,do um possível procedimento iterativo para. rcsol-


' 1 11111 problema parabólico em um escoamento tridimensional interno. Imagi-
111 11111-., por exemplo, tratar-se cio escoamento na região de entrada de um dut.o
11l 1 111~1 11 l a.r. Para tratar o acoplamento pressão-velocidade no plano elíptico
11 11), usa.remos o método PRlME e, na direção parabólica, o método de
lt 1t11 hb.v e Schneicler.

.!lQ

dP dP
dZ dZ

.Fig . 9.4 - Correção não-itera.tiva do gradiente de pressão.

1. :'-Ja entrada do d uto são conhecidas as velocidades e pressões.


2. Avançar ê::..z e est.irnar os campos de velocidades e de pressões (t1, v ,
w, Í', P) neste plano de cálculo. É lógico que serão usados os valores
do plano anterior.
3. Calcular os coeficientes para a Eq. (9.23) e com d?:,. determinar w*
(solução de um sistema linear). Calcuh:u· lVI* .
4. Determinar f (solução de um sistema linear). Calcular D.Q.
5. Corrigir w* e d~·, usando as Eqs. (9.32) e (9.31), respectivamente.
Neste ponto , como o processo é não-iterativo , temos a solução do
problema. a.xial para um determinado conj unto de coeficientes que en-
volvem u e v . Devemos, agora, passar ao problema elíptico no pia.no.
6. Calcular os coeficientes das equações do movimento para tt e v.
178 C. R. Maliska

7. Calcular ú e ·D . Calcula r \7 .V, usando as equações mostradas no Cap.


7.
8. Determinar P, resolvendo a equação para a pressão inerente ao mé-
todo PRIME, também apresentada no Cap. 7.
9. Corrigir u e v, obtendo o campo de velocidades que satisfaz a equação
da conservação da massa. Neste ponto, t emos um campo de pressões
e um campo de velocidades que satisfaz a conservação da massa.
10. P odemos voltar ao item 5 e iterar o acoplamento cio plano elíptico, até
convergência, e depois passar novamente para o problema na direção
pa rabólica, ou podemos voltar ao item 2. Não existe urna única re-
gra. que funcione sempre. A experiência do a utor com est.es proble-
mas mostra que podemos voltar ao item 2, sem iterar o acoplamento
elíptico.
11. Avançar qualquer outrn variável envolvida, como tern perat.ura, con-
centração de massa etc.
12. Como os coeficientes cio item 2 foram computados com velocidades
estimadas, voltar ao item 2 e iterar a t.é convergência.
13. Avançar para a próxima estação z, já que o problema é parabólico
e, portanto, a solução "marcha" em z , até varrer todo o domínio
de interesse. Os incrementos a serem dados na direção z dependem
elos gradientes das variáveis em relação a z e devem ser a nalisados
cuidadosam ente. É recomendá vel que, depois de avançar alguns pla-
nos e a singularidade da entrada ter sido vencida, se aumente o 6 z
para acelerar o processo de ma.rrha., cuida ndo, obviamente, da pre-
cisão da solução nos diversos planos. Se estamos apenas interessados
em obter a solução do escoament.o plenamente desenvolvido (lembre
que estamos considerando o problema ela região de ent rada cm um
duto), podemos marchar com grandes 6.z, pois a solução plenamente
desenvolvida não será afetada. pelo tama nho de 6.z.

A grande vantagem cio procedimento pa rabólico é a. economia no armazena-


mento das variáveis, uma vez que ape nas as variáveis em dois pla nos adjacentes
devem ser armazenada•>, as do plano de cálculo e as do plano a montante. Além
disso, resolve-se um problema bidimensional em cada plano. P or exemplo , um
problema. com uma. malha de 400 volumes na seção transversal e 100 avanços
em z representaria., se resolvido elípticamente, um sistema linear de 40.000
pontos para cada. var iável. Com o procedimento pa.rabólico, ternos a solução
de 100 problemas bidimensionais com 400 volumes. A diferença no esforço
computacional é excepcionalmente grande.
Urna outra possibilidade é considerar o problema parcialmente elíptico, isto
é, resolver de for ma cl íptica. apenas a p res:>ão. A rnarcha parabólica apresentada
nesta seção 8eria empregada varrendo-se o domínio diversas ve7,es e atualizando-
sc o campo tridimensional de pressão. É uma alterna.tiva que ni'i.o tem sido
empregada com freqüência na lite ratura.
P1·oblrnws Ui e• 'lhdimensfonr1:is f>anib 6lico8 L79

onclusões
h t1l.1 1 <·n,pít.ulo mostrou q ue a aproximação parabólica é urna alterna tiva que
h 11 ' "'• 11t.ilizada quando o problema físico permitir. P ara escoamentos tridi-
1111 " 101111.is <'m dutos retos, e mesmo com moderada cur vatura, a aprox imação

1· 11 du1lil'a d eve ser empregada, porque permite re.solver o problema completo,


. 111 p11•j 11d ica.r o escoamento secundário, com um tempo de computação extro-
"' 1111t111I" pequeno, se comparado com a solução totalmente elíptica. Ta mbém
I" "111111 H<'r resolvidos escoamentos de ja.tos d escarregados em ambientes parados
• 1il11111ns, a brangendo uma outra classe de import antes problemas ambientais.
1loiK métodos para t.ratar o acoplamento p ressão-velocidade ua d ireção
1111111l11'>1in:i fora m apresentados, sendo um deles não-iterativo.

tt. 7 - Exercícios
0 .1 - Resolva o problema do escoamento isotérmico na região de entrada
ili • d11as placas paralelas infinitas com distância h entre elas. A vazão mássica é
1111il1<•c·ida na entrada. Calcule o produto f.R e para a condiçi\O de perfil plcua-
1111•111.(· desenvolvido e compare com o r esulta.do obtido analiticamente. Utilize
11 111 c~ Lod o ele Ra ithby /Schneider para tratar o acopla mento pressão-velocidade
1111 direção parabólica e recon heça que não existe necessida de do tratar o aco-
pli111H•nto na direç:ão transversal, já que a. velocidade 'V é determi nada através
d11 Eq. (!UO).
9.2 - Para o exercício 9.1, mostre que, Re o avan<;o ela solução ao longo
do <'ixo do d uto for feito explicitamente, existe um limite máximo no passo de
1tvn nço para que os coeficien tes não resultem negativos. Determine ('St e limite.
9.3 - ObLenha os coeficientes da Eq. (9.17).
9.4 - Faça uma esti mativa d a necessidade de a rmazena me nto das va riáveis
para o problema de escoam ento tridimensional , laminar e inc"o1np1·essível no in-
1Prior ele um duto, quando as formulações elíptica e pC1rabólica. são empregadas.
,
CAPITULO DEZ
R e comendações Gerais
para Concepção e Te ste do Programa

10.1 - Introdução
A arte de bem simular numericamente qua.!quer problema físico requer a
harmonia entre o uso do computador, a busca dos erros de programação e a
correta interpretação cios resultados como etapa final. Será. inevitável para qual-
quer analista que estiver desenvolvendo programas o confronto com inúmeros
erros, tanto de lógica de programação, quanto de implementação incorreta de
expressões. Dizem que todo programa de muitas linhas (mais de 100.000)
possui em média 5% de linhas com algum tipo de erro. É uma percentagem
absurda.mente grande, principalmente porque nós (quase) sempre garantimos
que nosso programa não tem erro.
Escrever o programa, testá-lo para erros de lógica e implementação, valídá-
lo numérica e fisicamente são tarefas que exigem conhecimento do problema.,
da área numérica e paciência. Achar um erro difícil tem algo de detetive,
verificando as pistas, analisando-as com cuidado, eliminando áreas do programa
onde o erro certamente não estará etc.
Existe, portanto, urna série de pequenas regras que, embora aparentemente
triviais, temos observado, não têm sido seguidas pelas pessoas que iniciam seus
estudos na área numérica. Tais pontos são agora descritos.

10.2- Os R e quisitos p ara o Ana lista Numérico


Ao longo do texto, j á salientamos que, em funçã.o da grande expansão
experimenta.da. pelos computa.dores e da relativa facilidade de implementação
dos métodos numéricos, a área numérica tem sido palco de muitas a.venturas.
Muitas pessoas fazem uso dos método:-; numéricos sem estar preparadas para a
atividade. Imaginar que resolver um problema numericamente é uma atividade
mais simples, bastando "jogar" para dentro do computador as equações e obter
os resultados, é urn gnmde engano. O resultado é sempre desastroso, pois, não
estando o usuário preparado para o emprego de técnicas numéricas, a impressão
que fica , da experiência, é que os métodos numéricos nã.o sã.o eficientes.
Existem, portanto, dois requisitos fundamentais que devem ser preenchidos
pelo analista numérico:
IiecomcnrLaçó1~.s G<'1'1tis 71am Conccvçiio e 2 'e.si.li rio l'ro.rrramrt 18 1

1. Conhecer profundamente a física do problema a. ser resolvido.


2. Conhecer profundamente a me todologia numérica que ser á usada.

O requisito 1 é o mesmo que se exige de um experimentalist a de labora tório.


r ~ 110 rnuhecer o problema físico e atacá-lo numericamente pode t razer con-
111qii<·ucias tão, ou m a is graves, quanto ir a o laboratório faze r uma experiência
t11 'l11 rnnbecer a física do fenômeno. Interpretar resultados, ar1alisar ordens ele
1•,111rn lcza, confrontar os resultados com a física, a na lisar tendências etc., são
111 1·pf'm; que só podem ser feitas se a física for conhecida, seja a experimentação
d1• ln.horatório o u numérica.
Quanto ao item 2, não atendê-lo é equivalente a tentar dirigir um veículo
u •111 saber exa tamente onde estão os comandos e quais são as suas funções. >la
p1 i111c•ira dificuldade, mesmo t endo sido possível dar a partida., aos solavancos,
11 ndclente é certo.

Portanto, não é demais enfatizar que o analista deve conhecer as limitações


dn seu modelo matemático e de seu modelo numérico para ter noção corret a
d11,quilo que a simulação pode lhe proporcionar.

10.3 - E s cre v endo Se u Programa

10.3.1 - Gen eralidad es

A tendência de todos nós ao iniciarm os a confecção de um progra ma é


1orná-lo o m ais geral possível. Para o iniciante, é recomendado que sempre
('()lllece por um progr ama simples, em coordenadas cartesianas, sem tent ar, já
dn início, inco rporar todos os t ipos de condições de contorno possíveis. Ini-
rlnlmente, é bom fazer um programa enxuto, sobre o qual se tenh a controle
11,hsoluto e se saiba onde procurar possíveis erros. Com o programa sob con-
1rolc, acrescêntam-se-lhe novas atribuições.
O programa deve ser bastante modular, dividindo-se cm sub-rotinas bem
dc•finidas, ou seja, com funções bem claras. Antes de irmos a o terminal (ou
Pst.ação de traba lho) para escrever o programa, devemos fazer um a análise
prévia das sub-rotinas necessárias. A compilação eleve ser feita s ub-rotina por
s11b-rotina., elim inando os erros de sinta..'Ce.
É aconselhá vel verificar se na infra-estrut ura comput.adoual disponível
<?Xis tem processa.dores vetoriais e paralelos para poder t irar vantagens dessas
a rquiteturas, se assim for desejado. O impor tante é escrever o progr ama. já
sabeudo em que tipo de processador o mesmo será exccul;ado. t:'m programa
<'S<Tito sem cuidados par a vet.0ri:1..ação pode ser executado cm um processador
VC'torial, mas, logicamente, os efeitos benéficos ser ão menores do que se o pro-
srama estiver escrito com o objetivo ele vetori~ão. Para o processamento
paralelo, est a recomendação é ainda mais im por tante.
182 C. R. Malis/.;(1,

Uma outra questão discutida atualmente é quanto à linguagem de pr<


gramação. O FORTRAN, classicamente empregado em programação científic<
ruuda mantém sua hegemonia nesta área. A parte de visualização científic~
entretanto, indispensável em Mecânica <los Fluidos Computacional, é feita en
C++, devido à. adequação desta lü1guagem à parte gráfica. A interface ent r•
as duas linguagens para t.rimsferência. de infonna.ções não é, entretanto, fácil
Existem <:orrentes ele opiniões, compartilhadas por este autor, que a.firmarr
que C++ será. emprega.da. no futuro como uma linguagem também para pro·
gramação científica [15], cumprindo, portanto, os dois papéis. Isto já é realidadE
cm muitos centros avançados <le pcsqui.sa na. área. numérica. O aparecimento
do FORTRAN 90, que possui estrutma semelhante ao C, mostra. esta direção.

10.3.2 - Indexação das Variáveis

Um outro pont.o importante a ser observado durante a concepção do pro-


grama é a indexação das variáveis dependentes. Independentemente do arranjo
de variáveis emprega.do, vimos, no Ca.p. 7, que sempre sfto necessários cálculos
de velocidades e propriedades nas int.erfaces dos volumes de controle. Se o
arranjo for desencontrado, serão as próprias velocidades que estarão nas inter-
face."> e, se for o co-localizado, serào as velocidades auxiliares que ali estarão
nnnazenadas.
A Fig. 10.l mostra uma malha. com 12 volumes de controle. Um modo
prático de ordenar est.cs volumes de controle é conforme mostrado nesta figura.,
numerando da. esquerda para a dirciLa e de baixo para cima, formando um
único vetor. Tl:abalhar com um armazerrn.mento tipo vetor, ef.{i), em yez de
</>('i,j), ajuda naºTinplementação das sub-rotinas, no controle das va.riáveis e no
entenrlimcnto do programa.
Quanto à indexação das variá.veis, também na Fig. 10.1, é mostrada a
forma mais emprega.da.de fazê-la [100) . Todas as variáveis e propriedades físicas
localizadas no centro e nas faces leste e norte do volume de controle recebem o
mesmo número de indexação no programa computacional.
Se o arranjo for desencontrado, por exemplo, a componeute u do vetor
velocidade € armazenada nas fa.ces leste, e oeste, enquanto a. componente v o
é nas faces norte e sul. A velocidade u armazenada. na face leste do volume
de controle 6 será, entào, denominada u(6) e a velocidade v a.rrnazenada na
'º face norte será v(6). A pressão, temperatura, concen-trações, ou outro escalar
1 1

qualquer, estarão loca.fü~ados no <:entro do volume e, logicamente, receberão


também o índice 6.
Se o arranjo for co-loca.lizado, as componentes u e v, e todas as outras
variáveis, estarão armazenadas no centro e terão o índice 6 o, novamente, as
velocidades auxiliares como 1i• , 11*, ft e fl, necessárias nas interfaces leste e
norte, t.erão também o índice 6.
Com relação aos coeficientes , é claro que todos eles recebem o índice da
variável. Aiuda rcportai1do-nos ao volume 6, os coefidentes para a componente
Recomendações Gerais po.ra Concepção e Teste do Programa 183

11 1111 V(l l.o rvelocidade seriam, por exemplo, já propondo uma denominação
11•1111 11 vti.riável no programa, APU(6), AEU(6), AWU(6), ANU(6), ASU(6)
1 /lf /(0). Estes coeficientes seriam, respectivamente, Ap, A e , A tu, An, A s e o
l 1•111111 fonte B P relacionado à variável u. As recomendações até agora feitas
111 11ll1111põem que apenas os coeficientes não-nulos serão usados no procedimento
1111111(•1'i«o, urna vez que apenas estes estão sendo armazenados. Isto significa di-
1•1 11111' HOmente métodos iterativos serão empregados para resolver os sistemas
ltlh llll'('H.

• 10 •li • 12

•8

•4

Fig. 10.1 - Indexação das variáveis.

Para exemplificar a programação de uma equação, de acordo com a in-


1IPxa.ção proposta, aplique a equação da conservação da massa, considerando p
1•011stante para o volume 6. O balanço de massa resulta

('u (5) - tt'(6)) t:.y + (v (2) - v (6)) t:. x = O (10.1)

1111 , de uma fOrma geral,

(tt (P - 1) - tt (P)) t:.y + (v (P - I 1VIAX) - v (P)) b.x =O (10.2)

oucle IMAX é o número de volumes na direção x , quatro, neste ca.so. Para


(1ht.er o balanço de massa para todos os volumes, basta. variar o valor de Pele
;~cordo com o número de células.
No momento de programar, deve ser lembrado que os coeficientes para
qualquer escalar </> diferem apenas pelo coeficiente de transporte r·~,, , se a.s
variáveis estiverem todas armazenadas na. mesma posi<;ão. Isto permite que
uma única sub-rotina seja criada parn calcular os coefi cientes. Para as veloci-
dades, os coeficientes são exatamente igua.is, urna vez que r<P é o mesmo e igual
a ti. Os:termos fontes são, em geral, diferentes, sendo, portanto, aconselhável
184 C. R. Maltska

criar sub-rotinas independentes para ca.lcula.r esses termos. Sub-rotinas i.


pendentes devem ser criadas para calculat os d, usados para corrigir as ve.
dades, calcular os coeficientes para a equação de P' e para a.plicar as condi·
de contorno para. as diferentes variá.veis.

10.4 - Executando Seu Programa


A parte de testes de um programa computacional requer alguns cuida<
inicia.is importantes. A compilação, os critérios de convergência., a análise <
resultados, a busca de erros, etc. são tarefas que não podem ser realizadas S(
estratégia. O processo de teste deve ser conduzido de forma sistemática.
seguir estes pontos são analisados.

10.4.l - Compilando

Não existe nada melhor do que usar um compilador eficiente, daqueh


que não deixam passar nada. É muito desconfortável não se ter certe7..a se
programa. tem ou não variáveis indefinidas, loops que não se sabe se cobrer
corretamente a varredlll'a que se quer, áreas comw1s de variáveis não definida~
etc. Não se deve compilar o programa em um compilador não rigoroso, tentand•
se convencer de que o programa está cert o. A chance de não haver eu o. nc
programa. é extremamente pequena. Vm compilador i.nteligente e exigente dev<
ser sempre empregado na fase inicial. Depois de o programa ter sido "limpo".
pode-se executá-lo em um processador rápido. Em geral, o compilador exigente
não é veloz para execução, por razões óbvias.
O programa principal, por sua vez, não deve ser uma mistura de cha..m a-
das de sub-rotina.s e pequenas execuções. O programa principal deve apenas
gerenciar a chamada., e de forma previamente estudada.

10.4.2 - Tamanho da l\1alha

Após escolher o problema a ser resolvido Uá vamos comentar sobre esta


escolha), ele deve ser resolvido em uma ma.lha bastant.e grosseira. Em um pro-
blema bidimensional não se deve ultrapassar umà malha 10 x 10, pois esta tem
condições de capt.ar a física do problema. e permitirá verifi car se os resultados
são qualitativa.mente corretos. Infelizmente, apesar de parecer trivial, o uso
de ma.lhas muito refina.das durante os testes é um erro muito freqüente. E
as conseqüências são muitas: o tempo de computação elevado, a dificuldade e
gastos com a. impressão dos resultados, dos coeficientes, etc. Além disso, se os
resultados forem examinados na tela , uma. malha excessivamente grande trará
dificuldades para enquadrá-los na tela e ficará difícil a análise.
O programa deve ser executa.do, inicialmente, com pouquíssimas iterações.
Apenas as necessárias para verificar se todo o ciclo iterativo está. correto. Só
llecomenrfoções Gemis pam Concepçao e Teste elo Prognnnci 185

1111IMd<· tudo estar aparentemente coerente, eleve-se aumentar o número de


11111114'1< da malha e o n úmero de iterações.

Ili 1.:1 - C rité rios de Conver gência


( > nilério pa ra int erromper a e..xecução do program a não é uma decisão
111 li 1•:xistcm problemas que possuem convergência lenta e , ca so a execução
111 l11U•1To mpid a por um critério mal escolhido, poderem os ainda estar longe
l 1 11l11c:ao convergida. O outro la do da moeda é usar um critério muit o severo,
•1111 111antém o progra ma iterand o sem necessid ade. Por isso, é aconselhável,
11111l11.l11tcmte, deixar o program a sem critério (deve ex istir a penas u m crit ério
ol1 1•µ,11rança no número total de iteraçõe.s para evitar que o programa en tre
• 111 loop) e manda r impr im ir d uas ou três soluções, em it erações separad as, e
1 ' " 11lc;u· como é o comport am ento do problema. A par t ir d isto, pode-::;e escolher
11111 ni l.ério de convergência.
J\ escolha do critér io é fácil, quan do os limites de var iação d a sua fun ção são
1111 ti H'Ciclos e, nest e caso, at é um crit ério a bsoluto pode ser eficiente. Quando,
o ' 111l'!'l.anto , nã o se conhecem a orde m de grandeza e a faixa de va riação do
111111po a ser d eterminad o, a t a refa é ma is difícil. Um campo d e p ressões pode
n 3 e 101 , e um critério de convergência. r elativo,
\Ili inr, por exemplo, ent re 10-
l,
:)
1111110 o costumeiramente usa do, pod e manter um programa sendo executado,
)
q111u1do tud o o que interessa do pont o de vist a físico está já sem variações .
l ·.~ I.<' é o perigo de se fazer critérios relat ivos em campos que possuem ~ores
p1·q11cnos e grandes.
Para exemplifica r, irnagine u rn campo da va riável e/> com o valor mínimo
O, 0010 e o m áximo 1.000. Considere que na iteração k o valor da função
P11 1 d ois pontos do domínio fo ram O, 0020 e 999, e na it er ação k + 1 foram
O, 0018 e 1.000. Observe-se que variação ele 0 ,0020 para. 0 ,0018, em função
da magnit ude da variável no domínio, não tem significado físico ii;nportante .
1•:111reta nto , usando o critério normalm en te empregado na literatu ra, dado por

<f>~+.I - <Pi 1 < <; (10.3)


1
<t>t -
o erro encontrado é O, 1, ao passo que pa ra o outro ponto é O, 001. O result ad o
d isto é que o er ro no valor do ponto que não interessa vai segurar a. execução
do program a, g<l.$tando um grande tem po de compu t ad or sem necessid ade . O
Hent irnento nos d iz que , para este p r oblema, u m crit ério rela tivo de erro d a
o rdem de 10- 3 de ver ia encerr a r o procedimen to iterativo. Um cr itério que
<'Vita o p roblem a descrito consiste em determinar a faixa de variação da função
110 domínio, isto é, o módulo da difer ença entr e o máximo e o mínimo valor do
eampo, e us<\-lo como reforencial, na forma

,1,.k+l
'I' -<i>p·k 1

1
p
n .
-< € (10.4)
186 C. R. Maliska

onde

n = <l>max - <l>min (10.s;


Usando este critério, os erros ficam O, 000002 e O, 001, respectivamentci
fazendo com que o critério do ponto não importante na solução seja satisfeito
antecipada.mente. Veja. que um critério relativo da. ordem de 10- 3 , agora, in
terrompe os cálculos.
Deve-se prestar atenção ao fa.to de que os critérios de couvergência são
necessários em diversos níveis dentro de um programa de simulação, mas, prin-
cipalmente para cessar os cálculos, quando as variáveis convergiram, ou dentro
de solvers de sistemas lineares. Durante o processo de teste do programa,
os critérios usados devem ser frouxos para evitar tempo de computação des-
necessário. Dada a delicadeza deste tópico, a rccomendaç.ão é: cuidado com
critérios de convergência.

10.5 - E scolhendo P rob le m as-Testes.


B uscando E rros
Os testes de um programa devem começar com problemas simples, que
tenham soluções analíticas ou numéricas tabeladas, e por partes. Por exem-
plo, inicialmente, é sempre bom resolver um problema de condução pura que
tenha solução analítica. Fazendo-se isto, uma razoável parcela do programa
é conferida, como parte cios coeficientes (parw clifusiv<\) , estrutura iterativa,
soluçã.o cio sistema line~1J: , ct.c. A seguir, alguns problemas-teste:; com sol11ções
analíticas e numéricas serão apresentados.

10.5. 1 - Cond ução B idime nsional P ermanent e

Existem inúmeras soluções analít,icas ele problemas bidimensionais de.con-


duçi\.o que podem ser usad ~ts . Abaixo, sugere-se uma de implementação <'X-
tremamcnte simples. Trata-se do problema da r.ondução bidimensional om re-
gime permanente em uma placa com temp<'ratma prescrita., conforme mostra
a Fig. 10.2, cuja equação diferencial é

a2r cflT
-f):i; 2. +fJy2
-=O (10.6)

A solução analítica de~te problema é dada por

senh (-
1rY)
(1TX)
1 1
T(:t, y) = (:b)
senh -
sen a (10.7)

a.
!lrcom<'ndações Cernis varn Conccvç1io e Tes te do P.rogrnutci L87

I•' 11·1·011wndado que seja rralizado uni refinamento da. malha com o objetivo
ti• 111Hl! ·1·var o comportamento da solução com o refino espacial. O leitor vai
111 t11l1tr que. nestes problemas simples, uma malha. pequena (15 x 15) já
11111 11•1·ní. bo!ls resultados. Use a formulaçào tota lmente implícita.

y
T =sen1!i

T =O

T =O X
a

Fig. 10.2 - Conduc;ão bidimensional cm uma placa..

10.5. 2 - Condução Unidimens ional Tra nsiente

Com a avaliaçào d a. discretizaç.ão espacial bidimensiona l dos ter mos con-


tl 1d,i vos. podemos escolher, agora, nm prnblema, também simples, para a va lia r
11 avanço da solução no tempo, ou seja, os t.ermos transientes. Existem na
llt.1•1·atura complexas soluções tran:;ientcs bi e tr i dimension ç,ü~ coru dife rentes
rn11cliçõcs de contorno. Para o nosso objet.ivo, que é verificar se éstá corret a a
l1 11plcment.ação dos termos tra nsient.es e se a alteraçào das variávcjs está sendo
l!·it.a corretamente no ciclo iterativo do tempo, é suficiente r es9lvcr o problema
da C"ondução unidimensional t rans iente, cuja equaçã.o diferencial é dada por

-ôT = fYT
(1' - - (10.8)
ôt âx 2
Dois problemas serão analisados [96], diferindo apenas na condição in i-
r ial. Considere uma placa. de espessura L, inicialmente com urna determinada
distiibuição de temperatura, que no tempo t = O passa. a sofrer um proc<'sso
t.ransientc onde as tempcratmas das faces x = O e x = L são rnantidaH n 7.<'ro.
Para o caso onde a distribuição inicial de tempera.tum é dada por

T(x,O) = T sen ( T
0
7TX) ( 10.!>)

a solução analítica do problema é


188 C. R. MaliskCL

(10.10)
onde >. 1 = T· Para o caso de a tem pera tura inicial ser uma constant e e igual
a Ti, a. solução analít ica é

(10.11)

onde >.,. = "t .


É possível, t.ambém, derivar a exprcssâo da tempera tura e obter o fluxo
de calor para ser conferido com o fluxo obtido numericamente. Este é um bom
test e, pois a tua na derivada da função, que perde precisão ao ser avalia.da..
Sugere-se que seja. realizado o avaJJço com diferentes intervalos de tempo,
procurando observar a necessidade de refiMu- a malha no t.empo. Deve s0r km-
brado que cm uma fonn ulaçã.o totalmente implícita o inter valo de tempo é limi-
t a.do pela precisão. Não confundir com o fato de que em soluções de equações
a(;opladas e não-lineares, mesmo com a formulação totalmente implícit.a, o in-
tervalo de t empo tem limitações. Ne::;te caso, as razões são os acoplamentos e
as não-linearida.des.

10.5.3 - Convecção/Difusão U nidimensional

Para inicia.r a análise de problemas convectivos/ difusivos. o problema elo


escoamento unidimensional com o campo ele velocidades conhecido e const a nte
é bastante útil. Tal problema j á foi largament<' discutido no Cap. 5, quando as
funções de interpohtção foram a borda.das. Est<' problema. serve paré'\. analisar
as funções de interpolação e s ua.o:; dc•peudências com o número de Peclet. A
equação difcrenc-ial do problema é

~ (pttT) = ~ ( k
Ô1: ÔX
ôT)
Cp ÔX
(10.12)

e a solução analítica. de forma exponencial, pode ser buscada no Ca.p. 5.


Lembre-se que agora. aparece o erro de difusão numérica e, se estiver usando no
progrnma a função de interpolação exata, de verá rnpro clm~i r a solução analít.ica
com qualquer malha. Se o \VlJDS estiver sendo usado, a. solução vai diferir
muito pouco da exata, mesmo com malha grosseira, uma vez que a interpolação
WUDS é quase a exa ta.
P rovavelmente, o program<t que est.á sendo testado é bidimensional e os
t<'Stes aqui sugeridos incluem problemas unidimensionais. Não há diliculdadcs,
pois basta fazer uma. malha na direção y suficientemente grande (em geral 3
volumes) pa ra aplicar as condiçõ<•s de derivada nula na.5 fronteiras na direção
y . O resultado deverá ser idêntico ao longo de y e isto, ~nclusive, constitui-se
em mais um t este para. o program a .
Recomendações G<•mis JJ<Wá Conc<']Jçao <' Teste do Proymmn 189

10.5.4 - Convecção/ Difusão de um Pu lso

Qnando o inte resse é testar funções de inte rpolação , o problcml-\ da con-


"''<'<;ao/ difusã.o de um pulso é recomendado. Tal problema, apresenta do em
l 11 lj , t.cm a seguinte equação diferencial governante,

-ô (pwl>) ô (ffU<I>) = -ô [pef> ª~]


+ -ôy _ + -ô [r"'-ô</> ] (10.13)
ax fü: ôx ôy ôy
1·orn as condições ele contorno mostradas na Fig. 10.3, onde () é o fü1g11lo de
l11d inaçã.o do vetor velocidade. Observe que nas fronteiras, acima da linha que
pn.ssa pelo ponto central do dom ínio, formando o ângulo com a. horizontal, e
1/1= 1 e abaixo <P = O. A solução da Eq. {10.13), desconsiderando a difusão na
clir<'Ção do escoamento, pa ra Llx Lly, é =

<:', =-]
· 2
{ l+er f [ -1 ( -p ) 0,5
2 f <1>
( (y - Yc) 'lt - X'V . )
((Y - Yc)v+xn)º•5
l} (10 .14)

onde

L
Yc = 2 (1 - ta.nB) (10 .1 5)

É comum, 1n1J:a comparar os resultados, plotar a solução analítica ao longo


<la linha A 13, criando uma malha parn a solução numérica que tenha velocidades
armazenadas na mesma linha.

10.5.5 - Convecção Natural em uma Cavidade Quadrada

Existem <:\ lg uns problemas ua literatura. numérica quç são clássicos, e


freqüentem011te usados para compantr modelos nu méricos. l'\osso próximo
C'x emplo é um deles. A solução que será agora apresentada., extraída de (155],
foi obtida com o program a SU\"FLOW (133]. Alertamos, mais uma VC'L, que
os resulta dos, por terem sido obtidos em uma malha grosseira, não podem
conferir exalamente com os do prog rama do leitor, principalmente se funções
<le interpolação diferentes daquelas usadas no SINFLOW forem emprega.das.
Se porvent ura o leitor usar o p rograma Sll\TLO\:V, então, sim, os resultados
deverão ser exatamente os mesmos.
O problema. da convecção na t ural em uma. ca.vidade quadrada t0m sido
usa.do freqüentemente para t este de algoritmos numéricos. O bench-mark apre-
sentado em (148] é exemplo disso e nele o leitor pode encont rar o nlim<'ro de
l\usselt médio ao longo das paredes verticais. P ara conferir os dados com 08
de [148], o leitor deve usar urna. malha refinada.
190 C. R. Maliska

A fig . 10.4 mo~ tra a geometria e as condições de contorno para o problema


em consideração. O problema é considerado lamina1· incompressível com pro-
priedades físicas consta.nLes e aprox.i maçã.o de Boussinesq, isto é, a densidade
varia com a temperatura apenas no termo fonte da equação da conservação da
quantidade de movimento em y. Urna. malha cartesiana com 5 x 5 volumes
int.ernos é empregada.

IVt =500m/s ; L=0,5m ;P=l kglm' ; r '=lkg/m.s


'.'
A

!
1
1

Pe = 50
6
Rt;. =250

Fig. 10.3 - Problema. da tonvecção/di fusão de um pulso.

As equações governantes do problema são dadas por

Dv. +ôv= O (10.16)


âx ôy
ô ô DP
n (puu) + ! ) (pv·u) = - -ô + µ\1 2u (10.17)
vx vy :r

-
ô
(puv) + -ôôy (pvv) = -âP I
- + µ\1 2 v - r}.B (T-T,·cf) (10.18)
éh; ây
f{,<'co11wnrlaçôc.~ Gemis para Concepção e Test,e rlo Progro.ma 19 l

~ (puT) + !_ (pvT) = _!!:_ v 2 T (10.19)


ô:i: ôy Pr

O problema foi resolvido para número de Rayleigb igual a 106 e com os


...1•p,11intcs parâmetros:

p= 1 L~ J Massa específica

t' = 10-:i [Pas] Viscosidade absoluta>


II = 1 [ni] Comprimento característico
Pr = 1 Número de Prandtl
g = 10 [:~ ] Aceleração da gravidade
6.T = 1 [ºC] Diferença de temperatura
t~ =o, 1 [[{- 1
] Coeficiente ele expansão térmica
Tr ef =1 Temperatura de referência

~
y Isolado

3
gp~TH
Ra = VO.

T= 1 H 5X5 Volumes internos T =O

'

H ~

-...
X
Isolado

Fig. 10.4 - Convecção natural em uma. cavidade quadrada..

Na Tab. 10.l estão mostradas as componentes cartesianas do vetor veloci-


dade e a tcmperat.ura para os 25 pontos internos do domínio de cá.kulo.
192 C. R. M<iliska

Tabela 10.1 - Resultados obtidos para convecção natural e m


uma mal ha 5 x 5

X {m) y [m] 'lt [~] V ('-;) TºC


O, 1 o, 1 -4, 42 X 10- 02 4, 42 X 10- 02 0,46
0, 3 0, 1 -8, 66 X 10- 02 - 1,82 X 10- o3 0,40
0,5 0,1 -8, 55 X 10- 02 7, 69 X 10- o4 0, 39
0,7 0,1 - 8, 20 X 10- 02 -4, 33 X 10- 0S 0,39
0,9 0,1 -3, 88 X 10- 02 - 3, 88 X 10-02 0,38
O, 1 0, 3 -1 , 68 X 10-02 1, 05 X 10-0l 0,50
0, 3 0, 3 - 3, 81 X 10-02 8, 62 X 10- 04 0, 44
0,5 0,3 - 4, 35 X 10-02 2,43 X 10- 03 0, 44
o, 7 0,3 - 4, 25 X 10- 02 - 1, 05 X 10- 0 2 0,44
0,9 0,3 - 2, 03 X 10- 02 - 9, 79 X 10- 02 0,43
0, 1 0, 5 1,87 X 10- 03 1, 20 X 10- 0l 0,53
0, 3 0, 5 2, 11X10-04 8, 90 X 10- o3 0,49
0, 5 0,5 3, 51 X 10- 16 -1 , 76 X 10-lG 0,50
0,7 0,5 - 2, 11 X 10-04 -8, 90 X 10- 03 0,51
0,9 0, 5 - 1,87 X 10-o3 - 1, 20 X 10-0J 0,47
o, 1 0, 7 2,03 X 10- 02 9, 79 X 10- 02 0,57
0, 3 o, 7 4, 25 X 10-o2 1, 05 X 10- 02 0,55
0,5 0,7 4, 35 X 10- 02 - 2,43 X 10- o3 0,55
0,7 0, 7 3,81X 10- 02 -8, 62 X 10-o4 0,55
0,9 o, 7 1, 68 X 1Q-02 -1, 05 X 10-0l 0,51
1 1
1
º· 1
0, 3
0, 9
0,9
3,88 X 10- 02
8, 20 X 10-02
3,88 X 10- 02
4, 33 X 10- 03
0, 62
0, 61
0,5 0,9 8, 55 X 10- 02 - 7, 69 X 10- 04 0,61
0,7 0,9 8, 66 X 10- 02 1, 82 X 10- o3 0,60
0,9 0, 9 4,42 X 10- 0:l -4, 42 X 10- 0:l 0, 54

O critério de convergência, conforme já mencionado, da ordem de 10- 7 ,


foi adotado para interromper os cálculos.

10.5.6 - Escoamento entre Placas Planas Paralelas

O problema do escoamento sem transferência. de calor na região de enl.rada


de duas placas planas paralelas é útil para testar uma. série de características
da solução. A Fig. 10.5 mostra o problema. cujas equações governantes são
Rccomwrfoç6es Cernis para Goncepçao e Te.si.e• elo Pmgmmci 193

ôtt + Ô'u= O (10.20)


fü; ôy
ô ô
- (piw) + - (pvu)
8X 8y
= - -ôP
8X
·)
+ µ v-u (10.21 )

ô ô
-
â:i;
(pttv) +-
ôy
(pvv) = -ôP
- + µ\l, 2 v
ôy
(10.22)

As condições de contorno são de u uniforme e v = O na entrada, e nas


paredes tL e v iguais a zero. Na saída, pode ser usado o perfil parabólico
plc>namente desenvolvido para 11., dado pela Eq. (10.23), e 'U = O, ou condições
dr contorno ele derivada nula (localmente parabólica), tanto para t t como para
11. Os resultados do presente problema e as características deste escoamento
st'rão usados para discussão na próxima seção.

y
ü
_____.
u...., = 1,5 ü
~ @-.
_____. 1--'""""-tf--- - t

- - .-------------- _____ _ ------ ______ ____ ________2b.. ___ __ ,_;---~1--


x• ;:~~!e

Fig. 10.5 - Problema do escoamento laminar entre placas para-


lelc1s'.

10.6 - Observando as Características da Solução


Em primeiro lugar, é importante destacar que não é possível checar se um
dcten ninado coefi ciente do sistema linear está. correto. O máximo que se pode
fazer é conferir se a expressão do coeficiente está, aparentemente, implementada
de forma correta. no programa. A conferência completa só é possível com um
out.ro programa que, em geral, não se dispõe. Entretanto, alguns procedimentos
de extrema utilidade na busca <le erros, envolvendo a solução e os coeficientes,
podem ser aplicados e são a seguir comentados.
194 C. R . Maliska

10.6.1 - Simetria da Solução

Sempre devem ser exploradas todas as possibilidades de se observar a sime-


triada solução. No problema do escoamento entre placas paralelas, Fig . 10.5,
sabemos que as velocidades 'lLA e tLB devem ser iguais, e que VA = -vn .
Também a pressão em A deve ser igua l à em B.
A conservação da massa é um requisito dos mais importantes na solução.
Por isso é aconselhável imprimir o resíduo desta equação para todos os vo-
lumes elementar es. Lembre que, para calcular os resíduos, devem-se usar as
velocidades nas interfaces do volume. Quando o arranjo é desencontrado, as
velocidades já estão nas interfaces e, quando é co-localizado, elas são obtidas
em função das velociclades no centro.
Os resíduos devem ser normali;1ados em função de um Buxo de ma.ssa
de referência representativo da ordem de gra.nde2a dos fluxos de massa no
problema. Esse r esíduo normalizado deverá ser da ordem de 10- 6 - 10- 7 • O
campo ele resíduos t ambém deverá ser simétrico.
Neste problema específico do escoamento entre placas pa ralelas, usando as
condições de contorno localmente par abólicas na saída (o que é o recomendável),
o perfil obtido deverá ser o dado pela Eq. (10.23), com a velocidade do centro
igual a 1,5 vez a velocidade m édia de entrada.. O perfil tem a expressão

tt _(
:fi=l,.J 1- (Yh)2) (10. 23)

10.6.2 - Os Coeficientes

Quando :;ão grandes a.5 dificuldades para. se encontrar o porquê de o pro-


grama não apresentar os resultados corretos, ou de esta.r divergindo, é sempre
recomendável imprimir os coeficientes 0 o termo fonte da equação. Deve ser
verificado qual é o peso de cada coeficiente <-' lembrado que os coeficientes pos-
suem uma parte difusiva e outra convectiva. Se o progr am a tem uma fuução
ele interpolação que anula o termo difusivo quaudo a velocidade aumeuta, isto
fará co m que o coefi ciente tenda a zero a jusruite do escoamento. Recorrenclo à
Fig. 10.5, significa dizer que o coeficiente Ac para a velocidade ti, armazenada
no cent.ro do volume de cou trole B, deve ser próximo de zero para alt.as velo-
cidades. Por outro la.do, o coeficiente Aw para a mesma velocidade dever ser o
ma.is importante.
Ainda sobre os coeficientes, deveremos ter o coeficiente (Aw)A = (A.w)a,
(Ae)A = (Ae)o e (A s)A = (An)B·
Se as regras do Cap. 4 foram seguidas, os coeficient.es devem ser positivos
e o coeficiente central, Ap , deve ser , no mínimo, igual à soma dos vizinhos.
Verifique o termo fonte . Confira :;eu sina l e sua. m agnitude. Ele é important.e
ua estabilidade da solução.
R<'tmn<'ndações Gerais vam Concepção e Teste do Programri 105

Quando as dificuldades para achar os erros estão mesmo sérias e j á foi


dt•ditado grande t empo para isto, talvez seja necessário usar uma malha bas-
l.11.n tc grosseira e fazer alguns c<íkulos com a calculadora, conferindo alguns
rnclicientes e termos fontes.
Para o problema do escoamento entre placas paralelas, a seguir, são a pre-
sPrltados na Tab. 10.2, para conferência, os valores de u/ü para quatro estações
H<> longo do escoamento. É lógico que os números dados e os do programa em
fl'ste podem não conferir exatamente, pois podem ter aproximações numéricas
diferentes, ou então a malha utilizada para cálculo [143] uâo foi suficientemente
rcfi nada. '

Y= h
y

0,9
1~

0,7 ,_ ...
0,5 .---.
0,3 ~

o ~ .. X= x/h
üh/v
2h

Fig. 10. 6 - \falha para o problema elas placas paralelas.

Tabela 10.2 - Valores de 1i/ü.

Y /X 0,016 0,032 0,056 0,072 Plen. eles.


0,90 0,76l 0,528 0,380 0,348 0,285
0,70 1,066 1,033 0,923 0,874 0,765
0,50 1,077 1,155 l,i80 1,170 1,125
0,30 1,055 1,154 1,256 l ,288 L365
0,00 1,040 1,130 1,262 1,322 1,500

Na ma.lha 9 x 27, mostrada na Fig. 10.6, evidenciam-se, por vetores, as


posições onde são dadas as velocidades v./'ü constantes da tabela acima. O
196 C. R. Maliska

canal tem comprimento X = O, 288 e os resultados foram obtidos com Re = 20,


onde o número. de Reynolds é baseado na metade da altura do canal. A malha
na direção X é igualmente espaçada.

10.6.3 - Testando o Solver do Sistema Linear

l\ormalmente, o solver dos sistemas lineares é desenvolvido pelo próprio


analista que está escrevendo o programa para solução das equações diferenciais.
Neste caso, existe a possibilidade de erros na concepção. É necessário que seja
eliminada esta dúvida. As maneirns de fa7,ê- \o são resolver o sistema linear com
ontro solver e conferir os resultados, ou alimentar o solver com um conjunt.o de
coeficientes cuja solução é conhecida.
A seguir, são listados os coeficient.es de um sistema tridiagonal oriundos de
um problema. extremamente simples mas que serve ao objetivo. O problema,
por sua natureza, tem solução exata independentemente do tamanho da malha,
o que permite verificar a solução na precisão de máquina.

Matriz de coeficientes
2 - 1 </>1 2
-1 2 - 1 Ó2 o
- 1 2 -1 <j>3 o
-1 2 - 1 Q4 o
-1 2 - 1 Ós = o
-1 2 -1 <!>6 o
- 1 2 - 1 <D~
1 ' o
- 1 2 - 1 </>s o
-1 2 <f>9 1
(10.24)
O vetor .4 = {<f>1, ... , óo}, Eq. (10.25), é o vetor solução deste problema,
enquanto B = { </>1 , .. . , </J9 } é o vetor solução se os valores não-uulos dos termos
independentes forem alterados de 2 para 1 e de 1 para O.

1, 9 0, 9
1,8 0,8
1, 7 0,7
1,6 0, 6
A= 1,5 B= 0,5 (10.25)
1,4 0,4
1, 3 0,3
1,2 0,2
1, 1 0. 1
flccomerulriçoes Gemis pam Concepçiio e Teste elo Programa 19i

10. 7 - Conclusões
Conforme já salientado cm outros capítulo~, infelizmente não existem teo-
rin!-l que garan tam que um sistema de equações diferencia.is pareia.is não-lineares,
n•solvidas segregadamcnte, tenha processos iterativos estáveis. Os acoplamen-
1.os, as formas ele avançar as não-linearidades, o tamanho do intervalo de tempo,
número de iteracões cm cada ciclo, etc. são fatores que podem causar di-
v<'rgência da solução.
Por esta razão evite ficar interagindo com o computador na regra "muda
algo no progrnrna-executa.-rnuda. algo no programa-executa·· ·", torcendo pa.ra
que dê certo. Em vez disso, faça uma análise criteriosa e detalhada do pro-
blema, da influência das variáveis no processo, do peso dos coeficientes, etc. e
o progresso na busca do erro será mais rápido do que o método das tentativas.
Adiar os erros e fazer com que o programa convirja é uma. das tai·efa.s mais
difíceis da Mecânica dos Fluidos Computacional. quando complexos sistemas
de equações não-lineares e acopladas estão sendo resolvidos. É, principalmente,
ucsla dificuldade que os conhecimentos e fundamentos numéricos do analista
sã.o imprescindíveis.
Para finalizar, recomenda-se que seja empregado o mais simples e geral
critério, tcunbém usado em qualquer atividade humana: o bom senso. Sem ele,
t.a.mbém a simulação numérica 't.oma-se muito difícil.

..
,
CAPITULO ONZE
Discre tizaçã o Coincide nte
c om a Fronte ira

11.1- Introdução
Os primeiros dez capítulos deste texto t iveram a tarefa ele apresentar a
fundamentação do método dos volumes finitos. Os conceitos que foram vistos
sã.o gerais e valem para qualquer método numérico escrito para qualquer sis-
tema. coordenado, respeitadas as peculiarid ades' de cada sistema. Utilizarnos o
sistema ele coordenadas cartesian as, por simplicidade, mas sabemos que este
sistema é muito limitado, se o nosso interesse for resolver problemas reais de
engenharia, onde, quase sempre, a geometria é irregular. Por exemplo, urna dis-
cretização cartesiana para uma geometria com um furo, conforme a F ig. 11. l(a),
não é adequada para a fronteira interna. sendo preferível o sistema coordenado
generalizado mostrado na F ig. 11.l(b), onde não temos pedaços de volumes de
controle nas fronteiras.
O uso de sistemas coordenados, semelhantes ao mostrado na F ig. 11.l(b) ,
também conhecidos corno sistemas de coordenadas coi nc idente~ com a fronteira,
ou bottndary-fitted wordinates, no contexto do método dos volumes finitos, é a
nossa tarefa, a partir de agora e, porta.nf.o, os próximos cinco capítulos t êm esta
missão, enquanto o Cap. 17 apresent.ará resultados obtidos com a. metodologia.
O emprego de coordenadas generalizadas teve início entre os pesquisa-
dores cio método de diferenças finitas e foi a mais importante resposta desta
comunidade para o tratamento de problemas cm geometrias a.rbitrárias, uma
necessidade que p ressionou cuormementc os analistas numéricos no in ício da
década de 70.
Com a prcornpação de encontrar maneiras efirientes de tratar os acopla-
mentos e as não-linearidades das equações de Navier-St.oke~, poucos esforços
foram envidados, naquela época, na área de diferenças finitas, pa.ra resolver o
problema da geometria irregular. Além disso, mesmo sendo possível aplicar
diferenças fini tas para qualquer tipo de malha (triangular, não-estruturada,
etc.), é claro que aplicá-las cm sist.enws coordena.dos ortogonais é bem mais
simples. Por estas razões, os desenvolvirnent.os para geometrias irregulares an-
darnn1 lentamente a.té a década de 70. O uso de diferenças finitas ficou tão
associado a sistemas coordenados ortogonais que existe, ainda, quem anedite
que o método só se aplica a estes sistemas coordena.dos e com discrctiza.ção
Discretização Coincidente com a Fronteira 199

uniforme. Por isso, é muito freqüente na literatura a citação de que a alter-


nativa para o tratamento de geometrias irregulares resume-se ao método dos
elementos fin itos.

,,, -- .......
V '\
\

1
''
\ /
r-.. ,, /
.....
--

(a) (b)

Fig. 11.1 - Discretiza.ção cartesiana( a) e coincidente com a fron-


~eira. (b) .

As difi culdades para. desenvolver mét.odos gerQ.is pa.r<l. a solução de proble-


mas definidos em geometrias complexas, utilizando sistemas coordenados orto-
gonais, como o cartesiano, o cilíndrico, o esférico, etc., são fáceis de perceber.
l\'a Fig. 11.l(a), mesmo usando diferenças finitas, onde não existe a necessidade
da realização de balanços, fica difícil aplicar as condições ele contorno, pois é
necessária uma trabalho:=m determinação dos compri men to~ entre a fronteira e
os pontos nodais internos e externos ao domínio. A sub-rotina. de aplicação das
condições de contorno resulta fortemente dependente da. geometria do problema
e da malha emprega.da..
Certamênte, é mais fácil aplica.r o método numérico, se a cliscretiza.ção
for conforme mostra a Fig. 11.l(b). Neste caso, todos os volumes (ou pontos,
no caso de diferenças fin itas) ficam dentro do domínio de solução, facilitando
grandemente a implementação do modelo.
~ As razões principais pHnt o uso de discretização coincidente com a fronteira
são:
~ 1. Necessidade da solução de problemas cada vez ma.is complexos, que
'J apresentam, geralment.c, domínios arbitrários.
2 Dificuldade de solução de:;ses problemas usando-se sistemas coordena-
\ . dos convencionais, especialmente na aplicação <las condições de con-
I torno.
1 3. Possibilidade de concentração de malhas onde necessário, sendo possí-
\ vel adaptá-las de acordo com o problema físico (malhas adaptativas),
reduzindo o número de malhas necessárias e o tempo de computação.
200 C. R. Maliska

4. Possibilidade de desenvolvimento de metodologias que podem ser ge-


neralizadas.
Hoje, praticamente todos os trabalhos realizados na área de aerodinâmica,
usando diferenças finitas, empregam sistemas de coordenadas generalizadas.
Também a comunidade que trabalha com o método dos volumes finitos, envol-
vida principalmente com problemas de transferência de calor em escoamentos
incornpressíveis, vem usando, na maioria de seus trabalhos, coordenadas gene-
ralizadas.
:"Jeste texto, os detalhes do uso de malhas coincidentes com a geometria
serão apresentados, procurando-se discutir desde os conceitos fun damentais,
passando pela geração de sistemas de coordenadas, interpretação geométrica
da transformação, integração das equações, até métodos ele tratamento do aco-
plamento entre as variáveis, enfocando a metodologia para escoamentos de
qualquer velocidade em coordenadas generalizadas. O objetivo é fornecer ao
leitor o roteiro e os conhecimentos básicos para que ele possa aprofundar os
estudos na á.rea e, também, desenvolver o seu próprio programa computacio-
nal. Quase sempre, nos exemplos, o sistema bidimensional será empregado pela
faci lidade de interpretação. Nos capítulos que tratam da geração do sistema
ele coordenadas, da transformação das equações e da obtenção das equaÇões
aproximadas, a forma 3D será apresentada .

11.2 - Malhas Estruturadas e N ão-estruturadas


A discretização coincidente com a fronteira não necessita ser: obrigatoria-
mente, obtida através de um sistema de coordenadas. Mas, se assim for feit,o,
co,mo mostra a Fig. ll .2(a), dizemos que a discretização resultante é estru-
turada, uma vez que cada volume interno tem sempre o mesmo número ele
vizinhos e a. numeração dos mesmos tem uma seqüência natural. Este tipo
ele discretização a.presenta. uma série de vantagens para a implementação do
programa computacional, pois a regra de ordenação cios elementos simplifica
todas as rotinas. Além disso, e principalmente, a matriz resultante tem dia-
gonais fixas, permitindo que métodos para matrizes com banda fixa, que são
mais fáceis ele implementar, possam ser aplicados.
As malhas não-estrutura.das, por outro lado, são mais versáteis, com mais
facilidade para adaptatividade. Apresentam, entretanto, a dificuldade da or-
denação. A Fig. 11.2(b) mostra uma malha não-estruturada onde podemos
perceber que 6 difícil, inclusive, estabelecer uma regra ele ordenação. O resul-
tado dessa ordenação estabelece o tamanho elas bandas ela mat1iz. Por exemplo,
o volume 3 está. conectado aos volumes 2, 4, 9, 10, com um tamanho ele banda,
portanto, de 2 a 10, enquanto o volume 9 está conectado aos volumes 3, 5, 8,
14 e 15, com um tamanho de banda de 3 a 15. Essa variação no tamanho dit
banda da matriz impossibilita a aplicação de muitos métodos de solução de sis-
temas lineares. Além da banda variável, o número de vizinhos varia de volume
Discr·etizaçào Coincidente com a Pmnteim 201

para volume, como aconteceu com o volume 3, que possui quatro vizinhos, e o
volume 9, que possui cinco.

Fig. 11.2 - D iscretizaçào estrul;urada (a) e não-es~ruturada. (b) .

Existem, portanto, vantagens e desvantagens em ca.da. uma das di::;cre-


t.izaçõ0s. Neste trabalho, a ênfase será. ao estudo de metodologias aplicadas
a. ma lhas estruturadas, do tipo mostrado na. Fig. ll.2(a). Mesmo assim, con-
siderações também serão feitas, no Cap. 16, às malhas não-estruturadas de
Voronoi, um lópico recente de p~·squisa na. área. de mét.odos numéricos cm flui-
dos.
Logicament,c, para o método dos volumes fi.11itos não internssam a. forma e a
nat.urcza do volume elementar, bastando, para obter as equações discretizadas,
integrar as equações de conservação sobre os volumes elementares. ~elo fato de
as malhas estrutmadas serem obtidas ele um sistema coordenado generaliza.cio,
é possível <"?Contra.r a transformação entre o sistema cartesiano (:e, y , z) e o sis-
tema generalizado (ç, ·17, /) . De posse desta transformação, as equações ele con-
servação podem ser transforma.das para o novo sis tem a. coordenado (Ç, ri./') e as
integrações realizadas nest.e novo sist em a. O sistema cartesiano (x, y , z), neste
caso, .é denominado domínio físico e o sistem a generalizado (Ç, TJ, 1), domínio
transformado ou computacional. Esta é a prática. que adotaremos, pois t.anto
a integração como a implementação computacional ficam bast.ante facilitadas
quando feitas no domínio computacional.
Em função do exaustivo uso da i:;itua.ção bidimensiona.! para desenvolvi-
mento dos algoritmoi:;, é freqüente, na literatura, mesmo em situações t ridi-
mensionais, a. denominação pla no físi co e pia.no computaciona l. Tal prática
t a mbém é adotada neste texto.
Se a malha é não-estruturada, semelhante à da Fig. l l .2(b) , é claro que não
(;)xiste a possibilidade ele transformar as equações ele conservação para um novo
sistema coordena do, pois este novo sistema não existe, a não ser localme nte.
202 C. R. M aliska

11.3- Domínio Físico e Domínio Transformado


A possibilidade de encontrar a transformação, mesmo numérica , entre o
sistema. coordenado original, normalmente o cartesia no, e o sistema de coor-
dena das generafü:adas, coinciden te com a geometria irregular , permite o ma-
peamento d a geometria irregular, escrita no sistema (x,y), em uma geometria
regular no sistema(~. 7J), conforme mootra a Fig. 11.3.

D
y

Ç=Ç(x,y)

ll=ll(x,y)
T)

A D

.NW •N .NE
•W .P •E
.sw •S • SE

B e

Fig. 11.3 - Planos l'ísico e transformado.

Uma das técnicas de mapeamento, o mapeamento conforme é uma ferra-


rncntl'I. clássica. usada em análise ana.Iitica ele uma série d e problemas físicos [94] .
A clificuldaclc d o mapeamento conforme é sua li miLação a operadoret; simples
e, portanto, uão aplicáveis à maioria dos problemas ele interesse da engenharia
e da física..
Discrel.izaçno Coincidente com <i Fronteira 203

Os esforços pioneiros para estender o uso de mapeamentos paJ:-a sítnaçõcs


111ais gerais foram dados por Winslow [158) e Chu [19]. Winslow resolveu pro-
blemas de rna.gnetostática utilizando uma transformação que mapeia urna ma-
lh;t de triângulos irregulares cm uma malha de triângulos regulares, conforme
111ostra. a Fig. 11.4. Ele clP.norninou o plano regular de plano lógico. Chu [19]
seguiu na mesma linha, resolvendo problemas de magneto-hidrodinâmica, apre-
s011t.an<lo tuna transformação numérica denominada por ele de rnachine tmns-
f ormo.tion. Barfiel<l [10], Amsden e Hirt. [3]. Godunov e Prokopov (33] também
rontribuíram na mesma. direção. Todos esses trabalhos pioneíros não tiveram
suficiente repercu1:>:;ào no meio científi co da época.

y y

A D

~
e

1 B C

X
(a) (b)

Fig. 11.4 - . Mapeamento de V\li11slow de urua malha Lriangular.

O marco inicial do est.upcndo desenvolvimento experimentado pelos méto-


dos numéricos usando coordenadas generalizadas está nos trabalhos de T homp-
son et al. (140 ,J'll), que tiveram o cuidado de apresentar toclós 'os .desenvolvi-
mentos de form a a mostrar ao leitor a.s grandes potencialidades da metodologia.
Após 0sses t1:abalhos, o uso de coordenadas general iza.das difundiu-se de forma
espantosa. T hompson e seus colegas aplicaram a metodologia, usando dife-
rençM finitas, cm problemas de aerodinâmica bidimensional.
Voltando à Fig. 11.3, observe que a geometria irregular, definida. no plano
físico, pode mudar de forma, sem mudar a sua rnpresenta,ção no plano trans-
formado. Desta maneira, escrevendo-se as equações de conservação também no
plano transformado, o programa computacional será escrito para uma geome-
tria fixa neste plano. A alteração da geometria no plano físico (geometria real
do problema) não requer, portanto, alterações no prognuna computacional. As \'..
informações sobre a. geometria física são fornecidas ao programa computacional
através das métricas da transformação Ç = ç(x, y) e ·17 = ry(:i;, '.IJ), que aparecem
·' nas equa,ções de conservação transforma.das.
Em função da independência do programa computacional da geometria
física do problema, normalmente a implementação computacional é dividída
204 C. R. Mali.ska

em duas partes. Um dos prog ramas , cuja entrada de dados é a geometria física
do problema, ger a a malha, 011 seja, obtém o novo sistema coordenado e calcula
as m<"tricas da transformação. O outro recebe como dados as informações da
transformação de coordenada.<> e resolve as equações diferenciais . Os resultados
dest e segundo programa. são entregues, então, a. um pós-processador para obter
os gráficos e as visuafü>.ações necessárias.

Fig. 11.5 - Sistema polar de coordena.das.

11.3.1 - A N a t ureza d a Tran sfor m a çã o

Imagino que não conhecemos o sistema pola r ele coordenadas e estamos in-
teressados em discretizar a geometria (um setor ele coroa) mostrada na Fig. 11.5.
Nossa intuição nos leva a desenhar linhas radiais e linhru> concêntricas para ob-
ter a discrctiza.ção. Vamos denominar est.as linhas ele Ç e 17, reHpC'ctivamente, e
vamos, agora, representá-las no refcrencil\l (Ç, 17) , dispondo estes eixos como se
fossem car tesia nos. O setor circular aparecerá como mostrado na Fig. 11.6 e,
procurando a relação entre os sistemas ( x, y) e (Ç, 17), encontraríamos

= 17cosÇ
:.i: (11.1)
y = ·rysenÇ (11 .2)

que nada mai~ são elo que ns relações de transformação de coordena.elas do


sistema cartesiano para o polar. Para uma geometria irregular, certa.mente não
Discrcl.izaç1to Coincirlcnle com a Pronl.eim 205

11xiHt irno as relações analíticas ela transformação, mas sim apenas uma tabela
cliHrrC'l.a de valores (x, y) associados a valores discretos (( ·17).
Um outro detalhe importante para o uso do plano computacional é a li-
l1t•rdadc na escolha da variação de Ç e 17. Por exemplo, em vez de variarmos Ç
de• () 1 a 82 e r/ ele R1 a R2, podmfamos definir um novo Ç e um novo 17, como

e= ç-81 (11.3)
B2 -81
·11 - Ri
r/ = ---- (11.4)
R2 -Ri
o que faria Ç* e T/ • variarem entre O e 1. Da mesma. maneira, poderíamos
11ormH.lizar Ç e ·11 , de acordo com o número de linhas coordenadas empregadas,
por exemplo, fazendo Ç variar de 1 a 6 e ·17 de 1 a 5. O plano transforma.do
apareceria, então, como mostra a Fig. 11. 7.

A D
..

1f, = R,
.~B
''
~. = fJ,

Fig. 11.6 - P lano transformado da fo' ig. 11.5.

A conveniência cm utili7.ar uma normalização desta nature7.<:\ é que os vo-


lumes elementares no plano computacional terão as dimensões unitárias, facili-
tando, portanto, o t.raballho de programação do algoritmo. É comum, portanto,
empr<'gar 6.Ç = 6.11 = 1. É bom lembrar que, no plano físico, as linhas coor-
denadas podem assumir espaçamentos arbitrários, enquanto no pia.no trans-
formado 6.Ç e 6.·17 continuarão sendo unitários. As métricas da transformação
,• cncarreg<:1.r-:se-ão de fazer as devid<:1s compensa.çõcs para que, nas equações di-
ferenciais, tenhamo:s sempre os comprimentos reais do plano físico, como não
poderia. deixar de ser.
206 C. R. M aliska

A transformação dada pelas Eqs. (11.1) e (11.2) é uma transformação


analítica, em forma fechada. Sabemos que todas as transformações dos sis-
temas de coordenadas ortogonais para o carte.siano possuem transformaçõ<'s
analíticas. Este não é o caso prático, onde as geometrias quase sempre são ir-
regulares. Imagine que, agora, temos a geometria mostrada na Fig. 11.8, para
a qual conseguimos gerar o sistema de coordenadas mostrado. Devido à forma
arbitrária da geometria não teremos u ma. transformação analítica., mas sim uma
correspondência discreta entre os pontos cios planos físico e transformado.

"Y/ = 5 -------~- D

"Y/ = 1 ______!?-i e

ç= 1 s= 6

Fig. 11. 7 - Normalização do sistema de coordenadas.

O plano t ransformado da Fig. 11.8 é o mesmo da Fig. 11.5 e está mostrado


na Fig. 11.7. A correspondência. pa,ra o ponto 1 é, por exemplo,

(ç, '17) = (3, 2)


(11.5)
(x,y) = (x1.yt)
enquanto para o ponto 2 é

(Ç,17) = (4,4) (11.6)


(.r,y) = (x2,Y2)
Vale recordar , mais uma vez, que o importante é deLenninar os pontos
(x., Yi) das interseções de todas as linhas~ e 17, o que significa, em outras pala-
vrn.s, gerar o sistema. coordenado, ou gerar a malha. De posse das coordenadas
Discretizaçào Coincidente com a Pronteirn 207

( ,. ,!J) de todos os pontos, todas as relações matemáticas da transformação po-


dt•m ser obtidas de forma numérica. A obtenção dessas relações será vista na
Ht'c;ão 13.10 do Cap. 13.

Y2
B D
y, TI = 4
11
1\
1 \____.. Linhas Ç
1
1
1
1
TI = 1 1
e 1
x, X, X

Fig. 11.8 - Correspondência fu ncional dos pontos l e 2.

11.3.2 - Tipo~ de M apeamentos

Um cios requisitos fundamentais para o bom aprendizado dos p rncedimen-


tos numéricos em coordenadas generalizadas é entender bem o mapeamento de
sistemas coorden ados generalizados e sabor explorar as possibilidades de obter
di ferentes sistemas de coordenadas generalizadas para urna mesma geometria
física. A seguir, os mapeamentos de geometrias simples, dupla e multiplamente
conexas serão considerados. N'oste ponto ele nosso texto, não nos preocupare-
mos, ainda, em como gerar o sistema de coordenadas generalizadas. Parn. isso,
existem técnicas que serão vistas em outro capítulo. Por agora, vamos admitir
que, de alguma for ma, sabemos gerar a malha e, conseqüentemente, temos a
tra.nsfonnação.
20& C. R. Maliska

11. 3.3 - G eometrias Simplesmente Conexas

O mapeamento de geometrias simplesmente conexas já foi, indiretamente,


vist.o. A Fig. 11.6, por exemplo, é o plano transformado da geometria mostrada
na Fig. 11.5. Como já foi observado, as geometrias sã.o distintas, mas possuem
um mesmo plano transformado ou comput.acional e esta é a vantagem cio ponto
de vista ele implementação do programa.

y A

~'--~~~~~~~~~~~~~~

BC X

Fig. 11.9 - !\falha para. um setor arbitrário.

Se na Fig. 11.8 fizermos os pontos B e C colapsarem, teremos a geometria


mostrada na Fig. 11.9. com a sua respectiva malha. O plano transformado
é o mesmo mostrado na Fig. 11.7, com o detalhe de que agora o segmento
DC nã.o tem dimensão, ou seja, seu comprimento é zero. :tviesmo assim, o
6 Ç ao longo ele BC é igual à unidade. É lógico que alguma informação da
transformação ele coordenadàs va.i permitir que. nas equações transformadas,
no plano computacional, quando a dimensão física da face BC for calculada, o
resultado seja, r,ero.
Como já comentado, uma. mesma geometria pode ser discretizada ele ma-
neiras distintas. As Figs. 11.10 e 11.11 mostram um triângulo sendo discre-
tizado com dois sistemas de coordenada.5 generalizadas diferente.<>. A escolha
de qual é o sistema mais adequado a urna. determinada geometria depeude do
problema físico que será resolvido sobre ela .
Para completar os exemplos de mapeamentos de geometrias simplesmente
conexas, a Fig. l l.12{a) mostra um círculo com uma discretização gc>nera.lizada
e a Fig. ll.12(b), seu plano transformado. Este é um dos exemplos onde uma
malha extrema.mente não-ortogonal 6 gerada tia vizinhança dos quat.ro pontos
A, B, C e D , escolhidos para dividir a. circunferência em quatro segmentos. A
não-ortogonaHda.de é máxima, pois as linhas Ç e 17 da fronteira são co-lincares.
D·iscretizaçao Coincidente com a Pmntefra 20!)

J•;1n todos os mapeamentos mostrados até agora, foram consideradas si-


111.11;o<•s C'm que é possível gerar uma malha. cujo mapeamento se dê em um
l1l1 wo tínico, retangular. Nestes casos, a fronteira do domínio físico é cliviclicla
• 111 quatro segmentos, onde dois deles serão de linhas ~ constantes e dois de
li 11l111:; ·17 constantes.

y IJ

A B A

D
e D
X

Fig. 11.10 - [\falha paJ·a. o l.riâ ugulo.

y
B A B

A D e D e
X

Fig. 11.11 - Malha pa.ra o triâ ngulo.

Certas geometria.e;, com protuberâncias acentuadas por exemplo, não são


adequadas para a geração de uma malha com mapeamento em bloco único, pois,
como pode ser visto na Fig. 11.13, é difícil fazer com que as linhas coordenadas
discretizem a protuberância com eficiência. Para concentrar linhas coordenadas
perto da parede da protuberância criar-se-ia uma malha muito irregular.
A solução, nestes casos, sem o uso de malhas não-estruturadas, é o uso
·' de multiblocos, resolvendo-se o problema, no caso da Fig. ll.14(a) por exem-
plo, em três blocos separados, iterando-se entre os blocos a té a convergência
do p rocesso. Para cada um dos blocos, pode-se aplicar toda a metodologia
210 C. R. Maliska

desenvolvida para mapeamento em bloco único. O mapeamento por blocos


exige modificações no programa computacional escrito no plano transformado,
pois agora teremos linhas 17 (ou 0, de tamanhos diferentes , interrompendo as
seqüências de cálculo nas rotinas computacionais.

y ,,

B D

X
(a) (b)

Fig. 11.12 - Malha para um círculo (a) e seu plano tra nsfor-
mado (b).

Fig. 11..13 - Geometria que requer mapeamento ern mult i blocos.

Para conduir a discussão do mapeamento de domínios simplesmente co-


nexos, é importante observar que, neste caso, seja o mapeamento em bloco
único ou multiblocos, as fronteiras do domínio transformado são exatamente
as fronteiras do domínio físico. Assim, as condições de contorno para o plano
transformado si\o aquelas que existirem no plano físico. Vamos ver, na próxima
seção, que isto não acontece quando mapeamos uma. geometria duplamente co-
nexa em um bloco único no plano transformado.
Discretizaç<io Coincident.e com a Ft·onteim 2 11

X
(a)

Fig. 11.14 - Mapeamento em blocos {a) e plano transformado {b).

1 1.3.4 - G eom etrias D upla e :M ultiplamente Conexas

As geometrias duplamente conexas podem ser mapeadas em um bloco


1'111ico on por mais blocos, dependendo ele sua complexidade. Por exemplo, a
l•'ig. 11.15(a) mostra uma geometria duplmuent.e conexa sendo mapeada em um
liloeo único, conforme mostrado na Fig. 11.15{b). O mapeamento foi possível
fazendo-se um cort.e ao longo dC' uma linha Ç, un indo-se a. fronteira interna com
a externa, abrindo-se a geometria no corte e representando-a no plano (Ç, ·q).

ri=ri2 ..... .D F
1 1

1 1
1 1
1 1
1 •I
ll
..
.., =ri, .....e A

(a) (b)

Fig. 11.15 - !\falha tipo polar para uma geometria duplamente


conexa (a) e seu plano transformado {b).

Uma regra básica para o mapeamento de geometrias clupla e multiplamente


conexas em um bloco único é a. necessidade de percorrer todas as fronteiras do
domínio físico sem levantar o lápis do papel. E::;tc proces::;o determina os cortes
exigidos. Por exemplo, na F ig. 11.15(a), partindo com o lápis no ponto A
,•percorremos toda a fronteira interna, passando por D e chegando cm C. Pa.ra
percorrer a fronteira externa, é necessário cortar ao longo de CD, percorrer toda
a superfície ext.erna, passando por E e chegando em F, voltando pelo corte, a té
212 C. R. Malisko.

chegar em A, concluindo o processo. Pas.sando duas vezes pelo mesmo corl<',


geram-se as duas frontei ras no plano transformado.
Estes segmentos, C D e AF, são coincidentes e, no plano físico, não são
fronteiras, mas sim urna linha interna do domínio. É fácil ver que no pla.uo
transformado não teremos , então, condições de contorno nestas fronteiras. A
maneira ele tratar essas condições de contorno, chamadas repeti tivas, será apre
sentada logo mais.

y p
A
p o e
1 1 1 1
1 1 1 1
1 1 1 1 N
E G
---
__ ._ - >- --
r li
->- --
1 1 1 1
M
1 1 1 1
1 1 1 1
B K L D

X
(a) (b)

Fig. 11.16 - Malha. em blocos para. uma geomet;ria d uplame nte


conexa.

A geometria da Fig. ll.15(a) poderá ser mapeada por meio de blocos, se


desejarmos, utilizando urna discretização do tipo mostrado na Fig. ll.16(a).
Neste caso, as fronteiras externa e interna são divididas em quatro segmentos
e mapeadas conforme mostra a Fig. ll .16(b), O plano transformado agora
não é mais um bloco único. Como não existem cortes, as condições de con-
torno existentes nas fronteiras do plano físico t ransferem-se exatamente para
os contornos do plano transforma.do.
P ara uma geometria duplamente conexa não complexa, o mais vantajoso é
utilizar um corte ao longo de uma linha Ç constante e obter urn plano compu-
tacional retangular único, onde a implementação do algoritmo computacional
é bem mais simples. Para o plano computacional da Fig. 11.lG(a), existem
interrupções de linhas Ç e 17, geraJJclo, na realidade, um plano compuLacional
formado de quatro blocos retangulares.
P ara geometrias multiplamente conexas, o procedimento é semelhante ao
adotado pa.ra. as duplamente conexas. Também aqui , pode-se fazer uso dos
cort.es (que geram um plano computacional retangula.r único) ou da opção de
criar um plano computacional composto de blocos retangulares. A geometria
mostrada na Fig. 11.17, no plano físico, é transformada, usando-se os dois
métodos, e suas respectivas malhas e planos transformados podem ser vistos
nas Fig. 11.18 e Fig. 11.19. Conforme já comentado, a utilização de cortes é
equivalente a abrir o domínio e transformá-lo em um retângulo.
Discrclizriçao Coincirtenll~ com a Frontcirn 213

00
1--~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Fig. 11.17 - Geometria multiplam ente conexa.

y ,,
A B A B
1 1
1 1
,1 2 5 6
---- d
1
1 7
1
8
...... -

1 1
D e
X (b)

Fig. 11.18 - Malha por bloco~ para uma geome tria multipla-
mente conexa.

Na Fig. 11.19, o início do processo dá-se no ponto A, passando por toda. a


~cometria externa e chegando em F. Deste ponto, é necessário, é),gora., percor-
rrr as fronteiras dos dois furos internos. Para isso, é necessário, a. partir ele F,
('Orta.r o domínio ao ]ougo de uma linha Ç, chegando em G, percorrer metade
da circunferência do primeiro furo, cortar nova.mente de H a I, p ercorrer toda
n, circunferência elo segundo furo e retornar até o ponto A, fechando o ciclo. Os
segmentos FG e LA , ao longo de Ç, e os segmentos H I e J !\, ao longo de 17,
sã.o coi ncidentes. Tais segm.entos não possuem condições de contorno, p ois não
estão na fronteira do domínio físico . As condições de contorno apropriadas são
·'as chama.das repetitivas, que seri'io vistas logo mais, especificando apenas que
os dois segmentos são os mesmos. Rigorosamente falando, não existe neces-
sidade de condições de contorno sobre os cortes, pois os mesmos são internos
214 C. R. Mo.liska

ao domínio físico, sendo as condições repetitivas um artifício usado para criar


condições ele contorno para o plano transformado.

X
(a)
17

A B e D E F'

L K H o

(b)

F'ig. 1 1.1 9 - Bloco único. Geometria multiplamente conexa.

Um outro exemplo onde apaJ·ecem segmentos repetitivos é a malha sobre


um' a.erof61io. Neste caso, a. ma.lha deve estender-se a jusante do aerofólio
até onde as condições ele contorno impostas nesta front.eira não tenham mais
influência sobre a região de interesse. A mallrn. adequa.da para isto é chamada
de tipo C , por envolver o corpo como se fosse um C. A Fig. 11.20 mostra. a
malha e o pla110 transformado , onde o segmento 12 = 34 é repct.itivo.
D'iscrctizaçáo Coincidente com a Fmntefra 215

,,

5 6

Superfície do corpo

3
__ ___ ...
4
/ _.___ ___
_______ 2

Fig. 1 1 .20 - !\falha do tipo C para um aerofólio.

11.3.5 - S is temas Coor den ados E nvolvidos

Para ilustrar a. possibilidade de mapeamentos sofist.icados, vamos conside-


rar a situação onde um tipo de sistema coordenado generalizado é embutido cm
outro. Dificilmente, sistemas deste tipo são aplicados na prática, mas são exce-
lentes para desenvolver o raciocínio e fixar o aprendizado sobre mapeamentos.
E este é o nosso objetivo neste capítulo .
Um exemplo desses sistemas [142] pode ser visto na Fig. 11.21 , onde o sis-
tema embutido é do tipo "polar", enquanto o envolvent.e é do t ipo "c;u·tesiano" .
Para melhor entender este mapeamento, considere-se, inicialmente, apenas
o sistema coordenado envolvido onde dois cortes são realiza.dos, um ao longo de
216 C. R. Maliska.

12- 8 e o outro ao longo de 13-7, conforme a Fig. 11 .22. O sistema envolvido.,


dividido em duas partes. Fazendo-se a superfície do corpo colapsar na. linha. 8 i,
o plano tra.nsformaclo fica como mostrado na Fig. ll.2l (b). Observa-se que oM
segmentos 12- 8 e 9-8, 7-6 e 7-13, 11- 12 e 10-9, e 13 14 e 6-5 são coincident.<·,.
e, portanto, não existe ne<.:essidade de condições de contorno. Aliás , é fácil v<·1
que são segmentos pertencentes à parte interna da região e não à fronteira, o
que explica por que não são necessárias condições de contorno nestes segmentos.
Outros exemplos de sistemas coordenados envolvidos podem ser encontradoM
em [142].

y 11

1 14
' 1:!. .d
s: •7

!>- ·6 5
IO

(a) X (b)

Fig. 11.21 - SisLema.::; coordenados envolvidos.

11.3.6 - G eome trias Tridimens iona is

Para r<'giões tridimensionais, os benefícios com o uso ele malhas generali-


zadas coincidentes com a fronteira são ainda maiores, uma vez que para estas(>
praticamente impossível obter um sistema coordenado coincidente com a fron-
teira e ao mesmo tempo ortogonal.
O grande volume de trabal hos existentes na literatura recente e os pacotes
comerciais para transferência de calor e mecânica dos fl uidos mais conhecidos
usam coordenadas tridimensionais não-ortogonais. A tendência de usar volu-
mes irregulares quaisquer, mesmo não-estruturados, mostra que é inviável ten-
ta.r manter a ortogoualidade do sistema coordenado em três dimensões. Além
disso, a completa generalização dos métodos numéricos só é possível com a
liberdade de criação dos volumes elementares-.
Todos os conceit.os vistos para obtenção do plano transformado para geo-
metrias bidimensionais valen1 para regiões tridimensionais. Os cortes, ant.es
feitos ao longo de linhas coordenadas, são agora a.o longo de superfícies coor-
denadas .
O mapeamento de uma região tridimensional simplesmente conexa. está
rnostrndo na Fig. 11.23. Obviamente, ao passar de regiões bidimensionais para
Oiscn~ l.faaçao Coíncidente com n Frontcirn 2 l 7

111tl1111<'11sionais, a dificuldade de geração da malha cresce consideravelmente.


\11 •111 da.5 dificuldades de geração, uma outra, incrente a todos os processos
1111111Í•ric·os, é- o fornecimento elas coordenadas (x, y, z) da geometria tridimcn-
1111111 I ao programa gerador.

4 J

12
13
c======J
li 12 13 14

~
1 2

Fig. 11.22 - ;\berL ura cio s istema coordenado envolvido.

Fig. 11.23 - Região tridimensional simplesmente conexa.

Por exemplo, cm uma geometri<:• bidimensional simplesmente conexa, onde


1•scolhemos uma malha com 20 x 20 elementos, teremos que fornecer ao pro-
~rama de geração de malhas 76 pontos que definem a fronteira da geometria, no
<'aso em que todos os pontos da malha na fronteira sejam usados para definir
a geometrü1.. Quando a. geometria é simpl0s, é possível defini-la con1 poucos
, pontos, sendo os pontos da mruha obtidos por interpolação. No caso tridi-
mensional com 20 x 20 x 20 malhas, para definir a fron teira serão necessários,
aproximadamente, 2.400 pontos. Para umí\. geometria compkxa, será sempre
trabalhoso fornecer via teclado os pontos que definem a geometria.
218 C. R. Maliska

A solução moderna para, o problema é através de sistemas ele CAD, utili


zando interfaces que façam a transferência dos dados que definem a geometria,
Como em geral a solução de problemas complexos de mecânica dos fluidos <'
transferê ncia ele calor está associada 1:1 um projeto ma ior, as geomet rias estão jií
definidas em a lgum sistema. CAD usado em projeto. Os pacotes comerciajs já
são vendidos com alg uma inter face CAD, escolhida pelo usuário, parei fornecer
a geometria cio domínio de cálculo ao programa gerador de malhas.
Para geometrias trid imensionais bastante complexas, a utili~ação de mul-
tiblocos é quase sempre obrigatória [74 ,87,156]. Dificilmente é possível gerar
um sist.cma coordenado adequado com o plano transformado correspondente d<'
um único bloco. Do ponto <le vista computacional , resolvc•-se o problema itcra-
Livament.e, blorn por bloco, até a convergência,, Do ponto de vista da geração
da malha, o trabalho fi ca facifüa do, pois apenas malhas que se transformam
em um único bloco necessitam ser geradas em número equivalente ao número
de blocos.

Fig. 11.24 - Malha, t ridi111e ns io11al.

As vezes, é pos~ível g<'rar 1mtlhas t.ridimcnsionais a partir de malhas bi-


d imensionais e esta possibilida de eleve ser explorada. A Fig. 11.24 mostra
uma discretizaçâo adequada para o tratamento de problemas que envolvem si-
mulação de reservatórios de pet ról('o, onde uma malha bidimensional é gerada
coincidindo com a vis ta superior do reservatório, conforme mostra a Fig, 1 L25.
A fornrn. da superfície e do fundo cio re~ervat.ório é fornecida ao programa, que
interpola uma malha tridimensional entre est as duas regiões.
Ta l método de geração será descrito no Cap. 13, oude seri'.í,o discutidos
o:-; métodos de geração de malhas bi e tridimensionais. Por agora, apresen-
taremos algumas malhas tridim ensionais com o objetivo de exercitar o que é
Discrctiznçcio Coincidente com a fronteirn, 219

1111portant.c, ou seja, a capacidade de construir o plano transformado de m a lhas


11ld imcusionais mais complexas.

Fig. 11. 25 - Visla de cima da malli <l. t ridirm•us ional clct F ig. 11.24.

A. Fig. 11.26 11.present.a outro exemplo, onde urna ma lha tridimensional


para um sólido de revolução é obtida com a rotação de uma ma.lha bidimen-
sional, que é gerada algebricamente, estabelecendo-se como front eira externa,
por exemplo, um<'I. hipérbole e como front.0ira interna a geometria' cki corpo. O
corpo representado é a parte frontal do VLS (Veículo LMçador de Satélites)
brasileiro [20]. A malha bidimensioual é gerada pa rn a geometria definida por
ABCDA. E::;t.a nH1.lh<t é rotacionada cm torno do eixo do foguete, gerando os
volumes el0ment.ares.
Para melhor entender este mapeamento, a Fig . 11.27 mostra, no lado es-
qtH' r<lo, a malha 20 geradora e, no lado direito, o domínio transfor mado. A
cada il1cn•mcnto ele rot ação ua ma lha. bidimensional são gera.dos os planos no
domínio t.ransformado. O segnwnto D A gira sobre ele mesmo, gerando no
domínio trausforma<lo sempre a repetição deste segmento, enquanto o segnwnto
C JJ vai coincidir com o scg1nent.o F E, depois de rotacionar 180º (quando o pro-
blema não apresenta. nenhuma simetria, a malha deve ser rot acionada 360º ).
No domín io t.ransformado, temos então a superfície CD DF, que representa a
superfície externa da malha, e a superfície B AAE, representando a superfície do
corpo. Nestas duas superfícies, teremos condições de contorno de escoament.o
livre e condições de contorno existentes no corpo, respectivamente.
220 C. R. Mriliska

Para um escoamento onde o foguete tcllha ângulo de ataque apena.<; 1111


vertical, o escoamento é simétrico em relação ao plano vertical. Logo, as s 11
perfícies C D AB e F D AE, no plano t ransformado. são de simetria. A superfíci1•
DAA(A' }D(D' ) é uma linha interna cio domínio físico que se transforma 1•111
um plano e, por ser interna, não n•quer condições de contorno.

Fig. 11. 26 - Mallrn 3D sobre o VLS.

e~~~~~~~~~ D

~ li~---4

A D
D=D'

A=A'

Fig . 11.27 - Pla no transformado da malha 31) do VLS.


Discrntizaçào Coincidente com a Pronteim 221

1 1.4 - Trat amento das Fronteiras Obtidas por


Cortes
Quando o domínio físico é simplesmen te conexo, vimos que cada face do
ilrn 11íuio computacional representa urna fronteira real daquele domínio e, con-
H•q iicntemente, as condições de contorno no d omínio computacional são aquelas
cio físico.
Em sit uações onde o d omínio físico é d upla 011 multiplamente conexo e o
111apN1mento é feito ern um bloco único, o domínio Lransformaclo possui front,ei-
1.1s que são obtidas por cortes no domínio físico, não sendo n<.'ccssário, portanto,
11plicar cond ições ele contor:110. Essas fronteiras devem ser tratadas ('omo intcr-
1111s. Alguns casos sC'rã o agora rela.ta.dos.
Considere a Fig. 11.28, em que as linhas F A e DC são repetitiva..<; (plano
1.rn.11sformado da F ig. ll. 15(a)), com o volume elemcnt.ar centrado em P, tendo
1·01110 fronteira leste a. fronteira repetitiva. Ao realizar a integração da equA.ção
clifPrencial sobre P, será necessário especificar os valores da fun ção e de sua
ch•riva.da em e. O tratamento é idêntico ao <lado pnrn volumes internos, uma
v1•z que E = E' e, portanlo, valores da fu nção incógnita e de suas derivadas
1•111 e podem ser obtidos através de funções de interpolação que envolvem P e
!~'. ambos internos.

Fronreiras do domínio computacional

/
""'
F D
.~
1

1
1 /
V
1~ E' p e E
l • • •
1

1 1
1 1
1 1
1 1
A e

Fig . 11.28 - Tr<tla.menlo dos cor ~cs.

Uma. out.ra. situaçã.o é mostrada na Fig. 11. 29 , que represen ta partes am-
pliadas <la Fig. 11.19, oude o segmento HJ é igua l ao segmento .JI<. Estes
dois segm entos são fronteiras cio plano computacional , mas sobre os mesmos
11.ão ex iste ueccssida de de aplicação de condições ele contorno, pois, no domínio
físiC'o, é uma linha coordenada interna. Na avaliação dos valores da fm1ção
222 C. R. Mal·iska

incógnita e de suas derivadas na fronteira "s", basta observar que o volum<'


S, necessário paJ·a esta avalia.ção, é um volu me interno, conforme a Fig. 11.29.
É importante observar que a derivada deve sempre ser avalia.da considerando
o eixo positivo e, nestes casos, cuidados elevem ser tomados, pois os volumC's
aparecem em posições diferentes no domínio computacional.
Semelhantes a estes dois casos apresentados existem inúmeras outras si-
tuações onde fronteiras origina.das de cortes aparecem. Em todas elas, o trata-
mento é similar.

.s
K s s H

X
(a) (b)

Fig. 11. 29 - Tratamento dos cortes.

11.5 - Conclusões
Neste capít ulo, com a apresentação de diversos sistemas coordenados coin-
cidentes com a fronteira, gerados para geometrias simples, dupla e mult.ipla-
rnentc conexas, foi possível constatar a versatilidade que o uso destas malhas
propicia aos modelos numéricos. Grande generaJiclacle pode ser introduzida nos
modelos, uma ve6 que o programa computacional é escrito pa.ra um domínio
fixo , permitindo que uma ampla classe ele geometria.., pm;sa S('r resolvida sem
alterações deste programa. apenas gerando 11m novo sistema coordenado, ade-
quado à nova geometria. Logicamente, mudanças s<'rão necC'ssárias no pro-
grama. comput<).CÍOnal, quando o plano transformado muda, de um plano retan-
gular lÍnico para urn conjunto de pia.nos retangulares, por exemplo.
O uso de rnult.iblocos é, também , umi\ alternativa para o t ratamento de
gcomet.rias complexas com malhas estruturada..'>. Conforme comentado, pro-
gramas de renome internacioual possu<'m, atualmente, versõe:; usando e:;ta rs-
t.ratégia. A outra alt.ernativa para geometria.5 bastante complexas é o uso <le
D·iSC'l'etização Coincidente com <i Fronteira 223

rnalhas não-estrutura.das. A discretização do domínio fica facilitada, mas o


nlgorit.mo numérico torna-se mais elaborado, conforme brevemente discutido.
A nossa ênfase, neste text o, é em malhas estruturadas, e os sistemas co-
ord('Jlados aqui mostrados são a.penas alguns tipos possíveis de serem usa.dos.
Muit.os outros t.ipos podem ser obtidos para urna mesma geometria, dependendo
da física do fe nômeno a ser simulado e da imaginação do usuário.

11.6 - Exer c íc ios


11.1 - Se o problema físico a ser resolvido com a malha da Fig. 11.21 é de
condução de calor com tempera tura prescrita na fronteira 1234 e na fronteira
do ('Orpo interno, como ficam as condições de cont,orno no plano transformado?
11.2 - Faça o plano transforma.do para a malha mostra.da na Fig. 11.30.
Se. novamente, um probkma de condução for resolvido no domínio, com con-
dições de contorno de temperaturn prescrita constante em 3436 e temperaturas
difcrcut.es nas faces inferiores <' superiores do losango, como ficam as condições
de contorno no plano t.ransforn1a.do'? Pense sobre a numeraçào dos volumes de
cout.role no programa computacional e sobre o armazenamento das informações
elas condições de contorno sobre o losango.

Fig. 11.30 - Prob. 11.2.

11.3 - Imagine que se deseja resolver o problcmi:\ do escoamento bidi-


u1cmiion<11 em um duto com um re!'ls<1.lt.o com a malha most»rad ... na Fig. 11.31.
Desenhe o plano transformado e mostre as condições ele cout.orno em toda a
fronteira, neste plano.
11 .4 - Considere a geometria<' malha mostradas na Fig. 11.19(a). Numere
os volumes de controle no plano transforma.cio, começando da esqu<'rda para
a. direita e de baixo para cima, como usual. Localize> e numere os volumes
224 O. R. M alískci

correspondentes no plano físico . Localize, no pla no t ransformado, os vizinhos


dos volumes 4, 5, 12 e 13. Calcule ~ na interface entre os volumes 4 e 13,
considerando </> a rmazenada no centro dos volumes de controle.

7 6

- ==- i--- . ._
- i--

~ :=::::::---:::::: r--

2 ~~
-
1
- .............. ~
'-.....,1"'--
- ......................................
3 5

Fig. 11.31 - Prob. 11 .3.

11.5 - P ara a mesma. geometria cio problema a nterior, crie uma maU1a do
tipo most.ra.do na Fig. 11.30 e desenhe o plano transformado correspondente.
11.6 - Crie, no míuirno, três si~temas coordenados curvilíneos não-orto-
gonais para um quadrado e desenhe, também, os planos t ransformados.
11. 7 - Para a. geometria mostra.da na Fig. 11.32 desenhe uma ma.lha
com 5 linhas Ç e 4 linhas 1J e dê a correspondência discreta. entre os pontos
coordenados (l:, y) e (Ç, 17) , na forma aprcsent.ada pela Eq. (11 .5).

(5.3)
Linhas f,
....-----

"
Fig. 11.32 - Prob. l l.7.
CAPÍTULO DOZE
Transformação de Coorde nadas

12.1 - Introdução
Em todos o:-:; exemplos apresentados no Cap. 11, com o objetivo de most rar
a relação entre o domínio físico e o cornputacioual, admilimos a. existência. de
um novo sistema coordenado coincidente com a fronteira. O novo sistema de
coordenadas, cuja forma ele obtenção serA assunt,o cio Cap. 13, relaciona-se com
o sistema cartesiano. Essas relações podem ser obt.idas em qualquer livro de
cálculo tensorial e permitem calcu lar grandezas físicas d<~ importância, como
comprimentos, áreas, volumes, etc., no novo sistema de coordenadas. Essas
expressões, no entanto, sem a devida interpretação geori1étrica não permitem
que interpretações físicas sejam feitas com segurança no plano computacional.
Como o método elos volumes fi nitos fundamenta-se no desenvolvimento de
algoritmos com base física, e tais deduções são normalmente feitas para o sis-
tema cartesiano, somente com a iuterprC'tação geométrica da t ransformação é
possível transferir estes raciocínios para sist.emM coordenados· n1ais complexos.
Por exempl<?, sendo o plano computacional um para!C'iepípedo e, em geral, com
6 ~ = 617 = 6.-y = 1, é necessário conhecer-se em que parâm etros estão em-
but.idas as informações da forma real do domínio de cálculo. Temos observado
que a falta dessas interpretações tem custado àqueles que se iniciam no uso ele
coordenadas generalizadas eonsidercl.vel t.c•mpo de aprendizado e tem inibido a
habilidade na busca. de erros nos programas computacionais.
!\ão será dada ênfase, portanto, aos aspectos puramente matemá.t.icos,
sendo as relações matemáticas usadas somente na ext.ensão necessária aos ob-
jetivos do c<:i.pít ulo. Os leit.ores interessados cm detl'll hes devem consultar os
text.os clássicos de cálculo tensorial, e os int.crcssados em expressões pAra os
diversos operadores em coordenadas curvilíneas generalizadas devem consul-
tar [46,142] .
Também está incluída , neste capítulo, a representação ele escalares e ve-
tores no sis tema coordenado curvilíneo. As int.crpretações geomét.ricas serão
fei t.as, sempre que possível, em duas dimensões, por simplicidade.
226 C. R. M nliska

12.2 - Siste mas de Coordenadas Curvilíneas


A Fig. 12.l mostra um sistema de coordenadas curvilíneas Ç, 17, -y, referida.e;
ao sistema cartesiano (x , y, z ). As coord(madas <.:urvilíneas de um ponto são
relacionadas ao sistema cartesiano por três equações de t.ra.nsformação do tipo

Ç =Ç(x,y,z) (12.1)
·17 = 17 (:r;, y, z) (12.2)
/' = ")' (:c,y, z ) (12.3)
Existe a possibilidade de o novo sistema coordenado apresentar mudanças
com o tempo, o que alteraria a forma funcional da.e; Eqs. (12.1) a (12.3) para
envolver a variável tempo. Este assunto, aplicado na área numériot para maJhas
móveis, será tratado no Cap. 14.

z
'Y

Fig. 12.1 - S istema ele coordenadas c urvilíneas{, ·q , -y.

As métricas dest;:\ transformação podem ser obtidas a través da função


inversa. Os diferenciais em cada eixo coordenado no domínio transformado sã.o
dados por

=
dÇ Ç,.ckr + Ç9 dy + f.zdz (12.4)
d17 = IJ,;dX + l]ycly + 'l]zdz (12.5)
eh = l '.cdX + ~íydy + ~rz dz (12.6)
Transformação de Coorrlena.rla.s 227

ou na forma matricial

[~~ l
d:y
[
{x
1Jx
~(;r;
Çy
1]y
7y
Ç:
T/:
l'z
l[ l dx
dy
d::;
(12.7)

ou, a.inda, como

(12.8)
onde dr e d,.. são os diferenciais no domínio transformado e no domíuio físico,
resp<'ctiva.mcntc. Através cios diferenciais no plano físico, encontramos

dx
dJJ
[ dz
l [=

1/f.
:r,1
Yri Y"
1
X-· 1[ l dÇ
dTJ (12.9)
zç z,.1 z'Y eh
ou

(dP] = [B] [dT] (12.10)


Usando as Eqs. (12.8) e (12.10), encontramos

A = B- 1 =J
y,1z'Y - Y-rZ,1
- (y€z'I - Y-rzd
[ yçz, - y.,.,zç
- (x,1z-,. - X-iz,1)
xçz,.. - x"zç
x,,y'). - x'Yy,,
- CrE.Y-r - '.l;').yd
l
1 - (xçz'I - x,1.::ç) :i.E.Y•i -:r;,,yE.
(12.11)
Logo. comparando [A] com [n- 1 ], elemento por elemento, as m étrica.'> são
dadas por

= J (y,1z-y - y.1z,,,)
( .e
Çy = - J (x.,.,.::-y - 1·-yz11 )
Ç, = J (:C,1Y-Y - x,y,1)

1Jx = - J (YE. Z'Y - '.lhZt_)


rJy = J (;1:E. z-,. - x., zç) (12.12)
l }z = - J (xçy'Y - '.C-1YE)

1'.c = J (yç z,1 - y,1Zt, )


~1~1 = -J (;-r;çz, 1 - x,1z,<;)
'Y.: = J (:i:ç~h1 - X11YiJ
onde
1
J = dct [A.] = det [B] (12.13)
228 C. R. Matiska

ou

(12.14)
é o jacobiauo da transformação. O jacobiano possui uma int.erpretação geomé-
trica forte, que será comentada logo mais.
As Eqs. (12. 1) a (12.3) representam a transformação do sist.ema (x,y,z)
para o sistema (Ç. 17, r) · O teorema da função inversa, que permit.iu a obtenção
<las relações da.das pela Eq. {12.12), admite a existência da. inversa da trans-
formação dada por

:i; =X (Ç, 17, ~l)


y = y (Ç, 'f/, -!') (12.l 5)
z = z (Ç,ry,-y)
onde as métri<:as <ln. funçào inversa são dadas por
1
Xç = J ('11J1-!'z - /y'l/z)
1
X11 =- J(Çy-fz -Ç;;"'(y)

.t'Y = J1 (TJzÇy - (z7/y)

1
Y<,,c = - -J (·n. ~r-
'IX,_ - ·17-~t
~,X
)

1
Y11 = J (Çx'Yz - 'YxÇz) {12. 16)
1
Y-r = - J ((i:1lz - Çz1Jx)

1
Zç = J (1Jx "íy - 1/y~!x)
1
z,, = -7 (Ç.'t~(y - ix{y)
1
Z"I = J (Çx'r/y - f,y1Jx)
Para. excmplifü·a.r, cons idere a transformaçã.o cio sistema. ele coordenadas
cartesianas para o dlfndrico. É fácil mostrar que a transformação, dada por

'/' = J:r/· + y2
B = tcm-L (#_) (12. L7)
:e
Z -- --
Transf01·mação de Coordenadas 229

onde r , B e z representam Ç, 1J e 1', tem como inversa as funções

x = r cos B
y = 1· senB {12.18)
z= z

12.3 - Comprimento ao Longo de· um Eixo


Coordena do
Considere a Fig. 12.L onde está evidenciado o comprimento dL17 , ao longo
do eixo coordenado 11, e as coordenadas a., b e e do ponto .r1 no sistema carte-
siano.
É fücil verificar que

ôx
a = - t::i17 {12.19)
Ô'I'/

b = ôy l:::iTJ (12.20)
Ô1/
ôz
e = - t::i11 (12.21)
Ô1)

uma vez que, ao longo de OA, t::iÇ e t::i~, são iguais a. zero. Usando o t eorema
<le PitAgoras, cncont.ramos

+ (ªz)2
dL,1 = (âx)z + (ªy)2
Ô1] 817 ÔTJ
!:::i17 • , •

(12.22)

Analogamc•nte, os comprimentos ao longo de f, e í ' sào da.cios por

dLE. = ( âx
ôf,
)
2
(ôy) (ªz ) t::;c
+ âÇ +
2

âÇ
2

"'
(12.23)

dL, = (12.24)

De acordo com a, definição do tensor métrico, dada por

·• â:r â:l; ây ôy ô z ô::


(12.25)
g iJ = ôxi 8:1) + â:ci ôxi + Ô:ri éJxj
vemos que os eornprim0ntos dL~, dL,1 e clL-r são, r0..spectivarnente,
230 G. R. Maliska

dLe = 1911~~ (12.26)


dL,1 = /92z~r1 (12.27)
dL'Y = ./fj33~r (12.28)

ou seja, um comprimento ao longo ele um eixo coordenado está relacionado a


apenas uma das componentes do tensor métrico. Um elemento de comprimento
genérico ds, utilizando o teorema de Pitágoras, é dado por

ds 2 = di.:2 + dy'l + dz2 (12.29)

Lembrando a expressão dos diferenciais dx , dy e clz, dados pela. Eq. (1 2.9),


e lembrando ela definição do tensor métrico 9ik, encontrarnos

:3 3
2
ds = cfa: 2
+ dy + dz =
2 2
L L gu.,dxi dxk (12.30)
i=l k= l

onde g;k é dado pela Eq. (12.25) e, logicameut.e, pofisui nove componentes.
Um comprimento genérico, portanto, envolve todas as componentes do tensor
métrico. Na E q. (12.30), xi e :i:" representam as coordenadas gencrali:tadas, ou
=
para ·i = 1 t emrn; :?:1 C para Í =
2, :r2 = 'IJ e para i = 3, X 3 = / . Ü tensor
métrico, na forma matricial. é dado por

(12.31)

P ara os sistemas de coordenadas ortogonais, toda.e; as componentes cruza-


das são iguais a zero. Para o sistema de coordena.das cilíndricas, por exemplo,
temos, usando a definiçáo de 9ik, ·

.911 = 1
922 =.,. 2 (12.32)
[)33 =1
com todas as outras componentes iguais à zero.
Transformação de Coordenrulrts 23·1

12.4 - Áreas no Sistema de Coorde nadas


Curvilíneas
Tomando, agora, apena.5 dois eixos coordena.dos da Fi:~. 12.1, podemos
obter as expressões que pennit.cm calcular as áreas no sistema de coordenadas
cmvilíneas. A Fig. 12.2 moot.ra. a situação. Como feito para o caso tridimen-
:;ional, podemos escrever

(12.33)

dL'1 = y~ + x; 6.r/ = .Jfj22 6.17 (12.34)

Aõi;
..<?.~.......................

Fig. 1 2.2 - Área no plano físico.

Do acordo com a. Fig. 12.2, podemos ropresent.ar esses c:omprimento:-; por


vetores, como

cllt. =;i;ç 6.~f + Yt. 6.(1 (12.35)


dL,1 = x,,t:,,rJf + y,1t:,,1Jf (12.36)

A área do para.Jelogrnmo formada pelos dois vetores é dada pelo módulo


do vetor rcsultant.e do produto vetorial dos mesmos
232 C. R. Maliska

~] (12.37)

Entã.o,

(12.38)

Uma interpretação geométrica muito importante pode ser extraída da


Eq. (12.38). Comparando-a com a Eq. (12.14), constatamos que a expressão
entre pa.r ênteses na Eq. (12.38) é, exatamente, 1/ J, se na. Eq. (12.14) for con-
s iderada uma transform ação em duas dimensões. Logo,

dS 1
(12.39)
{j,Ç,611 =J
ou seja, a relação entre as áreas no plano físico e no plano transformado é
igual a 1/ J . Como é comum usar {j,é_ e 6-77 unitários por simpliei<lade, pois
os mesmos podem ser arbit rários, então o inverso do jacobiano é exatamente o
valor da área do elemento no plano físico. A Fig. 12.3 mostra a área real no
plano físico e seu mapearnento, no plano transformado. É fácil entender por
que {j,Ç e {j,r/ podem ~er arbitrários. Usando a Eq. (12.14) para uma situação
bidimensional, o jacobiaJ10 resulta em

( 12.40)

Fig. 12.3 - Áreas. 11os p la no;; físico C' 1,ransformado.

Aproximando numericamente a Eq. (12.40) e s ubstituindo- a na Eq. (12.39),


,podemos comprovar que o produto ilÇ{j,17 desaparece, sendo, portanto, ar-
bitrário o valor ela área (ou volume) no plano transformado.
Para uma transformação tridimensional, temos
Trnnsformaçci.o de Coordrnarfos 2:l:l

dV 1
(12.41)
6.f,D..176."{ J
É também possível most rar que
1
- =
J
..;g (12.42)

ou de

g = deL [9ik) (12.43)

12.5 - Vetores d e Base


Quando o sistema cartesiano é usado, nm vetor variável com o espaç,o é
descrito em t ermos das componentes cartesianas referenciadas a uma base local
de vetores i, j e k. A magnitude e a.direção de cada vetor de base são as mesmas
para qualquer ponto do espaço. Sabemos que t, j e k são vetores unitários e
que a magnitude de uma componente de um de t.erminado vetor representa urna
proporcionalidade com o vet.or de base naquele eixo.
Quando coordenada.'.> curvilíneas são empregadas e desej amos descrever
o mesmo vetor nest.as coordenadas, é conveniente empregar VC'tores de base
local que estejam alinhados ou sejam normais às liuhas· coordenadas. Como o
sist ema de coordenadas é nã,o-ortogonal e para evitar ambigüida.des, existem
· dois siste mas de vetores de base que podem ser utilizados : o covariaute e o
contrava.riante. Além destes, é freqüentemente empregado um sistema unitário
ao longo da base covariante.
A Fig. 12.4 mostra est.es vetores de base juntamente coin ' o sist ema carte-
sia no retai;igula r.

12.5.1 - Vetores de B ase Covariantes

Os vetores de base covariant<'s, por definição, sã,o tangentes às linhas coor-


denadas, conforme mostra a F ig. 12.5 para o caso cio vetor covariante tangente
a.o eixo ç. O vetor de base covariant e, neste caso, é dado por
éh""
(12.44)
= âf,
Sabendo que f-' é dado por

'i" = xi'+yf+ z k (12 .45)


o vetor ele base cova riante, eç, resulta em
234 C. R. M ali:>ka
11

(J:r; _ ôy _ Ôz k-
c{ = -ôé,t + -ôé, J + -àé, " (12.46)

P rocedendo analogamente para as direções 7J e 7, tem-se

(12.47)

(12.48)

Fig. 12.4 - Vetores de base covariantes, contravariantes, cartc-


:;iano:; e uniL<Írio:; ao longo da base covariante.

ou, na forma matricial, corno

:t:!;
= ( x,, (12.4!))
x,
ou, usando a coordenada xi para denotar as coordenadas Ç, 'f/ e/, como
Tr<msformação de Coonlcn<Ufos 2:30

âx _ ây _ ô:; k-
€i = - .t+ - . J + - " (12.50)
âx• Ôx' ôx•
O reconhecimento de que os vetores de base covaria.utes são t.angenteR às
linhas coordenadas generalizadas auxilia bastante o analista numérico, pois,
ao analisar resultados de problemas físicos, é comum a necessidade ele calcular
grandezas tangentes às linhas coordenadas. Basta, portanto, estar de posse
das métricas da transformação inversa, dadas pela matriz da Eq. (12.49), e
determinar o vet.or na direção tangente desejada.

Fig. 12.5 - Defin ição d os vP.tores de base covariantes.

Para. exercitar, considere o sistema polar de coordenadas, Eq..(12.18) , sem


considerar a coordenada z . Estamos interessados, por exemplo, no cálculo do
vetor de base covariante na direção e. Pela definição, sabemos qu<'. é um vetor
tangente à coordenada. e. Utilizando as Eqs. (12.46) e (12.47.), encontra-se o
vetor de base para esta direção, como

eo = r (- seu Oi+ cos ()j) (12.51)

enquanto, para a direção r, t.em-se

e,. = cosBr + senBj (12.52)

A Fig. 12.6 mostra., nas posições A. B, C e D , os vetores ele base covari-


. antes do sistema polar calculados com as E.qs. (12.51 ) e (12.52). Note que eo
tern módulo r, enquanto e,. tem módulo unitário.
236 C. R. M <iliska

-
-ri

- - rj

-
-1
e A X

-
-r.1

D
.... ....
-j r 1

Fig. 12.6 - Vetores de base covariantes do siste ma. polar.

12.5.2 - Vetores de Base Con travariantes

A base contravariante tem seus vetores normais às superfícies coordenadas,


conforme ilust.rado pela Fig. 12.7. Desta forma, elevemos buscar, para sua
definição, o ente matemático que representa esta. condição. Sabemos que o
gra.dient e tem esta propriedade. Logo, os vetores são dados por

ee = \7f, = ôf, r + ôf, j + Ôf. k (12.53)


ax ây az
Ô1J - Ô17 - 817 k-
e., = = -z + - ) + -
'7
V 1] {12 .54)
fü; ây ôz
81 -
e'Y = \71 = Ô/
8x
Ô/
-?+ - j + - k
ôy ôz
(12.55)

ou, como anteriormente, na forma matricial

f,y
1/ y
~(y
f,:
11::
"!:
l (12.5())

É deixado ao leitor, como exercício, obter os vetores de base contravarian-


tes para o sistema polar de coordena.das, a exemplo do que foi fei to para a base
cova.ri ante.
Trnnsfonnaçiio ile Coo!'(lm1,1i<ln8 2:37

Co1110 pode i;cr visto pelas equações mostradas, os vetore:; de base cova-
1111111.cs e C'OnLrnvariantcs foram escritos em termos dos vetores unitários e i, J k.
l 1~s1 <1s 1'il timos também podem, logicamente, ser expressos nas bases covariant.e
(' rnnt nwariantc. A seguir, estas e outras relações importantes são reunidas.

Fig. 12. 7 - Definição dos vetores de base contravaria nteR.

ax - ôy - az - {12.57)
ei = -ô.i+-a.J + ~k
x• x' vx•
. âxi ôxi ôxi -
e'= - i ' + - j + - k {12.58)
ax ôy az
- L -ax•e;_= L -Ôx'
i=
3

81:
a
.e•
3
X-< {12.59)
i=l i=l

- 2= ax·
J= - ei- = 2= -a-y.e•-.
3

ôy
.

ôx·•
3
(12.60)
i=l i=l

(12.61)

(1 2.62)

onde

9ij =e; · eJ {12.63)


g'·i =e; . ej (12.64)
238 C. R. Maliska

Na Eq. (12.62) , o vetor U i é unitário ao longo da base covaria.nte e é


obtido dividindo-se o vetor e; pelo seu módulo. Tomando novamente o sistema
polar como exemplo, vemos que o vetor er j á é unitário e eo possui módulo r.
Portanto, o vetor ·u,o, unitário, é

tto = - sen Oi+ cos Bj (1 2.65)


Da Eq. (12 .62) podemos concluir que

(12.66)
e, portanto, devemos ter em mente que, quando um vetor 0 cle::;crito pelas
suas componentes covariantcs ou contravariantes, o vetor ele base a esta re-
pr<'sentação não é unitário. Comparando as Eqs. (12.26) a (12.28) com a
Eq. (1 2.66), podemos comprovar este fato . Observe que nas equações ante-
riores podemos recuperar sempre as três componentes fazendo :r;1 = ~- :i; 2 = ·17
e :c:1 = 1'·
Para conduir, a Fig. 12.8 mostra, no plano, um sistema de coordena.elas
não-ort.ogonai:s e o::> respectivos vetores de base covariantes e contravariantes .

, ~ = etc
1/
/
e•

Fig. 12.8 - Vetores de base covariantes e cont ravarianLcs.

12.6 - Representação de Vetores no Sistema de


Coordenadas Curvilíne as
Conforme salientado, duas são as bases possíveis para. representar um ve-
tor no sistema ele coordenadas curvilíneas, existindo, também, uma t<'rceira,
unitária, ao longo da base covaríantc.
Tran.9/ormaçao de CoordenMfos 239

Quando C'xístc a tarefa de representar vetores em sistemas de coordeua-


dns C'njos vetores de base não são unitários, devemos tomar a preca.ução ele
interpretar rigorosamente o significado de uma componente de um vetor. Uma
!'Omponentc de um vetor é um escalar que é multiplicado pelo vetor de base
para obter-:;e um comprimento. O importante é que o comprimento obtido
clC'V<' ser um invariant e, isto é, tC'm o mesmo valor para qualquer sistema de
rnordenadas. Para sistemas ele coordenadas generalizadas, com vetores de base
ele módulo uão unitário, isto é fu ndamental, pois o escalar representado pela
componente não t em interpretação, se não estiver associado a um vetor de
l>ase, cuja multiplicação da componente do vetor pelo módulo elo vetor de base
rC'sulte cm um comprimento e, porta.nto, invariante.
Seja V um vet.or funçkio do espaço, isto é, V= V(x,y, z) . Este vetor pode
SC'r r<'presentado por

v = V1u1 + V2u2 + V3·u.3 (12.67)


1 2
V= V + V e2 + V3 e3
e1 (12.68)
,7 = V1e + V2e2 + V3e3
1
(12.69)

que dão origem às componentes físicas, contravariantes e covariantes, conforme


a Fig. 12.9. Rigoro/lamente, não existe possibilidade de desenhar, atribuindo
magnitudes, as componentes contravariantes e covariantes de um vetor. En-
tretanto, para que estas entidades não resultem demasiada.mente abstratas, as
mesmas são multiplicadas pelos seus vetores de base correspondentes e, então,
desenhadas e mostra.das na F ig. 12.9. Na realidade, o que se está representando,
então, são componentes físicas, invariantes.
Obser ve que a representação elo vetor na base covaria nte nos fornece as
com ponentes contra.var iantes do vetor. Esta é uma questão que, ficará. mais
dara, quando observarmos que as componentes contnwariantes são obtidas
pelo produto escalar do vetor cm questão pelo vetor de base contravariante
correspondente. Além disso, é impor tante a tentar pa ra o fato de que os produ-
tos V 1e 1 e Vie 1 fazem sentido por originar comprimentos, enquanto não tem
sentido o produto V 1e 1 ou Vi e1 .
As expressões de cada uma das componentes representada nos possíveis
vetores de base podem ser obtidas com a.uxílio das Eqs. {12.57) e (12.58).
Assim,

V.= J<j;; yi (12.70)


·i. - éJxi V Ô~r;i r r âxi V
V - -
ôx x + -ôy 1'y +ôz- .• {12.71)

"
Vi = -Ôôxx•. Vx + -Ô
ây ,
:r•. Vy + Ô
ôz V
- --,. z
x•
(12.72)


240 C. R. M aliska

e, para as componentes cartesianas, como

3 3 3 '
=L =L L
A

Vi: â x. Vi â:r vi = âx' Vi (12.73)


1.= l
ôx• .j%, .
i= l
âx• .1.=l âx
3 A 3 3 '
V. =~ ây. Vi = ~ ôy V' = ~ âx' Vi (12.74)
y ~ Ôj;• j'§ii ~ ÔX'' ~ Ôy .
1.= l 1.= l .,= ]
3 A 3 3 '
V- =~ âz. Vi =~ âz. Vi = ~ âx' Vi (12.75)
- ~ âx• ..fijii ~ â:r• ~ âz
i= I 1.= l i= l

Fig. 12.9 - Componentes covariantes, contravarianLes e físicas.

~este ponto, é didático salientar a. importância. da escolha das compo-


nentes do vetor velocidade que tomarão par te no modelo numérico. Em se
tratando do método dos volumes finitos, os bala nços das propriedades (massa,
quantidade de movimento, energia, etc.) no volume elementar é que dão ori-
gem às equações aproximadas. Estes balanços envolvem a qm1.ntificaçi'i.o dos
fluxos convectivos destas propriedades nas faces dos volnmes clementn.res. A
avaliação destes fluxos , independentemente da propriedade, depende do fluxo
de massa. Portanto, a avaliação do fl.uxo de massa nas interfaces dos volumes
elementares é uma das mais importantes 'operações realizadas no a.lgoritmo.
Transformação de Coordenadas 241

pois sua influência aparece em todas as equações a serem resolvidas. A correta


Hc·olha. das componentes do vetor velocidade que tomarão parte na avaliação
c1

d< stes fluxos é, então, de grande importância.


1

2
Fig. 12.10 - Projeção normal de \/ a :i; .

Considere-se a Fig. 12.10, onde o vetor velocidade ll é most rado. Para.


que o cálculo do fluxo de uma propriedade <f> qualquer seja feito, é necessário
determinar (V· fí), tal que (V· ií)p</J nos forneça o fluxo de </> por unidade de
área e tempo. Sabemos que

(12.76)

pois, tomando a situação bidimensional e a componente i = 1 <.'Omo exemplo,


temos

(12.77)

Sabemos também que, de acordo com Eq. (12.76) e conforme ilustrado na


Fig. 12.10,

v · e = IVI le lcoso = v
1 1 1
le1 1= v 1 (12.78)

Comparando as Eqs. (12.77) e (12.78), encontramos

-1 v1
V=-= - - = - -
· v\rg v1 (12.79)
le1 1 ·..fff22 J ffe
242 C. R. Maliska

1
onde V é a normal de \7 a x 1 , necessária para o cálculo do fluxo convectivo
de Q).
O importante é observar que, na Eq. (12.79), a pai-cela da velocidad<'
1
responsável pelo fluxo de massa, V , tem relação apenas com uma das com-
ponentes contrava.riantes do vetor velocidade. Ou seja, normal a x 2 , que ~
urna linha de :r: 1 constante, necessita-se apenas de V 1 , e normal a :r 1 , que ó
:~ uma linha de x 2 constante, precisa-se apenas de V 2 . Desta forma temos urrrn
situação semelhante àquela do sistema cartesiano, onde, para o cálculo dos flu-
xos convectivos normaü; às linhas y e x constantes, necessita-se apenas de v <'
'U., respectiva.mente. Em um sistema de coordenadas generalizadas, se as com-
1
ponentes covariantes fossem emprega.das, V dependeria das duas componenter-;
covariantes, pois

(12.80)
Neste caso, ambos os produtos e 1 · e 1 e e2 · e 1 são não nulos e, portanto,

v 1 =J(Vi,112) (12.81)
Do ponto de vista de construção do método numérico, isto tem um signi-
ficado importante, pois, usando as componentes covariantes, será necessário o
armazenamento de Vi e V2 em cada face do volume element ar. Se as compo-
nentes contra.variantes forem usadas, será necessária apenas uma componente
em cada face.
Aprofundando um pouco mais a interpretação física de cada componente
de um vetor quando sistemas de coordenadas curvilíneas são empregadas, con-
sidere a Fig. 12.11, onde, novamente, o vetor velocidade V é mostrado. O
interesse, agora, é correlacionar as componentes contravariantes e cartesianas
à luz da interpretação física. Imagine que desejamos calcular a vazão mássica
que atravessa o segmento AB. Esta vazão é dada por

(12.82)

ou

rii = plV lcoseJg22.6.'1] (12.83)


onde a representação de AB veio da Eq. (12 .27), que calcula o comprimento de
um segmento sobre uma coordenada curvilínea 'r/ . Sabendo que j\l lcosO = U,
conforme a Fig. 12.11 , ternos

pU Jg22.6.17 = rii (12.81J)

Considerando as componentes cartesianas e as projeções de AB em J'. e y,


é fácil mostrar que
1hmsfomrnçrw de Co01·d<'urulas 2•1.1

·11.6y v6x)
p ( - - - - - 617
617 6 rJ
= m. (12.85)

m = pU6'fJ (12.86)

U =U6 Y - V
6
X {12.87)
Ó.'TJ t::.r1
,, drnominada. velocidade contra.varia nte sem normalização mét.ríca. No Cap.
1 1, Leremos a oportunidade de voltar a comentar sobre ela.

-+

!; ~nstante

Fig. 12.11 - Projeção de V na normal às li nhas 11 e Ç constantes.


Também é fácil de constatar que o sinal negativo que aparece na. Eq. (12.85)
leva em conta , automaticamente, o sinal que a métrica ~~ carrega. A Fig. 12.12
mostra. uma. sit.uação onde ~:i é negativo, resulta.udo, eutão , o sinal positivo na
Eq. (12.85) , que é o correto, pois tanto a componente ii como a componente v
rnntribuem positivamente para calcular o fluxo de massa na fronteira AB (veja
.. que as decomposições de tt e v sobre a normal somam-se) . A Fig. 12.1 3 mostra
mn a situação onde ~~ é positivo (a; cresce com o aumento de 17), resultando,
então, o sinal negativo na Eq. (12 .85), mostrando que a componente v contribui
244 C. R. Maliska

negativamente com o fluxo de massa em AB, o que também pode ser visto,
novamente, pelas decomposições de u e v sobre a normal.
Usando as Eqs. (12.16) e igualando as Eqs. {12.84) e (12.85), vem

pU .J922~r, =PVg ( u ~; + V~;) ~r/ (12.88)

A expressão entre parênteses na Eq. (12.88), quando confrontada com 11.


Eq. (12.71), é identificada como sendo a. componente contravariante V 1 , ou

- V\/g
U=-- (12.89)
./922

,,

Fig. 12.12 - Decomposição de \f na normal.

Lembrando que y'g/ J = 1, vemos que a Eq. (12.89) é idêntica à Eq. (12.79),
que foi obtida através das relações matemáticas' da transformação de coorde-
nadas, enquanto a Eq. (12.89) foi obtida partindo-se da análise física que, em
geral, é feita pelo analista numérico envolvido com volumes finitos.
Para cálculo da vazão mássica que atravessa um segmento ao longo de~,
temos, por analogia, que empregar a outra componente contra.variante, que se
relaciona com a projeção de V sobre a normal à ~ por

- v2 ..;g
V= - - (1 2.90)
Vfü
Transforrnação de Coordenadas 245

A outra componente contravariante sem norma lização métrica é dada por

(12.91)

011de o sinal negativo eleve ser interpret ado da mesma forma como foi feito
n.nteriormente para a componente U, considerando a.gora. o sinal ele ~.

Fig. 12.13 - Decomposição de V na normal.

12. 7 - Exemplo de uma Transformação


Não-ortogonal
Conforme já comentado anteriormente, o aprendiz,ado de métodos numéri-
cos em coordena das generalizadas fica extremamente facilitado quando o a luno
tem intimida de com todos os parâmetros e métricas ela transformação, sabendo
interpret<~-los geornet.ricamente e entendendo as respectivas conseqüências sobre
a. física do problema. Achar erros nos cálculos de uma transformação só é
possível com esta habilidade desenvolvida. Est e é exatarnentc o objetivo desta.
seção.
Para que o exercício a seguir t enha aproveitamento máximo, use um pa pel
milirnetrado para. desenhar a. malha e desenhe no papel todos os vetores de base
e componentes do vetor que será representado neste sistema não-oi;togonal. Por
246 C. R. Maliska

simplicidade, uma transformação bidimensional será. empregada. A Fig. 12.14


mostra a malha, dada pela seguinte transformação que, neste caso, é analítica

Ç = - 0, 25y + O, 25x (12.92)


:e
.,., = 0,5y+ 6 (12.93)

A inversa des ta t ransformaçf10 pode ser facilmente determinada resolven-


do-se para x e y na.<> equa.ç.ões anteriores, obtendo-se,

X= +3Ç + 1,517 (12.94)


y = -Ç + 1, 517 (12 .95)

-6

Fig. 12.14 - Coordenadas generalizadas Eqs. ( 12.92) e (12.93).

As métricas da transformação são dadas por

Ç:r, = 0,25
Çy = - 0, 25
1 (12.96)
•J]x = 6

1]y = 0,5
Transforma ção de Coordenadas 247

11q11anto as da transformação inversa. são


11

Xç = 3
YE =- 1 (12.97)
x,, = 1,5
y,, = 1, 5
De posse destas métricas, podemos determinar o jacobiano da transforma-
c;;'í,o por

1
J = det ( Çx Çy ) (12.98)
. 1Jx 'r)y 6
e· da inversa por

1- 1 = det ( :cç Yç ) =6 (12.99)


:r:,,, Yri
oudc podemos observar que o jacobiano da transformação é o inverso do jaco-
i>iano da transformação inversa, corno esperado.
Podemos também comprovar os valores dados pela Eq. (12.96), utilizando
itS relações dadas pelo teorema. da função inversa. Teremos então:

T/x = - .Jyç = --61 · (-1). = -61


17,,
·' = .Jxç. = -61 · 3 = O, 5
(12.100)
1
t;x = Jy,1 = 6 · 1, 5 = O, 25

Ç11 = - Jx,1 = - 61 ·1,5 = -0,25


A área do paralelogramo ABCD , mostrado na Fig. 12.14, pode set· cnlcu-
lada por

dS 1
--= - = 6 (1 2.101)
l::,.ÇD.17 .}
que deve ser conferida geometricamente na Fig. 12.14. As componentes do
tensor métrico gij valem

{Ju = '.ti + vl = 1 = 10
= :f'I2 + 1/~') = (} = 4, 5
.922 (12.102)
g12 = .921 = :rç:r:!'/ + 1JçY·r1 = i3 = 3

onde podemos observar que a componente g12 não é nu la pelo fato de o sistema
ser não-ortogonal. Observe na Eq. (12.102) que denominamos as componentes
248 C. R. Maliska

do tensor métrico por a , fJ e 1'· Tal nomenclatura é bastante usada na lit<'l'11tl11A


e também passará a ser empregada neste trabalho, no próximo capítulo. A
var~ável /, aqui, não pode ser confundida com o terceiro eixo do siste11111 eh
coordenadas generalizadas.
Os comprimentos AB e CB , como já vimos, são comprimentos ao i<>llKll
dos eixos 17 e Ç, respectivamente, e suas dimensões são dadas por

AB = dL.,1 = ./9226.·17 = j4,5


CB = dLE../9LJ.6.f, = J1õ
Os vetores de bé'lse cova.riantes e contra.variantes não variam espaciahue11t1•,
uma vez que escolhemos uma transformação linear entre (x, y) e {Ç, ry). 0 11
vetores de base covariantcs são

eç = 3í- J
(12.10 1)
e,1 = 1, 5f+ 1, 5.f
enquanto os da base contrava.riante são

ef· = O, 25f - O, 25j


,, 1_ -
e = 1+0,5.J
6
J\ Fig. 12.1 5 mostra a decomposição do vetor no sistema de coordenadrn~
cartesianas e generalizadas, evidencia ndo as componentes dos vetores de bé'l~t ·
covariantes e contravilriantes.
É recomendado ao leitor que calcule Lodos os módulos destes vetores tt
confira seus compriment.os no plm10 fís ico dados pela Fig. 12. 15. Para completai
o exercício, seja o vetor V dado por

v = 6f+ 3.f (12.lOG)


cujas componentes covariant,es e contravariantes queremo::> calcular. Utilizando
a Eq. (12.71), encontramos, para as componentes contravai"iantes,

V{ = o, 25 X 6 - O, 25 X 3 = O, 75
1 (12 .107)
V 71 = 6 X 6 + o, 5 X 3 = 2, 5

sendo o vetor V expresso em suas componentes contra.variantes por


V = O, 75ee + 2, 5e,1 (12.108)
Usando a Eq. (12.72), encontramos as componentes covariantes, dadas por

Ve = 3 x 6 - 1 x 3 = 15
(12. 109}
V,1 = 1, 5 X 6 + 1, 5 X 3 = 13, 5
Tmnsfonnaçào de CoonLenrulris 2'19

111j11 1•x1n·cssão do vetor \7, em suas componentes covariantes, é dada por

17 = 15eç + 13, 5e'


1 (12.110)

NC'ste exemplo, foi sugerido o uso de um papel milimet.rn.do para que todos
111 1·0111p1:imentos e os significados geométricos das métricas fossem interpreta-
dos Influenciados pelo uso do sistema de coordenadas cart esianas, somos tenta-
d11H a medir , no papel nülimet r;;1do, o tamanho das com ponentes contravariantes
rn\'ariant.es do vetor V. Lembre-se de que isto não é possível. Já. vimos q ue,
1J11rn. sist.emas coordenados generalizados, o valor numérico elas componentes
• llrnriantes e contrava riamcs só tem signifi<'ado de compriment.o quando m11l-
11p licado pelo respectivo vetor ck base, conforme pode ser visto 11a Fig. 12.15,
•llHIP cst.ão mostrados os comprimentos v,.,e'I, V{ ee . V''e,,. vee{· EstC's produ-
111... , sim, têm seus valores numéricos correspondente:; aos comprimentos lidos
1111 µ,ráfico.

3
vj

....,--.;..ui
6 X

F ig . 12.15 - D<:'composição de um velo r no l;istema não-ortogo nal.

Existem muitas 011tras relações envolvendo as componentes do tensor mé-


t.ri('() que podem ser mostradas para a transformação d este exercício . Esta
tarC'fa é deixada ao leitor.
250 C. R. Mnliska.

12.8 - C o nclusões
!\o presente capítulo, teve-se a preocupação de apresentar a transforn1a<;1111
de coordenada.<; de uma forma fácil de ser assimilada e, principalmente, vi1J<·11
lando-a com o seu uso em m étodos numéricos. Ênfase foi dada à interpretaçao
geométrica das relações da transformação, sempre procurando explicitar os po11
tos que, entendem os, causam maior dificuldade ao aprendizado. Foi enfatizadn,
sempre, a relação exist ente entre as componentes físicas e as componentes cov11
riantes e contravariantes, pois só assim é possível empregá- las nas metodologia!.
numéricas sem desconforto.
Recomendamos que, no contexto de métodos numéricos, todos os aspectoi-
da transformação de coordenadas, ao serem estuda dos, tenham sempre o e11fo
que aqui a.presenta.do. Kão cumpre o papel total saber provar todas as relaçfü•s
cio cálculo tensor ial sem :;e ter intimidade completa com o novo sistema coor
denado.

12.9 - E xercícios
12 .1 - Obtenha as expressões dadas pelas Eqs. (12.12) e (12.16).
12.2 - Para os seguintes sistemas de coordena.das curvilíneas or t;ogonais,
mostre as re lações cio Prob. 12.1.
l. Cilínd rico parabólico
2
X= 0, 5 (ç2 - 17 )

y = f.17 (12.111)

2. Cilíndrico elíptico

:r = a cosh Ç-cos ri
y = a senh Çscn t7 (12.112)
z =I'
3. Paraboloida.l

:X: = /;.'l ]COS Ó

y = f.IJ seu <P (12.113)


z = o.s (e - .,,2 )
4. Oblate esferoidal

::r= a cosh Ç cos 17 cos ó


y = a cosh Çcos 17 sen <P (12.114)
:: = CL scnh Çsen 17
Tmnsf ormaçiio de Cocmlenwfo8 2G l

12.3 - Obtenha a expressão do 0lemento ele volume 110 sist0ma coordenado


rnrvilínco oblato esferoidal. Dê a. expressão elo jacobiano para os sistemas
c·oordcnados parabólico e elíptico cio problema anterior.
12.4 - Most re que para os sistemas coordenados parabólico e elíptico as
<'om ponentes 9ii cio t ensor métrico, com i diferente de j, sã.o iguais a zero.
1 2 .5 - Obtenha em coordenadas curvilíneas generalizadas as expressões
pma 'V</>, 'V · f e \1 1 q).
1 2.6 - Mostre as relações dadas pelas Eqs. (12.57) a (12.61) e Eqs. {12.63)
I' (12 .G4) .
12.7 - Mostre a relação 0ntre V da Fig. 12.10 e ;~ componentes covarian-
1

1<'S cio vetor velocidade. Confirme, ent.ão, que não é possível calcular o fluxo <le
111assa através de um elemento de comprimento sobre uma linha coordenada,
l'lllprcgando apenas uma componente covariantc do vet.or velocidade.
12.8 - Dada a seguinte transformação não-ortogonal

Ç = 2,5:r - 5y
(12.11 5)
7J = 2x + 4y
obt.c11ha :

<1. a inversa da t ransformação ;


,b. 9 ij e .1/ i;
c. o jacobiano da t ransformação e da inversa;
d . os comprimentos sobre as linhas coordenadas;
e. a distância entre a origem do sistema e o ponto (O, 4; O, 2), utilizando
a exprC'ssão genérica;
f. os vetores de base covariantes e contravariantes;
g. o ângulo ent.rc as linhas Ç e 11 empregando as componentes, g;1 .

1 2.9 - Com o vetor \l = O, 2i+ O, 4f ~'o sist.eina coordenado dada., obtenhit

a . as componentes cartesiana:;, cont ravariantcs e covariant'cs de V;


b. a. expressão de V nas bases covari<1.ut.e e contravariante;
«. o valor ele V normal às linhas Ç e 11 em um pont.o (x, y) qualquer;
d . a rel ~1ção ent re as velocidHdes do item anterior e as componentes co-
variautes e contravnriantcs.

1 2.10 - :Multiplique a Eq . (12.92) por (- 1) e recalcu le todas as mét ricas,


nmforme o exercício na seção 12.7, e veja que o jacobiano e o valor de f3
resulU1.ram negativos. Qual é a explicação para isto? Desenhe este novo sistema
coorde11ado e compan' com aquele da seção 12.7.
1 2.11 - Para um sist.0ma coordenado bidimensional (t:,.11), obtenha <\
expressão da deriva.da normal ele <i> às linhas Ç e ·11.
,
CAPITULO TREZE
G e ração do Siste n1n
d e Coordenadas Curvilíneas

13.1 - Int rodução


No preseut.e trnbalho, estamos considerando a utilização de uma disrn·
tiza.ção est.ruturada, isto é, os volum0s elementares são formados por linhas (011
superfícies) coordenadas. É necessário, então, dependendo da geometria do
domínio de cálculo, gerar um sistema de coordenadas cmvilíneas que se adaplt•
a. est.a geometria.. A primeira questão que surge é quanto à nat ureza do sist011111
coordenado: ortogonal ou não-ortogonal. A grande vantagem cio sistema orlo
gona.1 é na aplicação das condições ele contorno que envolvem a derivada nonual
da função na fronteira. Neste caso, a derivada normal da função é rela.ciona,da
c;t apenas uma das coordenadas, simplificando consicleravelmeut.e o processo.
Além disso, os termos da equação diferencial que envolvem as componentes 9 ·iA·
do t.ensor métrico, com i diferente de k , anulam-se, resultando em uma equação
mais simples de ser discreti:t:ada e implementada computacionalmente.
As desvantagens do seu nso surgem, principalmente, pela. dificuldade dCI
geração do mesmo e pela generalidade que se perde do modelo numérico. Em S<'
tratando de malhas tridimensionais, é dificílimo obt.ê-las ortogonais. A questào
da generalidade deve ser enfatizada., pois o desenvolvimento de um código com-
putacional que só admite malhas ortogonais será extrema.mente limita.do no que
concerne ao uso de modernos geradores de malhas, que dão importância à pos-
sibilidade de concentrar malhas onde desejado. A concentraç.ão de malhas com
a restrição de manter a ortogonalidade entre as linhas coordenadas é uma tarefa
bastante difícil. Ma.lhas ada.pt.ativas, uma forte linha de trabalho atualmente,
também teriam o procedimento bem mais complexo se a ortogonalidade t.ivess<.'
que ser respeitada junto com a adaptação, que é geralmente comandada pelos
gradientes da funçào.
A exigência de ortogonalidade também elimina a possibilidade de um
ajuste manual da malhA. em um processo interativo entre o usuário e o aplicativo
gerador . Finalmente, os desenvolvimentos recentes mostram que o caminho na
busca da genera.lidade passa, inclusive, pelo uso ele malhas não-estruturadas,
onde não existe sentido falar em ort.ogona.lidade de linhas coordenadas, uma vez
que a cliscretização não segue um determinado sistema coordenado. Sistemas
<le coordenadas com ortogonalidade na. frouteira e sem restrições no interior
Gernção do Sistemn de Coordenadas Ouru'il{ncas 25:~

do domínio sã.o atraentes por permitir flexibilidade do algoritmo e, ao mesmo


t1•111po, facilitar a aplicação das condições de contorno.
Obter um sistema de coordena.das significa determinar as funções Ç =
~(.r,y,z), 17 = 17(x, ·y ,z) e 'Y = ;(x,y ,z) que satisfaçam todas as proprieda-
1ll's 111atemá.t.icas de uma transforma.ção de coordenadas. Por exemplo, duas
1111p<'1·fícies de Ç, 17 ou ; de valores diferentes não podem se cruzar, isto é, o
1111•s1110 ponto (x, y, z ) não pode dar origem a dois valores de Ç, 17 ou 'Y . A
11ht <'nção destas funções em forma fecha.da é impossível para geometrias quais-
IJ ll<'l'. Portanto, a determinação destas funções é feita, também, discretamente,
11 q11e significa determinar o conjunto de pontos (x, y , z) que são M interseções
das linhas coordenadas, como descrito no Cap. 11.

13.1.1 - Métodos de Geração d e Coordenadas

Conforme comentado anteriormente, o método mais simples (não o me-


nos trabalhoso) para gerar um sistema. de coordenadas éºfazê-lo manualmente.
13asta usar um papel milimetrado, desenhar a geometria que se deseja discre-
1izar e, manualmente, desenhar as linhas coordenadas. As interseções destas
linhas nos dão as coordenadas (x, y) desejadas.
Este procedimento "manual" pode ser , obviamente, exeéutado em uma. tela
de computador onde, depois de desenhada a malha, as interseções das linhas
são lidas automaticamente pelo computá.dor. Para.situações bidimensionais isto
é possível. Não é viável, entretanto, para malhas tridimensionais. Portanto,
mét,odos automáticos são necessários, nesse caso.
Existem muitos métodos automáticos para geração de malhas disponíveis
na literatura. F\mdamentalmen&e, eles podem ser classificados ern algébricos
e diferencia.is. Os algébricos empregam diferentes tipos de interpolaÇão e são
bastante versáteis e rápidos. Os diferenciais, assim chamados por emprega-
rem sistemas ele equações diferenciais, são mais gerais, mas, em contrapartida,
apresentam tempo ele computação sensivelmente maior e uma maior elaboração
matemática.
Nest;e capítulo, para. fins didáticos, serão mostrados um método que usa
equações diferenciais elípticas (142] e um método algébrico que emprega inter-
polações de Lagrange e Hermite (142]. O método que usa. equações diferenciais
elípt.icas será apresentado com um certo detaJ.hamento, uma vez que o mesmo
é largamente empregado para problemas bidimensionais.
O mét.oclo de interpolação de Lagrange é apresentado pelo fato de o mesmo
generalizar os diversos métodos de iut,erpolação. É importante frisar que a
geração de malhas (discretizaçno elo domínio), quan<lo para geometrias tridi-
mensionais, é uma etapa não trivial da metodologia numérica.
254 C. R. Mriliska

13 .2 - Motivação para Uso de Equações Elíptica:;


A motivação pa ra o uso de equações diferenciais elípt icas pa ra a gcrnc;no
de malhas reside no fato de estes sistem as a.presentai·em como soluções fun çõl'~
harmônicas q ue observam o princípio ele o máximo e o mínimo valor oc·orr1•
rem sobre as fro nteiras. Isto garante que o jacobia no da transformação 1w11
se anula no domínio, devido à presenç<1, de um máximo ou de um mínimo.
O princípio de máximo também gara nte a unicidade das funções Ç(x, y, : },
17(x, y, z) e /'(X , y, z), isto é, d uas superfícies coordenadas de mesmo va lor nunca
se interct•ptarão, o que é um requisito obrigatório qua ndo malhas estrut,uradnH
estão sendo usadas .

Isolado

(a) (b)

Fig . 13.1 - IsoLerru as obtidas pm·a o problem a d e condução.

Para o leitor acostumado a raciocinar fi sicamente, a motiva.ção par a o uso


dcst<'s sistemas pode ser encontra da lembrnndo-sc ele que t odos os problemas
de campo, como escoamento potencial, campos elétricos , condução de calor,
c•tc., são governados por equações diferenciais parciais elípt.icas e, portanto,
poss uem, como soluções, isossuperfíd es q ue podem ser empregadas como su-
perfícies coor<leua das.
Para explorar este ponto , consi<lere a Fig. 13. l, onde são a prcseutadas
as i:ootcrma:; para dois problem as ele conduçf10 de calor bidimensional, cujas
condições de contorno es tão mostradas nessa figura e as eq uações diferencia is
governantes são [.51]

(13.1)

(13.2)
Gern.çào do Si.si.ema de Coonlenadas Ctwuilínfü.~ 2!í!í

As duas. soluçõe:; podem ser superpostas para. obter-se a malha mostrada


na Fig. 13.2, que pode ser empregada para a solução numérica de qualquer
outro problema físico. É claro que, resolvendo as Eqs. (13.1) e {13.2), com as
condições de contorno dadas, a malha resultante da superposição das isotermas
será. ortogonal. Neste caso, é possível mostrar que as isotermas de um problema
são as linhas de fluxo de calor do outro e vice-versa.
r,

Fig. 13.2 - Siste ma. coordenado obtido com a. superposição das


i:sotermas.

Chamando, então, Ti de Ç e T2 de 17, o sistema gerador resultant.e é

{13.3)
{13.4)
As soluções das Eqs. {13.1) e {13.2) ou Eqs. {13.3) e {13.4) fornecem-nos a
malha, conforme mostrado na Fig. 13.2. Como já comentado, se as condições de
contorno usadas forem as most.ra.<las, o sist.erna coorden;;1do resultante será. orto-
gonal. Entretanto, as condiçÕ<'S de contorno ele deriva.ela. nula não são adotadas
por tornarem a solução do sistema de equações mais difícil e computacional-
mcnt.c mais lento. Adotam-se, então, condições de contorno de Dirichlet cm
todas as fronteiras, como a St' guir. Parn a variável[., tem-se

Ç = Ç1 = constante em f1
[. = f.N = const.antc em ra {13.5)
distribuição especificada em
distribuição especifica.da em
256 C. R. M aliska

e, para .,, , tem-se

1J = 1]1 = constante em r4
1] = ' 1M = COÚStante em f2
(13.Ci)
1J ~ distribuição especifica.da em
17 ~ distribuição especificada em

Com as ('OndiçõC's de contorno dadas pelas Eqs. (13.5) e (13.G), o sistema


coordenado resultante não será ortogonal. É fácil entender a razão, observando
r
a F ig. 13.3. Especificar um a <la.da clistrihuição de Ç, ou (T1) em 2 e r~ <~
equivalente a est abelecer o ponto de saída ele f4 e· o pout.o de clwgada 01n
r 2, ele uma determinada isotcrma. Claramente, esta coudição dr contorno
nfü) é equivalente fi. íl<' derivada nula em r 2 e r ,1, o que originaria Ltllla malha
ortogonal. Por outro lado, exen.: itando o bom senso na especificação dos pontos
onde f, enco11t.ra r 2 (' r 4 e ou de• .,, eucont.ra r l e r 3' é possível gerar sistemas
q11M;e-ortogonais.

Fig . 13.3 - Cond ições dr contorno para Ç e 11.

Par a. entender melhor as condições ele cont.orno para. Ç e 17, dadas pelas
Eqs. (13.5) e (13.6) , a Fig. 13.3 ainda é útil. Para a equação diferencia l de Ç,
tem-se, em r1. ç = J; cm [ 3, f, = 5; em r2, ç ig1.ial a 1, 2, 3, 4 e 5, cm pontos
escolhidos 110 contorno. Em r 4, novamente em ponws escolhidos do C'ont.orno,
temos Ç igual a 1, 2, 3, 4 e 5. Observe-se que, neste caso, as dist.ribuiçõcs
<l<' ç sobre as fronteiras r 2 e r'I foram discretas, mas, logicamente, poderão
ser funções C'm forma fecha.da., se a equação diferencial para Ç tiver solução
analít.ica..
Gemção do Sistww de Coordenada.~ Ou.rnilíwu18 25i

A solução da. equação diferencial para. Ç dar-nos-á a. sua distribuição.


Achando as isolinhas de valores Ç igual a 2. 3 e 4 (as linhas de Ç igual a 1 e 5
já são con hecidas), t<'remos as linhas coordenadas Ç det.crminadas. Adotando
<'Xl°\té1.rnente o mesmo procedimento para a equação diferencial de 7J, teremos as
linhas coordcuadas ·17 determinadas.

(a) X

(b) X

Fig. 13.4 - Co111portam<'nto da. equação de Laplace junto a s u-


perfícies convexas e côncavas.

Duas características elas Eqs. (13.3) e (13.4) são intcres:;ant.es e devem ser
ressaltadas [142). Além da.quelas já comentadas, a equação de Laplace dá ori-
gem a coordenadas que apresentam o maior grau possível de uuiformidadc da
malha. Longe das fronteiras, port.anto sem o efeito das condições de c:ontorno,
a lendência é a obt.enção de quadrilá.teros curvilíneos formados pelas linhas Ç
e ·17. E m superfícies convexas, a tendência é conc('ntrnr as linhas coordena-
das, ocorr0nclo o rontrário nas côncavas, conforme pode ser visto na Fig. 13.4.
Logo, se for n0cessária a concent.ração de linhas junto à parede, por exem plo,
na superfície côncava da Fig. 13.4, termos fontes devem ser introduzidos na
Eq. (13.4). O sistema. gerador, com a inclusão de termos fonte para. permitir a
concentração de linhas onde for requerido, tem a seguinte forma:
258 C. R. Ma.liska

\72Ç = p (Ç, 17) (13.i')


2
\7 77 = Q (Ç, 17) (13.H)

Existem diversas expressões que podem ser usadas para P e Q. Uma deln:. ,
proposta em [139], tem a seguinte forma

N
P(Ç,17) =- L: a;s-ign(Ç-Çj)<'xp-c3 jÇ- Ç3j
j=l
(13.9)
- L b;sign (Ç - Ç;) exp - di {(Ç - Çi)
M 2
+ (17 -
2 !
·17;) }.2
i= I

onde ç3 sã.o as linhas para <IS quais todas as outras linhas Ç serão a.t.rafclas !'
(Çi , '1'/i) são os pontos para os quais as linha.., Ç serào atraídas. O primeiro t.ermo
elas equa.ções de P e Q é, portanto, respousável pela atração entre linhas c·o-
ordena.clas e o segundo termo pela atração cll\s linhas aos pontos escolhidos.
Ohserve' que o primeiro termo possui 11111 exponencial cujo expoente (uegativo)
é a diferença entre o valor ela. linha coordenada a ser a traída e da linha coor-
denada que atrai. Este número cresce à medida que aumenta a. distância entre
estas linhas, o que significa que o termo decresce com o aumento da. distância.
Portanto, as linhas próxilnas daquela. que atrai experimentam mais atração que
as dis tantes . O coeficiente c3 pode ser <.\justa.do para aumentar ou diminuir <'\,
at.ração.
Para o segundo termo temos um comportamento semelhante. Nest.e caso,
o parâmetro que dá a força de atração é a distância entre os pontos que estão
na linha a. ser atraída e os pontos que atraem.
Um exemplo ajuda. ba.sta.nte a entender o cornportamento dos termos P e
Q. Imagine que estamos interessados em atrair todas as linhas Ç para a. linha
Ç = 5 e para o ponto (5, 4), conforme mostra a F ig. 13.5. O termo P da equação
diferencial eleve ser calculado para todos os pontos discretos (Ç, 17) do domínio.
Vamos exemplificaJ:, calcula.ndo o valor de P para os pontos (1, 6) e (3, 5). É
claro que a atração que o ponto (3, 5) sofr<' deve ser maior <lo que a atração
sofrida pelo ponto (1, 6). L<'mhre que estes dois pontos estão sendo atrní<los
parn a linha Ç = 5 e para o ponto (5, 4) .
Calculando P(l, 6) e P (3, 5), encontra.mos

P(l 6) ai + ~
= e4c; (13 .10)
' e fforl ;

p (3 , 5) = e'lr;
<1.i + __!!i_
e./3rl.,
(13.11)
Geração do Sistema de CoordenMl<is Ctw11ilínca.~ 209

1;=1 1;=3 1;= 4 1; =5

Fig. 1 3.5 - ComportarnC'nto dos termos P e Q de atração de


coordenadas.

(a) (b)

Fig. 13.6 - Malh<t sern (a) e com (b} atraçfi.o de coordenacla.:s.

de onde podemos verificar que, realmente, P(3, 5) é maior cio que P(l , 6). Uma
expressão semelha nte é usada pa ra. Q( Ç. ·11), sc11clo, entã.o, este termo o res-
pon:x\vel pda atração das linhas 17 a outras linhas 17 e a pontos definidos.
As Pigs. 13.G(a.) e (b) rnostnun, res pectivamente, uma malha onde P e
Q são igu;üs a zero e onde existe atração para a linh;:i, 11, que coincide com a
fronteira externa., e para os quatro pontos dos cantos. É clara a diferença. entre
a:> malhas , principalment.n na regiã.o onde se processou a atração. As m alhas
mostra.das não foram obt.idas exat.arnente C'Om as Eqs. (13.7) e (13.8), mas sim
260 C. R. Maliska

com as suas correspondentes t ransforma.das para. o pla.no(Ç- 17). Este assunto r,


agora, discutido.

13.3 - Transformação das Equações de Geração


As Eqs. (13.7) e (13.8) pos1:1uem como variáveis dependentes Ç e 17 <', logi-
camente, x e y como independentes. A obtenção do sistema coordenado requ<'r
a solução destas equações e o sistema coordenado, no qual estas equações di-
ferenciais devem ser resolvidas, é fornecido pelas variáveis independentes . As
Eqs. (13.7) e (13.8) devem ser resolvidas no sistema {x, y). Como são equações
diferenciais parciais e o domínio de solução é arbitrário, a solução analítica das
mesmas nem sempre é possível. Por out ro lado, a solução numérica recai no
problema que estamos querendo evitar, isto é, resolver equa.ções d~fcrenciais cm
domínios arbitrários. Alguns autores resolvem as Eqs. (13.7) e (13 .8) através do
método dos elementos finitos, usando malhas triangulares e, após determinar a
malha , usam a mesma para resolver, via volumes finitos, as equações diferen-
ciais do problema físico. Outras alternativas existem (158], ainda resolvendo
as equações no domínio físico, mas, na opinião deste autor, nc\o é o caminho
adequado trabalhar neste domínio.
A maneira largamente difundida [139] é resolver t ambém as equações gera-
doras do sistei11a coorclC'nado, Eqs. (13.7) e (13.8), no sistema de coordenadas
curvilíneas. Desta forma , tanto estas equações, quanto aquelas cio problema
físico, são resolvidas no plano t ransformado. Necessitamos, então, transformar
as equações gera.doras para o sistema (Ç, 17, 1'), no caso 30 ou (Ç, 17), no caso
20.
A seguir, a transformação das eqm1.ções geradoras cio plano físico para o
transformado é realizada. Para most.rar o caso geral, as equações tridimensio-
nais serão transformadas. As equações de geração, equivalentes às Eqs. (13.7)
e (13.8), para o caso 30, são

\7 2 Ç = P(Ç,rJ,'Y) (13.12)
2
\7 = Q (Ç, 17 , 7)
17 {13.13)
\7 ~l = R {Ç, 17, 1')
2
{13.14)
Dada a tr<1.nsformação,

Ç=Ç(x,11. z) (13. 15)


17 = 11(x,y,z) (13.16)
'Y = 7(x,y,.:) (13.17)
é pos!:>ível obter as expressões para as derivadas de primeira e segunda. ordem
de uma função f at,ravés da regra da cadeia. Estas expre!:>sões são
Geração do Sistema de Coordenadas Ottrvilíncas 2Gl

J,. = + J,,17., + f ,~lx


ÍE.f.r (13.18)
(13.19)
f 11 = hf.11 + J,,17y + f ...,/y
(13.20)
Í z = fE,f. z + Í1111z + f ...,lz

f .,,, = /E,f.o:x + J,,17:r;.r + Í"llo:x + f.;,ÍF.E. + 11;,f,,., + 'Y;fn+


2f,.,1/xÍ(.11 + 2f.xlx Íf."I + 2rtxlxÍ11-r (13.21)

Íuu = f~f,yy + J.,,·17yy + Í"l1YY + f,.~Íf.E. + 'IJ~f,,., + "(.~J...,"I+


(13.22)
2f,y1JvÍE..•i + 2f,y/·yf~.,, + 2'TJ1/Y·yf1n

Í zz = f t.f.zz + f,,l] zz + f ry"lzz + f.; ÍtJ. + IJ;J.,., + ~1;J,. +


(13.23)
2f.z'IJz ÍE.•1 + 2f.z-Yzf(,,y + 2'11z/'zÍirr

Fazendo f = x, y e z , na Eq. (13.21), encontramos


(13.24)

(13.25)

o = Zf,f.xx + z.,,1Jo:x + Z7/xx + G1 (13.26)

onde Ei, F1 e G1 são dados por

O sistema dado pelas Eqs. (13.24) a (13.26) pode ser escrito na forma.
matricial como

(13.30)
262 G. R. Máliska

De forma semelhante, fazendo f = x, y e z na Eq. (13.22) , cnc0Htrn1110~

o= xe f,yy + x,1rJyy + x-/'/yy + E2 (1:3.:l 1)

O = Yef.yu + Y11tluy + Y·/'fuu + F1 (13.:l:.>)

o= zeçuu + z 111Juu + z 7 7yy + G2 {13.:1:1)


onde Ez, F2 e G2 são dados por

(13.3'1)

(13.35)

(13.36)
ou, na forma matricial,

[~; ~:: ~~ l [~:: l


Zt; z,, --y Yyy
= - [ ;;
G2
l (13.37)

De forma análoga, fazendo f = x, y e z na Eq. (13.23), encontramos

(13.38)

(13.39)

o= Z( l;.zz + Z ,11/zz + z.,')':;,, + G3 (13.40)


onde E3, Fa <~ G:i são dados por

{13.41)

( l3.42)
Gemçiío do Sistema de Coordenadas C1irvilínc1t.~ 2G3

(13.43)

ou , na forma. matricial,

[
X{
Y{
Z~
x,1 x1'
Y11 Y1
z,, Z7
l[ l [ l
Çzz
11zz
"f=z
=- E3
F3
93
(13.44)

A solução dos sistemas dados pelas Eqs. (13.30), (13.37) e (13.44), nos dá

ç,t:c = - (E,ç,. + F1Çy + G1Çz) ( 13.45)


'l h x = - (EJ'IJ,: + F11Jy + G11Jz ) (13.46)
~(xx =- (Ei~fx + F1~(y + Gnz) (13.47)

f,,yy = - (E2(1; + F2Çy + G2Çz) (13.48)


1/yv =- + F21Jy + G211z )
(E2 ·1Jx (13.49)
"/yy = - (Enx + F2~fy + Gnz) (13.50)

f.zz = - (E3f.x + FsÇy + G3f.z) (13.51)


1]; z = - (E31Jx + F31Jy + G 31Jz) {13.52)
/:z = - ( E37., + Fn 11 + G 31'z) {13.53)

Introcluziudo essas equações nas Eqs. {13.12) a {13.14), temos

- {E1 + E2 + E3 ) Çx - (F1 + F2 + F3) Çy


{13.54)
-(G1+G2+G3)f.z =P(Ç,1J,~t)

- (E1 + E2 + E3) l'/x - (F1 + F2+F3)1Jv


(13.55)
- (Gt + G2 + G3)'1Jz = Q (ê. 71J , ~1)
- (E1 + E2 + Ea) 'Y:c - (F1 + F2 + F:1) f.v
{13.56)
- (G, +G2 + G3hz =R (ê,,'IJ,~!)
Fa:Gcndo E 1 +E1 +E3 = E, Fi + F2 + F.1 = F e G1 +G2 +G3 = G, temos,
na forma matriciR.l,

(13.57)
264 C. R. M aliska

Resolvendo esse sistema, encontramos

E= _ [P (7/y'Y= - 17z"fy) + Q (Ç:;-yy - E,y"/J + R ((,y17:: - (,:;17y)]


(13.58)
J

F = _ [P (17z'Y.i: - l)x'Y:: ) + Q ((,x"f:: - E,z!'x ) + R ((,z'/):r: - (,x1h) ]


(13.59)
J

G = _ [P (11x"ty - 1]y~{x) + Q ((,y'Yx - (t·l'y) + R (f.~1) 11 - f,1117,,)]


(13.60)
J
Substituindo nas equações acima as expressões parn E, F'e G, obtidas das
expressões para E1, F1, G 1 , E2, F2, etc., encontramos as equações transforma-
das, dadas por

(1 3.61)

''Yt.f. + IYyq,1 + CYn + 2dy~,1 + 2ey'Yf. + 2/y71'Y = F (13.62)

(13.63)
onde

a -- 2
E,~,+ f.112 + (,2 (13.64)
b = n·1.c2 + ·17y2 + ·11:.. (13.65)
e = "!~ + 1'~ + "!; (13.66)
d= f.x1Jx + f,y1]y + E,:;1]:; (13.67)
e = f.:r'Yx + f,y"'ty + (,:;"(:; (13.68)
J = 1/x'Yx + 1ly"/y + 1J="'fz (13.69)

Usando as relações da transformação inversa dadas pela Eq. 02.12), para


substituir as métricas dos termos E , F e G, encontramos
Geração do Sistema de Coordenacfos Cm'Vil!neas 265

azçç + bz.,1.,1 + CZn + 2dzç.., + 2ezç-r + 2/ z,n + (Pzç + Qz.,1 + Rz-y) = O (13.72)

Observe que os coeficientes a, b, e, d, e e f , cujas expressões já foram


escritas anteriormente, podem, também, ser escritos em função das derivadas
de x, y e z em relação a. Ç, 17 e -y, usando a. Eq. (12.12).
As Eqs. (13.61) a (13.63) possuem como variáveis dependentes as coorde-
nadas (x, y, z) e independentes (Ç, 77, -y). Portanto, a solução das mesmas nos
fornecerá os pontos (x,y,z) cio novo sistema de coordenadas. O conveniente,
agora, é que as variáveis independentes pertencem a um plano computacional
fixo e regular, um paralelepípedo no caso 3D. Logo, com a transformação das
equações de geração do plano físico para o transformado, desaparece o pro-
blema de resolver as Eqs. (13 .12) a (13.14) em um domínio irregular. Mas,
naturalmente, as equações transformadas são mais complexas e, também, aco-
pladas entre si através dos coeficientes, pois, como de praxe, nada vem sem
custos em procedimentos físicos e matemáticos.
Como as equações de geração tran sforma.das, da.das pelas Eqs. (13.70) a.
(13.72), não possuem solução analítica fácil, as mesmas são resolvidas numeri-
camente, através de um processo simples cm diferenças finitas. As condições de
contorno necessárias e o procedimento numérico serão apresentados na próxima
seção, considerando-se as equações bidimensionais por simplicidade.
As equações de geração tridimensionais, quando simplificadas para duas
dimensões, têm a forma

axçç + 1·x 11,1 - 2/Jxç,1 + (Jl·1) (Px~ + Qx,1) ..


= O (13. 73)

(13.74)

onde

a= 922 = x; + Y~
~1 = 911 = + xt vi (13.75)
/3 = 912 = 921 = x~x,1 + y~y,1

são as componentes do tensor métrico 9ii associado à transformação.


W6 C. R . M rilisk<i

13.4 - Condições de Contorno para as


Equações Transformadas
Como x e 1J são as variáveis dependentes nas equações transformadas, san
para elas que deverão ser especificadas as condições de contorno que ap;tn•
cem naturalmente da definição da geomet ria do problema. Reportanclo-s< 11 1

Fig. 13.7, por exemplo, sabemos que os pontos que dcfiuern a geometria pos
suem coordenadas x e y conhecidas . No plano transformado da Fig. 13.8, esl<'i'
pontos apar<'cem em círculos abertos sobre os segmentos AB, B C , C D e DA .
No plano transformado, portanto, t.odos os valores de x e y são conheciclol'I
sobre a fronteira e serão usados como condições de contorno para as equaçõc 1"1 1

de geração.

F ig. 13.7 - Condições de contorno para x e y.

Como Ç e .,, são as variáveis independentes nest e procedimento, podemos


arbitrar a elas qua isquer valores. Por exemplo, na F ig. 13.8 podemos a tribuir a
Ç valores de 1 a N , sendo N o nümero de linhas Ç do domínio. Desta forma , l:lÇ
será igual a 1, o que é conveniente na implementação do código computacional,
conforme já cfü;cutido. De maneira semelhante, l:l17 poderá ser feito também
igual à unida.de.
Na solução elas Eqs. (13.73) e {13.74), cm muitas sit uações, mesmo usando
os fatores P e Q para. at.rair as lü1has coordenadas, não é possível dar a dis-
tribuição desej ada às mesmas no int.erior <lo domínio. Neste caso, a técnica
que pode ser usada <~ especificar também os vi\lores de :i: e y para alguns pon-
tos internos, forçando as linhas coordenadas a pa.ssar por aqueles pontos. É
um procedimento que funciona bem, pois Hlguns pontos internos bern es<"olhi-
<los podem dar a. característica. desejada à malha.. Desta forma, ao resolver-se
a.e; equações de g<'ra.ção , eleve-se kvar ew ('011ta que já existem pontos inter-
nos conhecidos e que os mesmo:; não necessitam ser caJculados. O processo é
Gemçao elo Sistr11w de Coordena<fos Cm'Viline<L.~ 267

1•q11ivn.lcutc à especificação das condições de contorno. A Fig. 13.9 mostra a si-


l 1111<;11.0 onde seria difícil atrair as linhas coordenadas para o canto e as mesmas
Ili> , c•ntão, forçadas a passar pelos pontos .4, B e e. Isto poderá ser feito em
q11nlquer região do domínio.

T]
o Valores de x e y conhecidos

TJ= M .......A B

- NW N NE ,

-
~w

~SW s
p E

SE

TJ = t ....... !n
l; =l

Fig . 13.8 - Condições de cont.orno paJ·a. ::i: e y no plano transfor-


mado.

y
• Pontos de fronteira

• Pontos internos
especificados

Fig. 13.9 - Especificação de pontos internos.


268 C. R. M aliska.

13.5 - Solução Numé rica das Equações d e


G eração Transformadas

O próximo passo é resolver as Eqs. (13.73) e (13.74), para determinar .r t•


y para os pontos internos simbolizados pelo ponto P na Fig. 13.8. Escrevendo
as equações para uma variável genérica</>, onde</> representa x e y, temos

(13.76)

É conveniente resolver esta equação também numericamente. Assim, de-


vemos aproximar numericamente os termos da Eq. (13.76) ; o que é feito em-
pregando-se diferenças finitas, de acordo com a Fig. 13.8,

"' _ </>e+ <Pw - 2</Jp (13.77)


'!'~~ - 6 f,2

A. _ </>N + <i>s - 2</>p


(13.78)
'1'•111 - 6172

"' _ </>.ve + <Psw - <l>sE - </>N w (13.79)


'l'~T/ - 46(617

</JJ:)-<,Í>W
</>~ = 26( (13.80)

(/) . - "' •• - <f>s


'f',v . .
(13.81)
'r/ - 2677

SubstiLuindo as equações imcdiatam0nte anteriores, na Eq . (13.76), encon-


tramos a equação aproximada para ó, dada por

A pef>p = AF,</>E + Aw</>w + AN</>N + As</>s+


(13.82)
+ Ase<l>se + AN w<PNw + Asw<i>sw
ANE</>N 1:,·

onde
Gemçao do Sistemfl. de Coonlen(td(I.~ Cm1Jilínl'll,s 2G!J

Ap=2(a+1)
p
AE = a+ 212
p
Aw =a - J2
2
Q
AN = -y+ 2J2
Q
As= 'Y - 212 (13.83)
ÂNE = _!!_
2
Ase= f!...
2
/3
ÂNW =2
Asw = _!!_
2

A forma tridimensional das equações de geração é, também, facilmente


colocada na forma da Eq. (13.82). O sistema linear [A][</>] = [B] pode ser
resolvido empregando-se qualquer método de solução de sistemas lineares. Em
geral, empregam-se os métodos iterativos ponto por ponto, como o S.O.R.
(Siiccessive Over-Rel(IX(lt'ion) , ou linha por linha, como o TDMA (Tri-Diagonal
Mat1"ix Algorithm). -
O seguinte algoritmo de solução pode ser empregado:

1. Estimar um campo x e y para todos os pontos internos. Isto poderá


ser feito simplesmente tomando-se os pontos de front~ii;a, unindo-os
por retas e subdividindo este segmento em um número de segmen-
to:; igual ao número ele elementos especificados para aquela direção.
Cuidados clev<>.m ser tomados para não gerar um campo inicial exage-
radamente irr<'al, pois a solução poderá consumir um 'maior tempo
de computação, ou mesmo divergir. Em fronteiras côncavas, isto
pode ocorrer, pois, unindo pontos por retas, podemos criar uma li-
nha coordenada inicial completamente fora elo domínio, conforme a
Fig. 13.lO(a), onde a malha iuici;ü foi obtida crim1do-sc as linhas
1} e subdividindo-as para obter as linhas ~· Desta forma, fica mais
difícil para, ao longo do processo iterativo de solução, "trazer" ors
pontos para dentro do clomíuio. No caso da Fig. 13.lü(a), poder-se-ia
ter evitado esta distribuição inicil11 se tivéssemos criado as linhas Ç
(união por ret.as) e subdividindo-as para criar as linhas ·11, como na
Fig. 13.lO(b), onde vemos que a malha inicial já é bastante adequada,
para este caso simples, logicamente.
270 C. R. Maliska

2. Calcular as componente.s do tensor métrico, a, /3 e 1'· No caso t.ridl


mensional, as outras componentes também elevem ser calculadas.
3. Resolver as Eqs. (13.73) e (13.74) e obter um novo campo de x <' 11·
4. Voltar ao item 2 e iterar até que uma distribuição de x e y adt'
quada seja encontrada. Neste ponto, é muito importante sali0Ht111
que as duas equações geradoras não necessitam ser resolvidas rn111
precisão rigorosa. A precisão de soluções destas equações não tem in
fluência sobre a exatidão da solução do problema físico. Esta última,
sim, é dependente do número de ma.lhas empregadas e não de pcqtH'
nas alterações que ocorreriam cm x e y, se a precisão de solução da...
equações geradoras fosse aumentada. Exist,em casos, entretanto, oud1•
a natureza da malha tem influência importantíssima sobre a solução
do problema. É o caso de problemas com frontei ras de simetria. Nes-
tas fro nteiras a malha deve ser gerada de tal forma a apresentar 911
(no caso bidimensional) igual a ~ero, para. permitir que a. derivada qu<•
impõe a condição de simetria seja hem aplicada. P01tanto, para não
se ter surpresas, é recomendável que, em uma fronteira de simetria, a.
malha também seja simétrica [50].

(a) X (b) X

Fig. 13.10 - Malha inicial. S ubdivisão das linhas ·17 {a) e subdi-
vi:;i.io das linh as~ (b).

Estando computados os valores de x e y para. todas as interseções das li-


nha::; Ç e ·ry, a malha estará determinada. As informações desta malha, como
componentes do tensor métrico, métricas de transformação, jacobia.no da trans-
formação, etc., podem agora ser calculadas e transferidas ao programa que
resolve as equações físicas. A obtençáo numérica destes parâmetros será apre-
sentada. em uma próxima seção.
Geraçiio rlo Sistema de Coorcfonarlas Ctwlfilínea8 27 1

13.6 - Outros Sis t e mas Elípticos de


Geração de Coordenadas
Certamente, não é obrigatório que as equações geradoras dos sistemas
dP coordenadas curvilíneas no plano computacional sejam obtidas da trans-
formação do sistema elíptico dado pelas Eqs. (13.73) e (13.74). É possível
criar-se equações, j á para o pia.no transformado, que respeitem determinados
1 r itérios desejados. Se existir interesse, é possível determinar, depois, quais são

11H equações correspondentes no plano físico. Por exemplo, o seguinte sistema


!\<'rador

v2~ = 922 P (13.84)


g
nVº/]
2 = -Q
.911 . (13.85)
g
possui as seguintes equações transformadas

922 (:ttt+ Pxç) + .911 (:e,,,,+ Qx,,) - 2912xç.,1 = O (13.86)


922 (yçç + Pyç) + .911 (Y·rm + Qy.,,) - 2g12Yç11 = O (13 .87}

l<•mbra nclo que 9i:i são as componentes do tensor métrico. As Eqs. (13.86) e
(13.87) podem ser aproximadas por diferenças finitas e resolvidas da mesma
forma daquela aplicada à Eq. (13.76). Observa-se que os te1:mos 9 2 2(9 e g11 /g
nada mais são do que o quadrado das relações entre comprimento sobre as
linhas coordenadas, respect ivamente, e o jacobiauo da tran:;formação. Em uma
sit.uação unidimensional , a função P de atração é da<la por

p - - X{{
. (13.88)
-
.X:!{
enquanto, na mesma. situação, para. as Eqs. (13.1) e (13.2) , .P 6 dado j)Or

(13.89)

Interpretando a.-; últimas <luas equações, vemos que P nos dá. informação a.
r<•speito da. não-uniformiJa.de da malha. As distintas equações t ransformadas
ponderam diferentemente a não-uniformidade. Outras equações podem ser
empr<'gadas [10.19,39]. É pn'ciso toma r cu idado, entretanto, para não criar
eq ua.ções tra nsformadas que originem, uo piano físico, equações desprovidas
das características matemáticas desejáveis para um sistema coordenado, como,
por exemplo, permitindo que linhas coordenadas se cruzem.
Quando se empregam sistemas elípticos de segunda ordem, conforme os até
agora apresentados, é pos:;ível prescrever apenas um tipo ele condição de cou-
torno om cada fronteira. Por exemplo, em um determina.do ponto da fronteira.
272 C. R. Maliska

não é possível especificar as coordenadas do po11to e também a sua derivadn


normal. Para. isto, é preciso empregar sistemas elípticos de mais alta ordem quP
permitem ampliar as condições de contorno. Exemplificando, o sistema [142J

(13.90)

onde, parai = 1 e 2, temos

xçç + x,,,, = p (13.91)


Yçç + y,,'1 = Q (13.92)

com

Pf.ç + P,1,1 = O (13.93)


Qa. + QIJ'I =0 (13.94)

requer condições de contorno para x, y, P e Q. A especificação das condições


de contorno para P e Q permite prescrever condições adicionais para x e y,
que poderão ser, inclusive, uma condição de ortogonalidade na fronteira.. Ma,is
uma vez, a solução deste tipo de equação se faz por diferenças finitas.

13. 7 - Sistem as Parabólic os e Hiperbólicos de


Geração de Coorde nadas
Os sistemas elípticos possuem uma forte motivação matemática e física
para serem usados como geradores de coordenadas. Os parabólicos e hiperbó-
licos também podem ser empregados em muitas situações com vantagens. O
parabólico, por exemplo, é particularmente atrativo, quando a física do pro-
blema a ser resolvido permite, também, um modelo paJ·abólico, pois não é
necessário armazena.r em computador toda a malha, mas sim apenas os pla-
nos (ou linhas) de cálculo. A Fig. 13.11 mostra uma região onde um modelo
parabólico é aplicado parn. gerar a malha. As condições de contorno são:
• As fronteiras r 1e r2são linhas de ri constante e, portanto, de valores de
ri conhecidos. Ao longo de r1 e f 2, devemos especifical· os pontos de onde
queremos que saiam e cheguem as linhas ç.
• Na fronteira r 3 , o valor da linha Ç sobre ela é conhecido (condição inicial
do problema parabólico). Deve-se especificar a distribuição de linhas 17
desejada.
• Em r 4 , não temos condições a prescrever, uma característica da equação
parabólica.
Gemçáo do Sistem,(I, rLe Coordenrtdris Ou.rviHncn..s 2i3

O C<Üculo de .r e y nos pontos internos dá-se por um processo ele marcha


<'m Ç. resolvendo-se as seguint<•R equações transformadas, por exemplo,

0-Xf. - 2íJX<,·1i + ')':l; 11 ry =Ü (13.95)


OY{. - 2(3yf.'IJ + 'YY ..,,1 = 0 (13.96)

onde observamos que as equações são parabólicas em Ç e elípticaH em ·17.


Sistemas hiperbólicos também podem ser empregados e, nestes casos, a
derivada segunda em relação a T/ também desaparece. 'Um dos métodos [141]
de uso de sistemas hiperbólicos para gerar coordenadas ortogonais emprega as
s<·guintes equações

912=o (13.97)
J9 = V (Ç, TJ) (13.98)

onde V(Ç, 17) é a especificaç.ão da distribuição do volume, ou seja, é o inverso


do jacobiano associad o a cada ponto.

Fig . I S. 11 - Geração parabólica de coordenadas.

A solução deste sistema de equações pode apresentar problemas de con-


vergência, dependendo do tipo de aproximação feita para as derivadas. Fazendo
uma analogia com sistemas físicos, é fácil entender este fato, lembrando que
<'q11açõcs hiperbólicas, por exemplo, em mecânica dos fluidos, são equações que
271 O. R. Mrdiska

não poss uem termos clifusivos, qne são co11hecidos por estabilizar a solu<;nn
A falt.a destes t.ermos com derivada segunda nas equações exige a introcl11<;1111
do.s mesmos, artificialmente, ele waneira semelhante ao que se faz na sol11<;1111
de probkmas d e escoamentos supersônicos, que também são governados prn
equações hiperbólicas.

13.8 - M ét o dos Alg ébricos de G eração de


C o ordenadas
Métodos algébricos de geração de coordena das são bastante poderosos <'
largamente cmprcgado.s, apn'sent.a nclo, como graudes vantagens, a simplicidadt•
e o reduzidíssimo tempo de <"omput.ação n&cssário. São muitas as gC'omel.rias
quC' per!llitem a utilizaçR.o d est.es mét odos e o usuá rio de mét.odo:> computado
na is deve procurar , sempre que possível, fazer uso .desta versátil ferramell l11.
E m corpos d e revolução, por exemplo, sempre é possível obLC'r uma ma lha bidi
mensional e rotacioná-la em torno <lo e ixo pan1 estabe lecer uma <liscrctizaçao
triclimen~ ional. A malha mostrada na Fig. 11.26 é obtida desta forma, rota.cio
nan do a malha da. Fig. 11.27, obtida. ta.m bérn algebricamente, com intcrpolaçõN1
de primeira ordem. A malha da Fig. 11.21 está reproduzida, com o processo
algébrico emprega.do, 11a Fig. 13.12.

P'

Linhas i;

Linhas 'l)

p B
D A

Fig . 1 3.12 - Malha. b idimensiona.! o bt ida. alg<·bri c<1.1uentc.

Ao longo de AB, são esp0cifica.clos os pontos ele onde pa.rLirAo as lin has
~, pontos estes que também definem a. geometria do corpo, no caso a parte
Ú<'1'<LÇ<IO do Si.~ l cm<i de Coo1"lnuulas Curnilfom.s 2i:i

11 011l nl <IP um foguete similar ao fogu ete brasileiro VLS. Nos seg111<'Hto:; BC e
1rJ (• es1;ip11la da, tambólll, rnna cliscrct,ização ele pont.os a rbit.rária C[ll<' perm ite
1•011c·cntrnr liulias coordenadas perto da.s paredes. O s0g111ento DC poderá ser
11111a hipfrhole cuja distribuição de pontos também é indexada 110 programa
,. podcr<i ser a ltera.da . A int.erpolação, neste caso, é unidimensional e linear,
onde os pontos P e P' são interpolados de acordo com a d istribuição previst.a
para o segmento BC . É cla.ro que cada linha PP' poderá ter a Sllé\ própria
1listri buição, o que sig nifica. praticamente indexa r a. ma lha comp le t1:1.. Neste
niso, a e ntrnda de dados se t.orna mais volumosa.
No C'a.so específico da malha da F ig. 13.12, a. interpolação unidimensional
l'oi empregada ao longo das linhas coordenadas Ç, que permitem este procedi-
111ent.o. As linhas TJ são obtidas unindo-se os pontos interpolados entre P e P'.
J\ int.crpolação linear ao lo ngo de 17 não é possível, pois uma linha ligando A e
13 criaria uma m alha com pontos fora do domínio de cálculo. Iulerpola.çõcs de
mais alta ordem podem ser empregadas, quando a geometria requerer.
Como os procedimentos a.lgébricos são bastante poderosos e versáteis, a
seguir é apresentada a forma gera l da interpolação de Lagrange [142), q ue
permite que interpolações ele qualquer ordem possam ser reafo~ada.s cm uma
estrutura de fácil implem<'nta.ção computacional.

13.8.1 - Inte rpolaçã o d e Lagrange e Hermite

SQja. t = x í + y.f o vetor posição ele um ponto genérico. Sejam 1'i e 1'2
dois pontos pertencentes a uma. mes111a linha Ç, conforme a. F ig. 13.13, onde
I é o número de lin has coordenadas que interceptam est a lin ha Ç. Est amos
interessados em determinar as coordenad~ destas interseções, pois elas serão
pontos da malha . O po linômio de interpolação genérico é dado por

(13.99)

onde r (Ç) sN·ão os vetores posições dos pontos interpola dos, r-;., os pontos for-
necidos po r onde passar<). o polinômio e N a sua ordem . É clarn que se apenas
r'i e ·1S forem usa(\os, só é possível passar uma ret a unindo 1'i e 1'2 . As seguintes
propriedades podem ser demonstra.das para a função </>. São elas

' (ç"")
<Pn J = órnn (13.100)

tal que

r
- (Çm) = LN .
<l>n
(
Iç.,,. ) r,.- = L
N -
Om n'I'.,. = 'l'm- (13.101)
n = .I n= l

com <Pn definida por


276 C. R. Maliska

N
<t>,. ( ~) = II ç - çk (k f; n) (13. 10:!)
1 k= l ç.,. - çk

Seja N = 2, por exemplo. Construindo-se as if>~, temos


E,
. = 1 - -1
<b1
(13.10:\)
, Ç- E.r Ç
<!>2 = - - - =-
. {2 - Çi 1
O polinômio de interpolação é, portanto,

(13.1011 )

A vantagem de expressar o polinômio nesta forma ó o fato d e o mes1110


es tar normalizado em rela ção à. variável Ç. Ou ::>eja, para. obter os valores d1 ·
x e y ao longo d a reta qu<'J une Ç1 e Çz , basta su bstituir Ç pelos seus valon•i;
inteiros de 1 a 1 - 1.

Fig. 13.13 - Jnterpolação unidimensional de Lagrange, N = 2.


Para interpolações ao lo ngo ele superfícies convexas ou cô ncavas, não é sufi-
d ente o uso de polinômios de ordem 2. Dependendo da curvatura d a geomet ria
e da qualicl<1.de com a qual se pretende representá-la, polinôm ios d e ma is al ta
ordem são requer idos.
P a ra N = 3 temos a sit uação mos tra.d a. na F ig. 13.14, oud e o va lor de Ç
=
intermediário é escolhido entre Ç O e Ç = !. P ar a o ponto físico escolhido por
onde passará. o polinômio, pode-se optaJ' por qualq uer va lor ele Ç.
Geraçiio· rlo Sistema de Coordenadas Cnrvilíneas 277

Fazendo-se 6 = ~ , por exemplo, estaremos colocando metade das malhas


1'111.r<' 1=j e 1'2. Para 6 = f, por exemplo, teremos, entre os pontos 1=j e 1'2, ~do
111'uncro de linhas coordenadas e de fi a ·1=j, o restante. Dependendo, portanto,
da posição escolhida para 1'2 e cio valor escolhido para 6, poderemos fazer
1·011ce11tração de malhas. Para N = 3 as funções </> têm as seguintes expressões

(13.105)

</)3
(ç -
= -2Ç1 -I-~ )
Nc•ste caso, o polinômio <lc interpolação é dado por

r-(e)
., = ( 72Ç - 1) ( IÇ - 1) r1- l - Ç) - + 122Ç (e., - 2l) -
+ 4 IÇ ( - 1
- r2 r3 (13.106)

F ig. 13. 14 - lnt.erpola.çii.o unidimensional de Lagrange, N = a.


Novamente, basta subst.ituir, na Eq. (13.106) , os valores de Ç cut.re Ç = 1
e Ç = I - 1 para obter os corr0spondentes vetores posições de cada ponto.
A utilização de 3 pontos, 011 mais. permite que a int,crpolação unidimen-
sional St'ja ao longo de uma. curva, conforme pode ser visto na Fig. 13.15, onde
também se mostra que os segmentos 1)-1'2 e 1'2-1'3 terão diferentes números de
linhas Ç.
278 C. R. Mnlisl.:a.

Os polinômios de Lagra.uge ponniL<'m que apenas os valore:> <la.s rnord11 1111


das sejam satisfeit.os. Em geração de coordenadas , também~ de.s<'.i<ivel q111• "' 11
possível esp ecifü;a.r a inclinação com que uma linb;.i coorclcJJada chega. llél 1'11111
teim. Os polinômios de HNmitc permit em esta condição adicional. A frn 111 11
geral clc:>ses poliuômio.s é [142]

(13. 101)

onde r;i ::;ignifica a. derivada de?°'' ('111 relação a Ç no ponto n. As funções </1,, 1·

'ljJ,, são definidas por

!*
Pn
(5.) = {i - 2"" (ç") (Ç -Ç")} (5.)
J 'l'n J J 1
2
<i>,, J (13. IOH)

.i"'". (5.)
I
= (i_:_f_:)
I
(i)
. ,. I
<!>'}, (13.JO!I)

onde a.s funções <í~.,..(f) são obtidas com a. Eq. (13.102).

Fig. 13.15 - Interpolação unidimensional de Lagrange, N=3.

Construindo o polinômio de interpolação de Hennit.e p ara N = 2, temos,


inicialmente, para as funções

ef> r (5.)I = 1- ~.T ( 13.110)


Gera.çiio do Sistema de Coordena.rla.s Otwuilíncas 279

~2 (}) =} {13.111 )

~;(i)=-1 (13.11 2)

~; (t) = 1 (13.113)

q>r (}) (1 +2}) (1-}r


= (13.114)

~2 (}) = (3 - 2~) (~r {13.115)

·01 (}) = ~ (1_ }r (13.116)

~2 (f) = (ç~ 1 ) (}r (13.117)

<' parn o polinômio

(13.118)

..
Os polinômios de Lagrange e Hermite são contínuos em todos 'os pontos. A
dificuldade que aparece com estes polinômios são as oscilações, quando cresce o
u(unero de pontos pelos quais o polinômio deverá passar . Fefümcnte, cm geral,
não são necessários muitos pontos para poder gerar boas malhas. Quando não
for possível, é recomendado o uso de polinômios contínuos por pedaços na pri-
meira derivad a, ou seja, utilizar <1. idéia. de spl·ines. Como o polinômio é contínuo
por partes, a. imposição é, novamente, sa.tisfa:c.er as concliçõ0s 0111 poucos pontos,
<'Vita.nclo as oscilações. O leitor intcrc:;sado neste l;ipo d e interpolação e também
cu1 interpolação multidir<'cional d eve consultar a. referência (142} ou outras que
tratam do assunt.o. Os métodos variacionais também d esem penham um papel
importante na geração de ma.lhas [138). O leitor é, também, incent.ivado a con-
sultar a vastíssima. literatura especializada, da qual citamos [39,141,142], caso
esteja interessado em métodos para gerar sistemas de coordC'undas ortogonais.
280 C. R. Maliska

13.9 - Transformações Analíticas


Nas seções anteriores, a.presentamos algumas maneiras de gerai· um sist 1•111 1
de coordenadas ou, em outras palavras, determinar as relações F = 1":'((. 111
Exist.em muitas t ransformações analíticas de interesse prático, dentre as q11111
escolhemos algumas para apreseutar [4]. A primeira delas é dada por

Ç =x

17 =1 - _ln . .{:. . [~
::__ +_ 1_- a)] / [,8 - 1 + (u]}
...:..:..::..~--=----~'-=-'-
(13. 11 !I)
ln (ª+L )
.B - 1

para 1 < /3 < oo. Esta transformação concentra as liuhas coordenadas ()('l' t 11
de y = O, enquanto f3-+ 1, conforme pode ser visto na. Fig. 13.16.

y '1

1.0 1--------~

1. X
L
(a) (b)

F ig . 13.16 - Plano físi co e computacional (108). Eq. (13.119).

Uma outra transformação que concent ra as malhas em y = h e y = O (•


dada por

Ç= x
ln{[f3 + (y (2a + 1) /h) - 2a] / [(3 - (y (2a + 1) /h) + 2o]}
17 = <x+ ( l -a ) { }
ln .B+t
/j-1
(13.120)
Nesta t ra.nsformaçã-0, se a = O, a concentração de malhas dar-se-á em
y = h apenas, ao passo que para o: =
1./2, a malha-será refinada em y Oe =
y = h. A Fig. 13.17 mostra a malha no plano físico e no plano computacional
para a= 1/2. Uma terceira trausforrnação é dada por

ç = .x
(13. 121 )
17 = B + -71 senh- 1
Gernçiio rlo Sistc·11w de Coonlen<~irlas Curniltncas 28 L

1111dt•

B =_!_ln [ 1 + (er - 1) (yc/h) ] ' para O< r<oo (13.122)


2T 1 + (e- T - 1) (yc/h)

Esta t.ransformação concentra as linhas coordenadas em t orno de y = Yc•


para altos valores ele r, conforme a. Fig. 13.18.
)' 1)

L X L
(a) (b)

Fig . 13.17 - Pl11no físico l' compu tacional [l08). Eq. (13.l2l ).
y ,, . ~

1.0 -~,..__,~--.---.--.--.--....

X
L
(a) (b)

Fig . 13.18 - P la110 fís ico e computacional (108]. Eq. (13.122).

Todas as três transformações mostra.elas permitem espaçamentos diferen-


t es em y, mas independentes da coordenada .i: . A seguinte transformação
tra balha com espaçament.os em y diferent.cs para cada :e, mapea11do-os para
cspaçament.os em 17 iguais para cada Ç. Isto caracteriza a transformação do
pl;\no físico em um plano rnmputacional ret angular , conforme a F ig. 13.19.
Ela é dada por

ç = :t
y (13.123)
·11 = - -
h (.1:)
282 C. R. MaUs/.:a

y 11

1.0 ..--,,.........,,--,.........,,.........,,.........,,.........,,.........,,.......,

T
h

L X L
(a) (b)

Fig. 13.19 - P lano físico e <.:omput.acioual [108}. Eq. ( 1:3.12:3).

ond(> h(.r.) 0 a dimcns<'io do domínio cornput~\cional em y, para cada x .

13.10- Obtenção das Métricas Numericamente


No Ca.p. 12, vimos que a detC'rminação das grande.ias geométricas no plano
físico, como áreas, volu111es, comprimentos , etc ., requer o conhecimento da:-;
chama.das mfitrica.5 de transformação, ou sqja, as dPri va.das das variáveis (:r , y , z)
em função de (Ç,·,., , ~,), tais como :i:~, :1: ,1, x'l', y~, y,1 y'l', :::e, .:::,7 e ::.0 bem como
o jacobiano. Corn estas nove deriva.da:; e o ja.cobia.110, t.od(l..5 a.<; informações
geomé tricas ela transforma.ção podem ser obtidas .
Para geome trias complexas, a t ransformação é sempre numérica e, por-
t;;\1lt,o, conhecemos apena.e; pontos discretos (:r, y, z) onde as linhas coordena-
das se i11terceptam. A Fig. 13.20 mostra, pa.ra a. superfície (Ç, 17), um volume
elementar hachurado, com pontos coordenados A, B, C e D nos respecti-
vos vér tices. Como estamos gerando malhas para serern usadas em modelos
numéricos que empregam volumes finitos, é importante calcular as métricas
para o centro das faces, pa ra o posterior cálculo de comprimentos e áreas ne-
cessário:; . Por exemplo, para o plano em cousidcração, a.s quatro métricas
envolvidas são

(13 .124)

(13.125)

(13.126)

(13.127)
G<T<içào do Sistema de Coordenrufos C1w11ilíneas 283

X ...

Fig . 13.20 - Obt euçào das 1nétricas nnrnericn.rne nte.

2 3 5 X

'Fig. 13 .21 - O b tenção das métr icas numericamente.

oude os valores de J: e y em E e P são ach<-ulos por interpolação dos quat.ro


pontos :r e y vizinhos . Outras m étricas, em diferentes pontos do domínio, são
cR.lculadas de formi'l análoga. C'ma recomcuclaçào import.aute é sempre faft er
int.crpolaçõ<'s em :r e y quaudo há necessidade destes dados e m pontos onde os
nw~mos não são conhecidos . e mmca cakular a média das métricas. O exemplo
da Fig. 13.21 m ost.ra qu<? a mécli;t elas môl'.ricas pode tr<tzer erros i n aceil áv<~is
para os hafanços nos volumes de cont.rok. Por exemplo, se o interesse é calcular
~{ no pauto .s (fro nteira sul do volume d<' controle) , p ois <'Sta m<"trica, junto
co111 ~:i, p0rrnitiní calcula.r o comprimento CD, devemos calculá-la. <-1.t ravés de

(13.128)
284 C. R. M rtliskrt

que, se b.Ç for feito igual à 1111idade, nos dará 2 como resultado. Se calc11!111
mos a métrica em s através de uma média das métricas calculadas em C <' I >,
obt.cremos o va lor 1,5. Este último valor, <-1nando usado para calcular o co111
primento de CD, fornecerá um valor errado pa.ra est e comprimeuto, o qne l.<•1·11
séria influência na equação de conservação da massa que, por sua vez, afct m ,,
as outr as eqnações de conservação.
Para as superfícies formadas pelos eixos (Ç, 'y) e (77,1), o procedimento,.
exatamente o mesmo. Cuida.dos de vem ser também tomados parn não se cak1 1
lar informações geométricas onde 11ão seja necessário. É aconselhável, portaut o,
fazer uma análise do problema para. decidir ns m ét.ricas da t ransformação e• H ~
pos ições da malha cm qu<> as mesmas serão necessárias.

13. 11 - Exercícios
13.1 - Discret.h~e a Eq. (13.7G) para :r e y, coufonnc as a proximações mos
tradas na seção 13.5, e escreva um programa para geração de malhas. Fa.ça o
programa simples , isto 6, para cout.e mpla r apenas geometrias simplesment.c rn
nexa~, pois, assim, t.eremos os valores d<~ :r eu conhecidos sobre toda a frontcirn
do plano trnns formi'\.do reta11gular. No Heu progra ma deixe, porta nto. vetor<'H
para fornecimento de :r l' y sobre as qun.tro fronteiras do do mínio compu tacio-
na.l. Não <'Squeça que as <'quações para :r e y Hão 11ão-li11eares e uma estima tiva
initial destas vari;í.veis é nccess<í.Jfa para iniciaJ· o processo iterati vo. Uma, in
ter pola.ção fü1ear resolve esta que::;tão. P<:ira tei:;t.ar seu progi:ama, gere uma
nrnJha para 11ma geometria do t.i po moF;t,raclo na Fig. 13.22(a.) , sem co nsiclernr
o scgmeuto AB .

Fig. 13. 22 · (a) - P rnb. l:J. I <" l:j.5 e· ( b) - Prob. 13.7.

13.2 - Com P e Q ig11aiF; a zero, gcr0 u1WL malha para um quadrado com
os pont.os de fro11t.eira especificados, C'Onformc a. Fig. 13.23. Por qu<' R m alha
resulta.nl.c não é cartesiana? Faça, agor a. o mesmo problema. forncr<'ndo os
pontos nas front.eiri'ls igua.lmc nte l' Spaçados. A rnaJha rc•sult.ante, agora, é orto-
gonal. Explique as n1zõC's do ponto de vista matemático e também proniraudo
fazer uma <U1a.logia entre as equações d0 geração de coorde11adas e o problemi'\.
<le comluç,ão ele calor bidimensional sem termo fonte.
Geração do Sistema de Coo1'(lenadas Onrvilfnca.s 285

13.3 - Utilize o sistema elíptico de coordenadas apresentado no Prob.


l 2.2, do Cap. 12, com Ç variando de 1 a J\!f e ·17 de 1 a N , onde M e N são
inteiros. Com a transformação ~rn alítica. calcule, analiticamente, todas as
1n0tricas e informações de interesse, como 911, 922, 9 21, J , comprimentos ao
lougo das linhas coordena.d<:lS Ç e 11, áreas, etc. Agora, usando os pontos (x, y)
obtidos com a transforma.ção analítica, calcule, numericamente, as métricas
<' parâmetros de interesse. Compare os resultados. Varie iVI e N.

y •
"
1
0,9

0,7

0,3
0,2

o.o~------------<>--~-
0,2 0,6 0,8 X
..

Fig. 13.23 - Prob. 13.2.

13.4 - C<>ntinuando o exercício 13.3, e de acordo com ·os valores de JVl e N


escolhidos, ca.lculc~ os valores de x e y sobre os pontos de fronteira, utilizando a
transforrné1ção analít.ica. Forneça estes pontos ao programa gera.dor de malhas
desenvolvido no exercício l:J.l. Compare os valores de (x, y) obtidos com a.
transformação analítica com aqueles obtidos pelo gerador de malhas. As malhas
são as mesmas? · '
13.5 - Gere uma ma.lha para. uma geometria semelhante à mostrada na
Fig. 13.22(a.) ,' forçando que urna das linhas coordenadas passe pela êurva AB.
Utili:ce, nova.mente, o programa computacional desenvolvido no exercício 13.l.
13.6 - Use a forma unidimensional da Eq.(13.74) para genu· urna distri-
buição de pontos sobre o segmento ele ret.a [0,1]. Observe que, fazendo P/ J'2
const.aute, a equaçào geradora da malha t.em solução analítica. Obtenha a
solução analítica e, atualizando o tenno mantido constante, resolva a equaçào
iterativa.mente. Trabalhe com P para obter difcrcut.es concentrações ele pontos
sobre o segmento.
13. 7 - Gere uma malha usando interpolação de Lagrange para urna. f;eO-
rnetria sernelhaut.c à. mostrada na Fig. 13.22(b).
CAPÍTULO QUATORZl1j

Transformação das Equações


d e Conservação

14.1 - Introdução
Tendo sido obtido o sist.eurn. de coordenadas .que permite discretizar 11
domínio de cálculo, o passo seguinte é obter as equações aproximadas para
cada. volum<' elementar. Est<:1s equações são criadas realizando-se balanços da
propriedade envol vicia sobre os volumes elementares ou integrando-se a fornrn
conservativa das equações sobre estes volumes, que são procediment.os equivn
lentes.
Quando uma malha estruturada é empregada, como no presente caso, t'
necessário, antes de integrar as equaçõ0s, decidir:

I. Se' estas equações estarão escritas no sistema coordenado do plano


físico ou do plano transformado.
II. Optando-se pelas equações escritas nas coordenad a~ cio pl anú tram1
formado, quais serão as variáveis dependentes no raso de grandeza:-;
vetoriais, como a velocidade.

Na prím<'ira. questão, caso se opt.e por 1ncuüer as equações nas coordC'na-


clas do plano físi co, como o cartesiano, as integrações se diuã.o sobre volum<'H
elementares irregulares. Esse procedinH'nto é semelhante ao adotado em ele-
m0nt.os finit.os onde é nec0ssário definir um sistema cartesiano local sobre o qual
se descrevem as fronteiras arbitntrias elo elemento. Esta metodologia é obri-
gatória quando a malha é não-est.rut.m·ada. Como est.amos t.rabalhando com
malhas estruturad as<~ , portanto, existe 11111 sisl.e111a coordenado, nest<! t.rabalho,
a opção é transformar as equações para o domínio (<', 17 , 1') <' integrá-las neste
dom ínio. Desta forma, o procC'dimento de int<~gração é bem mais simples e os
t<>.rmos resu lt.antes possuem uma interpretação física t.mnbé111 mais f;'.icil.
Com relação à quest.ão II, a opção é mant.er como variá.veis dependentes
no plano compuw.ciona.l as mesmas variáveis do plano físi co (50). Esse pro-
cedimento é larga111c•nte empregado na literatura recente. Logo, se o si::;tema
de coordenadas cartesianas é empregado, as componentes do vetor velocidade
neste sistema serão as variáveis dependente::; no plano computacional. Entã.o,
as equaçôes da conservação de quantidade de movimento uas direções x, y e
Tmns.frwmriç<io <lns E<rnaçõcs de Con.~c1·u1Lçrio :l8i

, qua.udo transformadas, continuarão sendo as equações que representam a


1·ot1servação das component<'s x, 11 e :; do vetor quantidade de movimento, só
q11<', agora, 0scritas no sis tema (Ç, ·17, "!') e não ma.is no (:t, y , :; ). Deve-se ma.nter
1·111 mente que o ente físico é o mesmo, a penas a sua r epresentação está, agora,
1w11do feita em um novo sis tema coordenado. Ou seja, a.penM as variá.veis
independentes estão mudando de (:t,J; ,z) pa ra (Ç,-q, ~1) .
Poder-se-ia, al<~m de mudar as va riáveis independentes, mudar a variá vel
d<'pcndcute e escrever as eqmições de conservação da quantidade de movimento
nas di reções~, 17 e ~i · Esta foi a opção adotada em (24). As equações resulta ntes
s;io, entretanto, cxtremamcut.e complexas e· seus t ermos não permit.cm uma
i11t.erpretac,:ào física d ireta.

14.2 - A Tra n sformação


Con forme coment.ado, as equações governa.nt.es n;:i forma con::-ervati va sC'r ào
trnnsfor madas com o objetivo de obtê-las, no plano comput.a cional, mantend o
('s i«·~ caracterí:;tica.
Seja a seguint.c equação de conservação <'Scrit<'l. na forma vetorial

(14.1)

ou na forma.

(14.2)

onde

f' = Ei+ FJ+ Gk (14.3)


Q =p</> (14.4)
.
E = pu<J) -
r,,,a<1>
,_ (14.5)
. ô:c
F = pv<P. - [ '''ª<i>
v _
ây
(14.6)

G = pw<J> -f~ ôó

ôz
(14. 7)

onde <P é um escalar genérico que representa as propriedades conservadas como


massa, q ua1lt.ida.cle de movimento, energia, (te., e ref• representa. o coeficiente
de t.ransportc. Observe-se que a letra F sem o siual ck vetor é uma das com-
ponente.<; do vetor f' e não seu módulo.
A transformação necessária para a solução de problemas transientes tridi-
mensionais é da.da por
288 C. R. M aliskri

f,=Ç(x,y, z, t) (14.8)
11=ri(x,y ,z.t) (1 •1.!))
'Y= 'Y (:1;, y, z , t) (14. lO)
r =t (14.ll)

onde o jacobiano e as mét.ricas da transformação são os mesmos dados 110


Cap. 12, adicionados das seguintes relações que envolvem o t empo:

{t = - Çx:rT - ÇyyT - { :Zr (14.12)


'l]t = -1JrXT - ·T/yYT - 1]: Zr (14.13)
(14.14)

Usando a regra ela cadeia, as deriva.das das componeut.es do fluxo resultam


·em

ôE ôE âE ôE 8E
-8;'!: = {)t:'> {.e + -D'/) ·11x + -â ~rx + -âT r,,,
~(
(14.15)

ôF âF ôF âF âF
- = ':lf: Ç.,, + ?:) 1}y + - ~Íy + ?:)Ty (14.16)
8y V'> ' u1) 8~f , UT

âG ôG 8G âG 8G
az = aç f.:. + a1117:. + a~1 ~i:. + ar r :. (14.17)

8Q 8Q âQ ôQ ôQ
- = -f,1 + - 'f}t + - ~(t + - Tt (14.18)
Ôt Ôf, ÔI) ÔI ÔT

onde o último termo das Eqs. (14.15) a (14. 17) é igual a zero, uma vez que r
não é função de :-i:, y e z .
Jntroduziuclo est.as equações na Eq. (14.2) e divicliudo por J, aparecerão
t.ermoR cio tipo:

âE

(Ç"')
J
âF

(Çv
J
) etc.

Pa.ra que as métricas e o jacobiano fiquem dentro do sinal da derivada,


somam-se e s ubtraem-se termos do tipo:

E~
Ôf,
((r)
J
F~(f,v)
aç J
ai. (ç:. )
âf, J
Q~(ç')
ôf, J
etc.
Tmnsfon1wç<10 d<t8 Err1w.çõc8 ele Con8i:rvo.çno :!8!)

(jll(' recu pera111 a deriva.ela de um produto. A equação resulta, cut.ão, na forma


conscrvativa, como

Q[ô (
Ôf,
f,t) f) (·17, ) ô ( }'t ) ô ( 1 ) ]
J + Ô·JJ J + Ôry J + ÔT J - (14. 19)

E r~
ôf,
(fJ,x ) + ~ (11x)
J
ô11
+ ~ (~tx )]-
J ô1

F [!___
ôf,
(Çy)
J
+ ~ (1lv ) + ~ (l'y)] -
fJ17 J J Ô"/

G âf,[ô(ç,) + f) (11zJ ) + ô'YÔ('JY: )] = ]s


J ô11

É fácil mostrar que , com auxílio das E qs. (12.12) , (14.12) e (14.14) , os
últimos qua.t.ro t ermos entre colchetes , no lado esqncrdo ela equàção, são iguais
a zero, encoptrando-sc a equação tra ns formada. na. forma

~
fJr
(Q)+ !___ (f,1Q+f.xE+f,yF+E,,,G) + ,
J ôE, J

!_ ( 1]tQ + 1JxE + 1JyF + IJ:G) + (14.20)


fJ11 J

Defi nindo

(14.21)
200 C. R. M aliskii

Ê = {t Q + (,, E+ f,y F + f.::G


J ( 1 I.'")

p = ·111Q + r1xE + '7yF + 1J:G


J ( J 1 •) 1)

ê = "ttQ + 1.~ E + "/yF + "/:;G


J ( l 1 ., 1)

A s
S=7 ( J <!.:!~.)
encont.ramos a cqua.ção na forma conserva.tiva como

(J4 .~li )
Sul>stituüido na Eq. (14.19) as expressões dos vetores E, .F e G, cncoHt.rn
rnos

!._ ( p</>) ~ ((f.t + f.x'tt+{1/u + f.zw)p<f>)


ôr J + ôf. J +

~ ( (111 + 17,,u + 17yV + 'l;;W) P<i>) +


Ô1/ J

!._ ((1't + 'Yx'tt + /yV + "f.::W) p</>) =


Ô"( J

(14.2i)

fJ { (
-ô17 ·11xôâ<f
- > + 1J.y-ô<!>
:1; .
â<i>)
â y + 1/=-a
r <t> }
z· -J +

Definill do as s0gui11tcs grandezas:

(14.28)
Trrmsfo·r11uiç1io dris Eq·iwçocs de Consr•1'11r1ç<io 2!.l 1

- 1
V = J (rJt + rJxU + 1]y V + rJz'W) (14.29)

(14.30)

'" usando a regra da. cadeia para expandir as derivadas ela <i> em fuução de x, y
<· :::, encontra.mos

-D (t><i>)
- +- D ( pU<P
- ) +- - ) =
- ) + -ô ( pvV</J
ô ( pV<!>
ÔT .) Ô~ Ô1} Ô"{

ô { ( ô<jJ Ô</> Ô</> ) r<t> }


ôE, ªô~ + d 817 + e fh J +
(14.31)

-ô { ( d -Ô</J +b-â<P +f-ô</J) -[4> } +


ô·q ôt;, ôr1 Ô"/ J

onde os roeficicnt.es a, b, e, d, e e f foram dados no Ca p. 13 e Ü, V e ~V são as


coin poncntes contravariantes elo vetor velocidade.
A E q. (14.31) é a equação geral pa ra um escalar <1> escrita no sistema
(~, ·11, /, -r). Essa transformação, como já coment.ado, possui nm domín io com-
p11t.acio11a l ou tra nsformado fixo . Desta forma, d(• acordo com 'a'trn.usformação
dada pelas f;qs. (14.8) a (14.11 ), a Eq. (14.31) pode rc~olver problemas de ma-
lhas mów•is, mantendo-a fixit no plano trnnsformado. E cla.ro que a.-velocidadc
rela.r.iva entre a velocidade do escoamento e a. velocidade da. ma.lha deve estar
senclo levada em consideração em algum termo ela eqmiçâ.o t.rausformadti. É,
exc\t.amente. rn\s componentes Ü , \i e l~' que se encontra. embutido este efoit.o.
Para facilit a r a interpretação fís ica dest.e efeito, cons idere-se o problema
bidimensional, onde as velocidadrs envolvidas são

(14.32)

-
\1 = J1 (171 + 11.rit + 1]yV) (14.33)

Csando as relações ela fuução inversa, as expressões para [! e V assumem


a forma srguint.o:
292 C. R . Maliska

Ü = y 11 (u - xT) - x.,, ('u - YT ) (14.34)


V = Xt: (V - Yr ) - Yç (U - X.,.) (14.313)

Le mbr ando da. defini ção das velocidades cont,ra.variantes, sem normalização
mét.rica, d ad as por

U = -ity,
1 - vx.,1 (14.36}
V = vxi; -uy~ (14.37)

onde U e V , q uando multiplicados por D..11 e D..f,. respect.ivament.P, representam


a vazão volumétrica a.t.ravrs das linhas coordena das f, e 17, podemos encontrar
a relação ent.re Ü e U e 1i e V , como

Ü = U -U,H (14.38}
\i= V - Vw (14.39)

onde UM e V\t &'\o a.e; componentes cont.ravariant.es sem normaliza.ção métrica


do vetor velocidade ela malha dadas por

(14.40)

(14.41}
onde as graudezas :r-r e y.,. são as componentes cartesianas elo vet.or velocida de
da malha. nas d ireçõcs x e 11· respc('tivamcnte.
Nas Eqs . (14.38) e (14 .39) Ü e V :-::ão as componente:> contrn.variantes
do vetor velocidade e já levam em consideração o movimento da malha nos
balanços de cons~rvaçào, ou seja., são as compoucntes da velo dclade rclativ;:i .
A Eq. (14.3 '1) pode, entào, conforme já a firmado, ser empregada para resolver
problemas onde a m alha varia com o tempo, mant,endo o pia.no computacional
fixo e com as dimensões d os volumes elementares neste plano também fixas e
unitárias.
A Fig. 14.1 most.ra unm ma.lha deslocando-:;c, onde podcrn ser identificadas
as colllponr11tes cartesia nas xT 0 Yr d o vetor velocidade da malha, par a os
pont.os A e B . É fAcil d<• entender que. f.;e a malha. no plano físico. estiver
s0 deslocando com a mesma. velocidade do escoa.mento, não teremo::; fluxo ele
massa entrando nos volunH'S de controle pelas faces que po:-;suern vclocicladc
igual a do escoamento. Existem inúmeros problema$ de fronteira livre que
requerern o movimento d a malha no plano físico q11e podem ser fttacados corn
esta transformação.
'I't'ans/ormaçào das Eqt,ações de Consenmç<io 293

A Fig. 14.2 mostra uma malha em dois tempos distintos e seu respectivo
plano transformado fixo. A t ransformação que envolve o tempo encarregar-se-á
d(' levar em consideração a alteração dos comprimentos, por •3xemplo, de EA
pa,ra E'A'.
Com o objetivo de melhor interpretar os termos da Eq . (14.31) , a mesma
{' simplificada para o caso bidimensional, onde os parâmetros e, e e f são feitos
iguais a zero, result.a11do

a ( P]<P )
ôr
a(
+ô~ pvq>
T'°'.· , ) a (Pv- <P,) -- ôf,
+ 817 a (r'b ,· ô</>ôf, - i~t1i J
' n
!'.>
,o ô17
ô<P ) +

(14.42)
onde 0:, f3 e 'Y são as componentes do tc11sor métrico, 922, gr2 e 9 1L, respecti-
va mente, obtidas das expressões de a, b e d, da E(1. (14.31) para o ('aso bidi-
111<'nsiona.l. É fácil ver que o primeiro t.ermo do lado esquerdo da Eq. (14.42)
representa a variação ele <P rom tempo, no volume ele controle, enquanto os
ouLros t ermos representam a ad vecção de ef> através da.s faces Ç e 17, respectiva-
mente. No lado direito, os t.ermos representam os liuxos d il'usivos de </J através
elas faces Ç e 17, respectivamente.

y A

Fig . 14.1 - Vdoci<la.dc d e <leslornmento da malha no plano físi co.

A Eq. (14.42) pode, também, ser obt.ida atrctv(~S da realização do balanço


ela propriedadr em qucst.ão sobre um volume elementar arbitrário, confornw
mostra a Fig. 14.3. Para exemplificar. <'Onsideremos o balanço ele calor sobre o
elemento cc11trado cm P . Do acordo com a Eq. (12.84) e Fig. 12.11, temos
294 C. R. M aliska

A = A' _ _ ________, B = B'

A>J • I

e D

Fig . 14.2 - Malha móvel no p lano físico e transform ado.

Fig . 14 .3 - tlala n ço de energia pa ra um volume elementar.

l
Transfonnaçào das EqMções de Conse11mçâo 2!)5

Expressando as derivadas norma is cm termos de Ç e 17 e lembrando da


relação entre U e U e V e V, que pode ser obtida através das Eqs. (12.84) a
(12.87), t.cmos, para o caso <le malha fixa no tempo, e após dividir a equação
t.oda por <"p ,

8
1 Ô r
- - (pT) + - (pVT) + -8 (pVT) =
J ôt ôE, 817
(14.44)

-ô ( Ja-

k -ôT - J /3-
Cp 8E,
k -
Cp 817
ãT) + -ô17ô ( .J-y -k -ôT - .JB-e.,,k ôT
Cp ÔIJ
- ) + -q
8E, J
C.r

A Bq. (14.44) é, exatamente, a Eq. (14.42) para</>= T. As out.ras equações


de consC'rvaçâo, como conservação da massa., quantidade de moviment.o, etc.,
podem também ser o bt.idas fazendo-se os respect.ivos balanços ou s ubstituindo-
se <P pela variável em consideração, na equação gera l. Observe-se que a forma da
Eq. (14.44) é conserwitiva, portanto passível de ser integrada. ::;obre os volumes
elementares gera.nela urna discretização em volumes finitos.

14. 3 - Conclusões
O presente capít.ulo apresentou a t.ransformação das <~qna.ções de con-
servação do sistema cartesiano de coordena.das para o s istema generalizado.
Sempre que uma malha est.rutura.da é usada, as equações de conservação po-
dem ser escritas nas coordenadas desta discretização, permit.indo que a solução
das equações seja obtida no plano trnusformado, onde as dimensÕ<'S .6~, 617 e
.6')' são unit.árias, por conveniência..
A transformação foi realizada na sua forma completa, isto é,, envolvendo
as três coordenadas e o tempo, perm itindo que problem as nos quais a malha
no plano físico se mova sejam resolvidos também no plano computacional fixo.
Para fin alizar o capít.ulo, a equação de conservação da cner gip. para urna si-
tuação bidimensional foi obtida atravé1:1 do balanço, com o intuito de mostrar
que a forma. da equação transformada é conservativa e pode, portanto, ser
obtida através de balanços.

14.4 - Exercícios
14.l - Quando problem as de escoamcnt.o no interior de dutos retos de
seç.ão varié\vcl, como mostrado na Fig. 14.4, são resolvidos, é possível mar cha r
parabolicamente ao longo do eixo do duto. Assim , apenas duas seções de cálculo
necessitam ser simulta neamente annar,enadas. Se os planos de marcha são
paralf~loR, mesmo que a S<'Ção transversal mude co1n z , a seguinte t.ra.nsformação
de co<m lena.das é ad<'quada
296 G. R. Maliska

Ç = Ç(:r,y,z)
11 = 11(x, y, z ) (14.45)

' I
:
'
,
I

' I
o I
o I
I
' I

!
: I
l'
o I
' I
' I
''o I
,
I

------'~;.;;.
--;;,;;--.:
1..-;.;;.
--;;,:r- ------- -· --·-
I I
I I

,,
I I

/
I
,/
I ,I

/~ 1J
,,
,, / z Y"' / I
I
I
X

(b)
(a)

Fig . 14.4 - Prnb. 14 .l.

Considerando o escoamento tridimensional parabólico, laminar e in com-


pressível no interior de um duto com as características a.cima, obtenha a e-
qua,cã.o transformada para uma variável geuérica </>, lembrando que a malha
uão muda com o tempo. As expressões das componentes contra.v ariantes, sem
normalização métrica, U , V e W terão a form[-1.

U = y,1'u, - x,1v + (y1 x,1 - X-1y.,,) W

V = :i·{11 - y(.u + (:i;--rY{ - y..,:i:f.) w (14.46)


W=~
J
14.2 - Use a form a bidimensional da Eq. (14.1) e obtenha a equação trans-
formada, Eq. (14.31) , fazendo todas as operações intermediárias não mostra.das
uo texto.
14.3 - Inteqwete fisicamente o último termo que aparece nas expressões
de U e F do Prob. 14.1. Pm-a isso, faça um balanço de massa, usando as
componentes cartesianas u, u, e w e relações geométricas, no volume irregu-
lar mostrado n;;1 F ig. 14.5(a). Observe que, automaticamente, aqueles termos
Tmnsf01maçno elas EqmtçÕc8 clt Con.~C'rnaçrw 29i

aparecerão e seu significado físico pode ser facilmente obtido. Lembre que os
plano~ (Ç , ·17) são paralelos ao longo do eixo í "

1 Plano y+h.y
• Plano y

(a) (b)

Fig. 14.5 - Prob. 1 4 . ~.

14.4 - Considerando, ainda, o volume tridimensional visto na Fig. 14.5,


interprete fisic;unente as métricas Ç= e fiz. Se o volume elementar é agora
completamente irregular, com o mesmo raciocínio, dê a interpretação física de
Çx, Çy , f/x, 17y, /x, % e 1'z e, por extensão, das componentes contravariantes
dadas pelas Eqs. (14.28) a (14.30) .

Fig. 14.6 - Prob. 1-1.5.

14.5 - O vetor fluxo de calor q71 é conhecido através de suas componentes


cartesianas q~ e q~. Determine a quantidade de calor por unidade de tempo
que atravessa a área AB. Em seguida, usando diferenças centrais, equacione
este fluxo em função das temperaturas nos pontos mostrados na Fig. 14.6.
,
CAPITULO QUINZE

Obtenção das Equações Aproximadas

15.1 - Intro dução


No Cap. 14, a.5 equaçôes ck conservação fonun transfornrndas do domínio
físico, no caso o cart0siano (x,y,z), para o domínio trausformado (€ 1 11.~1)- A
transformação foi realizada, cousi derando-~e uma variável genérica</>, que, ao
as::mmir o valor 1 e as variáveis tt, ·v, w e T , recupera, respectivament.e, as
equações de conservação da massa, quantidade de inovirnent.o nas d ireções x,
y e z e energia. Como já discutido em capítulos anteriores, para um problema
envolvendo um escoamento tridimensional incompressível , as incógnitas serão
•ti, v, w, P e T.
Quando se emprega a forrnulaçifo segregada, isto é, as equações são re-
solvidas, uma a uma até a convergência, aparece o problema do acoplamento
pressão-velocidade, discutido em prnfundiclade no Cap. 7. Como visto na-
quele capítulo, uma equação para a pressão é formada a partir da equa.ção de
conservação da massa.. Ainda optando pela formul ação segrC'gacla, vimos , no
Cap. 8, que, para um problema envolvendo um escoamento compressível, o aco-
plamento torna-se entre a pressfw, a velocidade e a massa esp0cífica. Também
para 0.ste caso, a equação da conservação da massa é transformada em uma
equação para a pressão.
Neste capítulo, as equações de conserva.ção, escritas no sistema de coor-
denadas generali:tada.s. serão discretizadas. Inicia.lmente, será a.presentada. a
discret.ização para uma variável generériC<:l. </> que poderá reprcsent;),r v., 'V , w, T
ou outro esec'i.lar qualquer que caracterize o transporte convect.ivo e difusivo de
uma determinada propriedade, como, por cxernplo, energia cinética t.urbulenta
ou dissipação ela energia cinética turbulenta. Em seguida, será aprC'sentru:la a
cliscreti7.açã.o ela equação de co11servação da massa, juntamente com a trans-
formação da mesma C'm urna equação para a pressão. N0ste processo, já. será.
cousideraclo o tratamento ele escoament.os de qualquer velocidade, o que per-
mite que problemas subsônicos, t.ransônicos e supersônicos sejam resolvidos
com o mesmo esquema nurnérico. iw criar-se a equação para a pressão, a 1ni.r-
t.ir da equação de conservação da massa., será necesl)ário escolher 11m método
dt~ acoplamento entro a pn'ssão e a velocidade.
Obtençno rln.~ Equnçõcs Ap1·o:mnfül<Ls W!J

Dois mét.oclos sc•rão apre::mntados no contexto de escoamentos a qualquer


vC'lociclade, o SIMPLEC <'o PRIME. O primeiro cleles foi largament.c empregado
0.lll problemas de ac•rodiufünirn resolvidos no SINMEC (72 ,76) e o segundo est.á
smdo :tgora t.estaclo na. solução dest.cs mesmos problemas. Outros métodos de
a.coplarnento podem ser facilmente empregados com coordenadas generalizadas,
seguindo-se o procedimento que será apresentado pa.ra o SH.1IPLEC e o PIUME.

w E

Fig. 15. 1 - Volum E> de controlr e leme ntar.

15.2 - Inte gração das Equações

A integraç.ão das equações diferencia.is no plano transformado segue, exa-


tamente, os mesmos passos empregados para integrar as equações no sistema
coordenado cartesiano. Portanto, detalhes sobre as formulações implícita. e
explícita, formulações compressíveis e incompressíveis, formulações para qual-
quer regime de velocidade e outros detalhes numéricos básicos são tomados
como de conhecimouto do leitor. Os diferentes métodos para tratar do acopla-
mento pressão-velocidade em problemas de escoamentos incompressíveis tam-
bém são considerados j á conhecidos pelo leitor. Informações adicionais serão
fornecid as na.quilo em que o uso de coordena.das generalizadas altera. o proce-
dimento convencional.
300 C. R. Mn.liska

15.2. 1 - Equações da Quantidade de Movimento e Energia

As equações de conservação, representadas pela variável genérica. </>, têm a


seguinte forma, quando escritas no sistema de coordenadas curvilíneas em três
dimensões

ô ( -P<I> ) +-
-a,,. ô ( - ) ô ( pF</J
- ) +-ô ( pWq>
- ) =
J aç pU</> +-
â11 a~r

{15.1)

-
â<b + 032 Jr'i'. -Ô</>
à ( a31 Jr"' -· ô</>) - p<i>
+ a33 Jr"'- . . + s. "'
8-y ÔÇ 8·17 Ô"f

onde os °'ii são dados por

a
0:11 = J2 {15.2)

b
0'22 = J2 {15.3)

e
0'33 = J2 {15.4)

(15.5)

0'32 = 0'23 = J2f (15.6)

d
0'12 = l\'21 = J2 (15.7)

e a, b, e, d, e e f podem ser vistos no Cap. 13, Eqs. (13.64) a (13.69). Ob-


serve que os termos que contêm CXij, com i diferente de j, são termos difusivos
oriundos ela não-ortogonalidade ela malha.
Adotando-se nma formulaçã.o totalmente implícita, isto é, todos os termos
ela equação são avaliados em t + é:.t, a integração da Eq. (15.1) no tempo e no
volume elementar , mostra.do na. F ig. 15.l, resulta em
Obtenção das Equações Avro:âmcidas 301

1'.1p</>p - 1\llf:,<f>"p . . .
6.t + Me<f>e - Mw<Pw+

(15.8}

L [p<I> ] P 6. V + L [$<1>] P 6. V

onde L[ ] representa a aproximação numérica. cio termo entre colchetes e

6.V
Mp = PP Jp (15.9a)

~1º p
Jlip= ºp
6. V- (15.9b}
]p

Mr = (pü) e ~77~~/ (15.9c)

Mw = (pü) w 6.11~-r (15.9d)

Mn = (r>v) n ~f.~'Y (15 .9e)

lV!.~ = (r>v)s ~ç~ 1 (15.9f)

Ml = (r>~V) 1 ~f.~11 (15.9g)

1'411 = (µ14')t> ~f,6.r1 (15.9h)

represent.am, respectivamente, a massa no instante t + 6.t. e no instante t no


interior do volume de controle e as vazões mássicas através das seis faces do
volume de controle. A Fig. 15.2 most.ra as conexões entre o ponto P , que está
302 C. R. Mnliska,

no centro e não aparece, e seus vizinhos . É possíwl ver por esta figura qm\ para
um probl0ma tridimensiona.!, o pont.o P estará. ligado a 18 volumes vir.iuhos,
cri ando, portanto, uma matriz com estrut.tu-a de 19 diagonais.

~ NW
1

"'----·
FN
,,
FW F FE

sw_
FS

1 ..
!!!;

""'
Fig. 15.2 - Volume de contro le elementar central e S<' us 18 vi7.i-
nhos.

Os coeficientes Di; presentes nofi termos difusivo::> são dados por

Du = r"' J o- 1 1C:.17.6.7 (15 .lOa)


D12 = r <P lo12C:.r1D.-y (15.lOb)
D1 3 = r"' Ja13D.r7C:.7 (15.lOc)
D21 = f ifi .Ja21 D.E, C:. ~1 (15. lOcl)
D22 = f~ .la22 C:.E,C:.1' (15.lOe)
D23 = r~ .Jcr.23 D.E, D.7 (15.10/)
D31 = r"' J a31 C:.(,D.17 (15.lOg)
D32 = r"'Ja32D.E,C:.·17 (15.l Oh)
D33 = f<P J a33 C:.(,D.17 (15.lO·í)

e o volume, 110 domínio transformado, é dado por

(15 .11)
Observando-se a Eq. (15.8), constata-se que são necessárias as avaliações
de <P e de suas deriva.das nas iµterfaces do volume elementar. Logo, uma função
de interpolação deve ser empregada.
Obt,enção das EqMçõcs Apro:ci111,1itl1L,~ :w:3

A escolha da fu nção de interpolação é um assunto d0 extrema importànda,


uma vez que a qualida de da função de interpolação reflete a qua ntidade d0
difusão numérica embutida na solução final, conforme já discutido no Cap. 5.
O método ele interpolação adot,ado neste trabalho é o WUDS - Weighted
Upstream Dif]e1·encing Scheme [115], por ser largamente empregado na lite-
ratura e por ter sido o método usado em prat.icam011te todas as soluções de
problemas que serão mostradas no Cap. 17. Como visto no Cap. 5, o W UDS
cria funções de interpolação a partir da solução exata do problenrn unidimen-
s ional de convecção/ difusão ao !ougo de uma linha coordenada.
Quando o sistema coordenado é ortogonal, o problema unidirnensional de
r:ouvccção/difusão ;:1.0 longo de uma linha coordenada leva. em conta o Uuxo
rnnvectivo e difusivo que atravessa a. face do volume de controle. Para malhas
nfU)-ortogonajs, o estabelecimenlo do problema unidimensional ao longo ele uma
linha coord0nada considera ap<>nas o fluxo convec:tivo na sua totalidad0. O
fluxo difusivo, por sua vez, é levado em consideração apenas parcialmente,
pois o mesmo ó constituído de derivadas ao longo da:; três linhas coord0nadas.
Conforme adota.elo em [50], o problema unidimensiona l de convecção /difusão
na coordenada priucipal é usado pa ra determinar ;:~ função de interpolação.
O n~stante do fluxo difusivo, que origina as derivadas cru7.adas, é aproximado
com rliferenças centnüs . Em oulra.c; pa.Ja.v ras, todas as derivadas que aparecem
na &1. (15.8), multiplicadas por D,; , com i diferente de j, são avaliadas por
diferenças centrais, enquanto a quelas multiplicadas por D .;; t erão o fat.or de
ponderação em função da importAncia convectiva e difusiva no processo.
Para obter Oi:i fatores de ponderação o seguinte problema unidimensional
é resolvido

-â ( pU- </>) = -ô ( au J[.<f>â</>)


- (15.12)
ôÇ ôf, ô(.

Seguindo o procedimento já apresentado no Cap. 5, os coeficientes a e 7J


que ponderam as derivadas são dados por

r2
Õ-=---- (15. 13)
(10 + 2r2 )

J= (1 +O,005r 2 )
(15. 14)
· (1 +O, 05r 2 )
onde r é a ra.7.f\.o cutre o fiuxo conv0ctivo e difusivo na direção coordenada,
da.da por

lVI (15.l!í}
r= -
D
Desta forma, os valores <la função <f> nas int.0rfaces cio volume l'l<'lll('lll.ar
siio calculados por
304 C. R. lvfolilJA:ri

</>e = ( ~ + lte) <f>p + ( ~ - Oe) <Í>E (15.lGa)

<Í>w = (~ + Ow) <Í>w + (~ - ãw) <f>p (15 .16/J)

</>,. = (~ + ãn) <f>p + (~ - a,.) <!>N (15.16c)

<Ps = (~ + Õs) </>s + (~ - as) <Í>P (15.16d)

</>1= (~+ a1)<f>p+ (~ - a1)<!>F (15.16e)

<f>b = (~ +ãb) </>s + (~ -ãb) ~~P (15.16/)

As de rivadas cliret::is, que são part.e do fluxo difusivo, sã.o dadas por

l
Ôq) _ -;-- (</>E - <f>p)
âÇ ,. - f3e 6Ç (15.l 7a)

ô</>[ _ -(<f>p -</>w)


ÔÇ w - /3w 6Ç (15.17b)

ª <t>I _ -(<PN - ef>p)


ô17 - .Bn D.1]
7l
(15. l 7c)

â<J> 1 - (</>P - <Ps)


- =f3s (15.17d)
Ô17 s Õ.1]

ô</>' =B(ef>p - <f>p ) (15.l 7e)


Ô"Y f ' f D.~l

- (</> p - </>B)
aÔq)'Y
1
b
= ,'3b D.
1
(15.17.f)

enquanto as derivadas cruzadas, aproximadas por diferenças centrais, são dadas


por

ô<P 'e
Ô17
= </>N + if>NE4617
- </>s - </>se
(15.18a)

</Jp + <f>FE - </JB - <f>BE


ôq) '
Ô"f e
=
4D.1
(15.18b)
Obtenção das Equações Avro:1:iuwd<is 305

~~lw =
<!>N +<l>Nw - </>s - <f>sw (15.18c)
4.6.17

~~lw =
<l>r. + </> Fw - </>s - <i>aw (15 .18d)
4.6.~t

~~ln =
<be + </>NE - </>w - <i>Nw (15.18e)
4.6.Ç

</JF + </>FN .,..- </>B - </JaN


~I . = 4.6...,
(15.18!)

<i>E + </>se - <l> w - </>sw (15.18g)


ª<PI
ôÇ ~
= 4.6.Ç

</>r. + <PFs - </>s - <Pas (15 .18h)


ª<P
ô~( Is
= 4.6.')'

ô</> 1 = cfae + <PFE - </>w - </>nv (15.18i)


ôÇ J 4.6.Ç

</>,v + ef>FN - </>s - </JFS (15.18j)


ª<l>I
817 f
= 4fl17

ô</> 1 = <i>e + <ÍJtJE - <Pw - </>ow (15 .18k)


ôÇ b 4.6.Ç

()qJl =<l>N+</>,va-<Ps-<i>se (15.18l)


811 b 46·17

Introduzindo as expressões para</> e suas derivad as na Eq. (15 . ~ ) , encon-


tra.mos a equação discretizada para. o volwn e elementar P, di\da,por

Ap</>p = A e1>E + A.w<i>W + A,.</>N + AscPS + A1</>P + Ab</>B+


A,,e</J:V E + .4nw</>N W + Ase<Í'SE + A sw<l>s w+ (15.19)
Ate<i>FE + ArwcPFW + Afn<Í>FN + Âfs</>Fs +
Abe<!>ae + A1iw<l>aw + Abnef.>BN + Abs<PBs + B

onde os coeficientes são dados por

(15.20)
306 C. R. Maliska

A ==-·\1 (~ -~ ) + D11 e73e + (D2in + D311 - D 2 ts -D3lb)


e • e 2 ll'e 6Ç 46Ç

A == :i1 ( ~ + - ) + D11w73w + (D21s + D31b - D2 ln - D31f)


w • w 2 0'.1u 6Ç 46Ç

A __ M (~ _ - ) + D22nPn + (D12e -
1
D 12tu + D32/ - D32b)
n -
1
i 2 O",. 617 4677
(15.21)
4 == ,if (~ - ) D 22s7Js (D12w - D12e + D32& - D32/)
• S • S 2
·
+ O:s + A
Ll.'17
+ 4 u1]
A

A J -- '1'
- 1Vjf
(12 - ) +
- - O:f
D33f73f
61
-- -- -Dt3w
+(Dl3e - -+ D13n
-- -- D23
- -s )
461
A == .\1. (~ + - ) + D 33b7Jb + (Di:iw - D 13e + D 23s - D23 n)
b • b 2 0 '. b 61 46~(

A - Di2e + D 21n
"'" - 461] 46Ç
4. _ D12w D2tn
, nw - - 4.6.77 - 4.6.Ç
A - D12e D21 s
se - - 4..6.1] - 4..6.Ç
A - D12w + D21 s
,. S'W - 4.6.1} 4_.6.Ç
A _ Di:i e D31t
/e - 4.6./ + 4.6.Ç
A _ D13w D 31f
fw - - 4..6.~l + 4.6.Ç
(15.22)
4
_ D23n + Da21
• fn - 4..6.')' 4..6.''7
D 23s D 321
A f.• == - 4.6.1 - 4.6.·'7
A. _ Di3e D 31b
be - - 4.6./ - 46Ç

4
_ D i:i.v + D3Ib
"bw - 46"}' 46Ç
A,,... == _ D23 ,,, _ D32&
4.6.')' 46q
Ab~ == Dn~ + D a2b
46")' 46 ·17
O parâme Lro Q' possui sempre o m esmo sinal da velocida.de e varia de
- 0, 5 a O, 5, e nqua nto os va lores ele í:J variam de O a. 'l.. Adota-se, em geral, parn,
Obtençno das Equações A pro:1:imaclris 307

IT =O, 5 ou - 0, 5, 7J = O, e para a = O, (j = 1, caracterizando, neste último caso,


um problema puramente difusivo. Pode-se usar, obviamente, õ: = O, 5 o 7J = 1,
o que significa <~dotar uma int.erpolação upwind para os termos convocti vos e
diferença.s centrais para os difusivos. Isto, aparentemente, é inconsistente, mas
(• um procedimento l~i-gamentc empregado, quando se usam difercfüças fin itas.
Os termos de pressão são avaliados usando difercnç.as contra.is e, quando a
cq ua.ção de Navier-St okes estiver sendo considerada, são dados por

J., [P"'] = (Pe -


p 22.Ç
Pw) (Çx)
J p
+ (P,.,. - Ps)
22.·17
(']x )
"] p
+

(15.23)

L [Pv] = (Pt: - Pw) ( Çy) + (PN - Ps ) ( 1]y ) +


p 26Ç J p 26 71 J p

(15 .24)
(P,.. - Ps ) ('Y )
26')' J p

L[f""' ] =(Ps- Pw) ( {z ) +(P.:v- Ps) ( 1J" ) +


p 26.Ç J p 26.17 J p

(15.25)
(PF - PB) (Alz)
J p
26")'
O termo fonte também deverá ser aproximado numericamente. Sua ex-
pressão dependerá do t ipo de problema em considera.ção. Para um problema.
tridimensional para escoamentos de qualquer velocidade, sua apro~im'ação po-
derá ser vista em [72].

15.2.2 - Equação de Conservação da Massa


A equação de conservação da massa integrada no tempo e no volume ele-
mentar é utili7,ada para obte"nção de uma equação para a pressão ou para.
<'O rreçã.o da pressão, d0pendendo do método de acoplamento empregado. A
equação resultante para a pressão, ou sua correção, dependerá da formulação
emprega.da, se incompressível, ou compressível/incompressível. Neste texto,
conforme j á salientado, a for mulação para escoamentos de qualquer velocidade
será utilizada.. A equação de conservação da massa discret izada é dada por
M p-Mf, . . . . . .
~
·t
+ Me - Mw + A1,. - Nf, + Nl1 - l'vh =o (15.26)
308 C. R. Maliska

15.2.2.1 - A Formulação p<;1.ra Qualquer Velocidade

Esta formulação já foi vista, em detalhes, no Cap. 8. Aqui, ela será apli-
cada no contexto dos sistemas de coordenadas generalizadas . Na Eq. (15.26),
aparece, em todos os termos, o produto da massa específica (densidade) pela
velocidade. Se tanto a densidade quanto a velocidade forem variáveis do pro-
blema, e como ambas dependem da pressão, estes produtos representarão não-
linearidades importantes.
Para escoamentos inco1ppressíveis, ou onde a densidade é uma função só
ela temperatura, é possível linearizar a equação da. conservaçã.o da massa, man-
tendo a densidade nos coeficientes . Desta forma, tornando o fluxo de massa na
face leste corno exemplo, tem-se a seguinte expressão

(15.2'7)
Substituindo-se as velocidades por expressõés em função da pressão, ou
s ua correção, e levando estes termos à equação de conservação da massa.,
encontra-se a equa.ção para a pressão ou para a sua correção. Para escoa-
mentos compressívcis, os fluxos de massa podem ser lineari?:ados ele forma di-
ferente, mantendo-se, agora, as velocidades nos coeficient.es. Assim, tomando
novamente o fluxo na. face leste corno exemplo, a lincariza.çã.o resulta em

(15.28)
A equação para a pressão, ou sua correção, é obtida, agora, substituindo-se
as densidades por expressões em função ela pressão ou ele sua correção.
Para. regimes de qualquer velocidade , abrangendo a faixa de escoamentos
incomprcssívcis e compressíveis, conforme discut.ido no Cap. 8, a linearização
deve contemplar a manutenção da densidade e ela velocidade como a.tivas na
equação de conservação da massa. O fluxo na face leste lineariza.cio tem, então,
a seguinte forma .

(15.29)

É importante observar que a linearização acima contempla os limites in-


compressível e compressível. Por exemplo, quando o escoamento é de baixa
velocidade e a densidade pode ser colocada nos coeficientes, cancela-se o se-
gundo termo com o terceiro, resultando na linearização ela.da pela Eq. (15.27).
Se o escoamento for compressíveL permitindo que a velocidade seja acomodada
nos coeficientes, o primeiro termo será cancelado com o te11ceiro, resultando na
linearização ela.da pela Eq. (15.28) .
Com esta. linearização, os outros termos da. equação da conservaçã.o da
massa possuem a seguinte representação

(15.30)
Ú,~ = {(p* \1),. + (pV*),i - (p*V*),, }6.Ç6.1 ( 15.3 l )
= {(p* \1), + (pV~)s - (p*V .. ) }6.Ç6.-y
J\;J5 5
(15.32)
M1 = {(p*W)f + (pW*)1 - (p*W*)1}6.Ç6.17 (15.33)
1Vh = {(p*W)b + (pW*)b - (p*W*)b}6.Ç6.17 (15.34)

Substituindo os fluxos acima na equação de conservação da. massa, encou-


tramos

Mp - Mº ,
6.t - P + {(p* U),, - (p~ U).w + (pU')e - (pU*) .w} 6.·176.Ar+
{(p" \! )n - (p* V)s + (p\1* ),. - (pV * ) 5 } 6.f,6."( +

{ (p*W) f - (p" W)b + (pW" ) 1 - (plV*),, } 6.Ç6.T/ - (15.35)

{(p*U• )e - (p•U*)w} 6.116.í· - {(p•V*),, - (p~V " ) 5 } 6.Ç6.~r­

{ (p*W*) 1 - (p' w ~)b } 6.f,ê.17 =O


Observando a Eq . (15.35), constata-se que, para torná-la uma equação
para a prt'ssão, é preciso snbstituir as densidades e M component.cs do Vt'-
tor velociclade (sem estrelas) por exprl'ssões em função ela prC'ssão ou de sua
correção. Todas as outras variáveis qu<' possuem o sobn'scrito estrela fariio
parte do t ermo fonle ela <:! qua.çã.o para a pressão. A.s cxprcssÕ<'S da velocidade
e densidade cm função ela pressão são as chamadas cqtla<;ões de correção e são
dcp(mdentes do método d<' acoplamento emprega.cio.
Deve ser, l.ambém, observa.cio que as densidades e componentes do vetor
velocidade são necC'ssária.'> nas interfaces elo volume ele controle pa,ra a con-
servação ela massa. Se o arranjo desencontra.cio é ut.ilizado, é\~ velocidrtdes j á são
disponíveis nas interfacC's. As densidades, por outro la.do, in9epenclcnternen( ('
elo arranjo, est arão sempre a.rmazeuaclas no cent.ro cio volume c1e controle da
couservação da massa., junto com a pressão. Portanto, e' necC'ssário utilizar uma
função de interpolação para ckLenuina.r as densidad<'s nas intcrfaécs. A função
de int.erpola<;ão cmprngada (152] 0 ::;emclhaute à usada no mttoclo WUDS. As
expressões para as densidades nas interfaces são

Pt = ( ~ + 1r) PP + ( ~ -
e) 7 fJ E (15.3G)

Pw = (~ +'fw) + (~ -?w)
Pw PP (15.37)

Pn = (~ +1rr.) PP + (~ -1n) PN ( L5.38)

Ps= (~ +1's) PS + (~ -1's) PP (15.39)


310 C. R. Ma.liskci

PJ = (~ + 1'1)PP+ (~ - ;yt)PF (15.40)

Pb = (~ +'Yb) Pn + (~ -~b) PP (15.41)

onde 'Y é um parâmetro que vale +O, 5 e - 0, 5 para velocidades positivas e nega-
tiva.s, respectivamente. As Eqs. (15.36) a. (15.41) são semelhantes à Eq.(5.32) ,
com a particularidade d<' apenas contemplar o esquema upwind, uma ve-.i qu<'
11a equação da conservação da massa não existem termos difusivos para cálculo
de um coefi ciente ponderando os termos convectivos e difusivos. Desta forma,
o uso de 7 = ±0, 5 garante a positividade dos coeficientes da equação da. con-
servação da. massa .
Usando-se as expr<'.ssões para as densidades nas interfaces na Eq. (15.35) ,
encontra-se

m~pp + m~pe + m~pw + m~PN + m~ps + m!PF + m~PB+


(15.42)
U rr
m .e ue + mwU [T,., + 1n nV r11,,,· + m,.8V Vs + m 1W 1·x11 J. + .m,bW uH ;1, _- l1

onde

p
'lnp .6. V + ( 2
= Jp.6.I 1 +Te
_ ) rr• A "
V c l....l.'r/l..J,.''f -
( 1 -
2 - ) U"'w l....l.1]1....l.'}'
~lw
A A

(15.43)

(1 5.44)

(15.45)

1nP
n = (~2 - ;çln ) v n• D.t:t::.."'
<., 1 (15.46)

s =
m'P - (~2 + ;:;-ys ) vs•t::..i:t::.."'
'> 1
(15.47)
Obtenção das Eqiiações Apro:virnMlns Jl 1

(15.48)

(1 5.49)

(15.50)

U
niw = - {(l2 + 'Yw)Pw· + (12 - "f.,,,) pP*}A/\ LJ:17u.~i (15.51)

1nv
n = {(~+"!
2
* +(~2 -'V, ·n )p~r }.6.cD_·y
•n )pp }v ~ , (15.52)

rns\Í =- {(l2 + -) *+ (12 - -) *}A/\


~ls Ps ~ls PP D Ç D )' (15 .53)

(15.54)

mb\V = . - { (12 +ib-) *


Pa + (1 -)
2 - 'Yb Pp " }Au._Çú:IJ
A (15.55)

b -_ pf,D. •. W 1.lf * ( e 6)
J A V +meU ue+mwuw
r;* . Un*
+ .mn1n+m.
Vlf"' VV·*
8
. Wr.rí*
5 +rn1 n 1 +mb t, b l;:> .5
pu.t

Observe 'q ue, agora, dcv<.!rn ser introduzidas na Eq. (15.42) as ~xpressões
das densidades nodais e das velocidades nas interfo.ces como funções das pres-
sões. As funções que relacionam as densidades com as pressões serão obtidas
ela equação de estado, enquanto as expressões que relacionam as componentes
do vetor velocidade com as pressões serão obtidas das equações do movimento.
Deve-se salientar, novament.e, que, se o arranjo desencontrado for utilizado, as
velocidades já estarão disponíveis nas interfaces. Se o ;;1.rranjo co-localizado for
empregado, expressões para as velocidades nas interfaces deverão ser obtidas
cm função das velocidades nos centros elos volumes de controle. ~o momento,
admite-se que, ele alguma forma., a.s velocidades estão disponíveis nas fronteiras
cio volume de controle.
A seguir, serão apresentadas as equações de correção ele velocidade e den-
sidade para os métodos SIMPLEC [1 53] e PIUME [50].
312 C. R. Mrtli.'1k<t

15.2.2.2 - Método SIMPLEC - E scoamento a Qualquer Ve lodcl111l1•

Seguindo o procedimento proposto em (100], utilizando a Eq. ('I G. l!l) 11111


<P = 'U e <i> = 1i* e subtraindo-as, obtém-se
~ (Anbu'. ) L [P'"] D.f,.6.ryél:y
'U
e
= 'U *
e
+ L.,
A"·
nb _ ---''---------
Att.p
p

No método SIMPLE (100), o segundo termo do lado direito da Eq. ( 1r. "1 I
é desprezado. Para não desprezar as correções das velocidades vizinhas, rn1111
feito no SIMPLE, o método SIMPLEC (153] propõe desprezar a diferc11ç11 tl11
correções das velocidades vizinhas, subtraindo de ambos os lados da Eq. ( 1r, ·••1
a expressão 2: A,..btL~ . Desta forma., a equação re~ulta em

L[ P'"·] .6.f,.6.·116~1
= u:- - - - - " ' - = - - -
e
ti.e
A~ - L:A~b
ou

(15J1l1)

de onde se infere, com facilidade, por comparação corn a Eq. (15.58), a exprc·s~1111
- 't,
para de.
A Eq. (15.59) nada mais é do que a cqu;:\,ção de correção da velocid11d1·
u e foi obtida da equa.çã.o do moviment.o. Esta equação de correção , <l<'scl1·
que relacione correções da veloddacle com correções do gr<Kliente da pressa1 •.
pode ser de' qualqu<'I' natureza. Ohviam0ntc, é de grande auxílio no proCl'H~o
iterat.ivo se estas equações tiverem também um suporte físico, pois melhorn111
a convergência do método. Repete-se, aqui, o já comentado no Cap. 7, q1111
o resultado final do problema é, obvíamentie, independente das equações d"
correção das velocidades .
Imaginando, agora, que existam as componentes v e w armazenadas 1111
mesma interface e, podemos criar uma equação de correção semelha11te para. "
e w como

'Ve = v; - d;L (P'"J., êi.Ç (15 .60)

we = w•e - dwe L [P'wj e .ti.t:'> (15.61)


onde o valor de de é o mesmo para u, v e w, pois os coeficientes das cquaçõc•s
do movimento são iguais, uma vez que estão sendo avaliados no mesmo ponto,
e, doravante, terão o sobrescrito U, V e W, quando forem avaliados nas faces
leste e oeste, norte e sul , e posterior e anterior, respectivamente. As expressões
numéricas dos gradientes de pressão são dadas pelas Eqs. (15.23) a (15.25),
substituindo-se P por P' naquelas equações.
l•}mprega.uclo a Eq. (14.28) , encontra-se a componente contravariante, sem
11111111ali7.ação mét.rica, para a face leste cio volume de controle, dada por

(15.62)

1 p11ra a componentC' Uw, procedendo de maneira semelhant.e, encontra-se

{15 .63)

Cousiclerando, agora , as faces norte, sul, da frente e ele trás cio volume de
• 1111t.role, podem-se encontrar as equações de correção para estas quatro faces.
< '0111 estas velocidades e usando as Eqs. (14.29) e (14.30) determinam-se as
1•q11ações de correção para as componentes cont.ra:variantes sem norrna1iza.ção
111 <-trica, V e W, dadas por

- \/ { 6.P' 6.P' 6.P' }


V,. = v;; - d,. 0'21 6.~ + 0'22 6. ri + 0'23 t:.. i 6..r1 (15.64)
11

1fs = v·s - -v8


{ 6.P'
6,.~
6.P'
617
6.P' }
d . O'.:;n-- + 0'22-- + 0'23-- 6..17
61 s
(15.65)

{15 .66)

(15.67)

As relações acima devem ser introduzidas 11a Eq. (15.42) para obt.C'nção da
equação para a. correção de pretisão P' . Se as mesmas forem usadas na forma
apresent.a<la, . teremos uma equação envolw,uclo 19 pontos de pressi\o. P a ra
simplificar, e sabendo que as equaçõcHde correçiio não afetam o resultado final
do problema e, também, que os gradient.<'H de pressão mult.ipliéados por cr·i j,
com ·i diferente de :j, são pequenos, quando a não-ortogonalidade da malha não
for excessiva, podemos utilizar as scguintrs equações de correção

U,, = u; - d~ {a11 (P~ - P?)}e 6.Ç (15.68)


U,u = u~: - dw {0-11 (P;" -
-U
P{,\! )} w 6.Ç {15.69)
-V
V,, = v; - dn {o:n (P,~ - P;~)L, 6.-17 {15.70)
Vs =V * -
5 d~ { a 22 (P;, - Ps)} 5 6.17 (15.71)
W1 = Wj - dr (P~ - Pp)} 1 õ.~1
{a33 (15.72)

W" = W"* - d~ {ü33 (PI" - P~)}" D..~1 (15. 73)


314 O. .n. Mcili.skn
Desta forma, a equação resultante para P' terá apenas sete pontos: o
ceHtral e seis vizinhos, ficando bem ma is simples a solução do sistema Jincill'
correspondente.
Para a. t ransformaçã.o da E4. (1 5.42) cm urna 0quação para P' faH.a, ainda,
expressar as densidades em função de P'. Se, para expressarmos as velocidad<'H
em função <le P', ut ilizamos as equações ele conservação da quantidade dt•
movimento, parece lógico que, agora., seja empregada a equaçã.o de estado, qu<'
relaciona a pressão e a densidade.
Linearfaanclo a <~quação para a pressão, encontramos

p = CPP+B'' (15.74)

Considerando que para um campo estima do de P , ou seja P*, a corres-


pondente densida.de é p* , temos

p" = CPp • + DP (15. 75)

Subtraindo-se as cquac:õe:; a nteriores, encontramos

p = p* +CP P' (15.76)

onde CP, para o caso de um gás perfeito, é igual a 1/ RT. Equações de es-
ta.do pa.ra outras Silbsl;àncias podem ser empregadas e colocadas na forma da
Eq. (15.74).
As expressões necessárias para s ubstituição na Eq. (15.42) são

PI' = PJ:.>+ CP p;, (15.77)


pi:;= pj,+ CPPÉ (15.78)
Pw = Pw + CP P~v (15.79)
PN = P'N +CP PJ~ (15.80)
Ps = Ps + cPP5 (15.81)
PP= pj:. + CPPp (15.82)
PD = P8 + CPP8 (15.83)

Substituindo as <'Xpr<'SSõcs de U, V e W nas faces, dadas pelas Eqs. (J 5.68)


a (15 .73), e para p nos :;ele pontos, dadas pelas Eqs. (15.77) a (15.83), na
E-q. (15.42), obtém-se a equação paJ·a P' na forma

(15.84)

onde os coeficientes são dados por


Obtenção cfos Equações A 11ro~1;imnrill,,~ :} l !)

(15.85)

(15.86)
(15.87)
(15.88)
(15.89)
(15.90)

(15.01)

e, pa.ra o termo fo nt.l', tem-se

Nas expressões a.cima. os coeficientes d são da.dos por

- U -U
du = dp +de (15 .93)
r 2
-IJ - U
- U dp + dw (15.94)
d."' = 2

-V -V
ct.,. = dp +2 dN (15.95)

-V -V
-v dp + ds (1 5.9G)
els = 2

-W - W
de + dp (15 .97)
2

(15.98)

- \1
onde, por 0xcmplo, o C'OC'ficie nte dp é dado por
316 C. R. Maliska

d~ = ( 1 ) V 6.f,6./ (15.99)
Ar - LAN B p

que é obtido com os coeficientes da equação do movimento para a velocidad<'


v armazenada no ponto P.
A Eq. (15.84) pode ser, então, resolvida para. obter-se um campo dr
pressões P' que corrigirá as velocidades de tal forma que as mesmas satisfaçan1
a conservação da massa. Entretanto, para que as velocidades possam ser cor-
rigidas pelas Eqs . (15.68) a (15.73), é necessário determinar as velocidaclC's
contravariantes estimadas, como u;, v.;: etc., que aparecem nas equações men-
cionadas. Esta tarefa. é realizada a seguir.
Considere a Fig. 15.3, onde dois volumes elementares, um ceut.rado cm P
e outro em E, são mostrados. Para estes dois volumes, têm-se a.s componentes
ca.it esianas do vetor velocidade armazenadas no ce,nt.ros, isto é, nos pontos P
e E. Deseja-se obteJ a componen te contra.varia nte U* na interface e, mostrada
hachurada na figuni. A técnica, já discutid<t no Ca p. 8, consiste' em determinar
uma pseudo-equaçã.o para as componentes cartesianas u*. v" e w* na face e,
para dc'pois então determinar a componenL<' cont.rn.v ariaute u •.
Para as velocidades 'ti • cc•ntradas em P e E podemos escr0ver

Interpolando linearmente os termos das equaçôes 1\nteriores, excet.o os dois


últimos. obt ém-se

(Mf, :/vlf;) 11,~ 2L[P"[ 6.V} /


- {(AP)p + (A.p)d
(15.102)
onde se observa que o termo transicnte contém a velocidade na interface no
in~tant.e ant.('rior. Tal procedimento e vita que a solução de regime permanente
seja dependente do 6.t empregado. O gradient.e ele prc:::sã.o, t.ambérn, não so-
fre um procc•sso de mé'clia aritmética, sendo substit,uído por um gradiente de
pressão consiste11te, semelhaute ao usado quando o élrranjo d0sencout.rado de
variáveis é empregado.
Obtenção das Eqiwçocs Avro:i:irnada.~ 3 L7

Obtendo v; w;
e pelo mesmo processo, podemos determinar u;, usando a
equação que relaciona as componentes cartesianas e contravariantes. Nas outras
cinco faces do volume de controle o procedimento é idêntico, permit indo-nos
deter minar u,:, v.;:,
Vs*, Wj e Wb* . Lembre que estas velocidades serão usadas
no processo ele correção das velocidades contravariantes.

Fig. 15.3 - ObLcnção de u:.


Os sist.emáS lineares representa.dos pela Eq. (15.19) para </> = n, v, w e
T, pela Eq. (15.84) para a correção da pressão e pela equação de esta<lo p =
p(P, T) , form am a aproximaçA.o cio sistema de seis equaçõe:; a seis incógnit as do
problema do escoamento compressível e/ou incompressível tridimensional. No
procedimento de soluçã.o segreg~ida., uma possível seqüência ele solução é dada
abaixo.

1. Sendo o problema transiente, são conhecidos 110 instante t = O, ou


inst.a.ute ele t.cmpo n , os campos de p, P, T , u , v e 1Ú. Se o pseudo-
t.ra.nsiente estiver sendo empregado, estes campo:; são l'St.imados.
2. Estimam-se os campos de tt, v, w, P, Te p no instante t + 6.t, ou
instante n + 1. Logicamente, p, P e T devem s(l.t.isfaier a equação de
estado.
3. Calculam-se os coeficientes e termos fontes para as equações de u, v,
w e T. Estes cocficient.cs envolvem as componentes rnnt ra.v11riant.es
U, \/ e W. &t.as são calculadas com tt, v e w cst.imados no item 2.
Lembre que no cálculo do termo fonte para 11., '1' e w está envolvido o
operador L[P~], que é avaliado com o campo(\(> pressões P* cst.imaclo.
4. Resolvem-se os sistemas lineares para u. v e w. As soluções são os
campos estima.cios u*, ~, · e w'. Calculam-se U* , 11* e W * .
5. Calculam-se os coeficie ntes e o termo fonte para P' e resolw-sc' a
Eq. (15.84) .
6. Corrigrm-se as componentes contravariantes cio vetor velocídad<' t' n
clensiclacle, ut.iliz.ando o campo P'. É importante lembrar qu<', para
318 C. R . Maliska

realizar o processo de correção, é necessário obter as equações dadas


pela Eq. (15.102) e análogas. A correção das rnmponentes contra-
variantes dá-se a t.ravés elas Eqs. (15.68) a (15. 73) e, da densidade.
pela Eq. (15. 76) . ConhcC'endo-se as contrava.riant<.'S nas interfaces, é
possível calcular as co11travariantes no centro do volume de cont role e,
com estas , as cartcsiauas, se for ele interesse. É possívcL agor a., tratar
o acoplamento v , v, w, P e p e as não-linea.riclades para um ca.mpo d<'
T est.ima.do. Retorna-se ao it.em 3 e itera-se até a convergência . Neste
ponto, foi calcnla do 11 m campo de 'll, v , 111 , P e p q ue satisfazem as
equações de conscrvaçào da quantidade de movimento e massa para
um dado campo ele temperatura. As não-linearida des poderiam não
ter sido tratadas, considC'rando-se a.penas o acoplarnC'nt o u, v, w , P , p.
:"leste caso, a.o retornar ao item 3, apenas o t ermo L(P""J é recalculado
com o novo campo de pr0s.são dado por P = p• + P'.
7. Calcular os coeficientes para a equação da. energia. Resolver o sistema
linear e obter T. Com T, usando a equação de estado, calcular um
novo cam po ele p. Retorna-se ao item 3, calcula ndo-se a penas L[P <.?J .
Itera-se até a convergência . Neste ponto , calcula ra m-se os campos de
p, tt , v , P e T para um determina do conjunto de coeficienLes . R.etorna-
se ao item 3. recalculando os coeficientes e itera-se at.é a convergência.
Após este procedinwnt.o, temos a. soluç.:1.o pa.r n o instante de tempo
n + l. Se estamos c:aktila ndo um t.ransicntc real , f'Stes campos são
a nna.7.,enaclos e tomados, também, como estimativas para a. iteração
dentro do novo intervalo de tempo. A partir do item 2, então, repete-
se o procedimento, calculando-se a solução até o tempo desejado.

É lógico que, se a penas a solução de regime pe rma nente for de interesse,


as soluções elos sist emas linear es dentro de cada interva lo de t empo nã.o são
obtidas com critérios por demais restritivos. As iterações dentro dos sistem as
lineares, em cada interva lo ele tem po, devem ser avançadas até o limite de ga-
rantir a convergência do processo. Lamentavelmente, para estes procedimentos
iterativos não existem regras ou provas que garantam a convergência, sendo,
no caso, a experiência do analis t a numérico a ferramenta mais import ante.

15.2.2.3 - Método PRIME - Qualq u er Velocida d e

Ficar am evide ntes, no 11H4 todo SllvIPLEC , os dois passos no procediment o


pa ra trata r do a.copla mento, ist.o 6, o passo onde p, U, V e W são corrigi-
dos para sat isfazer a conservação da massa, e o passo oude o novo campo de
pre~sões é calculado via P = P" + P' . É im portante salientar, mais uma
v<'z, que, no método SIMPLEC, as equações de correção da velocidade são ex-
pressões quaisquer que não interferem na solução final, mas apenas na taxa
d<' convergência. A rccom<•ndação é o uso de equações ele correção de veloci-
dades o mais próximas possível das equações de conservação ela quantidade de
movimento, pois é exatamente cst<.' fato que acelera o proc<'SSO de convergência..
Obtenção das Eqiiações Apro:cimarlas 31 D

No método PRIIvIE, a estrutura iterativa é bastante simplificada, reali-


z;mclo-se os dois passos em apenas um, isto é, a correção das velocidades e a
determinação da pressão são realizadas simultaneamente. Conforme descrito
no Cap. 7, no método PRIME, as equações de correção das velocidades são as
próprias equaçõe10 do movimento. Estas equações discretizadas, escritas para
um volume elementar qualquer P, têm a seguinte forma:

A pt1. p = LA,,,1,UNB - L [P"] p


~V+
:.
S'f, (15.103)

A pV p=L A,,,, V N B - L [ Ê''l,~V + Sp (15.104)

Ap'Wp = L Anb'WN B - L [1:Jw] p ~ \! + S'f, (15 .105)

No método PRIME, a equação de correção é escrita como

uP = uP - L [fa·t•]P ~V (15. 106)

onde up é dado por


, ==
L Anb'lLN
tt. p-------
B + Sp"·
(15.107)
Ap
Pode-se observar que a equação de correção, Eq. (15.106), é a própria
equação de conservação de quantidade de movimento. Equações semelhantes
podem ser escritas para v e w como

(15.108)

Wp = Wp -
A L [PA""] PL..l.V
A l ' (15.109)

Se estivéssemos trabalhando com o arranjo desencontrado e com coorde-


nadas cartesianas, as Eqs. (15.106), (15.108) e (15.109) seriam escritas para as
seis faces do volume de controle e substituídas na. equação de conservação da
massa. obtendo-se uma equação para a. pressão. Esta equação para a pressão,
quando resolvida. permitiria a correção das velocidades, dadas pelas equações
acima mencionadas e seria o campo de pressões para aquele nível iterativo.
Como se deseja aplicar este procedimento para o arranjo co-loca.lizado e co-
ordenadas generalizadas. duas questões devem ser preliminarmente resolvidas.
A primeira delas é obter uma equação aproximada, semelhante à Eq. (15.106),
para as velocidades nas interfaces do volume de controle no qual se realiza o
balanço ele massa, na forma

(15.110)
320 C. R. Maliska

Ve = Ve - L [f>v ] e 6. V (15.111)

'We = ú),, - L [f>w ] e 6. V (15.112)

Reportando-se novamente à Fig. 15.3, onde vemos os volumes elementa-


res centrados cm P e E, para os quais temos as equações de conservação de
quantidade de movimento escritas, podemos obter uma expressão para 'fie, na
forma

[P t::,.vl
0

6t p +P
0
6vl
6.t E+ L (Anh)E + L (Anb)p]
(15.113)
onde os subínclices P e E significam que os termos pertencem às equações do
movimento escritas para. os respectivos volumes de controle. Equações seme-
lhantes podem ser obtidas para Ve e We·
A segunda é obter, utilizando as componentrs cartesianas, as componen-
tes cont.rava.riantes, pois estas são necessárias no balanço de massa, quando
coordenadas generaliza.das são empregadas. Usando as expressões do Cap. 14
que relacionam a.5 component,es contravariantes e as cartesiana.e;, obtém-se, por
exemplo, a expressão para a componente Ue como

(15.114)

onde- L é a aproximação numérica. dos gradientes de pressão combinados das


três rquações do movimento para. as componentes cartesianas. É fácil de ver
que tal operador envolve os gradientes de pressão nas t.rês direções do sistema
de coordenadas generalizadas.
As expressões para Uw, ~1. • Vs, WJ e w,, podem ser obtidas de modo
semelhante. Introduzindo estas seis equações , junta.mente com a equação para
a densidade na forma
p
p= - =CPP (15.~15)
RT
na equação de conservação da massa, obtemos uma equação para a. pressão do
tipo
Obtenção das Equaç6es A prox·imMlri.~ :32 1

(15.116)

Deve ser observado que, para. um problema tridimensional, a equação da


pressão terá 19 pontos. No método PRIME, rigorosamente, não podemos des-
prezar os gradientes de pressão nas direções cru7.adas, pois a pressão resultante
da solução da. Eq. (15.116) é a solução buscada para aquele nível iterativo. A
correção elas velocidades com este campo de pressão nos fornecerá as velocida-
des que satisfazem o b}tlanço de massa.
Um ciclo iterativo para o método PRiivIE pode· ter os seguintes passos:

1. Sendo o problema t ransiente, são conhecidos no instante t, ou instante


de t empo n, os campos de p, P , T, u. e v. Se o pseudotrausiente estiver
sendo empregado, est es campos são estimados.
2. Estimam-se os campos deu, v , P, T e p no inst ante t+D.t, ou instante
n+ 1. Logicamente, p , P e T devem satisfazer a equação de estado. O
valor de p é tomado como p* , e U* e v • são calculados com os valores
de u e v estimados.
3. Calculam-se os coeficientes e termos fontes para as equações de u. e v.
4. Calculam-se Ü, V e 1"1. A determinação de Ú, V e W é explícita, isto
é, feita ponto a ponto. É importante repetir que Ú, V e lV contêm
t.ocla a equação do movimento, exceto os termos de pressão.
5. Calculam-se os c9eficientes e o termo fonte para a pressão. Resolve-se
a Eq. (15. 116) para P.
6. Corrigem-se as velocidades contravariantes usando a Eq. (15.114) e
suas análogas para Uw, V.i, Vs, Vl' J e Wb· Calcula-se um novo campo
de deusidades. Neste ponto, temos um campo de velocidades e den-
sidades que satisfazem a equação de conservação da massa. Os coefi-
cientes ainda não foram atualizados.
7. Retorna-se ao item 3 e itera~se até a convergência. Neste i)onto, temos
campos de u , v, w, p e P que satisfazem as equações de conservação
da qum1tidade ele movimento e rnassa para um claclo, car~po de tem-
peratura.
8. Calulam-se os coeficientes para a equação da energia.. Resolve-se o
sistema linear e obtém-se T. Com T, ca.lcula-se um novo campo ele
densidade. Ret.orna-se ao item 3 e itera-se até a convergência. Nest e
ponto, temos a solução para o instante de tempo n + l.
9. Volta-se ao item 2 e repete-se o procedimento para o novo intervalo
de tempo e assim, suce:ssivamente, até obter a solução para o tempo
desejado.

Um detalhe importante do método PRll\ilE é a solução das equações do


movimento que é realizada de for ma explícita através do cálculo de ft. e v.
Por esta razão, o processo it erativo mostrado envolve a solução de apenas dois
sistemas lineares, um para P e outro para T , em cada ciclo itera tivo.
322 C. R. Maliska

15.3- Condições d e Contorno


A aplicação das condições de contorno de um determinado problema físico
é a. parte mais importa.nte da. modelação numérica. A não ser para problemas
acadêmicos, em geral, a aplica<.:ão das condições de contorno requer o conheci-
mento adequado da física do problema, a qual nem sempre é de idcntificl'l.ção
clara. Saber escolher corretamente as condições de cout.orno, de tal forma que
não destruam a qualidade da solução desejada, faz parte da experiência em
resolver problemas ele eugenharia.
No Ca.p. 6, foram apresentadas duas formas de aplicar as condições de
cont.orno: o uso de pontos fictícios·e a integração das equações ele conserva.ção
para os volumes de fronteira. Kesta seção, apenas relembraremos o segundo
procedimento, procurando somente discutir aquilo que diz respeito ao uso ele
coordenadas não-ortogonais, uma ve7. que o procedimeuto é o mesmo descrito
no Cap. 6.

'Y

Fig. 15.4 - Condições de cout.orno na face leste.

A técnica natural pn.ra aplicação das condições de contorno, por ser con-
sistente com o procedinwnto adotado para os volumes internos, é realizar um
halanço da propriedade em consideração para o volume de fronteira, incorpo-
rando a condição de contorno à equação aproximada do volume de frontcirn.
O procedimento é idêntico ao realiza.do para os pontos internos, isto é,
integxar a. eqi.tação diferencial na forma conservativa sobre o volume de fron-
t.eira. Considere a Fig. 15.4, onde uma fronteira leste é representa.da. Deve
O/Jtenção da.s Eq1Uiçõcs A pro:r.ima.1fo..~ :11:1

ser lembrado que estamos usando variáveis co-localizadas e, portanto. todas


as variáveis estão no centro do volume de controle. A Fig. 15.5 mostra a
mesma situação com um corte, para que o volume interno W possa ser visto.
Ainda para ajudar a visualização, a Fig . 15.6 mostra uma superfície elo cort.c
(1 = constante), denominada ABC D.

F ig . 15.5 - ConcJiçÕ<'S de contorno ua. f'a<:c lest e .

Considere, também, a Eq. (15.1), onde apenas os tcrmo.s convectivos e


difusivos em Ç são considerados e dados por

,~. ·)
D ( pu<j>

e

onde devo ser observado que o t.crmo entre parêntC'ses na última expressão
representa o fl uxo difusivo que atravessa u ma face 6.116.~,,. Em outras palavras,
o termo entre pa.rêlltcscs é a derivada normal de </J em uma superfície de Ç
constante.
Para obt<'l· a equação discretizada para o volume centrado em P, dC'vcmos
integrar a equação de conservação . Para exemplificar, integrando apcuas os
termos convectivos e difusivos, encont ramos, para o termo convectivo,
324 C. R. M aliska

e, para o termo difusivo,

-ô ( r "' Ja11-+rq>J
â<P . cr12-+ ô</>)
â<i> r ef> Ja13-
âE, âÇ Ô17 Ô/ e

(15.117)

Para os termos avaliados em w, o procedimento é idênt.ito ao aplicado aos


volumes internos, pois estas fronteiras são internas e uma funçã.o de interpolação
deve ser empregada. Para ~. face e, clcw~-se s ubstituir o fl uxo convectivo e o
difusivo pelo existente na fronteira. Não é demais enfatizar que a aplicação
das condições de contorno em uma me todologia em volumes finitos resume-se
em especificar os fluxos convect.ivo e difusivo nas fronteiras. Sempre, qualquer
condiçã.o de contorno recairá na aplio tção ele um flu xo difusivo ou convc<:tivo na
front.('ira . Os div('rsos t ipos de condições de contorno são, a seguir, analisados.

A B

/
I

I
I
NW N ' ne

w w p • e

sw s se

\ D
e
Fig. 15. 6 - Corte J\JJC D da Fig. 15.5.
15.3.1 - Fronteira Impermeável - (pU</>) = O

1 5.3.1.1 - <i> P 1·escrito

Para est e caso, o fluxo difusivo de </> na face e, ou seja, o valor entre
parênteses na Eq. (15.117}, deve ser a proximado, empregando-se os valores de
</> prescritos na fronteira. Por exemplo, se uma distribuição de </> é prescrita
sobre a fronteira leste (Ç = constante) , as três derivadas que aparecem na
Eq. (15.117) devem ser avaliadas. Tem-se, então,

(</>e - <f>p)
ª<l>I A€
(15.118)
éJÇ e 2
ef>ne - Pse
éJ<i> 1
817 e
= 2t:J.ry
(15.119)

Ô</> 1 =</Jf e - ef>be (15.120)


Ô'Y e 2t:J./

onde </>ric. </>e, <Í>sr , </>f. e </>be estão sobre a fronteira e são conhecidos, pois </> é
prescrito. As Eqs. (15.118) a (15.120), quando int.rocluziclas na Eq. (15.117) ,
permitem obter a equação a proximada para o volume de fronteira. Observe
que a equaçf\o rc:mltante não envolverá. pontos fictícios~

15.3.1.2 - F luxo de </> P rescrit o

Lembrando que, na Eq. (15.117) , a expressão ent.re parêntes<'s é, exata-


mente, o fluxo dt' <P por unidade cie área, multiplicado pela iirea, e que atra-
vessa a face leste do volume ele controle, basta substituir, diretamente, o termo
entre parê~itcses pelo valor prcRcrito. Esta é, como j á comentadoºno Ci'\p. 7, a
condição de contorno nat.ura.I i1 0 rnélodo dos volunt<'::> finitos.'

15.3.2 - Fronte ira com Fluxo de Massa

Neste <"aso, duas situaçô<.'s são importantes: a de entrada e a de saída de


massa do domínio.

15.3.2.1 - Entrada de Massa com pU Conhecido

Reportando-se novamente á Fig. 13.5, considere uma entrada d(' massa


conhecida pel;\ fronteira leste (e). Neste caso, não pode existir fluxo difusivo
nesta face, pois, se existisse, o mesmo estaria afc't.;:i.u do a. distribuição d(' </>
a montante e, portanto, não seria possível prescrever o fiuxo couvcct.ivo. 1': 111
326 C. R. Maliska

outras palnvra5·, a fronteira do domínio de eálculo não poderia ter sido escolhida.
naq11ela posição. Corno, com entrada ele massa em uma front eira, o valor
de </> é em geral prescrito, o valor <lo fluxo difusivo de </> deve ser prescrito
nulo. Repetimos que, CMo o analista numérico "sinta" que o fluxo difusivo
é importante naquela fronteira, isto significa dizer que o local esrolhido não é
adequado para. prescrever condições de contorno. A fronteira. deve ser reruovida
at6 uma posição onde, claramente, as coudições de contorno sejam disponíveis.
É uma importante tarefa da modelação matemática escolher adequada-
mente as fronteiras cio domínio ele cálculo e as respectivas condições ele .con-
torno.

15.3.2.2 - Saída d e Massa com pU Não Conh ecido


Para o caso de saída de massa, a condição usual é pr<'screv<'r para </> a
condição localmente parabólica. Como a própria condição indica., o fluxo ele
ó difusivo local também deve ser prescrito nulo. Novamente, aplicam-se os
comentários ant<'riores.
Para a.s componentes cio vetor velocidade, que em geral possuem condições
de contorno de Dirichlet , o uso de pontos fi ctícios, principalmente em situações
tridimensiona.is, é também aconselhável. Em prnblemas físicos, não temos a
prescrição do fluxo de quantidade de movimento nas front<>iras (que é análogo
a prescrever a tensão de cisalhamcnto), a não ser quando a fronteira é uma
linha ele simetria do escoamento. Neste caso, este fluxo é zero.
Considere a Fig. 15.7, onde um volume fictício P é mostra.do. Como o
volume físico "\IV agora será considerado como um volume interno , uma equação
deverá ser obtida para o volume fictício P, na forma

Ap</Jp = A w</>w + B (15.121)


Para o caso de </J prescrito, tern-se

= 0,5 (</Jp + </>w)


<f>u: (15.122)
de onde se tira que Ap = 1, Aw = - 1 e B = 2<f>w ·
Para. fluxo ele <f> prescrito, a utilização de volumes fictícios com coordena-
das generalizadas não é recomendada, pois é difícil representá-lo através dos
gradientes de rjJ cm três direções que envolvem pontos fictícios . Para esclf\.recer
este ponto, considere a situação bidimensional dada pela Fig. 15.7, onde se
deseja prescrever a seguinte condiç<1í.o de fluxo

q" = r<,Sª~I
ân,,,
(1 3.123)

A expressão da derivada normal em uma linha de Ç constante é da.da por

Ô</> 1 = J ( a2J. -â</J - a - .1.~ fJ-.â<i>)


-:; .- (15.124)
ân w âÇ 817 w
Obtenção das Eqnrições Av1·o:i;irnacfos 32i

onde a e (J, neste caso, representam as componentes do tensor métrico ll'11 e


l\'12. Aproximando as derivadas por diferenças finitas, encontramos a equação
para o volume fictício P, dada por

í3 [:,.E, q" 6Ç
<f>p= <;!>w + ;._ ,'\ _(<i>N+</>Nw-<i>s - <Psw ) + & ~ (15.125)
a 4 Ll'IJ r~ .Jü ·
f1 • •
Ob::;erva.-se, neste caso, que os pont,os fictícios vi:d nhos t.ambém tornam
parte na equação, justament<' pelo fato de o sistema: coordenado ser não-or to-
gonal. Estes pontos terão que fawr parte do sistema linear de forma implícita,
amnentando o ta.n1anho da matriz. P ara uma. sit.uação tridimensiona.!, fi ca
ainda mais complexo. Por esta r azão, o que é normalmente feito, na aplicação
das condiçÕL'S de coutorno, é o uso de pontos fictícios para as velocidades,
que possuem quase sempre condições de Dirichlet, e o uso de balanços para a
eqtrnçã.o da energia e conservação da massa. Ou empregar o método do balanço
parn. todas as variáveis.

\ --,
\
\ '.-------\
--1
--- Fronteira.

• NW •N 1
-- 11
•W w •P 1
-- I
• SW •S I
I
--/
I
1 __ J

Fig. 1 5. 7 - Uso de volumes ficLícios.

Apenas para relembrar, para a equação da conservação ela massa, ou


equação para a pressã.o, as condições ele contorno são obtidas observando-se
as condições de contorno existentes para. a.s velocida.<les naquela. fronteira.. Por
exemplo, considcra.nclo-se na Fig. 15.G a realização do ba lanço de massa pnrn.
o volume P, para determinar a. equação para a pressão, o fluxo J1efc entn'l. na
equaçã.o com seu va.lor conhecido d<\ condição de contorno, e não através d<' 11111a
equação de correção de velocidade, corno é feito para as faces internas. D<•sl a
forma, obviamente, a condição de contorno já está incorporada na cquaçao
discretizada, sem necessidade de pontos fictícios [50].
328 C. R. Maliska

15 .4 - A Técnica de Multiblocos
Em muita.s situações, não é possível gerar um sistema coordenado cur-
vilíneo cujo mapeamento se dê em um bloco único. Geometrias com protu-
berâncias, conforme diRcutido no C;\p. 11 e mostrado na Fig. 15.8, necessitam
de uma discrctização formada por dois sistemas coordenados independentes,
neste caso, formando dois blocos. O uso de multiblocos evita. a técnica de gerar
uma malha que englobe toda a geometria, com o posterior bloqueio de volumes
que se encontram fora da superfície. O número de volumes bloqueados, e sem
atuação, é quase sempre comparável ao número de volumes úteis. Na solução
usando multiblocos, o problema é resolvido iterando-se entre os dois domínios,
conforme mostrado na Fig. 15.9.

A
r-- -.--- -. B

~.-.---.~
1
G
1 H

1
\
E F

F ig. 15.8 - Discretização em multiblocos.

Ao resolver-se as equações no domínio G H J J, observa-se que, ao longo


d<'! CD, a~ cpndições de contorno não são conhecidas. Usa-se então, como
condições de contorno, a solução ao longo de C D , obtida quando o problema for
resolvido no domínio ABEF, uma vez que CD, neste domínio, é um segmento
iuterno. Por outro lado, ao resolver-se o problema. no domínio ABEF, os
valores das variáveis dependentes ao longo de CE e D F são requeridos como
condições ele contorno. Estas condições são obtidas ela solução do domínio
G H I J, uma vez que CE e D F são segmentos internos neste domínio.
O uso de multi blocos associado a coordenadas generalizadas co11fere grande
versatilidade para o tratamento de geometrias bastante complexas, pois é possí-
vel pa.rt.idonar o domínio, encontrando blocos nos quais malhas simples podem
Obtenção <i<L.9 Equações A71ro:1:i11uufo.~ :sw
ser geradas. A geração da malha fica, portanto, simplificada. Os algoril.mo:-1
usa.cios são aqueles de bloco único aplicados diversas vezes sobre blocos difer<'ll-
tes. A única dificuldade que pode apa.recer é com relação à. convergência, pois
as informações devem ser transferidas de bloco para. bloco.
A forma. de t ransferência de informações é, conseqüentemente, wn detalhe
importante da metodologia usando rnultiblocos. Uma destas formas, conforme
descrit.o pa.ra o domínio da Fig. 15.8, é o uso de superposição de volumes dos
domínios envolvidos. Esta técnica é bastante eficiente, pois o acoplamento
e ntre os dois domínios envolve muitos volumes. Quanto major o número de
volumes coincidentes com os dois domínios, mais eficiente é a transferência de
informações e mais estável o procedimento iterativo.
A B

-
e
G
' I --- º H
e D
1 1
1 1
1 1

--
1 1

·- 1
1
1
1
r
1
1 E7 F' 1 1
1 1
1
E F

Fig. 15.9 - Domínios usados para solução.

Entretanto, o que se busca é evit;;\r, ao máximo, a. superposição de volumes,


para eco1~omizar memória e para tornar ainda mais geral o paúicionamento.
Nesta técnica, o processo de transferência é mais delicado e à quest~chave da
metodologia.
A primeira técnica citada, a. que ut.iliza. volumes superpostos, foi empre-
ga.da, usando coordena.das generalizadas para a solução de escoamentos cm
bifurcações de geometria. irregular (154,156). Apesar de esta técnica ser ex-
tremamente simples, cuidados devem ser tomado~, como, por exemplo , a.o
atribuir-se o sinal das variáveis nos contornos de transferência de informaçõos.
Reportando-nos novamente à. Fig. 15.8 e considerando que exista um cscon-
mento entrando pela fronteira GI, as velocidades na linha CE deixam o volu1111•
elementar. Ao se implementarem estas velocidades como condições de contorno
do domínio ABEF, elas estarão entrando no domínio. Dependendo do sist.C'111n.
de eixos usados para os dois domínios, o sinal da velocidade pode mudar 11,0
passar de um domínio para outro [154].
330 C. R. Maliska

A segunda técnica não usa superposição de volumes. As Figs. 15.10 e 15.11


mostram duas sit uações desta natureza. A primeira. é quando na interface existe
a coincidência das malhas dos dois domínios e a segunda, onde as ma.lhas dos
dois domínios são completa.mente diferentes. Os dois casos serão chamados,
respect.ivamente, ele volumes coincidentes e volumes não-coincidentes.
A metodologia. a seguir descrita foi aplicada a problemas invíscidos empre-
gando pontos fictícios para a aplicação das condições de contorno em cada
bloco [75,87) .

Fronteira entre os
blocos 1 e II

, ,~ -
~:
- 1

w !Uw p
• --iw- •
- 1
a 1~ b ..
1 1
' Bloco I Bloco II

Fig. 15.10 - Interface com volumes coincidentes.

15.4.1 - Volumes Coinciden t es

A transferência de informações, como já com0ntado, 11/'tda. mais é do que


a aplicação das condições de contorno parã um bloco, em fun ção dos valores
disponíveis para o outro bloco. Para o caso de volumes coincident.cs, e com
o uso de pont.os fictícios para aplicação das condições de contorno, o volume
cC'ntrado cm P cio bloco II é o volnme fictício do volume W do bloco 1. Logo,
as distân cias a e b devem ser aproximadamente iguais. Diferenças de até 20%
sã.o toleráveis.
Corno em problemas de escoamento de fluidos a t ransferência de infor-
mações no domínio se dá através cio campo de velocidades, a transferência de
informações ele um bloco para out.ro deponde, fondamcnt.almente, do sentido
do escoamento na interface entre os blocos. As seguintes questõ<>s devem ser,
então, respondidas:
Obt.enção das Eqtw.ções Avroxima<la.~ :!:} 1

a. Como especificar os escalares efi na interface?


b. Qual valor de pressão será usado para avaliar o gradiente de pressão
para a equação de movimento escrita. para o volume centrado em W'?
c. Como avaliar a velocidade contravariante na interface, uma vez que o
arranjo é co-localizado e a mesma está. disponível em W?
Considere, inicialmente, o escoamento saindo do bloco 1 e, portanto, en-
trando no bloco II.
A avaliação de qualquer escalar </> na interface é fei t a como normalmente,
isto é, usando-se urna função de inLerpolaçã.o unidjmensional entre W e P,
empregando-se como valor de <P cm P o valor obtido quando ela. solução cio bloco
II. Se esquemas do tipo WUDS [115] forem empregados para altas velocidades,
teremos o -esquema tendendo a upwind, jogando , então, sobre a fronteira os
valores de <i> existentes em W.
Bloco 1 Bloco II

~.--1f----1 --- - - -----


W Uw1 . 1P •2:
• ~ . 1

~--+------t ---!.L - -!.~J

Fronteira entre os.


blocos I e TT

Fig. 15.11 - fnte rface com volumes não-coincidentes.

Para o ,valor ela pressão em P é toma.do o valor calculado para a pressão


neste ponto, quando da. solução do bloco II. Se for a primeira iteráção, come-
çando pelo bloco 1, assume-se o valor estimado para a vari{wer. As sucessivas
iterações entre blocos corrige o valor da pressão .
A terceira. questão listada anteriormente requer a determinação da velo-
cidade c.ont.ravariante responsável pelo fluxo de massa na interface. P ara esta
avaliação, quando a int.erface é interna ao domínio de solução, já vimos nos
Caps. 7 e 15, uma equação aproximada para as componentes cartesianas é
criada em função das equações nos pontos nodais. Com as componentes car-
tesianas, calcula-se a componente contravariante desejada. Tal implementação
seria complexa ern se tratando de uma interface entre dois blocos. A sim-
plificação adotada é atribuir às componentes cartesianas os valores existentes
em W e calculai· a componente contra.variante utilizando a.s métricas da. inter-
face. A componente contravariallte é atualiza.da cada. vez que as velocidades
são determinadas em W.
332 C. R. M aliska

Considerando. a.gora, o caso em que o escoamento está entrando no bloco


I, tudo se passa como se tivéssemos uma fronteira com entrada de m<tssa, crn
que todas as variáveis são prescritas e obtidas da solução do bloco II. Colllo
estamos a plicando condições de contorno via pontos fictícios, basta atribuir a.o
ponto fictício ele W, que é volume P do bloco II, o valor do escalar <t> calcula.do
em P com a solução do bloco II.
P<t.ra a a.valiaçã.o da componente contra.variante do vetor velocidade e11-
trando em I , segue-se o mesmo procediment o anterior, isto é. calcula.m-se as
componentes cartesianas na interface, usando os valores dest.as component.c::;
cm P. Com as métricas ela interface, calcula.-::;e a componeute contra variautc.
Pode-se observar que o procedimento aplicado para cada bloco difere muit.o
pouco cio procedimento aplicado quando a soluçào é de bloco (mico.

15.4.2 - Volumes Não-coincidentes

O procNlimento para volumes não-coinciclcutes difere daquele c•xplicado


anteriormente apenas no cálculo dos valores ela variável </> no ponto P. Agora,
como o pon~o fictício P do volume W do bloco I não coincide com um dos
pontos elo bloco II, seu valor é c;Jlculado com uma interpolação bilinear. envol-
vendo os pontos 1, 2, 3 e 4. Para problemas bid imeusionais, o prorcd imcnto
de interpolação é simples. Para situações tridimensionais, c•sL.a int.<•rpolação
consome excc•ssivo tc·mpo ele• computação. Uma simplificação que conf<'re bons
resulla.dos é atribuir ao ponto ficLício P o valor da. variAvel exist.entc 110 ponto
mais próximo de P. A aproximação vai se t ornando menos grave quanto mais
refinada for a malha. Como cm soluções ele problema.5 reais, em gera.!, a. malha
é razoavelmente bem refinada, o proc<xlimento não a.presenta coutrA-inclicélçôc:-:1.
Resultados utilizando esta metodologia para malhas divididas em até qua-
tro blocos, com volumes coincidentes e uão-coiucideut.cs, pum a solnção d0
escoamentos supersô11icos iuvíscidos, podem ser vistos cm (75,81"].
É possível associar à. técnica de multiblocos a solução de equações dif"<'-
renciais distiutas pa ra cada bloco , fazendo-se uso da física do prol 1lema no
momento da <'Scolha dos blocos. Uma r<'gião onde o cscoam<'11to é, por ex<'m-
plo, parabólico pode ser resolvida utilizando-se esquemas num{•ricos adequados
a este fenôm<'no, diminuindo o tempo d<' computação. É claro que o controle
do algoritmo fica majs sofis ticado.
Finalmente, podemos dizer que a discretização por multiblocos é uma dis-
cretização não-estruturada discreta. O limite, quando cada bloco se constitu ir
em um volume elementar, dá origem às malhas não-estrut uradas, nosso assunto
do próximo capítulo.
Obte11.çâo das Eqwiçóe.~ A 711·0:1:iw .111Los :1:1:1

15.5 - E xercícios
15.1 - Use a forma bidimensional da Eq. (15. 1) e, passo a passo, obtenha
a 0quação aproximada p:i.ra a variável <!>para um volume interno. Use a mesma
função de interpolação empregada para a equação na form;1. t.ridimcnsional.
15.2 - Ainda usando a forma bidimensional da Eq. ( 15.1), obtenha a
equação aproximada para. <i> para o volume de fronteira P, que pode ser visto
na Fig. 15.12. Na fronteira, que nã.o tem entrada de massa, </> é uma função
prc•scrita, ou seja, com os va.lores conhecidos cm w, wN e wS.

Fig. 15.12 - Prob. L>.2.

15.3 - A equaçã.o pa.rn o volume P, ded11zidn uo cxerc1uo 15.2, não


('Hvolvc as variáveis no" vohuucs NliV, H! e S lV. LogicameHte', <'11rn.ndo o volume
c•st.iv0r 11a fronteira nortr, n ~o t.omarão parte na. equações os volumes N, N E e
N W. Parà um mesmo tipo de concliçáo d<• c:o11torno. por <'X<'mplo' <!> prescrito,
procure uma. expressão para os ('O<'Íki<'ntes da equação disnNizada que possa
ser empregada tanto para os volum<'s i11ternos como para O.'> d<' fronteira [54,69].
15.4 - Obtenhé\ a equação para P' para um volume interno, C'011siclerando
um escoamento bidimensiona l incompressível e usando o m~t.odo SL.VIPLEC.
Faça, t.ambérn, a equação pant nm volume ele canto onde a vdocidade é prescrita
nas duas foces de fronLeira..
. _ - u -·u -:t.· - ·p -·1v /
15.5 - Liste HS cxprcssoes ele de, d."', d,,,,. d8 , clf etc., para os metoclos
SIMPLE e SIJ:VIPLEC para os arranjos co-localizado e clesenwntrado.
15.6 - Para. iniciaJ· o desenvolvirnent.o de program<:lS computacionais
cm <·oordenadas generaliza.das, recomenda-se começar com programas simpks.
Faça um programa. para resolver problemas de condução bidimensional co111
temperatura. prescrita nas fronteiras. Estruture o programa de tal forma a
ser possível introduzir, na seqüência, os termos convectivos. Lembre que as
334 C. R. M aliska

métricas da t.ransformação devem ser cakuladas em uma sub-rotina indep<'n-


dentc 0. fornecidas à.~ sub-rot.inas que resolvem as equações difrrenciaiH.
Pa.ra c011ferir os result.ados, use inicialmente uma malha cartesiana, n'-
solva o problema da Fig. 10.2 e compar<' sua solução com a. Malítka dada
pela Eq. (10.7) . Com a malha cart.l)Siana. uão é possível testar os termos não-
ortogonais da equação . Para ist.o, distorça a malha cartesiana e resolva o mesmo
problema. A solução, indepenclen!.emenr.e do tamanho da malha, eleve ser a
mesm a.
15.7 - Introduza , agora, os t.ennos convectivos no programa e resolva o
problema da c:avida<k' quadrada com uma parede em movimeut.o. Depois deste•
teste, incline a cavidade, r<'solva novamente o problema e confira os resultados
com aqueles mostrados no Cap. 1i.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Malhas Não-estruturadas

16.1- Introdução
O capítulo anterior mostrou que o uso de mult.iblocos é uma alt.ernativa
interess;u1t.E' para resolver problemas cm geometrias complexas, utilizando toda
a met-0dologia numérica desenvolvida para. malhas estruturadas. MêÜOr versa-
t ilidade ua. discretização de domínios complexos pode, ainda, ser conseguida
usanclo-s<' malhas não-<'struturadas. A adaptação e o refinament.o ele malhas
cm regiõcr-; específicas do domínio s~.o alcançados com maior facilidade através
de malhas não-estruturadas. Por outro la.do, com pssas malhas, crescem em
complc'xidacle os algoritmos para a solução das equações discretiMdas.
Como em malhas não-est rnt ura.das não existe uma lei de for mação para
nurner;:ição dos volumes elementa res, o uúrnero de vizinhos pode varia r de vo-
lumo pa1·a volume, cria ndo mat.rizes de coeficientes ele banda variável, conforme
discutido na seção 11.2. Conscqüent.emm1te, os mét.odos de soluçfto de sistemas
lineares com ma triws de banda variáv<'l são mais C'laborâdos. O ordenamento,
que é- um procediment-0 t1ivial em ma.lh as estruturadas, assume grande im-
portâ ncia em malhas não-estruturadas. pois a largura da banda da matriz de
coeficientes é dependente da natureM do ordenamento.
O uso de malhas náo-estrutura.das sempre <'steve associado ao método
dos elenwnt.os finitos. g<'ralmente c111pregando ma lhas triangtÍlar-es. Um cios
trabalhos pjoneiros utilizando volumes finit.os cm malhas t.riangulares é o de
W inslow [158]. Rec<•1it.<'mente, um grande esforço de pesquisa vem· scudo feito
para o d0senvolvimc11t.o de métodos numéricos para er-;coamento de flu idos ond<•
malhas 111'0-estrutnra<las são us<'l.cla.:; juntamente COlll o método dos volumes
finitos [8,9,107,126]. Resumos dessa.<; met.oclologias. rscritos por Schneider e
Baliga e P a.t.anka.r. podem SC'r encontrados em [35).
Tais métodos têm recebido a denominação de ·' Coutrol Volume Baseei F i-
nite Elcment Methocl", 0111 primeiro lugar, pelo uso de malhas n ~.o-est.ru turadas
tria.ngulareti que dão origem ao volume de cont.rolc e, segundo, pelos passos sr-
guiclos 11a formulação. semelhantes aos ela fornrn lac;ão clássica ele element.os
finit-Os.
Os volumes de controle podem s<'r criados de duas formas distint.as [102].
Urna dclati, que utili7.a o método das media nas , dá origem a diagramas mais gl'-
rais e empregados ern [8,9.101]. A out.rn, a partir da triangulação cfo Dclm1nay,
dá orig<'m aos diagramas de Voronoi:
336 C. R. M aliska

Este capítulo tem o objetivo de apresentar o método dos volumes finitos


para. malhas não-estruturadas. As duas maneiras de construção dos volumes
elementares serão descritas. P ara as malhas de Voronoi serão abordadas for-
mulações bidimensionais para os seguintes problemas:

1. puramente difusivos;
2. convectivo/difusivo de uma propried ade genérica</> onde o campo de
velocidades é conhecido;
3. idem, onde o campo de velocidades é determinado através dos rn€todos
de acoplamento pressão-velocidade; e,
4. convectivo/difusivo em um meio poroso.

P ara os volumes criados a partir do método da mediatriz, será apresentada


apenas a formulação para a solução de problemas bidimensionrus puramente
difusivm;, conforme descrita por Baliga e Patankar [;35]. O leitor interessado
em outras formulações desenvolvidas para os volumes criados pelo método da
mediatriz, e aplicáveis a. problemas de escoamento de fluidos, deve consultar a
referência [35), Caps. 10 e 11.

16. 2 - Construção dos Volumes Finitos

16.2.1 - Triangulação de D elaunay - Diagramas de Voronoi

Considere a geometria mostrada na Fig. 16.l, onde uma triangulação de


Delaunay é utilizada para discretizá-la. O método de elementos finitos tra-
dicional trabalha, usualmente, com esta triangulação (poderão ser também
quadriláteros), armazenando as variáveis nos vértices dos t riângulos. F\.inções
ele interpolações são adotadas e as equações aproximadas são obtidas através
da minimização de um resíduo ponderado baseado em algum critério, através
da escolha de uma função peso. O ma.is conhecido é o método ele Galerkin,
110 qual as funções peso são escolhidas iguais às funções de interpolação. No
método de elementos finitos não existe a conservação em nível de elementos,
como, por exemplo, conservação da massa em nível elos elementos triangulares.
Para criar um método numérico observando os princípios de conservação, a.
triangulação de Delaunay pode ser empregada para construir os volumes finitos.
O resultado são os diagramas de Voronoi (137,157] que, na realidade, é o dual
da triangulação de Delaunay. Os volumes criados, mostrados na Fig. 16.2,
cobrem todo o domínio e sobre eles são realizados os balanços de conservação
para obter as equações aproximadas. Observe que cada vértice dos t riângulos
está contido em um diagrama de Voronoi.
As propriedades dos diagramas de Voronoi são muito interessantes e faci-
litam a realização dos balanços df! conservação sobre os volumes. A Fig. 16.3
M n.lhris Nri.o-<·.~ l.ru l:nm<ln.~ 3:3;

Fig . 16 .1 - ' l'ria ngulação ele Dela uuay.

Fig. 16.2 - Diagramas d e Vorono i.

apresenta um cliagra.n1a. de Voronoi onde podemos observar as seguintes pro-


priedades:

1. O segmento AB é normal ao segment.o P2 e corta P2 ao meio. Esta.


propriedade é muito importante p;;u·a avaliar as derivadas normajs que
envolverão, sempre, apenas o pont-0 P e seus vizinhos. Além disso, as
interpolações para obt N· as propriedades nas interfaces são realizadas
como se a malha fosse uniforme, pois o segmento a é igual ao b.
338 C. R . Malisk<'

2. Qualquer ponto. dentro do diagrama de Voronoi cent.raclo cm P, <'SllÍ


mais p erto de P do que qualquer ponto nodal vizinho. Esta cara.c-
t ed stica coHfcre à discretização boa uniformidade.
3. Pelos vért.icc•s dos triângulos passa um círcu lo.

Fig. 16.3 - Caract('ríst iras dos diagramas d e· Voro uoi.

Os diagrama.-; de• \'oronoi não são, o hvia rnent.e. d<' fácil geraçào, uma vez
qll<' devem sa.t.isfazc'r a Pssas prop ri <'< laclc's. Entretan to. na o p inião do a utor.
vai<' a JWllH in,·<'st.ir na gc~rnção d a malha para ganhar cm simpliciclaclc 11a
c·onstrnção elo algorit.mo. Com os diagra.rnas ele Voro noi l e 111-sc as va11tage11s da
si 111 plicidadc dils ilprox i rnações m1111fr icas 0xisl.eutes c·111 mu s ist.ema ort.ogonnl
<'strnt.urado e· ;1s vant.agc>ns da fkx ihiliclacl<'. carncterístic·a. pritwipal da:> mall1as
não-Pst.rut uradas.

16.2.2 - Construção pelo l\.1étodo d as Medianas

C:ous idcrc 11ova11H'llt<' a Fig. lG. l, i111agi11<111do 11111<1. tria ng 11laçào q11<1lq1tc•r.
solm · a q11al S<'rii.o nmst.rníclm: os vol1111H'S dc11w11t;-\f('S. 11t.iliz11.11do o nu'-1.oclo das
111c>dia11as. Est.<' llH;t.oclo ('OllSi.'>l-. c• <'111 li~a r os n•nt.rôidP:-. cios t.rii'111g ulo:> <·0111 os
pontos mc'>clios cios l;1clos dos t.riângttlos. O r<'snlt ado c·st.;Í 111ostrado ua. F ig . lG.4.
O nih 11n<' finito niaclo ck·sta forma 0. S<'lll <híúda. mais gc•ral. s0ndo o d iaµ,rnrna
d<' \·orem oi lllll c·Hso part.intla.r. O s <'sq1wn 1as mt111friC'os para cst <'-" nih1nws
d<•vc•llJ S('l'. loginl.llll'lllc', llliÜS <'l<1l>ornclos . A Sl'gnir. as rorn111laçôc•s ('111])1"('1.!,Htldo
os dois t-.ipos ele• vol111JH'S sc'r;~o apn':·w11tadas.
Malhas Nào-estruturwia.s J3!)

Fig. 16.4 - Volume de controle criado pelo método ela med iatriz.

16.3 - Formulações Usando os Diagramas de


Voronoi

16.3.1 - Problemas de Difusão Pura

Existem vários problemas, em diversas áreas da física e da engenharia,


semelhantes ao problema ela difusão de calor cm um sólido. P0r •issp considere,
como exemplo, a equação cl~ difusão bidimensional transiente de uma variável
<i>, dada por ·

-a (pq>') -
ât
- -a
ôx
(r<Pª<P)
-
ôx
+ -a ( r<i,<J<i
ôy
- >) +s
ôy
(16.1)

ou

:t (pef>) = v. (r<.iv<i>) + s (16.2)

onde, se quisermos recuperar a equação ela conclução de calor, o coeficiente de


transporte r será igual a k/cr e ef>, a. temperatura. A Fig. 16.5 mostra o volume
elementar P sobre o qual será realizad a a integração e seus viúnhos .
Linearizando o termo fonte na forma S = Spef> +Se, adotando uma for-
mulação totalmente implícita e integrando a Eq. (16.2) sobre o volume ele con-
trole mostrado na Fig. 16.5 e no tempo
340 C. R. Malisl.:ri

1V,t
:, (pef>)dVdt= /
j V,t
v . (f <li \7c;'i)dVdt+ /
j V,t
(Sp</>+Sc )dVclt (16.3)

encontramos
.,

Nfp<f>p - M'P<f)f,
"t
w
= "°' (r"'ªÔef>)
L.._; n~ .
D..S .
Pi+
·i =inte1'j' t1ces p,
(16.4)

Sp<f>p 6.V + Scb..V


onde ;Vlp (' a massa dentro do volume de controle.

Fig. 16.5 - Vol u nw de cont role d f' in tegração.

:'-foste ponto, aparece a vant.agem do uso dos diagramas de Voronoi. A


derivada normal de <!> n as interfaces P.i do volume de cont.role é facilmente
determinada, pois todos os pont.o~ viúuhos est.ão ligados a P através da normal.
Usando urna fu nção ele iutcrpola.ção linear, pois o problema é de difusão pura,
a Eq. (16.4) resulta. em

-Mp</Jp
- - +.
6.t .
"°'
L.._;
r <iPii (.<PP -
. ) 6.Sp.,
<Pi - - -
Lpi
1.=u1 ter f ares
(16.5)
MºA..º
P<PP D..V=~+Só.V
S: Ó.t r

ou
Mnlhas Nrio- estn,/11ra1lii.~ 3tJ 1

Apd,Jp = (16.6)

onde

4 · - r~ t:.Spi (16.7)
• '· - Pi Lpi

M<p
Ap = L A;- S p t:.V+ -t:.t (16.8)

(16.9)

ObsNve qu<' a Eq. (16.6) e a forma do cocficient.<' A p são exatam ent.t' iguais
áquelas mostradas pelas Eqs. (6 .35) e (6.36) do Cap. 6.

16.3.2 - Problem as de Convecção/Difusão

Nest a seção. serão considerados problemas onde existem a rnnvecção e a


difusão de um escalar </>, considerando conhecido o campo de velocidades . É a
situação. em uma formulação segregada, em que, depois de calculado o campo
de velociclacles, são avançados os campos escalares cio prol>lêma.
A equação de conservação ele 4> cm duas dimensões ó dada por

(16.10)
ou

:t (p<P) = \1. ( J) + s . (16.11)

Deve' ser observado que a Eq. (16.10) t.c'm a mesma forma da. Eq. (16.2) ,
onde, agora, o transporte de ti> é por difusão e convecção e o fl uxo total é J.
O corret.o seria cknominarmos esta última forma de transporte de advect iva.
E ntretanto, é usual denominar-se de fl uxo convectivo o fluxo de <P transportado
pelo e::;coamento .
O processo, agora, é o m0smo da seçáo anterior, isto é, devemos integrar
a Eq. (16.11) sobre o volum<' de controle <' uo tempo. Usando o teorC'ma ela.
divergência, a. integração resulta crn

- M'P<f>~, = ""'
Mp<fap "t L.,,
(1- · n-) . W.ASPi + s pq>' puAV + sc uAV (16.12)
l,.l. , . p,

342 C. R. Maüska

ou. substit uindo o vetor J,

(16.13)

Na Eq. (16.13), o produto escalar do vetor velocid ade pela normal nos dá
a velocidade responsável pelo fluxo de massa na interface. De algum a forma ,
est a velocidade, aqui denominada de V p;, é conhecida.

Fig . 1 6.6 - Oiscre tizaçã.o cst ru(, urada.

!\"o problema puramente difusivo, a função de interpolação foi linear. Neste


caso, como a va riável d> e sua derivada são afet adas pelos efeitos difus ivos e
convect.ivos, a fun ção ele interpolação deverá ser dependente do número ele
Pcclet. Uma alt ernativa é usa.r funções de interpolação unidimens ionais ao
longo da nor mal. É clar o que teremos a exist ência de difusão numérica, uma
vC'Z que a função de interpolação não é exat.a. Ela, t ambém, não é aplicada
ao longo da linha de corrente. E ntret a nto, existe uma grnn de diferença em
a plirar funções de interpolações unidimensionais para malhas estruturadas e
não-estn 1t.uradas.
Para entender esta. afi rmação, considere a F ig. 16.6, onde uma ma.lha es-
t ru turada está mostrada j unt<'l.niente com a clireçã.o cio escoamento. Sabe-se
que uma das maneiras de diminuir a difusão numér ica é ter a direção, na qual
se aplica a fun ção de interpolação, alinhada ao escoaincut.o. P ara. o caso da ma-
lha. <'S trut urada, a função d<' interpolação é aplicada, a penas, cm duas direções,
existindo somente duas possibilidades de o escoa mento estar alinhado com est as
direções. Por outro lado, para. malhas nâo-estrut.u radas, ela é aplicada sempre
Malhas Não-estntlnrcidas 34.3

mais do que quatro vezes (dependendo do número de volumes vizinhos), em


diferentes direções, tendo a possibilidade de captar e informar mais adequa-
damente o padrão ele escoamento para as interfaces. Não é demais enfatizar
que a diminuição da difusão numérica é uma vantagem importante das malhas
não-estruturadas sobre as estruturadas, quando funções de interpolação unidi-
mensionais são empregadas. Resultados numéricos mostrando este fato serão
reportados no próximo capítulo.
Considerando a Eq. (16.13), as derivadas de <P em relação à normal nas
interfaces são avaliadas por diferenças centrais, sem ponderação, ou seja, E = 1
no método WUDS [11 5]. Os valores de <jJ nas interfaces, ef>pi, são avaliados por

(16.14)

onde o: P·i é dado por

(16.15)

onde o número de Peclet local é dado por

_ VpiLPi
P.e - r<P (16.16)

Observe que, na Eq. (16.14), O:pi é positivo quando a velocidade está


saindo do volume ele controle e negativo, ao contrário. Por exemplo, quando
O:Pi for igual a Ü, 5, O valor de <ÍJ na interface Será igual a <fap, Caracterizando
um esquema. ·upwind.
Aproximando a derivada normal de </> por diferenças centrais e introdu-
zindo a Eq . (16.14) na Eq. (16.13), encontramos

<!>P { .6.t + L:
A1p . "'""' ( rLpi
t.; + pVpi ( 2
1
+ <.YPi ) ) }
l:i.Sp; - Spl:i.V ,=

(16. 17)

Procedendo de maneira análoga ao feito no Cap, 6, isto é, introduzindo 1~


equação da. conservação da massa com o sinal trocado, dada por

( 1O, ! H)

na Eq. (16.17), resulta


344 C. R. M aliska

(16.19)

ou, na forma compacta,

(16.20)

onde

, = { Lr~;
.'li p;. - p .,.Pi ( 2
V
1- O' Pi
"'S Pi
) } LJ. (16.21)

(16.22)

(16.23)

Observe que as Eqs. (16.20) e (16.22) são idênticas às Eqs. (6.35) e (6.36) ,
respectivamente. Observe, também, que a expressão do coeficiente Ai é a
mesma para. todos os volumes vizinhos, enquanto para malhas estruturadas os
coeficientes para as faces sul e oeste trocam ele sinal em relação aos coeficientes
norte e leste, conforme pode ser visto na Eq. (6.25). É fácil ver que, para
malhas não-estruturadas, todos os coeficientes são como se fossem coeficientes
Ae e An, urna vez que a normal é sempre para fora., coincidindo, portanto,
nestas duas faces, com os eixos x e y, ambos apontando para fora elas faces.

16.3.3 - Determinação do Campo de Velocidades

Os desenvolvimentos que se seguem continuam sendo apresentados em duas


dimensões, por facilidade. Neste item, estamos interessados na determinação
do campo de velocidades. A metodologia apresentada a seguir é uma proposta,
e ainda não foi testada. Para a situação bidimensional, as equações são dadas
por

ôp ô â
-ât + -âx (pii) + -ây (pv) = O (16.24)
Malhas Niio-cstf"titttradas 345

~ (pu)+ ~ (ptm)+~ (pvu) = - âP +~


ât âx Ô1J âx âx
(µ Ôtt)
âx
+~ (µ âu) +S" (16.25)
ây ôy

ô (pvv) = - -âP + -ô ( µ -ôv ) + -ô ( µ -ôv ) +S,, (16.26)


-f) (pv) +ô- (pvv)+-
8t 8X 8y 8y 8 X 8X 8y 8y
Reportando-se, novamente, à Fig. 16.5, a int~gração da equação de con-
servação da. massa sobre o volume elementar resulta em

(16.27)

onde V Pi é, repetindo, a velociclaclC' normal nas interfaces cio volume de controle.


A integração das Eqs. (16.25) e (16.26) sobre o mesmo volume elementar
(lembre que as variáveis são co-localizadas) segue o mesmo procedimento da-
quele feito para a Eq. (16.10), uma vez que esta equação e as Eqs. (16.25) e
(16.26) ::;ó diferem no termo fonte. Portanto, estas duas equações discretizadas
s~.o dadas pela Eq. (16.20), rcpC'tida a seguir,

(16.28)
com os coeficientes dados pelas Eqs. (16.21) e (16.22). O termo fonte, que agora
contém o gradiente de pressão, é dado por

(16.29)

onde s, que aparece no gra.cliente de pressão, é igual a x ou y, quando </> for


igual a u. ou v, respectivamente.

Equação' para a Correção de Pressão

Seguindo o procedimento usual de determinação de uma equação para a


<'Orreção de pressão (P'), para a posterior correção da velocidade, e usando o
mét.odo SIMPLEC [153], as seguint.es pseudo-equações de correção de veloci-
dades nas interfaces do volume elementar de Voronoi são propostas:

., 0.P'Klf
(16.30)
ur'i = U.e; - 0..x ( Ap - L A nb ) Pi
tiP'tiV
VPi = Vp; - -1-====:::::::===-;-- (16.31)
tiy (Ap - LÂnb) P i
346 C. R. M<1liskc1

onde .6 li é a. média aritmética dos vo1Lu11cs cios blocos que possuem a i111'.<'rfac:0
Pi comum, e Ap - L: A 11 b é dado pela Eq. (16.39).
Com base nas equações ant erior <'s, é possível propor uma equação de
correção paJ·a a. velocidade normal à iut.erface. Deve ser lembrado, mais uma
vez, que a equação de correçào <las velocidades não interfere 110 resulta.cio final
do problema. Tirando vantagem do fato de as pressões est arem annazenadas ao
longo da linha norma l à interface. a seguint.e equação de correção é adequada:

, .. _V" (Pf,- Pf) L\V


vp, - Pi - 1-::::::::::::::::;;::::::::::::::\- (16.32)
(A p - L A,.b) p,. Lpi

lns<'rinclo a Eq. {16.32) na. equação de conservação da massa, Eq . (16.27),


p;:1.ra. (J = consta.nt.e enwnt.raremos a e<.ptação ele correção de pressão da.da por

(16.33)

:\·f anipulaudo a equação, encontra-se

{16.34)

ou, na forma usual, representada pelos coeficientes, por

{16.35)

onde

2SVL\Spi
A, = - -------- (16.36)
( Ap - L Ant>) . L
P ·i
pi

(16.37)

{lG.38)
Afolhas Nlí,o -estruJnrn.<lns 347

O denominador do segundo termo à direita nas equações de correção elas


velocidades é expresso por

(A p) p + (Ap )i - 2:: (Anb) p - 2:: (Ant>)i


( Ap - L A.nb) .p ., 2
(16.39)

Observando a Eq. (16.34), vemos que as velocidades V?i são necessárias


nas interfaces do volume de controle. P ara det.enniná-las, emprega-se uma
média das equações do movimento dos volumes viziilhos, c;omo fe ito para tra-
tar o acoplamento pressão-velocidade no esquema c:o-loc<1lizaclo para malhas
estruturadas [84]. Assim, as componentes cartesianas cio vetor velocid~1.c\e são
escritas corno

(16.41)

resultando, para as velocidades uj:..; e vf,i , nas expressões

(16.42)

(16.43)

onde, conforme já mencionado,

í:l V = [(D. V) P + (í:l V);] (16.44)


2
De posse das componentes cartc-~sianas cio vetor velociclac\e, podemos cle-
tcrrni11ar vl~i por
348 C. R. lvfoliska

(16.4:;)

Est as velocidades nas interfaces do volume de controle fa.rão parte do termo


B da Eq. {16.38) . Rc:;olvida a Eq. (16.35) , através de a lgum método para
sol ução de sistem as lineares, as velocidades Ve; podem ser corrigidas atrav('H
da &1. (16.32).
;\la Eq. (16 .45), deve-se ter o cuidado de atribuir o corret.o sinal para~.,.
e 6.y. Por exemplo, com:iderando a Fig. 16.7, par a o segmeut.o AD . 6..1: (•
nrgativo <' 6.y positivo. Para o segmento B C, ambos siio negativos e, pa.rn.
EA , ambos positivos. Para atribuir o sina l, o srntido para cálculo de ~.i· <'
.0.y deve ser o a.nt.i-horArio. De:-;ta. forma, Vpi rcsulta.dL positivo qua ndo sair cio
volum<' de controk, d<' acordo com a convenção que estamos usando desde o
início destC' capít.ulo.
Duas ques tões import~u1 t.es restam ainda para. serem re:;olvidas . A primeira
é a determinação do gradiente de pr<'ssão pa.ra cálculo elo te rrno B da Eq. (16.29)
e a segunda, a forma de obter as compoue>ntes cartes ianas do vetor velocidade no
centro dos volumes ele menta.n's, uma vez que a peuas dispon10:-; das velocicla.cles
normais corrigidas nas interfaces.

Fig . 16. 7 - Cálc11lo de 71X


fJP e é> P.
7)y

D etenuinação do Gradiente d e Pressã.o

Fazendo parte da Eq. (lG.29) , qu(' cnlculil o t.ermo font.e D. <•stá o t.Prmo
~I'/ 6.s. onde s poderá s<'r .1· ou y, dependendo da <~qua.çào do movime nto
c 11t consideração. Este graclicut.e de pressão de>vc :->er avalia.do no centro do
Malhas Não-estruturadas ~\119

volume de controle para o qual existe a equação de conservação de quantidade


de movimento.
Uma maneira simples de calcular, por exemplo, l:!.P/ í:!.x em P, para polígo-
nos regulares, é a expressão de Jarneson e Mavriplis (AIAA Journal, Vol.24,
1986), dada por

(16.46)

Observe que 6.P/ 6.x é a projeção, no eixo x, do gradiente de pressão em


relação à normal. Os valores de P;, utilizados na Eq. (16.46), são facilmente
disponíveis, uma vez que, após resolvida a equação para. P', Eq. (16.35), a
pressão é obtida por

P = P* +P' (16.47)

de acordo com o método SIMPLE [100] e suas variantes. li,:, na Eq. (16.46), é
o volume do diagrama para o problema t ridimensional. No caso bidimensional,
lógica.mente, é a área. Expressão semelhante deve ser usada para.calcular ~~ .

Determinação de u e v nos Centros dos Volumes

De acordo com o procedimento usado para variá.veis to-localizadas, inde-


pendentemente de a malha ser ou não-est ruturada, a velocidade que é corrigida
de forma a satisfazer a conservação ela massa é a velocidade normal à interface
entre or-1 volume de controle P e i, conforme mostra a Fig. 16.7. No centro do
volume ele Voronoi P, volume para o qual são escritas as equações do movi-
mento, terr~os disponíveis apenas as velocidi:1des u * e v " , obtidas co1u a solução
das equações da conservação da quantidade de movimento usando P* como
pressão estimada. É necessá1·io atualizar estas velocidades nos centrns dos vo-
lumes. Duas maneiras são aqui descritas para realizar esta tarefa.
Em um dos procedimentos, usam-se as velocidades upi e vp; nas inteifaces,
calculadas através das Eqs. (16.30) e (16.31), obtendo-se u e v no centro do
volume de controle através de uma interpolação semelhante àquela usada para
o gradiente de pressão. O outro procedimento é através ela correção ele u* e
ti* , usando o gradiente ele P' no ponto P, calculanclo, agora, o gradient e de P'
110 cent ro cio volume ele controle pela média ponderada, já descrita.
As correções de tt e v, localizadas no centro cio volume de controle, resultam
então em

• óP' t:.V
1'p = Up - 6.x (Ap - l:Anb)p (16.48)
350 C. R. M aliska

(16.49)

O esquema iterativo para a solução das Eqs. (16.24) a (16.26) pode ter a
seguinte seqüência:

1. Fornecer as condições iniciais do problema.


2. Avançar o instante de tempo (~t). Estimar as variáveis neste nível
de tempo. Os valores iniciais em geral são usados.
3. Usando a Eq. (16.20) para u e v, com o termo fonte B dado pela
Eq. (16.29), onde a pressão estimada P* é empregada, determinar,
resolvendo-se dois sistemas lineares, as velocidades u* e v*.
4. De posse de 11.* e v* no centro do volume de controle (volume de
Voronoi), podemos determinar Upi e vj:,i atr ~vés das Eqs. (16.42) e
(16.43).
5. Resolver a Eq. (16.35) e obter P'.
6. Corrigir a velocidade normal nas interfaces, usando a Eq. (16.32).
7. Obter a pressão através de P = P* + P'.
8. Obter u e v nos centros dos volumes, usando um dos procedimentos
descritos.

16.3.4 - Escoamento em Meios Porosos

16.3.4.1 - E scoamento Monofásico Miscível

Escoamentos em meios porosos são tratados com extrema facilidade, u-


sando diagramas de Voronoi, devido à ortogonalidade das faces em relação à
linha que liga dois pontos de pressão. Considere o escoamento bidimensional
monofásico de dois componentes em um meio poroso. Estamos interessados
em determinar o campo de velocidades e a concentração dos componentes na
mistura.

D eterminação das Velocidades

Para este problema, a equação de conservação da massa global é dada por

:t (p<P) + :1; (pu) + ~ (pv) = q (16.50)

onde 'tt e v são as componentes cartesianas do vetor velocidade, p a massa


específica, <P a porosidade e q a vazão mássica por unidade de volume. Para
escoamentos em meios porosos, a equação de conservação de quantidade de
movimento é dada pela equação de Darcy,
Malhas Não-est'r'ut·uradc1s 351

-
V=- -k \IP (16.51)
Jt
Introduzindo a Eq. (16.51) na Eq. (16.50) e lembrando que o coeficiente
de compressibilidade é dado por

(16.52)

obtém-se
1 éJP µ_
\/ . (\/ P) = a* 8t - kq (16.53)

onde q é a vazão volumétrica por unidade de volume e a* é dado por


* -k-
o:= (16.54)
wf>Ct
onde µ é a viscosidade e k, a permeabilidade absoluta.
A solução da Eq. (16.53) nos dá o campo de pressões que, quando subs-
tituído nas equações de Darcy, permite calcular o campo de velocidades. Ob-
serve que a Eq. (16.53) é semelhante à Eq. (16.1), isto é, são equações elípticas
e, portanto, no processo de integração, diferenças centrais podem ser usadas
como funções de interpolação.
A Eq. (16.53) deve ser integrada no tempo e no voll!me de controle mos-
trado na Fig. 16.5, na forma

{ \/ -(\/ P) dV dt =~ f oôP dV dt - {
1
!:_k qdV dt (16.55)
Jv.t a Jv,t t Jv, t
Usando o teorema da divergência e realizando a integral, encontra-se

2: {(\IP · n)pi · /J.S pi } = ~* (Pp - Pp) ~~ - ~qÓY (16.56)


1'.=inte1· faces

Usando a equação de Darcy, é fácil mostrar que o gradiente de pressão na


direção normal à interface está relacionado à velocidade normal por

(16.57)

que é, exatamente, o lado esquerdo da Eq. (16.56) aplicado a todas as interfaces.


Discretizando a Eq. (16.57), tem-se

(Pi - Pp) /J.S _ - V .!!:. (16.58)


L p,,. Pt - P1. k
352 C. R . Maliska

U~an do as Eqs. (16.58) e (16.56) . 011c·ontra-s<' a equação da pressão discre-


t izada para o volume P. como

1 ilV
P,7 ( - - +
o·* 6.t.
~ "°' ilS
~ L e;
) 6.S 1" ·
= "°' Pi--"+--" +-q6.V
~ L JJi a:• 6.t k
6. V Pº µ
(16.59)
' ..
ou, na. forma compacta, por

(16.60)

onde

A1~ = '°' A.i + - ~V


~
i
1 6
(\'* !.J.t
A _ 6Spi
' - Lp.;
(16.61)

A Eq. (16.60) é u111 sis tem i't linear de equa.ções que origina rnat.rizc's de
ba11cla niio fixa , devido ao fato de a ma.Ili a ser não-estruturada . O método para
resolver este tipo de sistema. st•n\. discutido 110 final d<'~t.e capítulo.

Determinação da Concentração do Componente

Apôs co11lwciclo o campo cln velocida,cles 110 m eio po roso, d<'seja-sc' deter-
mina r a C'oncentrnção dos componentes na. mist ura. Urna das aplicações irn por-
t.antes d<•ste mod(' lo eshí na á.rea de eng0nharia dt• petról<•o, quando traça.dores
são injd.ados 11a fase água com a finalidade ele <'stuclar o reser w~tório . Nestas
sitnações. um componente que forma urna única fa:::e com a água difunde-
s<' <\ também, é carregado pelo escoamento. Em <'ngen haria de p0tróleo, este
traça.dor é, normalmente, radioativo, e seu aparecinwnto uos poços de prodnção
é monitorado.
P ara determinar a concentração do traçador no nwio poroso, a equação de
convecçn.o / clifusào do traçador d<'ve ser n'solvida. Es ta <'quação é dada por

(16.62)

onde J é da do por

J= - </>D'VC + VC (l.G.63)
0 e, é a. concentração de inje<;ão cio traçador nn fase. t' D é o eoefiric•nte de
difusão do traça.do r na mis tura, dado po r

(16.64)
onde o· <~ o codidentc de dispersão.
Observe que a Eq. (16.62) é semelhante à Eq. (16.11), ou s<'ja, é a 0q11ação
que governa a convecção/difusão de uma propricclad<'. . ·este caso, (- a con-
vecção/difusão do componente na mistura, dada p ela :ma conc0ntraçi-i.o. Não
deve S<'r feita coufusão C'Om a variável </>, que na Eq. (16.11) reprC'senta a propri<'-
dadc transportada e na Eq. (16.62) é a porosidade do meio. A variável escalar
</>, de <1ue t.ra.t.a a Eq. (16.11) , é a couccntraçito na Eq. (16.62). Integrando 110
espaço e no tempo, encontra-se

(16.65)

onde Cp, representa a concent.raçào na int.crfacc dos volumes de controle P e i.


Deve ser observado qu(' o t.ermo difusivo foi aproximado por diferenças ('entrais.
Para os termos convectivos. dC'vemos, através de wmi função de interpolação.
determinar OS valores de C p ., como fnução dos valores da COl1('('1ltraçào no VO-
lurnC P e i. Para int(•rpolar a.~ conceut.rações, o esquellla WUDS [115] é usado.
Este <.'s quenrn. ele interpolação 0 larga111N1te empregado c m malhas est.rnl uradi'ls.
pois, sendo 11nidim0usional, determina o valor da fuu<;ào na intetface usando
:->oment.e dois pontos. P;u a os cliagrarn a:; de Voronoi cs~c esquema. é est.endido
com grande faci lidade, aplicando-se o me:;mo ao longo ela linha que une P e 'Í,
confon11(' mostrndo ua Fig. lG.5 e seção 16.3.2. '
A fnnç.ão dC' interpolação é dada por

(16 .66)

oude o p, é det.cnniné'\do por

(l· p; = 10 + 2Pe2
---~ (16.67)

e o mílllero de Peclet local é dado por

l 'p; Lp,
P e= (16.68)
D Pi
D<'ve ser notado que. apesar de o valor d0 o ·p; ser sempr0 posit.ivo, quando
calculado pela Eq. (lG .67), seu sinal eleve ser igual ao sina l da velocidade• 1·,.,,
e varia de - O. 5 a +0, 5. P or exemplo, quando ü l'i for igual a. -0, 5 ( 1uass11
entrando 110 volume de C'OUtrole). o valor de Cp, será foito igual ao valor de• e,.
Se a massa sair do vohune de rnntrole, 0ntão C P·i sení frito igual a e,,, Nc•stc•:-.
dois Cé'\sos cit;i.clos. um csqm•ma tipwind estarin. sendo 0mpregado. Parn <H ttros
3G4 G. fl. J\lfoliskn

e e
valores de a l "i' Pi dependerá tanto de C; como de p, isto é, um <'Squ<'ma
híbrido.
Esta função de interpolação, apesar de ser unidimensional, causa menor
difusão numé rica em relação às malhas estruturadas, pois a. mesma é aplicMa
ao longo ele d ireções que, para um único volume de controle, giram 360 grnus,
permit indo, sempre, algum alinhamento com o vet.or velocidade e t razendo para
a interface• maior influência dos volumes vizinhos. Este pont o já foi comentado
no início do capítulo.
Introduzindo a Eq. (16.66) ua Eq. (16.65), encont ra-se

Cp [tiV + ~ [(<iL>D)
6.t Pi + ,
v p.; (1
2 + )] .
n 1Ji 6.Spi l ==
(16.69)

Introduzindo a equação da conservação da massa discretizada, dada. por

(16.70)

110 termo entre colchetes que multipli<'a Cp, obtém-se

(16.71)

L [ ( L<!>D) Pi - ( 21 - Op;) ] f}. $p;C; + (<PC)p 6.6.ti1 + qôVCp


0
Vp;
'
Inspeciona ndo a Eq. (16.71), observa-se que o último termo cio lado direito
só existe naqueles volumes oucle houver injeçào 011 extraçào do componente .
P ara os volumes que contêm injeção, o valor ela concent.ração de injeção é
conhecido e este t.ermo irá juutar- se ao vct.or independente cio sistema linear.
Pa.ra. os volumes q11e poss11em extração do coniponent.c, cuja concent ração não é
conhecida, o t<'nno qti V juntar-se-á. ao Ap. cancelando-se com o mesu10 t.<'rmo
que foi int rod11ziclo pela Eq . (lG.70).
A Eq. (16.71 ) pode s0r escr ita. na fo rma compa,cta como

(16.72)

onde os co0ficic nt0s são expressos por


(16.73)

(16.74)

B = (<PC) ~ .6V + q.6VCp (16.75)


.6t
É nova me ntr lembra do que o IÍlt.imo ter mo ela Eq . (16 .75) é sempre zero,
exceto pl'l.r a os volumes com injeção do componeut.e .
Alg uns result.ados obt.iclos com essa met.odologia serão apresent.ados no
Cap. 17 e podem talllbém ser vis tos cm (55) . Problemas de escoamento b ifásico
cm me ios porosos ta rnb<Sm fora m resolvidos usando-se os cliagramaR d e Voronoi.
O p rocesso d e integração cm nad<'I. difere d esse que foi descrito. Det allies podem
ser vistos em (91).

16.4 - Formulação Usando o Volume Criado p e la


Mediatriz

16.4.1 - Problemas Bidime n sionais Puramente Difusivos

A aprc8cnt.ação <la for m11laç.ão qm' emprega volumes de con trole obtidos
p<'io mét odo da med ia tri?. tem por objet.ivo mostrar as diferenças entre esta
formulaçi\,o e aquela apresent.<1d a na seção 16.3. l , para vo lumes de Voronoi. Fi-
cará claro ao leitor que a me todologia desenvolvida por Ba liga.e P a tankar [35]
denom ina-se CVF E M - Control Volume Finite Element Method p ela su a seme-
lha nça com a formu lação tradicional <le elementos finit os, p elo u)enos no que
concerne á aplicação d as funções de interpolação e à m onta g,em das equa.çõcs
algébricas .
Soment e o p roblema puramente d ifusivo será apr esenta.cio, p ois o objetivo
é a.penas most ra r o procedimento de uma form a geral. A equação da conduçi'.i,o
de calor bidimensional em con8i<leração ó dada. p or

!...
fh;
(r"?ª<P)
ô.r
~ (rr,> 89
+ ôy ôy
) + s 9 =o (1G.7G)

0 11. usa ndo o flu xo J, por

( IH.ii)

o nde .f é <la.do p or
356 C. R. Maliska

(16. 78)

Como todo método que cria as equações aproxima.elas at,ra.vés do balanço,


o procedime nto é a. integração ela. equação diferencia l na forma conservati va
no volume elementar. ~est<' caso, o volume de integração estc-í mostrado ua
Fig. 16.8, onde vemos que o volume d<' controle hachura.cio é composto por
contribuições de diversos elemeul., os do tipo 123.

Fig. 16.8 - Volum<' de controle para o método d<'. mf'diat.ri:t.

A integração da Eq. (16.77) no volume de controle rnost.rado resulta. em

l
. a.
o f · iids+ r.f. fids- f
.fo . l 11Uc
S<i>d\/+
(16.79)

[Contr'ibttições de outr'os elementos associados ao nó 1) =O


O termo fon te e' liueari7,a.do da mc:;ma forma, como mostrado 110 Cap. 4.
por

S<i>= Sp<f>+Sc (16.80)

Ob:;erve que a integração dada pela Eq. (16.79) r<'quer o vi'llor da deri-
vada de <P ao longo das linhas o.o e oc. Os valores de <(J. por outro lado. são
annaze11ados nos vér tices cios elementos t.riaJ1gulares. É necessário, port.anto,
o esLabelccimento ele uma função de intcrpokição para <j> . Tal função de iu-
t.crpolação deve, a partir do couhc·cim<:>nto ele 9 HOS vértices cios t.riâug uloi',
Malhas Não -estr11./,u.rr1rl.1iH :Híi

Fig. 16.9 - Ek·me 11to lriangular.

permitir o c~lculo ele <!> e de suas derivadas em qua.lquer posição dentro do ele-
mento triangular. Especialmente os valores das derivadas de <f> serão nC'cessários
nos pontos t e r, conforme mostra a. Fig. l G.9
Deve ser lembrado que, t::imbém p?tra a formulação usando malhas ele
Voronoi, foi necessária uma função de interpola<;ão. NaquE·le taso. ent.retant.o, a
formulação ficou mais simpks. porque os valorek de </J, armazena.dos nos vértices
dos t.riâng;ulok, estão sobre uma linha reta normal à. interface. A função de
int.<'rpolação pôde ser, então, unidimensional. Aqui ela deve ser bidimcusioual.
Como estamos trat.ando com problemas puramentf! difosivos, a fu ução de
interpolação pode ser linear. Desta. forma, a seguinte função satisfaz

<P = A.e + B y + C (16.81)


Com os valores d<' 01. </>-1 <' <f>3 e os valores das coordenadas (:r, y) nos
pontos 1, 2 e 3, encontramos as const.antes A, B e C , coruo

A = [(Y2. - y3) <Pi+ (y3 - Y1) ~'>2 + (Y1 - Y2) <,Ó3) (16.82)
D

B = [(.1:3 - .r2) <!>1 + (.r1 - .t3) <f>.2 + (:1:2 - :ri) 63}•


(16.83)
D

C = ((x2y3 - .i:3y2) <Pi + (:1.~:J.IJ 1 - y3.r1) </>-2 + (.t' tY2 - :i:2y1) rp3j
(16.84)
D
com D dado por

D = (.r1 Y2 + :i:2y3 + :r3y1 - y11:2 - y2 :i:;i - y3:rt ) (16.85)


Lembrando que o vetor fluxo<~ dado por

(16.86)
358 C. R. Maliska

e obtendo o va.lor das derivadas ela <p através da função ele interpolação. as
componentes do fluxo result.am cm

l:c = -A r<1>, J11 = -Br <t> (16.87)


Porta nto, as int<.'grações ao longo de ao e oc resultam em

1J.o
nclS
.
= {Art!> ) 1la - {.Bf<P) Xu. (16.88)

focJ. íidS = (Ar 9)1Jc - (Brm) .te (16.89)

A Fig. lG.10 aprC'senta interpretação geométrica. das integrações dadas pe-


las Eqs. (16.88) e (16.89). Considera11do o vetor J nos pontos r e t , o produto
J x Ya + .ly3.'a nos dá o flu xo que a travessa a face ao, ao passo que o proclut.o
- Jx'.IJI' + J.11 :r.c calcula o fluxo em oc. Os sinais que a.parecem estão de acordo
com o sistema ele eixo loca.! cent.rado cm o. A regra. para. atribuir o sinal cor-
re to para x,,,, Ya etc. é a mesma já c:omeutada anteriormente, ua seção 16.3.3.
O leit-0r pode v<'rificar qu<' a.5 expressões dadas pelas Eqs. (16.88) e (16.89)
são as componeutes cont.ravariautes. sem normalização métrica, do vetor fiuxo
difusivo de <j>, qu<' aparecem quando malhas est.n1turada.s são e mpregadas.
O ter mo fonte é integrado por

! 1a0c
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= -Ac