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26/04/2018 Alqueire – Wikipédia, a enciclopédia livre

Alqueire
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Alqueire (do árabe al kayl) designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punham, atadas, sobre
o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga. Logo, o conteúdo daquelas
cestas ou bolsas, mais ou menos padronizadas pela capacidade dos animais utilizados no transporte, foi tomada como
medida de secos, notadamente grãos, e depois acabaram designando a área de terra necessária para o plantio de todas
as sementes.

Índice
Portugal
Brasil
Bibliografia
Ver também
Referências

Portugal
No tempo do Condado Portucalense, o alqueire era uma medida nova que tinha acabado de ser importada das regiões
peninsulares sob domínio árabe. A primeira referência explícita data de 1111; no entanto, é seguro que o sistema usado
desde finais do século XI já incluía um alqueire. Muito provavelmente, nesta época, a palavra alqueire ainda devia
designar uma medida única e bem conhecida. Alguns anos depois, talvez já existissem diferentes alqueires, razão pela
qual as posturas municipais de Coimbra, de 1145, estipulam que o alqueire (de cereal) deveria ter o peso de 6,5
arráteis, ou seja, uma capacidade em torno de 3,4 litros.

Ao longo da maior parte da primeira dinastia, reinados de Dom Afonso Henriques a Dom Afonso IV, o alqueire legal
será equivalente ao módio romano, ou seja, cerca de 8,7 litros. Entretanto, o alqueire legal estava longe de ser usado
em todo o território. Dom Pedro I (1357) introduziu um novo alqueire de 9,8 litros e tentou impô-lo a todo o reino.
Esse alqueire teve de facto uma maior divulgação do que o anterior alqueire legal, no entanto não chegou a
generalizar-se a todo o território. Com Dom Manuel I (1499), o alqueire legal passou a ser o de Lisboa, que equivalia a
13,1 litros. Dom Sebastião I (1575) distribuiu padrões deste alqueire, em bronze, às principais localidades do reino.
Mesmo assim, sobreviveram diversos padrões regionais do alqueire. Mais tarde, provavelmente na sequência do
terramoto de 1755, a capacidade do alqueire de Lisboa foi ajustada, aproximando-se dos 13,9 litros, o que permitiria
uma mais fácil conversão para o sistema castelhano.

Os principais padrões do alqueire usados em diferentes regiões de Portugal no século XIX eram os seguintes:

13,1 litros no litoral entre Aveiro e Lisboa


13,9 litros, um pouco por todo o país
14,9 e 15,7 litros, sobretudo no interior e no sul
17,0, 17,5 e 19,3 litros, quase exclusivamente no Entre-Douro-e-Minho
A nível local, usava-se uma infinidade de variantes destes padrões principais.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alqueire 1/3
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A introdução do sistema métrico decimal, no século XIX, não impediu que continuassem a ser usados os alqueires
tradicionais.

Desde a Idade Média, o alqueire foi também unidade de superfície. Normalmente, um alqueire de superfície era a área
de terreno que se semeava com um alqueire de semente.

Brasil
No Brasil colonial o alqueire passou a ser manufaturado com uma trama de taquara, consistindo numa cesta bastante
robusta, na qual se transportavam principalmente milho e feijão, em regiões onde muitas vezes nem estradas havia.
Nesse processo, o nome caiu em desuso pela adoção de outros termos.

Quando o alqueire foi convertido de medida de secos para medida de área, primeiro foi subdividido em quatro quartas
partes ou quartas (quarta de chão) e depois em unidades menores convertendo-as em litros já com vistas à adoção do
sistema métrico. Entretanto uma quarta correspondia no Brasil a 12,5 a 13,8 litros.

Para piorar a confusão, em São Paulo prevalecia o entendimento de que a medida agrária deveria representar apenas
um dos alqueires originais e em Minas Gerais prevaleceu o entendimento de que deveria representar o indissociável
par de alqueires, razão pela qual até hoje se conhecem como alqueire paulista a área correspondente a 24 200 metros
quadrados e alqueire mineiro, que corresponde a 48 400 metros quadrados, como expressões da concepção original
da área de terras, já convertida em braças quadradas, sub-dividida em palmos quadrados. Como se não bastasse, ainda
existe o alqueire do norte (27 225 metros quadrados), o alqueire baiano (96 800 metros quadrados)e o alqueirão, ou
alqueire goiano (193 600 metros quadrados). Ressalte-se que a partir de 1956 o alqueire no Centro-Oeste padronizou-
se ao mineiro, ou seja, 48 400 metros quadrados.

Apesar da adoção e exigência legal do sistema métrico decimal, no Brasil rural ainda é comum quantificar a área de
propriedades rurais e lavouras em alqueires ao invés de hectares. Essas medições são um tanto arbitrárias, mas
existem, e o próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou uma compilação das medidas existentes.

Tabela de Medidas Agrárias Não Decimais[1]

Designação Braças Metros Hectares Estados


1 Alqueire 50 × 50 110 × 110 1,21 SP, MS
2 Alqueire 50 × 75 110 × 165 1,82 MG, MT
3 Alqueire do Norte 75 × 75 165 × 165 2,72 Quase todos.
4 Alqueire 75 × 80 165 × 175 2,90 MG
5 Alqueire 79 × 79 173,8 × 173,8 3,02 MG
6 Alqueire 80 × 80 176 × 176 3,19 ES, SP, MG
7 Alqueire 75 × 100 165 × 220 3,63 RJ, MG
8 Alqueire 100 × 150 220 × 330 7,26 MG

9 Alqueire Baiano[2] 100 × 200 220 × 440 9,68 MG, MT

10 Alqueirão[3] 200 × 200 440 × 440 19,36 MG, BA, GO

MA, RO, ES, SP, MG, PE,


11 Alqueire Paulista 50 × 100 110 × 220 2,42
SC, RS, MT, GO, PR e PB
AC, RN, BA, ES, RJ, SC,
12 Alqueire Mineiro 100 × 100 220 × 220 4,84
RS, MT, GO, TO, MG, Brasília.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alqueire 2/3
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O último passo em direção à exatidão das medidas agrárias no Brasil está ocorrendo com a exigência legal, com
implantação do novo Cadastro de Imóveis Rurais (CNIR), com medidas e descrição pelo Sistema de posicionamento
Global (GPS).

Bibliografia
Seabra Lopes, L. (1998) «Medidas Portuguesas de Capacidade: do Alqueire de Coimbra de 1111 ao Sistema de
Medidas de Dom Manuel», Revista Portuguesa de História, 32, p. 543-583.
Seabra Lopes, L. (2000) «Medidas Portuguesas de Capacidade: duas Tradições Metrológicas em Confronto
Durante a Idade Média», Revista Portuguesa de História, 34, p. 535-632.
Seabra Lopes, L. (2003) «Medidas Portuguesas de Capacidade: Origem e Difusão dos Alqueires usados até ao
Século XIX», Revista Portuguesa de História, vol. 36 (2), p. 345-360.
Seabra Lopes, L. (2003) «Sistemas Legais de Medidas de Peso e Capacidade, do Condado Portucalense ao
Século XVI», Portugalia, Nova Série, XXIV, Faculdade de Letras, Porto, p. 113-164.

Ver também
Antigas unidades de medida portuguesas

Referências
1. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Tabela de Medidas Agrárias Não Decimais (http://sistemas.mda.gov.br/arq
uivos/TABELA_MEDIDA_AGRARIA_NAO_DECIMAL.pdf) - sistemas.mda.gov.br. Acessado em 12 de agosto de
2014.
2. Apesar desta lista não fazer referência à utilização pela Bahia desta medida, ela possui nome relativo.
3. Medida utilizada em uma região que compreende o Estado de Cabrália, que seria fruto da divisão do extremo sul
da Bahia e norte-nordeste de Minas Gerais, uma idéia dos tempos do Império.

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