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Toledo – Pr.)
1 CD-ROM.
ISSN: 2176-2066
Nota: Os textos completos e os resumos que compõem este Livro digital foram publicados na íntegra, o
conteúdo é de inteira responsabilidade de seus autores.
SUMÁRIO
SARTRE: PASSAGEM À ONTOLOGIA FENOMENOLÓGICA - Adelar Conceição ........ 11
RIZOMA: PRODUÇÃO DE UMA LITERATURA MENOR - Ana Paula Remingio Vaz .... 24
O MISTÉRIO DA ESCOLHA EM SARTRE - Vítor Hugo dos Reis Costa ......................... 182
O Ser e o Nada (1943) pode ser visto como a síntese do primeiro grande período do
pensamento de Sartre. Os desdobramentos teóricos e a unidade de suas primeiras obras
dependem em grande medida da possibilidade da fenomenologia constituir-se numa
ontologia, ou seja, como pretende o subtítulo da obra, do sucesso de um Ensaio de Ontologia
Fenomenológica. Contudo, embora quase sempre se faça referência a este desenvolvimento
do pensamento de Sartre, nem por isso ele parece ser motivo de uma maior explicitação. O
presente texto tem por objetivo compreender o sentido desta passagem, tomando por base o
entendimento do projeto sartreano como radicalização da fenomenologia a partir do princípio
fundamental da intencionalidade. Os primeiros textos de Sartre, A transcendência do Ego
(1936), A Imaginação (1936), Esboço de uma Teoria das Emoções (1939) e O Imaginário
(1940), tem como foco principal a análise de temas ligados à consciência e ao
desenvolvimento de uma psicologia fenomenológica - notadamente sobre conceitos-chave
como a imaginação e as emoções. Não há dúvida, portanto, quanto ao método e a filiação
pretendida por Sartre à escola da fenomenologia. Contudo, a fenomenologia era para Husserl
uma filosofia das essências. Se o seu ponto de partida é o "partir das coisas mesmas", seu
método consistia, no entanto, em colocar entre parênteses todo dado de fato para buscar as
essências ideais. Mas, se a consciência surge primeiramente a partir de sua inerência ao
mundo, então o método fenomenológico deve tratar primeiramente de tematizar esse
existente. A partir disto é que Sartre empenha-se em desenvolver a estrutura da consciência
proposta por Husserl, procurando corrigir certos pressupostos que teriam levado sua teoria a
uma certa ―incoerência‖ interna. Se Sartre aceita a fenomenologia é com a intenção de
radicalizá-la. Seu interesse pela fenomenologia não se restringe a um interesse meramente
metodológico. O ponto de partida desta tarefa consiste na tese husserliana sobre a
intencionalidade da consciência: toda consciência é consciência de qualquer coisa. Sartre
compreende que através desta tem-se a afirmação de que ser consciência de qualquer coisa é
estar diante de uma presença concreta, um objeto, que não é a consciência e que, se o
movimento vem sempre da consciência, seu sentido lhe advém de fora, da coisa. Levando isto
em consideração, Sartre descreve a consciência, na sua pura imanência, como uma certa
identidade entre ser e aparecer: a consciência só é enquanto aparece. Deste modo, a
transcendência aparece, pois, como a marca distintiva da consciência, e assim, o que aparece
não se refere tão somente ao fenômeno do conhecimento, mas põe em questão o próprio
sujeito do conhecimento. Porque para a consciência ser é aparecer esta não se limita ao nível
fenomenológico, a aparição nos reenvia ao nível ontológico e não nos situamos mais ao nível
do conhecimento. Pela intencionalidade a consciência é já um conhecimento de si, mas isto,
Sartre o diz, de maneira não-posicional. A dificuldade dá-se se começarmos por identificar
sem mais consciência e conhecimento. Isto seria confundir consciência reflexiva com
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A ética, tratada por Ricoeur nos estudos sete, oito e nove de O Si mesmo como um
Outro (1991), traça os contornos daquilo a que chama de a ―minha pequena ética‖, onde
procede à distinção de três níveis da vida moral, a saber: o nível ético, ―delineado‖ a partir do
predicado ―bom‖, o nível moral, a partir do predicado ―obrigatório‖ e, finalmente, como
mediação difícil entre ambos, o nível da sabedoria prática. Este tipo de análise ricoeuriana
acontece, a partir da dimensão da investigação da ipseidade obedecendo a regra do desvio da
reflexão pela análise presentes já antes em seus estudos. Este método de investigação se
justifica pelo fato de os predicados bom e obrigatório estarem para a ação assim como as
proposições do discurso estão pra o locutor, que a si mesmo se designa ao pronunciá-las, ou
que as frases da ação estão para o agente ―capaz de fazer‖, ou ainda, que as estruturas
narrativas estão para a constituição da identidade narrativa. Na verdade, afirma o autor
que ―as determinações éticas e morais de ação serão aqui tratadas como predicados de um
novo gênero, e a sua relação ao sujeito da ação, como uma nova mediação no caminho do
retorno em direção ao si mesmo. O que acontece então com a distinção proposta entre ética e
moral? etimologicamente, nada se impõe no uso dos termos. Um vem do grego e o outro do
latim, ambos remetem a noção de costumes, porem com uma dupla conotação; sobre o que é
tido como bom e o que se impõe como obrigatório. Ricoeur, em sintonia com a tradição
teleológica proveniente de Aristóteles – por convenção – reserva o termo ―ética‖ para
significar a vida realizada ou concluída de acordo com a ação estimada como ―boa‖, enquanto
que o termo moral faz referencia a deontologia kantiana e remete ao que se impõe como
―obrigatório‖, que indica mais precisamente o dever ou a obrigação moral. O terceiro nível da
vida moral caracterizado por Ricoeur como sabedoria prática, é um momento que não se
acrescenta aos demais: este momento, consiste na compreensão de que o agente moral
autônomo inventa um comportamento adequado à singularidade de cada caso, de cada
situação existencial, de cada contexto de ação, seguindo de perto o sentido já proposto por
esta phronesis aristotélica ou a prudentia latina. Isso implica de imediata que a noção de
autonomia tem de ser enfraquecida, pois já não poderá ser vista enquanto uma autonomia
auto-suficiente, como aquela pensada por Kant. A autonomia terá de ser situada e, portanto,
limitada pelas reais condições da existência singular. Devido ao destaque de Ricoeur aos
projetos das tradições aristotélicas e kantiana, em teses divergentes, bem como devido à busca
de articulação entre elas, ele distingue três níveis em sua proposta. No primeiro, a ética ganha
primazia em relação à moral, remarcando desde já a anterioridade da perspectiva teleológica
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da vida boa e da felicidade em referência ao que se impõe como dever e obrigação. Não
obstante, isso não pode ser assimilado de modo que não se possa ver o real alcance da
dialética implicada nos dois níveis seguintes: o de que a perspectiva ética terá de passar
constantemente pelo crivo da norma; e, inversamente, a norma moral deverá ser orientada
obviamente pelo horizonte ético. Assim sendo, o juízo deontológico e o teleológico, muito
embora tenham alcances diferentes, deverão ser complementares. Em resumo, isso implica em
observar dois movimentos diferenciados em sua proposta: em um sentido, a ética terá de ser
articulada em relação a normas com pretensão de validade universal, efeito de
constrangimento e obrigatoriedade; e, noutro, as decisões morais, tomadas com referência a
valores pretendidos como universais, terão de ser avalizadas pela perspectiva da vida boa.
Sobre este ponto cabe um parênteses: Ricoeur defende que a ética se funda num sujeito
autônomo que, inserido como ser finito no mundo, interpreta e reinterpreta constantemente os
valores explícitos e implícitos nas narrativas vividas e recebidas; não obstante, noutro sentido,
nascido agora de uma exigência moral, o mesmo sujeito adapta e readapta suas escolhas e
liberdades pessoais aos desafios presentes. Para compreender melhor, é preciso entender que,
num primeiro movimento, a tradição kantiana deontológica fica subordinada à aristotélica
teleológica, isto é, o contexto da vida ética ganha anterioridade em relação às regras, aos
princípios e às obrigações morais; e que, além disso, as normas terão de ser aplicadas com
vistas ao seu enraizamento na experiência do agente moral situado. Por último, como segundo
e terceiro movimento, o esforço será no sentido da complementação entre o juízo teleológico
e o deontológico. Esta necessidade é mais bem visível nos chamados casos difíceis (hard
cases), os geradores de conflito e de sofrimento, sob o qual o juízo moral se demonstra
insuficiente para dar uma orientação segura numa situação específica, e por este motivo, se
tem de recorrer à perspectiva ética. Do contrário, nos casos em a ética se revela incapaz de
instruir suficientemente uma decisão, é preciso então recorrer ao nível moral.
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mediante o conhecimento. A experiência decisiva aqui reside no fato de que o outro me vê:
ele não me poderia olhar com quem olha uma coisa. O outro é aquele que me olha. Existe
uma conexão entre mim e outro, diferente de minha relação com os objetos. Esta relação
interna aparece quando acontece o olhar do outro sobre mim. O olhar do outro me causa um
arrepio imediato que Sartre denominará vergonha. Esta não é reflexiva, pois a presença do
outro à minha consciência é incompatível com a atitude reflexiva: na minha reflexão só
encontro a minha consciência. O outro é mediador entre mim e mim mesmo, pois ―sinto
vergonha tal como apareço ao outro‖. É reconhecimento: ―reconheço que sou como o outro
me vê‖. Não é comparação ao que sou para o outro e o que sou para mim, pois não há
correspondência. O problema da intersubjetividade em Husserl surge a partir do próprio
caminho metodológico adotado por ele. Pois, realizada a epoché e a redução ao eu
transcendental como um ―si mesmo‖ ligado ao seu fluxo de consciência e os seus diversos
modos intencionais de constituição objetiva, permanece o eu. Em relação à questão do
solipsismo, Sartre critica Husserl e defende que, embora ele tente sair do solipsismo,
procurando afirmar que o outro é condição necessária para a constituição do mundo, por causa
da redução fenomenológica cai em um idealismo, deixando um eu isolado constituinte. Esta
relação com o outro, em Husserl, é a nível de conhecimento, segundo Sartre. Husserl
reconhece o outro apenas como análogo, mediante a experiência que tenho dele, a qual é
mediada pela consciência. Sartre tenta sair do nível do conhecimento do outro, defendendo
que o outro não sendo objeto do conhecimento não remeteria a probabilidade. O outro deverá
aparecer ao cogito como não sendo eu, por negação interna. O ser-visto-por-outro será então
uma experiência irredutível, pois o outro é aquele que me vê. Essa relação aparecerá quando
ocorrer o olhar do outro sobre mim. E a partir do olhar do outro, me reconheço como o outro
me vê, mas só tenho acesso à consciência que é minha. O outro me objetiva me dando uma
qualificação, mas não tenho acesso ao seu interior. Tanto em Husserl como em Sartre, não há
acesso ao outro. Apenas exteriormente. No método fenomenológico há o problema da
intersubjetividade, na medida em que há um primado da consciência. Este acesso ao outro é
mediado pela minha consciência, prevalecendo o eu. Na fenomenologia então aparece essa
tentativa de acesso ao inacessível, abrindo para uma discussão metodológica. Esta relação
com o não próprio, tentando demarcar o que é próprio. Em Husserl isso se dá na medida em
que reconheço o outro como análogo, mas como um estranho, não próprio. Enquanto em
Sartre, o reconhecimento de si mesmo através do outro se dá pela negação interna: eu não sou
o outro.
Professor da UFFS
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Campus Chapecó, SC
cora@uffs.edu.br
Professor de Filosofia/UPF
favero@upf.br
UNIOESTE
menteflexivel@ig.com.br
Graduanda - UFPR
mlle.fleurdanis@hotmail.com
paulinha_the@hotmail.com
como Hans Jonas desenvolve um questionamento ético a partir da produção tecnológico como
desdobramento do conhecimento científico.
PucPr/CNPq
anderpbueno@hotmail.com
tudo, considerar que o campo fenomenal já está delineado desde o segundo capítulo de A
Estrutura do Comportamento. Como se fosse possível, através dessas noções romper o
abismo dos sistemas que opõem em campos diversos o percebido, a percepção e o
percepiente. As teorias clássicas cavaram os seus próprios dilemas, os seus vazios
ontológicos. Admitindo a experiência primordial não há, definitivamente, mais lugar para
antinomias da consciência e para os abismos funcionais – perceber, falar e pensar – que
descrevem o homem como uma máquina preparada, para executar linearmente e
atomisticamente um considerável número de operações, sempre dependentes entre si. Como,
então, proceder diante do realismo empírico e do idealismo transcendental? Temos que
recusar a noção da consciência ingênua com sua certeza de uma experiência externa, que não
hesita em sair de si mesma para aderir aos objetos? Ou, ainda, abandonar a noção kantiana de
consciência, que sustenta que as coisas materiais são como as causas inapreensíveis de
representações unicamente dadas em si mesmas? Ou melhor, as duas estão com razão e sem
razão ao mesmo tempo. Se quisermos, então, compreender o verdadeiro significado da
percepção temos que retornar à experiência que a designa e, ainda, evitar o esquematismo
psicologista, quase que totalmente reflexionante, que se estabeleceu de Descartes a Kant.
Temos, fundamentalmente, que parar de concebê-la a partir de uma instância superior e de
instituí-la artificialmente como uma operação posterior que deve ser ultrapassada. O seu
significado supõe que abriremos, ao sentir, um espaço no domínio pré-objetivo anterior a
qualquer exame abstracionista. Só assim podemos, de algum modo, querer defini-la. Porém,
sabendo que nunca conseguiremos isso de maneira integral.
UNIOESTE/Bolsista PIBIC/CNPq
annalorenzoni@hotmail.com
Ernst Bloch, na obra O Princípio Esperança, trata do ato de esperar, e de como esse
ato é uma característica fundamental do ser humano, impelindo-o a buscar o novo, a buscar
por uma vida melhor. A esperança é tomada como uma das formas de resistência que
impedem a resignação, e está ligada intimamente com o que o autor chama de ―sonhos
diurnos‖. É imprescindível entender o que distingue os ―sonhos diurnos‖ dos sonhos noturnos,
e qual é o seu papel na vida humana quando se estuda a obra supracitada. Tendo em vista que
este conceito está vinculado a outros conceitos importantes do autor como os de ―utopia
concreta‖ e ―consciência antecipadora‖. O objeto de investigação deste trabalho é a ―Parte I‖
do primeiro volume de O Princípio Esperança, onde o autor investiga os ―Pequenos Sonhos
Diurnos‖. Nesta parte, são feitos relatos dos sonhos acordados do tipo mediano, que tem
como característica a leveza e a liberdade de escolha presentes da juventude até a velhice.
Trata-se de um diagnóstico geral dos desejos sem regras que fazem parte do cotidiano, em
especial, dos homens sem consciência de classe, mas que já tem em seu fundamento o
impulso pelo novo. A espera marca presença já nos primeiros anos de vida, onde a criança
não sabe o que desejar, e por isso tem curiosidade por tudo; na ânsia pelo novo, espera pelo
próprio desejo. O transformar-se só se concretiza um pouco mais tarde por meio das
brincadeiras, onde a criança pode se distanciar do abrigo doméstico e lançar seu olhar em
direção ao outro. Por volta dos sete ou oito anos, segundo o nosso autor, surge uma vontade
de isolamento e, embora haja a busca por um refúgio (ainda que seja feita por meio de
desenhos), esse esconder-se nada mais é do que a busca por um espaço aberto, livre. Sonhar
significa movimentar-se. Por volta dos treze anos de idade descobre-se o próprio eu, e os
sonhos são, basicamente, histórias de uma vida melhor onde o eu é o centro de tudo; os
desejos, aos poucos, vão se tornando mais precisos, mesmo que ainda não se tenha vivenciado
muito. Os sonhos, até essa fase, são tratados por Bloch como castelos de ar, ainda são
fantasias ―pobres‖, sem desejos marcantes; as fantasias possuem representações da infância e,
por tratarem da solidão, continuam sendo motivo de fuga. Aos dezessete anos, no entanto, a
última coisa que se deseja é a solidão, ―ninguém entra sozinho no castelo dos sonhos‖.
Embora não se queira ficar sozinho, o contato com outros fere a confiança e aflige. Por isso os
sonhos passam a se voltar para a vida futura, adulta. Esta fase da vida geralmente é
considerada infeliz – por conta das frustrações recorrentes da idade -, mas também é bem-
aventurada por causa da beleza das descobertas que ainda serão conquistadas. Os sonhos desta
fase ainda são imaturos, idealistas, e os desejos estão associados à vontade de ser importante.
Ao tratar dos desejos mais maduros, Bloch afirma que o ato de desejar não diminui neste
período, mas o que de fato diminui é o que se deseja. Com o conhecimento que a vida
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garante, a mira do desejo passa a ser mais precisa. Aquele que sonha acredita saber o que a
vida deveria lhe oferecer, e o que é importante continua faltando. Costuma haver uma
retrocessão dos desejos do sonhador, onde o sonho melhora uma atitude errada realizada no
passado, reparando suas perdas. Também são comuns sonhos vingativos, e estes são muito
perigosos. No entanto, grande parte dos sonhos cotidianos são afetuosos, neles nos
contentamos em organizar um pouco aquilo que nos pertence; embora alguns desses sonhos
sejam um tanto quanto tolos, grande parte deles dá ânimo, pois mostra coisas possíveis de
serem conquistadas. O sonhador não-burguês tem apreço por coisas que pertencem a outros,
mas, para Bloch, o que ele imagina, essencialmente, é uma vida sem exploração; nesse tipo de
sonho estão contidas perspectivas de um ideal revolucionário, pois os outros não são vistos
como barreiras que impedem essas conquistas, mas sim como possibilidade de concretização.
A última fase da vida analisada por Bloch é a velhice e, para ele, neste período aprende-se a
esquecer. Os desejos que serviam de estímulo recuam, porque não há mais confiança em
poder realizá-los. Há uma multiplicação dos medos impostos pela razão, e um aumento da
ânsia pelo conforto. Essa fase da vida começa a ser sentida por volta dos cinquenta anos, e é
única fase em que é evidente a perda das fases anteriores. A velhice é tratada como algo
desconhecido, pois não há clareza sobre os ganhos que ela pode proporcionar, apenas é vista
como uma despedida. No entanto, Bloch alerta que as reações comuns na velhice não se
aplicam a todos os casos e podem ter maior ou menor intensidade. A ―culpa‖ pelo modo
negativo com que se enxerga a velhice é responsabilidade da sociedade burguesa, pois em
outras sociedades a velhice era tratada como algo desejável, tendo em vista que é a fase onde
mais se pode experimentar. Um desejo que perpassa toda a velhice é o de sossego, chegando a
se sobressair ante os arrependimentos do passado. Entretanto, o novo ainda atrai a atenção, e
sempre é buscado, independe de seu conteúdo. É perceptível como o desejo pelo o melhor
sempre permanece, mesmo com todos os impedimentos possíveis. E, para Ernst Bloch, caso
aquilo que é desejado vier a se concretizar, será, de qualquer maneira, surpreendente.
Podemos concluir, portanto, que o novo e, neste sentido, o u-tópico (não-lugar) é um
elemento constituinte da condição humana e isto em todas as fases da vida.
Referências:
KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Brasil Publicações, 1959.
______. Crítica da razão pura. 7° ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 2010.
POPPER, Karl Raimund. A lógica da pesquisa científica. 16 ed. São Paulo: Cultrix, 1972.
______. Conjecturas e refutações. Brasília: UnB, s/d.
Unioeste
bernardosakamoto@yahoo.com.br
A Bioética trata dos problemas éticos suscitados pelas manipulações com seres vivos.
Os princípios da Bioética têm natureza prática, são úteis. Eles são: a não maleficência, a
beneficência, a autonomia e a justiça. A Bioética considera-os em todos os casos submetidos à
avaliação. Estes princípios constituem o referencial teórico para justificar as normas da
Bioética. A Bioética é uma disciplina recente, não tem mais de cinquenta anos, e é o estudo
dos problemas éticos suscitados pelas pesquisas, manipulações com seres vivos e, suas
aplicações feitas principalmente por biólogos e médicos. Ela faz uma reflexão crítica sobre as
situações e consequências da manipulação humana no referente à vida. Nesta reflexão surgem
varias tendências que abarcam diversos setores da sociedade, daí sua característica
interdisciplinar. A Bioética envolve as disciplinas como a ecologia, a antropologia, a biologia,
a ética, a psicologia, a sociologia, o direito, a educação, a teologia etc. A Bioética trata de
questões como: é justificado utilizar os seres vivos nos experimentos? Existe a legitimidade
moral do aborto ou da eutanásia? quais as implicações profundas da pesquisa e da prática no
campo da genética? etc. Por tentar dar resposta a estas questões, a Bioética possui um
discurso normativo pois, como toda ética, tenta orientar através de normas de conduta. Esta
disciplina enfrenta um novo campo de interrogações éticas surgidas pelas práticas
tecnocientíficas em biomedicina: seja em humanos ou nos reinos animal e vegetal. A Bioética
nos diz como devemos agir frente à eutanásia, às técnicas de fecundação artificial, à clonagem
humana, ao mapeamento genético etc. A Bioética caracteriza-se, em primeiro lugar, pelo
diálogo transdisciplinar entre a medicina, a ética, o direito e a teologia, biologia, educação etc.
Ela propicia um espaço de interação onde as diferentes comunidades de pensamento podem
dialogar e discutir as questões produzidas pelo desenvolvimento biomédico (do aborto à
experimentação humana, passando pela terapia genética e a fecundação artificial). Num
primeiro momento, a Bioética, questiona, debate, analisa, esclarece e explica questões éticas,
indica métodos de reflexão, destaca valores e princípios sobre determinados problemas
específicos. Num segundo momento, a análise ética conduz a uma tomada de decisão prática
acompanhada de recomendações precisas. Estas decisões sobre a vida, o interesse do homem
por prolongar sua existência, a preocupação com o planeta e o futuro da humanidade fazem
que a Bioética interesse a todos os setores da sociedade. Por sua abrangência, a Bioética é
uma das disciplinas que alcançou maior difusão no começo de milênio. Na atualidade existem
Comitês de Ética em quase todos os países do mundo. Em segundo lugar, a Bioética
apresenta-se sob a forma de normas que se decidem pelo consenso das Comissões de Ética.
Estas tomam em conta as conseqüências e o contexto particular de cada situação, respeitando
os direitos humanos. As novas tecnologias fizeram ressurgir temas filosóficos que não
consideravam as éticas antropocêntricas: que sentido tem a vida e qual o papel do homem
frente à natureza? Estes questionamentos fizeram repensar a responsabilidade humana. A
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razão não privilegia ao homem, pelo contrário lhe dá maior responsabilidade perante as outras
criaturas e à natureza em geral. A Bioética, diferentemente das éticas antropocentristas, possui
o compromisso e a responsabilidade com o futuro da humanidade, com os animais, plantas e o
meio ambiente, em fim, a bioética assume responsabilidade com a preservação de nosso
planeta. Ademais, a Bioética distingue-se, das antigas éticas antropocêntricas, por ter efeito
normativo nas biotecnologias. A Bioética é a reflexão sobre a vida, sem pretender chegar a
uma discussão concluída ou última. Como a filosofia, ela tenta encontrar a melhor
fundamentação revendo sempre seus argumentos. A Bioética, como a filosofia, é de caráter
problemático e questionador, reflete sobre o futuro da humanidade, questiona os objetivos e
os métodos da ciência, respeita a dignidade e a integridade dos homens. A Bioética por seu
caráter prático é útil, ainda mais, é indispensável para a toda atividade profissional que tenha a
ver com a vida ou prática social. As normas da Bioética têm que ser respeitadas por todos.
O filósofo escocês David Hume (1711 – 1776) foi um dos maiores críticos da
metafísica, da crença inabalável na racionalidade. Conhecido apenas por seu ceticismo ao
tratar destes temas, nunca é lembrado pela parte de sua filosofia que pretende construir uma
epistemologia e moralidade em bases mais seguras, que segundo ele, só podem ser
encontradas na experiência. Neste texto, pretendo apresentar a sua proposta de fundamentação
moral à luz de sua ―doutrina da necessidade‖. Hume afirma que não temos um acesso à
relação mesma de causa e efeito que geralmente afirmamos acerca dos objetos externos. Para
ele, o costume de observar a "conjunção constante e invariável entre dois fenômenos"(T 2.3.1
439) ao inferirmos que existe essa de fato essa relação, criamos na imaginação uma relação
tão forte entre esses dois fenômenos, que mesmo em algum caso essa relação não ocorra
como esperamos, não mudamos nossa crença, mas antes, buscamos compreender o que nos
passou despercebido em dada situação. Tal doutrina da necessidade também esta presente na
moralidade. A liberdade, para Hume, só pode ser compreendida como sinônimo de acaso.
Para ele, nossos julgamentos baseiam-se na crença de que existe uma relação necessária entre
nossos motivos e nossas ações, sendo estas sempre consequência daquelas. As mesmas
condições que nos fazem afirmar a necessidade da relação entre as causas naturais também
nos permitem afirmar a necessidade das nossas ações. Portanto, ao agir, não somos livres. Ao
contrário do que comumente acreditamos, Hume afirma que o fato de não sermos livres
legitima os nossos juízos morais e a imputabilidade dos agentes morais. A partir dessas
considerações é possível compreender a crítica humiana à tradição racionalista no tocante à
fundamentação moral, bem como seu projeto de fundamentação calcado nas nossas sensações.
UNICENTRO/ Sesu-MEC
bruno_senoski@yahool.com.br
UFSM
Bolsista CNPq.
camila.menotti@gmail.com
1
KANT, 2008, p. 33.
2
KANT, 2008, p. 32.
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Este trabalho tem por escopo a análise do pensamento de Karl Marx sobre a igualdade
no sistema capitalista de produção, exposta na obra O Capital. Karl Marx, diferente de outros
pensadores, não define ou conceitua a igualdade, porém, o tema é recorrente em suas obras,
sempre em passagens fáticas, ao descrever e analisar o sistema capitalista de produção, a
sociedade civil e o Estado moderno. Na obra O Capital, Marx discorre sobre a igualdade e a
analisa sobre a ótica do próprio capital, da classe trabalhadora, do modo de produção
capitalista, das leis editadas pelo Estado e da sociedade civil. Logo, dentro dessa perspectiva
que o trabalho será desenvolvido, a fim de entendermos a relação existente entre o sistema
capitalista de produção e a igualdade. Nessa esteira, a fim de demonstrar a pertinência e
importância do tema, trazemos algumas passagens de O Capital, onde Marx aborda a
igualdade e o sistema capitalista. Em uma dessas primeiras passagens, Marx afirma que ―o
direito fundamental do capital é a igualdade na exploração da força de trabalho por todos os
capitalistas‖3. Nesse trecho, ao versar sobre a igualdade, Marx afirma que tal princípio é
utilizado pelos capitalistas, para, sem qualquer distinção ou limitação, contratar a força de
trabalho do trabalhador, a fim de empregá-la na produção da fábrica. Adiante, além da
igualdade entre os capitalistas, Marx trata de outra igualdade, a dos trabalhadores, ao dizer
que esses podem vender sua força de trabalho, por meio de um contrato, pressupondo então, a
igualdade entre as partes [capitalistas e trabalhadores] (2011, p. 345-6). Apesar de existir a
igualdade na sociedade civil, já que o capital, na figura do capitalista, pode explorar
igualmente o trabalho, e os trabalhadores podem, da mesma maneira, por meio de um
contrato, vender sua força de trabalho, Marx procura mostrar ao leitor a outra face dessa
igualdade: a desigualdade. Ao tratar sobre a desigualdade existente no sistema capitalista,
Marx diz que ―na manufatura, o enriquecimento do trabalhador coletivo e, por isso, do capital
em forças produtivas sociais realiza-se à custa do empobrecimento do trabalhador em forças
produtivas individuais‖4. Seguindo, para Marx, em face das novas tecnologias, a ―maquinaria
transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número de assalariados, colocando
todos os membros da família do trabalhador, sem distinção de sexo e de idade‖ 5. Com a
invenção da maquinaria e sua utilização em larga escala nas indústrias, o sistema capitalista
3
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, volume I. Tradução de Reginaldo Sant‘Anna. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 2011. p. 336.
4
Op. cit., p. 416-7.
5
Op. cit., p. 451.
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Bibliografia:
6
Op. cit., p. 484.
7
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, volume II. Tradução de Reginaldo Sant‘Anna. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 2011. p. 749.
8
Op. cit., p. 766.
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PUC-PR
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alienados a uma força pela qual antes exercia domínio e após isso apenas um mantimento
social. E é esse conhecimento universalizado que o autor chama de cultura (2006, p.95).
Entretanto, no estudo abordado existem duas ideias fundamentais para compreensão da
cultura afirmativa: a primeira é que a cultura poderia expressar o entrelaçamento do espírito
com o processo histórico da sociedade.
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ordenações reconfortantes, estabelecendo valores para conceitos que acabam por ser tomados
como verdades inquestionáveis. Trata-se então de uma critica dos valores morais operantes
por detrás das ações humanas, encaminhando o sentido da discussão por vias de retorno sobre
si-mesmo, estabelecendo o próprio conjunto de vivências pessoais como horizonte crítico a
ser conquistado. Mas tal conquista implica numa ―demolição‖ dos princípios morais
cristalizados por meio de hábitos mal-entendidos ou conformações niilistas. Dos escombros
da antiga moral pode se dar o estabelecimento de uma moral que afirme a vida em sua
inabarcabilidade e instantaneidade decisivas. Temos então o humano defrontando-se com sua
finitude, efetivamente responsável, mas já livre do sentimento de culpa como algo inerente.
Ao concebermos o cinema como modo de expressão do humano, considerando o viés
imaginativo como referência para apontar seus alcances, foi possível observar como as
diferentes linguagens expressam visões inquietantes de mundo, e que ao exemplificar as
temáticas filosóficas com este modo ―alternativo‖ propomos um meio mais dinâmico de
entender e discutir tais questões através de oficinas de ―Cinema e Filosofia‖, passadas
quinzenalmente para os alunos. Sendo tal convocação o que aproxima a temática dos curtas-
metragens à reflexão nietzschiana, possibilitamos assim uma ponte para a abordagem
filosófica sobre o que seja o humano, suas verdades e como ele se relaciona com o mundo.
Não raras vezes quando se propõe discutir questões relacionadas à educação, ou mais
especificamente ao processo de ensinar, depara-se com uma série de outras questões que se
colocam como verdadeiros obstáculos, muralhas em nosso caminho, os quais, muitas vezes
impelem a desviar do percurso por parecer intransponível. São verdadeiras muralhas em torno
da questão da formação de professores e estas se tornam mais sólidas quando a formação é a
do filósofo educador - daquele que, ao final da Licenciatura, estará apto a exercer a atividade
profissional de professor de Filosofia na educação básica. No entanto, este artigo pretende
tematizar estas muralhas na tentativa de transpô-las, o que talvez não seja possível de uma só
vez, ou talvez o seja de pedra em pedra, por meio de lacunas, ou fendas que encontrarmos, o
importante é estar disposto a transpor. Partimos da ideia de que é preciso tratar a formação
dos professores como um problema filosófico e sendo assim, ressaltar a importância das
práticas de ensino e das disciplinas específicas para a formação do licenciado em Filosofia.
Num primeiro momento, são apresentados os aspectos legais do ensino de Filosofia, haja
vista, a conquista de sua obrigatoriedade no ensino médio, busca-se traçar um mapa dessas
conquistas e identificar os desafios que temos a partir dela. Num segundo momento, são
apresentadas algumas dificuldades enfrentadas pelos docentes estagiários quando realizam sua
regência na prática de ensino sob a forma de estágio supervisionado. Busca-se, sobretudo,
refletir na necessidade de repensar os cursos de licenciatura para que contribuam de maneira
mais efetiva na formação do futuro professor de Filosofia, o filósofo educador. A proposta
que se apresenta é ter uma nova visão sobre a prática de ensino nos cursos de licenciatura, que
seja vista como uma dimensão do conhecimento, o que implica em reconhecê-la como um
componente curricular, ou seja, como um conjunto de atividades formativas que perpassam
todo o curso e não somente nas horas destinadas à prática supervisionada. É preciso diminuir
a distância que há entre a teoria, que fica reservada à sala de aula, e à prática que é de
responsabilidade do estágio, uma concepção ainda dominante nos cursos de formação que os
tornam segmentados em dois pólos, isolados entre si: o trabalho na sala, que supervaloriza os
conhecimentos teóricos, acadêmicos, desprezando as práticas como importante fonte de
conteúdos da formação de aula e as atividades de estágio que supervalorizam o fazer
pedagógico, desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção
e análise contextual das práticas. A prática de ensino deve ser o elemento articulador entre a
formação teórica e a prática pedagógica, e já deve ser prevista e relacionada às demais
disciplinas que propiciam as bases da formação docente do licenciado em Filosofia ao longo
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do processo formativo. Concluindo, é a partir desta nova visão da prática de ensino como
componente curricular que se pode vislumbrar uma possibilidade de oferecer uma formação
de qualidade aos futuros professores de Filosofia, ao filósofo educador, uma formação que
realmente o torne apto a exercer a profissão a qual foi licenciado e consiga fazer de suas
aulas, espaço para verdadeiras experiências filosóficas.
Mestrando
UNOESC – Unidade Chapecó
celso.costa@unoesc.edu.br
Mestrando
UFFS – Campus Chapecó
diegobeal@hotmail.com
Palavras-chave: símbolo, interpretação, filosofia
Conhece-se bem a fuga interminável que o pensamento faz para trás na tentativa de
buscar uma primeira verdade, um ponto de partida radical, o que, evidentemente, poderia não
ser uma primeira verdade. No entanto, a dúvida é: para que voltar atrás se a filosofia já é
reflexão? Segundo Ricoeur, para dizer que a filosofia pressupõe um dado, tem um ponto de
partida, e que a reflexão não pode se abster disso, como fez ao tornar o conhecimento uma
evidência psicológica, uma intuição intelectual. Nisso, Ricoeur se diferencia tanto de
Descartes que situa o ponto de partida numa verdade clara e distinta, quanto da
fenomenologia husserliana que prolonga Descartes, ao situar a radicalidade no sentido
fundador da consciência intencional que torna possível o aparecer de um mundo sempre ´já
aí´. Para Ricoeur ―a filosofia abarca o pensamento com seus pressupostos. Seu primeiro que
fazer não consiste em começar, senão em fazer memória partindo de uma palavra já em
marcha; e de fazer memória com vistas a começar‖. Para fundamentar essa evidência de que a
filosofia não se nutre de saída da razão, experiência ou ainda da consciência, Ricoeur primará
pela análise dos símbolos, dos sinais da fala humana como fonte para a filosofia. Pretende-se,
portanto, demonstrar o papel do símbolo na filosofia ricoeuriana, orientado pela máxima: ―O
símbolo dá que pensar‖. Para isso, demonstrar-se-á que o pensador percorrerá um longo
trajeto, a começar pela fenomenologia que compreende o símbolo a partir do próprio símbolo.
Seguido da proclamação da insuficiência do elemento fenomenológico para compreensão
simbólica, e da necessidade do enxerto hermenêutico na fenomenologia, o que visará
interpretar cada texto ou símbolo particular em consonância com outras posições expressivas.
O enxerto terá em vista gerar o pensamento a partir do símbolo, o que para Ricoeur constitui a
etapa propriamente filosófica, pensada ―a partir dos símbolos, segundo os símbolos‖, que
―constituem o fundo relevante da fala que habita entre os homens‖. Partindo dessa assertiva, a
pretensão ricoeuriana exige de sua hermenêutica uma coerência de extrema vigilância na
articulação da hermenêutica dos símbolos com a reflexão filosófica, com a intenção de, extrair
do símbolo um sentido que põe em movimento o pensamento, sem voltar à interpretação
alegorizante ou gnóstica; e, sem cair na mitologia dogmática, interpretá-lo criativamente,
respeitando-o em sua característica de enigma original e deixando-se ensinar por ele, para
promover e formar o sentido na responsabilidade de um pensamento autônomo. Verificamos,
então, que a hermenêutica ricoeuriana emerge e se propõe a meditar e compreender os
símbolos enquanto eles oferecem algo à reflexão filosófica e à compreensão de si. A questão,
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no entanto, não é fácil, pois, a filosofia nasce na Grécia exatamente mediante a separação
entre ciência e mito, pelo fato da linguagem simbólica padecer de uma série de limitações, ou
seja, o símbolo, logo de início, está irremediavelmente ligado a uma dada cultura: babilônica,
hebraica, grega, etc. Portanto, o símbolo é particular, não podendo ter pretensão de
universalidade. Um segundo aspecto é que a reflexão filosófica como ciência rigorosa exige
univocidade. A filosofia não pode cultivar o equívoco. Mas o símbolo, a partir da própria
definição de Ricoeur, é multívoco, tem um sentido em si e um sentido fora: é o literal e o
oculto. Finalmente, um obstáculo ainda mais forte é o de que a interpretação dos símbolos não
é uma ciência, por isso mesmo é contestável, revogável e alterável. O simples fato de haver
estilos (no plural) de interpretações denuncia o problema. Como justificar filosoficamente a
guerra das hermenêuticas? Como extrair do símbolo um sentido que põe em movimento um
pensamento sem supor um sentido ´já aí´ (imediato), nem tombar no pseudo-saber de uma
mitologia dogmática (de uma gnose)? Pelo pensamento como reflexão que é essencialmente
desmitologizante. Ricoeur propõe o caminho inverso, ou seja, em vez de partir do símbolo
para chegar à reflexão, partir da reflexão filosófica para chegar ao símbolo, e demonstrar qual
a relevância daquela para esta. O símbolo é a manifestação do outro que diz de mim, e se a
filosofia quiser se manter viva, precisa dialogar com o ―outro‖. Por fim, é de se considerar
que nosso autor está convicto de que os símbolos mostram que há sempre mais nos mitos e
nos símbolos que em toda a filosofia, cuja interpretação jamais se tornará conhecimento
absoluto.
Professor Filosofia
Unioeste
cesar.battisti@hotmail.com
O problema que pretendo discutir diz respeito à compreensão da divisão entre ações e
paixões (operada por Descartes no artigo 17 das Paixões da Alma e em textos paralelos) e ao
modo como devemos entendê-la com respeito à natureza da res cogitans. Trata-se de saber se
essa divisão incide sobre a essência mesma do pensamento e de como devemos entender a
definição de pensamento a partir dessa dicotomia entre ações e paixões. Segundo o ponto de
vista aqui defendido, a intenção de Descartes parece ser, nesses textos, apenas a de distinguir
fenomenicamente os dois tipos principais de pensamentos e apontar a faculdade
preponderante em cada um deles. Nesse sentido, distinguimos claramente as vontades do
restante dos outros pensamentos, elas com seu aspecto claramente ativo em contraposição à
passividade das percepções. Por outro lado, a possibilidade de as vontades serem também
percepções e as percepções, vontades, como afirma o autor, mostra certa relatividade nas
denominações que, somadas às várias atenuações presentes nas afirmações de Descartes,
parecem indicar que a distinção entre ações e paixões, se ainda pode ser dita essencialmente
constitutiva da res cogitans, só poderá sê-lo em um nível secundário. Algumas das razões que
nos conduzem a essa conclusão são dadas a seguir de forma sintética. A primeira delas diz
respeito à tese cartesiana de que a alma pensa sempre e ininterruptamente. Ora, se ela pensa
sempre, o pensar não pode ser fruto de uma decisão ou de uma vontade, não pode ser uma
ação produzida pela mente: o pensar iniciou quando certa res cogitans passou a existir e
perdurará até ela definhar. Portanto, não se pode admitir que pensamentos surjam por vontade
de uma mente ou por ação de uma alma. Pensamentos são ela mesma existindo atual e
temporalmente. Por isso, não pode haver, aqui, ações da substância pensante. Em síntese, a
alma não pode decidir se vai pensar ou se para de pensar. Caso contrário, minha decisão seria
tanto um ato de autocriação quanto um ato de autodestruição. Pensamentos não passam a
existir por que os produzimos, mas simplesmente por que uma coisa-pensante pensa sempre.
Outras razões se encontram nas relações que há entre pensamento e consciência e,
principalmente, entre pensamento, percepção e ideia, todas elas nos conduzindo, parece, à
constatação de uma passividade constituinte de todo pensamento. Examinemos o caso da
relação entre pensamento e ideia. Descartes define o termo ideia, no início da Terceira
Meditação, e o distingue dos outros modos de pensar. Entre todos os pensamentos, diz ele,
temos as ideias, por um lado, e outras formas de pensar, por outro, como as vontades e os
juízos. Essa classificação é distinta da apresentada no art. 17 das Paixões, entre percepções e
vontades, visto que nas Meditações as ações da vontade são consideradas ações feitas sobre as
ideias. Ora, admite Descartes, embora a ideia seja um tipo de pensamento, todos os outros
modos de pensar envolvem ideias, de modo que a vontade também deve ser entendida como
algo suplementar à ideia e feito a partir de uma ideia. Essa mesma conclusão pode ser extraída
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Referências:
Unioeste/PIBID/Capes
jaque_leichtweis@yahoo.com.br
Quando pensamos em uma oficina de filosofia, temos que ter em mente o diálogo
mútuo que acontece entres os educadores e os educandos, ou seja, é a experiência filosófica
nascendo. É com esse objetivo que nós, do projeto PIBID/Filosofia, Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência, financiado pela Capes em parceria com a UNIOESTE,
desenvolveremos a oficina de filosofia no XVI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da Unioeste. Trata-se de um trabalho que vem sendo estudado, pensado e
desenvolvido para colaborar no dia-a-dia dos professores de filosofia. A partir do texto de
Michel Foucault Poder e Saber, que integra a ―Antologia de Textos Filosóficos‖ publicada
pela SEED/PR, provocaremos o questionamento crítico e filosófico dos alunos. Propomos aos
participantes uma aproximação divertida e reflexiva dos conceitos que entrelaçam o texto de
Foucault. Nesse texto, o autor trata das relações entre os homens como relações de poder,
mesmo as que se dão no âmbito familiar e escolar, sendo que tais relações entrelaçam as
minúcias da nossa vida sem que as percebamos. É a partir desta constatação que Foucault
afirma que o poder está em toda parte, não por que engloba tudo isso, mas por que provém de
todas as relações estabelecidas entre os homens. A tarefa principal do nosso trabalho é
procurar oferecer alguns instrumentos conceituais que auxiliem na compreensão destas
questões aqueles que ainda não possuem uma formação filosófica. É empregada a seguinte
metodologia: primeiramente passaremos uma representação visual do texto do Foucault,
explicitando os conceitos de ―poder‖ e ―saber‖, para que aqueles que ainda não têm
conhecimento do texto possam se tornar conhecedores do mesmo. Após, como recurso
didático, aplicaremos a brincadeira ―vivo-morto‖, que consiste em dispor os participantes
enfileirados na horizontal e a cada vez que o condutor disser ―morto‖ os participantes devem
se agachar ou se levantar quando disser ―vivo‖, para trabalhar a questão do ―poder‖ de forma
diferenciada. Para encerrar as atividades, propomos um debate a respeito do assunto tratado
na oficina como forma de avaliação dos resultados alcançados. Com este trabalho esperamos
produzir no educando um resultado significativo para sua vida e a partir disso encontrar o
caminho que o leva às questões filosóficas. Isto é, produzir no educando a possibilidade de
pensar e criar seus próprios conceitos, de produzir o anseio pelo conhecimento, pelo
entendimento e por suas próprias indagações. Pois, quando o ensino ou as descobertas se dão
por conceitos, ou através deles, ele pressupõe uma autonomia intelectual e crítica de quem
aprende, ou seja, o educando emprega uma capacidade que lhe é própria de aprender e
continuar aprendendo. É necessário manter sempre vivo um pensamento crítico que nos torne
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Doutor em Filosofia
UNIOESTE
cafsilva@uol.com.br
que não sejam concluídas por leis, como as da física clássica, vinculando determinadas
consequências a determinadas condições‖. Esse reconhecimento apenas põe a nu o fato
fundamental de que entre o conhecimento científico e o saber filosófico não pode haver
rivalidade. Uma ciência sem filosofia não saberia, ao pé da letra, do que fala. Uma filosofia
sem exploração metódica dos fenômenos chegaria tão somente a verdades formais, isto é, a
erros. Uma vez tomada essa direção, a filosofia não tem nada a temer de uma ciência madura,
nem essa ciência tem algo a temer da filosofia. É sob essa perspectiva que a ciência pode ser
reconduzida criticamente. Ela se alia a uma interpretação filosófica mais exigente, já que não
se trata de identificar, meramente, seu limite operatório, mas, de vislumbrar, para além de
quaisquer disputas ou resistências, outro horizonte possível em que o cientista não apenas
opera, mas também é capaz de habitar. É nessa direção que se reorienta o paradoxo proposto,
tendo como pano de fundo a fatídica crítica inicial de L’Œil et l’Esprit.
uma concepção abstrata do universo por meio da autorreflexão. Assim, essa oficina tem como
objetivo trazer as ideias do filósofo moderno David Hume para um âmbito que interesse aos
estudantes através da exibição de recortes do filme Matrix e de uma dinâmica na qual foram
trabalhados conceitos da filosofia do autor, tais como: sentidos, percepções, impressões,
ideias e verdades. Esses conceitos foram trabalhados inicialmente utilizando-se dos recortes
citados para exemplificar de forma rápida e de fácil compreensão o que o autor pretendia
responder quanto à forma de se conhecer o mundo. Posteriormente, utilizou-se de uma
dinâmica que consistia em pedir para que voluntários atuassem como se estivessem no
interior de uma caixa e em seguida falassem a respeito da dificuldade de se movimentar, para
demonstrar que muitas das vezes em que estamos limitados na verdade nós estamos dentro de
caixas imaginárias autoimpostas e que só podemos formular um conhecimento verdadeiro
acerca do mundo tendo como base as nossas experiências empíricas conforme o pensamento
de David Hume.
argumentos suficientes, portanto, para pensar que o próprio uso da razão e da linguagem
esteja envolvido na origem da guerra, num hipotético estado de natureza, no qual as condições
de autoridade política estariam ausentes. Essa possibilidade, no entanto, coloca alguns
problemas à interpretação da filosofia hobbesiana. Porque se não somente as paixões, mas
também a razão conduz à guerra, é possível questionar como Hobbes pode afirmar que a
mesma razão é tanto a causa quanto o instrumento que permite por fim à guerra. Essa questão
nos conduz para o centro da argumentação política de Hobbes: a tese da necessidade do
Estado para regular o comportamento e instituir relações de direito que possam substituir as
puras relações de poder no estado de natureza. Numa condição na qual as relações são de puro
poder, mesmo indivíduos racionais resolveriam suas divergências apelando para a força.
Nesta condição, as leis de natureza são inoperantes, na medida em que o princípio da
desconfiança impera em todos os indivíduos. Desta forma, já nos aparece toda a força da
argumentação hobbesiana em relação ao papel fundamental desempenhado pelo Estado. Ao
eliminar a desconfiança e garantir a racionalidade do cumprimento das leis de natureza,
instaura-se uma condição na qual o comportamento racional é cooperar e cumprir as leis,
contrariamente ao que acontece no estado de natureza. O comportamento moral dos
indivíduos somente passa a ser possível na medida em que o Estado elimina a desconfiança.
Se nós podemos vislumbrar em toda a argumentação hobbesiana traços de um problema em
relação à razão e à linguagem na consecução da guerra, é porque há todo um regime de razão
e linguagem que o Estado deve doravante regular. A solução do problema está, portanto, em
abandonar uma visão tradicional que dá ênfase aos aspectos positivos da origem da guerra, -
sejam as paixões, seja a razão -, para adotar uma abordagem que concentre a ênfase no
aspecto negativo da origem da guerra, ou seja, justamente a falta do Estado como instituição
reguladora das relações entre os indivíduos. O Estado supera a impossibilidade de se manter
contratos no estado de natureza. O contrato que funda o Estado pode ser mantido porque é um
contrato diferente de todos os outros. Porque institui uma autoridade soberana com o poder de
garantir o cumprimento desse contrato instituidor e de todos os demais que ser realizarem
doravante.
FAI/UAB-UNICENTRO
ddp_brasil@yahoo.com.br
agir, ou do Uno negativo, - é a singularidade vazia, apenas um passivo ser para Outro,
abandonado a toda a individualidade irracional inferior e às forças da matéria
abstrata‖(HEGEL, 2002, p. 312). Aqui, já na seara do Espírito ético, no que tange as leis
divinas e humanas, parece-nos que Hegel considera a morte como algo a ser superado não
pelo ser que se tornara vazio de movimento, mas sim pela comunidade que deve levar a morte
petrificada (morto) ao nível do universal. Aí encontramos os ritos fúnebres que tem o objetivo
de elevar o singular sem força ao abraço do universal. Tal movimento, que faz com que o
singular alcance pela morte a universalidade, imerge o morto na natureza. Este voltar à
natureza, não pode estar completo se o meio ético em que o morto estava inserido, não operar
nele a ação que fará com que o mesmo volte ao seio da comunidade através de cerimonial
fúnebre. Na morte ética, a universalidade que o morto deve conquistar se dá apenas se o seu
meio assim o decidir; caso contrário, as forças destruidoras naturais do organismo impedem
que o ser-morto venha a ser algo que retornou a si, um para-si. A última de nossas
considerações sobre a morte, põe-se num sentido de teoria do conhecimento. Entendendo com
Hyppollite que a Fenomenologia pode ser tanto lida como uma teoria do conhecimento e
filosofia especulativa ao mesmo tempo, nossa terceira caracterização da morte designa-se (III)
Morte epistemológica. A morte – se assim quisermos chamar essa inefetividade – é a coisa
mais terrível; e suster o que está morto requer a força máxima. (...) Porém não é a vida que se
atemoriza ante a morte e se conserva intacta da devastação, mas é a vida que suporta a morte e
nela se conserva, que é a vida do Espírito. (HEGEL, 2002, p. 44). Esta passagem metafórica
que se encontra no Prefácio da obra, e sabemos que o Prefácio foi escrito após a conclusão da
mesma, sendo visto por alguns como a ligação entre a Fenomenologia e a Lógica, nos remete
a uma crítica de Hegel ao entendimento como a barreira para o conhecimento verdadeiro. As
representações sendo decompostas em seus elementos originários criam assim pensamentos
fixos e determinados. Essa separação que traz a inefetividade – ou morte – é também o
processo onde o negativo se mostra com sua força: é a energia do pensar. Demorar-se na
morte, ater-se a ela é o processo inerente ao movimento do pensamento; apenas analisando e
decompondo as representações, ou seja, através do trabalho do negativo, é que o sujeito dota-
se de um poder de retirar da morte a vida, uma positividade do negativo. Dessa forma move-
se o conceito no seu ser-aí imediato e consequentemente move-se a Filosofia.
REFERÊNCIAS
ADKINS, Brent. Death and Desire in Hegel, Heidegger and Deleuze. Edimburgo: Great
Britain by Biddles Ltd, King‘s Lynn, Norfolk, 2007.
HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 2002.
Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a liberdade teórica e liberdade
prática, enfatizando a importância crucial da liberdade para estabelecer toda a teoria ética de
Kant . Primeiramente, vamos frisar que Kant em seus escritos esta opõe-se à teoria
leibniziana, e em geral, ao determinismo do mecanicismo. Contudo, a principal teoria a ser
refutada é a de Leibniz, e a primeira objeção feita por Kant a este é devido seu perfeccionismo
metafísico, além do predeterminismo, pois, este filosofo é um compatibilista, sustenta que o
livre arbítrio e o determinismo são condizentes, eis o que podemos acentuar sobre o que Kant
quer dizer com predeterminismo: Leis causais governam uma sequencia de estados, cada
estado no tempo é uma sequencia do estado anterior já determinado, assim o estado presente,
deve ser determinado por um estado no tempo e no passado e assim sucessivamente, ou seja,
para Kant com o predeterminismo não há estado inicial, todos os estados são determinado
sem livre determinação em tempo algum. Diferentemente de Leibniz Kant sustenta uma
liberdade capaz de iniciar uma serie de estados, sem ser determinada anteriormente.
Entretanto, há muita dificuldade para sustentar essa causalidade pela liberdade, a pergunta
pertinente para este resumo é: Existe a possibilidade de conceber duas espécies de causalidade
sem que uma cause dano ou até mesmo elimine a outra, e ainda, há a possibilidade dessas
duas causalidade em relação ao que acontece (causalidade natural e causalidade pela
liberdade), atuarem juntas; Bem sabemos que, a primeira no mundo sensível é a ligação da
causa com algo precedente que se segue a partir de uma regra, e como causalidade dos
fenômenos repousa sobre condições do tempo e o estado anterior, e se, assim se procede isso
indica que não há liberdade alguma, Kant, para salvar a liberdade, afirmara que, a razão tem
autoridade suficiente para determinar uma serie de eventos e sustentar a ideia de liberdade que
poderá dar inicio a uma serie de estados, essa a ideia transcendental de liberdade que se funda
o conceito prático da mesma. Podemos entender a liberdade em seu sentido pratico sendo a
independência do arbítrio frente a coação e o poder da autodeterminação diante dos impulsos
da sensibilidade, pois, para Kant, a sensibilidade não torna necessária a ação, mas é o homem
com seu poder de se conduzir que determina a ação. Para melhor esclarecer o problema aqui
proposto, devemos entender o cidadão de dois mundos de Kant, que é o ser enquanto
participante de uma esfera inteligível, ou seja, aquilo que no ser não é fenômeno, mas que
pode ser a causa do fenômeno, então, temos a dualidade Kantiana do objeto em si e o objeto
enquanto pertencente ao mundo fenomênico. Segundo Kant, podemos formar ao mesmo
tempo um conceito do sujeito enquanto empírico, e outra intelectual de sua causalidade, que
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estão juntas no mesmo efeito, essa dupla maneira de pensar a faculdade do objeto, não
contradiz nenhuma das posições acima. Conclui-se que, essa dualidade em primeira instancia
é o carácter da coisa no fenômeno, e o ultimo em seu sentido inteligível, deste modo, este
ultimo, não estará submetido a quaisquer condição do tempo, pois o tempo é condição do
fenômeno, em suma a causalidade pela liberdade, na medida em que é intelectual, não se
inclui na serie de condições empíricas, mas pode ser sustentada na medida em que, temos
sempre que dar em pensamento um objeto transcendental para o objeto por fundamento dos
fenômenos, como dito acima a problemática da liberdade é crucial para o estabelecimento da
lei moral kantiana, pois sem esta, toda a teoria ética de Kant não pode ser fundamentada,
sendo que , seu fundamento é a possibilidade da liberdade, para este filósofo a base da lei
moral é a autonomia, que é uma vontade pura prática, esta vontade deve ser livre das
experiências externas, ou seja, a lei moral kantiana é uma lei a priori, que não pode ter
qualquer influencia empírica, para valer como lei universal, e é por isso que temos nesta
temática abordada, o cidadão de dois mundos, devido seu caráter inteligível.
UFSM
Mestrando do curso de Filosofia
diorgeabu@hotmail.com
Referências:
HACKER, P.M.S. Insight and Illusion: Themes in the Philosophy of Wittgenstein. Oxford:
Clarendon Press, 1986.
KREMER, Michael. The Purpose of Tractarian Nonsense. Noûs, 35, 2001, pp. 39-73.
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Esse trabalho tem por intenção analisar as representações homoafetivas nos meios
televisivos e a sua receptividade pelos telespectadores, pois acompanhamos nas últimas
décadas um grande avanço dos meios midiáticos, os quais hoje podem chegar a lugares
inóspitos, transmitindo informações em uma rapidez jamais vista. Essas tecnologias
influenciam a nossa vida de uma forma muito direta, mudando a nossa forma de nos
comunicar, agir e pensar, principalmente no que diz respeito ao relacionamento com outros
indivíduos. Desta maneira, esse trabalho busca entender como essa nova forma de ver o
mundo através de um aparelho eletrônico tem nos influenciado, e também que mundo que nos
é mostrado, pois o que chega até nós passa pela ótica dos meios midiáticos, ou seja, não é
uma visão neutra, mas sim carregada de intencionalidades e juízes de valores. Segundo
Theodor Adorno (2002) criador do conceito de indústria cultural, os meios midiáticos têm
como uma primeira funcionalidade criar mecanismos de dominação e alienação, de forma
simples e sutil, a ponto de uma mensagem subliminar em um filme poder mudar os hábitos e
comportamentos de uma pessoa, assim como uma simples novela pode acabar reforçando
preconceitos e estereótipos na sociedade brasileira. Esses meios de comunicação se dizem
democráticos, pois abrangem um vasto público de diferentes opiniões, credos, etnias e classe
social, porém quando se trata de um público homossexual eles não são democráticos nem
inclusivos, já que a vida gay como ela é não é representada, muito do que vemos é rodeado de
preconceitos e com muita falta de informação. Partindo dos conceitos de Adorno em torno da
indústria cultural, podemos ter a certeza da forte influência dos meios midiáticos sobre os
indivíduos, e ao mesmo tempo se constituindo em fortes potencializadores de preconceitos.
Nesse sentido buscou-se compreender assim como Jesus Martín-Barbero aponta, em
―descobrir o sentido que os meios, bem como as suas formas e aquilo de que falam, têm para
as pessoas que os recebem, as quais ao mesmo tempo orientam a sua produção‖. Uma das
hipóteses levantadas nesse trabalho é de que esses meios midiáticos, mais especificamente a
televisão aberta tem em grande medida a culpa por vários estereótipos criados em torno do
mundo GLS, pois o humor escrachado, a homossexualidade como algo passageiro ou o
homossexual como promíscuo se faz presente em quase todos os programas humorísticos ou
novelas, criando no imaginário social novos preconceitos e reforçando os já existentes. O que
se percebe é que emissoras têm uma grande dificuldade em abordar o universo gay, já que é
muito mais fácil partir de uma forma preexistente fundada na comicidade e aceita pelo grande
público, do que abordar temas mais sérios. Com isso acabam reproduzindo preconceitos e
perdem a chance de utilizar da sua influência social para acabar com as barreiras entre o
Filosofia/UFRN
edupellejero@gmail.com
A relação da arte com filosofia passou sempre por uma meditação muito especial sobre
a relação entre poética e política. A expulsão dos poetas da república platônica, a fundação
kantiana da comunidade sobre o juízo de gosto, e a educação estética do homem que Schiller
propõe com fins reformistas, são exemplos emblemáticos desse gesto recursivo, que procura
pensar filosoficamente uma tensão irredutível entre a poética da política (isto é, os estilos de
articulação do comum) e a política da poética (isto é, as formas de intervenção da criação
artística). A assimilação hegeliana da arte à «coisa do passado» representa simplesmente mais
um episódio nessa história de desentendimentos, de exclusões e de apropriações violentas,
mas representa também, ao mesmo tempo, um episódio fundamental para a reflexão estética
contemporânea, na medida em que pretende resolver definitivamente essa tensão constitutiva.
Evidentemente, para além do diagnóstico hegeliano, a arte continuaria proliferando, forçando
a filosofia a voltar a confrontar-se com essa tensão que define de forma trágica a reflexão
estética. Longe das escandalizadas interpretações do pensamento hegeliano em registro de
«oração fúnebre», as obras de Benjamin e Adorno, Heidegger e Sartre, Bataille e Blanchot,
Deleuze e Rancière nos propõem uma série de leituras incomensuráveis, genericamente
alinháveis sob os conceitos de crítica e efetividade, que restituem à arte a sua (in)significância
atual para a humanidade.
Mestre em Filosofia.
Professora Assistente, UFT.
zanolea@bol.com.br
Palavras-chave: Lei – Prazer – Condição Humana - Liberdade
medida em que ele é um todo que não se reduz a nenhuma de suas partes. Finalmente, nos
será permitido estabelecer um vínculo entre os primeiros escritos de Merleau-Ponty e a
posição fenomenológica que ele sustentará mais tarde. Já desde a obra de 1942, pode-se dizer
que ele buscava uma compreensão íntima da atitude natural para chegar a seu objetivo
declarado: investigar a relação entre consciência e mundo. Vários conceitos são postos em
debate, dentre os quais os de estrutura e comportamento são eleitos como os principais. A
escolha da noção de comportamento é devida a sua neutralidade em relação à distinção entre
―psíquico‖ e ―fisiológico‖; ao passo que com a noção de estrutura se visava introduzir a
discussão sobre consciência sem pensá-la como realidade psíquica ou como causa, mas
apenas como modo de organização do comportamento humano. Nesta obra, a atitude natural
é examinada por meio destes conceitos e em vista do seu objetivo. Merleau-Ponty busca
equilibrar as falhas das concepções naturalistas com suas boas intuições. Por conta disto,
encontraremos elementos para desenvolver ainda uma hipótese interpretativa de que as
constatações aí feitas podem ser consideradas como uma fenomenologia da atitude natural e
de sua tese. O filósofo francês tratava suas fontes de uma maneira peculiar, pois já
compreendia que a presença sensível é dotada de uma potência própria de reduzir seus
aspectos de aparecimento a uma unidade plenamente determinada, d‘onde podia concluir que
os ―equívocos‖ cometidos pelo naturalismo são oriundos desta potência e que, por outro lado,
eles não seriam um completo engano. Espera-se demonstrar ao fim que, justamente, o que ele
faz aí é aplicar à sua análise da ciência uma sorte de compreensão de mundo que será mais
tarde reconhecida como fenomenológica.
Mestrando em Filosofia
Universidade Federal de Santa Maria
el.rasch@gmail.com
Aristóteles criou para a descoberta de premissas que faltam para uma dedução, mais tarde
denominado pons asinorum. A prova por exposição é utilizada como uma prova alternativa
para os modos DARAPTI, DATISI, DISAMIS e BOCARDO, da terceira figura, alguns dos
quais serão analisados no artigo. Há ainda, nos silogismos modais, os modos BOCARDO e
BAROCO, cuja sugestão é de que a única prova possível é a por exposição. Já a prova por
redução ao impossível é utilizada mesmo em teorias contemporâneas, porém alguns autores
como Da Silva, sugerem que Aristóteles não era particularmente um apreciador deste método,
pois apesar de revelar a verdade de alguma proposição, não demonstra o porquê ela é
verdadeira. No terceiro objetivo do artigo está a explicação de um método conhecido como
―mata-burro‖. Trata-se de um método para encontrar premissas que faltam para a elaboração
do silogismo. Neste ponto se obtém uma ligação com os objetivos mais gerais de Aristóteles
com os Analíticos Anteriores, que trata de servir como uma espécie de instrumento chave
para os Analíticos Posteriores, para sua teoria da ciência. Com a soma dos conteúdos dos dois
artigos se contemplou as partes mais importantes contidas nos Analíticos Anteriores,
excetuando-se os capítulos referentes ao silogismo modal. Essa explicitação da teoria de
Aristóteles contribui para uma explicação não apenas do silogismo enquanto ferramenta de
prova, mas também para o entendimento da correção da própria teoria do silogismo. Com isto
é vislumbrar de modo mais claro o lugar que a teoria do silogismo ocupa em uma teoria mais
ampla, disponível nos Analíticos Posteriores. Através do estudo das noções envolvidas na
silogística é possível extrair argumentos contundentes para que ela não seja abandonada, em
meio às críticas – especialmente relativas à uma suposta superação – advindas a partir da
elaboração da lógica contemporânea. Se olharmos com atenção para as noções epistêmicas
envolvidas na silogística, podemos observar que as restrições quanto ao tipo de argumento
aceito como um legítimo silogismo por Aristóteles não estão presentes em sistemas mais
recentes, como a lógica de Frege e Russell. Isto permite que argumentos como petições de
princípio, sejam aceitos como válidos – embora trivialmente válidos – o que já não pode ser
notado na teoria aristotélica. Ao mesmo tempo, vemos em Aristóteles técnicas utilizadas
ainda hoje, como é caso da redução ao absurdo, o que mostra que sua teoria, além de
contribuir em muito para a lógica moderna, não está tão afastada dela. Além disto, é possível
notar que em aspectos heurísticos, há uma vantagem na silogística, pois podemos encontrá-la
no estudo de diversos métodos diagramáticos, o que representa uma vantagem em termos de
aprendizado de lógica, tanto em nível médio quanto no nível universitário.
A filosofia política moderna levanta uma das questões mais intrigantes à mente
humana, a saber, por que o homem criou o Estado? Intrigante justamente porque a vida em
coletividade está muito aquém de ser agradável e natural assim como pensava Aristóteles, por
exemplo. É perceptível a tendência humana de se fechar em seus objetivos pessoais, em seu
apartamento, em sua função cotidiana e deixar a vida com o outro sempre para depois. Cada
vez mais cresce o isolamento pessoal e o número de pessoas que optam pelo aprimoramento
subjetivo. Então, se em um primeiro momento a vantagem da vida isolada é extremamente
superior à vida coletiva, por que o Estado foi instituído? Buscando amparo teórico na
literatura de Thomas Hobbes, acreditamos e defendemos que é necessariamente pela vontade
de viver melhor que o homem pactua com o outro homem e constitui o Estado. Para entender
a resposta dada por Hobbes a esta questão, faz-se necessário percorrer o mesmo caminho
mental estipulado por ele. Em primeiro lugar: o homem não nasceu para viver em sociedade,
sob os limites da lei civil. O homem não é naturalmente político. Ele é artificialmente político.
As circunstâncias do cotidiano conduzem o homem à deliberação e a iniciar a vida coletiva.
Em segundo lugar: os homens devem fazer todo esforço possível e necessário para se
manterem vivos, adjacente a esta realidade, os homens se demonstram temerosos com relação
à morte violenta. Além disso, todo homem tem direito (liberdade) a usufruir de todos os bens
cedidos pela natureza e, não pela escassez de bens, mas pelo desejo dos mesmos bens, os
conflitos serão inevitáveis. Esses elementos compõem o que Hobbes denomina de estado
natural. Não necessariamente um espaço físico, mas uma situação possível ou simplesmente
uma hipótese de como o homem viveria na ausência de leis comuns. Assim, a passagem da
vontade de poder subjetivo à vontade de poder jurídico nada mais é do que um ato livre e
racional e tem por finalidade a preservação do movimento vital. Os homens notam que de
nada vale a liberdade ilimitada se a vida, que é o maior bem, não estiver sendo preservada. A
liberdade, portanto, assume a identidade de mediadora que tende a conduzir os homens a um
fim maior, a saber, a preservação. Papel igualmente importante nesse processo de transição é
o da razão humana, que atua como uma faculdade de cálculo no sentido de analisar os
elementos favoráveis e os desfavoráveis de determinada situação, eis que o estado surge como
a possibilidade mais evidente de fuga da situação natural de instabilidade. A instituição do
Estado acontece para que o homem viva em paz. Basta lembrar que a busca pela paz
configura-se na primeira lei de natureza em Hobbes. O homem não quer apenas viver, ele
quer viver bem, de maneira confortável, em paz. Este é o fim pelo qual todo homem se
movimenta. As leis naturais por elas mesmas não servem para nada, pois orientam o homem
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Unioeste
fabianelibardi@hotmail.com
desprezariam desde a infância, reconhecendo a insanidade de tais ações, como por exemplo,
as insanidades dos prazeres excessivos. Aqueles que prezam o belo e o bom buscam uma vida
harmônica, tornando-se homens de alma perfeita, saudando e orgulhando-se dessa educação
na chegada da idade da razão, quando se encantariam cada vez mais por sua arte.
método para que suas formulações não sejam desvinculadas da realidade e estejam sempre a
mercê de novos debates e discussões a cerca de sua validade. O presente estudo visa trazer as
concepções de Dewey a respeito de democracia e deixa claro que para ele ela não é produto
da natureza humana, nem de uma instância absoluta incontestável e não é ligada estritamente
a economia. Para ele, a democracia deve ser vista como um imperativo moral que proporciona
um seguro crescimento individual e coletivo para todos. Ela se constitui nas ações que visam
a sua construção e sua necessidade para uma vida melhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CUNHA, Marcus Vinicius da. John Dewey a utopia democrática. Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
DEWEY, John. Liberalismo, liberdade e cultura. Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia
editora nacional, 1970.
felikspinheiro@hotmail.com
A hipótese do erro moral inevitável surge a partir da discussão a cerca dos conflitos de
deveres. As discussões sobre a possibilidade de deveres morais poderem conflitar em
determinadas situações vem se tornando cada vez mais importante na filosofia moral. Dessa
forma, o presente trabalho abarca a solução racionalista para o problema levantado pela tese
dos dilemas, recorrendo a princípios da ética kantiana e do utilitarismo. Partindo da defesa
dos dilemas morais, busca-se mapear a discussão a partir de filósofos contemporâneos a fim
de obter um pensamento crítico em relação ao assunto evidênciando a real importância de se
considerar esta possibilidade para a deliberação moral. Um dilema moral constitui uma
ocasião onde um agente se encontra em uma determinada situação em que forçosamente deve
escolher entre duas ações possíveis que acredita serem corretas, mas que não podem ser
efetuadas ao mesmo tempo. Quando analisadas essas situações constituiriam uma espécie de
conflito entre deveres morais, pois o agente se encontra diante de circunstâncias nas quais tem
o dever moral de fazer A e o dever moral de fazer B ao mesmo tempo, não podendo fazer
ambos. A defesa mais consistente da existência de dilemas morais culmina na tese do erro
moral inetivitável. O argumento consiste inicialmente em distinguir dois ambitos onde o erro
moral inevitável é evidenciado. Em um primeiro momento a deliberação moral é identificada
como incapaz de solucionar tais conflitos. Essa visão é apoiada no ―principio de
aglomeração‖. Além desse fator, Williams (1965) adentra a questão a partir dos sentimentos
envolvidos nos agentes durante e após as situações de conflito. Segundo o autor sentimentos
―resíduais‖ evidenciam um erro moral, de forma com que não podemos evitar tais sentimentos
após um dilema. Nesse contexto a solução racionalista deve abarcar não só argumentos contra
o ―principio de aglomeração‖, dissolvendo o problema no ambito deliberativo, mas também
tratar da questão dos sentimentos ―resíduais‖ descritos por Williams (1965). Para tal utilizou-
se inicialmente o ―principio de Kant‖ (ou principio ―deve implica pode‖), sendo esse a
afirmação de que o dever moral implica o poder agir moralmente, sendo assim só temos o
dever de agir moralmente quando podemos agir moralmente. É a partir deste principio que se
evidencia a inconsistência da tese dos dilemas, pois se concluo que devo fazer A e B, mas A
impede que eu faça B e vice versa, não temos dois deveres, visto que não podemos fazer as
duas ações ao mesmo tempo. Tal evidência legada de Kant (2003) possibilita a refutação da
tese dos dilemas, na medida em que não se adapta ao ―principio de aglomeração‖. Brink
(1994) contribuiu para a solução adequando o ―principio de aglomeração‖ ao ―principio de
Kant‖, fazendo com que se conclua a partir da obrigação de fazer A e da obrigação de fazer B,
termos a obrigação de fazer A ou B. Dessa forma, o erro moral passa a ser não fazer uma
dessas opções, e não fazer apenas uma delas. Essa defesa ficou conhecida como ―tese das
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opções‖, tornando-se uma alternativa válida. Entretanto, como foi afirmado anteriormente,
negar os dilemas morais se mostra complicado não só por empecilhos no campo da
deliberação, mas também pela presença de diversos sentimentos que influenciam a posição
dos agentes. Alguns sentimentos costumeiros dessas situações são a porta de entrada para
outra abordagem a favor do erro moral inevitável, são os chamados sentimentos residuais.
Após a vivência de um dilema moral nota-se que o agente pode sofrer por um forte
arrependimento, como se tivesse cometido um erro ao não fazer uma determinada ação, este
arrependimento ou remorso é algo que sobra após a resolução do problema. Williams (1965)
faz uma comparação entre os conflitos morais com conflitos de crenças e conflitos de desejos.
Dessa forma ele identifica os conflitos morais como sendo comparáveis aos conflitos de
desejos, mas não de crenças, pois apresentariam a mesma estrutura. Em um conflito de
desejos, ao se abandonar algo que se desejaria fazer, ainda resta o desejo de fazer esse algo.
Da mesma forma em um conflito moral, resta algo, um sentimento, da ação que não foi levada
a prática. O que não ocorre em um conflito de crenças. Partindo do pressuposto de que um
dilema é um conflito entre duas obrigações, ou seja, ―um conflito entre dois julgamentos
morais que um homem está disposto a tornar relevantes para decidir o que fazer‖
(WILLIAMS, 1965, p. 108), o autor conclui que após a decisão tomada em um conflito moral,
o dever que não for cumprido pode ―permanecer‖ da mesma forma que o desejo não satisfeito
no conflito de desejos permanece, de forma com que negar estes sentimentos é deixar de lado
evidências morais envolvidas nos agentes. Não há dúvidas de que esses sentimentos
demonstram algo importante, mas dizer que os mesmos evidenciam um erro é um salto muito
grande em relação ao que eles realmente evidenciam. Foot (2002) explica que apenas sentir
que algo ruim aconteceu não comprova que algo realmente ruim tenha acontecido, pois é
impossível passar da simples existência de um sentimento para a verdade da proposição
formulada a partir dele. Muitas vezes nossos sentimentos não correspondem à realidade, é
necessário então investigar até que ponto esses sentimentos são o parâmetro para designar se
algum ruim realmente aconteceu.
REFERÊNCIAS
ABAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BRINK, D, O. Moral Dilemmas and its Structure. The Philosophical Review, n. 2, 1994, p.
215-247.
FOOT, P. Moral Dilemmas Revisited. In:_______. Moral Dilemmas, Oxford: Oxford
University Press,
2002, p. 175-187.
HARE, R, M. Moral Conflicts. In: _________. Moral Thinking: Its Levels, Method and Point.
Oxford: Oxford University Press, p. 25-35, 1981.
KANT, I. A metafísica dos costumes. Trad. de Edson Bini. Bauru: Edipro, 2003.
WILLIAMS, B. Ethical Consistency. Proceedings of the Aristotelian Society, n. 39, 1965, p.
103-124.
fveiverberg@gmail.com
conceito fundamental do texto de Sartre, a Liberdade, através do tema abordado com o filme
que foi a fuga da sociedade como forma de entrar em contato com a própria existência. É
necessária uma sensibilização do olhar: para trabalhar determinado filme, com determinado
grupo de alunos é necessário contextualizar sua produção e relevância temática, isto é, quais
os conceitos que impulsionaram a criação e efetivação da ideia para o cinema, e como estas
dialogam com os temas, conceitos e conteúdos filosóficos sugeridos na unidade didática.
Visando assim, caracterizar o cinema como uma forma de linguagem que favorece a
interpretação das teorias filosóficas. O que sempre é importante destacar antes da exibição dos
filmes são os conceitos pertinentes para a nossa discussão. Para fazer Filosofia com filme é
preciso interagir com seus elementos lógicos, entender que há uma ideia ou conceito a ser
transmitido pela imagem. Júlio Cabrera em sua obra O Cinema Pensa, caracteriza o cinema
como um meio caracteristicamente impactante e com pretensões de verdade universal, isso
permite que o espectador não permaneça neutro diante das cenas exibidas, pois o cinema
instaura experiências, no momento em que apresenta pluriperspectivas, manipula tempo e
espaço e maneja as conexões e cortes entre as cenas e ao tornar as situações possíveis
interagimos de outra forma com elas, o que permite que os alunos assumam posições e
estabeleçam relações de forma mais livre e particular, pois são as suas impressões que ele
pode destacar. O cinema não impõe verdades absolutas, a forma como as imagens são
apresentadas não estabelece sua necessária aceitação, não precisamos afirmar uma imagem,
apenas verificá-la. Por fim, vale mencionar que o objetivo do Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência, de adiantar o processo de inserção do aluno de cursos de
licenciatura, está trazendo bons resultados na formação efetiva dos envolvidos no processo.
Penso que o quanto antes o estudante de filosofia voltar-se para a sua própria prática, menor
será o impacto frente à realidade escola e maior será sua autonomia didático/filosófica. Tais
experiências servem para que, de modo geral, possamos conhecer sumariamente tanto as
possibilidades de envolvimento dos alunos para com as temáticas, quanto aos limites de
aplicação de filmes em diferentes espaços e momentos da rotina escolar. As ideias estão
amadurecendo, já estamos familiarizados com o ambiente escolar e sua logística própria e
apostamos na intensificação e diversificação de atividades para este ano de 2011.
REFERÊNCIA
CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de
Janeiro: Rocco, 2006.
Mestre e doutorando
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
fredericodiehl@yahoo.com.br
propriamente dita se enquadrada como uma ordem de Deus. Tal assertiva é confirmada pelo
filósofo ao aproximar o conteúdo das leis de natureza em espécie dos mandamentos presentes
nas Sagradas Escrituras.
Graduanda de História
Unioeste
gabeh_cristina@hotmail.com
Neste trabalho pretendo analisar práticas religiosas populares a partir de fotografias de
espaços domésticos de devoção. Por acreditar que a imagem não representa uma simples
alegoria na pesquisa social, compreendo a importância de fazer uma análise sociológica e
histórica das imagens das práticas cotidianas dos sujeitos históricos. Creio que estudar a
religiosidade popular através de imagens seja um caminho para entender um pouco mais a
pluralidade de influencias e a multiplicidade de elementos presentes na cultura brasileira. As
práticas religiosas populares não podem ser estudadas de forma homogênea, é preciso analisar
casos particulares, para poder identificar as múltiplas influências e culturas implícitas nos atos
de fé. Neste caso irei analisar o culto de um devoto específico ao monge João Maria de Jesus,
problematizando suas relações com a Igreja oficial e com a religião popular. Diante da
pesquisa realizada, pode-se perceber que as práticas do catolicismo popular interagem nos
ambientes público e privado. Os devotos dos monges do Contestado manifestam-se não
apenas através de suas rezas cotidianas diante dos oratórios domésticos, mas também pelas
práticas devocionais de peregrinação e de culto, nos espaços sagrados públicos. No caso do
Contestado, a religião popular teria ajudado a formação do movimento que, portanto,
constituiu-se enquanto uma religiosidade de reivindicação, próxima dos interesses e da luta da
população. Sendo assim os monges e as entidades religiosas particulares desse processo
cativaram um grande número de devotos, que perpetuaram suas práticas através de seus
sucessores. Os processos de migração no Brasil são constantes, gerando sentimentos em
comum entre os migrantes, e muitas vezes anseios e sonhos refletidos nas práticas religiosas.
A esperança da terra prometida, presente nas profecias dos monges, e em muitos movimentos
sociais de luta, permanece na mentalidade dos camponeses migrantes. As práticas e símbolos
do passado são reinventados, conforme a proximidade com as reivindicações atuais,
auxiliando na formação de identidades, como é o caso da identidade camponesa do
movimento Contestado. São criadas, portanto novas dinâmicas e leituras, mas seus
significados são permeados pelas relações históricas por elas vividas no passado. A partir do
contato com Seu Juca, um devoto que depois de quase cem anos ainda realiza práticas
herdadas da religiosidade camponesa do Contestado, compreende-se a importância de analisar
a vida dos monges a partir dos devotos. Através das práticas de devoção, dos sentidos
atribuídos e ressignificados aos monges ao longo do tempo pode se refletir as relações sociais
e o universo dos devotos enquanto sujeitos históricos. São eles que cultuam e fazem com que
a imagem e a fé dos monges nunca morram. O que se pode pensar é o que a imortalidade
representa, quais são os processos e sujeitos históricos intrínsecos e subjetivos nessa prática
religiosa. A religião doméstica está restrita ao ambiente familiar, mas isso não significa que
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está se colocando fora da sociedade. Nela podemos ver anseios, sonhos, esperanças, e
principalmente memórias e permanências, que perpassam anos e são ressignificados de forma
peculiar em cada grupo e região.
E-mail: sintese_de_outror@yahoo.com.br
público pode participar explanando seu conceito de arte ou mesmo suas impressões sobre o
que sentiu. Faremos a partir disto um curta-metragen cujo objetivo é promover a compreensão
da arte estimulando e criando a formação de público. Distribuiremos a arte de uma forma
experimental e será analisando com ligações além das artes visuais, com uma
contextualização filosófica e sociológica, analisando e fomentando através de uma pesquisa
de linguagem que vai ser exposta no curta-metragem que também será experimental.
9
Tomei como exemplo crianças de 1 a 4 anos.
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Referências Bibliográficas:
lugar do espectador, permite a Foucault ratificar como em Manet temos uma cisão com uma
tradição (de Diderot, por exemplo), que reforçava a ausência do espectador. Assim, Manet
questiona aquela tradição antiteatral, típica da pintura francesa a partir dos anos 1750, na qual
a presença do espectador passa a ser colocada como uma ameaça à mímese. Essa tradição
teria por objetivo excluir o espectador, afastá-lo da superfície pintada. Manet questiona essa
chamada ficção diderotiana da ausência do espectador.
UFSM/CNPQ
icarozleal@gmail.com
10
Cf. Roberts apud HILPINEN, p. 239.
11
Cf. SHIN, Sun-Joo and LEMON, Oliver.
12
Cf. Barwise e Etchemendy apud SHIN, 2002, p. 10
13
Cf. SHIN, 2002, p. 11.
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em concordância com sua teoria geral dos signos, seus GE. A segunda avalia pontos fortes e
fracos desse sistema representacional, como sua capacidade expressiva, que ultrapassa a de
outros sistemas não simbólicos – por exemplo, os diagramas de Venn e os diagramas n-
literais de Lewis Caroll. A terceira parte busca compreender as motivações que levaram
Peirce a desenvolver esse sistema diagramático. Com contribuições de Shin, Hilpinen e
Legris, o autor apresenta possíveis motivações que teriam dado origem aos GE.
Encontrar uma forma de governo que coloque as leis acima do homem, eis o objetivo
de Rousseau, que afirma, no Emílio, ―que nenhuma sociedade pode existir sem troca,
nenhuma troca sem medida comum, e nenhuma medida comum sem igualdade‖
(ROUSSEAU, 2004, p. 252). Assim, toda a sociedade tem por primeira lei alguma igualdade
convencional. Nas Cartas Escritas da Montanha, Rousseau afirma que não há liberdade onde
não existem leis, nem onde alguém esteja acima das leis. Para Rousseau, somente haverá
liberdade na medida em que esta é limitada pela lei, lei essa que é expressão da vontade geral,
extraindo-se então a conclusão de que a vontade geral, através da lei, é fonte de liberdade e
fonte de limitação de liberdade simultaneamente. A obediência à lei é requisito de
legitimidade do pacto civil de Rousseau, tendo em vista que povo livre é aquele que,
independentemente da forma de governo, vê naquele que o governa não o homem, mas o
órgão da lei. É, portanto, necessário que o povo obedeça sem servir, pois é pela força das leis
que não se obedece aos homens. Nota-se que o estudo da lei em Rousseau é fundamental para
compreender seu pensamento político; tanto é assim que o filósofo genebrino afirma, no Do
Contrato Social, que ―São, pois, necessárias convenções e leis para unir os direitos ao
deveres, e conduzir a justiça ao seu objetivo‖ (ROUSSEAU, 1983, p. 54). Mas o que é afinal
uma lei para Rousseau? No Livro 2, da mesma obra, Rousseau conceitua a lei como sendo
algo estatuído pelo povo, considerando tanto o ponto de vista de súdito quanto o ponto de
vista dos membros do soberano, sem qualquer divisão do todo. ―Então, a matéria sobre a qual
se estatui é geral como a vontade que estatui. A esse ato dou o nome de lei‖ (ROUSSEAU,
1983, p.54). Assim, o conceito de lei, em Rousseau, passa, obrigatoriamente, pelos conceitos
de povo e vontade geral. A instituição da lei necessita desses elementos. O povo que é o
soberano será aquele que dirá se a proposta que lhe é apresentada como sendo uma proposta
de lei está ou não de acordo com o todo do pacto social, e se a matéria da qual a lei trata é
geral como a vontade que deverá proclamá-la. Somente através das leis a igualdade pode ser
assegurada no estado civil, porque a lei é a garantia única que os pactuantes têm de não serem
subjugados, de não terem que obedecer a um indivíduo. A lei legítima é fundamental para se
manter no estado social a justiça e a liberdade. Somente a vontade geral que é anterior às leis
pode legitimá-las, e estas então estariam aptas a comandar os homens no estado social. Para
Rousseau, um homem não pode submeter outro à revelia da lei, porque se assim agir deixará
nesse instante o estado social. A lei deve sempre ter um objetivo geral e abstrato, jamais
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poderá pronunciar-se a respeito de uma ação particular. A lei não poderá nomear cidadãos
instituindo privilégios a estes. Ninguém poderá estar acima da lei, todos estão subordinados a
ela, inclusive o governante. Questiona-se: a lei poderá ser injusta? Rousseau responde: não se
deve mais perguntar [...] se a lei poderá ser injusta, pois ninguém é injusto consigo mesmo
(ROUSSEAU, 1983, p. 55). É notória a importância que Rousseau dá às leis legítimas, mas
quais são os requisitos ou qualidades necessários para uma lei ser reconhecida como tal? O
que legitima a lei? Qual é a relação da lei com a legitimidade do pacto social político? Quais
são os requisitos da lei? Por que a lei foi considerada por Rousseau, no Discurso sobre a
Economia Política, como a mais sublime de todas as instituições humanas; por que Rousseau
afirma, nessa mesma obra, que os homens devem apenas às leis a justiça e a liberdade? Quais
seriam as espécies de leis, para Rousseau? Esclarecer e afinar entre si tais afirmações é o
propósito deste artigo.
suposições de senso comum da qual partamos pode ser contestada e criticada a qualquer
tempo" (idem, p. 42) e frequentemente estas suposições são criticadas com êxito, em boa
parte das vezes rejeitadas (podemos citar como exemplo disso a suposição que afirmava que a
terra era plana, ou que era um círculo perfeito). Quando isso ocorre, o senso comum é
corrigido e, assim, modificado ou é transcendido por uma nova teoria que, na maioria das
vezes, pode parecer "maluca", em maior ou menor proporção, aumentando ou não a
dificuldade de sua compreensão pelo senso comum não especializado. Porém,
independentemente disso, para Popper deve ser exigido que se tente chegar o mais próximo
possível de um ideal: "Toda ciência e toda filosofia são senso comum esclarecido". (idem, p.
42). Seguindo este ideal, elaboramos nossas conjecturas iniciando de um ponto de partida
vago e confuso e construímos sobre alicerces inseguros; entretanto, podemos progredir, uma
vez que, a partir da crítica podemos identificar quando estamos errados, podendo assim
aprender com nossos enganos, pois sabemos que o cometemos. Segundo Popper, portanto,
nosso ponto de partida para o conhecimento é o senso comum e o instrumento primordial para
avançar neste conhecimento é a crítica. Desse modo, Popper defende como problema central
da teoria do conhecimento a investigação e clarificação deste processo, a partir do qual nossas
teorias podem desenvolver-se e progredir. Contudo, diversamente da tradição que, em sua
maioria, iniciando com Descartes, afirmava que as experiências subjetivas, imediatas,
forneciam um ponto de partida estável e seguro como alicerce, para Popper nada há de
imediato nestas experiências. O autor afirma que em nosso conhecer tudo é decifração e
interpretação; porém, por aprendermos a decifrar muito bem, tudo parece ser imediato –
aprendemos a decifrar nossas experiências da mesma forma que deciframos um livro. Por este
motivo, o que há de direto ou imediato na decifração de observações não garante a
indubitabilidade de seu funcionamento e de seus resultados, não há certeza absoluta. Popper
deriva disso que a busca de certezas ou de uma base sólida para o conhecimento deve ser
abandonada. Com isso, se nada pode ser afirmado como certo e indubitável, como tentou
Descartes, se a certeza não é possível acerca de nossas observações, em que sentido pode-se
falar de crescimento ou progresso do conhecimento? No sentido de que migramos de teorias
identificadas criticamente como falsas ou inconsistentes para outras que permitem maior
experimentação, que tenham maior conteúdo de verdade e menor conteúdo de falsidade
identificada e que abranjam maior ordenação cosmológica. Retroativamente sempre podemos
comparar as teorias e perceber que a história do pensamento objetivo avançou
progressivamente e abandonou as visões que conseguiu identificar como ingênuas.
REFERÊNCIAS
POPPER, K. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Trad. Milton
Amado. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1975.
______. K. Conjecturas e refutações. Trad. Sérgio Bath. 2.ed. Brasília: Edunb, 1982.
______. A lógica da pesquisa científica. Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da
Mota. 2.ed. São Paulo: Cultrix, 1975.
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Crítica do Desenvolvimento do Conhecimento. Trad. Octávio Mendes Cajado. São Paulo:
Cultrix, 1979.
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A história nos mostra que a dominação da América Latina ocorreu desde a chegada de
Cristóvão Colombo, o qual, erroneamente, acreditava estar na Ásia; o resultado desse engano
foi o encobrimento dos nativos locais (ilustres índios) vistos então apenas como 'ser-asiático
encontrado', que só existia no imaginário dos navegantes europeus. Este tempo de
descobrimentos ou encobrimentos foi também conhecido como Modernidade. Pode ser
afirmado, nesta perspectiva, que este continente não foi reconhecido como distinto e livre,
mas como uma projeção de domínio alheio desde seu inicio. E é a partir de análises históricas
dessa postura, que atribui ao homem ―descoberto‖ uma projeção (reprodução) do já
conhecido, que a preocupação com o presente/futuro latino-americano se fundamenta e que
está presente nas obras de Enrique Dussel. O autor se dispõe a verificar estruturas, conceituais
ou não, que podem vir a auxiliar na importante tarefa de libertação da América Latina frente a
paradigmas euro-norte-americanos. Essa tarefa, na perspectiva aqui apontada e no horizonte
dos estudos latinos-americanos, não é redutível a conceitos, mas implica um processo no qual
o conceito também tem sua importância. Tal afirmação reúne a preocupação fundamental do
presente trabalho, que é analisar como conceitos podem influenciar no processo de libertação,
tendo em vista que estes dois elementos, embora tendo aspectos comuns, não se confundem.
Exemplarmente nos ateremos ao conceito de analética, direcionado como um dos pilares
estruturantes para uma análise crítica e construtiva do chamado sistema-mundo
contemporâneo (posterior ao período histórico/moderno de descobrimentos europeus). O
filósofo Enrique Dussel confere atenção à analética tendo em vista que ela se fundamenta no
princípio da alteridade e mantém como pressuposto intocável a afirmação de um discurso
filosófico de caráter eminentemente ético, isto é, para além de sua dimensão formalista e
lógica. Assim sendo, acredita-se que a posição da filosofia e seu eminente discurso seja válida
não apenas por sua logicidade, mas também por seu acordo ou desacordo com a justiça em
situações específicas. Pelo conceito de justiça, inicialmente, o autor entende um estado social
livre de dominações, por ser a busca pela efetividade de um estado social idealizado que
ultrapassa a mera teorização, aspirando a ser um método constituído a partir do contexto dos
países latinos-americanos, e, por consequência, diferente de tradições européias que desde a
modernidade realizam um processo de alienação, vitimação e opressão. A justiça,
compreendida na perspectiva de um processo analético, e sendo este vertido para questões
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Na filosofia de Gabriel Marcel (1889-1973) há uma tese pétrea, local onde gravitam
todas as suas discussões filosóficas: a encarnação. É a encarnação a possibilidade para
relacionar-me com o mundo, com o outro e com o ser, é ela um dado indubitável e não lógico,
arché do pensamento filosófico. Como, porém, abordar e refletir tal situação? Somente a
partir da clara e profunda distinção entre ―mistério‖ e ―problema‖. O problema é aquilo que se
caracteriza exatamente em termos objetivos, predicativos, imediatos; trata-se de algo dado,
está aí para ser resolvido, dissolvido, requerendo uma solução. O problema é o que está
―perante mim‖, objetivável, passível de ser decomposto conceitualmente, logicamente
(percebe-se, de antemão, que este é o campo da ciência). No âmbito do problemático o
pensamento tem a função de absorver o que está diante de mim, de modo que a realidade seja
digerida, reduzida e, até mesmo, encapsulada pelo meu pensamento. Noutra direção, o nível
do mistério corresponde justamente àquilo que não se liquida, ou seja, se move naquele
âmbito da experiência que envolve, compromete, perturba, desassossega. O mistério significa
o que está ―em mim‖, o que me faz estar implicado com ele e nele. Nesse segundo plano, por
conseguinte, se transcende a oposição entre sujeito e objeto. Tais polos não podem ser
representados conforme dita a clássica teoria do conhecimento. O âmbito do mistério é aquele
que se situa numa zona profunda da realidade (que Marcel chama de metaproblemático).
Mistério não é simplesmente o insolúvel; afinal de contas, o campo da ciência está cheio de
problemas insolúveis, mas que se espera serem resolvidos. A zona do mistério é de outra
ordem. Aos olhos de Marcel, o tema referente ao ―problema do ser‖ torna-se, na verdade, uma
expressão equivocada e não deixa de haver aí certo abuso de linguagem, pois um problema é
qualquer coisa que se esbarra em meu caminho, que se estabelece diante de mim e que exige
certa solução. Ora, o ser não é algo que obstaculiza as veredas da existência, mas é, de certa
maneira, aquilo que confere existência. O âmbito do problemático é aquele em que o
pensamento tem a função de absorver o que está diante de mim de modo que a realidade seja
digerida, reduzida ou dissolvida. Ela se transforma em matéria pensável; o pensamento
problemático ―envelopa‖ o ser e o transmuta em elemento abstrato a ponto de catalogá-lo
conforme seu sistema de compreensão. O proprium do problemático é o fato de sempre
separar e fazer surgir uma oposição irredutível entre um sujeito e um objeto, entre um
espectador e um espetáculo, sempre cindindo, sempre dualizando; a ―vocação‖ do
problemático é causar o ―divórcio‖ da existência e da objetividade. Nessa medida, o
problemático é a ruptura por essência, é a alienação por natureza. A consequência do
pensamento problemático é que ele torna o humano estrangeiro do pensamento, ―exilando-o
ao infinito‖, conforme afirma o próprio Marcel. Até aqui, para Marcel, não há ―problema‖ no
―problema‖. O erro mais flagrante é quando se utiliza essa maneira de compreender a
realidade como se fosse exclusiva e absoluta. O ―problema‖ é quando se toma o ―problema‖
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como sendo a própria forma de conhecer, como se fosse o conhecimento por excelência. Por
isso, o problemático somente é um problema quando se esbarra em si mesmo e se basta a si
mesmo. Ao adotar essa atitude, se cria ou se cristaliza um sistema de compreensão da
realidade. Visto que, em Marcel, o pensamento pensante é uma ontologia – que não se trata de
um conhecimento qualquer e nem de um instrumentum de percepção da realidade –, não pode
ser problematizado. É sob esse aspecto que os temas da metafísica não podem ser tratados sob
a categoria de problemas. Tratar a ontologia em termos de problema é amputar ou mutilar a
questão fundamental do ser. O que também significa que o ser não pode ser abordado de
forma técnica e, de passagem, não convém ser investigado pelo pensamento pensado. Nessa
direção, o autêntico pensamento, ou seja, a Filosofia Concreta, se exprimirá como sendo
aquele pensar que renuncia justamente de possuir o ser como objeto, afirmando-o,
positivamente, nos termos exatos de um problema. Ora, qual é o ―objeto‖ mais próprio da
metafísica? Marcel descreve, com todo rigor: é a pesquisa do ―metaproblemático‖.
transvaloração não pode ser uma realização com fim em si mesma. Transvalorar significa,
sobretudo, desobstruir o fluxo da vida de suas travas morais e de sua regulação pela ciência.
Diferentemente da transvaloração, realização que não parece justificar-se em si mesma, a
afirmação da vida por meio da arte encontra sentido no próprio ato criador. Ato que esgota em
si mesmo o seu sentido, como vir a ser que não visa outros fins, senão estéticos. A visão
perspectiva adotada por Nietzsche – mesmo antes de desenvolver o perspectivismo – para
erigir a teia conceitual que sustenta sua interpretação, lança mão de um termo basilar, um nó
central a partir do qual toda reflexão pode ser alinhavada, conferindo ao seu discurso,
fundamento e direção. Por ocasião da escrita de O nascimento da tragédia, o jovem Nietzsche
confere ao dionisíaco o papel de termo nodal a partir do qual expõe sua visão dionisíaca de
mundo. Esta eleição do dionisíaco como termo condutor torna possível a elaboração do que
Nietzsche chamará de ―visão de artista‖, uma interpretação que nega à moral e ao
conhecimento o papel de verdadeira atividade metafísica do homem, papel que doravante só
pode ser conferido à realização estética. Ainda sob a sombra do romantismo e de
Schopenhauer, para quem a noção de Vontade exerce a função de termo metafísico
fundamental, Nietzsche, em grande medida, compartilha da interpretação diagnóstica que vê o
mundo como resultado de uma força irracional arrebatadora. Porém, afasta-se de seu mestre
inicial quanto à interpretação metafísica que conduz à realização moral e quanto à
interpretação schopenhaueriana da Vontade como sendo um fundamento uno, e não múltiplo,
visando resolver o problema da “coisa em si” kantiana. A virada interpretativa operada por
Nietzsche desembocou na negação de qualquer fundamento metafísico universal surgido na
tradição filosófica a partir da inspiração epistemológica socrática. Conclui-se que a
fundamentação estética contida em O nascimento da tragédia consiste numa tentativa ousada
de afirmação trágica da existência que, rejeitando a possibilidade de criação de sentido e
intensificação da vida por meio do conhecimento, busca afirmá-la enquanto experiência da
aparência [Schein] e do corpo.
prevalece sobre os desejos particulares sem cair no monismo metafísico da concepção neo-
ateniense. Nosso objetivo será mostrar que a contribuição de Maquiavel pode ir além daquela
já entrevista por liberais e mesmo pelo republicanismo, especialmente o neo-romano sem
dúvida mais próximo ao pensamento de Maquiavel, de uma articulação entre liberdade
individual e participação cívica. Nosso propósito será mostrar que a contribuição mais
fecunda de Maquiavel está na sua concepção do conflito como uma dimensão inerradicável,
aspecto negligenciado pelo republicanismo neo-romano ao reduzi-lo uma forma entre outras
de cultivo da virtude cívica. Vamos analisar alguns desdobramentos desta intuição original
valendo-nos das reflexões desenvolvidas nas últimas décadas por Chantal Mouffe
determinando algumas categorias analíticas principais construídas por ela. Em suma, para esta
pensadora a tarefa principal de ―a política‖ não é a de eliminar as paixões ou mesmo a de
relegá-las à esfera privada a fim de atingir um consenso racional na esfera pública, mas antes
de ―amansá-las‖ criando formas de identidades coletivas em torno de objetivos democráticos.
―A política‖ consiste, pois, em ―domesticar‖ ou ―domar‖ a hostilidade (ou ―o político‖) e
neutralizar o potencial de ―antagonismo‖ existente nas relações humanas transformando-o em
―agonismo‖. Isso pressupõe que o ―outro‖ não seja visto como ―inimigo‖ a ser destruído, mas
como ―adversário‖ a ser combatido nas suas ideias, mas sem negar-lhe o direito irrestrito de
defendê-las. Com isso, o antagonismo não fica eliminado, mas recebe formas institucionais de
manifestação. O resultado do embate adversarial é a formação de um ―consenso conflituoso‖
(que pressupõe exclusão) que se constitui como uma ordem temporária e precária de ―práticas
hegemônicas‖ capazes de serem desafiadas por ―práticas contra-hegemônicas‖ que procuram
desarticular a ordem existente para fixar outra hegemonia. Isso faz dele um ―modelo agonista
de democracia‖. As reflexões de Mouffe estão estreitamente articuladas à proposição de
Maquiavel, de que é preciso desenvolver (e não dissolver) as assimetrias de poder:
compreender que existem múltiplos interesses conflitantes na sociedade impossíveis de serem
conciliados até pela melhor das práticas deliberativas; em lugar de buscar um consenso
impossível (uma vez que a proposição final só será possível por uma decisão que implica
exclusão), o caminho sugerido por Maquiavel é o do confronto aberto das posições
divergentes e a busca daquilo que, com Mouffe, podemos chamar ―hegemonia‖. A posição
alcançada certamente implica em concessões, acordos; mas não consenso no sentido de
superação ou neutralização das diferenças, pois acarreta na vitória de determinados interesses
sobre outros e, portanto, na permanência do dissenso. A vitalidade da política, na visão de
Maquiavel, surge precisamente da impossibilidade de aniquilar o dissenso. Em política
sempre teremos vencedores e vencidos e não uma comunidade harmônica que converge
racionalmente para o bem comum. No entanto, Maquiavel também nos lembra que em
política – quando existem estruturas institucionais que promovem o dissenso - ninguém
vence definitivamente: o vencido pode (e, diríamos, é salutar que consiga) reverter sempre o
resultado a seu favor.
UFSM
juvencioterra@gmail.com
Acadêmica de História/Unipar
Karline_wolfart@hotmail.com
de Rousseau era a fundamentação da autoridade política por via de convenção para obter-se
liberdade igualdade de modo uniforme.
UNIOESTE – Mestrando
massarollojr@hotmail.com
existência, que permanecia velado pela ignorância espiritual, manifesta-se, e a doença mortal
surge como onde de fato jaz o horror. O desespero ataca, segundo Kierkegaard, exatamente o
elemento eterno e indestrutível do homem, o eu. O processo de edificação desencadeado a
partir do citado ―arremedo de consciência‖ desvela o verdadeiro desespero, a saber, como
afecção espiritual, e a verdadeira possibilidade, que repousa na fé. A partir deste momento um
processo de edificação inicia-se e o eu poderá transmudar a enfermidade em repouso e alegria.
Doutor em Filosofia
lluizmanoel@hotmail.com
A proposta deste trabalho é apresentar o modo como o filósofo Gilles Deleuze trata a
Ideia em sua concepção de filosofia como teoria das multiplicidades. As considerações deste
pensador incidem sobre dois princípios que derivam de seu modo de conceber a Ideia como
virtual. O seu pensamento, diferentemente daquele proposto pelo filósofo lituano Salomon
Maimon, retira da Ideia o estatuto de pertencimento a qualquer faculdade. A teoria das
diferenciais da consciência, elaborada por Maimon, ganha enorme atenção por parte de
Deleuze ao definir a filosofia como teoria das multiplicidades possuidora de dois princípios
básicos: o de determinação completa e o de determinação recíproca. A definição supracitada
deixa-nos entrever o esforço de Maimon em pensar de outra maneira a diferença
transcendental entre conceito e intuição e tal dualismo sinaliza para a questão filosófica
decorrente da clivagem entre sensível e inteligível. O pensar e o sentir, como dois modos
distintos e separados de posicionar-se no mundo, percorrem as filosofias de Maimon e
Deleuze como a de muitos outros pensadores e porque não dizer de quase toda a filosofia após
o platonismo. Maimom se pergunta pela gênese ideal do sensível, nesta indagação deixa em
aberto um campo de investigação sobre o limiar da consciência. Neste percurso de indagações
aparecem algumas afirmações acerca do dualismo entre conceito e intuição, o entendimento e
a sensibilidade são apresentados da seguinte maneira: a intuição não precisa traçar uma linha
para apreendê-la; o entendimento sim precisa traçá-la no sentido de fazer o ponto entrar em
movimento e tornar-se linha. Maimon se inscreve justamente neste plano de oposição ao
modo kantiano de pensar as matérias das sensações: as intensidades. No ―Ensaio de Filosofia
Transcendental‖ faz as seguintes observações em relação ao conteúdo da crítica kantiana em
torno da razão pura: 1) Como se explica que um conceito a priori se aplique a uma intuição a
priori, dado que são heterogêneos? 2) Além dos conceitos puros do entendimento, não
deveríamos introduzir algo novo para resolver a questão quid júris, isto é, para compreender
o modo como o entendimento legisla sobre a sensibilidade? Esse algo novo, ele denomina de
Ideias do entendimento. O propósito desta pesquisa, além de tratar do estatuto da Ideia,
consiste também em delinear as relações filosóficas que Deleuze mantém com a filosofia
transcendental. As tensões apontadas por Kant em relação à metafísica de Leibniz são
retomadas por Deleuze quando se interessa pela teoria das diferenciais em Maimon. A
discussão, no final do ―Método de Dramatização‖, entre Alex Philonenko e Gilles Deleuze,
acerca do estatuto da Ideia nos pós-kantianos, deixa-nos entrever a importância do
pensamento de Salomon Maimon na obra do pensador francês. A ênfase dada por Deleuze à
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negamos um objeto, estamos produzindo outro em seu lugar, já que isso resulta em uma busca
pela identidade conceitual. Deste modo, essa transformação pode se dar em um nível
ontológico ou mesmo em um nível histórico da civilização. Para Hegel, é por meio da
contradição que há o movimento e a mudança, e é isso que possibilita o desenvolvimento do
saber, ou seja, a partir de seu oposto, pois nada existe por si mesmo. Ora, o que devemos
entender a partir deste pensamento de Hegel é que a expressão de um particular é, na verdade,
uma parte que está relacionada com o todo, e, sendo assim, com o seu oposto. Em suma,
Hegel afirma que a contradição está em todo lugar, ou seja, que há uma união entre identidade
e oposição; desta forma, elas não seriam de todo incompatíveis, mas isso não quer dizer que
não haja mais conflito entre identidade e oposição – pois o Geist está em conflito consigo
mesmo – mas que a oposição é ao mesmo tempo compatível e incompatível com a identidade.
O objetivo deste trabalho foi mostrar como Kant desincumbiu-se de algumas questões
mal colocadas pela tradição, representada principalmente pela tradição racionalista cartesiana
e pela empirista humiana, após fundar a perspectiva transcendental da razão a partir da
revolução copernicana pensada na esfera filosófica. Como ponto central, avaliou-se o ponto
de nervura principal dessa tematização inacabada, segundo Kant, acerca da problematização
da existência do ―mundo exterior‖. Anteriormente a Kant, cada uma das tradições
supracitadas havia respondido à questão da existência do ―mundo exterior‖ de um modo
adequado ou conforme ao ponto máximo de sua elaboração conceitual. O racionalismo
cartesiano, visando alcançar o estatuto de validade das ideias Inatas (cogito, Deus, alma),
colocara em dúvida a existência das coisas fora de mim e que estas poderiam ser a origem de
ideias no sujeito, pois o grau de correspondência entre as ideias e as coisas no mundo havia
sido colocado na dependência de um terceiro elemento, mediador: Deus. Todavia, a ideia de
Deus cartesiana é transcendente e está posta fora do sujeito e dos objetos do mundo. Para
afirmar a imprescindibilidade das ideias Inatas (nascidas com o sujeito), nada mais natural do
que suspender a crença em tudo o que estivesse situado fora delas e elevar o pensamento às
primeiras noções indubitáveis. Mas para isso negou a possibilidade de demonstrar a existência
dos ―objetos fora de nós no espaço‖. Ao final da Quinta Meditação, ao preparar uma espécie
de concessão à existência de coisas exteriores à consciência, Descartes a apresentou a título de
―crença‖, à qual todo aquele que exigir mais perde a possibilidade de prova, já que tal prova,
segundo sua teoria, não existe. Para Kant a recolocação da questão do ―mundo exterior‖
mostrou a inviabilidade do caminho de prova segundo a via racionalista cartesiana, pois a
resposta depende, no fundo, da elaboração de um método ―transcendental‖(que supera o
―racionalista‖), no qual as noções de externo e interno aparecem como interdependentes,
conjugadas desde uma perspectiva estrutural. Por isso, concluiu Kant, as condições de
possibilidade dos objetos de experiência são as mesmas condições de possibilidade de
conhecimento desses objetos, pois não há uma separação radical entre externo e interno, mas
antes uma troca a partir da qual ficam justificadas as próprias estruturas do pensamento do
sujeito sobre o mundo ou a natureza. Para demonstrar a validade das estruturas
transcendentais do pensamento (conceitos puros do entendimento) tratamos do modo como
Kant conjugou o elemento da sensibilidade ao domínio das estruturas cognitivas do sujeito.
Isto é, Kant desenvolveu um modo de vincular às estruturas do pensar (conceitos),
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Segundo Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco, particularmente nos livros VIII e IX, a
philía (amizade) é uma das relações vivenciadas pelo humano. Partindo desse pressuposto,
busca-se uma compreensão do que seja, em linhas gerais, a concepção de philía no
pensamento do autor. Para responder ao objetivo, parte-se da compreensão das três espécies
(eíde) de philía denominadas pelo filósofo: a amizade segundo a utilidade, segundo o prazer e
a amizade segundo a virtude ou amizade perfeita. Essas espécies serão abordadas quanto ao
seu grau de excelência, seu exercício nas relações sociais e sua contribuição à questão da
felicidade (eùdaimonía). Nas relações que o homem vivencia, ele sempre tem um bem como
finalidade de suas ações ou escolhas, em uma relação virtuosa os mesmos bens que o homem
deseja a si mesmo são desejados, por ele, aos seus amigos. A philía é um dos elementos
indispensáveis à realização plena do homem, visto que a escolha pela vida deriva, também,
das relações exercidas em ambiente social. Neste contexto, a relação ideal entre os homens
provém de uma philía virtuosa. Esta possui características que participam da disposição do
caráter humano designado, pelo estagirita, como o dos homens bons. Quanto aos maus, estes
também firmam suas relações amigáveis; no entanto, seu caráter não se assemelha àquele
virtuoso. As philíai podem ser inúmeras quanto às suas utilidades ou prazer, contudo, a
virtuosa ocorre em número reduzido, uma vez que não é possível ter reciprocidade plena em
todas as relações de amizade, pois demandam tempo, no sentido de amadurecer a relação; e
trabalho, no sentido de dedicação, de ter uma presença íntima com o outro. Além das espécies
de relações elencadas, Aristóteles aborda tipos de amizades. Estes são constituídos por
aquelas. Um dos tipos é a amizade entre familiares, entre o pai e o filho, os irmãos, primos,
marido e esposa e demais graus de parentesco. Outra questão a ser abordada se refere aos
possíveis desentendimentos e como eles podem favorecer no rompimento do laço de philía,
que ocorreria quando as pessoas não são amigas dentro da perspectiva que julgam ser, ou seja,
quando elas têm uma espécie de amizade e julgam ter outra. Quando ocorre esse equívoco a
amizade em questão nunca é virtuosa, antes é uma amizade que visa o útil ou o agradável. A
amizade virtuosa ou perfeita é um dos modos do caráter humano se colocar na relação com o
outro, pois que esta disposição mira o bem ao outro, assim como o bem a si mesmo, ou seja, o
amigo é apercebido enquanto um outro eu. A philía no âmbito da ética é uma das
responsáveis pelo valor que é empregado em favor da própria vida, pois incentiva o querer
viver. Viver, para Aristóteles, é viver com; nesse caso específico, com o amigo. Este é o par
necessário para que o humano se reconheça enquanto homem que age e pensa com vista a um
bem, e, mais, reconhece esse bem como a excelência tanto do agir quanto do pensar.
Mestre em Filosofia/UNIOESTE
msdlima@gmail.com
assegurar o valor das ações realmente altruístas na sua relação com o caráter, argumentando
em direção à suspensão da prevalência das formas de espaço e tempo no sujeito. Sendo essas
formas os componentes do princípio de individuação, o que faz com que o sujeito sinta-se
separado e diferente dos demais, donde provém o egoísmo; logo, é do desprender-se delas que
abre a possibilidade para ações dotadas de autêntico valor moral. É nisto, então, que residirá a
moral altruísta: numa possibilidade de abordagem sobre o mundo que abra perspectiva ao
sujeito para compreender-se vinculado essencialmente a todos os seres.
margaridah.dias@sapo.pt
Sendo a lógica não apenas a forma dos silogismos válidos, mas antes, o processo do
pensar que gera as formas do próprio pensamento, por conseguinte, o pensamento pensando-
se a si próprio e, nessa medida, fixando as categorias que lhe são próprias, importará
questionar o porquê da referência na ―Ciência da Lógica‖ a fenómenos tão concretos e tão
reais, diríamos mesmo, a fenómenos biológicos ou fisiológicos. Essa referência encontra o
seu expoente na terceira secção da ―Ciência da Lógica‖, com a ideia da Vida. O objectivo
deste trabalho passa então, por saber se a vida tem ou não lugar na Lógica, buscando a
resposta no próprio sistema da filosofia de Hegel. O começo do pensar deve ser o acto do
livre pensar que, enquanto absolutamente livre, se produz a si mesmo e a si mesmo dá o seu
objecto. Ora, a Lógica, é ela própria actividade do pensamento enquanto se produz a si
mesmo. Como tal, numa primeira abordagem, poderíamos dizer que a referência à vida
(domínio concreto) se prende com a própria actividade do pensar, ou melhor, com a sua
dinâmica que faz do pensar um processo constante de auto-produção das suas próprias
estruturas. Por conseguinte, o pensamento não é algo estático, morto, no sentido de uma
abstracção vazia, mas pura actividade, pensamento vivo.Buscando, porém, uma justificação
mais completa e recorrendo ao mote de Hegel de que toda a realidade é racional, a Lógica não
pensa, senão, sobre o real e, nessa medida, a necessidade de tratar na Lógica a ideia da vida,
prende-se com a necessidade de tratar nela o conceito concreto do conhecimento. Na vida a
ideia surge, necessariamente, na sua imediatidade, pois não é possível fazer referência ou
mesmo pensá-la em sentido abstracto. Mesmo a vida lógica, só existe na concretude real. A
vida lógica, ao contrário da vida natural e da vida enquanto vinculada ao espírito, não tem
outro pressuposto nem outra substância, que não, o próprio conceito. O conceito, enquanto
único pressuposto da vida lógica, seria, primeiramente, na subjectividade, puramente em-si,
ou seja, na interioridade. Simultaneamente, pela aplicação do próprio método dialéctico ao ser
interior, o conceito é também exterior e, por conseguinte, objectivo. Assim, tratar-se-ia, num
primeiro momento, de duas entidades diferenciadas e, portanto, com determinações próprias.
Ora, este dualismo exige resolução, no sentido em que, o fim realizado terá de corresponder à
unidade do subjectivo e do objectivo. Seguindo a aplicação do princípio lógico-dialéctico,
uma vez dado e exposto o subjectivo, na forma do conceito, juízo e silogismo, segue-lhe o
momento da objectividade e das relações exteriores, o momento da adequação entre a forma
subjectiva e o conteúdo objectivo, momento que, na verdade, estaria já contido no primeiro. A
introdução e justificação da objectividade [da vida] na ―Ciência da Lógica‖ decorre da
exigência dialéctica de superação da diferença, cujo telos se cumpre como conceito realizado
na síntese da subjectividade e da objectividade. A referência, na ―Ciência da Lógica‖, aos
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faz ―esquecer os males‖ e acalma as dores e ressentimentos; assim, se usado na formação das
memórias, lutando para uma rememoração, seria algo bom, caso contrário, como foi colocado
anteriormente, provocando a morte da memória e da narrativa, pode ser percebido como algo
ruim. Benjamin propõe que a escrita dever manter-se o mais perto possível da oralidade, para
que não se perca no esquecimento. Portanto, descreve-se a importância da narratividade na
sociedade como processo histórico e tradicional, propondo sua restauração.
Mestranda
Universidade Federal do Paraná
unicki@hotmail.com
aberto para a percepção de cada sujeito, assim como o mundo. Entretanto, apesar de seu
caráter subjetivo, a obra de arte ainda preserva um sentido universal, sem o qual não haveria
garantia sobre ela mesma, o que leva a uma das tarefas do pintor, a saber, alcançar este caráter
original e universal da obra de arte. A questão que se põe diz respeito a este papel que a
pintura desempenha na construção da ontologia da percepção que aparece na Fenomenologia
da Percepção, e se seu caráter de proximidade com a própria percepção não traria enfim, este
lugar que supomos ser de destaque entre as artes para Merleau-Ponty, que teoricamente
assume não haver hierarquia entre as formas de arte. A maneira que Merleau-Ponty aborda
todas estas questões levanta o caráter ambíguo de todas elas. O mundo é ao mesmo tempo
natural e cultural, o corpo é fisiológico e próprio, o eu é determinado pelo outro e o outro pelo
eu, a pintura possui um caráter subjetivo e universal. Percebe-se que tudo gira em torno do
que é do âmbito do natural e o que é do espírito. Todas estas questões são indispensáveis para
pensar a própria pintura em sua relação aos sujeitos que a percebem e com o mundo do qual
retira suas significações originárias. Esta ambigüidade, presente em praticamente todos os
aspectos da obra de Merleau-Ponty, pode ser a chave para a solução desta questão, ou seja,
uma ambigüidade da pintura (subjetiva e universal) pode esclarecer seu lugar na ontologia
presente na Fenomenologia da Percepção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIOESTE
nadimirquadros@yahoo.com.br
alexsousa@gmail.com
aragof@hotmail.com
rangergo@hotmail.com
tamarapasqualatto@hotmail.com
Talvez a grande ruptura feita por Foucault tenha sido sair das afirmações tradicionais
de leitura sobre o problema do poder. O desenvolvimento do tema passa de uma análise
exclusiva da área política para ser observado a partir do cotidiano. A análise foucaultiana do
poder pretende ser mais complexa do que as análises marxistas ou freudianas. Todo o
problema parte de que o poder se origina e se materializa num extenso conjunto de relações
interpessoais e se eleva até constituir estruturas impessoais. Assim como existem normas que
regem nossa percepção, devem existir, por sua vez, mecanismos que possibilitem que se
estruturem e se reproduzam aquelas estruturas. Assim, a sua permanência implica uma
determinada materialização nas práticas cotidianas, estando constituído pelas relações
interpessoais que não alcançam a totalidade dos integrantes de um grupo ou, de outra forma,
caracterizado por formas institucionalizadas que operam como espaços fechados. Nestes, já
não é o poder de um indivíduo sobre outro, mas de um grupo sobre outro, com as
características de seus integrantes. Nos dois modos deve-se considerar o poder, embora
apresentem dinâmicas diferentes e formas de perpetuação e defesa diferentes. Foucault parte
do principio de que existem duas esferas de onde se consolidam as práticas; cada uma delas
tem seus próprios mecanismos de legitimação, que atuam como centros de poder e elaboram
seu discurso e sua legitimação. Através da genealogia, Foucault chega à conclusão de que a
instauração da sociedade moderna supõe uma transformação substancial na consagração de
novos instrumentos para se canalizar o poder. De forma paralela se construiu um conjunto
extenso de discursos que conferiram força e capacidade de expansão a essas novas formas de
poder. O poder não se dá mais, como no passado, pela mera força militar ou mediante
legitimação religiosa. O poder deve agora materializar-se através de diferentes formas de
disciplinamento. A partir disso é necessário que passe a fazer parte do próprio indivíduo; deve
alojar-se no dominado , que considerará ―natural‖ o que desde o nascimento lhe foi imposto.
Para se chegar a esta meta de dominação interna e prévia do indivíduo, deve-se estruturar uma
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rede de poderes entrecruzados. Por isso, o poder tem que ser analisado como algo que circula,
ou seja, como algo que só funciona em cadeia. Ele não está ali ou aqui, nem está nas mãos de
alguns, não sendo um atributo, como a riqueza ou um bem metarial. O poder funciona e se
exercita através de uma organização reticular, e em suas redes não circulam somente os
indivíduos – ou estariam eles sempre em situação de sofrimento ou de exercício ativo de
poder – nem serão sempre os mesmos os elementos de conexão: o poder transita
transversalmente, perpassando os indivíduos. Logo, ele não tem uma única fonte nem se
manifesta sob uma única forma. Por ―dominação‖ não se pode entender um fato concreto de
dominação, mas uma multiplicidade de formas de domínio. Quando um grupo social é capaz
de apoderar-se dos instrumentos que regulam as manifestações de poder, o que surge é uma
nova economia dos discursos. Referindo-se ao surgimento do sistema prisional e à sua
concepção, por exemplo, Foucault afirma que ali se pode compreender o caráter panóptico do
poder: vigiado, na prisão, durante todo o tempo, sem que possa ver seu observador, o
prisioneiro é semelhante a todo indivíduo, com a diferença –talvez – de que ali o discurso não
tem que (necessariamente) mascarar a dominação.
Mestranda em Filosofia
FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
Bolsista CAPES
E-mail: kharuna@terra.com.br
Palavras-chave: Ética. Pessoa. Absoluto. Liberdade.
Maria Zambrano (1904 – 1991) viveu o pensamento ético-político desde sua infância e
foi uma estudante e, depois, filósofa engajada na causa da transformação da Espanha em país
democrático. Discípula de Ortega y Gasset, envolveu-se diretamente na Revolução
Espanhola, finda a qual foi obrigada a exilar-se. Foi a partir do exílio que seu pensamento
adquiriu musculatura e tornou-se profícuo em publicações. Desde o início de sua militância
política, a filósofa espanhola redigiu vários artigos e escreveu alguns livros alusivos ao drama
enfrentado pela Espanha e seus intelectuais. No entanto, a obra selecionada para estudo,
Persona y Democracia, escrita em Roma, em 1956, por ter sido redigida dezesseis anos após
seu exílio, resume o que a autora entende por ética, confirmando a tese da própria Zambrano
de que somente após findo um período poder-se-á saber e avaliar o seu significado. Na obra
em questão, a filósofa distingue entre indivíduo e pessoa, sendo a última somente atingida
plenamente após a assunção de um comportamento ético, condição imprescindível à
liberdade. No desenvolvimento do conceito de Absoluto, Zambrano entende que cada homem
é formado por um eu e por uma pessoa (persona), sendo que esta última inclui o eu e o
transcende, pois o ―eu‖ é vigília, atenção, é imóvel, e uma espécie de guardião. Persona, por
outro lado, ―como su proprio nome indica, es uma forma, una máscara con la cual afrontamos
la vida, la relación y el trato con los demás, con las cosas divinas y humanas‖ 14 A pensadora
parece fazer um jogo de palavras ao utilizar o mesmo termo para desenvolver seu conceito de
Absoluto: ―persona‖ como a máscara utilizada no teatro grego e persona, palavra em
espanhol, para pessoa. Adquire o sentido de pessoa quando é moral e, verdadeiramente
humana, quando porta dentro de si a consciência, o pensamento, um certo reconhecimento de
si e uma certa ordem, enfim quando recolhe o mais íntimo do sentir: a esperança. O sentido de
―persona‖ como máscara ocorre quando se forja uma imagem fictícia de si mesmo, máscara
de uma paixão, de endeusamento que condiciona toda ação. ―La cuestión es que frente a
cualquier sujeto de la acción habría que preguntarse, quien es? Es una persona real, con su
sustancia propria, o es solamente el personaje inventado, máscara de un delirio? Si es este
último estamos tratando entonces con alguien que es otro; otro no ya para mí, o para los
14
P. 79
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demás, sino otro para si mismo. Su verdadera persona está sojuzgada, yace víctima del
personaje que lo sustituye‖.15 Todos padecem em algum momento desse estado de semi-
alienação; o normal é padecê-lo, mas de um modo em que a pessoa verdadeira vá
paulatinamente encobrindo o personagem. No entanto, Zambrano esclarece que nem sempre a
ação do personagem é totalmente prejudicial e isso ocorre quando esta é concebida
nobremente e tem uma função educadora, balizada nos ―ideais‖. Desta forma, a alienação
pode ser proveitosa quando o que se quer ser e até o que se crê ser tenham sido concebidos
em termos morais: o ―mejor de nosotros mismos que desprendido se nos presenta, que nos
atrae caminando delante de nuestros pasos, como un guia‖. 16 Afirma que toda moral heróica
está fundada na alienação, mas de forma tal que se pode dizer que ―a aprovecha al par que la
reduce‖17 e conclui: ―héroe es aquel que logra al fin coincidir consigo mismo‖.18 O homem
tem a condição de ―ensimesmar-se‖, de entrar em um lugar próprio a partir do qual retira sua
atenção do seu entorno, no lugar onde sua solidão o aguarda. É esse dentro, esse interior, já
mencionado por Santo Agostinho, onde reside a verdade e a solidão. Parece, à primeira vista,
ser a-social ou anti-social, a-histórica ou anti-histórica, mas a solidão e a história são para o
homem o que o meio-ambiente é para o animal. ―En el hombre hay algo que escapa a la
sociedad y justamente, por suceder así, hay historia humana‖.19 O movimento histórico se dá
pelo surgimento de novas gerações, quando cada uma introduz uma mudança, mesmo que
esta não seja sua proposta. Esta mudança histórica introduzida depende igualmente de que ser
homem é ser pessoa e ser pessoa é solidão, uma solidão dentro da convivência. O lugar do
indivíduo é a sociedade, mas o lugar da pessoa é um íntimo espaço. ―Y en él, sí, reside un
absoluto. No en otro lugar de la realidad humana. Nada que en nosotros haya sido, nada que
sea nuestro producto es absoluto, ni puede serlo. Sólo lo es eso desconocido y sin nombre,
que es soledad y liberdad‖20. É nessa solidão que nascem o ―não‖ e o ―sim‖ ante o que nos
envolve, os quais podem implicar a morte ou a vida, toda uma vida. E, sendo solidão, é de
onde nasce a responsabilidade, onde se assume o que se decide, o que se faz e o que está feito,
já que podemos assumir o que não decidimos nem criamos, tomá-lo sobre nós e marchar
voluntariamente sob seu peso. A solidão abre o espaço onde não há máscara, personagem e
encobrimento, mas sim julgamento, avaliação e definição da qualidade de nossas ações. O
momento absoluto é aquele no qual nos levantamos acima de nós mesmos, quando um raio de
conhecimento atravessa iluminando a inteligência, ―en que toda contradicción y toda
diferencia aparece abolida, em que nos sentimos ser del todo, tanto, que nos olvidamos de
nosostros mismos‖.21 Nesses momentos o tempo e seu correr são esquecidos, são como
instantes divinos por serem sentidos como eternos, ou melhor, supratemporais, instantes
absolutos. Nesse momento absoluto aparece uma verdade que passa, mas passa exigindo
15
Idem
16
Idem
17
P.80
18
Idem
19
P. 119
20
P. 124
21
P. 139
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fidelidade e há que lhe ser fiel: aquilo que foi visão deverá ser realizado. ―Pues en la vida
humana no basta con que algo aparezca real, ha de ser realizado día tras día. Y ha de ser
edificado, construido. Es la contribución del hombre a la realidad‖.22
BIBLIOGRAFIA
22
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UFFS
neyhauffs@bol.com.br
23 Bolsista de Iniciação Cientifica na Universidade Federal da Fronteira Sul sob orientação da Profa. Dra.
Franciele Bete Petry.
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Mestrado em Filosofa-UFSM
patifilosofia@yahoo.com.br
24
Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela P. dos Santos e Alexandre F. Morujão.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, 5ª edição.
25
CRP B 831, com grifo nosso.
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ele parte para uma nova linha de investigação no Cânone, a saber, que se há um Cânon da
razão pura só pode ser a nível prático. Já o outro passo diz respeito ao ―como‖ do trecho
―como uma das causas naturais‖. Aqui admitimos que para um dado efeito a nível empírico, é
possível (ou não é contraditório) pensar dois níveis de causa para essa ocorrência: uma
sensível e uma supra-sensível. O que nada mais é do que a solução do próprio Kant conforme
o Idealismo Transcendental. Este seria o sentido de ―como uma das causas naturais‖ a que
Kant se refere, ou seja, bem como posso pensar ―x‖ como proveniente de uma completa
determinação sensível, também posso pensá-lo como proveniente de uma causa supra-
sensível. Assim, podemos dizer que um mesmo ato é por um lado ―não natural‖, pois não há
liberdade na natureza. E por outro lado, não deixa de ser algo natural, uma vez que se enraíza
na nossa natureza (humana) que por sua vez é parte do todo da ―natureza‖.
Puccamp\Unifeob
souttomayor@uol.com.br
quando menos esperamos, sempre surge alguém ao nosso lado disposto a nos ajudar nessa
tarefa. Mas que não tenhamos muita esperança, porque essa ajuda é passageira, além do outro
ter a sua própria pedra para empurrar. Finalmente, com Sponville, principalmente diante da
leitura de seu livro ―Viver‖, encontra-se uma definição de felicidade desesperadamente, que
nos remete a refletir de que mais vale a pena uma verdade dolorosa do que uma felicidade
idealizada e, a partir daí, chega-se na aceitação da sua aposta no presente vivido, levando em
consideração o sentimento de misericórdia com relação ao passado e, com relação ao futuro,
desespero enquanto ausência de esperança.
UFSM/Bolsista Capes
frpaulogubert@yahoo.com.br
do outro que não esteja de certa forma vinculada ao desejo de deposição ou até de morte do
outro. É na vivência cotidiana que se pode encontrar esta experiência de reconhecimento, a
partir da ―troca‖ que se estabelece na dinâmica da ―economia do dom‖. A economia do dom
não funciona da mesma forma que a economia comercial, de acordo com Ricoeur. A troca que
se efetiva não assume um caráter monetário, nem comercial, mas trata-se de um ―caráter
cerimonial‖ da troca, de um dom que demanda um ―contra-dom‖. Este sentimento de
retribuição, que reside na ―coisa trocada‖, não é algo mágico, que teria o poder de retornar a
sua origem. Na verdade, o próprio doador se dá a si mesmo naquilo que foi dado. Trata-se de
uma forma de reconhecimento simbólico que foge à ideia de preço: é o ―sem preço‖. Portanto,
uma troca de presentes não é simplesmente uma troca de mercadorias, marcada pela ―sede
insaciável‖ por dinheiro, mas uma troca de gratidão, revestida de um aspecto cerimonial.
Segundo Ricoeur, o ato de presentear configura uma forma de reconhecimento. Trata-se de
uma ―pequena felicidade‖ derivada da troca entre reconhecer e ser reconhecido. Portanto, o
dom não se opõe à troca, mas à forma comercial da troca. Dessa forma, cada pessoa que tiver
experimentado o caráter cerimonial de não-recompensa na troca do dom terá sido reconhecida
pelo outro e reconhecido o outro pelo menos uma vez na vida. Estas ―experiências raras‖ de
reconhecimento são o que, segundo Ricoeur, permite que a luta por reconhecimento não
desencadeie um retorno à violência do estado de natureza hobbesiano.
26
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS – Campus
Porto Alegre e aluno mestrando do PPG de Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.
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Graduando Filosofia
UNIOESTE
Email: rafael_camilo87@hotmail.com
Palavras-chave: conhecimento-verdade-devir
isso, observa que nada é em si mesmo, já que tudo é um constante processo de devir. Teeteto
concorda com toda esta exposição, mas em seguida, Sócrates faz a primeira objeção: As
sensações causadas pelos sonhos e pela loucura na são reais. Mas rapidamente, Sócrates
demonstra o que os relativistas fariam para se defenderem, eles diriam que o homem sadio é
dessemelhante ao homem doente, o homem que dorme é dessemelhante ao homem que vigia,
e assim sucessivamente: para sujeitos diferentes as sensações serão diferentes. Contudo, a
sensação, seja em um ou em outro estado, é sempre verdadeira para aquele que a sente.
Conclusão: conhecimento só pode ser sensação. Em seguida, Sócrates discorda que
conhecimento possa ser sensação: se a verdade é o que parece a cada um, se cada indivíduo é
o juíz da sua própria verdade, não faria sentido assistir as aulas de Protágoras. Que sentido há
em pagar-lhe para aprender, quando cada um é dono de sua verdade? Conclusão:
conhecimento não pode ser sensação. Feita a exclusão de que conhecimento seja sensação,
concordam que talvez conhecimento seja aquele ato pelo qual a alma, em si e por si mesma,
se ocupa dos entes. Esse ato é chamado por Teeteto de ―opinar‖. No entanto, observam que
conhecimento não pode ser qualquer tipo de opinião, deve ser somente opinião verdadeira. E
ao examinarem a opinião verdadeira, se deparam com uma questão: o que seria a opinião
falsa? E é neste momento que trazem para a discussão a imagem da cera. A esperança é que
eles encontrem a origem da opinião falsa na relação entre pensamento e sensação, e não
somente no pensamento ou somente na sensação. Contudo, a imagem da cera também não se
sustenta, e chega-se então a uma terceira definição de conhecimento: conhecimento é opinião
verdadeira unida a uma explicação racional. Mas novamente, sérias aporias são levantadas, e
mais uma vez a definição não se sustenta, resultado: o diálogo termina em aporia,
demonstrando que não é possível um verdadeiro conhecimento no mundo sensível.
Mestrando em Filosofia
PUC/PR
semcentro@gmail.com
atravessado à ordem normal das coisas. A nova referência ecosófica se propõe frear a crise do
universo das semióticas capitalistas, um projeto humano embasado no desenvolvimento
complementar de três tipos de práxis eco-lógicas: a ecologia social (das relações sociais), a
ecologia ambiental (do meio ambiente) e a ecologia mental (da subjetividade humana).
Articulada, a tripla visão ecológica prospecta a instauração de novos sistemas de valorização,
ou seja, propõe fazer emergir outros mundos diferentes daquele que exalta o ter e informa
situações abstratas. A nova referência ―diferente‖ e multifacetada, invoca, ao mesmo tempo, a
prática e a especulação, a ética-política e a ética-estética. Ela aceita a permanência de
conflitos na sociedade formada por sistemas multipolares, porém, nega adesões ideológicas
maniqueístas como a antiga defesa marxista da luta dos contrários. Hoje, com a expansão da
subjetividade capitalista, não basta opor-se a ela, através de práticas sindicais e de políticas
tradicionais. Tornou-se imperativo enfrentar (resolver) o bloco capitalista (suas semióticas) no
campo ―[...] da ecologia mental, no seio da vida cotidiana individual, doméstica, conjugal, de
vizinhança, de criação e de ética pessoal‖ (Guattari, 1990, p. 34). No futuro, diz o autor,
havemos de cultivar o dissenso e a produção singular de existência sob o prisma de
paradigmas éticos. A ecosofia, assim, propõe uma recomposição e um reenquadramento das
lutas emancipatórias a partir da tomada de consciência ecológica (ao nível das três ecologias)
a fim de gerar outros modos de produção da subjetividade – isto é, de sensibilidade,
sociabilidade, cultura e conhecimento – e novos agenciamentos produtivos. Uma ofensiva
eco-lógica planetária desse tipo, no momento, é embrionária. Apesar da advertência de não
mais haver história humana se a humanidade não reassumir outras práticas centradas na
solidariedade e na ética, Guattari (1990) sinaliza que a retomada de confiança da humanidade
em si mesma está para ser forjada, pouco a pouco, e a partir de iniciativas, mesmo que sejam
embrionárias.
UNICENTRO
irontaiok22@hotmail.com
preocupa com o erro, pois certas coisas externas ao seu pensamento podem se assemelhar ao
seu próprio pensamento, o que pode gerar certos juízos errados, fazendo com que
conseqüentemente através desse erro originado de uma ideia externa, porém semelhante ao
seu pensamento, acaba por gerar uma falsa ideia em seu pensamento, podendo assim originar
uma falsa representação sobre essa determinada coisa externa. Descartes também coloca em
questão como essas ideias surgem no pensamento, se é de maneira natural ou não, hora
afirmando que o fato das ideias surgirem em seu pensamento parece ser de maneira natural e
hora afirmando o contrário exemplificando através de maneiras que evidenciam ideias de
maneiras arbitrárias. Tanto na Primeira Meditação quanto Terceira, em diversos momentos é
tratado sobre uma dúvida metafísica. Descartes coloca em questão a hipótese de haver esse
Deus Enganador ou Gênio Maligno, porém até a terceira Meditação ele ainda não tem a
certeza nem da existência de Deus fazendo com que Descartes coloque essa questão em um
patamar metafísico. A Dúvida metafísica é formada pelo argumento de que se Deus é
enganador ou o criador da razão é imperfeito, sistematicamente a razão será propícia do erro,
ou seja, irá se enganar mesmo usando corretamente o único critério que dispõe. Mesmo
Descartes fazendo uma profunda análise de tudo que poderia ser colocado em questão, não é
necessário tentar mostrar radicalmente que todas as opiniões podem ser falsas, afinal a dúvida
no projeto cartesiano não assume em nenhum momento um papel cético, onde se duvida sem
nenhuma outra finalidade que o próprio duvidar. Ao invés de uma concepção cética,
Descartes utiliza a dúvida como ponto de partida para uma reflexão e como um caminho para
se obter uma verdade. Ela serve assim de preparação ao estabelecimento do método para que
se possa chegar a um conhecimento.
REFERÊNCIAS
DESCARTES. Meditações sobre filosofia primeira. Campinas: UNICAMP, 1999. 225p.
Edições bilíngües.
LANDIM FILHO, Raul Ferreira. Evidencia e verdade no sistema cartesiano. São Paulo:
Loyola, 1992. 131p. (Coleção Filosofia, 23).
Por que se haveria de obedecer a um Estado, se seus mecanismos acabam por limitar a
tão louvável liberdade individual? A resposta não tarda a aparecer, e é pelo benefício em
longo prazo de termos nossos direitos assegurados. Perder parte de nossa liberdade é o preço
que pagamos para que um Estado nos forneça segurança. Essa resposta é desenvolvida pelos
filósofos contratualistas Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778) seguindo a linha geral de que os homens se encontram em um
estado de natureza e, para defenderem seus interesses, mesmo os mais básicos, como a
autopreservação, fazem um contrato em que surge a figura do Estado como controlador dos
indivíduos em troca de lhes oferecer proteção. Para responder ao problema, apresentarei mais
detalhadamente o caminho trilhado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes na busca da gênese
do governo civil a partir da natureza humana. O método empregado por Hobbes deve-se à sua
preocupação em conferir um status científico à política, pois, tendo caráter demonstrativo,
suas conclusões seriam indiscutíveis, o que resultaria na dissolução de conflitos – para ele,
quando há divergência, seja por erro, seja por ignorância, no âmbito em que os homens
decidem como governar suas vidas, a paz não pode reinar. Partindo do estabelecimento das
principais faculdades da natureza humana, o autor chega ao princípio da violência recíproca.
A necessidade de evitá-la conduz às leis da natureza, e então, às condições para constituir um
corpo político. E nessa via de investigação acaba por legitimar o poder do soberano sobre seus
súditos. Primeiramente, o autor ressalta que não está a afirmar que o homem é naturalmente
mal ou perverso, e sim que, sabendo que há uma minoria perversa e capaz das maiores
injúrias, e que também é impossível distinguir, à primeira vista, estes dos demais, o homem
suspeita e se previne. Os homens tenderiam a buscar a saciedade para seus desejos e a fugir
daquilo de que tivessem medo ou mesmo a combatê-lo; assim, quem fosse mau também não o
seria por natureza, mas por agir de modo agressivo ou ferindo o dever. Hobbes afirma que
o homem não tem uma disposição natural para a sociedade, mas que esta resulta do medo
recíproco. Isto porque todos os homens são naturalmente iguais, porquanto podem causar
iguais males uns aos outros, e todos os homens têm vontade de ferir, mas por causas diversas.
Mas faz parte da natureza do homem, também, segundo o autor, evitar os males que se lhe
apresentam, em especial a morte; assim, esse empenho em proteger-se constitui um direito do
homem. É também seu direito fazer uso de todos os meios necessários para tornar sua
autopreservação possível, cabendo a cada homem, individualmente, julgar, pelo uso da razão,
quais meios ou ações contribuem para sua autopreservação. Podemos então esboçar a noção
de estado de natureza em Hobbes, que é aquele em que os homens se encontram fora da
sociedade civil, antes do estabelecimento de ―convenções ou obrigações‖, em que ―era lícito
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cada um fazer o que quisesse e desfrutar tudo o que quisesse ou pudesse obter‖. Em linhas
gerais, todos podem ―ter tudo e tudo cometer‖. Porém, esse direito de todos a tudo não
garante nada, em verdade, pois uma pessoa pode pretender alguma coisa como sua ao mesmo
tempo em que outra também o faz; assim, ambas as partes não podendo dela desfrutar
simultaneamente, têm início os conflitos. A competição que faz os homens atacarem uns aos
outros visando o lucro, a desconfiança de que possam ser atacados e o desejo de glória,
pertencentes ao estado de natureza do homem, fazem dele um estado de guerra de todos
contra todos. Se o homem deseja o que é bom para si, essa guerra de todos contra todos tem
que de alguma forma ser evitada, porque é contrária à preservação do homem; então os
homens se associam. Procurar a paz ou, caso não seja possível mantê-la, preparar-se para a
guerra consiste na primeira, e mais fundamental, daquelas que Hobbes irá chamar de leis de
natureza. Derivada dessa lei fundamental é a lei segundo a qual os homens devem renunciar
ou transferir a outro alguns de seus direitos, porque a conservação por parte de todos ao
direito a tudo conduz à guerra. Quando há uma transferência de direitos entre duas ou mais
pessoas, há um contrato. Que sejam cumpridos os contratos que firmamos é outra dentre as
várias leis derivadas. Mas, para a preservação da paz, segundo o autor, as leis de natureza são
insuficientes, porque graças à ação humana ser guiada pela vontade, haverá casos em que,
diante da observação de que a desobediência dessas leis resultará em um bem maior ou mal
menor, é provável que os homens as desobedeçam. É preciso uma maior segurança para o
exercício da lei e a manutenção da paz, que não pode ser obtida apenas pela união de pessoas
que cooperem para se autopreservarem, porque divergências de vários tipos podem surgir
entre essas pessoas. Faz-se necessário um poder soberano capaz de fazer com que as pessoas
respeitem as leis que, do contrário, só serão respeitadas nas vezes em que as pessoas se
sentirem suficientemente seguras para isso, pois dependentes exclusivamente de sua própria
força e capacidade. Esse poder comum surge da cessão de toda força e poder, por parte dos
homens, a um só homem ou assembléia de homens que aglutinariam todas as vontades em
uma vontade única, à qual deveriam se submeter. Essa figura aglutinadora, à qual é conferida
tamanha força e poder, é a reunião de todos os homens em um só, que é o Estado.
tamarapasqualatto@hotmail.com
Pelo que demonstra o comportamento humano, Freud pôde concluir que obter
felicidade e nela permanecer é o propósito e a intenção da vida dos homens. O que decide
esse propósito é o programa do princípio do prazer, que domina o funcionamento do aparelho
psíquico desde o seu início27. No entanto, é um princípio impossível de ser executado pela
própria constituição humana, pois ela restringe nossas possibilidades de felicidade, permitindo
conhecermos o prazer apenas em oposição ao desprazer. No seu sentido mais restrito, a
felicidade provém das experiências intensas de prazer; quando essa satisfação se prolonga,
produz um contentamento insignificante. Somos constituídos de modo a que o prazer intenso
deriva necessariamente do contraste com o desprazer. Não há estado, mas episódios de prazer.
Como a vida nos proporciona mais desprazeres e sofrimentos do que satisfação, para
suportarmos decepções e tarefas impossíveis, Freud propõe como necessárias três medidas
ditas paliativas. São elas: derivativos poderosos – como por exemplo, a ciência – que nos
fazem extrair luz de nossos infortúnios; as satisfações substitutivas (como a arte) que
diminuem nossa desgraça, sendo ilusões em contraste com a realidade; e as substâncias
tóxicas (como drogas, álcool, medicamentos) que nos tornam insensíveis aos sofrimentos. O
sofrimento provém de três fontes: do nosso corpo, condenado à decadência e à dissolução; do
mundo externo, que pode voltar-se contra nós com sua força destruidora; e da inadequação
das regras que procuram ajustar nossos relacionamentos com os outros. Este último talvez
seja o mais incômodo de todos, pois não conseguimos perceber os motivos pelos quais as
normas criadas por nós mesmos para viver em sociedade são tão impróprias e contrárias à
nossa felicidade. A civilização representa as leis necessárias para ajustar as relações dos
homens uns com os outros e talvez seja este o motivo por que nos deparamos com o seguinte
argumento: ―o que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa
desgraça e (...) seriamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às
condições primitivas‖ 28 (FREUD, 1930, p. 93). Este argumento se justifica pelo fato de que,
para viver em sociedade, o homem teve de abrir mão de uma parcela de satisfação pulsional.
Diante de tantas possibilidades de sofrimento e da dificuldade de obter prazer, o homem
acostumou-se a moderar suas exigências de felicidade, a ponto de pensar ser feliz
simplesmente por ter escapado à infelicidade. Evitar o sofrimento se tornou mais urgente que
27
Segunda Tópica Freudiana: Id, formação do Ego e Superego. A relação primitiva da criança com o objeto
proporciona sensações de prazer e desprazer, presença e ausência, está no nascimento da ordem simbólica
(WISNIEWSKI, 1986). Conferir: Seminário IV de Lacan.
28
No entanto, o próprio Freud, dezessete anos atrás, em Totem e Tabu, já apontou que não havia satisfação em
larga escala mesmo nos povos primitivos.
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obter prazer, e isso tornou o princípio do prazer um princípio de realidade29. Por conta disso,
o homem desenvolveu inúmeras formas de evitar o desprazer, de acordo com a sua fonte. Por
exemplo: contra o sofrimento proveniente dos relacionamentos humanos, o isolamento
voluntário, o distanciamento das pessoas; contra o mundo externo, o afastamento; contra o
nosso corpo, formas de influenciá-lo com o uso de substâncias químicas, a intoxicação. Este
último, segundo Freud, é o mais grosseiro e eficaz dos métodos de evitar o sofrimento; com
ele, em qualquer ocasião é possível afastar-se da pressão da realidade e alcançar melhores
condições de sensibilidade, uma vez que o sofrimento ―nada mais é do que sensação e por
isso, só existe à medida que o sentimos.‖ (FREUD, 1930, p. 85). Podemos ainda tentar
escapar ao sofrimento agindo sobre nossas pulsões, controlando-as e aniquilando-as,
sujeitando-nos totalmente ao principio de realidade; empregando o deslocamento de libido
pela sublimação das pulsões, obtendo prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e
intelectual; utilizando a chamada técnica da arte de viver, que busca toda satisfação em amar e
ser amado, prendendo-se a objetos pertencentes a este mundo e obtendo felicidade de um
relacionamento emocional com eles; alcançando satisfação através de ilusões ou fantasias,
afrouxando as relações com a realidade, como faz a arte; ou ainda rompendo todas as relações
com o mundo externo, introduzindo um delírio na realidade e remodelando-a. Mesmo que o
programa do princípio do prazer não possa ser realizado, Freud afirma que não devemos e
nem podemos desistir de alcançá-lo. Para ele, o mal-estar advindo dessa impossibilidade é
estrutural, ou seja, está diretamente ligado à falta. E isso quer dizer que a impossibilidade de
realizar a satisfação pulsional plena não é causada pelo fato de ser contra a vivência social,
mas principalmente pelo fato de que não suportaríamos tal prazer. Assim, submissos ao
principio da realidade, vários caminhos podem ser tomados para tentar ser feliz, seja obtendo
prazer ou escapando do desprazer. Não há uma regra para isso, cada homem deve descobrir
por si mesmo, de acordo com sua constituição, qual a melhor maneira de se aproximar da
felicidade.
Referências bibliográficas:
Freud, S. Mal estar na civilização. Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago,
1996. (1930)
______. O futuro de uma ilusão. Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago,
1996. (1927)
______. Totem e Tabu. Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (1913)
LACAN, Jacques. O Seminário IV. A Relação de Objeto, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992
29
O principio de realidade é o regulador do principio do prazer, que adia e desvia a satisfação em função das
condições impostas pelo mundo exterior. Laplanche (1992)
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Professor da Unioeste
t6ciotta@yahoo.com.br
A constituição do estado civil representa a superação da condição natural do homem,
na qual vivia sem a tutela de um poder comum e superior à força dos indivíduos tomados
isoladamente. Nesta condição de natureza, os indivíduos não dispunham de uma garantia
jurídica porque não havia um poder comum, e suficientemente forte, capaz de se impor sobre
a força dispersa dos indivíduos. A instituição do estado civil representa, pois, o triunfo do
direto sobre o arbítrio da vontade natural e imediata. Sair do estado de natureza é, para Kant,
um imperativo da própria razão, de tal modo que aquele que se recusasse a sair dessa situação,
deveria ser forçado ou coagido a fazê-lo. No entanto, a saída do estado de natureza, com a
constituição do Estado, representa apenas a superação da hostilidade que vigorava entre os
indivíduos, mas não a superação da hostilidade entre os Estados. No que diz respeito às
relações entre estes, cada Estado continua se comportando em relação a outros Estados como
se se tratasse de uma relação entre indivíduos no estado de natureza. Deste modo, com a
constituição do estado civil eliminam-se, apenas, os conflitos e a insegurança interna, mas não
se suprimem as relações de hostilidades entre os Estados. Os Estados, entre si, vivem num
estado de guerra. Para sair dessa condição de guerra, a solução é que os Estados se associem,
formando uma confederação. Contudo, isto não significa instituir um novo poder soberano, do
qual os Estados seriam súditos, mas constituir uma associação (confederação de Estados) que
funcionaria como uma espécie de direito subsidiário de um outro direito, originário: o de
impedirem reciprocamente sua queda numa guerra efetiva. A confederação, portanto, está
fundada em tratados, que de tempo em tempo devem ser renovados para evitar a guerra.
Porém, se a guerra for inevitável, cada Estado tem o direito de usar toda a sua força contra o
outro como forma de se defender do inimigo, a exemplo do que ocorria no estado de natureza,
em que cada indivíduo emprega sua força e astúcia contra o inimigo, sem com isso cometer
injustiça. Entre os Estados, vale o mesmo preceito. Porém, dever-se-ia conduzir de tal modo a
guerra que restasse sempre aberta a possibilidade de saída desse estado de natureza e ingresso
numa relação jurídica, porque o estado de paz é a única condição mediante a qual se pode
assegurar o meu e o teu, através das leis, no relacionamento entre os homens, e assim também
entre os Estados. Para que o direito possa imperar completamente na sociedade humana, faz-
se necessário superar o estado de natureza que reina entre os Estados. Para enfrentar este
problema, Kant olhar para o futuro, analisando e interpretando a história da humanidade como
progresso. No entanto, se este ideal moral da humanidade, para o qual todo o homem de boa
vontade deve tender, é um imperativo da razão, no qual a Paz Perpétua representa a última e
derradeira finalidade do direito das gentes, os princípios políticos que visam tal fim sugerem e
recomendam que a união entre os Estados é o meio adequado para que estes dela se
aproximem – visto que a Paz Perpétua é o bem mais elevado do ponto de vista da moralidade.
Acadêmico de Filosofia
PUCRS/PNPD (Capes)
tieguevieira@gmail.com
30
O termo ‗contextualismo‘ diz respeito a um amplo escopo que abarca uma variedade de teorias.
Evidentemente, tais teorias possuem um ponto de partida comum, a saber, a intuição de que, de alguma forma
particular, justificação e/ou conhecimento são dependentes do contexto, isto é, variam de acordo com o contexto.
Existem diferentes teses contextualistas no mercado, as quais poderíamos diferenciar do seguinte modo:
contextualismo do atribuidor e contextualismo do sujeito; contextualismo semântico ou conversacional e
contextualismo estrutural. Como primeira distinção, teremos: para o contextualismo do atribuidor o contexto
relevante é o contexto em que se encontra o atribuidor de conhecimento, e, para o contextualismo do sujeito, o
contexto relevante é o contexto do agente putativo do conhecimento. Com relação à segunda distinção, temos: o
contextualismo semântico ou conversacional envolve características semânticas presentes num dado contexto
conversacional; já o contextualismo estrutural apresenta-se como uma alternativa ao Fundacionismo e ao
Coerentismo, está mais distante do que entendemos por Contextualismo hoje (como veremos ao longo do ensaio)
e mais próximo de uma espécie de Fundacionismo contextual. Para maiores detalhes sobre essa distinção, ver
meu ‗Diferentes Abordagens Contextualistas‘ (2011).
sensibilidade contextual de ‗saber‘ poder considerada análoga à de termos como ‗alto‘, ‗liso‘,
‗plano‘, que possuem sua medida determinada contextualmente; segundo, ela também pode
ser considerada analogamente a termos indexicais como ‗eu‘, ‗aqui‘, ‗agora‘, que podem
assumir diferentes referentes em diferentes contextos. O contextualismo epistêmico se tornou
muito popular ao longo dos últimos trinta anos e sua popularidade se deve, em grande
medida, às novas soluções oferecidas para importantes problemas epistemológicos. As
principais motivações para a adoção da tese contextualista, segundo seus proponentes, reside
no fato de que ela oferece a melhor resposta para alguns problemas de suma importância em
epistemologia: (i) oferece a melhor resposta para resolver certos paradoxos, tais como o
paradoxo da loteria e o paradoxo cético; (ii) alega preservar importantes princípios lógicos
como, e.g., o princípio de fechamento dedutivo; (iii) preserva nossas alegações e atribuições
ordinárias de conhecimento; (iv) oferece uma solução para o problema de Gettier. Neste texto,
discutirei uma das principais teses sobre o Contextualismo em epistemologia, a saber, a tese
proposta por David Lewis – segundo a qual a abordagem sobre o conhecimento se dá sob o
modelo de sensibilidade contextual de quantificadores de domínio restrito. Eu acredito que o
insight central do projeto de Lewis estava, significativamente, correto. Meu objetivo,
portanto, é defender uma tese contextualista neo-lewisiana sobre o conhecimento, que
mantenha uma abordagem sobre quantificadores de domínio restrito. Assim, ‗saber‘ é um
termo modal que requer que uma determinada condição seja satisfeita dentre todas as
possibilidades contidas na sua base modal; quais possibilidades devem ser consideradas será,
em parte, uma questão sensível ao contexto. Após apresentar algumas críticas que
comprometem a teoria de Lewis, eu sugiro algumas reformulações que, acredito, são
suficientes para manter a plausibilidade de uma tese sobre o conhecimento baseada em uma
análise de quantificadores de domínio restrito.
Doutorando em filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
valmir@rcj.org
31
SARTRE, A Imaginação, p. 105
32
SARTRE, La Transcendance de l’Ego, p. 131 – (―(...) noyer la réalité dans le flot des idées‖.)
33
Idem, p. 132 – (―Il y a des siècles, au contraire, qu’on n’avait senti dans la philosophie un courant aussi
réaliste‖.)
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Em sua polêmica e bem conhecida obra Uma Teoria da Justiça, John Rawls (1921-
2002) formula, através de uma analise histórica, sua teoria da justiça, baseando-se na corrente
contratualista, com o intuito de introduzir todos os seres humanos no campo da moralidade.
Peter Singer, filósofo e professor da Universidade de Princeton, em seu livro Ética Prática,
refuta a ideia de personalidade moral criada por Rawls para fundamentar sua teoria de
igualdade entre os seres humanos; ele afirma que a teoria rawlsiana falha por não abarcar
alguns seres humanos em seu círculo moral, pois, como sugere Singer, uma teoria que se
utiliza de um recurso ad hoc não é uma base satisfatória para um conceito de justiça universal.
No parágrafo 77, ―A base da igualdade‖, Rawls disserta sobre a igualdade entre seres
humanos excluindo, logo nas primeiras linhas, animais de sua teoria sobre igualdade. Ele
afirma que, para a formulação de sua teoria da igualdade, deve-se levar em consideração as
características naturais dos seres humanos, no entanto selecionando o que ele chama de
propriedade de âmbito. O Autor se utiliza de uma metáfora para que se entenda este conceito.
Supõe-se que se faça um círculo em um pedaço de papel (desta forma delimitando o âmbito);
todos possuem igualmente a propriedade de estarem alocados dentro desse círculo, mesmo
que alguns pontos estejam mais distantes do centro do que outros, John Rawls ainda afirma
que para os seres humanos serem atingidos por este circulo eles devem possuir o que ele
entende por personalidade moral. Rawls compreende personalidade moral em contraste com
amoral, e não uma personalidade moralmente boa. Assim, os seres humanos possuem essa
personalidade igualmente. Desta forma, todos são detentores de um senso de justiça, e, feita
uma invocação de justiça a qualquer detentor de personalidade moral, este levará em conta
esta invocação. Portanto, Rawls afirma que apenas seres humanos são capazes de possuir a
personalidade moral, e, em consequência disso, somente estes devem ser atingidos pela sua
teoria de justiça. Contra o argumento de John Rawls, Peter Singer afirma, no segundo capitulo
de seu livro já citado, mais especificamente nas páginas 27 e 28, que basear uma corrente
igualitarista no uso da teoria de personalidade moral requer uma medida do grau de
sensibilidade moral de cada individuo, pois nota-se, em todo o caso, que existem pessoas que
são mais sensíveis a questões éticas que outras, por uma infinidade de razões. Desta forma,
deixa-se em aberto a questão da delimitação e diferença entre indivíduos morais e indivíduos
amorais, e assim não se faz mais necessária uma medida que pese os direitos e deveres morais
de cada indivíduo, pois aqui fica evidente que cada pessoa possui o mesmo status moral.
Singer acrescenta mais uma dificuldade com relação à argumentação de Rawls, discorrendo
sobre a incapacidade de compreender pessoas com sérias deficiências mentais, fetos e bebês
como detentores de direitos morais. Pois, no sentido mais ínfimo, estes carecem de um
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necessário senso de justiça, e estão em desacordo com a ideia apresentada por Rawls. Não se
pode pensar em uma teoria igualitarista que exclua ou menospreze os interesses de alguns
indivíduos pertencentes à espécie homo sapiens. Contra isso, Rawls apenas se esquiva (contra
a acusação de insuficiência de sua teoria) dizendo que estes seres com dificuldade de
responder a questões de justiça ainda têm a possibilidade de se tornarem merecedores da
abrangência do círculo moral. No entanto, diz que este recurso é provisório, e que esta
questão não será abordada por ele no livro já citado. O recurso temporário apresentado por
John Rawls não encontra bases significativas ou argumentos independentes. Assim,
compreende-se que, ao invés de solucionar o problema, Rawls o deixa em aberto, tentando
isentar-se de qualquer crítica. Fica claro que a ideia de personalidade moral é falha por não
apresentar uma base suficientemente sólida para fundamentar a igualdade humana. Como
afirma Singer, uma característica natural, como a ideia de propriedade de âmbito ou qualquer
outra, é imprópria para desempenhar essa função. Portanto, Singer encerra a discussão a
respeito de que a base para fundamentar a igualdade humana é um princípio igualitarista,
demonstrando que a ideia de propriedade de âmbito é insuficiente, por excluir alguns
indivíduos da esfera moral.
UFSM/Capes
victordafilosofia@gmail.com
Acadêmica da UPF
zairacanci@yahoo.com
Introdução
O resgate dos conceitos clássicos de Paideia grega e de educação natural torna-se necessário,
pois ambos visam à formação integral do ser humano. Rousseau procurou mostrar com o
conceito de educação natural que a razão não deveria ser o centro da educação. Os gregos na
Grécia clássica resgatarão o conceito de Paideia dando a ela um novo sentido, retomando a
formação do sujeito para a vida, pois a formação não deveria exaltar somente a vaidade e o
êxito, objetivo atribuído a ela pelos sofistas. Formação no sentido integral do termo pode ser
entendida como um trabalho de si mesmo, uma abertura que ocorre entre a experiência no
mundo e um projeto de mundo. Estes conceitos fornecem pistas para alcançar-mos uma
formação de cunho universal, ou seja, uma educação que compreenda o ser humano em sua
totalidade, isto é, uma formação humana, ética e política, conjugada com o técnico, pois este
saber também se torna indispensável. Metodologia: A pesquisa é de caráter bibliográfico e
desenvolveu-se em dois momentos principais. Primeiramente compreendeu as discussões
dentro do grupo de pesquisa com o desenvolvimento de relatórios vinculados ao projeto
―Iluminismo e pedagogia: Filosofia social e Educação Natural em Jean- Jacques Rousseau‖.
No segundo momento, este de caráter mais particular, compreendeu a leitura de algumas
obras pertinentes ao estudo da pesquisa em questão assim como seu fichamento. Resultados e
discussões: Rousseau desenvolve seu tratado de pedagogia no século das luzes. Na obra Émile
o filósofo antecipa a discussão acerca do método educacional e propõe uma nova pedagogia.
O foco da obra está voltado à educação da criança e tem por objetivo educar tendo em vista o
conceito de infância. Ele critica a pedagogia que prima pela educação racional do infante,
baseando sua crítica no argumento de que uma educação assim não prepara a criança para
viver dignamente em sociedade, até mesmo por não ser adequada á educação na primeira fase
da infância. Rousseau desenvolve desse modo, o conceito de educação natural que é uma
espécie de contrapartida à educação centrada na razão. Com este conceito ele objetiva educar
a partir das emoções e dos sentimentos, pois antes de ser racional a criança é sensitiva e
emotiva. Por isso acredita-se que Rousseau na sua obra Émile tenha retomado o conceito
clássico da Paideia, pois sua pedagogia prima pela formação integral do sujeito e, por
formação pode-se entender um trabalho de si mesmo, uma espécie de abertura que ocorre
entre a experiência no mundo e um projeto de mundo. Não devemos esquecer, neste contexto,
que o termo Paideia compreende antes de tudo um modo de vida. Na Grécia clássica ela
visava formar os indivíduos a seguirem um modo de vida digno, consistindo numa proposta
ou num processo filosófico de formação humano-intelectual. Nesse sentido, ela não
significava apenas adquirir conhecimentos, mas sim um saber viver, uma prática de um modo
de vida. O termo Paideia significa, resumidamente, um saber que é necessário escolher, pois
somente se concretiza quando seus ideais forem postos em prática dentro da sociedade.
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Referências
CENCI, Ângelo Vitório. DALBOSCO, Cláudio Almir. MÜHL, Eldon Henrique (org). Sobre
filosofia e educação: Racionalidade, diversidade e formação pedagógica. Passo Fundo: Ed.
Universidade de Passo Fundo, UPF, 2009.
ROUSSEAU, J. – J. Emílio ou da Educação. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
DALBOSCO, C. A. & H. G. FLICKINGER (Org.). Educação e Maioridade: dimensões da
racionalidade pedagógica. São Paulo: Cortez; Passo Fundo: Ed. UPF, 2005.