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Equações de chuvas intensas para localidades do Estado do Pará

Paulo Henrique Martins Scaramussa1, Rodrigo Otávio Rodrigues De Melo Souza2, Marcos
Antônio Corrêa Matos Amaral3, Alexandre Vilar Pantoja4, João Augusto Pereira Neto5
1
Graduando de Agronomia, UFRA, Av. Presidente Tancredo Neves nº 2501, Belém-PA, e-
mail: ph_scaramussa@hotmail.com
2
Professor Adjunto, UFRA/ICA, e-mail: rodrigo.souza@ufra.edu.br
3
Graduando de Agronomia, UFRA, e-mail: marcos.ufra@hotmail.com
4
Graduando de Agronomia, UFRA, e-mail: ale_ceara@hotmail.com
2
Professor Assistente, UFRA/Capitão Poço, e-mail: joao.augusto@ufra.edu.br

Intensive rainfall equations for sites in Pará State


ABSTRACT: The equations of high intensity rains have been used as important tool to
design hydraulic structures. Most of the municipal districts of the Pará State (Brazil) doesn't
have information about the equations of high intensity rains. For this reason, the present work
aimed to establish the intensity-duration-frequency relationship of rains for the major cities of
Pará, using the methodology of disaggregation of 24 h rain. The data from 11 municipal
pluviometric stations, of the Hydrological Information System of the National Water Agency,
were used in this work. The IDF equations showed good fit, with determination coefficients
above 0.95. The values of intensity rainfall varied a lot, for a same duration, among studied
municipal districts.

Keywords: Intensive rainfall, intensity-duration-frequency, hidrology

1 – INTRODUÇÃO

A relação Intensidade–Duração-Frequência (IDF) da precipitação pluvial tem sido


usada como ferramenta importante para projetos de obras hidráulicas. Para a obtenção destas
equações são necessários dados pluviográficos.
O Estado do Pará possui uma carência de dados pluviográficos, o que justifica a falta de
dados bibliográficos sobre equações de chuvas intensas no Estado. Uma alternativa para a
estimativa destas equações seria a utilização de dados pluviométricos, visto que o Estado
possui um grande número de pluviômetros, bem distribuídos geograficamente.
Segundo Santos et al. (2009) as equações IDF, também chamadas de equações de
chuvas intensas, tornam-se mais eficientes quando além de utilizarem dados locais,
apresentam séries mais longas de dados observados.
A determinação das equações de IDF apresenta grandes dificuldades em razão da
escassez de informações, da baixa densidade de redes pluviográficos e do pequeno período de
observações disponíveis. Além disso, a metodologia exige um exaustivo trabalho de
tabulação, análise e interpretação de inúmeros pluviogramas. Por essa ocasião, hoje em dia
poucos trabalhos têm sido realizados com tal finalidade, ocasionando um grande entrave na
realização de projetos de obras hidráulicas mais confiantes e econômicos (Pruski et al., 2002).
Os métodos que se baseiam nas relações entre chuvas intensas de diferentes durações
têm validade regional, embora os valores médios destas relações sejam muitos próximos para
várias partes do mundo. Para estimativas locais são convenientes que sejam estabelecidos
novos coeficientes, relacionados às características locais dos microclimas (Genovez & Zuffo,
2000).
Algumas metodologias foram desenvolvidas no Brasil para a obtenção de chuvas de
menor duração a partir de registros pluviométricos diários, devido à existência no território
nacional de vasta rede pluviométrica. Essas metodologias empregam coeficientes para
transformar chuva de 24 horas, em chuvas de menor duração. Dentre elas, estão a das
isozonas e a da desagregação da chuva de 24 horas, citadas por Oliveira et al. (2005). Barbosa
et al. (2000) empregaram a metodologia da desagregação da chuva de 24 horas para algumas
localidades do Estado de Goiás, a qual se mostrou adequada, com valores de desvios menores
que 14,4%, comparados com as relações intensidade-duração-frequência geradas por Costa &
Brito (1999). Isso proporcionou a utilização em áreas onde não dispõe de registro
pluviográficos. Por outro lado, Oliveira et al. (2005) ajustaram para algumas localidades do
Estado de Goiás e do Distrito Federal a relação intensidade-duração-frequência, empregando
o método de desagregação de chuvas de 24 horas, onde os resultados apresentaram desvios
relativos médios que variaram de -1,6% a 43,9%.
Devido à grande carência de informações relativas às equações de chuvas intensas para
a maioria dos municípios do Estado do Pará, desenvolveu-se o presente trabalho, com o
objetivo da obtenção das relações de intensidade, duração e freqüência de precipitação pluvial
para as principais cidades do Pará, utilizando-se a metodologia da desagregação da chuva de
24 h.

2 - MATERIAL E MÉTODOS

Neste trabalho foram utilizados séries históricas de dados pluviométricos para as


principais cidades do Estado do Pará, obtidos do Sistema de Informação Hidrológicas da
Agência Nacional de Águas (ANA, 2007), perfazendo 11 estações pluviométricas
selecionadas nos municípios: Altamira, Belém, Breves, Castanhal, Igarapé-Açu, Itaituba,
Marabá, Paragominas, Redenção, Santarém e São Félix do Xingu. Para cada estação foram
montadas as séries históricas dos valores máximos anuais com séries de 33 anos em média.
A desagregação da chuva de um dia em chuvas de menor duração foi obtida pela
metodologia proposta pelo Daee-Cetesb (1980). Foram obtidos chuvas com durações de
cinco, dez, quinze, vinte, vinte e cinco, e trinta minutos, e de uma, seis, oito, dez, doze e vinte
e quatro horas, pelo emprego dos coeficientes multiplicativos, apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 - Coeficiente de desagregação da chuva de 24 h de duração.


Duração Coeficientes Duração Coeficientes
24h 24h-1 1,14 30 min h-1 0,74
12h 24h-1 0,85 25 min h-1 0,91
-1 -1
10h 24h 0,82 20 min h 0,81
8h 24h-1 0,78 15 min h-1 0,70
-1 -1
6h 24h 0,72 10 min h 0,54
1h 24h-1 0,42 5 min h-1 0,34
Fonte: DAEE/CETESB (1980)
Foi utilizado o modelo de distribuição de probabilidades de Gumbel para o cálculo
anual das precipitações máximas diárias por meio da seguinte sequência de equações,
conforme Pinto (1995):
⎡ ⎛ 1 ⎞⎤
YTR = − ln ⎢− ln⎜1 − ⎟⎥ (1)
⎣ ⎝ TR ⎠⎦
K TR = −0,45 + 0,78.YTR (2)
X TR = X + K TR .S (3)

Em que:
YTR – variável reduzida da distribuição da distribuição de Gumbel;
TR – período de retorno (anos);
XTR – precipitação máxima diária para determinado TR (mm);
KTR- fator de freqüência (adimensional);
X e S- média da precipitação máxima diária (mm) e o desvio-padrão dos dados de
precipitação máxima diária (mm).

Após a verificação da aderência dos dados à distribuição de Gumbel, para cada série de
duração de chuva, realizaram-se as estimativas das chuvas máximas para diferentes períodos
de retorno. Com os valores estimados de chuvas máximas para diferentes durações e tempos
de retorno, estimaram-se os parâmetros utilizados nas equações que expressam as relações
IDF (Equação 4), para cada estação observada.
K .TR a
I= (4)
(t + b )c
Em que:
i- intensidade máxima média, mm h -1;
TR – período de retorno, anos;
t- tempo de duração da chuva, min;
K, a, b, c- parâmetros de ajuste.

O ajuste das equações de intensidade de precipitação foi realizado no software Table


Curve 3D. Foram utilizados os períodos de retorno de 5, 10, 20, 50, 100, 1000 e 10000; com
duração de precipitação de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 60, 360, 480, 600, 720 e 1440 minutos.
Com as equações ajustas de cada município foi calculada a intensidade de precipitação,
considerando um tempo de retorno de 15 anos e diferentes durações (30, 360, 720 e
1440minutos).

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 apresenta as estimativas dos parâmetros das relações de IDF, relativos às


11 localidades no Estado do Pará, verificando-se bom ajuste das equações (valores de r² acima
de 95% para todos os municípios estudados). Existe uma grande variação nos coeficientes
presentes nas relações IDF. O parâmetro K variou de 1098,01(Breves) a 2314,97 (Igarapé-
Açu). Esses resultados indicaram grande variação das intensidades de precipitação esperadas
para diferentes regiões do Estado. Enquanto que para o parâmetro “a”, a variação observada
foi de 0,0944 a 0,1567, para Belém e Igarapé-Açu, respectivamente. Os parâmetros “b” e “c”
apresentaram valores próximos de 8,13 e 0,76; respectivamente.
A grande variabilidade de valores de intensidade de precipitação observado nos
diferentes municípios do Estado evidencia a necessidade de consideração de informações
locais para realização de estudo e projetos hidráulicos, interferindo na segurança de
dimensionamento e no custo das obras.

Tabela 2 - Coeficientes K, a, b e c das equações de chuvas intensas ajustadas para várias


localidades do Estado do Pará e respectivos coeficientes de determinação (r2).
Localidade Latitude Longitude K a b c r²
Altamira 3°12’51’’ 52°12’47’’ 1815,2786 0,1440 8,1312 0,7671 0,9608
Belém 1°26’6’’ 48°26’16’’ 1256,6028 0,0944 8,1300 0,7670 0,9632
Breves 1°47’30’’ 50°26’5’’ 1098,0054 0,1154 8,1369 0,7672 0,9628
Castanhal 1°17’51’’ 47°56’22’’ 2105,8044 0,1456 8,1322 0,7671 0,9606
Igarapé-Açu 1°19’0’’ 47°37’0’’ 2314,9618 0,1567 8,1339 0,7672 0,9592
Itaituba 5°9’15’’ 56°51’20’’ 1740,7918 0,1450 8,1297 0,7670 0,9607
Marabá 6°25’40’’ 49°25’11’’ 1410,0979 0,1110 8,1316 0,7671 0,9629
Paragominas 3°44’32’’ 47°29’51’’ 1620,2280 0,1270 8,1344 0,7672 0,9622
Redenção 8°2’38’’ 50°0’11’’ 1503,1751 0,1044 8,1310 0,7671 0,9630
Santarém 3°53’20’’ 54°18’54’’ 1483,6468 0,1259 8,1356 0,7672 0,9622
São Félix do 6°42’9’’ 51°47’55’’ 1320,6268 0,1109 8,1360 0,7672 0,9629
Xingu

Na Tabela 3 podem-se observar as intensidades de precipitação estimadas com as


equações dos municípios, para uma tempo de retorno de 15 anos e diferentes durações. Dentre
os municípios analisados, Igarapé-Açu apresentou os maiores índices de intensidade chuvas
para todas as durações, sendo o inverso observado para o município de Breves.

Tabela 3 - Intensidade de precipitação para diferentes durações de chuva, com tempo de


retorno de 15 anos.
Intensidade Máxima média de chuva em mm h-1
Localidade 30min 360min 720min 1440min
Altamira 164,17 28,83 17,09 10,09
Belém 99,41 17,47 10,35 6,11
Breves 91,86 16,13 9,56 5,64
Castanhal 191,27 33,60 19,91 11,75
Igarapé-Açu 216,60 38,04 22,54 13,30
Itaituba 157,93 27,74 16,44 9,70
Marabá 116,62 20,48 12,14 7,16
Paragominas 139,88 24,57 14,56 8,59
Redenção 122,12 21,45 12,71 7,50
Santarém 127,70 22,43 13,29 7,84
São Félix do Xingu 109,15 19,17 11,36 6,70

4 – CONCLUSÕES

Com base nos resultados apresentados, conclui-se que:


1. As equações IDF apresentaram bom ajuste, com coeficientes de determinação acima de
95%.
2. Ocorre alta variabilidade dos valores de intensidade máxima média de precipitação pluvial,
para uma mesma duração, entre as localidades observadas.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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