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Diz MDPE, Medeiros RB de. Câncer de colo uterino – fatores de risco, prevenção, diagnóstico
e tratamento. Rev Med (São Paulo). 2009 jan.-mar.;88(1):7-15.
RESUMO: O câncer de colo uterino é o segundo tipo de câncer mais frequente entre as mu-
lheres de todo o mundo e também no Brasil. Sua maior incidência se dá em mulheres entre
45 e 49 anos de idade e estima-se que o rastreamento sistemático e o tratamento de lesões
precursoras possam reduzir a mortalidade pela doença em até 80%. O principal fator de risco
é a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) e já foram desenvolvidas vacinas contra os
principais tipos oncogênicos do vírus. A redução da mortalidade decorrente dessa doença
depende da adoção de medidas de prevenção primária, de diagnóstico e tratamento de lesões
precursoras bem como do diagnóstico e tratamento adequados das lesões invasivas.
INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
1. Coordenador Médico da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo
2. Médico Residente do Programa de Residência Médica em Cancerologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo
Endereço para correspondência: Maria Del Pilar Estevez Diz. Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP. Av.
Dr. Arnaldo, 251. São Paulo, SP. CEP: 01246-000. E-mail: maria.pilar@hcnet.usp.br
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Diz MDPE et al. Câncer de colo uterino – fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento.
* Taxas padronizadas por idade ajustadas pela população do Estado de São Paulo em
1991.
Fonte: Fundação SEADE
Figura 2. Taxas* de mortalidade por câncer do colo do útero. Estado de São Paulo, 1987-1998
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Rev Med (São Paulo). 2009 jan.-mar.;88(1):7-15.
Nos EUA em 2008, 11.070 novos casos de do carcinoma espinocelular, o tabagismo também é
câncer de colo uterino foram diagnosticados e 3.870 fator de risco.
mortes pela doença foram relatadas, representando Uma análise recente de 24 estudos
1% das mortes por câncer em mulheres e 15% das epidemiológicos apontou que, entre usuárias de
mortes por câncer ginecológico naquele país. Em anticoncepcionais orais, o risco de câncer de colo de
mulheres entre 23 e 39 anos, chega a ser a segunda útero aumenta em 1,9 vezes, de acordo com o tempo
causa de morte por câncer, ficando atrás apenas do de uso, quando comparamos mulheres que fizeram
câncer de mama6. uso de anticoncepcionais orais por um período ≥ 5
Houve um declínio no número de mortes por anos com as que foram expostas a esse tratamento
essa neoplasia desde a década de 1930, relacionado (RR 1.90, IC 95% 1.69-2.13). O risco declina após a
principalmente, mas não exclusivamente, à realização interrupção e, após 10 anos, se iguala novamente à
do exame preventivo de citologia oncótica, o exame taxa das não usuárias. No mesmo estudo, o uso de
de Papanicolaou. No entanto, nos países em anticoncepcionais orais por 10 anos entre a faixa etária
desenvolvimento, o câncer de colo uterino continua dos 20 aos 30 anos aumentou o risco cumulativo de
sendo uma das principais causas de morte em câncer aos 50 anos de 7.3 para 8.3/1000 em países
mulheres. Vários fatores contribuem para esse fato, em desenvolvimento e de 3.8 para 4.5/1000 em países
como a falta de programas para detecção precoce, desenvolvidos10.
falta de aderência das mulheres a esses programas Adenocarcinomas, que incluem os subtipos
e a elevada taxa de infecção pelo Papiloma Vírus mucinoso, endometrioide, de células claras e seroso,
Humano (HPV) e diferenças culturais com relação à têm aumentado em incidência desde a década de
atividade sexual. 1970, especialmente em mulheres com menos de
Mesmo com a instituição de programas de 35 anos7,8,9. O motivo não está bem estabelecido e
prevenção nos países desenvolvidos falhas na adesão podem contribuir para essa tendência o maior uso de
podem ter um impacto negativo. Uma recente meta- anticoncepcionais orais, menor frequência de tumores
análise apontou a falha na estratégia de prevenção com histologia não definida e maior dificuldade no
como fator primário para o desenvolvimento da diagnóstico de lesões pré-invasivas.
neoplasia: 54% das pacientes com câncer tinham Em contrapartida ao que ocorre com o carcinoma
história de rastreamento inadequado e 42% nunca de células escamosas (CEC), o tabagismo não está
haviam realizado o Papanicolaou. associado a um risco aumentado de adenocarcinoma
A ocorrência da doença está relacionada à do colo uterino quando comparado ao risco das não
idade, com uma idade média ao diagnóstico de 47 fumantes10,11.
anos nos EUA. A probabilidade de desenvolver a Enquanto alguns estudos sugerem que o
doença por faixa etária é: 1 em 638 para mulheres adenocarcinoma tem uma associação mais importante
com 39 anos ou menos; 1 em 359 entre 40 e 59 anos; ao uso de anticoncepcionais orais em relação ao
1 em 750 na sétima década; e 1 em 523 acima dos CEC13, outros encontram um aumento de risco similar
70 anos; com uma probabilidade de desenvolver a entre os dois tipos histológicos14.
doença durante a vida de 1 em 1426. No Brasil, a sua
incidência torna-se evidente na faixa etária dos 20-29 HPV
anos e atinge o pico entre 45 e 49 anos de idade.
Estima-se que medidas como exame de Papanicolaou O papiloma vírus humano (HPV) (Figura3)
frequente e tratamento das lesões precursoras nas desempenha papel central na patogênese da doença
mulheres entre 25 e 65 anos de idade possam reduzir e pode ser detectado em 99,7% dos cânceres de colo
a mortalidade pela doença em 80%4. uterino, seja no CEC seja no adenocarcinoma15.
Fatores de risco
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Diz MDPE et al. Câncer de colo uterino – fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento.
Entre os mais de 40 tipos de HPV que infectam A infecção é condição necessária, porém não
a mucosa genital, aproximadamente 15 apresentam suficiente para o desenvolvimento da doença.
potencial oncogênico. Dentre esses com elevado Quando a infecção se torna persistente, o tempo
potencial mais oncogênico, os dois mais frequentes entre a infecção inicial e o desenvolvimento de
são os HPV 16 e 18, encontrados em até 70% dos displasia/câncer invasivo é de aproximadamente
casos. Mais de 90% dos casos estão relacionados 15 anos, embora cursos mais rápidos fossem
a infecções pelo HPV dos tipos 6, 11, 16 e 18. descritos20.
A infecção pelo HPV é extremamente comum Da infecção até o desenvolvimento da
na população. Mais de 50% das mulheres com vida neoplasia invasiva são descritos quatro estágios:
sexual ativa adquirem o vírus em algum momento 1. Infecção do epitélio metaplásico da zona de
de suas vidas16. transformação por cepa oncogênica do vírus;
O espectro de doenças causadas pelos vírus 2. Persistência da infecção;
é grande e inclui verrugas genitais, papilomatose 3. Progressão de um clone de células epiteliais
laríngea juvenil, câncer da vulva, vagina, ânus e infectadas para uma lesão pré-cancerosa
pênis, assim como cânceres da cabeça e pescoço, (displasia; neoplasia intraepitelial) (Figura 4);
além do câncer invasivo de colo uterino17,18,19. 4. Desenvolvimento de carcinoma com invasão da
A maioria das infecções pelo HPV é transitória. membrana basal do epitélio21.
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Diz MDPE et al. Câncer de colo uterino – fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento.
TNM FIGO
T - Tumor primário
Tx - Tumor primário não pode ser detectado
T0 - Sem evidência de tumor primário
Tis 0 Carcinoma in situ
T1 I Carcinoma cervical confinado ao útero
Carcinoma invasor, diagnosticado somente pela microscopia. Todas as lesões visíveis macroscopi-
T1a IA
camente – mesmo com invasão superficial – são T1b/Estádio IB
T1a1 IA1 Invasão estromal de até 3 mm em profundidade e 7 mm ou menos de extensão horizontal
Invasão estromal maior que 3 mm e até 5 mm em profundidade com uma extensão horizontal de
T1a2 IA2
7mm ou menos
T1b IB Lesão clinicamente visível, limitada ao colo, ou lesão microscópica maior que T1a2/IA2
T1b1 IB1 Lesão clinicamente visível com 4 cm ou menos em sua maior dimensão
IB2 Lesão clinicamente visível com mais de 4 cm em sua maior dimensão
T2 II Tumor que invade além do útero, mas não atinge a parede pélvica ou o terço inferior da vagina
T2a IIA Sem invasão do paramétrio
T2b IIB Com invasão do paramétrio
Tumor que se estende à parede pélvica, compromete o terço inferior da vagina, ou causa hidronefro-
T3 III
se ou exclusão renal
T3a IIIA Tumor que compromete o terço inferior da vagina, sem extensão à parede pélvica
T3b IIIB Tumor que se estende à parede pélvica, ou causa hidronefrose ou exclusão renal
T4 IVA Tumor que invade a mucosa vesical ou retal, ou que se estende além da pélvis verdadeira
N – Linfonodos regionais*
NX Os linfonodos regionais não podem ser avaliados
N0 Ausência de metástase em linfonodo regional
N1 Metástase em linfonodo regional
M – Metástases à distância
MX A presença de metástase à distância não pode ser avaliada
M0 Ausência de metástase à distância
M1 Metástase à distância
*Linfonodos regionais incluem: paracervicais, parametriais, hipogástricos (ilial interno, obturador), ilíacos comum e
externo, pré-sacrais e sacrais laterais.
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Diz MDPE et al. Câncer de colo uterino – fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento.
Diz MDPE, Medeiros RB de. Carcinoma of the cervix – risk factors, prevention, diagnosis and
treatment. Rev Med (São Paulo). 2009 jan.-mar.;88(1):7-15.
ABSTRACT: The cervical cancer is the second leading cause of cancer between women
around the world, as in Brazil. The highest incidence is in women aged 45-49 years and the
mortality can be reduced by 80% with the systematic screening and treatment of precursor
lesions. Human papillomavirus is the major risk factor and vaccines were recent developed.
Strategies to reduction of cervical cancer mortality include prevention measures, diagnosis and
treatment of early and invasive lesions.
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