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fundadora da plataforma de conteúdo au- do livro As Lendas de Dandara. Criadora da
diovisual AFROFLIX, curadora da FLUPP Terapia Escrita, mediadora do Clube da Escri- capa
(Festa Literária das Periferias) e consultora ta para Mulheres e do Clube Leitura Indepen- A literatura de cordel como apontamentos
de audiovisual no Instituto de Tecnologia dente. Possui mais de 50 títulos publicados em tradição transformadora O boom do K-Pop
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e Sociedade. Dirigiu e escreveu os longas literatura de cordel, alguns em parceria com a
KBELA e BATALHAS e fez a direção da sé- ONG Artigo 19 e o site Think Olga. Literatura infantil
rie AfroTranscendence. Foto: Acervo pessoal
A transgressão dos
Foto: Acervo pessoal
literatura
Sexo em versos livres poetas e das crianças
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nalismo Cultural pela FAAP e autora do livro mentário Raphael Rabello. Atua como asses-
entranhamento, pela Editora Patuá. Faz parte sora de imprensa e produtora de conteúdo Ensaio
do coletivo de mulheres Circular de Poesia para redes sociais à frente da Belmira Comu- A literatura como fonte curadoria
Livre, além de promover saraus e oficinas de nicação. Leitora apaixonada, é cliente Blooks de sentido para viver a cara da blooks
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escrita criativa e feminismo. desde o primeiro dia da livraria.
Foto: Acervo pessoal Foto: Emanuelle Schreiber
Olhares Capturas
Rodrigo Tupinambá Carvão é psica- Letícia Novaes é atriz, escritora, cantora Música Ruan D’Ornellas
nalista membro da Associação Brasileira de e compositora da banda Letuce. Lançou seu
Estudos e Pesquisa da Infância, psicomotri- primeiro livro, Zaralha - abri minha pasta, em
cista membro da Sociedade Brasileira de Psi- 2015, pela editora Guarda-Chuva.
comotricidade, professor de Educação Física, Foto: Acervo pessoal
criador e blogueiro do Projeto Chutebol
(projetochutebol.com.br).
Foto: Aline Wilhem
Editoras Blooks Livraria
Camilla Savoia blooks.com.br
Taissa Reis facebook.com/blookslivraria
Pedro Siqueira é estudante de Jornalis- Kleber Mendonça Filho é cineasta, instagram.com/blooks
mo na Universidade Católica de Pernambuco formado em Jornalismo pela UFPE, com um Projeto gráfico
twitter.com/blooks
e apaixonado por música, cinema e TV. Tra- trabalho abrangente como crítico e responsável Retina 78
balhou como repórter do caderno Viver, do pelo setor de cinema da Fundação Joaquim Rio de Janeiro
Diário de Pernambuco, onde redigiu textos e Nabuco. Dirigiu diversos curtas e os longas Capa e diagramação
Espaço Itaú de Cinema – Botafogo
entrevistas voltados para a cultura e para o Crítico, O Som ao Redor e Aquarius. Guilherme Costa
Praia de Botafogo, 316
entretenimento. Também colaborou com o Foto: CinemaScópio Artes originais da capa Telefone: (21) 2237-7974
blog Play, do portal Pernambuco.com. J.Borges
Foto: Paulo Paiva São Paulo
Revisão Shopping Frei Caneca – Consolação
Cindy Leopoldo Rua Frei Caneca, 569 – 3º Piso
Érica Imenes é formada em Produção Cristiane Tavares é Mestre em Literatu- Rocino Crispim Telefone: (11) 3259-2291
Audiovisual e Jornalismo e atua em comuni- ra e Crítica Literária pela PUC-SP. Assessora Impressão Você encontra a Revista Blooks em nossas lojas e nos
cação e produção de eventos. Trabalha com projetos de leitura junto a diferentes institui- Bangraf locais a seguir. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna
o SarangInGayo (maior e mais antigo portal ções e coordena o curso de Pós-Graduação do Rio de Janeiro, Circo Voador, Fundição Progresso,
de cultura coreana do Brasil) e a Far Music Livros, crianças e jovens: teoria, mediação Conselho editorial
IED, Parque das Ruínas e Cine Odeon. São Paulo:
Entertainment (empresa especializada em e crítica, no Instituto Superior Vera Cruz. É Ana Claudia Souza
Centro Cultural São Paulo, Museu Afro Brasil, Casa das
eventos de entretenimento sul-coreano). colaboradora das revistas Emília e Brasileiros. Camilla Savoia
Rosas, IED, Pinacoteca e Quanta Academia de Artes.
Foto: Acervo pessoal Autora dos livros Quintais e Aos olhos do mar. Christiano Menezes
Foto: Acervo pessoal Elisa Ventura É proibida a reprodução total ou
Taissa Reis parcial desta publicação, para qualquer
Toinho Castro finalidade, sem prévia autorização.
GUSTAVO (GUS) Moura de Almeida Ruan D’Ornellas é artista plástico, diretor Matérias e sugestões de pauta Acesse o site revistablooks.com
é advogado formado pela PUC-Rio. Além de de arte e ilustrador. É viciado em Instagram e
redacao@revistablooks.com para receber a revista em seu e-mail.
gerente de vendas e relações institucionais da tem insônia quase toda noite. De Volta Redonda,
Portas Vilaseca Galeria, é diretor da TATO - mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Belas Anuncie A Revista Blooks é uma publicação
The Art Translation Office, especializada em Artes. É representado pela C.galeria e seu traba- anuncie@revistablooks.com bimestral da Ginga Edições.
traduções e versões no campo da arte. lho atual consiste principalmente em uma pesqui-
Foto: Marco Rodrigues sa de signos, símbolos e significados.
Foto: Acervo pessoal
A vida é um desafio Poesia de bermuda e chinelo
Foto: Mayara Donaria Foto: Alexandre Sant’Anna
Escolhi falar do passado longínquo. No longínquo tempo antes da A antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda,
internet em que os adolescentes aprendiam a ser adultos assistindo mudou minha vida. Eu tinha 16 anos e ganhei de presente do meu pai.
Malhação e lendo a revista Capricho. Foi assim que aprendi o que era Foi um acerto e tanto. Até esse dia, achava que poesia era outra coisa:
menstruação, sexo, drogas e rock’n’roll. Em notas de rodapé, a publi- rebuscada, séria, formal. Fiquei totalmente fascinada ao ler pela pri-
cação trazia mensagens, poesia, Clarice Lispector. Mas uma edição meira vez Chico Alvim, Ana Cristina Cesar, Chacal, Waly Salomão e
especial ocupou suas páginas com apenas uma música: A vida é um outros poetas da geração marginal. Aquele era o convite certeiro
desafio, dos Racionais MC’s. A cada página, um verso. para conhecer outra poesia, bem à vontade, no tema e no assunto, de
Eu precisei de uma revista que só retratava adolescentes brancos para bermuda e chinelo.
conhecer o grupo mais preto do Brasil. Desde então, passei a perseguir
aquela forma de emocionar que falava de dor, mas também de vida, Alice Sant’Anna nasceu no Rio, em 1988. Escreveu os livros de
que segue adiante apesar das “mil tretas”. poesia Dobradura, pela 7Letras, em 2008, e Rabo de baleia, pela Cosac
Naify, em 2013. Em 2016, lançou Pé do ouvido, pela Companhia das Letras.
Ana Paula Lisboa é filha de dois pretos, escritora, coordenadora
de metodologia, colunista e DJ. Não necessariamente nessa ordem.
Meus pais tinham livros. Muitos. Com um pai professor universitário, a Comecei a escrever sobre empoderamento e representatividade negra
maioria deles tratava de temas que eu não entendia ou gostava — admi- em 2012, mas foi em 2014, quando assisti ao documentário Libertem
nistração, economia, motivação de pessoas, algo de autoajuda. Os livros Angela Davis, de Shola Lynch, que tive a real sensação de que a chave
de minha mãe se acumulavam nos cantinhos das estantes onde coubes- tinha virado. Ao ver toda luta e engajamento de Angela, mulher e ne-
sem, amassados pelos grandes calhamaços de Micro e Macroeconomia. gra, na defesa dos direitos humanos, principalmente do povo negro,
Mas eram esses cantinhos que eu revirava aos 10 ou 11 anos de idade. em tempos de forte repressão nos Estados Unidos, passei a ver no meu
E foi neles que achei um livro sobre um senhor que levou seu filho trabalho, que era apenas intuitivo e atrelado à moda, uma necessida-
para conhecer gelo. O livro não era sobre isso. Cem anos de solidão é de cada vez mais intensa de me aprofundar na militância, entender
sobre tantas, mas tantas coisas. Mas me lembro de pensar “as pessoas melhor fenômenos políticos e sociais e, sobretudo, estudar – afinal,
podem escrever assim?”. E isso fez toda a diferença. só aprendemos nos livros de História a visão eurocêntrica dos fatos,
que reduz o negro meramente à condição de escravo, sem transmitir
Luisa Geisler é escritora e tradutora. É autora de Luzes de emer- que temos um passado e um vínculo muito forte com a nossa ances-
gência se acenderão automaticamente (Alfaguara, 2014), Quiçá (Re- tralidade, que nos foram cruelmente roubados. A partir daí, entendi
cord, 2012) e Contos de Mentira (Record, 2011). Participou de projetos que essa seria uma espécie de missão na minha vida: após três anos
e residências internacionais como a OMI International Arts Center, em São Paulo, voltei para o Rio de Janeiro, alterei minha dinâmica de
em Nova York, e a Serpentine Gallery, de Londres. Possui textos publi- trabalho formal e lancei o mequetrefismos.com, plataforma que tem
cados da Argentina ao Japão (via Atlântico) e acha essa ideia simpática. como intuito colocar o negro como o protagonista dos conteúdos, seja
escrevendo, seja como pauta. Nada disso faria tanto sentido se não ti-
vesse conhecido a luta e a trajetória de Angela Davis, esse importante
símbolo de luta pelos direitos raciais e sociais.
As coisas que
cala em Moda e Styling pela London College of Fashion, fez currículo
na escola da vida com a papisa da moda, Costanza Pascolato. Acredita
quem somos
doença, amando-o, respeitando-o e sendo fiel às suas origens.
país? Quem faz? Quem representa? Quem re-
presenta o que, quando e onde? Quem conta
a história? Quem tem direito à memória?
O QUE O SOM DE
Os profissionais do enquadramento (jor-
nalistas, publicitários e cineastas) têm nas
mãos a ferramenta mais poderosa da política,
considerando como política todas as nossas
UM CABELO PODE
relações no contexto coletivo, em sociedade, e
no nosso convívio particular. A imagem,
principalmente em produtos audiovisuais
(novela, cinema etc.), tem um papel funda-
CINEMA E
tempo em que a comunicação, a criação de
imagens no geral, pode mudar toda uma per-
cepção sobre um grupo social, pode, também,
destruir. E considerando que o cinema foi um
meio muito importante para tornar negativa
a imagem do negro, vejo como urgente a cria-
RACISMO
ção de outros imaginários sobre as pessoas
negras no Brasil.
8 Uma artista e designer de que eu gosto
muito é a Diane Lima. Ela faz a seguinte per-
gunta: criar ou ocupar novos espaços? Eu
acho essa pergunta muito boa para pensarmos
várias coisas, inclusive o cinema. O modo
como o cinema opera é elitista. Mas a gente
Texto e modelo: Yasmin Thayná foto: Alile Dara Onawale não pode deixar de notar que está rolando
uma mudança. As novas narrativas e os novos
narradores estão vindo com ou sem apoio das
Dia desses tive a oportunidade de estrear de casa. O som que vem de uma raiz que políticas públicas. E eu acho que é isso que vai
um filme em Salvador, na Bahia. Era uma sempre lutou por um país de todos, essa raiz forçar uma mudança significativa na política e
sexta-feira do mês de janeiro, verãozão da- que está sempre com força e fazendo baru- no modo como o cinema é feito no Brasil. Ge-
queles. Foi lá no Engenho Velho de Brotas, lho nesse país. Pertencimento, se ver, se ou- rar oportunidade não é colocar um branco
no Solar Boa Vista. Gente de todos os tipos vir: foi disso que essa menina negra falou. com a cara pintada de preto na novela, no pro-
e idades, predominantemente negra. O Bra- Naquele dia tive a certeza de que fazer cine- grama, no teatro. E sim convidar essas pessoas
sil que pulsa estava ali, querendo assistir ma era coisa muito séria, pois certas esco- negras para serem roteiristas, para estarem
KBELA, um filme sobre ser mulher e tor- lhas podem afetar a vida de maneira que em papéis na novela como engenheiros, exe-
nar-se negra. Eu suava frio, como acontece você não imagina. Para o bem e para o mal. cutivos, artistas. É fazer o esforço básico de
com boa parte dos artistas quando sabem Ouvir ou ver um cabelo sendo penteado construir a imagem de um Brasil do século
que a casa teve lotação máxima e que voltou no cinema não é exclusividade minha, nem vinte e um: com pessoas negras, que somam
gente pra casa. do KBELA. Mas conseguir dizer dez nomes apenas mais da metade da população, nas
Fiquei tranquila pós-filme, no bate-pa- de filmes brasileiros em que escutamos o equipes e em cargos de liderança, e não só
po, quando uma menina negra baiana pe- som de um cabelo crespo sendo penteado para servir o café e limpar a sujeira.
gou o microfone e deu um depoimento que, pode ser um desafio. E estou falando do É por isso que eu acredito: fazer filme não
em poucas palavras, dizia o seguinte: “Eu Brasil, onde a maioria é negra. É por causa tem nada a ver com tapete vermelho. Isso é
nunca achei que um dia escutaria num filme desses atravessamentos do dia a dia que me firula inventada por quem gosta de vitrine e
o som de um cabelo crespo sendo pentea- pergunto: que produção de imagem, per- perfumaria. Fazer filme é fazer política. Não é
do.” Ela nunca imaginou ouvir o mesmo tencimento e sentido, que noção de identi- close, é trabalho, é batalha, é luta. É isso que
som que escuta todos os dias antes de sair dade são essas que a gente tem criado no fazemos. Sejamos responsáveis!
A literatura Dezenas de folhetos coloridos pendurados em
de cordel
um cordão e um homem sertanejo sentado ao lado,
com seu chapéu de couro no topo da cabeça. Para muitas
pessoas, essa é a imagem evocada quando a literatura de cordel
vem à mente. Embora essa representação seja importante para com-
preender as raízes do cordel e sua identidade, trata-se de um reducionis-
mo do que é a literatura e a cultura nordestina em si – isso quando sequer há
espaço para relacionar o cordel com literatura.
Faça um experimento: entre em alguma livraria e procure por cordéis. Não
importa se a livraria é de grande porte ou um espaço dedicado a publicações alter-
nativas e independentes: quando o assunto é cordel, se muito, você poderá encontrar
uma quantidade bastante limitada de livros que falam sobre o tema ou, com muita
sorte, uma espécie de livro – na maioria das vezes infantil – que vai brincar com a
ideia de fazer cordel. Os folhetos, montados com xilogravuras nas capas, são difíceis
de encontrar até mesmo em bibliotecas.
Mas por que um tipo de literatura e expressão cultural tão tradicional fica de fora
das livrarias, bibliotecas e eventos literários? A resposta certamente não está na qua-
lidade da escrita, uma vez que o cordel está cheio das características que muita gen-
te adora exigir para classificar algo como boa literatura: métrica impecável, rimas
10 ricas, ritmo, melodia, forte marcação identitária, histórias diversas que mesclam
humor, folclore, romance e política. No entanto, se a qualidade literária não explica
o status de esquecimento que lhe é imposto, o que mais explicaria?
É possível lançar uma série de teorias e respostas, a começar do preconceito contra
o Nordeste, já que o mercado literário e a mídia estão profundamente centralizados
no sul e no sudeste do Brasil. Porém, apesar de essa ser uma opção bastante eloquente,
não dá para descartar a hipótese da ignorância como um dos fatores decisivos nesse
quadro gradativo de esquecimento da literatura de cordel. Afinal, como as pessoas
podem consumir – e escrever – algo que não conhecem?
A situação é uma espécie de bola de neve às avessas. Pouca gente tem contato com
o cordel, porque é uma literatura que ainda vive presa num imaginário popular de
exclusão; as novas gerações não se interessam, porque o cordel não está na mídia
como tradição
e não é a sensação popular do momento; e assim, os responsáveis pelas editoras,
livrarias e eventos literários acabam por não incluir o cordel e os cordelistas
em seus espaços. No fim das contas, todo mundo perde.
Mas e se você conhecesse o cordel de forma mais aprofundada?
transformadora
Se pudesse enxergar seu potencial transformador na sociedade?
E se tivesse a oportunidade de escrever o seu próprio
cordel, algo mudaria?
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Com a literatura de cordel como aliada, o clichê de “mudar o mundo” não soa
tão inalcançável. Os folhetos de cordel são baratos, acessíveis e extremamente Esse tipo de cordel com proposta social é chamado de Cordel Engajado
fáceis de transportar e de compartilhar com outras pessoas. Melhor ainda: são e pode trazer política, defesa de causas e críticas sociais para a literatura
ideais para utilização em sala de aula. Entre rimas, estrofes e melodias, muitos de uma maneira profundamente envolvente. Afinal, a literatura de cordel
assuntos pertinentes podem ser tratados e debatidos. é excelente para entreter e divertir, mas é melhor ainda quando consegue
Nos últimos quatro anos, desde que comecei a publicar os meus cor- contribuir para a transformação da sociedade em uma realidade onde exista
déis, recebi centenas de mensagens com depoimentos de educadores que mais equidade e respeito pela diversidade.
compram meus folhetos e utilizam minhas rimas para falar sobre questões Esse respeito, aliás, pode começar pela própria valorização do cordel,
raciais, de gênero, de diversidade sexual e história. Com a série Heroínas algo que só deve acontecer quando todos os empecilhos preconceituosos
Negras na História do Brasil, séculos de esquecimento começam a ser rom- forem tirados do caminho. Ainda há muito a se caminhar, sobretudo com
pidos e muita gente escuta falar, pela primeira vez, sobre as mulheres negras o alarme do tempo piscando e gritando que um dia, infelizmente, o cordel
que foram líderes quilombolas e guerreiras na luta contra a escravidão. pode virar artigo de museu. Se não for lembrado, escrito e divulgado, o cor-
Pelo cordel, nomes como Tereza de Benguela, Dandara dos Palmares, del pode acabar, o que seria, no mínimo, um enorme desperdício.
Zacimba Gaba e Mariana Crioula protagonizam discussões acaloradas sobre Mas como tudo fica mais convincente e acessível quando dito em ritmo
racismo e machismo; até mesmo uma aula de português pode ser a oportu- de cordel, prefiro concluir a defesa da causa em versos de septilha.
nidade perfeita para colocar essas questões em pauta.
O cordel fica excluído
Eu nasci foi no sertão
Muito pouco que é lembrado
Cariri do Ceará
Em evento literário
Terra feito a aguardente
Nem sequer é mencionado
Quente toda de torrar O meu povo nordestino Mas é grande ignorância
Porque acham que cordel
E foi lá que aprendi Cheio dessa inteligência A raiz pra se arrancar
É só resto de papel
O que venho dividir Fez brotar a tradição Porque se você conhece
Pra largar e ser rasgado.
Pra você poder pensar. Com imensa competência Vai bem fácil concordar
Mas a mim muito incomoda
Do cordel para escrever Que cordel é realeza Pra criar um bom cordel
Um danado dum problema
E pra todo mundo ler Literária de riqueza É preciso habilidade
Que plantado em preconceito
Na mais pura excelência. Sempre pronta a declamar. E pra ter eficiência
Se transforma num dilema
É preciso de verdade
Pois o tal esquecimento
Respeitar a tradição
Sem nenhum embasamento
Escrever com emoção
Só impõe o seu esquema.
E honrar a identidade.
ler – e escrever:
no jogo de palavras. É o que dá iden-
tidade ao cordel e o torna mais inte-
ressante. Mas isso não quer dizer que
a escrita não exija certo tempo de fa-
miliarização: a poesia do cordel não é
A literatura de cordel pode ser escrita por qualquer pessoa, em diferentes tipos de es- aleatória, é carregada de identidade e
trofes e rimas. A mais comum se chama sextilha e é ideal para compor suas primeiras de melodia. O cordel tem seu próprio
histórias. Abaixo, o exemplo de uma estrofe do meu cordel Travesti não é bagunça: jeito de ser declamado e é exatamen-
te isso que o torna tão único e lúdico.
É por isso que o cordel é tão eficien-
Isso tudo é lamentável te quando utilizado para transmitir
É tão triste e revoltante mensagens importantes e necessárias,
Travesti também é gente como temáticas políticas e sociais.
Ser humano e importante
Quem não pensa desse jeito
É que é intolerante.
Na sextilha simples, as rimas ficam no final dos versos 2, 4 e 6. O restante pode ser
escrito como se desejar, desde que a métrica esteja bem encaixada. Uma forma de fa-
cilitar esse ponto importante é transformar seus versos em um “forró”, em que cada Transforme ideias
em livros
frase deve demorar o mesmo tempo para ser cantada; ou ainda recorrer a quatro bati-
das na mesa ou na perna para contar o tempo. Se o verso puder ser declamado dentro
do período dessas quatro batidas sem ser apressado e sem modificar a pronúncia das
palavras, é bem provável que você tenha respeitado a métrica corretamente.
Veja um exemplo retirado do meu cordel Photoshop é a mulesta:
“Escrever é o
verdadeiro prazer.”
Virginia Woolf
Photoshop nesses casos
Serve só para enganar
Muda o corpo por completo
Que é prassim ludibriar
A mulher comum que vê
Tal mentira a desejar.
Em tempos de Tinder, nudes e sexo virtual, dizer que poesia erótica brasileira, que organizou e lançou em
literatura erótica é tabu parece um disparate. Mas 2015 pela Ateliê Editorial.
nem tanto. Se imagens ou palavras de sexo explícito Fruto de uma pesquisa de mais de dez anos, o
viajam telas afora sem pudor, o mesmo nem sempre livro reúne cerca de 350 poemas de autores do Bra-
acontece com conversas ou textos eróticos. É que sil Colônia aos atuais, dos consagrados Gregório de
erotismo não é sexo em si, mas desejo sexual trans- Matos, Carlos Drummond de Andrade – que dei-
figurado pela imaginação e inserido na cultura. O xou, propositalmente, sua produção erótica a ser
fato de clássicos centenários de autores como Oscar publicada depois de sua morte –, Hilda Hilst, Ana
Wilde e Marquês de Sade terem sido publicados no Cristina Cesar e Arnaldo Antunes a escritores me-
Brasil somente a partir da última década mostra nos conhecidos, como Francisco Moniz Barreto e
como as editoras ainda evitam obras eróticas. Moysés Seysom, além, é claro, de textos anônimos,
No entanto, a resistência do mercado, da crítica muito comuns no gênero.
e do público, da moral e dos bons costumes frente Apesar da predominância masculina na literatura
ao erotismo é contraditória à essência da literatura. erótica e no meio literário internacional até hoje, o
“Não há erotismo sem fantasia, assim como não há erotismo vem sendo tomado como instrumento de
literatura sem ficção. O princípio ativo da vida eró- libertação pelas mulheres há muito tempo. Em 1928,
tica coincide, portanto, com o da criação literária, Gilka Machado lançou Meu glorioso pecado, o pri-
uma vez que ambos se movem ao sabor de desejos meiro livro de poemas eróticos publicado por uma
que jamais se esgotam em si mesmos e sempre en- mulher no Brasil. Por falar sobre desejo sexual femi-
sejam um mais-além no horizonte”, diz a professora nino e denunciar as desigualdades sociais enfrentadas
Eliane Robert Moraes na abertura da Antologia da pelas mulheres, a obra foi considerada extremamente
ousada e as críticas moralistas que recebeu afetaram até a vida pessoal da autora. Talvez isso explique
porque uma das maiores poetas de sua época acabou sendo pouco conhecida pelas gerações futuras.
Nas décadas de 1970 e 1980, a propagação das ideias da Segunda Onda Feminista no país, que
propunha o direito à libertação do corpo e ao prazer, coincidiu com o surgimento de autoras que se
impõem como mulheres na escrita, inclusive em produções eróticas, como Clarice Lispector, Hilda
Hilst, Adélia Prado e Ana Cristina Cesar. Foi nesse contexto, em 1984, que outra mulher organizou a
1º Antologia Brasileira de Poemas Eróticos. Também poeta e contista, a paraense Olga Savary reuniu
textos de 30 autoras e 47 autores, entre consagrados e desconhecidos.
Se hoje assistimos à ascensão de vozes femininas nos blogs e nas praças, é porque somos descen-
dentes de mulheres que lutaram por sua liberdade até nas prateleiras. Por isso, é preciso seguir rei-
vindicando que as próximas antologias eróticas sejam mais igualitárias. E é importante reforçar que
o erotismo jamais será estranho à literatura. Como disse o poeta mexicano Octavio Paz, “a relação
entre erotismo e poesia é tal que se pode dizer, sem afetação, que o primeiro é uma poesia corporal e
a segunda uma erótica verbal”.
Galeria
arte design
Bistrô
lounge Ateliê
3178 6601 contato@olhodarua.com.br
Rua Bambina, 06 | Botafogo | Rio de Janeiro
sonoridades 23
O dialeto de
Mahmundi
texto: Monica Ramalho fotos: Daryan Dornelles
Mah veio de Marcela Vale. Mundi, do latim, significa o mundo que a artista carioca de 30 anos
recém-completados, radicada em São Paulo há sete meses, está conquistando gradualmente a
bordo de sua música, uma mistura bem equilibrada de toques eletrônicos, levada indie e um tal
de lo-fi. Do inglês low-fidelity, a expressão quer dizer que o registro está em baixa fidelidade,
originando ruídos e distorções que incrementam a música depois de serem cuidadosamente bu-
rilados nos notebooks pela garotada.
Marcela atrai os ouvidos de quem curte a sonoridade dos anos 1980, aquela cena dançante que
já flertava com o eletrônico, da qual Rita Lee, Marina Lima e Lulu Santos são alguns embaixado-
res. O nome Mahmundi também vem de um login que a jovem cantora, compositora e multi-ins-
trumentista criou para a plataforma MySpace, em 2004. “Achava que as pessoas não entenderiam,
mas hoje tenho muita tranquilidade com esse nome que inventei sem grandes pretensões”, diz.
Nascida em Marechal Hermes, subúrbio carioca, a menina quieta cresceu sintonizando no
dial as suas preferências. “E eu tocava na igreja a semana inteira. Foi onde aprendi o bê-a-bá
musical, ao lado de amigos de infância”, recorda. Frequentou os cultos que ensinavam a palavra
de Deus dos 9 aos 18 anos. “Saí porque queria conviver de outra forma com o mundo. Essa coisa
da fé me deu uma consciência valiosa de quem eu sou, mas precisava de uma vivência maior para
seguir”, pondera. Nessa fase, as dúvidas costumam ser muitas.
“Talvez, em algum momento, eu não tivesse a certeza do caminho, mas sempre soube que
seria música”, avalia. Bateria foi seu primeiro instrumento e, até hoje, ela se vê pensando no me-
lhor uso dos pratos, da caixa, em como inseri-los na canção, de que jeito criar uma textura mais
impactante. A cabeça é da produtora que Marcela poderia ter sido, caso os ventos soprassem em
outra direção. “Gostaria de pintar, de dançar e, certamente, de escrever. Acho que também seria
produtora, algo muito próximo do fazer música.”
Entre 2007 e 2013, atuou como técnica de áudio do Circo Voador, respeitável casa de espetá-
culos do Rio de Janeiro. “Encontrei muita gente que colaborou demais com o meu aprendizado
e foi nesse tempo que descobri o meu som”, rebobina. Mahmundi compunha, gravava em casa e
lançava os primeiros singles nos intervalos do expediente formal. O primeiro EP, Efeito das Cores,
chegou despertando a curiosidade de meia dúzia de jornalistas, em março de 2012. Foi gravado
no tumulto do Carnaval daquele ano e rendeu mais do que ela esperava.
“Optei por fazer arte e, assim como faço
da música um lugar de contemplação,
quero levar o meu público para esse lugar.
A minha bandeira é o descanso.”
O EP traz o sucesso Calor do amor, que ga- “Mudei para ampliar a carreira. Queria chegar aos
nhou videoclipe dirigido por Yugo, com fotogra- 30 anos em outro lugar, literalmente. Aqui acor-
fia de Eduardo Magalhães, ambos ainda na equi- do com entrevistas para dar e bastante trabalho. É
pe da cantora. O meio da moda recebeu muito muito concreto”, diz, mais no sentido da realização
bem as cinco faixas do EP e choveram convites do que do cinza que dá o tom da capital paulistana.
para tocar em diversos eventos do segmento. No “Procurei um lugar parecido com o Jardim Botâni-
mesmo ano, Mahmundi entrou no Circo Voador co e vivo aqui cercada pelas minhas plantas e pelos
e foi levada direto ao camarim. Não como a fun- meus livros, boa parte de poesia”, revela Marcela.
cionária que ainda era, mas como uma das atra- E a poesia transborda nas dez faixas do novíssi-
ções de um festival. Simples como ela só, diz que mo Mahmundi, a conjunção dos dois EPs iniciais
nada foi melhor do que compartilhar umas cerve- da artista. A primeira bolacha cheia foi batizada
jas com a galera na madrugada, pós-show. Aquela com o seu nome, a exemplo de tantos outros álbuns
celebração da vida foi muito mais importante do de estreia que cumprem a missão de apresentar uma
que qualquer mudança de status quo. nova voz ao público. Metade do disco é de regrava-
Entre a estreia e o segundo EP, Setembro, lança- ções: Calor do amor, Desaguar e Quase sempre vie-
do em maio de 2013, mais uma enxurrada de no- ram do EP Efeito das Cores. Leve, do EP Setembro,
vidades. “Foi um período de transição. Setembro é e o single Sentimento lhe rendeu a estatueta de
o registro sonoro do Rio no inverno. Um inverno Nova Canção no Prêmio Multishow de Música
que foi além da sensação térmica: um amigo meu Brasileira de 2014.
tinha acabado de falecer e as músicas imprimem Em termos práticos, o convite do produtor
minha reflexão sobre aquela fase.” Em seis faixas, Carlos Eduardo Miranda para fazer o disco pelo
ela derrama um pouco do seu pranto e congela a selo StereoMono/Skol Music veio a reboque do
sua dor. Na capa, uma baita fotografia do Morro prêmio que ela já havia conquistado no ano an-
Dois Irmãos com céu nublado e gente se exercitan- terior, na categoria Novo Hit pelo supracitado
do no calçadão de Ipanema. Calor do amor. Na outra metade do álbum, mais
Admiradora de Waly Salomão, Ferreira Gullar, cinco inéditas, entre elas Azul, Eterno verão e
Ayrton Senna, Phil Collins, Rihanna, Sophie Calle, Wild, títulos que compõem o dialeto mahmun-
Ryuichi Sakamoto, Marcos Valle, João Donato, diano, feito com vasta paleta de cores, estações
Lincoln Olivetti e Rita Lee, com quem já foi do ano e condições climáticas.
comparada, a jovem Marcela converte em músi- Abraçada a guitarras, sintetizadores, teclados,
ca o que vive em relacionamentos de toda or- baterias e percussões, a cantora reforça bonito o
dem e situa seus experimentos sonoros num power trio que é a base da sua obra e ganha forma
lugar quase inexistente nesse tempo globaliza- com Lux Ferreira e Felipe Vellozo, que se distri-
do, com mensagens e notícias em tempo real: o buem entre programações, drum machines, bai-
do sossego. “Optei por fazer arte e, assim como xos, teclados, moogs e efeitos. Os estelares Silva
faço da música um lugar de contemplação, que- e Kassin fazem participações especiais no lança-
ro levar o meu público para esse lugar. A minha mento, que compila o que Mahmundi produziu de
bandeira é o descanso.” melhor até agora. “O importante a dizer sobre a
Descanso que bate de frente com o estilo de minha música é que quero que ela seja a trilha so-
vida que o presente impõe. A moça trocou o Rio, nora da vida das pessoas.” Devagar se vai ao longe.
onde morava com a mãe e a irmã, por São Paulo. Devagar ela chega lá.
seus dilemas, de se colocar no lugar de outrem e viver Longe de situá-la em um pedestal, lugar idealizado
as emoções que perpassam os encontros e desencon- de cura (mais próprio dos fármacos), creio na literatura
tros, instigam o imaginário a trabalhar numa dimen- tanto como consolo para a dor de existir, bem como es-
são própria, pessoal, num tempo também próprio, timulante por seu potencial imaginativo. Saber que não
diferente do cronômetro mundano. Ali cabem o vazio, sofremos sozinhos, ou que outros chegaram a realizar
a espera, a elaboração. Tudo isso se empresta às nossas seus destinos, nos irmana em nossa frágil condição.
A literatura
próprias vidas! Outros veículos do campo da cultura A produção de sentido à qual estou me referindo se
podem proporcionar caminhos semelhantes, como o revela ainda numa certa estética própria, de quem ousa
cinema, os esportes, a música, o teatro, enfim; mas o enfrentar o dia com literatura. Em meio à multidão de
livro que enreda o sujeito em sua trama se torna um celulares, do ônibus ou do metrô, talvez no horário do
companheiro de jornada, mais do que a sessão do fil- almoço, lá está o sujeito genuinamente concentrado,
como fonte de
me em cartaz ou do êxtase momentâneo de sua can- que assume feições de emoção em meio à história com
ção predileta em um show, por exemplo. a qual se envolve, imaginando seu desenlace. A trama
Ao instigar o psiquismo a trabalhar no campo da literária provoca um estranhamento no cotidiano,
sentido
fantasia, a literatura aponta, ainda, para a criatividade como uma brecha, um rasgo ao qual o sujeito pode re-
a partir da sensibilização – que exige sentimento e re- correr para perguntar os quês e por quês do que está se
26 flexão, formulação de hipóteses. Ser criativo não im- passando lá fora. Ou lá dentro, de si.
plica para nós, pessoas comuns, realizar uma obra É curioso e ao mesmo tempo trágico como no Brasil,
grandiosa e genial. Mas, ao contrário, a possibilidade muitas vezes, aqueles que têm o hábito de perambu-
para viver
de reinventar a vida em seus pormenores. Talvez isso, lar por aí com um livro desinteressado na bolsa (para
nos dias atuais, signifique reaver o próprio tempo, o qualquer emergência existencial), ainda sejam vistos
tempo que nos resta. com desconfiança, como intelectuais disfarçados.
É justamente no espaço-tempo entre uma ação e Devem estar escondendo alguma coisa.
seu desenrolar que, consciente ou inconscientemente, O psicanalista inglês Donald Woods Winnicott cos-
percebemos suas consequências e lhes atribuímos um tumava dizer que a criatividade é uma conquista pes-
significado – aquilo que estou chamando de sentido, soal, que “faz com que a vida valha a pena ser vivida”.
sem o qual se pode perder o propósito de viver, fazer Uma vida criativa é plena de sentido, construído pelo
texto: Rodrigo Tupinambá Carvão adoecer. Se adotamos, pelos motivos que sejam, a saí- próprio sujeito. A literatura faz parte do arsenal de que
da pragmática pura, pouco resta da elaboração do devemos dispor para que, ao contrário de sermos sub-
sentido. Para a dor, a pílula; para o amor, a internet; missos à realidade cronometrada ou de nos perdermos
A experiência subjetiva do tempo no século vivido (o sentir/pensar sobre si e sobre o
para o vazio, qualquer coisa, dos vícios múltiplos à na insanidade virtual, consigamos manejar a dureza dos
XXI tem sido marcada pela sensação de uma sentido de suas ações) pode muitas vezes fi-
violência nonsense. dias de maneira mais criativa, pessoal e intransferível.
aceleração sem precedentes nos afazeres co- car escasso. Ainda que sejam construções
tidianos. A revolução provocada pela inter- fabulosas sob diversos prismas, as redes
net em nossas vidas ainda está, suponho, em sociais e a internet por muitas vezes se
seu estágio inicial e, no entanto, incide já de prestam mais ao acúmulo de informações
maneira decisiva na relação da psique huma- instantâneas e a expressões pessoais rasas
na com o entorno, com o seu ambiente. Esta do que às reflexões que, efetivamente, con-
aceleração parece ter uma íntima relação tribuem para enriquecer a vida de alguém.
com a necessidade de sermos cada vez mais Chego então ao ponto central deste tex-
eficientes e produtivos (inclusive nas áreas to: a literatura pode ser, mais do que usada,
da vida que não são dedicadas ao trabalho “vivida” como uma fonte, potente e inesgo- livro novo
especificamente), o que implicaria uma dis-
cussão mais ampla sobre quais fatores estão
tável, uma importante aliada na produção
de sentido na vida do sujeito. Mesmo, e tal-
da zahar
por trás disso. Mas isto é outro papo. vez principalmente, em meio às incessantes
Diante deste quadro, creio compartilhado
pela maioria de nós, a postura pragmática –
demandas virtuais.
Aqueles que puderam experimentar o Voltar na
em seu sentido mecânico – ante a vida cos- fascínio que uma boa história pode oferecer
a Blooks!
passar ns
tuma ser a saída para darmos conta de tan- sabem a que estou me referindo. A capaci-
tas tarefas em nosso cronômetro semanal. dade de se identificar com os personagens e
O espaço-tempo destinado à elaboração do seus dramas, de imaginar soluções para
Blook
Música
atual para
crianças Letícia Novaes
Olhares Música
Tenho três sobrinhos. Como sou a tia cantora, me, para Bob Marley? Poderia. Ousei. Abri o
faço uns testes musicais com eles. O mais velho Spotify e comecei a colocar músicas de bandas
mora em Londres, tem 7 anos, e gosta de Sade, atuais. Teve Mohandas, teve Biltre, teve Sécu-
para meu orgulho. Outro dia, via Skype, apre- los Apaixonados, teve Ava Rocha, teve Aba-
sentei Bob Marley e sua reação foi boa: dançou yomy, teve minha banda – Letuce – também, e
de um jeito maluco e lembrei da primeira vez nessa hora Pedro me apontou o dedo e disse:
em que ouvi Bob Marley, ou da primeira vez em “Você!”. Tão curioso observar crianças saindo
que me bateu forte. Tinha 13 anos, dormia com da zona de conforto das músicas infantis e ou-
o rádio ao lado da cama, e em muitas noites o vindo o que está sendo feito agora. Dançavam,
aparelho caía no chão, me causando um susto riam e eram livres de julgamento. Desejei re-
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FaroFaroEditorial
Editorial tremendo. Eu ia dormir ouvindo Chopin na rá- cuperar essa sensação.
dio MEC e acordava num bombardeio. Numa Neste exato momento em que digito, um ra-
noite, com a fita preparada no ponto para gravar paz no interior do Rio Grande do Norte acaba de
(nunca se sabia quando iria tocar algo que você adquirir uma placa de som e vai começar a brin-
queria ouvir de novo), comecei a ouvir algo di- car de gravar suas ideias mirabolantes. Vai apren- 29
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MANUAL DO ferente do que estava acostumada. REC rápido. der, na marra ou com tutoriais no YouTube,
PIRATA “Is this love, is this love, is this love that I´m fee-
ling... ”. Voltava a fita e dava play inúmeras ve-
como mixar uma faixa. Me espanto e me animo.
Há quem diga que falta conhecimento musical
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23,5 x 27,6 cm zes. Grande epifania. Foi tão simples apertar teórico. Concordo em partes. Muitas vezes te-
20 páginas play num link cheio de clássicos do reggae e di- mos uma ideia e nos encantamos tanto que nela
zer “Rapha, this is Bob Marley, what do you embarcamos e criamos uma música. Postamos,
think?”. Trajetórias. compartilhamos e nos esquecemos de apenas
Os outros dois sobrinhos são irmãos e mo- um detalhe: a pesquisa. Já fizeram algo parecido.
ram mais perto, felizmente. Pedro, com 5 anos, Acredito em zeitgeist, mas confio também em
já sabe reconhecer minha voz. Mais novinho, pesquisa. Teve uma ideia? Esqueça. Tenha ou-
ouvia qualquer cantora no rádio, de Gal Cos- tra. E outra. E outra. Na sua quinta ideia, você
ta até Ana Carolina, e dizia “Tia, tia!”. Agora talvez atinja um cerne especial. Um acorde à es-
A HISTÓRIA
A HISTÓRIA
NÃO CONTADA
NÃO CONTADA já sabe diferenciar, para minha alegria, e às pera de uma melodia. Fazer música hoje em dia
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360cmpáginas
| 360 páginas do poder devastador da música. Poderia ter sadia máxima, é acreditar no poder de equilí-
16 páginas
ligado a televisão com a Galinha Pintadinha? brio espontâneo e poético da atual geração. Bo-
Poderia. Poderia também apelar, one-more-ti- tar fé, como dizem.
Cineasta, Kleber Mendonça Filho migrou do vídeo para o digital nos anos 1990, no qual
experimentou ficção, documentário e videoclipes, e para o 35mm na década de 2000,
quando realizou A Menina do Algodão (codirigido por Daniel Bandeira - 2003), Vinil
Verde (2004), Eletrodoméstica (2005), Noite de Sexta, Manhã de Sábado (2006), Crítico (sua
primeira experiência em longa - 2008) e Recife Frio (2009). Seus filmes receberam mais de
120 prêmios no Brasil e no exterior, com seleções em festivais como Brasília, Tiradentes,
Festival do Rio, Gramado, Karlovy-Vary, Clermont-Ferrand, Hamburgo, BAFICI, Indie
Lisboa e Cannes (Quinzena dos Realizadores). O Som ao Redor é seu primeiro longa-me-
tragem de ficção. Estreou no Festival de Rotterdam em fevereiro de 2012, foi selecionado
em mais de 100 festivais e ganhou 32 prêmios. Foi escolhido pelo New York Times como
um dos 10 melhores filmes de 2012. Foi também o representante do Brasil no Oscar 2014,
na categoria de melhor filme estrangeiro. Seu segundo longa de ficção, Aquarius, estrelado
por Sonia Braga, estreou na competição principal do Festival de Cannes em maio de 2016.
Você passou anos filmando curtas-me- pensando “Ah, nessa cena aqui vou fazer
tragens e agora chega ao segundo longa uma homenagem a Eletrodoméstica!”, não
de ficção. Boa parte dos curtas foi referen- funciona assim. É mais fácil para quem
ciada em O Som ao Redor. Essas citações observar os filmes em conjunto depois de
também estão presentes em Aquarius? alguns anos notar algumas similaridades.
No caso de Aquarius, não saberia dizer ao
Eu não referenciei os curtas de forma cal- certo. Isso fica para o público. Alguém em
culada. Vejo isso como um grupo de ideias algum momento pode apontar uma coisa
que venho desenvolvendo desde quando ou outra, mas eu vejo isso como se fosse a
comecei a filmar, na década passada. São assinatura de alguém. O que importa para
coisas que gosto e que, quando chegou a mim é que o trabalho saia de maneira mui-
hora de fazer O Som ao Redor, decidi re- to pessoal e autoral, e dentro de uma série
visitar. Mas eu nunca escrevo uma cena de coisas que me interessam.
Foto:
Foto: CinemaScópio
CinemaScópio
“Não acho que o cinema possa
mudar o mundo, mas ele é capaz
de dar uma chacoalhada. E, quando
isso acontece, é muito bonito.”
Aquarius (2016)
Foto: Victor Jucá
Em Aquarius , todo o processo de filmagem, Lançar o filme em parceria com uma produtora
pós-produção e lançamento durou menos de francesa e com apoio da Globo Filmes gerou
um ano. Pensando no longo período de mon- algum tipo de pressão maior?
tagem de O Som ao Redor , Aquarius foi um fil- Admito que foi a primeira vez que eu tive que, mesmo
me mais fácil de fazer? que do ponto de vista filosófico, “dar satisfações” a ou-
Aquarius foi meu maior filme e também o mais tras pessoas que não são do meu círculo íntimo. Meus
rápido. Foi um tipo de recorde pessoal, porque filmes sempre foram praticamente feitos em casa, ou
durante os curtas passei muito tempo fazendo. seja, com pessoas muito próximas e que estavam sem-
Não por eles serem necessariamente complica- pre acompanhando o projeto. A partir do momento em
dos, mas porque sempre estava envolvido em ou- que você envia um roteiro que acabou de escrever a um
tras atividades simultaneamente. O processo de coprodutor francês, no caso o Said Ben Said, da SBS,
Aquarius foi diferente. Há um ano, conheci Sonia gera aquela preocupação de aceitação. Trabalhamos
Braga, ela veio ao Recife, fizemos o filme e come- também com a Globo Filmes, o que foi, na verdade, até
cei a montá-lo imediatamente. Foi um caso muito mais tranquilo, porque eles já queriam apoiar a produ-
feliz de entusiasmo aplicado. A montagem com o ção muito com base no resultado de O Som ao Redor,
Eduardo Serrano durou seis meses e três sema- que também foi vendido para a Globo. Todos foram
nas, um processo muito intenso e firme. Quanto parceiros muito tranquilos, respeitosos e interessados,
mais eu montava o filme, mais gostava dele e me desde o roteiro até a filmagem e a finalização. Realizar
entusiasmava. Espero que o próximo também en- uma coprodução é uma primeira experiência que faz
tre nesse processo. É intenso, mas gera um resul- parte da vida de qualquer cineasta. O Som ao Redor (2013)
tado muito bom. Foto: Victor Jucá
Coincidentemente ou não, a trama do filme pode
Aquarius chegou a ser definido como um fil- ser vista como uma metáfora da situação política
me musical por publicações internacionais, e atual, o que se propagou ainda mais pela reper-
a personagem Clara ostenta uma vasta cole- cussão do protesto em Cannes. Como você enxer-
ção de CDs e vinis. Qual é a importância da ga a relação do cinema como impulsionador de UM ÍCONE DA
música na trama? discussões políticas?
UM ÍCONE DA
A música em Aquarius não serve só como trilha, Quando você trabalha com cinema, você meio que EDIÇÃO EUROPEIA,
ela tem uma importância enorme. Cada canção é sintoniza algumas frequências, e se faz um trabalho EDIÇÃO EUROPEIA,
um personagem no filme. Tenho 47 anos e ouço que é bem honesto e real, há uma possibilidade de sair AGORA NO BRASIL
música seriamente há pelo menos trinta. A música
fica a mesma, mas você vai envelhecendo, mudan-
com um retrato bem realista do mundo, da sociedade,
do país onde você vive... Penso que todas essas coinci-
AGORA NO BRASIL
Planeta lança, na Flip,
a Planeta lança, na Flip,
do, e ela muda pra você também. Esta é uma das dências relacionadas à trama do filme e ao momento
ideias que estão no filme. A música é um marca- político do Brasil não são coincidências. Para mim, Tusquets, um dos principais
dor de tempo, é a trilha da vida de alguém, não se o cinema é muito forte e tem uma capacidade muito a Tusquets,
selos literáriosum
dados principais
Espanha
perde no tempo, assim como livros e filmes. Você grande de projeção. Não acho que o cinema possa mu-
pode ouvir Queen muito jovem, continuar ouvindo dar o mundo, mas ele é capaz de dar uma chacoalhada. selos literários da Espanha
mais velho e sentir de uma forma diferente. E, quando isso acontece, é muito bonito.
J.P. Cuenca Arthur Japin
Descobri que estava morto
J.P. Cuenca O Arthur
homem Japin
com asas
Descobri que estava morto O homem com asas
Deve-se notar que o K-Pop absorveu diferentes tipos de último item é importante para a imagem do artista
influências para resultar em um estilo distinto, que trans- em potencial, já que a cultura dos idols tem toda uma
O cende a experiência da audiência de ouvir uma música. normatividade sobre como agir em público. Ser um
boom
O mercado do K-Pop é, hoje em dia, um dos mais ricos idol, ou seja, ser um artista de K-Pop, vai além dos
do mundo, tanto em ganhos monetários, quanto em di- rostinhos bonitos e das coreografias bem elaboradas.
do
versidade cultural. Ele reúne gêneros como hip-hop, Os idols exercem tamanha influência nos fãs que
trap, rock, entre tantos outros, em misturas e conceitos chegam à beira de causar acidentes diplomáticos se
que são lançados constantemente pelos artistas para o uma palavra é colocada fora de contexto. Esse foi o
público. Ou seja: nenhum artista de K-Pop é preso a um caso da cantora Tzuyu, integrante do grupo femini-
estilo musical em particular, mas se foca no lançamento no Twice, que se viu no centro de uma controvérsia
de um álbum (ou single) de cada vez, com seu respectivo com a República Popular da China, em janeiro desse
conceito de música e visual (roupas, maquiagem), e repe- ano, ao se declarar taiwanesa, e não chinesa. Para a
te esse processo em uma proposta completamente nova a parcela ocidental do público, a declaração não pare-
cada lançamento, após um breve hiato para produção ce grande coisa, mas os asiáticos levam bem a sério
desses novos trabalhos. Nomes como Big Bang, 2NE1, suas brigas territoriais e o sentimento de patriotis-
Girl’s Generation e EXO, entre muitos outros, são verda- mo, especialmente na questão da autonomia de Tai-
deiros camaleões no que diz respeito a surpreender e se wan em relação à China.
reinventar a cada álbum. Já no Brasil, o nicho do K-Pop é menor, mas perce-
Apesar de todo esse processo de constante reno- be-se um crescimento constante. A internet permanece
vação parecer complicado, os artistas sul-coreanos como maior ferramenta da fomentação do cenário de
são treinados para se dedicarem 100% ao trabalho. K-Pop no Brasil, com o trabalho de portais como Saran-
texto: Os aspirantes a artistas precisam passar por audições gInGayo, KoreaIn Magazine e Korea Post, que cuidam
Érica antes de se tornarem trainees em agências que geren- de estender o interesse dos brasileiros sobre o entreteni-
Imenes
ciam suas carreiras e são responsáveis por criar novos mento da Coreia do Sul, com conteúdo em português.
grupos e artistas de sucesso. É comum que esses trai- Em 2015, os meninos do Bangtan Boys fizeram
Muito além do
nees troquem de agências durante essa parte do pro- um show para 6 mil fãs, que lotou o Espaço das Amé-
cesso, já que elas fazem avaliações mensais baseadas ricas, em São Paulo, e marcou o evento como o 1º de
em suas evoluções e cortam vínculos com aqueles que K-Pop bem-sucedido no país. Depois disso, grupos
34 apontamentos
Gangnam style não atingem suas expectativas. O investimento das
agências é revertido em aulas diárias de canto, dança,
como Lunafly, Ailee, NU’EST e SHINee também pi-
saram em solo brasileiro nos últimos dois anos, o que
atuação, línguas estrangeiras (já visando as atividades só faz aumentar o interesse local nessa cultura vinda
do grupo em terras internacionais) e conduta. Este do outro lado do mundo.
Na última década, a Coreia do Sul deixou de reanas) para a China, há duas décadas.
ser apenas uma pequena península na Ásia, Com isso, a Coreia do Sul mostrou-se como
conhecida pelas incríveis inovações tecno- um novo polo de produção de cultura pop,
lógicas de multinacionais como Samsung e exportando seus produtos culturais tam-
Hyundai, e viu sua indústria de entreteni- bém para outros países vizinhos. No come-
mento ganhar espaço cativo como uma das ço, o foco da Onda Hallyu estava nas nove-
Comemore os 100 anos
responsáveis por incrementar a renda do país
e ajudá-lo a manter seu status como um dos
las e, em seguida, foi para a música (o
chamado K-Pop), mas, com o passar dos
de Roald Dahl com a
“tigres” do continente. A Onda Hallyu – ou tempos, ampliou-se para tudo relacionado edição especial de
Hallyu Wave, em inglês – é o termo que se à cultura coreana: filmes e arte em geral,
refere à cultura pop coreana, que se espalhou
pela Ásia no final dos anos 1990. Os sul-corea-
gastronomia, esportes e cosméticos. Em
2012, as massas mundiais foram surpreen-
O BOm GiGante amiGO,
nos preferiram que o termo usado para tratar didas pelo sucesso do cantor e rapper PSY, o livro que inspirou
dos aspectos modernos da sua cultura fizesse com a viralização de seu Gangnam Style. A
alusão a algo que representasse toda a sua ri- internet, aliás, é a maior aliada da propaga- o filme da Disney dirigido
queza, logo, escolheram uma “onda”, que pode ção dessa onda pelo mundo.
fluir para qualquer lugar do mundo e literal- Mas a popularidade do K-Pop não descre- por Steven Spielberg.
mente inundar as pessoas com seu conteúdo. ve, simplesmente, o fenômeno de certo pro-
Conheça também os seis títulos de Roald Dahl lançados pela Editora 34,
A explosão da Onda Hallyu começou duto cultural sendo consumido em escala glo- todos eles ilustrados pelo genial Quentin Blake, incluindo o último livro
com a exportação de dramas (as novelas co- bal – e nem se limita ao caso isolado de PSY. do autor, inédito no Brasil, o hilário O vigário de Mastigassílabas.
www.editora34.com.br
A transgressão
dos poetas e
das crianças
36
Iris Helena é uma artista que em curto pe- para realizar mestrado em Poéticas Contempo-
ríodo de tempo vem traçando uma trajetória râneas na Universidade Nacional de Brasília.
de destaque no cenário artístico nacional. Esta mudança de cidade propiciou a realização
No mesmo ano em que se graduou em Artes de residência artística no Núcleo de Arte do
Visuais na Universidade Federal da Paraí- Centro-Oeste. Hoje, aos 29 anos, Iris Helena já
ba, recebeu menções honrosas no 61º Salão realizou mais de 40 exposições, individuais e
de Abril e no 2º Prêmio Energias nas Artes, coletivas, e é representada pela carioca Portas
da EDP em parceria com o Instituto Tomie Vilaseca Galeria, que foi responsável pela cir-
Ohtake, além de um prêmio-aquisição no 13º culação de seu trabalho em Bogotá, Cidade do
Salão Municipal de Artes Plásticas de João México, Lima, Miami e Nova York, além de in-
Pessoa – sua cidade natal. Somam-se a estes seri-lo em importantes coleções particulares
reconhecimentos participações relevantes no no Rio de Janeiro – incluindo a de Gilberto
programa Rumos, do Itaú Cultural, no salão Chateaubriand em comodato ao Museu de
de artes visuais Novíssimos, da Galeria de Arte Moderna – e em São Paulo.
Arte Ibeu, e na 2ª Bienal Industrial do Ural, As obras de Iris Helena inscrevem-se no
na Rússia. O convite para participar do ano campo da arte fotográfica por intermédio do
do Brasil na Alemanha, em 2013, fez com que uso da impressão em meios não usuais, como
sua obra fosse incorporada ao acervo do Mi- a linguagem. Como pesquisa, a artista dedi-
nistério das Relações Exteriores. ca-se à documentação das diversas nuances
Seus desejos de aperfeiçoamento levaram-na envolvendo a paisagem urbana. Foi assim
a estabelecer residência no Distrito Federal que desenvolveu a sua série mais conhecida,
Quem tem a oportunidade de travar contato com
suas obras sente-se atraído de imediato, não
só pela surpresa técnica nelas inseridas, mas
também pelo impacto das imagens retratadas.
Catálogo de Ruínas
Volume 1 (2011)
Lembretes. São imagens de praças, esquinas, avenidas ou igrejas de João Pessoa, reunidas em
um mosaico formado por centenas de post-its amarelos.
Nas peças da série Zona de Conforto, a artista cria justaposições de horizontes de diferentes
cidades sobre embalagens metálicas de remédios. Fruto de uma pesquisa sobre monumentos
naturais, edifícios emblemáticos e estatuária, e como desdobramento do trabalho em post-its,
Iris criou a série Monumentos, em que usa marcadores plásticos de livros em atraentes com-
posições fluorescentes.
Outra série que revela grande ineditismo técnico chama-se Ruínas, da qual faz parte a obra
Catálogo de Ruínas - Volume 1 (2011), um livro de 20 páginas da artista. Por vezes em preto
e branco, outras em cores, ela usa o papel higiênico como suporte. Mais recentemente, conti-
nuou ampliando o seu repertório ao utilizar fragmentos erodidos de parede como meio para a
experimentação na série Casa Pré-fabricada.
Quem tem a oportunidade de travar contato com suas obras sente-se atraído de imediato,
não só pela surpresa técnica nelas inseridas, mas também pelo impacto das imagens retrata-
das. A produção de Iris Helena caracteriza-se pelo frescor criativo com o qual, se apropriando
de elementos de consumo diário, constrói um conjunto de trabalhos dotado de leitura singular
das relações entre o público e o privado, a necessidade da preservação cultural e o binômio
memória e esquecimento.
Os anéis de O romance Os anéis de Saturno é uma das
principais obras do alemão W. G.Sebald.
Saturno Publicado em 1995, o livro traz um narrador
preso a uma cama de hospital, que rememora
W. G. Sebald uma caminhada pelo leste da Inglaterra,
onde o autor chegou a morar. O passeio, se é
Companhia
que pode ser chamado assim, é uma viagem
das Letras pela história e pelas ruínas daquela região.
O narrador de Sebald move-se também em
pensamento ao especular, descrever e tocar
em assuntos como a dominação do Congo
pelos Belgas, a China e a pesca do arenque.
A visão curiosa e questionadora de Sebald
nos arrebata em uma prosa singular.
curadoria
filmes que fazemos questão século XX seu pensamento, lançou luzes importantes
sobre a história do período após a Segunda
livros
pulsa em cada beat que toca nas rádios.
A Moon Após um hiato de quase cinco anos, a banda
Nostalgia
No deserto de Atacama, no Chile, a três mil metros de
O filme do documentarista Patricio Guzmán
Shaped da luz
céu para explorar galáxias longínquas em busca de vida
extraterreste. Paralelamente, aproveitando a secura do
solo do local, que conserva intactos os restos de seres
dos discos mais antecipados de 2016. Donos tem um roteiro mínimo, preciso, que ergue
vivos, arqueólogos estudam múmias e outra relíquias
pré-colombianas, e um grupo de mulheres procura os
corpos de seus parentes desaparecidos durante o perío-
do da ditadura militar no país sob o regime de Pinochet.
“Como explicar que os ossos humanos são iguais a cer-
Patricio
ossos é o mesmo cálcio encontrado nas estrelas?” – per-
gunta-se Patricio Guzmán. Como explicar que as estrelas
recém-nascidas se formam com nossos próprios átomos
depois que morremos? “Como explicar que no Chile, o
mistura de novas canções com outras nem dentro de um cinema de alta qualidade. No
principal centro astronômico do mundo, sessenta por
cento dos assassinatos da ditadura ainda não foram es-
da luz
clarecidos? Como é possível que os astrônomos chilenos
olhem para as estrelas que estão a milhões de anos
Radiohead tanto, que eram apenas conhecidas pelos fãs Guzmán Atacama, homens e mulheres tiveram seus
luz no passado e que nas escolas não seja possível ler
nos livros o que se passou no Chile há apenas 30 anos?
Como explicar que um sem número de corpos enterrados
pelos militares foram desenterrados e atirados no mar?
Como explicar que o trabalho de uma mulher que busca
nas execuções ao vivo nos shows da banda. restos mortais abandonados, enterrados
com as próprias mãos no deserto é parecido com o tra-
balho de um astrônomo?”.
Nostalgia de la luz
IMS/Bretz Filmes
Direção e roteiro: Patricio Guzmán. Fotografia: Katell
XL Recordings O disco foi lançado já em meio a uma turnê ou simplesmente jogados de helicópteros
Djian. Montagem: Patricio Guzmán e Emmanuelle Joly.
Produção: Renate Sachse. Produção executiva: Verónica
Rosselot. Uma coprodução: Atacama Production (Fran-
ça), Westdeutschens Rundfunks, Blinker Filmproduktion
A Moon Shaped Pool é “um ótimo álbum um grupo de mulheres vasculha as areias em
Produzido no Polo Industrial de Manaus por Sonopress Rimo Indústria
e Comércio Fonográfica S/A – Indústria Brasileira – Av. Guaruba, nº 585,
Distrito industrial – Manaus/AM – CNPJ: 67.562.884/0004-91, sob licença
e encomenda de Bretz Filmes Distribuidora e Produtora Ltda EPP, CNPJ BF025
39.079.678/0001-47. INDÚSTRIA BRASILEIRA . O prazo de validade do disco
para se usar como uma trilha sonora de um busca dos seus entes perdidos na violência da
é indeterminado desde que observados os seguintes cuidados: armazenar
em local seco, livre de poeira, não expor ao sol, não riscar, não dobrar,
não engordurar, não manter a temperatura superior a 55°C e a umidade Distribuição
acima de 60gr/m3, e segurar o disco sempre pela lateral e pelo furo central.
ADVERTÊNCIA: licenciado apenas para uso doméstico. Contato Bretz Filmes:
24-2231.6872 / atendimento@bretzfilmes.com.br Patricio Guzmán Nostalgia da luz
sonho no meio da tarde”. ditadura chilena. Uma triste poesia.
casamento
e o inseguro, com um impulso que costumo
chamar de «quociente de medo”. Maior
Metá Metá
o medo, maiores as possibilidades de chegar
Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, lançou família rica morre na véspera do
a um bom filme. Gosto de correr riscos,
permitir acidentes, descobrir acertos título original
e erros. Prefiro não saber se vai funcionar A WEddiNG [EUA, 1978]
Robert Altman
PORTUGUês
filme em torno de 48 personagens numa
IMS/Bretz Filmes
instituto Moreira salles
supostamente engravidou a irmã da noiva. www.ims.com.br
Certeiro e Oba Koso, esta última uma versão narra com fina ironia a trama de uma
O irmão da noiva vive tomando comprimidos, janeiro de 2013
segundo ele, para a epilepsia. A irmã do
noivo é viciada em drogas e casada com um
italiano que segundo rumores teria ligações
Contando ainda com Marcelo Cabral e Sergio esconder. No filme, se destaca a conhecida
BRAsiLEiRA. denuncie a pirataria:
cERiMôNiA
denuncia@apdif.org.br ou caixa Postal
593 cEP 01059-970 são Paulo sP.
O prazo de validade desde disco dVd
é indeterminado, desde que observados
dE cAsAMENTO
TWENTiETH cENTURY FOX e LiONs GATE FiLMs apresentam os seguintes cuidados: armazenar em
Machado como apoio para este álbum, Metá habilidade do diretor em tecer tramas com
Um filme de ROBERT ALTMAN local seco e livre de poeira; não expor ao
“A WEddiNG” sol; não riscar; não dobrar; não engordurar;
Estrelando (em ordem alfabética) não expor a temperaturas superior a 55oc
dEsi ARNAZ JR., cAROL BURNETT, GERALdiNE cHAPLiN, e umidade acima de 6g/m3 ; segurar o disco
HOWARd dUFF, MiA FARROW, ViTTORiO GAssMAN, sempre pela lateral e pelo furo central.
LiLLiAN GisH, LAURA HUTTON, ViVEcA LiNFORs, AdVERTêNciA: Esta copia em dVd da
Metá une o jazz e o rock em suas formas uma miríade de personagens (são 48!) com
PAT MccORMick, diNA MERRiLL, NiNA VAN PALLANdT obra original, incluindo sua trilha sonora,
Roteiro de ROBERT ALTMAN e JOHN cONsidiNE é destinada exclusivamente a exibições
Música original JOHN HOTcHkis domésticas, não sendo permitida nenhuma
Produção e direção ROBERT ALTMAN outra forma de utilização nem reproduções
A WEddiNG © 1978 Twentieth century Fox Film totais ou parciais. A violação dos direitos
corporation. All Rights Reserved. exclusivos do produtor e do distribuidor
sobre esta obra é crime (art. 148 do código
sonoridade brasileira na voz forte de Jussara. sobrepõem umas às outras num retrato
EM NOME dE TWENTiETH cENTURY FOX HOME
ENTERTAiNMENT, iNc. E disPONiVEL NO BRAsiL
16
EXcLUsiVAMENTE PELO iNsTiTUTO MOREiRA sALLEs. Consumo de drogas,
021
insinuação de sexo,
16
violência
filmes
com um álbum impecável e inovador, e não há e pesadelo se erguem de mãos dadas. Herzog é
nada mais David Bowie do que isso. cinema em sua essência.
Início meio fim. É um fato que a gente esquece: o dia começa no ponto em que termina a noi-
te. Presos em Áquila, os dois só se encontram nesse ponto do enredo. Me perguntaram a his-
tória desse quadro, pois bem, é essa. Acontece que vejo, todos os dias, os dias todos morrerem,
e todas as coisas morrerem, e todas as coisas nascerem, e a cada dia sei que um novo dia nasceu
para morrer. Eu que não gosto de dormir, que não tenho receio do escuro e sim medo de não
acordar, preferia arder com o Vinicius. Resisto, mas acabo indo pra cama e quando acordo já
está claro. O fato é que quase nunca vejo o dia nascer, mas acompanho sempre seu envelheci-
mento. Seu meio dia jovial, sua tarde serena, até que vai gentilmente para dentro da noite. Sem
gritos, o dia envelhece para se tornar noite quente e nós, convencidos que somos, dizemos que
ele acabou, ficamos com raiva, bradando que passou muito rápido, que morreu antes de nós.
46
Aí é que está o segredo: a verdade é que o dia só está diferente. Ele agora, enfeitado de estrelas
e muito mais esperto, é a noite. A noite é muito mais sábia do que o dia. E, quando todos se
vão, nós conversamos. Tento acompanhá-la e ela me faz companhia. Mas, sorrateira como é,
sempre manda o sono me levar. E de novo eu não vi o dia nascer. Mas sempre tem aquele dia
em que o sono não consegue chegar, e eu, herói de mim mesmo, vejo o dia que agora é noite
morrer, afinal. Eu venci o dia, vivi mais tempo do que ele, não fui enganado pela noite e a vi
ir embora para nascer um novo dia. E aí vou dormir, ignorando o fato de que a noite muito
viva apenas voltou a ser dia. E que isso é um fim meio início. Início meio fim, meio início,
cíclico. Espero pra ver o que vou ser depois que for noite.
Ruan D’Ornellas
LEIA E NÃO DESCANSE EM PAZ.
DESCUBRA O QUE SE ESCONDE DO OUTRO LADO DA VIDA NO
NOVO THRILLER DO PREMIADO AUTOR DE O DEMONOLOGISTA.